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A Farsa Sobre Jesus - David Skrbina
A Farsa Sobre Jesus - David Skrbina
David Skrbina
Título original: The Jesus hoax: how St. Paul's cabal fooled the world for two thousand
years
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Copyright
Prefácio
Apresentação
Capítulo 1: Preparando o cenário
Capítulo 2: Apenas os fatos...
Capítulo 3: Porque a história de Jesus é falsa
Capítulo 4: Um contra todos
Capítulo 5: Reconstruindo a verdade
Capítulo 6: Fazendo um balanço, olhando à frente.
Apêndice B: Uma crítica ao Zelota de Aslan (2013)
Referência Bibliográfica.
Contracapa:
Prefácio
Paulo e os evangelhos
m nosso foco nos fatos, parece que a próxima pessoa que
E
conhecemos com alguma certeza é Paulo. Ele é uma figura
importante em nossa história, a chave para entender o que
aconteceu naquela época. Enfatizo, primeiramente, apesar do que
muitas pessoas pensam, que Paulo não era um dos 12 discípulos.
Ele nunca conheceu Jesus pessoalmente, não era nem mesmo um
cristão até o ano 33, cerca de três anos após a crucificação.
Nascido como Saulo, em Tarso (na moderna Turquia), em torno
do ano 6 d.C, era um fariseu, um Judeu ortodoxo da elite, “um
hebreu nascido de hebreus” (Fil 3:5). Ele também pode ter sido um
Zelota, advogando pela resistência violenta à Roma. Falando em
Atos (22:3), Paulo diz “Eu sou um Judeu, nascido em Tarso da
Cilícia”. Ele continua: “Eu era um zelota por Deus.” (CJB, DLNT) ou
“Eu era zeloso por Deus.” – a tradução varia. Em outro momento ele
diz “No Judaísmo, eu superava a maioria dos Judeus da minha
idade, e era extremamente zeloso das tradições dos meus
antepassados”. (Gal 1:14). Há uma diferença entre dizer “Eu era
zeloso” e “Eu era um Zelota”[25]; O texto não é claro e as
interpretações variam. Porém, parece claro que ele era um Judeu
fervoroso, nacionalista, contra o governo romano, como era o caso
da maioria dos Judeus da elite do seu tempo.[26]
Saulo não era só antirromano, ele era anticristão. Na juventude,
“assolava a igreja” (Atos 8:3) e aprisionava seus seguidores. Ele foi
até mesmo cúmplice em um assassinato. Consentiu o
apedrejamento do cristão Estêvão (Atos 8:1). Mesmo após a
crucificação, no ano 30, Saulo seguia “esbravejando ameaças e
assassinatos contra os discípulos do Senhor” (Atos 9:1). Em algum
ponto ele admitiu, diretamente: “persegui este caminho [de Jesus]
até à morte” (Atos 22:4).
Mas teve uma epifania no ano 33. Em seu caminho para
Damasco (agora Síria), Saulo, supostamente, viu uma luz intensa e
brilhante nos céus e ouviu uma voz “Saulo, Saulo, por que me
persegues?” (Atos 9:4, 26:14). Era o Jesus ascendido, o informando
que ele agora seria o “instrumento escolhido” para “levar o nome [de
Jesus] à frente dos gentios, dos reis e dos filhos de Israel” (Atos
9:15). Em outras palavras, construir a igreja cristã. Então ele mudou
seu nome Judaico, Saulo, para o gentio, Paulo (Atos 13:9) e
começou seu trabalho.
Nos 20 anos que se seguem, não há nenhum tipo de
documentação sobre Paulo. O livro dos Atos, que foi escrito em
torno dos anos 90[27], afirma que ele fez sua dita primeira jornada
para Chipre e partes da atual Turquia, mas as datas não são
precisas. Atos simplesmente usa frases como “por um longo tempo”
ou “não pouco tempo”, mas, estranhamente, não dá nenhuma data
precisa. Presumimos que foi no final dos anos 40 e durou ao menos
dois anos.
omeçando nos anos 50 temos, aparentemente, alguma
C
evidência concreta: as primeiras cartas do próprio Paulo. Das 13
epístolas Paulinas, as duas primeiras são gálatas e 1
tessalonicenses, ambas datadas por volta do ano 50 ou 51. Foi
nesta época, também, que ele começou sua segunda jornada, que
passou pela atual Turquia, o norte da Grécia, por Atenas e, então,
de volta para Jerusalém. As outras 11 cartas de Paulo parecem ser
datadas entre os anos 50 e 60.
Em algum momento, Paulo foi aprisionado em Roma,
provavelmente em torno do ano 60, e lá viveu em prisão domiciliar
por dois anos, estranhamente, é aqui que sua história termina. Atos
simplesmente cessa nesses dois anos (Atos 28:30). Nada é dito
sobre o que aconteceu depois e nada sobre a morte de Paulo. Isso
é duplamente estranho porque Atos foi escrito ao menos 20 anos
após a morte de Paulo, é quase como se o autor, deliberadamente,
escolhesse não terminar a história da vida de Paulo. Mais tarde, nos
anos 100 e 200, vários escritos apareceram, alegando que ele foi
decapitado ou crucificado, provavelmente no final dos anos 60 ou no
ano 70. Mas essas versões são tão diferentes dos eventos factuais
que têm pouca credibilidade.
Se Paulo estava morto no ano 70, então ele perdeu a destruição
do Templo por muito pouco, o que foi um golpe chocante na
comunidade Judaica. Mas outra coisa também aconteceu nessa
época, algo igualmente significante: o surgimento do primeiro
evangelho, Marcos. É um fato impressionante que, em todas as
cartas de Paulo, não há indicações de um conhecimento dos quatro
evangelhos. Certamente, em suas treze cartas, Paulo teria citado
seu salvador ou um fato de sua biografia[28]. Mas não encontramos
nada do tipo, nenhuma citação de Jesus, nenhum fato sobre seu
passado, nascimento de uma virgem, história de milagres, estes são
somente encontrados nos evangelhos. Então, por que Paulo não
cita os evangelhos? A conclusão é óbvia: eles ainda não existiam.
E, de fato, é isso que os estudiosos modernos confirmam.
Marcos, conforme mencionado, parece ter sido escrito em torno
do ano 70, quase quatro décadas após a crucificação. Foi o primeiro
texto a mencionar detalhes sobre a vida de Jesus, registrar seus
dizeres e documentar seus supostos milagres. Os dois próximos
evangelhos, Mateus e Lucas, foram escritos em meio aos anos 80.
Eles em muito repetiram, mas também embelezaram e
suplementaram muitas das mesmas histórias[29]. E João não foi
escrito até o meio dos anos 90 – sessenta anos após a morte de
Jesus. Essas datas tardias causam muito problemas para a
convencional história de Jesus, como explicarei.
Outro grande problema com os evangelhos é autoria.
Formalmente, eles são anônimos, Marcos é “o evangelho de acordo
com Marcos”, é escrito em terceira pessoa, como um livro-texto, ao
invés de uma visão pessoal de um homem específico. O mesmo
vale para Mateus. Lucas é diferente, é um ensaio em primeira
pessoa direcionado à uma pessoa genérica, Teófilo, que
simplesmente quer dizer “amado por Deus”. O quarto evangelho,
João, retorna ao estilo em terceira pessoa de Marcos e Mateus.
Muitas pessoas, incluindo a maior parte dos estudiosos, assume
que cada evangelho foi escrito pelo seu homônimo, ou seja, Marcos
por alguém chamado Marcos, Lucas por Lucas etc. Mas mesmo que
isso fosse verdade, não temos absolutamente nenhuma informação
sobre quem esses indivíduos realmente eram. Alguns gostam de
crer que “Mateus” seja o apóstolo chamado “Mateus” e que “João”
era o Apóstolo João, mas, de novo, isso é pura especulação.
“Marcos”, como é dito, era amigo do apóstolo Pedro. Um “Lucas” é
mencionado por Paulo como seu amigo (Colossenses 4:14;
Filipenses 1:24) mas não temos nenhuma forma de dizer se é o,
posteriormente, autor do evangelho. É significante que tudo que
temos, sejam primeiros nomes genéricos e nenhum detalhe
biográfico.
De qualquer forma, é quase certo que todos os autores dos
evangelhos, quem quer que fossem, sejam judeus. Os quatro
possuem inúmeras referências ao VT, algo que só seria esperado de
judeus bem educados, da elite. Mateus é o que contém mais
referências – algo em torno de 43 citações. Marcos e Lucas tem em
torno de 20 cada; João, 15. Mas se incluirmos referências indiretas,
parafraseados e outras alusões, o número duplica ou triplica.
Mateus é explicitamente judeu, o “mais judeu” dos evangelhos,
nenhum estudioso dúvida disso. Marcos foi criticado por alguns
escritores e chamado, se não de gentio, de “um judeu fortemente
helenizado” – mas, mesmo assim, um judeu. A confusão parece vir
do fato de que ele escrevia para os gentios, isto é um fato
importante, como explicarei. Mas não muda a autoria judaica.
Lucas, entretanto, é, considerado por alguns, um trabalho feito
por gentio. Mas isso não se sustenta diante uma análise crítica.
Primeiro, o próprio Paulo clama que a palavra de Deus foi dada aos
Judeus (Romanos 3:2) e, portanto, os evangelhos, sendo a palavra
de Deus, devem ter sido escritos por um Judeu. Alguns dizem que
Lucas é um nome gentio, o que é irrelevante. Outros judeus,
notavelmente Paulo, mudaram seus nomes após a conversão à
causa. Em terceiro, Lucas nunca é mencionado como um gentio e
seu suposto companheiro, Paulo, nunca foi condenado por
confraternizar com um gentio. Além disso, Lucas tinha
conhecimento detalhados sobre os costumes religiosos judeus,
como vemos em 1:8-20, coisas que um Gentio não saberia. Por fim,
ele diz conhecer, intimamente, a Virgem Maria, inclusive o que está
“em seu coração” (Lucas 2:19) – algo que é improvável que um não
Judeu soubesse.
Mas e o último evangelho, João? Este parece ser o mais
antijudaico – alguns diriam, antissemita – dos quatro. Esse não
poderia ter sido escrito por um Judeu, certo? Nem tanto. Precisamos
observar um ponto importante aqui: o incipiente movimento cristão,
ocorrendo, inteiramente, dentro da comunidade judaica, encontrou
fortes dissidências internas. Judeus ortodoxos não acreditam que
seu Messias tinha vindo na forma desse Jesus e eles resistiam, com
afinco, a qualquer afirmação contrária. De certa forma, eles queriam
“matar” a história de Jesus (podemos ver para o que isso está
levando!). Paulo e seu pequeno bando de Judeu-Cristãos, portanto,
tinham que combater o sentimento anticristão da maior parte dos
judeus, particularmente a elite judaica daqueles tempos. João,
portanto, é lido por alguns, mais naturalmente, como um conto de
um dissidente entre Judeus, do que como um gentio atacando os
Judeus.
João é, de fato, um forte crítico dos Judeus, eles “tentaram
matar” Jesus (João 7:1). Em seu evangelho, lemos as seguintes
palavras ásperas de Jesus: “Vós [Judeus] tendes por pai ao diabo, e
quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o
princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele.
Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é
mentiroso, e pai da mentira.” [30] (João 8:44).
Mas este e outros exemplos de linguajar forte não indicam
autoria Gentia ou antissemita. De novo, há fortes argumentos de
que isso é visto mais como uma briga entre Judeus. Como disse
James Dunn, “João, ao menos em sua perspectiva, ainda está
lutando uma batalha de facções no judaísmo e, ao invés de atirar
suas flechas de fora, ainda é um Judeu que acreditava que Jesus
era o Messias, filho e Deus, não antissemita.” [31]. João mirava a
elite Judaica, seus maiores adversários. Michael Coogan concorda:
Evidências desaparecidas
Deixe-me voltar à questão da evidência. A maioria dos milagres
de Jesus foi realizada na frente de um pequeno número de pessoas
– em alguns casos, apenas uma. Ainda assim, cada testemunha
teve a oportunidade de contar sua história, anotá-la ou gravar algo
na pedra. Imagine o interesse hoje, por exemplo, em encontrar a
lápide de Lázaro: “Aqui jaz Lázaro. Morreu aos 40 anos,
ressuscitado dentre os mortos por Jesus Cristo, morreu novamente
aos 78 anos” – ou algo semelhante. Isso não seria prova, mas uma
evidência convincente. Contudo, nada semelhante a isso existe.
Alguns dos milagres tiveram muitas testemunhas, o principal
exemplo seria a história dos “peixes e pães”. Muitas pessoas não
percebem que houve dois desses incidentes. Marcos (6: 30-44) nos
diz, primeiro, que Jesus alimentou “5 mil homens” com “cinco pães e
dois peixes”. Então, pouco depois, Marcos (8: 1-13) relata que ele
alimentou “cerca de 4 mil pessoas” com “sete pães ... e alguns
peixes pequenos”[35]. Portanto, temos 9 mil testemunhas de um
milagre. Certamente, algumas dessas pessoas, talvez muitas,
teriam documentado o evento de alguma forma. Mesmo se fossem
camponeses analfabetos, eles ainda conheceriam rabinos ou outros
homens que poderiam escrever. E, de acordo com João, eles de
fato contaram a esses homens. Ele escreveu que os fariseus
estavam preocupados com todos os milagres: “...e diziam: Que
faremos? porquanto este homem faz muitos sinais.
Se o deixamos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e
tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação.” (João 11:47,48)[36]. Isso é
revelador: as massas sabiam dos milagres, os judeus da elite
sabiam deles e, certamente, os romanos locais tinham ouvido
rumores, pelo menos. No entanto, ninguém documentou nada.
Vale a pena repetir: durante toda a vida de Jesus, digamos 3
a.C. a 30 d.C., nenhuma pessoa – nem Cristã, Judia, Romana ou
Grega – escreveu algo sobre os milagres, o que Jesus disse ou
seus seguidores fizeram. Ninguém escreveu nada, como se nada de
extraordinário tivesse acontecido.
Isso seria praticamente impossível se a história de Jesus fosse
verdadeira. Considere a situação de Pôncio Pilatos, governador da
Palestina, localizada a cerca de 1,400 milhas de Roma. Ele já
estava lidando com os Judeus rebeldes, lutando para manter a
ordem, quando aparece... o Filho de Deus, um Judeu fazendo todo
tipo de milagres. Sem dúvida, ele escreveria furiosamente para
Roma pedindo ajuda, conselhos, centuriões extras, o que for. Os
Romanos eram excelentes para arquivas registros, certamente tais
cartas surpreendentes teriam sobrevivido. E, mesmo assim, não
temos nada.
Ao mesmo tempo, vivia um famoso filósofo judeu, Philo. Ele
nasceu por volta de 20 a.C. e, portanto, era adulto na época da
estrela de Belém. Viveu além do período da crucificação, morrendo
por volta do ano 50 d.C, seria o homem ideal para registrar tudo
sobre um operador de milagres e salvador Judeu[37]. Ele escreveu
cerca de 40 ensaios individuais, incluídos em sete volumes. No
entanto, ele não diz uma palavra sobre Jesus ou o movimento
Cristão.
E a situação piora. Pelos próximos 20 anos, após a crucificação,
ainda não temos evidências. Dos anos 30 a 50 d.C., nada
sobreviveu que comentasse sobre Jesus ou seus milagres:
nenhuma carta, livro, gravura, nada. Nada dos Judeus, dos Cristãos,
dos Romanos, nada. Isso é totalmente inexplicável, se a história de
Jesus é verdadeira. Por outro lado, se Jesus era simplesmente um
rebelde menor que foi executado um dia, não surpreende que nada
tenha mantido. De fato, é exatamente o que esperaríamos.
E, no entanto, ainda piora. Sabemos que a partir do ano 50 d.C.
temos algumas cartas de Paulo. Estas cartas terminam quando
Paulo morre, por volta do ano 70 d.C. É claro, suas cartas não
podem contar como evidências, pois são exatamente seus relatos
sobre Jesus que estamos tentando validar, além das cartas de
Paulo, dos anos 50 a 70 d.C., ainda não temos evidências sobre
Cristãos, Judeus ou Romanos.
E piora, os evangelhos aparecem entre os anos 70 e meados
dos 90 d.C. Mas esses também não podem contar como evidências,
pois são precisamente documentos que precisam de confirmação.
Além dos quatro evangelhos, ainda não temos evidências.
Em suma, durante todo o período do início da Era Cristã – isto é,
de 3 a.C. a meados da década de 90 d.C. – não temos evidências
que corroborem que alguém não era parte da nova religião. Não
existe um resquício de evidência: documentos, cartas, pedra
entalhada etc. É duro não exagerar na importância desse problema,
somente esse fato demonstra uma enorme inconsistência com o
relato bíblico.
Quando confrontados com essa situação condenatória, os
defensores Cristãos, normalmente, têm duas desculpas, a primeira:
“Todas as evidências foram perdidas.” Isso é teoricamente possível,
mas é extremamente difícil de acreditar. Materiais, constituído de,
certamente, centenas ou milhares (incluindo cópias) de documentos
contemporâneos citando os milagres de Jesus, alguns escritos por
amigos, outros por inimigos, ou por espectadores imparciais,
perdidos pela história. Além de ter incontáveis historiadores,
pesquisadores, jornalistas e outros, pesquisando, arduamente, por 2
mil anos. É impossível que essas evidências tenham se perdido.
A segunda desculpa é: “Todos os documentos da época foram
confiscados ou destruídos, pelos Judeus ou pelos Romanos”. Seria
possível que tanto os Judeus como os romanos – todos eles –
tenham ficado tão chocados com a aparição do filho de Deus que
consideraram um segredo indescritível, de certa forma, e que nunca
deveria ser escrito ou falado? E ter todas as evidências restantes
totalmente destruídas? Os Judeus, talvez, temiam Jesus, mas eles
não estavam tão assustados que não poderiam pressionar sua
execução. E, uma vez que ele ressurgiu, teriam eles percebido a
magnitude de seus crimes e juraram não dizer ou escrever nada?
Talvez.
Mas os Romanos, particularmente os que estavam na capital
imperial, não teriam ficado igualmente assustados. Eles não
acreditavam nas superstições dos Judeus e, certamente, não teria
dado valor ao suposto milagre ou ressurreição. Quaisquer cartas em
pânico de Pilatos receberiam respostas calmas e pragmáticas.
Mesmo Pilatos não ficaria impressionado demais. Uma vez que
Jesus de Nazaré foi executado, acabou e se foi para sempre. O
simples fato de sua crucificação provou a todos os Romanos que ele
não era um homem milagroso, nem um filho de Deus. Haveria,
provavelmente, algumas cartas finais de “caso encerrado” para
Roma. Certamente, nenhuma supressão em massa ou destruição
de evidências, os Romanos não tinham motivos para agir assim.
E não seriam apenas oficiais do governo que escreveriam,
muitos intelectuais importantes da época, certamente,
documentariam a vinda de Deus. Homens como Petrônio, Sêneca,
Marcial e Quintilha viveram logo após a crucificação e estariam,
idealmente, situados para escrever sobre a vida extraordinária de
Jesus. O mesmo aconteceria com Philo, o filósofo Judeu, como
observei acima. E, no entanto, nenhum desses homens escreveu
uma única palavra sobre ele.
E, além dos Romanos e Judeus, havia muitos grupos imparciais
que poderiam ter comentado: os Fenícios, Persas, Egípcios, Gregos
– nenhum deles tinham interesses particulares sobre a história cristã
e, portanto, poderiam escrever sobre os supostos milagres. No
entanto, nenhum deles o fez.
Devo concluir, então, que nem a desculpa “da perda” nem da
“repressão” se sustentam. Simplesmente não é possível que um
evento tão monumental tenha ocorrido e, mesmo assim, não haja
um resquício de documentação dessa época.
Entra Josefo
A datação dos evangelhos representa um tipo de problema
“interno” de cronologia, e há também um externo. Está relacionado à
questão de corroborar evidências de fora da esfera da igreja.
Mostrei acima que, por quase todo o primeiro século, tudo o que
temos são as cartas de Paulo e os quatro evangelhos. E como
esses documentos estão “em cheque”, eles não podem servir como
confirmação, precisamos de algo independente e é isso que não
temos.
Mas então temos Josefo, nascido por volta do ano 37 d.C, ele,
como toda a elite judaica, era membro da resistência a Roma. Lutou
na primeira guerra Judaico-Romana e foi capturado em 67 d.C. O
imperador Vespasiano decidiu libertá-lo em 69 d.C. para servir como
escravo e tradutor de alto nível. Em troca de uma liberdade
modesta, Josefo ficou, de bom grado, com os romanos, mudando
seu nome para Flavio Josefo. Com o tempo, ele escreveu dois livros
importantes: The Jewish War (cerca de 75 d.C.) e Antiquities of the
Jews (cerca de 93 d.C.)[39]. O primeiro contou a história da primeira
guerra judaica e o segundo, uma história do povo Judeu.
omo um judeu de elite e educado, que vivia na Palestina logo
C
após a crucificação, Josefo estava perfeitamente localizado para
comentar sobre Jesus. Ele teria conhecido todas as histórias e
lendas com detalhes. Como escritor, ele certamente teria registrado
esses eventos em seus livros.
Então, o que ele escreveu? Seu primeiro livro, The Jewish War,
não contém nada sobre Jesus ou os cristãos. Tudo bem que o
assunto era guerra e não religião, mas mesmo assim, teria sido
difícil evitar uma menção, se ele tivesse ouvido falar de Jesus. A
conclusão mais razoável é que, a partir do ano 75 d.C., ele não
ouvira nada, o vazio em sua obra sobre cristianismo é inexplicável,
se a história de Jesus for verdadeira, mas é exatamente como seria
esperado se o movimento inicial cristão, agora pró-Paulo, mal
tivesse começado.
No ano 93 d.C., porém, as coisas mudam. Agora, pela primeira
vez na história, encontramos confirmação independente, e não
Cristã, de um movimento Cristão realmente existente. Em
Antiquities, Josefo escreve um parágrafo e depois uma frase
adicional sobre os Cristãos, aqui está a primeira passagem
conhecida como Testimonium Flavium:
A perspectiva Romana
J osefo é importante porque ele é o primeiro não cristão a
confirmar que existia um movimento cristão, pelo menos no final do
primeiro século d.C., mas e os Romanos? Já mencionei que Pôncio
Pilatos, evidentemente, não escreveu nada sobre Jesus, nem
qualquer outro comentarista Romano o fez. Porém, os Romanos
começaram a mencionar a nova religião. E o primeiro a escrever
sobre isso foi o grande historiador Tácito.
Tácito nasceu no ano 58 d.C. em uma família aristocrática. Entre
98 e 105 d.C., escreveu quatro livros, incluindo o importante
trabalho Histories. Por acaso, nenhum deles mencionam Jesus ou
os cristãos.
Mas seu trabalho final, Annals, que data por volta de 115 d.C.,
inclui duas frases sobre eles. Na seção 44 do livro 15, lemos o
seguinte:
Visões de fora
laramente, quando outras pessoas começaram a encontrar
C
essas ideias e as atitudes que delas derivaram, seria de se esperar
uma reação. E houve, encontramos uma linhagem consistente de
opiniões de observadores não judeus, durante séculos, que são
repelidos por essa arrogância.
O primeiro sinal de problemas vem com a primeira menção de
um povo chamado “Israel”. Como mencionei no capítulo dois, temos
uma grande pedra gravada, a Estela de Merneptá, por volta do ano
1200 a.C. que faz referência a essa nação. A única linha relevante é
a seguinte: “Israel é devastado e sua semente não é mais”.
Evidentemente, existia um povo chamado Israel naquela época, eles
entraram em algum tipo de conflito com as pessoas que esculpiram
a pedra, e Israel foi seriamente derrotado. É difícil deduzir muito
mais, mas claramente esse é um começo pouco favorável para o
povo judeu.
Uma segunda referência antiga, e também negativa, vem de
outra pedra, a Estela de Tel Dan, esculpida por volta de 850 a.C.,
esta gravura registra o Rei Hazael se vangloriando de sua vitória
sobre os reis de Israel e a “Casa de Davi”. Parece que Israel havia
invadido o país de seu pai no passado e Hazael, agora, estava se
vingando. Os detalhes são nebulosos, mas está claro que Israel foi,
mais uma vez, um povo beligerante e que, novamente, pagou o
preço.
Agora mudamos para a própria bíblia e a história do Êxodo. No
início desse livro, lemos que os judeus ainda estão no Egito, tendo
viajado para lá no final de Gênesis. Um novo Faraó, sem nome,
surge , tendo um problema com os judeus. “Eis que o povo dos
filhos de Israel é muito e mais poderoso do que nós. Eia, usemos de
sabedoria para com eles, para que não se multipliquem, e aconteça
que, vindo guerra, eles também se ajuntem com os nossos inimigos,
e pelejem contra nós...(Êxodo 1:10)”. Em geral, “...de maneira que
se enfadavam [os egípcios] por causa dos filhos de Israel.” (Êxodo
1:12). Eventualmente, o faraó expulsou Moisés e os Judeus do Egito
para a Palestina, onde estabeleceram o Reino de Davi em 1000 a.C.
Deve ficar claro que, mesmo naquela época, as expulsões em
massa eram um evento extraordinário para serem menosprezadas.
Evidentemente, havia algo sobre os judeus – talvez sua arrogância,
seu engano, talvez, como disse o faraó, sua deslealdade para com a
nação anfitriã – que causou essa ação. Abaixo citarei alguns
comentários tardios e esclarecedores sobre esse evento em
particular.
Outro incidente revelador ocorreu no ano 410 a.C., na cidade de
Elefantina, no sul do Egito. Uma comunidade e um templo judaico
existiam lá desde cerca de 650 a.C. e em 525 a.C. o rei persa,
Cambises, invadiu e anexou o território ao seu império. Como eram
pragmáticos, os judeus rapidamente se aliaram ao novo governo,
mas isso teve o efeito negativo por se unirem aos invasores
estrangeiros e contra os egípcios locais. Peter Schafer escreve: “os
Judeus são os que apoiam o odiado domínio estrangeiro e não se
juntam […] na luta contra os opressores” [42]. Além disso, apenas os
Judeus foram alvejados: “[embora] membros de diferentes etnias
conviviam em Elefantina, é apenas contra os judeus que os
sacerdotes egípcios dirigem sua animosidade”[43]. Apesar da diretriz
oficial para apoiar a comunidade judaica, o comandante persa local
Vidranga achou-os censuráveis e até intoleráveis; ele logo ficou do
lado dos rebeldes egípcios, contra os Judeus. Vidranga pilhou e
destruiu o templo Judaico em 410 a.C e, mais uma vez, no local
onde os Judeus se estabelecem entre outros povos, parecem ter
feito inimigos.
Os primeiros forasteiros a comentar, explicitamente, sobre os
Judeus foram os Gregos. Por meio do comércio marítimo e da
expansão imperial, eles entraram em contato com muitos grupos do
Mediterrâneo oriental, incluindo Egípcios, Fenícios, Sírios e Judeus.
As primeiras referências diretas vêm do aluno prodígio de
Aristóteles, Teofrasto. Ele se preocupava com um de seus
costumes: “os sírios, dos quais os Judeus (Ioudaioi) fazem parte,
agora também sacrificavam vítimas vivas (...) Eles foram os
primeiros a instituir sacrifícios de outros seres vivos e de si mesmos”
[44]. “Os Gregos”, acrescentou, teriam “recuado de todo o negócio”.
As vítimas – animais e humanas – não foram comidas, mas sim
queimadas como “completas oferendas” ao seu Deus e
“rapidamente destruídas”. O filósofo, claramente, tinha aversão por
essa tradição Judaica.
Hécateu de Abdera, trabalhando um pouco depois de Teofrasto,
escreveu um texto On the Jews. Dois fragmentos sobreviveram, o
de Josefo e de Diodoro, ambos os fragmentos são compreensivos e,
portanto, é surpreendente que o último inclua essa observação na
história do Êxodo: “como consequência de terem sido expulsos [do
Egito], Moisés introduziu um modo de vida, em certa medida,
misantrópico e hostil aos estrangeiros” [45]. Pode-se, certamente,
entender a raiva de qualquer pessoa que foi expulsa de seu local de
residência, mas por que isso deveria se traduzir em misantropia –
isto é, ódio à humanidade em geral? É como se os Judeus se
irritassem com o resto da humanidade. Talvez seja um caso de
extremo ressentimento combinado com extrema inflexibilidade ou
seja o resultado de sua autopercepção incorporada à cosmovisão
religiosa.
oi nessa época que o general macedônio, Ptolomeu I, governou
F
o Egito. Suas forças armadas, por várias razões, não podiam
recrutar cidadãos egípcios e, portanto, era necessário um exército
mercenário, Ptolomeu tinha um suprimento pronto com os judeus.
Emilio Gabba relata que o rei empregara 30 mil Judeus, escolhidos
entre muitos prisioneiros de guerra. “Bem pagos e altamente
confiáveis, eles serviram para manter a população nativa afastada
que, aparentemente, os retaliavam de vez em quando” – uma
situação que lembra os eventos anteriores à Elefantina[46]. Isso,
além dos aspectos culturais e peculiaridades religiosas, era outra
base da animosidade nativa em relação aos Judeus., mas,
novamente, esse incidente é revelador. É compreensível querer sair
da prisão, mas é preciso se perguntar a evidente disponibilidade dos
Judeus de se aliarem a seus inimigos, por dinheiro, e fazê-lo com
entusiasmo e pouco remorso.
Mas ainda há uma pergunta persistente aqui: por que os Judeus
foram expulsos do Egito? O sumo sacerdote egípcio Manetão (por
volta de 250 a.C.) fala de um grupo de “leprosos e outras pessoas
poluídas”, 80 mil que foram exilados do Egito e encontraram
residência na Judeia. Lá, eles estabeleceram Jerusalém e
construíram um grande templo. Manetão comenta que os Judeus se
mantiveram reservados, pois era sua lei “não interagir com ninguém,
exceto os de sua própria confederação”. Conforme a história
continua, os judeus (solimitas) reuniram aliados entre outras
pessoas “poluídas”, retornaram ao Egito e conquistaram,
temporariamente, um grande território. Quando no poder, eles
tratavam os nativos de maneira “impiedosa e selvagem”,
“incendiando cidades e vilarejos, pilhando os templos e mutilando
imagens dos deuses sem restrição” e assando os animais
considerados sagrados pelos habitantes locais[47]. Esta é uma
versão muito diferente da que lemos na bíblia Judaica.
Qualquer que seja sua origem, esses ritos são mantidos por
sua antiguidade: os outros costumes dos Judeus são básicos e
abomináveis (sinistra foeda), e devem sua persistência à sua
depravação. Pois mesmo os piores malandros entre outros
povos […] sempre enviavam tributo e contribuições à
Jerusalém, aumentando, assim, a riqueza dos Judeus;
novamente, os Judeus são extremamente leais um ao outro e
sempre prontos a demonstrar compaixão, mas em relação aos
outros, eles sentem apenas ódio e inimizade (hostile odium).
(Tradução nossa.)
“Como raça”, ele acrescenta, “eles são propensos à luxúria” e
“adotaram a circuncisão para se diferenciar dos outros povos” (5.5).
Tácito observa seu monoteísmo abstrato, sugerindo que essa é
mais uma causa do atrito. Ele encerra a sessão comentando que “os
caminhos dos Judeus são absurdos (absurdu) e maus (sordidus)”.
Ao sitiar Jerusalém e, consequentemente, o poderoso templo
Judaico, Tito manteve os Judeus presos. Pensou-se em poupar o
templo, mas Tito se opôs a essa opção. Para ele, “a destruição
deste templo [era] uma necessidade primordial para acabar
completamente com a religião dos Judeus e dos Cristãos”. Essas
duas religiões, “embora hostis uma à outra, surgiram, no entanto,
das mesmas fontes; os Cristãos haviam crescido entre os Judeus:
se a raiz fosse destruída, a haste morreria facilmente” [60]. A
passagem termina ao observar que 600 mil Judeus foram mortos na
guerra.
Esses são seus comentários sobre a “raça detestável e
supersticiosa” (gens superstitioni obnoxia; 5.13) – um grupo que é o
“mais desprezado” (despectissima) dos sujeitos e “o mais baixo dos
povos” (taeterrimam gentum; 5.8).
A segunda guerra Judaica, em 115 d.C., deu mais motivos para
críticas. Dion Cássio descreve a brutalidade Judaica graficamente
em seu Roman History:
Conclusões
ntão, o que podemos concluir dessa breve visão geral de cerca
E
de 600 anos do mundo antigo? Dizer que os Judeus não eram bem
quistos é um eufemismo. As críticas vêm de toda a região do
Mediterrâneo e de uma ampla variedade de perspectivas culturais
uniformemente negativas. Observo aqui que não se trata de
“escolher” os piores comentários e ignorar os bons. As observações
são todas negativas, simplesmente não há opiniões positivas sobre
os Judeus ou os primeiros Cristãos.
Uma conclusão razoável é que há algo na cultura Judaica que
inspira repulsa e ódio. Como diz o ditado: “Quando uma pessoa te
odeia, provavelmente é ela; quando todo mundo te odeia,
provavelmente é você.” Arrogância, insularidade, superstição,
autocentrismo e misantropia, certamente desempenham um papel.
O monoteísmo também é um provável colaborador, embora
indiretamente.
De qualquer forma, é claro que os Judeus tinham poucos, ou
nenhum, amigos no mundo antigo. Sua religião os instruiu a
desprezar os outros (Gentios) e os outros, por sua vez, os
desprezaram. Mas a fonte originária eram os próprios Judeus: sua
religião, sua visão de mundo, seus valores. Eles estavam dispostos
a usar e explorar não Judeus para seus próprios fins. Eles estavam
dispostos a matar e morrer.
Essa situação alimenta, diretamente, as circunstâncias da
ocupação Romana e a reação de Paulo. A análise anterior sugere
que Paulo não estava interessado em nada a não ser salvar “Israel”,
o povo Judeu. Vimos algumas pistas textuais indicando que ele
estava disposto até a cometer assassinato, a fim de levar adiante
seus desejos. Certamente, ele odiava os Romanos com vingança e,
mesmo assim, podia ver a futilidade de enfrentá-los diretamente. O
violento movimento Zelote provavelmente seria esmagado. Algo
muito mais sutil e inteligente seria necessário para minar sua
posição no poder.
No próximo capítulo, apresentarei minha visão da verdade – do
que acredito que tenha realmente acontecido naqueles dias
sombrios do antigo Oriente Médio.
Capítulo 5: Reconstruindo a
verdade
A mensagem de rebelião
om essa simples teologia organizada, Paulo estava bem
C
situado para colocar sua mensagem de resistência à Roma. Ao
longo de suas cartas, encontramos inúmeras referências à
escravização, revolução, insurreição, guerra, a importância das
massas sem poder, e assim por diante. Nos primeiros Gálatas,
lemos sobre a necessidade de Jesus "...nos livrar do presente
século mau..." (Gálatas 1:4). Mais tarde, os "princípios elementares"
parecem ser uma alusão ao panteão Romano:
Quatro teses
omo, então, podemos explicar as aparentes discrepâncias e
C
inconsistências? Considerei várias abordagens para essa situação
ao longo deste livro. Deixe-me resumi-las, expressando-as em
quatro teorias possíveis, cada uma com uma resposta diferente aos
muitos problemas que enfrentamos. A primeira é a história
convencional.
1) Tese bíblica: Jesus foi o Filho de Deus que realizou
milagres e veio à Terra para salvar a humanidade. O relato bíblico
de sua vida é amplo ou inteiramente correto, como está escrito.
Nesta visão, a razão pela qual não temos evidências
contemporâneas de Jesus é: (a) ou ela foi destruída pelos Romanos
ou (b) foi acidentalmente perdida para a história. O relato de Paulo é
verdadeiro porque ele se encontrou, pessoalmente, com alguns dos
apóstolos. Dois dos escritores do evangelho eram apóstolos
(Mateus e João) e os outros dois eram colegas íntimos de
apóstolos, e, portanto, todos eles podem ser confiáveis. Paulo e
seus companheiros Judeus não tinham nenhuma intenção
maliciosa, eles foram honestamente convertidos ao Cristianismo e
buscaram abnegadamente levar a Boa Palavra à toda a
humanidade.
A grande maioria dos céticos em relação à Jesus, mencionados
no capítulo um, parece adotar uma variação da Tese miticista.
2) Tese miticista: Jesus foi um personagem totalmente
fabricado, baseado em arquétipos de mitos antigos. Sua história foi
criada por Paulo, os escritores do evangelho e várias outras figuras
posteriores, a fim de promover uma religião e uma igreja que, de
alguma forma, os beneficiariam pessoalmente.
Todos os problemas de evidência e cronologia apontam, dizem
eles, para um homem mítico totalmente construído, um Jesus divino,
que entrou no subconsciente humano ao invocar os arquétipos
clássicos. Os motivos de Paulo (ou de quem quer que seja) ou são
desconhecidos ou, presumivelmente, um desejo de autoglorificação
e poder, colocando-se no centro de uma nova religião. Por isso,
arriscaram perseguição e morte.
Eu argumentei por algo diferente:
3) Tese do antagonismo: Jesus era uma pessoa histórica,
mas não o Filho de Deus. Sua história é uma elaboração fantasiosa,
com poucas verdades, criada por Paulo e seus amigos, a fim de
criar uma ideologia antirromana destinada a corromper e confundir
as massas e, assim, minar o império.
Minha tese trata da questão do motivo, algo que falta totalmente
aos outros céticos. Eu mostrei como os Judeus tinham um profundo
ódio pelas massas gentias e pelos Romanos em particular, e assim,
como os indivíduos teriam feito qualquer coisa – incluindo mentir e
colocarem-se em risco mortal – para beneficiar o povo Judeu. Os
miticistas e outros céticos não têm um bom relato de um motivo, a
mera busca por ganhos pessoais é altamente duvidosa. A baixa
chance de sucesso, combinada com um alto risco de prisão e/ou
execução, dissiparia a ideia mais do que qualquer vantagem
nebulosa prevista.
Mas existem outras possibilidades, algumas menos perniciosas
do que uma análise miticista ou antagonista. Por exemplo, e se
Jesus fosse apenas uma figura histórica, mas suas realizações se
embelezaram ao longo do tempo, adquirindo, no fim, condição de
lendário e até de divino? E se alguém, ao ouvir essas histórias
incríveis, decidisse – com toda a boa intenção – documentá-las?
Podemos chamar isso de “Tese do rumor”:
4) Tese do rumor: As histórias de um homem excepcional,
mas mortal, um Jesus histórico, foram exageradas e embelezadas
ao longo do tempo por meio das recontagens orais. Após cerca de
40 anos, "Marcos" ouviu as histórias, inocentemente acreditou nelas
e as escreveu como verdade literal. Isso aconteceu novamente,
depois de 50 anos, com "Mateus" e "Lucas" e, mais uma vez, após
60 anos com “João".
Isso é teoricamente possível, mas altamente improvável. Mesmo
nos tempos antigos, as pessoas não eram idiotas. Como Marcos
poderia aceitar, sem nenhuma evidência aparente ou confirmação,
histórias tão fantásticas? E aceitá-las tão completamente que ele as
escreveria como verdade factual, como eventos reais e
verdadeiros? E então, como a mesma coisa poderia acontecer mais
três vezes, com três indivíduos diferentes?
Além disso, a “Tese do rumor” não pode explicar Paulo. Ele
estava muito perto dos eventos reais para acreditar, inocentemente,
em tais histórias que, de qualquer forma, não poderiam ter se
tornado tão incrivelmente exagerada em alguns anos. Paulo era um
homem inteligente; poderia ele realmente ter se apaixonado tão
perdidamente por um conto falso de um messias Judeu, a ponto de
dedicar sua vida a espalhar a história? Parece muito duvidoso, para
dizer o mínimo.
Existem outras teses possíveis? Talvez, mas não tenho
conhecimento de outras opções plausíveis. Acho que devemos
optar por uma dessas quatro.
Das possibilidades acima, acho claro que a “Tese bíblica” é
simplesmente insustentável. Os problemas de evidência e
cronologia demonstram, em conjunto, que a vida milagrosa de um
Jesus divino é virtualmente impossível. A “Tese miticista” é possível,
mas apresenta uma falha importante, a saber, a falta de motivo
suficiente. A “Tese do rumor” pressupõe que Paulo e os autores do
evangelho fossem idiotas crédulos que não saberiam distinguir fatos
da ficção, mas do pouco que podemos discernir, isso parece muito
improvável. A “Tese do antagonismo” é de longe a análise mais
crível. É a melhor versão de todos os fatos conhecidos e identifica
um motivo real, baseado em fatos para toda a construção. Todos os
sinais para Jesus, uma farsa.
Criticando o antagonismo
ntão, qual é a resposta contrária à “Tese do antagonismo”? Os
E
elementos básicos dela existem há mais de um século. Obviamente,
já foram consideradas antes e aparentemente rejeitadas, pois
nenhum dos recentes céticos em relação à Jesus as defendem. O
que eles diriam em resposta para contestar essa tese?
De fato, levantei essa questão com vários especialistas,
precisamente para avaliar a força da tese. Deixe-me mencionar
seus comentários e depois oferecer minhas respostas.
"Não está claro que todos os autores dos evangelhos, além
de Mateus, eram Judeus. João certamente não era”
Como já respondi anteriormente, o evangelho de Marcos foi
escrito para um público gentio e, portanto, assume a aparência
superficial de uma obra gentia. Há um forte consenso de que o
próprio Marcos era Judeu. As extensas referências ao VT nos
quatro evangelhos sustentam fortemente a autoria Judaica. Não há
evidências reais de que Lucas fosse um gentio, exceto seu nome,
mas, como sabemos por Paulo, não era inédito que os Judeus os
mudassem para nomes gentios. As declarações antijudaicas
espalhadas em todos os evangelhos – especialmente em João –
refletem mais uma batalha Judaica interna sobre a ideologia do que
um ataque externo gentio. Paulo é clara e obviamente um Judeu,
embora alguns céticos, como Robert Price, argumentem que as
cartas nem foram escritas por um "Paulo", mas por um Cristão
gentio muito mais recente, como Marcion. Esta é uma visão muito
marginal, mas, mesmo que verdadeira, não prejudica minha tese,
apenas muda a prioridade da fraude para os evangelhos. As cartas
simplesmente se tornam “substância", também fraudulenta,
acrescentada tardiamente por alguns gentios enganados.
“Você está fazendo generalizações abrangentes. Nem todos os
Judeus se opuseram à Roma e nem todos os escritores e
personagens do NT são, necessariamente, Judeus.”
No primeiro ponto, como afirmei, muitos Judeus consentiram
com o domínio Romano. Provavelmente, uma grande maioria o
aceitava, mesmo que de má vontade. Mas os Judeus de elite
estavam enfurecidos e, certamente, havia uma minoria substancial
de Zelotas e outros que se opunham violentamente. Minha tese não
exige que todos, ou mesmo a maioria dos Judeus, se opusessem à
Roma, apenas que um pequeno grupo – Paulo e amigos – o fizesse
e agisse com base nisso. Em relação aos escritores do NT, é
abordado acima. Com relação aos personagens da história – Jesus,
Maria, José etc. – podemos apenas seguir as palavras escritas e o
texto é conclusivo: todos eram Judeus.
Um colega experiente listou uma série de problemas específicos
para qualquer teoria da farsa:
• Precisa de um motivo. Discutido acima. O motivo era a
vingança contra Roma e uma tentativa de minar seu apoio,
confundindo e corrompendo as massas;
Devi, S. 2015. Son of God, Son of the Sun (D. Skrbina, ed.).
Creative Fire Press. (Filho do Sol, Editora Rosacruz, 1ª Edição,
1981)
Doherty, E. 1999. The Jesus Puzzle. Canadian Humanist
Publications.
Hitler, A. 2017. Mein Kampf (T. Dalton, trans.) Clemens & Blair.
(Minha Luta – Obra Completa, Editora Geek, 2018)
[3] Não ajuda em nada dizer que Deus está nos “testando”. Ele nos criou como somos
e sabe o futuro, portanto não pode ser um teste.
[4] Com a possível exceção do Panteísmo, que afirma que o universo, em sua
totalidade, é Deus.
[5] Esta possibilidade é de fato descrita em Mateus (27:64 – 28:15). O evangelho diz:
“Esta história [do corpo roubado] tem sido espalhada entre os Judeus até recentemente.”
[6] Alguns títulos recentes incluem Nailed, de D. Fitzgerald (2010); Jesus Christ, a
pagan myth, de S. Dalton e L. Dalton; Jesus never existed, de K. Humpreys (2014);
Caeasar’s messiah de J. Atwill (2011); The christ conspiracy, de Acharya S (1999); There
was no Jesus, de R. Lataster (2013); Atheist manifesto, de M. Onfray (2007).
[7] Há exceções, é claro. Hitler, nazistas ou “terroristas” islâmicos ainda são alvos
livres, por exemplo.
[8] De acordo com a lenda, Abrahão teve dois filhos: Isaac, que deu origem à linhagem
dos Hebreus, e Ishmael, pai dos árabes.
[9] Alguns historiadores argumentam que Abrahão e Moisés são figuras míticas que
nunca viveram, mas deixarei esta questão de lado.
[10] Uma segunda referência à Israel, e à Casa de David, vêm com a recente
descoberta da Estela de Tel Dan, datada em torno de 850 a.C. Isso possui conclusões
similares.
[11] As citações são do artigo Deconstructing the walls of Jericho, da revista Ha’aretz,
de 29 de outubro de 1999.
[12] “A maioria dos historiadores hoje concorda que, na melhor das hipóteses, que a
vivência no Egito e os eventos do Êxodo ocorreram entre algumas famílias e que sua
história privada foi “nacionalizada” para se encaixar na necessidade de uma identidade
teológica. Há um documento egípcio posterior sobre um evento similar, escrito pelo sumo
sacerdote Manetão, do século III a.C., que chega a uma conclusão similar. Como dito
novamente por Lindemann, “Os judeus saíram do Egito porque eles, um bando de
imigrantes sem posses e indesejáveis que haviam casado com a população escrava,
tinham várias doenças contagiosas”. Os judeus, portanto, foram expulsos “por motivos de
higiene pública”. Em suma, “o conto do Êxodo é uma falsificação absurda do evento real,
uma tentativa de cobrir a origem embaraçosa e ignóbil dos judeus” (Lindemann 1997:28.
Tradução nossa.)
[13] Lembre-se desta passagem: “Porque povo santo és ao Senhor teu Deus; o
Senhor teu Deus te escolheu, para que lhe fosses o seu povo especial, de todos os povos
que há sobre a terra.” (Deuteronômio 7:6). Fiz uma analise a respeito disso no capítulo
quatro.
[14] Deportações em massa ocorreram em 61, 55, 52 e 4 a.C. Para mais, veja
Fairchild(1999: 519).
[15] Os outros sendo os fariseus, saduceus e essênios.
[16] Eu discuto a evidência sobre Paulo adiante. Para detalhes de Jesus como um
zelota, veja Brandon (1967) ou Aslan (2013). Eu faço uma crítica ao livro de Aslan no
Apêndice B deste livro.
[17] De acordo com Philo (In Flac l.1). Veja também Eusébio, Ecc Hit II.5.
[18] A History of Jewish People (1976, p 254-255. Tradução nossa).
[19] Logo, ele teria nascido no ano 3 a.C. Se aceitarmos a tradição de que ele nasceu
no ano 0, então a crucificação teria ocorrido no ano 33 d.C.
[20] In Flac IX 65-71.
[21] O AntiCristo, sec 44 (Ludovici, trans. Tradução nossa.)
[22] As traduções das passagens do evangelho, neste livro, foram retirados do site
disponível em: < https://www.bibliaonline.com.br/>. Acesso: 30 ago. 2020.
[23] Refere-se à páscoa judaica, também conhecida como “Festa da Libertação”.
[24] Se Deus era seu ‘pai’, continuava sendo o Deus judaico, Jehovah. De qualquer
forma, o pai de Jesus era Judeu.
[25] [NT: o termo original, Zealot, pode ser tanto um adjetivo quanto um substantivo
cujo significado já foi explicado no livro].
[26] Para detalhes sobre o caso de Paulo ser um Zelota, ver Fairchild (1999).
[27] A maioria dos estudiosos concordam que Atos foi escrito pelo mesmo autor de
Lucas, na mesma época.
[28] Com talvez uma exceção, em I Coríntios 11:24, Paulo cita Jesus, referindo-se ao
pão como seu corpo e ao vinho como seu sangue. Fora isso, ainda é verdadeiro que não
há citações de Jesus por Paulo.
[29] Marcos, Mateus e Lucas são chamados de evangelhos “sinópticos” por conta de
sua considerável sobreposição. Eles têm muito em comum, mas também muitas diferenças
notáveis.
[30] Esse tipo de fala é espelhado, mais tarde, no livro do Apocalipse (de João), no
qual lemos sobre os judeus e sua “Sinagoga de satã”. (2:9, 3:9).
[31] Dunn (1992: 201. Tradução nossa).
[32] Coogan (2007: 147. Tradução nossa).
[33] Burkett (2002: 215-216. Tradução nossa.).
[34] Supostamente foi Lucas.
[35] Os dois incidentes são repetidos em Mateus (14:13 e 15:32). Lucas e João
apenas reportaram o primeiro caso.
[36] Isto foi após João documentar os oito milagres.
[37] Ele vivia em Alexandria, não na Palestina. Mas, segundo o próprio, visitou
Jerusalém algumas vezes.
[38] Atos contêm algumas referências a Pedro e João, mas pouco conteúdo que possa
ser verificado.
[39] Um terceiro trabalho importante, Contra Apion, foi escrito perto do fim de sua vida,
por volta do ano 100.
[40] A cópia completa mais antiga do livro data dos anos
1000.
[41]
Marcos (6:3) também menciona um irmão Tiago, junto
com os irmãos Josias, Judas e Simão.
[42] (1997: 134. Tradução nossa.).
[43] (ibid: 135. Tradução nossa.)
[44] Em Stern (1974: 10. Tradução nossa.)
[45] Em Gabba (1984: 629. Tradução nossa.)
[46] (1984: 635. Tradução nossa)
[47] Em Stern (1964: 82-83. Tradução nossa)
[48] Valério Máximo, Facta et Dicta (1.3.3. Tradução nossa)
[49] (1984: 645. Tradução nossa)
[50] Em Stern (1974: 155-156. Tradução nossa).
[51] Em Stern (1974: 155). Ver também Contra Apionen, II.148
[52] Em Stern (1974:197).
[53] HL, 34, 1. Também ver Stern (1974: 183. Tradução nossa).
[54] Em Stern (1974: 384-385. Tradução nossa)
[55] Como registrado por Suetônio. Ver Stern (1980: 112-113. Tradução nossa).
[56] Divus Claudius, 25:4. Também ver Stern (1980: 113. Tradução nossa)
[57] Em Stern (1974: 431. Tradução nossa)
[58] Em Stern (1974: 513. Tradução nossa).
[59] Em Stern (1974: 531. Tradução nossa).
[60] Essas duas últimas citações são de um trabalho suplementar, agora chamado
Fragments of Histories. Sua data é incerta.
[61] Historiae Augustae, 14. Ver também Stern (1980: 619). (Tradução nossa).
[62] Roman History 69.13. (Tradução nossa).
[63] Ver também Stern (1980: 165). (Tradução nossa).
[64] Relembre minha curta argumentação no capítulo 1
[65] Lembre-se dos comentários de Tácito no capítulo quatro, no qual ele observa a
animosidade entre palestinos e Judeus.
[66] Para uma maior compreensão de Aquenáton e sua filosofia, veja Son of god, Son
of the sun, de Savitri Devi (2015)
[67] O Anticristo, sec 42. (Tradução nossa)
[68] Nietzsche, O AntiCristo, (sec. 44) No alemão original: kleine Superlativ-Juden
[69] Ver Skrbina (2015: 19-20. Tradução nossa).
[70] Lutero (1955, vol 47: 253. Tradução nossa.).
[71] Kant (1798/1978: 33. Tradução nossa.) e (1997: 34. Tradução nossa),
respectivamente.
[72] Schopenhauer (1851/1974, vol 2: 357. Tradução nossa).
[73] O Anticristo, sec. 44.(Tradução nossa)
[74] Minha luta (volume único): cap. 10.4, cap. 2.25 e cap. 11.12, respectivamente.
[75] De 13 de Maio de 1943. (Tradução nossa).
[76] Em Hertzberg (1968: 301). (Tradução nossa).
[77] Tenho usado a palavra “conluio” ao longo deste texto. Acredito ser a palavra
correta. Um conluio é “um pequeno grupo de pessoas secretamente unidas para causar
uma revolução ou usurpar o poder, especialmente em questões públicas.” Esta é uma
descrição perfeita de Paulo e seu grupo.
[78] Paulo é famoso por ter se auto declarado um “Apóstolo dos Gentios” (Romanos
11:13, Gálatas 1:16).
[79] Esta frase recentemente voltou à tona com a publicação do controverso livro de
Aslan, “Zealot” (2013). Veja minha discussão no Apêndice B
[80] (1967: 169. Tradução nossa.)
[81] (1967: 182. Tradução nossa.)
[82] (1967: 202. Tradução nossa.)
[83] (1968: 88. Tradução nossa.)
[84] (1968: 101. Tradução nossa.)
[85] Price (2014: 129. Tradução nossa.)
[86] Gálatas 5:14; Romanos 13:9; Marcos 12:31; Mateus 19:19, 22:39; Lucas 10:27.
[87] How Jewish is Hollywood, de Joel Stein (10 dez. 2008).
[88] Para uma análise interessante do papel dos judeus na mídia, veja Dalton (2015:
264-268)
[89] Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2017/apr/14/what-is-the-
historical-evidence-that-jesus-christ-lived-and-died>. Acesso em: 29 ago 2020.
[90] Eu entrei em contato com The Guardian e ofereci, como um outro acadêmico, um
artigo em resposta ao Gathercole. Nunca fui respondido.
[91] Termo hinduísta para designar a pária, casta inferior.
[92] Christianity Today, agosto de 2013.