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E O CAMINHO DO SOFRIMENTO
Do mosquito que não lhe deixa dormir, passando pelo vizinho que joga lixo pela
janela, e acabando com o tsunami que deixa a metade de um país afogado em águas
- algo não concorda com a determinação de os cabalistas - que o bem absoluto dirige
toda a Criação. “Se isto é bem, o que é mal, então? ”, você se pergunta em meio à
comoção das notícias diárias. O Criador é o bem absoluto. Assim foi revelado aos
cabalistas dentro de seus vasos de recepção e assim eles escrevem em seus livros.
De todas maneiras, aos nossos olhos um quadro se apresenta completamente
diferente. A própria vida nos leva à conclusão, que se existe uma força boa que
controla a criação, então, no melhor dos casos, simplesmente nos vira as costas.
Qual é o motivo da contradição entre o que dizem os cabalistas e a realidade em que
vivemos? Estamos condenados a viver em uma realidade onde o mal encobre o bem?
Como podemos fazer para que o Criador dirija seu olhar para nós? E talvez somos
nós que devemos voltar nossos rostos para Ele? Sobre estas e outras perguntas, nos
ocuparemos nesta parte da unidade de estudo, e enquanto nos ocupamos delas,
esclareceremos o tema central da lição: o principal benefício do estudo da sabedoria
da Cabalá.
Desde a criação do mundo, o universo se encontra em continuo desenvolvimento.
Tudo muda, nada fica fixo. A terra muda, a vida nela muda e também as pessoas se
encontram em uma mudança permanente. A força do desenvolvimento, ou “a
providência”, como a chamam os cabalistas, dirige o mundo e empurra a vida para o
desenvolvimento, passando de um estado para o outro de acordo com um plano
determinado e perfeitamente organizado. A matéria inanimada no universo se
transforma em galáxias, sóis e planetas, a matéria vegetal e animal da terra, se
desenvolve em uma gama extensa de plantas e animais.
Os cabalistas descobriram que o desenvolvimento da Criação não é aleatório ou
banal, mas determinado, orientado para uma “meta”. Existe um objetivo final para o
qual aponta a força de desenvolvimento. Cada detalhe na criação e o universo
inteiro, se encontram em um processo gradual de desenvolvimento, sob forma de
causa e efeito, até chegar a cumprir seus propósitos. Assim, por exemplo, a terra
passou por um processo de desenvolvimento até chegar a ser um lugar apto para a
criação da vida, o fruto na árvore, atravessa um processo de desenvolvimento até
amadurecer e chegar a ser comestível, e a lagarta passa por um processo similar até
que se converte em borboleta.
Acontece, que o bom propósito se revela somente ao final do desenvolvimento e não
antes, e os diferentes estados de desenvolvimento, não nos mostram o estado final,
o propósito, do bem, mas intencionalmente se revelam de forma completamente
oposta ao objetivo final. Por exemplo: a maçã que pende da árvore e ainda verde, é
amarga, e sem cor, e a lagarta, ao sair do ovo é desajeitada e sem graça antes de
transformar-se em borboleta. Esta diferença entre os estados de desenvolvimento,
onde falta o estado final perfeito, se revela nos níveis de desenvolvimento de toda
criatura, e quanto mais desenvolvida é, maior é esta diferença.
O exemplo mais notável disto é a diferença entre os estados de desenvolvimento do
homem e do animal. Um bezerro fica em pé minutos depois de ter nascido, e sabe
cuidar-se de qualquer mal. Já um ser humano recém-nascido é indefeso, e depende
completamente de seus pais. Passarão muitos anos até que aprenda a ativar seu
corpo de forma correta e familiarizar-se com o entorno em que se encontra. Se um
ser de outro planeta aterrissasse em nosso mundo, diria que o bezerro foi destinado
a algo grande, e que o bebê não tem futuro. Concluindo: a providência do Criador
sobre a Criação, está dirigida para um propósito, e o bom propósito do
desenvolvimento é revelado somente no final do processo, quando se concrete a
meta do desenvolvimento. A providência, com um propósito dirigido, não leva em
conta os estados intermediários do desenvolvimento, que tendem a nos confundir e
ocultar o bom propósito.
Baal HaSulam escreve sobre isto no artigo “A essência da religião e seu propósito”:
“E sobre isto nós dizemos: “Não há ninguém mais sábio que o experiente”, porque
somente aquele que tem experiência tem a oportunidade de observar a Criação em
todas suas formas de desenvolvimento até chegar a sua integridade. Neste caso, esta
pessoa pode manter a calma, e não se alarmar por estas imagens corruptas nas quais
a criatura se aferra durante suas fases de desenvolvimento, apenas acreditar em seu
belo amadurecimento final e sua pureza”.
De tudo o que foi dito até aqui podemos responder, ao menos parcialmente, à
pergunta com a qual iniciamos esta lição: se o Criador é a bondade absoluta, por que
sentimos Sua providência como ruim? O Criador é a bondade absoluta, mas como
Sua providência tem um propósito determinado, Sua bondade, se revela somente ao
final do processo de desenvolvimento, com a implementação da meta.
Teste-se:
Em que se caracteriza a providência do Criador sobre a Criação?
O BEM DO MAL
Teste-se:
Como se produz a transação de um determinado estado de desenvolvimento para o
seguinte estado?
Resumo da Lição
Pontos Principais
Termos
Perguntas e Respostas
Pergunta: Qual é a característica da providência do Criador sobre a Criação?
Resposta: A providência do Criador sobre a Criação tem uma finalidade, ou seja, cada
detalhe da criação e a criação mesma, atravessam um processo de desenvolvimento
gradual, em forma de causa e efeito, até chegar a implementar seus objetivos. O bom
propósito do desenvolvimento se revela somente no final do processo,
concretizando a meta do desenvolvimento e não antes.
Pergunta: Como se produz a transição entre um estado determinado de
desenvolvimento e o estado seguinte?
Resposta: Esta transição de um estado para o outro, se produz como resultado de
sentir que o estado presente é ruim, ou ao menos, não suficientemente bom. Sempre
que o desejo de receber se sinta bem com e seu estado, não fará nada para mudá-lo.
Pergunta: Que diferença existe entre o caminho do sofrimento e o caminho da Torá?
Resposta: Pelo caminho do sofrimento, avançamos de forma inconsciente, o mal que
se revela na realidade, nos obriga, inconscientemente, a passar ao próximo estado
de desenvolvimento. Pelo caminho da Torá avançamos voluntariamente,
conscientemente, reconhecendo o mal de antemão, antes de aparecer na realidade,
e dentro do reconhecimento do mal, passamos ao próximo estado de
desenvolvimento. O caminho do sofrimento é longo e difícil, já o caminho da Torá é
curto e rápido.
RESUMO DA LIÇÃO
PONTOS PRINCIPAIS
Termos
Providência: A força de desenvolvimento. O plano de acordo ao qual o Criador dirige
a Criação.
Força de atração: Força que provoca que o desejo de receber persiga o benefício
futuro.
Força de empuxo: Força que incita o desejo de receber a escapar das dificuldades.
Caminho do sofrimento: Avanço inconsciente nas fases de desenvolvimento.
Caminho longo e doloroso.
Caminho da Torá: Avanço consciente nas fases de desenvolvimento até alcançar a
Meta da Criação. Caminho curto e rápido.
Perguntas e Respostas
O QUE É BEM?
Na lição anterior estudamos que a força que nos impulsiona avançar para nosso
próximo nível de desenvolvimento, é a sensação de nos sentir incomodados em
nosso estado presente ou em uma versão mais otimista, a sensação de que o futuro
pode ser muito melhor (ou em uma versão mais realista, a sensação de que nos
sentimos mal com nossa situação atual).
De uma forma ou outra, a carência – o sentimento de vazio ou a falta de satisfação –
é a força que faz a nós e a toda a Criação avançar passo a passo no programa de
correção do Plano da Criação. Baal HaSulam escreve (48) que sem a sensação de
carência, não faríamos nenhum movimento; por 70 anos, nos ficaríamos com as
mãos apoiadas sobre a mesa sem movê-las um centímetro - contentes por estar
assim. A sensação de carência, ou a sensação ruim revelada em nosso estado
presente, é o que nos empurra para o próximo estado.
A evidente conclusão, é que se desejamos acelerar o processo de nosso
desenvolvimento, devemos acelerar o reconhecimento do mal em cada estado. Em
lugar de esperar que o mal se revele, o descobrimos por nós mesmos com
antecedência. Acontece que não é tão simples assim. Primeiro, temos que esclarecer
o que é o mal que devemos revelar (assunto complicado), e depois, devemos
esclarecer como revelá-lo exatamente. Se temos as respostas a estas duas perguntas,
poderemos passar do desenvolvimento do caminho do sofrimento ao
desenvolvimento pelo caminho da Torá. Estas perguntas serão esclarecidas na
próxima lição.
Para averiguar o que é o mal, primeiro devemos entender que é o bem. Bem, segundo
a sabedoria da Cabalá, é o estado final do nosso desenvolvimento, ou seja, a total
equivalência de forma com o atributo de doação, que é chamado na sabedoria da
Cabalá “adesão”. Em termos mais simples, “bom” segundo a Cabalá, é a sensação de
conexão harmônica com todas as partes da Criação como um só corpo, é a união com
o amor, corrigindo a intenção de recepção a doação.
Se o bem é a sensação de conexão, então o mal é a sensação de separação, ou seja, a
força que nos provoca a sensação de divisão. Esta força, que já estudamos, é a
intenção com a finalidade de receber, o ego, o atributo que dirige o desejo de receber,
de modo que todo o trabalho com ele está dirigido para o interior, somente para
nosso benefício pessoal.
Ao longo de todos seus escritos, Baal HaSulam volta a explicar, que a causa de todo
o mal no mundo é nossa forma de trabalho com o desejo de receber, ou seja, somente
para nosso próprio benefício, sem levar em conta os demais e em total discrepância
com as leis da natureza. A falta de equivalência de forma entre nós é o atributo de
doação, como resultado do trabalho com o desejo com intenção com a finalidade de
receber, é o que nos impede experimentar a boa e verdadeira realidade, dirigida pelo
Único Criador, Bom e Benfeitor.
Assim escreve no “Prefacio ao livro do Zohar”(49): “Venha e veja, quando todos os
seres humanos consintam com unanimidade, eliminar e erradicar o desejo de
receber para eles mesmos que existe em seu interior, e não tenham outro desejo
além de doar a seus amigos, então, todas as preocupações e desventuras seriam
anuladas da terra, e cada um se sentiria seguro, vivendo uma vida plena e saudável,
já que cada um de nós teria um grande mundo que se preocuparia por ele, e satisfaria
todas suas necessidades. Mas, enquanto se tenha somente o desejo de receber para
si mesmo, todas as preocupações, sofrimentos, guerras e matanças, das quais não
podemos escapar, e que debilitam nossos corpos com tudo tipo de doenças,
permanecerão”. Podemos identificar a intenção com a finalidade de receber em
nossa relação com o próximo, em tudo o que nos parece que está fora de nós. Esta
intenção, orienta nosso desejo de receber de tal maneira que o único cálculo de sua
parte para tudo o que lhe parece externo é em que medida que pode utilizá-lo para
seu próprio benefício. E como estudamos anteriormente aquelas ações que fazemos
que nos parecem desinteressadas, se examinamos profundamente nossa motivação,
encontraremos, também em estes atos, a intenção com a finalidade de receber que
segue o mesmo cálculo de nos beneficiar somente.
O mal que devemos detectar é, portanto, a intenção com a finalidade de receber, ou
em outras palavras, nossa deficiente relação com os demais. Em primeiro lugar,
devemos reconhecer que estamos realmente controlados pela intenção com a
finalidade de receber, e depois, senti-la como “má”, ou seja, considerar o valor da
conexão, que se converte em “bem”. E assim, cada vez que identifiquemos uma parte
da intenção com a finalidade de receber, a veremos necessariamente como má, e
forçosamente, passaremos ao próximo nível de desenvolvimento, até alcançar o bem
absoluto no final da correção.
Este trabalho interno de esclarecer a intenção com a finalidade de receber como o
mal que nos impede a espiritualidade, se denomina na sabedoria da Cabalá,
“reconhecimento do mal”.
O reconhecimento do mal é, na realidade, a correção do mal. Tudo o que temos que
fazer para anular a intenção com a finalidade de receber, é reconhecê-la como má.
Isto se assemelha aos monstros dos contos de infantis, que ao olha-los
profundamente, viram fumaça e desaparecem. A correção da intenção com a
finalidade de receber, começa e termina ao tomar consciência dela. Se pensarmos,
nos daremos conta que nada mais é necessário. Se identificamos a intenção com a
finalidade de receber como a força que nos impede de alcançar o bem, a
espiritualidade, imediatamente, se ativa dentro de nós o desejo de corrigi-la, e como
vimos, a única coisa que nos pedem é o desejo de correção.
O trabalho do reconhecimento do mal, é de certa forma, similar às provas de
qualidade da água. Em lugar de beber água contaminada, ficarmos doentes e sofrer,
nós analisamos de com antecedência a quantidade de bactérias que ela tem, e
evitamos um sofrimento desnecessário. Do mesmo modo, também no trabalho do
reconhecimento do mal, nós evitamos a sensação de sofrimento na prática, “na
própria pele”. Em lugar de avançar pelo caminho do sofrimento, podemos utilizar a
sabedoria da Cabalá, reconhecer o mal de com antecedência, antes de que se
manifeste, e passar do caminho do sofrimento ao caminho da Torá.
De uma maneira ou outra, sempre que a intenção com a finalidade de receber esteja
oculta dentro de nós e nos controla inconscientemente, não teremos a possibilidade
de corrigi-la e damos outro passo para nosso estado corrigido. Baal HaSulam escreve
sobre isto em uma de suas cartas a seus alunos:(50) “Mesmo que me queixe e
lamente as corrupções que ainda não tenham sido reveladas e as que serão
reveladas, como a corrupção oculta não tem nenhuma esperança, já que a grande
salvação dos céus está em sua revelação, segundo a regra que não se pode oferecer
o que não se tem, e se revela agora, não há nenhuma dúvida que já existia desde o
princípio, mas estava oculta, e é por isso que me alegro que saíram de seus buracos,
porque vocês colocarão seus olhos nelas e elas se converterão em um monte de
ossos”.
Até aqui o referente à pergunta qual é o mal que devemos reconhecer. Na próxima
parte da lição estudaremos como podemos identifica-lo.
Teste-se:
Que é o mal que devemos identificar?
Aprendemos até agora que o Criador nos criou para beneficiar-nos, e que no
caminho para o bem vão se revelando estados aparentemente ruins.
Compreendemos que se nos referimos aos estados “ruins” que se revelam como
aceleradores para a meta, veremos, que também eles são bons. Dissemos, que
justamente o mal que se revela em cada situação, é o que nos promove ao próximo
estado de desenvolvimento, e se o descobrimos antes, podemos acelerar os estados
de nosso desenvolvimento espiritual. Depois de tudo isto, não nos fica outra coisa
para fazer a não ser esclarecer que é o mal, para poder reconhecê-lo e acelerar o
desenvolvimento. E assim encontramos, que a intenção com a finalidade de receber,
é o mal que nos impede de descobrir o bem.
Nesta parte da lição esclareceremos a maneira de chegar ao “reconhecimento do
mal”, ou seja, quais são as ações que devemos realizar para identificar o mal que nos
impede chegar ao bem. Antes de arregaçar as mangas e trabalhar, é importante que
conheçamos um dos princípios básicos do trabalho interno do indivíduo no estudo
da sabedoria da Cabalá, e levando isso em conta, poderemos entender mais
claramente o que devemos fazer.
Em um de seus artigos (51), o Rabino Baruch Shalom Ashlag (conhecido como
“Rabash”), filho primogênito e seguidor de Baal HaSulam nos apresenta, uma breve
e bonita metáfora que ilustra perfeitamente o princípio que desejamos esclarecer.
Rabash escreve, que quando a casa está às escuras, não se vê nela sujeira alguma.
Somente quando se acende uma luz, podemos ver a sujeira. Exemplo simples para
um princípio simples: para reconhecer o mal devemos nos referir ao bem. Não
podemos ver o mal (a sujeira) sem um pouco de bem (luz).
Como o exemplo de Rabash, também nós nos encontramos em uma sala escura e
também devemos acender a luz para poder descobrir a sujeira que há nela. Como
um buraco negro que aspira toda a realidade que o rodeia para uma escuridão
completa em seu interior, assim, a intenção com a finalidade de receber atrai toda a
realidade que está fora de nós para o espaço negro que se encontra em nosso
interior. E para identificar a intenção com a finalidade de receber que nos controla
de dentro e nos impede o bem, devemos atrair dentro de nós um raio de luz. Somente
em relação à luz, poderemos discernir a intenção que se lhe contrapõe.
Duas potentes ferramentas nos foram doadas para iluminar a escuridão dentro de
nós: a Luz que reforma e a influência do entorno. A Luz que reforma, é na realidade
o bem que nos ilumina de nosso estado espiritual corrigido. Mas, enquanto não
estejamos corrigidos, ilumina por fora de nós e atua em nós de diferentes maneiras
para nos aproximar da correção. Rabash se refere à esta luz quando escreve que
devemos acender a luz para poder ver a sujeira.
Quando lemos nos livros dos cabalistas sobre nossos estados corrigidos e ansiamos
descobri-los, senti-los na realidade, nossa ânsia por descobrir a espiritualidade atrai
para nós uma iluminação especial da espiritualidade, que nos mostra como estamos
longe dela. Entretanto, parece que saímos perdendo, queríamos luz e recebemos
escuridão, mas como explicamos, justamente a revelação da escuridão em
contraposição da luz, é o que nos faz avançar para o próximo estado no processo do
“reconhecimento do mal”, caminho à revelação do bem.
Não devemos temer, portanto, se o estudo nos leva à revelação do mal, à sensação
de afastamento dos demais, às dúvidas e desacordos, porque precisamente acima de
todos estes obstáculos construímos um desejo maior e mais forte pela
espiritualidade. Os cabalistas escrevem, que se um indivíduo estuda Cabalá e o
estudo o leva a um estado de satisfação, não está estudando Cabalá, realmente. A luz
que nos ilumina durante o estudo deve nos desenvolver e despertar em nós novas
carências para uma maior conexão com o atributo de doação, lembrem-se: uma nova
carência é a oportunidade de renovação, de desenvolvimento e de revelações. Tudo
o que se pede de nós é a carência correta, o pedido de conexão.
“O começo de seu trabalho (do homem) ” (52), escreve Rabash, “é o reconhecimento
do mal, ou seja, que o indivíduo pede ao Criador sentir quão ruim é o desejo de
receber. E este conhecimento, de que ao desejo de receber é chamado de “mal”,
somente o Criador pode fazê-lo sentir…e então, pode pedir logo, que mude o desejo
de receber e lhe dê em troca o desejo de doar”.
Outra ferramenta importante para o trabalho com “o reconhecimento do mal” é o
entorno espiritual no qual atuamos, ou mais precisamente, a influência do entorno
sobre nós. O bem que devemos atrair ao nosso estado para esclarecer o mau em
relação a ele, não é somente a Luz que reforma, mas também a importância que
damos ao atributo de doação. Somente elevando este atributo acima de nossa escala
de valores, poderemos perceber a divisão como má. Na medida que damos valor ao
atributo de doação, reconheceremos a divisão como má. O instrumento mais efetivo
para elevar a importância do atributo de doação é o entorno. Todos somos “animais
sociais”, e todos somos influenciados pela opinião social. Se organizamos ao nosso
redor um entorno que eleva o valor do atributo de doação, não teremos outra forma
a não ser valorizar esse atributo. Temos uma predisposição interna para isso. Se o
meio valoriza algo, também nós, por nossa natureza, o valorizamos também
obrigatoriamente. Assim exatamente, as agências de publicidade nos influenciam:
um novo produto lançado no mercado, ninguém o necessita, mas todos começam a
falar dele. No princípio você escuta e sorri, depois escuta e cala e mais tarde começa
a lhe interessar e finalmente, você o compra.
E como ocorre na materialidade, ocorre também na espiritualidade. Somente o
entorno espiritual no qual nos desenvolvemos, pode elevar a importância do valor
espiritual sobre o material. Nenhum de nós pode fazer isto por si mesmo, e menos
ainda, quando a espiritualidade (atributo de doação) é contrária à nossa natureza e
muitas vezes é percebida como escuridão.
Para finalizar esta parte, esclareceremos a relação que há entre “Não há nada além
Dele”, e o reconhecimento do mal. Caso vocês já se perguntaram em que ponto se
cruzam o trabalho do reconhecimento do mal com o de “Não há nada além Dele”,
aqui está a resposta. Cada vez que a espiritualidade se revela como escuridão, como
falta de desejo de estudar a sabedoria da Cabalá, como uma indiferença à ideia
espiritual ou uma dificuldade mundana que nos impede de nos ocupar da sabedoria
da Cabalá, antes de mais nada, devemos atribuir tudo isto a uma só força que nos
envia todas as situações em nossas vidas, porque “Não há nada além Dele”. E se
recordarmos de onde vem tudo e nos prepararmos corretamente em prol da meta,
que em seu nome nos foi enviado o obstáculo, poderemos esclarecer com mais
profundidade o que exatamente nos incomoda (o reconhecimento do mal) e formar
em nosso interior o pedido correto de correção.
E desta forma vamos esclarecendo o desejo pela espiritualidade. O trabalho se
produz dentro de nós por meio do reconhecimento do mal. E como temos aprendido
na parte anterior da lição, neste trabalho não necessitamos da revelação do mal na
prática para passar de um nível ao outro.
Em resumo, para descobrir o mal devemos dirigir-nos, na medida do possível, para
o bem, mediante a Luz que reforma e por meio do entorno. Mas, o que pode soar
como simples e trivial, poderia revelar-se como difícil de implementar. Há algo em
nossa natureza que nos atrai justamente a nos ocupar do mal, especialmente quando
damos nossos primeiros passos no estudo da sabedoria da Cabalá. Há algo no
sentimento de dor que nos desperta orgulho, e enquanto não estivermos corrigidos,
não poderemos nos negar de saboreá-lo. Nem sempre é fácil aderir-se ao bem, elevar
o valor da espiritualidade por sobre toda interferência, mas se o que desejamos é
avançar pelo caminho espiritual, esta é a ação que devemos fazer.
Teste-se
Quais são os dos meios para reconhecer o mal?
DIVISÃO MORAL
James “Sonny” Crockett e seu companheiro de patrulha Ricardo “Rico” Tavas, dupla
de detetives do Departamento de Ética da polícia de Miami, eram o que podemos
qualificar de “bons rapazes”. Na tela da televisão, em um mundo fictício que criaram
para eles os roteiristas da série “Miami Vice”, ambos se esforçavam para manter o
topete e a aparência, quando tratam de impor um pouco de ordem nas ruas de Miami
e inculcar moral aos seus delinquentes.
Se conseguiram manter o topete e a aparência, a moral, bem menos… e está muito
bem, resultados mais ou menos parecidos nós alcançamos também no mundo real.
É mais fácil manter o topete que a moral. Na realidade, é mais fácil manter qualquer
coisa do que a moral.
Muitos comparam a sabedoria da Cabalá com a moral. Um entendimento errado da
sabedoria da Cabalá, os leva a pensar que o propósito desta sabedoria é converter-
nos em indivíduos mais éticos, fazer de nós melhores pessoas neste mundo. Estão
equivocados. A sabedoria da Cabalá está longe das doutrinas morais, como o oriente
do ocidente.
Sobre a diferença entre a sabedoria da Cabalá e as outras disciplinas morais, temos
nos referido na segunda unidade de estudo, (53) quando averiguamos a relação da
sabedoria da Cabalá com o trabalho sobre o desejo de receber. Perguntas sobre a
diferença entre moral e Cabalá surgem também explicando o trabalho do
“reconhecimento do mal”, e elas constituem uma boa oportunidade para enfatizar
ainda mais a diferença entre ambas disciplinas.
A sabedoria da Cabalá e as doutrinas éticas, compartilham, aparentemente, mesma
finalidade: erradicar o mal de nosso interior e consolidar em nós uma atitude
diferente, corrigida, com respeito ao entorno no qual vivemos. Partindo desta
semelhança, estão os que coincidem que também a sabedoria da Cabalá é uma
disciplina ética. Uma compreensão mais profunda da essência da sabedoria da
Cabalá, nos leva à conclusão de que o que nos parece um comum denominador, é
uma similaridade, e nada mais que isso. De fato, se trata de dois enfoques
completamente diferentes entre si, em todos os sentidos.
Distinguimos três diferenças principais entre elas:
O fundamento sobre o qual estão baseadas ambas disciplinas – é diferente. A
recompensa que ambas disciplinas prometem é diferente.
O objetivo de ambas é diferente.
A primeira diferença entre os métodos, é, como temos dito, o fundamento no qual
estão baseados. Deste ponto de vista, a brecha entre a Cabalá e a Moral é igualmente
imensa como a brecha que existe entre o Criador e a criatura. Isto é porque a
sabedoria da Cabalá extrai sua força e conhecimento do Plano da Criação, e ao
contrário as doutrinas morais estão totalmente baseadas nos pensamentos do ser
humano.
Moral, é um sistema baseado em nossa experiência de vida como seres humanos.
Quando a vida nos ensina que certo comportamento do indivíduo afeta o bem geral,
nós o prendemos para que não se comporte desta maneira. Em geral, é um sistema
ético. Assim, por exemplo, nós repudiamos atos como a mentira e o roubo, e em caso
de necessidade, promulgamos leis que nos impeçam de mentir ou roubar.
A sabedoria da Cabalá, não está baseada em nossa experiência de vida como seres
humanos. Esta sabedoria se desprende de Cima, da Criação, do Plano da Criação de
beneficiar as criaturas, e ao contrário do sistema moral, limitado dentro da moldura
do pensamento humano, a sabedoria da Cabalá nos abre uma imagem completa da
realidade, que não depende dos limites de nossa percepção como seres humanos.
Esta significativa diferença, define necessariamente um enfoque completamente
diferente do “bem “e do “mal” (explicamos amplamente em partes anteriores da
lição). Segundo os métodos éticos, os valores de “bem” e “mal” se medem em relação
ao benefício social, e na mudança, segundo a sabedoria da Cabalá, os valores de
“bem” e “mal” são medidos de acordo com um índice de valores completamente
diferente, em relação à implementação do Plano da Criação. E como foi explicado
nas aulas anteriores, deste ponto de vista, também o que nos parece “mal” se
transforma em “bem”.
A segunda grande diferença entre os métodos, é o benefício prometido àqueles que
se dedicam a eles: a sabedoria da Cabalá promete ao indivíduo um benefício que
transcende a natureza deste mundo, e na moral, lhe promete recompensas dentro
deste mundo. O trato com a sabedoria da Cabalá, muda a natureza do homem de
recepção para doação, e o eleva acima dos limites deste mundo, para a obtenção da
espiritualidade e eternidade. Assim, o maior benefício que os métodos morais
podem oferecer ao homem, é uma sociedade corrigida dentro das fronteiras deste
mundo – recompensa digna sem dúvida, mas sempre que nos encontremos dentro
dos limites deste mundo, não poderemos alcançá-lo, porque não podemos renunciar
ao nosso benefício pessoal a favor do benefício da sociedade.
Não importa quanto limitemos ao homem ou o dissuadimos para não atuar contra a
sociedade, finalmente, sua atitude “corrigida” para os demais, será da boca para fora
e nada mais. Muito dentro dele, de todas as maneiras, pensará em seu próprio
benefício, e na primeira oportunidade que se apresente, se preocupará realmente
em atuar em benefício próprio à custa dos demais. Preocupar-se pelos outros sem
meu próprio benefício, é uma ação que se encontra sobre a natureza humana, e para
implementá-la, também o ganho que lhe é prometido, deve estar acima de sua
natureza. A terceira grande diferença entre Cabalá e moral, é o propósito de ambos
métodos, já falamos mais de uma vez, quando explicamos as outras diferenças, e de
todas formas, é importante descrevê-la por si mesma. O propósito da Moral é
estabelecer uma sociedade corrigida em nosso mundo. A meta da sabedoria da
Cabalá, é elevar o homem ao nível do Criador.
A sabedoria da Cabalá, não nos foi entregue para converter-nos em melhores
pessoas dentro do contexto deste mundo, mas para nos elevar acima dos limites
deste mundo.
Teste-se:
Sobre que fundamentos se baseiam a moral e a sabedoria da Cabalá?
Resumo da Lição
Pontos Principais
Termos
Reconhecimento do mal: Esclarecer a intenção com a finalidade de receber como o
mal que nos impede alcançar a espiritualidade.
A Luz que reforma: a Luz que nos ilumina fora de nós sempre que não estejamos
corrigidos. Estudando corretamente a sabedoria da Cabalá, a Luz que reforma atua
sobre nós e nos aproxima da correção.
Perguntas e Respostas