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Fungicidas agrícolas: 8
critérios para
classificação

 09/08/2022 -  Fitossanitários -
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Os fungicidas são importantes para o controle dos


fungos, que representam cerca de 65% das doenças
que acometem as culturas agrícolas. Conhecer suas
classificações é importante para programar sua
utilização da melhor maneira possível, evitando, por
exemplo o surgimento de resistência a inseticidas.

Sumário
1.
2. Porque os fungicidas agrícolas são utilizados?
3. Quantos fungicidas existem hoje no mercado?
4. Quais os critérios podem ser utilizados para
classificar os fungicidas agrícolas?
4.1. Grupos químicos
4.2. Princípio geral de controle
4.2.1.
4.3. Mobilidade ou Contato na Planta
4.4. Mecanismo de ação
4.5. Toxicologia
4.6. Potencial de periculosidade ambiental
4.7. Formulações
4.8. Espectro de ação
5. Referências

Porque os fungicidas agrícolas


são utilizados?
A maior parte das doenças de plantas (>65%) são
causadas por fungos. Para conter o
desenvolvimento de fungos patogênicos nas
lavouras, aumentar o período de armazenagem e a
qualidade do produto e das plantas colhidas são
utilizados produtos específicos: os fungicidas.

Por definição, fungicidas são substâncias químicas /


sintéticas, agentes biológicos e substâncias naturais
que protegem as plantas cultivadas de doenças
causadas por fungos, matando, dificultando a
infecção ou inibindo seu desenvolvimento,
reduzindo os danos e as perdas causadas.

Estima-se que se os fungicidas não fossem


utilizados no mundo inteiro, haveria uma redução
de 7,3% da produtividade das culturas (MENTEN &
BANZATO; 2016). Para o Brasil, que possui clima
tropical com altas temperaturas e precipitações o
problema certamente seria maior.

O controle químico dos fungos é, portanto, uma


medida eficiente e economicamente viável para
garantir altas produtividades e a qualidade da
produção agrícola

Quantos fungicidas existem


hoje no mercado?
Uma grande variedade de fungicidas estão
disponíveis no mercado, com diferentes ingredientes
ativos e finalidades de uso. De acordo com dados do
AGROFIT, existiam no mercado brasileiro em 2021 o
registro de:

88 ingredientes ativos de fungicidas químicos (e


um total de 639 produtos formulados);
9 fungicidas biológicos (e um total de 60 produtos
formulados),
1 ativador de resistência (e 1 produto formulado).

Os fungicidas agrícolas podem ser classificados de


acordo com vários critérios, como: mecanismo de
ação, princípio de controle, espectro de ação, entre
outros. Vamos conhecer abaixo, 8 critérios nos quais
podemos classificar os fungicidas.

Quais os critérios podem ser


utilizados para classificar os
fungicidas agrícolas?

Podemos utilizar pelo menos 8 critérios distintos


para classificar os fungicidas agrícolas, a saber:

Grupos químicos

Com relação ao grupo químico a que pertencem, os


fungicidas podem ser classificados em inorgânicos
ou orgânicos. Quimicamente, moléculas orgânicas
são aquelas que possuem átomos de carbono em
sua estrutura, enquanto moléculas inorgânicas não
os possuem.

Inorgânicos

Grande parte dos primeiros fungicidas desenvolvidos


foram baseados em componentes inorgânicos como
enxofre e íons metálicos, tais como o cobre, estanho,
cádmio e mercúrio, os quais são tóxicos aos fungos.

Os fungicidas inorgânicos mais utilizados são o


enxofre e fungicidas cúpricos (hidróxido de cobre,
sulfato de cobre, óxido cuproso, entre outros).

Orgânicos

Os fungicidas orgânicos são classificados por grupos


químicos e cada grupo pode conter um ou vários
ingredientes ativos. Existem cerca de 50 grupos
químicos.

Na tabela 1 são listados os principais grupos


químicos, com seus ingredientes ativos.

Tabela 1. Alguns dos principais grupos químicos e


ingrediente ativo dos fungicidas orgânicos

GRUPOQUIMICO INGREDIENTEATIVO
Acilalaninato Benalaxil
Matalaxil-m
Alquilenobis(ditiocarbamato) Mancozeb
Manebe
Metiran

Anilida Boscalida
Antibiótico Casugamicina
Benzimidazol Carbendazim
Tiabendazol
Tiofanato-metílico
Benzotiadiazol Acibenzolar-s-metílico
Carboxamida Bixafem
Flutolanil
Fluxapiroxade
Penflufen
Pidiflumetofen
Carboxanilida Carboxina
Oxicarboxina

Tifluzamida
Dicarboximida Captana
Folpene
Iprodiona
Procimidona
Vinclozolina
Dimetilditiocarbamatos Tetrametilthiuramdisulfide
Tiram
Estrobirulina Azoxistrobina
Cresoxim-metilico

Dimoxistrobin
Metominostrobin
Picoxistrobina
Piraclostrobina
Trifloxistrobina
Etermandelamina Mandipropamid
Fenilpiridinilamina Fluazinam
Fenilpirrol Fludioxonil

Imidazol Ciazofamida
Imazalil

Triflumizon
Organoestânico AcetatiodeFentina
HidróxidodeFentina
Triazolinthione Protioconazol

Triazol Ipconazol
Metconazol
Miclobutanil

Propiconazol
Tebuconazol
Tetraconazol
Tradimefom
Triadimenol
Triticonazol

Acesse aqui (Adobe Acrobat PDF) uma lista dos


fungicidas e suas características que são
representativas dos principais grupos químicos
registrados nos Estados Unidos.

Princípio geral de controle

Essa classificação se baseia no modo como o


fungicida atua na planta e controla o fungo (Figura
1).

Figura 1. Ação dos fungicidas preventivos, curativos e


erradicantes nas diversas fases do ciclo de relação
patógeno/hospedeiro. Fonte: Menten & Banzato
(2016).

Protetores

São aqueles que inibem a germinação de esporos:


forma barreira química que impede a penetração do
fungo na planta.

Após ser aplicado, forma uma barreira protetora


antes que o fungo se instale ou se desenvolva no
vegetal. Por esse motivo, costumam ser muito
utilizados para proteger folhagens e sementes.

À medida que o vegetal cresce, novas partes da


planta ficam desprotegidas. Como resultado,
geralmente esses fungicidas precisam de mais
aplicações.

Principais grupos:

Enxofre
Cúprico
Ditiocarbamato
Iso(ftalonitrila)
Cloroaromático
Dicarboximida
Organoestâmico
Guanidina
Fenilpiridinilamina
Fenilpirrol

Curativos

São aqueles que possuem a capacidade de penetrar


na planta e impedir a penetração do fungo no
tecido vegetal.

Nesse caso ocorre atenuação dos sintomas ou


reparação dos danos provocados pelo patógeno,
sendo uma ação dirigida contra o patógeno, após o
estabelecimento de deu contato efetivo com o
hospedeiro.

Normalmente, esses defensivos costumam funcionar


melhor no período entre 24 e 72 horas após a
infecção do fungo na planta — ou seja, logo no início
ou depois da identificação dos primeiros sintomas,
quando estes ainda não estão visíveis.

Principais Grupos:

Trazóis
Carboxamidas
Benzimidazóis
Estrobirulinas

Erradicantes

São aqueles que atuam diretamente sobre o


patógeno, na sua fonte de inóculo. Atuam reduzindo
a esporulação.

Geralmente, recomenda-se aplicação desses


produtos após a planta desenvolver os sintomas da
doença. Também é possível utilizá-los de outras
formas, como no tratamento de sementes, do solo,
ou no inverno, momento em que as plantas de clima
temperado entram em repouso vegetativo.

Principais grupos:

Alifático alogenado
Isotiocianato de metila
Calda bordalesa
Calda sulfocálcica

Mobilidade ou Contato na Planta

Os fungicidas podem ser classificados quanto à


mobilidade ou à capacidade de se translocar na
planta em: imóvel ou de contato, sistêmico ou
móvel e mesostêmico ou translaminar.

Imóvel

Também chamados de tópico, residual ou não


sistêmico. O fungicida não penetra a planta. Ficam
externos ao tecido vegetal formando uma barreira
química.

Principais grupos:

Inorgânicos: enxofre e cúpricos


Orgânicos: ditiocarbamato, (Iso)ftalonitrila,
Cloroaromático, Organoestânico e Fenilpirrol

Sistêmico ou móveis

Ocorre translocação dos fungicidas via sistema


vascular da planta.

Principais grupos:

Bendimidazol
Carboxamida
Fosfototioato de arila
Acilalaninato = fenilamida
Acetamida
Morfilina
Piridilamina
Pirimidina
Imidazol
Triazol
Estrobirulina

Existem diferentes graus de


mobilidade/sistemicidade dentro dos fungicidas
sistêmicos para triazóis e estrobilurinas (Figura 2).
Essa mobilidade é dada praticamente pelo POW do
fungicida.

Figura 2. Mobilidade e sistemicidade de fungicidas


do grupo químico dos triazóis. Fonte: Menten &
Banzato (2016).

Mesostêmico

Também chamados de translaminar ou penetrante.


Apesar de não atingir o sistema vascular da planta,
o fungicida atravessa ou move-se no limbo foliar da
planta.

Principais grupos:

Piraclostrobina
Trifloxistrobina
Mandelamida.

Mecanismo de ação

Os fungicidas matam os fungos por causarem danos


nas suas membranas celulares, pela inativação de
enzimas ou proteínas essenciais, ou por interferirem
em processos chave como produção de energia ou
respiração. Outros têm impacto específico em vias
do metabolismo, como produção de esterol ou
quitina (McGRATH, 2004).

Alguns produtos desenvolvidos recentemente são


peculiares no fato de que eles não afetam
diretamente o patógeno. Muitos destes induzem
uma resposta da planta (hospedeiro) conhecida
como resistência sistêmica adquirida (SAR, sigla em
inglês de Systemic Acquired Resistance).

O conhecimento exato de como um fungicida


afeta um fungo auxília na seleção dos produtos.

O modo de ação determina quais fungos serão


afetados pelo fungicida e, portanto, quais doenças
podem ser controlados pelo uso de tal fungicida.

Fungicidas com modo de ação diferentes são


necessários no controle da doença para retardar o
desenvolvimento de resistência.

O FRAC (Fungicide Resistance Action Committee ),


Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas, classifica
os fungicidas em mais de 50 grupos, utilizando
diferentes letras (de A a P, com números
adicionados) para distinguir grupos de fungicidas de
acordo com seu modo de ação bioquímico (MOA)
nas vias biossintéticas de patógenos de plantas.

Todos os fungicidas pertencentes a um mesmo


grupo químico têm em comum o modo de ação e o
mecanismo de resistência, embora sua estrutura
química possa ser diferente. Duas exceções no
esquema classificatório do FRAC/EPA é a classe de
fungicidas múltiplo-sítios classificados como classe
de fungicidas com modo de ação “desconhecido”
(unknown).

A seguir estão listados os grupos existentes e o seu


modo de ação, de acordo com a classificação da
FRAC:

A. Síntese de ácido nucléico

B. Mitose e divisão celular

C. Respiração

D. Síntese de aminoácidos e proteínas

E. Transdução de sinal

F. Síntese lipidio e entegridade da membrana

G. Biossíntese de esterol nas membranas

H. Biossíntese de parede celular

I. Síntese de membrana na parede celular

M. Ação multi-sítio

P. Indução de defesa da planta hospedeira

NC Não classificados

Mecanismo de ação desconhecido

Cada grupo é classificado em diversos sub-grupos


de acordo com o modo de ação na planta e recebe
um código FRAC que é utilizado, por exemplo para
se manejar a resistência de fungicidas (Figura 3).

Dentro do grupo G, por exemplo, que atua na


biossíntese de esterol nas membranas, temos 4 sub-
grupos:

G1: atuam na desmetilase. Ex: triazol, imidazol,


protoconazol, entre outros
G2: atuam na redutase / isomerase. Ex: morfilina,
piperidina, espiroquetalamina;
G3: atuam na keto redutase. Ex: hidroxianilida,
amino-pirazolinona
G4: atuam na escaleno redutase. Ex: alilaminas,
tiocarbamato.

Figura 3. Classificação FRAC dos Fungicidas. Fonte:


FRAC.

Uma lista dos fungicidas organizados por grupo


químico é mantida pelo FRAC [Fungicide Resistance
Action Committee – (FRAC)].

Toxicologia

Os fungicidas são classificados em seis classes


toxicológicas, de acordo com a ANVISA, com relação
à periculosidade ao homem, representadas por
cores (Figura 4).

Figura 4. Classe toxicológicas dos fungicidas


agrícolas.

Potencial de periculosidade
ambiental

Os fungicidas podem ser classificados pelo IBAMA


em 4 classes de acordo com o potencial de
periculosidade ambiental:

Classe I – Altamente Perigoso ao meio ambiente


Classe II – Muito Perigoso ao meio ambiente
Classe III – Perigoso ao meio ambiente
Classe IV – Pouco Perigoso ao meio ambiente

Formulações

A maneira que as formulações são encontradas no


mercado também é uma maneira de se classificar os
fungicidas.

Os ingredientes ativos nunca são aplicados puros. Na


verdade, o ingrediente ativo está no produto técnico
juntamente com impurezas que são produzidas no
processo de fabricação e inertes (solventes ou
aditivos adicionados para aprimorar a ação do
ingrediente ativo).

7 Principais tipos de formulações disponíveis no


mercado:

Concentrado Emulsionável (C.E.). ex: Procloraz


45% CE
Pó molhável (P.M.). ex: mancozebe 80% PM
Suspensão concentrada: Pós molhável + agua +
aditivos. Ex: Derosal 500 SC (Carbendazin)
Grânulos dispersíveis em água (G.D. /W.G.). Ex:
Amistar WG (Azoxistrobina 50%).
Concentrado Solúvel (C.S. /S.L.): Solução verdadeira
do ingrediente ativo. Ex: Alto 100 (Ciproconazol
10%).
Suspo – Emulsão (S.E.). Ex: Opera (Piraclostrobina
13% + Epoxiconazol 5%).
Pó (P). Utilizado raramente para tratamento de
sementes. Ex: Captan 750 TS (Captana 75%)

Espectro de ação

Os fungicidas podem ser classificados em relação ao


seu espectro de ação como de: amplo espectro ou
multissítio ou espectro restrito ou sítio-específico.

Os fungicidas podem ser classificados como


multissítios (quando atuam em vários sítios) ou
sítio-específicos (quando age especificamente em
um ou poucos processos).

Multissítio

Os Multissítios afetam diferentes pontos


metabólicos do fungo. Como consequência são
produtos que possuem baixo risco de desenvolver
resistência (Figura 5).

Tipicamente, fungicidas de contato mais antigos


tem ação múltiplo-sítio e, portanto, normalmente,
afetam muitos fungos em diferentes classes.

Ex: Mancobez, Clorotalonil, cúpricos, enxofre


(Fungicidas Protetores e Imóveis).

    

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