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Amazônico
de ódio*
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Texto baseado na Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Mestrado em Direito Ambiental e
Políticas Públicas da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP, na linha de pesquisa Meio Ambiente e Políticas
Públicas. 2013. Intitulada: O valor ambiental da religião afro-ameríndia: uma análise acerca da intolerância
religiosa no Amapá.
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Mestre em Direito Ambiental e Políticas Pública pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e docente do curso
de Direito da Universidade Federal do Amapá – Unifap. Também é membro fundador da Academia Amapaense
de Letras Jurídicas – AALJ, ex-delegado de Polícia do Estado do Amapá, advogado militante, ex-coordenador do
Curso Jurídico Unifap, Coordenador do Núcleo de Pesquisa em Direitos Humanos e Direitos e Deveres da
Cidadania Brasileira, ex-consultor Jurídico do Instituto de Previdência do Estado do Amapá – Ipeap e membro da
Federação Espírita Umbandista e dos Cultos Afro Brasileiros do Estado do Amapá – FEUCAB.
Revista Tempo Amazônico
TOLERÂNCIA E INTOLERÂNCIA
Intolerância religiosa é crime e deve ser punida com o máximo rigor, pois o racismo
religioso é prática ilegal que atenta contra o direito de crença dos demais da população
brasileira, se sustenta em uma lógica ideológica perversa do paradigma de uma violência
benigna e repete-se em um ciclo vicioso se alimentado da ideologia racista e do discurso
de ódio religioso.
O discurso racista religioso é bem formatado e articulado, é de dominação, e por isso
enganador e objetiva realizar um processo de deformação do outro, desfiguração com a
perda dos valores, identidades, princípios, costumes particulares de um povo, para deixá-lo
com uma uniformização, domesticados e adestrados, como se faz com os cachorros,
obedientes e não pensantes, o alienador o faz por eles.
Atuam os racistas religiosos no plano imediato desqualificando os valores
civilizatórios daqueles que agridem com pregação de ódio religioso (satanização,
demonização, idolatrização etc.) é uma conduta (padrão comportamental) e ação (prática
efetiva da violência) que é má em si mesma. 21
A filial do supermercado Mundial, em Botafogo, Zona Sul do Rio, foi autuada pelo
Procon Estadual por intolerância religiosa contra uma cliente, como publicou a
coluna do Ancelmo Gois neste domingo, no jornal ‘O Globo’. O episódio aconteceu
na sexta-feira, dia 26 de fevereiro, quando um funcionário do estabelecimento
começou a gritar ‘Se manifesta, demônio! Se manifesta, demônio’, como se quisesse
fazer um ritual de exorcismo, para a consumidora, que é negra e vestia roupas
brancas numa sexta-feira — dia importante para a manifestação de crenças em
algumas religiões de raiz africana. Chegando ao caixa, a cliente foi abordada pelo
mesmo funcionário, que colocou a mão sobre sua cabeça e repetiu as palavras
(EXTRA, 2016).
1
Conteúdo constante da obra Racismo religioso: bestialização do homem, em fase final de conclusão para edição.
Tem natureza nazifascista e obedece a esta mesma lógica perversa e covarde daquela,
e o ritual do crime de racismo religioso subsume-se em demonizar pelo proselitismo predatório
e agredir o outro de forma insidiosa e destruí-lo para satisfazer uma necessidade condicionada
pela doutrinação programada (lavagem cerebral).
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Provocar o medo nas vítimas (terror psicológico) é uma das armas de que se vali o
racista religioso, além da violência e agressão às pessoas e valores culturais- religiosos.
Uma pedagogia do medo e da ignorância transformada em violência que visa implantar o
terror, para constranger as pessoas de manifestarem sua própria fé, como nos casos do
terrorismo do narconazisectarismo (narconazievangelismo ou narconaziprotestantismo).
Ato de terrorismo religioso, incêndio no Terreiro Ilê Axé Oyá Bagãn, de Mãe
Baiana, Paranoá, Brasília - DF.
O mês de maio e a celebração da coroação de Nossa Senhora por parte dos católicos
acendeu a ira de protestantes fundamentalistas na pequena cidade de Carrapateira,
localizada a 384 km de João Pessoa, na Paraíba.
Membros destas denominações queimaram e urinaram em uma imagem de Nossa
Senhora em praça pública, na última semana do mês de maio, conhecido como
mês mariano. Padre Querino Pedro que há 4 anos é pároco da cidade que possui
pouco mais de 2 mil habitantes relatou ao ANCORADOURO a situação de
constrangimento gerada pelos evangélicos fundamentalistas.
‘Além desse episódio da queima da imagem outro fato que está deixando os pais de
família preocupados é que na rua ou em escolas crianças não católicas são
constantemente criticadas por evangélicos, chamados de demônios e condenados
ao inferno. As crianças estão perturbadas com essa situação’.
Em carrapateira existem 3 igrejas evangélicas (seitas, esclarecimento do autor). ‘A
pentecostal é a mais radical’, conta o padre. ‘Sempre vem com aquele confronto
de que católico adora imagem. Um risco de gerar brigas. Eles [os protestantes]
tentam tirar os crucifixos do pescoço dos coroinhas da paróquia’, denuncia o
padre.
‘No mês de maio os evangélicos endoidecem’ finaliza o padre que estava se
dirigindo a uma delegacia para fazer um Boletim de Ocorrência sobre os últimos
episódios, uma orientação da Diocese (SOUZA, 2014).
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Fonte: Ancoradouro
Fonte: CBN
É doutrinado com a ideia deturpada de que é responsável pela salvação dos outros,
uma intoxicação da alma, um envenenamento de mentes, que tem que “salva almas pra
Jesus”, sendo tal assertiva a forma de anular, negar o outro, sua individualidade, tirar deste
o direito à subjetividade, no que justifica seu ataque a tudo e todos que não se enquadre no
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padrão reducionista do fundamentalismo que professa.
Conduta racista classificada no quadro sintomático de diagnóstico pelo nosso estudo
da fé como fator de adoecimento como distúrbio e transtorno psicológico que designamos
de Síndromes da Alienação Religiosa (SAR) que produz o fundamentalista religioso, um
demente moral, e quando manifesto o comportamento de racismo na infância, tem-se a
Síndrome do Racismo Infantil (SRI) (MORAES, 2013, p. 289), ambos os casos necessitam de
tratamento psicológico.
Marlene Winell define os distúrbios e transtornos de comportamento religioso como
Síndromes do Trauma Religioso (STR), resultante do adoecimento pelo sentimento de culpa
gerado, por não ter seguido as regras do alienador e ter perdido as “graças do céu” prometidas.
Os sectários ainda são racistas contra seus próprios membros, é o fogo amigo,
como no caso dos proscritos ou desligados das Seitas, como por exemplo, no caso dos
desligados/dissociados da Seita Testemunha de Jeová, quando ocorre este evento a violência
é motivada por posturas puritanas, e a represália vem em uma ação racista cruel e desumana,
estigmatizando o indivíduo, excluindo-o da vida no grupo social com uma morte civil.
Fonte: O valor ambiental da religião afro-ameríndia: uma análise acerca da intolerância religiosa no Amapá.
Festividade de São João Batista - Missa e ladainha na Comunidade Ilê Axé da Oxum Apará - junho 2016. Foto do
acervo do pesquisador.
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Católicos e afro-religiosos juntos na fé. Missa e ladainha na Comunidade Ilê Axé da Oxum Apará- junho 2016:
Foto do acervo do pesquisador.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BOECHAT, Breno. Estudante agredida por intolerância religiosa dentro de escola não quer voltar
ao colégio. Disponível em: http://extra.globo.com/noticias/brasil/estudante-agredida-por-
intolerancia-religiosa-dentro-de-escola-nao-quer-voltar-ao-colegio-
17650415.html#ixzz43GIrJ95T. Acesso em: 18.mar. 2016
MORAES, Roberto José Nery. O valor ambiental da religião afro-ameríndia: uma análise
acerca da intolerância religiosa no Amapá. Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Mestrado em Direito Ambiental e Políticas Públicas da Universidade Federal
do Amapá – Unifap, na linha de pesquisa Meio Ambiente e Políticas Públicas. Rev. e atu.
2013.
SILVA, José Marmo da; DACACH, Solange, LOPES, Fernanda. Atagbá: guia para a
promoção da saúde nos terreiros. Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras. Rio de Janeiro:
Programa de Combate ao Racismo Institucional, 2005.
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