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Revista Teoria Geral do racismo religioso: crime

Tempo
Amazônico
de ódio*

Roberto José Nery Moraes **

Resumo: A expressão religiosa formadora da identidade étnico-


ambiental-religiosa do povo amapaense encontra sua
manifestação mais verdadeira nas comunidades tradicionais de
Terreiro, detentoras de valor ambiental afro-ameríndio, filosofia
de mundo integradora, favorecendo a sustentabilidade e a
educação ambiental como religião do meio ambiente,
historicamente vitimizadas pelo racismo religioso, contrariando
esta violência religiosa o Estado Social Democrático de Direito,
o regime democrático vigente, a laicidade e a liberdade de crença
e os direitos humanos, que se sustenta e se reproduz em
paradigmas, se tornando de real importância e necessidade para a
definição de estratégias de enfrentamento e de políticas públicas
aos grupos vítimas o conhecimento teórico destes, objetivando
presente artigo desenvolver a Teoria Geral do Racismo Religioso
e forma de comportamento apreendido, para a compreensão do
fenômeno da intolerância religiosa que atualmente assola o Brasil
e que neste contexto ameaça também as expressões étnico-
culturais-religiosas de Terreiro do Estado do Amapá.

Palavras-chave: Valores Civilizatórios; Valor Ambiental;


Religião Afro-ameríndia; Proselitismo; Seitas; Intolerância;
Racismo; Direito; Terrorismo Religioso; Bestialização.

Resumen: La expresión religiosa que forma la identidad étnica-

*
Texto baseado na Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Mestrado em Direito Ambiental e
Políticas Públicas da Universidade Federal do Amapá – UNIFAP, na linha de pesquisa Meio Ambiente e Políticas
Públicas. 2013. Intitulada: O valor ambiental da religião afro-ameríndia: uma análise acerca da intolerância
religiosa no Amapá.
**
Mestre em Direito Ambiental e Políticas Pública pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e docente do curso
de Direito da Universidade Federal do Amapá – Unifap. Também é membro fundador da Academia Amapaense
de Letras Jurídicas – AALJ, ex-delegado de Polícia do Estado do Amapá, advogado militante, ex-coordenador do
Curso Jurídico Unifap, Coordenador do Núcleo de Pesquisa em Direitos Humanos e Direitos e Deveres da
Cidadania Brasileira, ex-consultor Jurídico do Instituto de Previdência do Estado do Amapá – Ipeap e membro da
Federação Espírita Umbandista e dos Cultos Afro Brasileiros do Estado do Amapá – FEUCAB.
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ambiental-religiosa del pueblo de Amapá encuentra su


manifestación más verdadera en las comunidades tradicionales de
Terreiro, poseedores del valor ambiental afro-amerindio, la
filosofía mundial integradora, que favorece la sostenibilidad y la
educación ambiental como religión del medio ambiente.
Históricamente víctima del racismo religioso, al contrario de esta
violencia religiosa, el Estado de Derecho Social Democrático, el
régimen democrático actual, la secularidad y la libertad de
creencias y los derechos humanos, que se sustenta y reproduce en
paradigmas, adquiere una importancia real y La necesidad de la
definición de estrategias de afrontamiento y políticas públicas para
las víctimas agrupa sus conocimientos teóricos, con el objetivo de
desarrollar la Teoría General del Racismo Religioso y una forma
aprendida de comportamiento, para comprender el fenómeno de
intolerancia religiosa que actualmente afecta a Brasil y que en este
contexto también amenaza las expresiones religioso-étnicas de
Terreiro del estado de Amapá.

Palabras clave: Valores Civilizadores; Religión afroamericana;


Proselitismo; Sectas; Intolerancia; Racismo; Derecho;
Terrorismo religioso; Bestialización;
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INTRODUÇÃO

Destinasse este artigo ao conhecimento do racismo religioso como crime de ódio,


porque a intolerância religiosa que é o racismo religioso, nega o outro como direito de
SER diferente na adoração do Sagrado, sua subjetividade e individualidade, impondo pela
força e violência a ideia de que existe uma “religião pura”, uma eugenia da fé, que leva para
o “céu” e as demais são desqualificadas como caminhos legítimos do Sagrado e levariam para
o Inferno.
Na abordagem étnico-ambiental não se vem discutir religião ou dogmas, mas
apresentar doutrina jurídica sobre o racismo religioso, elementos que o identifica como crime
e seus componentes comportamentais característicos e os paradigmas que sustentam sua
aprendizagem e reprodução no tecido social, a danosidade do discurso de ódio que propala
agredindo a dignidade da pessoa humana, formando uma geração de dementes morais capazes
das piores atrocidades em nome de uma fé distorcida, como a pratica do terrorismo religioso
com invasão e depredação das comunidades de Terreiro e igrejas católicas pelos traficantes
de Cristo (narconazievangelistas), agredindo o patrimônio cultural e histórico, a fé ancestral
e o valor ambiental afro-ameríndio, praticado quando há distorção da fé, o abuso do direito

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de liberdade de crença, de expressão e sua associação com o crime organizado, violando


os direitos civis, constitucionais, coletivos, difusos, religiosos e os direitos humanos das
vítimas, com a desqualificação do valor ambiental das comunidades de base ancestral.
Toda esta violência se sustenta na formação e construção de atos de prática de
racismo religioso, constituindo estes uma teoria jurídica e comportamental para compreensão
do fato social, “o racismo religioso”, e do perfil comportamental do criminoso racista religioso,
que haja contrariando o regime democrático, distorcendo os valores civilizatórios do povo
afro-ameríndio, vítima dos ataques étnico-raciais, colocados como demoníacos e tudo que
seja proveniente do SER NEGRO como bestial, se mostrando, entretanto, que, apesar desta
violência existe no Estado do Amapá o exercício do diálogo qualificado e união dos
diferentes pela Fé, católicos e afro- religiosos, onde a cidadania espiritual não é uma ficção,
mas uma realidade em construção que gera paz e Unidade no Sagrado que os uni como irmãos,
fortalecendo a fé de ambas as tradições religiosas, uma luz em tantas trevas de intolerância
religiosa implantada, cultivada e propalada atualmente pelas seitas protestantes na sociedade
brasileira. 19

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TOLERÂNCIA E INTOLERÂNCIA

Tolerância é a capacidade de respeito, aceitação e apreço da riqueza e da diversidade


das culturas de nosso mundo, aos diferentes modos de viver e aos diferentes modos de
expressão dos seres humanos (SILVA; DACACH, 2005), em sentimentos de superioridade,
de sentido de concessão, mas de respeito com as diversidades humanas (MORAES, 2013, p.
17).
A intolerância religiosa como crime de racismo religioso, é fruto da ignorância,
companheira do egoísmo e irmã da arrogância de alguns que se acham melhores que
outros, que gera injustiça e exclusão intergeracional e intrageracional, porque reproduz o
padrão de injustiça reinante na sociedade, sendo contrária ao Estado Social Democrático de
Direito. É um comportamento autoritário, totalitário, nazifascista, excludente e sexista,
representando atraso humano, espiritual e social.
Incapacidade e a inaptidão de conviver e se relacionar com as diversidades humanas:
culturas e valores civilizatórios. A intolerância religiosa hoje se constitui em uma forma
moderna e tecnológica de racismo, de preconceito, de discriminação, de exclusão do outro. 20
A lógica do comportamento racista é, não posso aceitar o outro, como sujeito de
direitos, individualidade, identidade diferente da que possuo, coloco nele a minha violência,
resultado da minha ignorância. Toda ignorância pode se tornar violência, esta é a dinâmica do
racismo religioso.
Realizado pelo instrumento do proselitismo predatório, fundamentado por um
discurso, ideologia e teologia racistas, alimentados pelo preconceito dos estudos judaico-
cristãos para com os Povos Tradicionais.
Manifestado de forma ostensiva, agressiva, ofensiva, grosseira, criminosa,
autoritária, totalitária, arrogante, nazifascista, com a intencionalidade de expor a religião do
outro como demoníaca e idolatra perante a opinião pública desinformada e facilmente
manipulável pela mídia.
No Brasil atualmente é principalmente contra a religião espírita de matriz afro-
ameríndia praticada pelo protestantismo com o método de satanizar, demonizar, idolatrizar,
conjurar, insultar, repreender, perseguir, assediar, intimidar, reprimir, denegrir, incitar,
aterrorizar e apagar a memória individual e coletiva, doutrina comum a todas as Seitas que
apresentam uma rede ideologicamente alinhada da máquina racista religiosa sectária.

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TEORIA GERAL DO RACISMO RELIGIOSO1

Intolerância religiosa é crime e deve ser punida com o máximo rigor, pois o racismo
religioso é prática ilegal que atenta contra o direito de crença dos demais da população
brasileira, se sustenta em uma lógica ideológica perversa do paradigma de uma violência
benigna e repete-se em um ciclo vicioso se alimentado da ideologia racista e do discurso
de ódio religioso.
O discurso racista religioso é bem formatado e articulado, é de dominação, e por isso
enganador e objetiva realizar um processo de deformação do outro, desfiguração com a
perda dos valores, identidades, princípios, costumes particulares de um povo, para deixá-lo
com uma uniformização, domesticados e adestrados, como se faz com os cachorros,
obedientes e não pensantes, o alienador o faz por eles.
Atuam os racistas religiosos no plano imediato desqualificando os valores
civilizatórios daqueles que agridem com pregação de ódio religioso (satanização,
demonização, idolatrização etc.) é uma conduta (padrão comportamental) e ação (prática
efetiva da violência) que é má em si mesma. 21
A filial do supermercado Mundial, em Botafogo, Zona Sul do Rio, foi autuada pelo
Procon Estadual por intolerância religiosa contra uma cliente, como publicou a
coluna do Ancelmo Gois neste domingo, no jornal ‘O Globo’. O episódio aconteceu
na sexta-feira, dia 26 de fevereiro, quando um funcionário do estabelecimento
começou a gritar ‘Se manifesta, demônio! Se manifesta, demônio’, como se quisesse
fazer um ritual de exorcismo, para a consumidora, que é negra e vestia roupas
brancas numa sexta-feira — dia importante para a manifestação de crenças em
algumas religiões de raiz africana. Chegando ao caixa, a cliente foi abordada pelo
mesmo funcionário, que colocou a mão sobre sua cabeça e repetiu as palavras
(EXTRA, 2016).

A sua enorme danosidade social é constatada no caso de Quilombos e Etnias Indígenas


que abandonaram suas raízes históricas, e perderam suas identidades e herança de pertença
grupal, descaracterização étnico-cultural-religiosa. Destruindo a identidade destrói-se o
grupo.
O racismo religioso se constitui em mais uma das diversas violências que se promove
no contexto social brasileiro sistematicamente para o extermínio das inteligências da

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Conteúdo constante da obra Racismo religioso: bestialização do homem, em fase final de conclusão para edição.

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juventude negra e indígena, pela destruição dos valores afro-ameríndios que lhes imprime
identidade.
Estudante agredida por intolerância religiosa dentro de escola não quer voltar ao
colégio
Há um mês, a adolescente Agnes, de 14 anos, não quer voltar ao Colégio Estadual
Alfredo Parodi, em Curitiba, por vergonha. No dia 31 de agosto, a jovem foi
agredida por uma colega de turma, dentro da escola, por intolerância religiosa. A
motivação para a agressão foi uma foto, postada no dia anterior em uma rede social,
em que a menina aparece ao lado da mãe e de uma amiga, as três do Candomblé.
A gente ia levar uma amiga no aeroporto e tirou uma foto com ela lá. A Agnes
foi marcada na foto e viram no Facebook dela. No dia seguinte, na primeira aula,
uma menina disse que não queria ficar perto da Agnes porque ela era da macumba.
A Agnes começou a explicar o que era, mas depois falaram que iam chutá-la,
porque ela é da macumba. A menina foi e chutou a Agnes, que caiu com a cabeça
na parede — explica a mãe da adolescente, Dega Maria Pascoal (BOECHAT, 2015).

Tem natureza nazifascista e obedece a esta mesma lógica perversa e covarde daquela,
e o ritual do crime de racismo religioso subsume-se em demonizar pelo proselitismo predatório
e agredir o outro de forma insidiosa e destruí-lo para satisfazer uma necessidade condicionada
pela doutrinação programada (lavagem cerebral).
22
Provocar o medo nas vítimas (terror psicológico) é uma das armas de que se vali o
racista religioso, além da violência e agressão às pessoas e valores culturais- religiosos.
Uma pedagogia do medo e da ignorância transformada em violência que visa implantar o
terror, para constranger as pessoas de manifestarem sua própria fé, como nos casos do
terrorismo do narconazisectarismo (narconazievangelismo ou narconaziprotestantismo).
Ato de terrorismo religioso, incêndio no Terreiro Ilê Axé Oyá Bagãn, de Mãe
Baiana, Paranoá, Brasília - DF.

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Fonte: Correio Braziliense Cidades

O esquema de aprendizagem e reprodução do racismo religioso é disponibilizado e


executado pelo doutrinador racista que realiza o controle da situação manipulando as
variáveis até conseguir o seu intento: a lavagem cerebral completa (perda da identidade e
23
passando ao controle do alienador).
Existe, portanto, um racialismo religioso sectário com consequências futuras
desastrosas, como prevê nestes casos Todorov (1993, p. 107) ao afirmar que: “É preciso
acrescentar que o racismo que se apoia num racialismo (teoria racial) produz resultados
particularmente catastróficos: tal é precisamente o caso do nazismo”.
O fundamentalismo religioso apresenta uma dinâmica trifásica: Minoria (não agride,
mas doutrina para o ódio religioso), certa representatividade social (começa a praticar atos de
violência religiosa) e quando é maioria (lastrar-se-á a violência religiosa, praticando
abertamente atos de racismo religioso confiando na impunidade por ser a maioria).
A violência religiosa não é anônima, ela tem nome, cara e autoria e é racista e
homofóbica, sem exceções, pois estes aspectos fazem parte da doutrina sectária
segregacionista, e todo comportamento tem suas causas. Não existe seita não racista
religiosa e se assim agem concretamente, tornam-se grupos criminosos organizados, sujeitos
a lei do crime de racismo e a da segurança nacional, além de outras de acordo com seus atos
criminosos.

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Desrespeito e ataque ocorrido em Carrapateira, no Estado da Paraíba:

O mês de maio e a celebração da coroação de Nossa Senhora por parte dos católicos
acendeu a ira de protestantes fundamentalistas na pequena cidade de Carrapateira,
localizada a 384 km de João Pessoa, na Paraíba.
Membros destas denominações queimaram e urinaram em uma imagem de Nossa
Senhora em praça pública, na última semana do mês de maio, conhecido como
mês mariano. Padre Querino Pedro que há 4 anos é pároco da cidade que possui
pouco mais de 2 mil habitantes relatou ao ANCORADOURO a situação de
constrangimento gerada pelos evangélicos fundamentalistas.
‘Além desse episódio da queima da imagem outro fato que está deixando os pais de
família preocupados é que na rua ou em escolas crianças não católicas são
constantemente criticadas por evangélicos, chamados de demônios e condenados
ao inferno. As crianças estão perturbadas com essa situação’.
Em carrapateira existem 3 igrejas evangélicas (seitas, esclarecimento do autor). ‘A
pentecostal é a mais radical’, conta o padre. ‘Sempre vem com aquele confronto
de que católico adora imagem. Um risco de gerar brigas. Eles [os protestantes]
tentam tirar os crucifixos do pescoço dos coroinhas da paróquia’, denuncia o
padre.
‘No mês de maio os evangélicos endoidecem’ finaliza o padre que estava se
dirigindo a uma delegacia para fazer um Boletim de Ocorrência sobre os últimos
episódios, uma orientação da Diocese (SOUZA, 2014).

24

Fonte: Ancoradouro

Racismo religioso é ideologia, poder, opressão, violência e organizacional (Seitas


ou outras instituições assemelhadas), e machuca, degrada e humilha a vítima deixando
profundas cicatrizes emocionais, um crime pessoal, emocional, monstruoso e hediondo.
O racista religioso é um criminoso metódico, meticuloso, organizado, sofisticado,
astuto e paranoico que segue uma lógica ao praticar o crime de racismo religioso, é um
oportunista com conhecimento de causa (como fazer, de que forma fazer, quando fazer,
tem conhecimento pleno dos atos que praticam) traiçoeiro como um crocodilo, um sociopata
e opressor, que age confortavelmente, com frieza, sem expressar qualquer remorso,

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arrependimento, emoção, empatia.
Catedral Metropolitana de Londrina, ataque e quebra do ícone histórico do
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, padroeiro da Catedral e da cidade de Londrina – PR.

Fonte: CBN

É doutrinado com a ideia deturpada de que é responsável pela salvação dos outros,
uma intoxicação da alma, um envenenamento de mentes, que tem que “salva almas pra
Jesus”, sendo tal assertiva a forma de anular, negar o outro, sua individualidade, tirar deste
o direito à subjetividade, no que justifica seu ataque a tudo e todos que não se enquadre no
25
padrão reducionista do fundamentalismo que professa.
Conduta racista classificada no quadro sintomático de diagnóstico pelo nosso estudo
da fé como fator de adoecimento como distúrbio e transtorno psicológico que designamos
de Síndromes da Alienação Religiosa (SAR) que produz o fundamentalista religioso, um
demente moral, e quando manifesto o comportamento de racismo na infância, tem-se a
Síndrome do Racismo Infantil (SRI) (MORAES, 2013, p. 289), ambos os casos necessitam de
tratamento psicológico.
Marlene Winell define os distúrbios e transtornos de comportamento religioso como
Síndromes do Trauma Religioso (STR), resultante do adoecimento pelo sentimento de culpa
gerado, por não ter seguido as regras do alienador e ter perdido as “graças do céu” prometidas.
Os sectários ainda são racistas contra seus próprios membros, é o fogo amigo,
como no caso dos proscritos ou desligados das Seitas, como por exemplo, no caso dos
desligados/dissociados da Seita Testemunha de Jeová, quando ocorre este evento a violência
é motivada por posturas puritanas, e a represália vem em uma ação racista cruel e desumana,
estigmatizando o indivíduo, excluindo-o da vida no grupo social com uma morte civil.

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O regime democrático é obstáculo à ilicitude para aquele que respeita e quer a ordem
democrática. Não é o caso do fundamentalismo religioso que é reacionário e contra a
democracia. O racismo religioso fragiliza o regime democrático, ele cresce, a democracia
enfraquece, é uma propaganda negativa para a democracia, que distorce as garantias
constitucionais causando danos a direitos subjetivos, culturais, difusos, transindividuais e
coletivos.
Para a mudança da mentalidade racista religiosa, é preciso construir a Cidadania
Espiritual que é o processo de amadurecimento da espiritualidade no povo brasileiro
(MORAES, 2013, p. 305) e abrange três elementos:
a. O direito de realizar-se na fé escolhida;
b. O respeito e apreço a religião do outro;
c. O encontro e o estar com o outro de fé diversa da sua e por fim;
O ato ecumênico e de diálogo religioso com a aprendizagem mútua de
adoração do Sagrado, sem caráter de superioridade ou de imposição do meu
Sagrado, mas de igualdade de direitos e reconhecimento da legitimidade das 26
diversas tradições religiosas existentes.
A construção do processo de cidadania espiritual se justifica nos dados estatísticos
de violência religiosa, como medida indispensável de enfrentamento e de proteção e
efetivação do sistema de convivência democrática e defesa da laicidade como direito subjetivo
público do povo brasileiro.
Em Macapá – Amapá – 71% das comunidades afro-religiosas já sofreu
intolerância religiosa, atos de racismo religioso.

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Fonte: O valor ambiental da religião afro-ameríndia: uma análise acerca da intolerância religiosa no Amapá.

Entretanto, em Macapá-AP se tem a ação contraria os paradigmas do racismo religioso


e a favor da construção da cidadania espiritual, não reproduzindo os estigmas de prepotência,
de superioridade de um sobre o outro, do meu Sagrado salvar e o seu ser inferior, mas um ato
de respeito e reconhecimento da dignidade e legitimidade das tradições de fé vivenciadas
conjuntamente, reconhecendo a irmandade da fé em Deus que os uni, e não as pequenas
27
diferenças que enriquece ambas as tradições religiosas, construindo diálogo permanente entre
estas e cultivando a paz efetivamente a partir do Sagrado.
Esta ação de cidadania espiritual tem como atores na ação religiosa ecumênica
católicos e afro-religiosos, no Terreiro da Comunidade Ilê Axé da Oxum Apará, nas
festividades em honra ao apostolo São João Batista, com ladainha, procissão do santo católico
e a missa que é realizada dentro do Terreiro de Candomblé e Umbanda, culminando ao
final com um tambor de mina encerando as festividades religiosas em comum.
Presentes Padre Paulo e Pai Salvino, Babalorixá da casa de Axé, uma cerimônia linda
e emocionante, que serve de modelo para todos de que se pode adorar juntos a Deus mesmo
sendo de tradições diferentes, que se unem no amor fraterno a Deus, pai de todos
indistintamente, a religião como instrumento, não como fim em si mesmas.

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Festividade de São João Batista - Missa e ladainha na Comunidade Ilê Axé da Oxum Apará - junho 2016. Foto do
acervo do pesquisador.

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Católicos e afro-religiosos juntos na fé. Missa e ladainha na Comunidade Ilê Axé da Oxum Apará- junho 2016:
Foto do acervo do pesquisador.

CONCLUSÃO

Considerando as argumentações apresentadas, chegam-se à conclusão que o ilícito


étnico-racial do crime de racismo religioso é um fato social e um comportamento apreendido
por doutrinação programada, ou seja, lavagem cerebral, que leva a efeito a alienação

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religiosa que formata o fundamentalista que age provocado pela ação de organizações
criminosas da fé, que difunde, ensina e faz apologia ao discurso de ódio religioso,
desqualificando o Sagrado alheio e objetivando a destruição de todo e qualquer um que com
ela não concorde, não haja alinhamento ideológico-religioso.
O alienado religioso é metódico, organizado, cruel, sociopático e empedernido a
prática da violência religiosa contra o diferente, é consciente do que faz, um criminoso de
alta periculosidade e de poder de causar grande danosidade social pela sua demência moral
e falta de limite e empatia com o outro, não consegue se colocar no lugar de suas vítimas, age
sob o poder, domínio e controle do alienador, o doutrinador da seita que o faz perder a
identidade e controle sob sua vida, o alienador é quem manda e ele faz, tudo até agredir um
inocente só porque tem a fé manifestada de forma diferente, coloca pela doutrinação de ódio
a arma nas mãos do alienado para ele agredir o outro, a isto se chama efeito reverso, assunto
para próximo artigo.
Demonstra-se que o regime democrático não consegue conter este processo de
alienação religiosa e de formação de criminosos pela fé, pela consagração da liberdade 29
de expressão, ao contrário praticam o abuso propagando o discurso de ódio religioso, onde
o fundamentalismo como ideologia que os alimenta é motriz para violação de todos os
princípios, normas e regras republicanas e democráticas, por sua fé imbecilizada no
radicalismo que viola a cidadania espiritual, prejudicando o amadurecimento espiritual do
povo brasileiro.
É atraso humano, moral, social e espiritual gerando somente como fato a violência
bestial religiosa, que faz parte de um projeto de poder sectário, nazifascista, teocrático,
totalitário e opressor de grupos de ódio de supremacia sectária, personificado em organizações
religiosas sectárias criminosas por difundirem o ódio religioso e a radicalização contra os
diferentes com a pretensão de tomada do poder político para colocá-lo a serviço de seus
interesses, contrariando a laicidade e o regime democrático do Estado Brasileiro.
Elevado é o índice de violência religiosa no Estado do Amapá, atingindo 71% da
totalidade destas, mostrando este dado que as práticas de cidadania espiritual como as
desenvolvidas no Terreiro da Comunidade Ilê Axé da Oxum Apará, devem ser estimuladas e
almejadas, pois constroem a paz e o amadurecimento espiritual do povo amapaense,
preservando as tradições religiosas para as futuras gerações e a vivência na atualidade com

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respeito, tolerância e ecumenismo, predominando o diálogo e a unidade na fé do Sagrado
realizando a desconstrução do racismo religioso.

REFERÊNCIAS
BOECHAT, Breno. Estudante agredida por intolerância religiosa dentro de escola não quer voltar
ao colégio. Disponível em: http://extra.globo.com/noticias/brasil/estudante-agredida-por-
intolerancia-religiosa-dentro-de-escola-nao-quer-voltar-ao-colegio-
17650415.html#ixzz43GIrJ95T. Acesso em: 18.mar. 2016

CORREIO BRAZILIENSE CIDADES. Terreiro de candomblé é incendiado na região do Lago


Norte.
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2015/11/27/interna_cidadesdf,5083
02/terreiro-de-candomble-e-incendiado-na-regiao-do-lago-norte.shtml. Acesso em: 15 out.
2019.

EXTRA. Cliente do supermercado Mundial é vítima de preconceito racial e religioso de


funcionário. Disponível em: http://extra.globo.com/noticias/rio/cliente-do-supermercado-
mundial-vitima-de-preconceito-racial-religioso-de-funcionario18816829.html#ixzz43G630ls4
Acesso em: 18. mar. 2016.

GOMES, Getúlio. PSIQUE CIÊNCIA E VIDA. Fundamentalismo religioso: perigo à vista.


30
Ano VII, nº 90. São Paulo: Editora Escala, 2013, p. 60.

MORAES, Roberto José Nery. O valor ambiental da religião afro-ameríndia: uma análise
acerca da intolerância religiosa no Amapá. Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Mestrado em Direito Ambiental e Políticas Públicas da Universidade Federal
do Amapá – Unifap, na linha de pesquisa Meio Ambiente e Políticas Públicas. Rev. e atu.
2013.

PICHETTI, Lucian. Homem invade Catedral de Londrina e destrói imagem do padroeiro.


Disponível em: https://cbncuritiba.com/homem-invade-catedral-de-londrina-e-destroi-imagem-
do-padroeiro/. Acesso em: 14. ago. 2019.

SILVA, José Marmo da; DACACH, Solange, LOPES, Fernanda. Atagbá: guia para a
promoção da saúde nos terreiros. Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras. Rio de Janeiro:
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SOUZA,Vanderlúcio. Evangélicos queimam e urinam em imagem de Nossa Senhora em


Carrapateira. Disponível em:
http://blogs.opovo.com.br/ancoradouro/2014/06/04/evangelicos-queimam-e-urinam-em-
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TODOROV, Tzvetan. Nós e os outros: a reflexão francesa sobre a diversidade humana.


Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

Revista Tempo Amazônico - ISSN 2357-7274| V. 4 | N.1 | jul-dez de 2016 | p. 17-31.


Revista Tempo Amazônico

Recebido em: 21/03/2016


Aprovado em: 22/09/2016

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