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2007 PR Histriade Portugal
2007 PR Histriade Portugal
net/publication/313861748
Pré-História de Portugal
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PRÉ-HISTÓRIA DE PORTUGAL
PRÉ-HISTÓRIA DE
PORTUGAL
Universidade Aberta
2007
© Universidade Aberta
Capa: Escavação da anta do Malhão (Alcoutim, 2002). Foto de J. L. Cardoso
© Universidade Aberta
JOÃO LUÍS CARDOSO
Professor Catedrático da área de Estudos Históricos da Universidade Aberta, onde obteve a Agregação no ramo de História,
Especialidade de História Antiga, disciplina de Pré-História, no ano de 2000. Na Universidade Aberta, é Coordenador do Curso
de 1.º Ciclo em História e do Curso de 2.º Ciclo em Estudos do Património. É Presidente do Conselho Científico (desde 2006), e
Coordenador-Geral da Avaliação da Universidade (desde 2000). Foi Coordenador da área da História, na Universidade Aberta
(2002), até à entrada em vigor dos Estatutos da Universidade.
É Membro do Conselho Nacional de Educação, em representação da Academia Portuguesa da História, integrando a
3.ª Comissão Especializada Permanente – Ensino Superior e Investigação Científica. Membro da Comissão Científica de diversas
revistas científicas de arqueologia, nacionais e internacionais, de carácter arqueológico, bem como de numerosas reuniões
realizadas em Portugal e no estrangeiro.
É director da revista "Estudos Arqueológicos de Oeiras", editada pela Câmara Municipal de Oeiras, com quinze números
publicados anualmente desde 1991, órgão científico do Centro de Estudos Arqueo-lógicos do Concelho de Oeiras, de que é
Coordenador desde a sua criação, em 1988. Vogal e Relator da Sub-Comissão Externa de Arqueologia (da Comissão Externa de
História), no quadro da Avaliação do Ensino Superior em Portugal (2000/2001), promovida pela Fundação das Universidades
Portuguesas (FUP), através do Conselho Nacional para a Avaliação do Ensino Superior (CNAVES).
Membro da Comissão Interuniversitária de Arqueologia (Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas), em
representação da Universidade Aberta, desde 1999.
Colaborador da Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, da Editorial Verbo (1997-2003), para a área da Arqueologia e
Pré-História.
Membro do júri do Prémio Gulbenkian de Arqueologia (2001).
Vogal da Comissão de Avaliação dos Projectos candidatos ao Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos (PNTA) do Instituto
Português de Arqueologia (2002).
Membro do Conselho Científico do Museu Geológico (secção de Arqueologia), do Instituto Nacional de Engenharia,
Tecnologia e Inovação desde 2004.
Avaliador da Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito dos Projectos de Bolsas para Mestrado, Doutoramento e
Pós-Doutoramento, submetidos a financiamento na área da Arqueologia (2005).
Realizou as primeiras prospecções arqueológicas em 1970, no povoado pré-histórico de Leceia (concelho de Oeiras), então
ainda totalmente por explorar. Ali viria a desenvolver um ambicioso programa de escavações anuais, entre 1983 e 2002, que
conferiram importância internacional àquele notável povoado pré-histórico. Alargou, progressivamente, o campo dos seus
interesses no domínio da Arqueologia, incluindo o seu currículo a direcção de escavações de estações do Paleolítico Médio,
Paleolítico Superior, Neolítico, Calcolítico, Idade do Bronze, Idade do Ferro e épocas ulteriores, tanto na região de Lisboa, como
na Beira Interior e no Alto Algarve Oriental, abarcando grutas, povoados pré-históricos fortificados e mais de uma dezena de
monumentos megalíticos, de índole funerária ou ritual e de necrópoles de diversas épocas. Interessou-se, igualmente, pela
Arqueologia africana, tendo realizado escavações na ilha de S. Vicente (República de Cabo Verde) em 1998 e em 2005. Ao longo
dos últimos trinta e dois anos, ascenderam a mais de cem as campanhas de escavações arqueológicas que dirigiu em diversas
regiões do centro e do sul do actual território português.
Dando prioridade à abordagem pluridisciplinar da Arqueologia, dedicou-se a áreas científicas afins, então quase
desconhecidas em Portugal, orientando as primeiras dissertações de mestrado e de doutoramento que em Portugal se realizaram
no âmbito da Arqueozoologia.
É autor de cerca de 400 trabalhos, publicados nas principais revistas de Arqueologia de Portugal, bem como em Espanha,
França, Itália, Inglaterra e Alemanha, capítulos de livros e actas de reuniões científicas da especialidade, incluindo dezena e meia
de livros de sua autoria.
Foi distinguido com o prémio Professor Carlos Teixeira, da Academia das Ciências de Lisboa (1993) e, na Academia
Portuguesa da História, com os Prémios Possidónio Laranjo Coelho (1998), Aboim Sande Lemos (2000 e 2002), Pedro da Cunha
Serra (2005) e Joaquim Veríssimo Serrão (2007).
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EVOLUÇÃO
Antero de Quental
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Pré-História de Portugal
21 I PARTE
23 Objectivos de aprendizagem e actividades sugeridas
25 1. Antecedentes Históricos
47 II PARTE
49 Objectivos de aprendizagem e actividades sugeridas
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142 Manifestações artísticas e funerárias do Paleolítico Superior
142 Arte rupestre
145 Arte móvel
146 Rituais funerários
149 6. O Mesolítico
151 Períodos Pré-Boreal e Boreal
151 Litoral da Estremadura
156 O Maciço Calcário
159 O Período Atlântico
159 O Maciço Calcário
160 Litoral da Estremadura
162 Concheiros do vale do Tejo
177 Concheiros do vale do Sado
181 O Mesolítico Final dos vales do Tejo e do Sado: estudo comparado
185 A componente macrolítica das indústrias fini- e pós-glaciárias: o
Languedocense, o Ancorense e o Mirense
188 O Mesolítico do litoral do Baixo Alentejo e costa vicentina
194 O Mesolítico do vale do Guadiana
195 O Mesolítico do litoral minhoto
197 O Mesolítico em outras regiões do país
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309 IV PARTE
311 Objectivos de aprendizagem e actividades sugeridas
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492 Necrópoles e rituais
497 Estremadura e Ribatejo
497 Povoamento, actividades económicas e organização social
507 Necrópoles e rituais
511 Alentejo e Algarve
511 Povoamento, actividades económicas e organização social
514 Necrópoles e rituais
518 Epílogo. O território português no quadro das solidariedades atlanto-
-mediterrâneas do Bronze Final
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Apresentação e Objectivos Gerais
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O manual de Pré-História de Portugal da Universidade Aberta tem como
objectivo principal conferir ao estudante uma visão geral e coerente, numa
perspectiva eminentemente cultural, da evolução da ocupação humana do
território português desde os tempos mais recuados do Paleolítico até ao
Bronze Final. A circunscrição do âmbito da disciplina ao espaço geográfico
português, torna mais fácil a integração das doutrinas expostas na realidade
imediata e mais sugestiva e aliciante a aprendizagem: com efeito, crê-se ser
mais motivador para o estudante compreender, por exemplo, o processo de
neolitização do território que bem conhece, do que os mecanismos
explicativos do mesmo fenómeno na Indochina, como poderia ser o caso se
se tratasse, simplesmente, de uma disciplina de “Pré-História”.
Mesmo com temática menos vasta, como é o caso, não é viável nesta disciplina
o tratamento circunstanciado de certas matérias, sobretudo as que revestem
aspectos práticos, como as técnicas de escavação ou de prospecção, os
cuidados de recolha no campo de materiais arqueológicos e os métodos de
registo gráfico e fotográfico de estruturas, materiais e estratigrafias. Estes
assuntos poderiam ser tratados numa disciplina do tipo “Introdução à
Arqueologia”, enquanto numa outra disciplina, que poderia designar-se de
“Pré-História Peninsular”, se integraria a realidade do nosso território num
contexto geográfico-cultural alargado. Também excluída, pelos motivos
apontados, fica a Hominização, a qual, em certas Faculdades, constitui a
parte essencial, quase exclusiva, de uma disciplina susceptível de ser
designada por “Génese e Evolução da Humanidade”, resultante da
semestralização das antigas disciplinas de Pré-História, de carácter anual,
como a da Universidade Aberta.
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Bronze Final um período de transição, sendo tratado tanto neste manual de
Pré-História como nos materiais de aprendizagem da Proto-História. Crê-se
que em manual de Pré-História, o Bronze Final deve ser detalhadamente
tratado, sem esquecer a preocupação pelo equilíbrio interno global do manual;
com efeito, o Bronze Final, sendo das etapas cronológico-culturais mais curtas
– apenas uns escassos 500 anos – é, por via da riqueza informativa disponível,
um dos que suportaria uma abordagem mais longa e complexa. Crê-se que o
limite entre o que se deve dar em uma e outra das referidas matérias poderá,
futuramente, passar por conferir à Proto-História, apenas os aspectos da
ocupação território português no Bronze Final relacionados com as
informações das fontes escritas antigas, naturalmente entrosadas na realidade
arqueológica (material) recuperada, objecto de desenvolvido tratamento no
presente manual de Pré-História.
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bibliográficas utilizadas; daí que haja a certeza de uma também rápida
desactualização, ao menos em alguns deles.
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um poderoso elemento para a formação de todos, conferindo conhecimentos
básicos da realidade arqueológica e patrimonial do País, incentivando a
intervenções cívicas relevantes, para além de proporcionar à maioria dos
alunos uma dimensão até então insuspeitada da nossa realidade histórica.
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com a Câmara Municipal do Seixal em Maio de 1999, cujas Actas se
encontram publicadas pela Universidade Aberta, constituiu bom exemplo
de adesão dos alunos de História da Universidade Aberta a uma iniciativa
concreta neste domínio, onde a Pré-História da referida região foi devidamente
valorizada. Os cerca de cento e cinquenta participantes, na sua maioria alunos
da Universidade Aberta, comprovaram a valia da realização de tais eventos,
a que se seguiu o Colóquio Internacional “Os Púnicos no Extremo Ocidente”,
igualmente organizado pela Universidade Aberta, em Outubro de 2000 e, já
em Junho de 2004, o Colóquio “Evolução geohistórica do litoral português e
fenómenos correlativos. Geologia, História, Arqueologia e Climatologia”,
cujas Actas foram igualmente publicadas, e onde a participação de alunos da
Universidade Aberta foi também muito positiva. Há que procurar redobrar
esforços para aumentar a integração e interacção dos alunos com a
Universidade e os seus professores. Está-se consciente de que se trata de um
ensino massificado, com largas centenas de estudantes inscritos anualmente
nesta disciplina; mas, por isso mesmo, iniciativas como as referidas,
promovidas em articulação com os órgãos do poder local das diferentes
regiões do País – já que a Universidade Aberta tem expressão nacional –
terão significado acrescido, podendo conduzir a interessantes resultados.
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Trata-se de um continuum, raramente se verificando rupturas com a realidade
pré-existente, sem negar o papel de contributos exógenos, nalguns casos
determinantes. Deste modo, é importante que o estudante, no termo desta
disciplina, tenha apreendido as principais linhas de força que ditaram e
caracterizaram a estrutura das sucessivas comunidades que ocuparam o
território português. Mais importante do que saber datas precisas, aliás
inviáveis em Pré-História e Proto-História, importa que os conteúdos deste
manual, relativos a uma área frequentemente menosprezada, em parte fruto
do véu de desconhecimento que tradicionalmente ainda paira sobre realidades
humanas tão longínquas, sirvam para melhorar a cultura geral dos estudantes
e, deste modo, contribuam para a compreensão da sua própria realidade:
com efeito, o ensino universitário pressupõe aquisição de conhecimentos;
mas a integração destes no quotidiano de quem aprende, faz parte, não já da
sua preparação para o exame, mas do processo da sua própria formação como
cidadão consciente. Sem a Pré-História, a adequada compreensão da História,
através das disciplinas subsequentes do Curso, tornar-se-á mais difícil.
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fazendo uso de modelos diferentes: nisso reside uma das riquezas da
reconstituição arqueológica, que não deverá ser encarada como fraqueza,
desde que devidamente fundamentada.
Importa, no entanto, ter ciente que uma das condições para a qualidades dos
modelos, é a própria a qualidade dos dados utilizados: assim se afirma o
pré-historiador, primeiro como produtor primário de dados científicos, depois
como seu manipulador, prática onde deverá integrar os elementos resultantes
de trabalho pluridisciplinar cujo pleno significado na perspectiva da
reconstituição humana lhe cumpre valorizar. Trata-se, enfim, de conhecer o
homem pré-histórico a partir dos testemunhos materiais das suas actividades,
tanto as quotidianas como as de carácter religioso ou funerário, tão
heterogéneas quanto diversos foram os gestos e comportamentos que
estiveram na sua origem. Conhecimento irremediavelmente incompleto e
fragmentário: disso há que ter plena consciência.
Tendo presente o que ficou dito, espera-se que o estudante, de posse dos
elementos facultados pela leitura deste manual, complementados
eventualmente pela bibliografia sugerida, desenvolva as suas capacidades
críticas de análise e de síntese da informação disponível, incentivadas pelos
objectivos de aprendizagem indicados para cada capítulo, bem como pelas
actividades sugeridas, as quais podem entender-se como extensão dos
conhecimentos entretanto adquiridos, visando a sua consolidação. O que é
essencial, repita-se, é que os alunos comprendam a natureza dos processos,
eminentemente sociais, que determinaram a evolução das sociedades
pré-históricas que ocuparam o território hoje português, estudadas a partir
dos restos materiais conservados no solo.
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evolução dos conhecimentos produzidos. Da mesma forma, evitou-se o
tratamento teórico das diversas correntes de pensamento e prática
arqueológica (Arqueologia comportamental, experimental, processual,
espacial, estruturalista, marxista, teórica, etc.), embora a bibliografia geral
refira diversos trabalhos recentemente produzidos em Portugal, susceptíveis
de serem lidos com proveito por estudantes mais interessados. Com efeito,
não se crê vantajosa a discussão destas matérias numa disciplina geral de
Pré-História e Proto-História de Portugal, na qual seriam, forçosamente,
tratadas antes de os estudantes poderem, sequer, ter uma ideia do objecto da
discussão, produzindo-se provavelmente, na maioria deles, escusado
desalento. Teve-se presente, em contrapartida, a necessidade de apresentar
as matérias como o resultado de um longo processo de maturação, que, em
Portugal, se iniciou em meados do século XIX, entrosando-se directamente
na história das ideias e das mentalidades: por isso se considerou necessário o
desenvolvimento, em parágrafo próprio, da história das investigações
pré-históricas em Portugal, das origens aos nossos dias (e não apenas até ao
princípio do século XX, como tem sido usual). É importante que o estudante
compreenda a trajectória e vicissitudes das investigações neste domínio, as
quais explicam, em grande parte, a natureza dos conhecimentos actuais e as
assimetrias, ainda verificadas, entre as diversas regiões do País, no tocante
ao conhecimento do seu passado pré-histórico.
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I. PARTE
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Objectivos de aprendizagem e actividades sugeridas
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1. Antecedentes Históricos
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É lugar comum dizer-se que a Pré-História corresponde ao período da história
humana antes da invenção da escrita. Isto significa que os seus documentos
de estudo são aqueles que o grande arquivo da terra põe à disposição de
quem se disponha a explorá-lo. Trata-se do arqueólogo, que se ocupa,
mediante a aplicação de métodos adequados, da recuperação científica de
tais vestígios, correspondentes à presença de comunidades humanas pretéritas,
entretanto conservados na terra.
Assim sendo, facilmente se compreende que as balizas cronológicas referentes
ao mais longo período da história da Humanidade sejam díspares, consoante
a área geográfica em causa: ainda hoje existiriam numerosas sociedades
(bosquímanos, papuas, aborígenes australianos, esquimós, etc.) com uma
economia de caça/recolecção pura (correspondente na Europa ao Paleolítico
e ao Mesolítico), não fossem os contactos entretanto havidos com os Europeus
e a aculturação rápida e quase sempre desarmoniosa daí resultante.
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dos primeiros tempos da Humanidade, decritos pelos autores antigos,
particularmente por Homero, na Odisseia.
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1934). Ao que se saiba, a gravura setecentista corresponde à primeira
representação da arte pré-histórica europeia; só isso, além da sua beleza
artística, justificaria que fosse internacionalmente conhecida, como merece;
o injustificado esquecimento explica-se, como em outros casos, pela periférica
posição de Portugal no âmbito da circulação de ideias, desde o século XVII
até aos nossos dias, inviabilizando adequada divulgação de certas criações
científicas excepcionais, como é o caso da obra em causa. Fig. 1
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Os resultados que entretanto se obtiveram, no respeitante à Pré-História, foram
em parte objecto de uma memória, publicada em 1733, de Martinho de
Mendonça de Pina e de Proença, sobre as antas, que atribuiu a altares. No
ano seguinte, o Padre Afonso da Madre de Deus Guerreiro apresentou à
Academia um inventário de 315 monumentos desse tipo, o qual infelizmente
se perdeu.
Il est certain qu’on n’a pas encore trouvé d’os humains parmi les fossiles
(...).
Je dis que l’on n’a jamais trouvé d’os humains parmi les fossiles, bien
entendu parmi les fossiles proprement dits, ou, en d’autres termes, dans
les couches régulières de la surface du globe; car dans les tourbières, dans
les alluvions, comme dans les cimetières, on pourrait aussi bien déterrer
des os humains que des os de chevaux ou d’autres espèces vulgaires (...);
mais dans les lits qui recèlent les anciennes races, parmi ls palaeothériums,
et même parmi les éléphants et les rhinocéros, on n’a jamais découvert le
moindre ossement humain.
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de espécies extintas, nos depósitos aluviais do vale do Somme, perto de
Abbeville, onde, por essa mesma época, começaram a ser recolhidos em
grande quantidade. Com efeito, tais peças, ocorriam associadas a restos de
espécies extintas – precisamente elefantes e rinocerontes, entre outras,
realidade que, poucos anos antes, fora negada por Cuvier – primeiro por
Casimir Picard, logo depois por Boucher de Perthes, que se pode considerar
verdadeiramente o primeiro pré-historiador; este justo título baseia-se na sua
monumental obra, "Antiquités celtiques et antédiluviennes", publicada em
Paris, em três volumes, entre 1847 e 1864.
Como declarou Carlos Ribeiro (1873, p. 3), a propósito desta questão, Fig. 2
Ainda em 1860 a Academia Real das Sciencias de Paris se assustou por tal
fórma com a nota que lhe apresentára o respeitavel paleontologista E. Lartet
sobre a antiguidade geologica da especie humana, que se absteve de a
publicar, e apenas consentiu que nos seus compte-rendus se fizesse menção
do título.
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que se instalara em Inglaterra naquele mesmo ano de 1859, aquando da
publicação da 1.ª Edição da célebre obra de Charles Darwin "On the Origin
of Species". A opinião pública, em parte instigada pela Igreja Anglicana,
constrangia a comunidade científica. E, no entanto, a realidade arqueológica
não se afigurava incompatível com a tradição bíblica, no concernente ao
Dilúvio Universal. Como bem assinalou M. Farinha dos Santos (Santos, 1980,
p. 254),
O Dilúvio existiu, reflectindo, na memória colectiva, um grande
acontecimento natural que ocorreu há milénios, a última glaciação e suas
esmagadoras consequências (...).
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Nesta obra, o autor admitiu, portanto, a existência de uma Humanidade
antediluviana, aliás suportada pelo texto sagrado.
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testemunhos materiais que nos chegaram, os quais eram então pela primeira
vez retirados dos vastos arquivos das grutas e dos terrenos onde jaziam, e
interpretados com base, respectivamente, nos métodos estratigráfico e
tipológico, afinal os mesmos que, hoje ainda, presidem às modernas
escavações arqueológicas. Cabe, porém, a Nery Delgado, a autoria, em 1865,
da primeira escavação arqueológica em uma gruta ocupada pelo homem
pré-histórico, onde os testemunhos paleontológicos de espécies extintas
aparentemente coexistiam com os arqueológicos. O rigor científico seguido
Fig. 4 por Nery Delgado, tanto na escavação da gruta da Casa da Moura (Óbidos)
como na vizinha gruta da Furninha (Peniche), em 1880, deram origem a
monografias, decorrentes de técnicas de escavação, que, ainda hoje, se podem
considerar modelares. Tal conclusão é com efeito apoiada pela forma como
as peças se encontram individualmente etiquetadas, com menção das
Fig. 5
respectivas camadas e profundidades de colheita, sendo ainda visíveis outras
indicações, no caso da gruta da Casa da Moura, que mostram ter sido o
espaço escavado previamente dividido por quadrícula, em relação à qual foram
referenciadas as peças encontradas. O título da monografia arqueológica
publicada apenas dois anos volvidos (Delgado, 1867), desde logo evidencia
a principal preocupação do autor, aliás em sintonia com uma das questões
científicas mais candentes, a que já se fez referência: a demonstração científica
da antiguidade da espécie humana. O próprio título: "Da existencia do Homem
no nosso solo em tempos mui remotos provada pelo estudo das cavernas –
primeiro opusculo. Noticia acerca das grutas da Cesareda" é bem expressivo
de tal preocupação, em total sintonia com o espírito dos seus colegas que,
por toda a Europa, procuravam coligir provas daquela antiguidade. Nesta
obra, é notório o cuidado dispensado à própria exploração, decapando os
depósitos camada por camada, prática a que não era estranha a sua formação
geológica, como acontecia com a maioria dos pré-historiadores europeus da
sua época:
Levantando o entulho, uma camada após outra, fácil nos foi recolher todos
estes objectos, sabendo-se sempre a altura a que tinham sido achados n’um
ou n’outro ponto da gruta. (DELGADO, 1867, p. 46).
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em 1874, apresenta uma desenvolvida referência não só a esta descoberta,
mas aos trabalhos efectuados na gruta e principais resultados publicados.
Volvidos três anos (1868), F. Pereira da Costa apresentou sob o título genérico
"Noções sobre o estado prehistorico da Terra e do Homem" – igualmente
esclarecedor quanto às preocupações últimas a atingir – a obra "Descripção
de alguns dolmins ou antas de Portugal". Assim se inauguravam os estudos
sobre o Neolítico em Portugal, com continuidade nas monografias
apresentadas por Carlos Ribeiro à Academia Real das Sciencias de Lisboa
em 1878 sobre o povoado pré-histórico de Leceia (Oeiras) e, em 1880, sobre
os monumentos megalíticos da região de Belas (Monte Abrão e Pedra dos
Mouros, a gruta artificial de Folha das Barradas e a tholos do Monge (ambos
no concelho de Sintra).
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investigadores diversos da Europa Ocidental, que se devem inscrever as
investigações de Carlos Ribeiro sobre o "Homem terciário português". Com
efeito, Carlos Ribeiro contava-se entre os poucos pré-historiadores de então
que tinham contribuído, com achados efectivos, para a discussão do Homem
Terciário, instalada na Europa da segunda metade do século XIX. Remontam
a 1866 as primeiras publicações de peças líticas supostamente talhadas – os
"Eólitos" – num primeiro opúsculo sobre a geologia das bacias sedimentares
do Tejo e do Sado; tendo em vista os conhecimentos de então, os respectivos
depósitos foram dados por quaternários. Em 1871, Carlos Ribeiro
reconsiderou a inclusão no Quaternário destes depósitos, apesar das peças
supostamente talhadas neles encontradas, dos quais os mais relevantes se
desenvolviam na região de Ota, na margem direita da bacia do Tejo. A análise
estratigráfica, com base em critérios estritamente geológicos, conduziu-o a
incluí-los no Terciário, sendo, consequentemente, terciária, a época dos
Fig. 6 pretensos artefactos (Ribeiro, 1871). Tal foi a relevância científica dada aos
mesmos, que, no ano seguinte (1872), uma selecção dos melhores foi
apresentada por Carlos Ribeiro na Sexta Sessão do Congresso Internacional
de Antropologia e de Arqueologia Pré-Históricas, reunida em Bruxelas. Os
resultados foram, no entanto, recebidos globalmente com cepticismo,
levantando-se dúvidas, ou sobre a autenticidade das peças apresentadas,
cumulativamente, sobre a idade dos próprios terrenos que, para alguns
congressistas, poderiam ser mais recentes do que julgava Carlos Ribeiro. O
esclarecimento desta questão motivou outra intervenção, também publicada
nas respectivas Actas (Ribeiro, 1873, a, b). Não desanimou, porém, o nosso
geólogo. Por ocasião da Exposição Internacional de Paris, de 1878, Carlos
Ribeiro levou consigo 98 exemplares que então ali foram expostos. Deste
conjunto, Gabriel de Mortillet, separou vinte e dois, nos quais admitiu
vestígios irrefutáveis de trabalho humano, chegando mesmo a reproduzir
seis deles em 1879 e, depois, em 1885, no seu manual, de larga difusão
internacional, "Le Préhistorique" (Mortillet, 1885, p. 99, nota 1). Também
em 1885, E. Cartailhac publicou oito de tais exemplares e, mais tarde, três
(Cartailhac, 1886, Fig. 6-11). Começava, pois, a dar frutos, a persistência de
Carlos Ribeiro: era o próprio que, a tal respeito, declarava, em 1871, o
seguinte:
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inevitaveis das viagens e explorações, quando teem um fim puramente
scientifico (Ribeiro, 1871, p. 33).
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Reunida a Comissão, o resultado saldou-se a desfavor da intencionalidade
do talhar das peças consideradas como recolhidas in situ e portanto da
legitimidade do "Homem terciário português", por seis votos contra cinco.
Virchow, o eminente professor de Antropologia da Universidade de Berlim e
declarado opositor da autenticidade das descobertas, na qualidade de
presidente da Comissão, encerrou o memorável debate – pormenorizadamente
transcrito por P. Choffat (Choffat, 1884) – nos seguintes termos (p. 118):
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mais moderno apenas se encontraria pontualmente conservado. Assim, o
ilustre pioneiro da pré-história portuguesa recolheu, entre muitos eólitos
naturais, outras peças efectivamente trabalhadas, só que oriundas de camadas
sedimentares mais modernas, já quaternárias. Assim se esclareceu
definitivamente uma questão que apaixonou investigadores e se manteve por
esclarecer por mais de sessenta anos. O progresso científico não se faz apenas
com sucessos: há erros, como o do Homem terciário, que resultaram, como
atrás se disse, mais do que muitas descobertas retumbantes, em benefício da
própria ciência. A questão em causa, além de ter chamado a atenção
internacional para a investigação que então se desenvolvia em Portugal na
área da Pré-História, teve, internamante, a vantagem de despertar a opinião
pública, criando condições para que outros, trabalhando em diversas regiões
do País, pudessem desenvolver as suas próprias investigações.
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iniciativa de Carlos Ribeiro, pelo colector da Comissão Geológica António
Mendes.
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pouco de todo o lado, constituindo ainda hoje aquela revista um repositório
informativo de consulta indispensável. Boa parte da investigação assim
desenvolvida, encontra-se compilada no volume I das "Religiões da
Lusitania", da autoria de Leite de Vasconcellos, publicado em 1897, não por
acaso no âmbito das comemorações da chegada de Vasco da Gama à Índia.
Trata-se de notável contributo para o conhecimento da religiosidade do
homem pré-histórico, a partir dos respectivos testemunhos, conservados em
território português.
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década de 1930, no Alto Alentejo, especialmente nos concelhos de
Montemor-o-Novo de Estremoz e de Coruche, veio a escavar cerca de
trezentos monumentos megalíticos, cujos resultados científicos apoiaram a
teoria, arrojada para a época, dominada por doutrinas difusionistas, de uma
origem e evolução locais do fenómeno megalítico, demonstrada tanto a nível
dos espólios como das correspondentes arquitecturas funerárias; depois, na
região de Rio Maior, explorou e escavou vasto conjunto de estações que lhe
proporcionaram uma sequência contínua, pela primeira vez obtida, de todo o
Paleolítico Superior, incluindo o Epipaleolítico. Tais indústrias revelavam
nítida filiação nas suas homólogas europeias, o que lhe pemitiu afastar
cabalmente a hipótese das pretensas influências norte-africanas, pelo que
respeitava àquelas épocas; enfim, na década de 1950, encetou extensas
escavações nos importantes concheiros do vale do Sado, descobertos na
década de 1930 por Lereno Antunes Barradas. Uma curta síntese, publicada
em 1956, dá ideia da vastidão das suas explorações de campo e do valor
incalculável dos elementos assim coligidos (Heleno, 1956). Natural opositor
de Mendes Corrêa, até pela diferença de temperamentos, de formação
científica e de origem – um, no Porto; o outro, em Lisboa – também Manuel
Heleno procurou desenvolver as suas actividades com colaboradores que
congregou no Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia, que,
desde 1935, mas sem periodicidade, editou a revista "Ethnos" (o último
volume publicou-se em 1979).
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(Cascais) de Olelas (Sintra) e, sózinho, um importante projecto de arqueologia
regional no concelho de Sesimbra).
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deixar de se registar. O primeiro, por ordem cronológica, foi o que
correspondeu à exploração das necrópoles megalíticas das Caldas de
Monchique, as quais detêm, no contexto arquitectónico funerário do sul
peninsular, evidente originalidade, no respeitante à arquitectura dos sepulcros:
trata-se de cistas cobertas por tumuli, isoladas ou agrupadas, sob o mesmo
montículo artificial. A sua cronologia, com origens prováveis no Neolítico
Médio regional, teve o seu auge no Neolítico Final. Algumas foram
reutilizadas ou mesmo construídas no Calcolítico, como indica o achado de
um machado de cobre, envolto num pano de linho, no túmulo 1 da necrópole
de Belle France.
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de Ciências de Paris), sendo o primeiro português a doutorar-se com um
tema de Pré-História: "La Culture du Vase Campaniforme au Portugal".
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Defensor e praticante da multidisciplinaridade na investigação em
Pré-História, Farinha dos Santos foi professor de muitos dos que, tendo sido
seus alunos na década de 1960 na Faculdade de Letras, actualmente detêm
importantes responsabilidades no domínio da investigação arqueológica (e,
em particular, da Pré-História), em Portugal.
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II. PARTE
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Objectivos de aprendizagem e actividades sugeridas
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deve ser capaz de descrever, acompanhada dos aspectos de organização social
dos grupos correlativos. Estes considerandos articulam-se, naturalmente, com
a realidade material conhecida. Por isso, importa que saiba localizar as
principais estações, conhecendo as suas principais características, bem como
as dos conjuntos artefactuais respectivos.
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Com efeito, é possível traçar a evolução da ocupação humana nas três áreas
costeiras referidas desde o Paleolítico Superior Final até o Mesolítico Tardio,
período no decurso do qual se assiste à forte implantação humana no fundo
dos estuários (Tejo e Sado): neste sentido, importa que o estudante conheça
as principais estações e suas características, associando esta informação à
natureza da própria utensilagem: tipos de artefactos principais e respectiva
distribuição no espaço e no tempo.
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- indústrias de base macrolítica fini- e pós-paleolíticas do território
português: breve síntese e discussão, não esquecendo a sua relação
com as indústrias microlíticas contemporâneas.
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2. As Primeiras Indústrias: O Acheulense Inferior Arcaico
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A parte setentrional do litoral da Estremadura, até à região de Pombal, já na
Beira Litoral, conheceu, no final do Pliocénico e início do Quaternário,
evolução paleogeográfica representada pela seguinte sucessão litostratigráfica
(Cardoso, 1984):
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características geoquímicas e texturais desfavoráveis. É a tal época que se
deverão reportar os sucessivos avanços e recuos do mar, mas de tendência
geral regressiva, os quais deram origem a diversos níveis de praias elevadas,
escalonadas actualmente no litoral da Estremadura entre os 200 m e os 100 m
de altitude, sob a forma de pequenas rechãs ou relevos residuais. Serão
equivalentes do Moulouyano do litoral marroquino (Penalva, 1984).
Encontra-se especialmente bem representado o nível de 150 m de altitude,
em relação ao qual se reportam os achados de indústrias arcaicas de seixos
lascados e de lascas, por vezes encontrados in situ em tais depósitos, também
presentes na península de Setúbal. A caracterização de tais sítios, ou ao menos
dos mais importantes deles, será apresentada adiante.
Na serra do Bouro, em corte da estrada nacional a norte de Foz do Arelho,
recolheu-se uma lasca, sobre seixo de quartzito, que é inquestionavel-
Fig. 18 mente trabalhada em boa parte da sua periferia, no depósito detrítico grosseiro
calabriano, a cerca de 160 m de altitude (Cardoso, 1984, 1996; Raposo &
Cardoso, 2000).
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Sítios mais recentes, atribuíveis ao ciclo saletiano (designação derivada do
planalto marroquino de Salé), situáveis entre 1,2 e 1 Milhões de Anos,
forneceram indústrias líticas, salientando-se a jazida de Souk-el-Arb.
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As jazidas da Península de Setúbal (Azevedo et al., 1979) são as únicas, a
par da serra de Bouro e da Seixosa, a disporem de elementos fiáveis de datação
Fig. 20 geológica, mercê da recolha de materiais in situ. Conquanto o número destes
seja reduzido, estão presentes elementos análogos aos anteriores, sobre
pequenos seixos achatados de quartzito, igualmente recolhidos em leitos
conglomeráticos interestratificados em sedimentos arenosos grosseiros,
exactamente como em Seixosa, de carácter litoral (Formação de Belverde).
Pelas respectivas características sedimentológicas e estrutura, estes depósitos
correspondem, do ponto de vista paleogeográfico, a vastas praias arenosas,
formadas na confluência de dispositivo flúvio-deltaico, correspondente a um
Fig. 21 paleo-Tejo, francamente aberto ao Oceano. Tendo presente o movimento de
subsidência que caracterizou a península de Setúbal no decurso do
Quaternário, tais depósitos, até pelo seu peso próprio, sofreram ulteriormente
assentamentos significativos, o que explica as altitudes máximas de
110-120 m a que hoje se encontram, mas que, primitivamente seriam
semelhantes às que correspondem aos depósitos já referidos, em torno de
150 m. A Formação de Belverde pode ser, deste modo, também reportada ao
Calabriano. Sobre ela, assenta uma espessa série de arenitos vermelhos, com
passagens conglomeráticas essencialmente constituídas por elementos de
quartzo mal rolados; corresponde a depósito continental, formado em clima
seco, com descargas detríticas grosseiras relacionadas com períodos de
enxurradas violentas, a que foi dado o nome de Formação de Marco Furado.
A respectiva idade, por critérios geológicos e pedológicos, não deverá
ultrapassar o Vilafranquiano Médio (Azevedo, 1982), entre 1 e 1,5 Milhões
de Anos. Uma grande lasca alongada de quartzo, recolhida in situ num desses
leitos detríticos grosseiros, exposto em corte junto do cemitério da Baixa da
Banheira (Barreiro), conserva uma das faces ocupada pelo plano de separação,
com bolbo e plano de percussão cortical, na base, sendo a outra face
Fig. 22 igualmente ocupada por extensa superfície de separação, com a mesma
orientação e sentido, possuindo retoques num dos bordos laterais (Cardoso,
1996, Fig. 18). Trata-se, pois, de um artefacto de intencionalidade
inquestionável.
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Para os primeiros, não estaria provada a existência de um estádio pré-
acheulense na Europa, nem este seria provável, do mesmo modo que a
presença humana seria problemática para épocas anteriores a meio milhão
de anos. Tal foi a posição defendida em 1993 no workshop de Tautavel pelos
editores das respectivas actas (Roebroeks & Van Kolfschoten, 1995). O artigo
de L. Raposo e M. Santonja, que respeita a sintese sobre a Península Ibérica,
é também concordante com aquele ponto de vista, não ultrapassando os
indícios mais recuados, para os autores, os inícios do Plistocénico Médio, há
cerca 730 000 anos. Porém, em nota final, adicionada ao texto da
comunicação, em Março de 1995, os autores já admitiam outras datas mais
antigas que a indicada, com base nos testemunhos entretanto descobertos,
tanto em Venta Micena, entre 1,6 e 0,9 Milhões de Anos como em Atapuerca,
Burgos, com cerca de 0,8 Milhões de Anos. Sendo partidários de uma
"cronologia curta", ideia aliás dominante entre os participantes da referida
reunião, esta nota final prenunciava a tendência que se veio a desenhar, logo
a seguir, no congresso realizado em Orce, em 1995, cujas actas se publicaram
em 1999. O seu editor declarou, a propósito, o seguinte (Gibert Clols, 1999,
pp. 12-13):
Sin duda alguna la "Short chronology" há muerto, com todas sus variantes
y redeondeos. Debemos trabajar ahora com la perspectiva de la "Long
chronology" y la continuidad en la ocupación humana de Europa a partir
de los 2 milliones de años, o antes.
(...) postulamos que Homo sale de Africa a los 2,4 millones de años y
coloniza: Europa por Gibraltar (y quizás también por Mesina o el istmo de
Estambul), Oriente Medio (yacimiento de Yron, com 2,4 millones de años),
Caucaso (Dmanisi) y Asia (Longgupo ?). Según esta hipótesis pueden
encontrarse restos humanos en el Plio-Pleistoceno de Italia, de Grecia, de
Rumania, de Turquia ..., es decir, todos los países ribereños del
Mediterráneo. Creemos también que hay una edad limite: la que coincide
com la formación del género Homo y las crisis climáticas (de 2,6-2,4
millones de años).
Neste mesmo sentido concorreram os dados entretanto obtidos em Atapuerca
(Burgos), cuja relevância justificou a reunião de Burgos de 1996, cujas actas
se publicaram em 1998. Com efeito, a existência de indústrias líticas arcaicas,
sobre seixos e lascas, associadas a restos humanos anteriores a Homo erectus
(o qual foi baptizado de Homo antecessor) e a datação paleomagnética,
anterior a 780 000 anos (limite mais recente para o período de polaridade
inversa detectado no locus TD 6, fazem deste sítio o mais antigo dos
inquestionavelmente datados do território europeu, talvez apenas com
equivalente em Fuente Nova 3, da bacia de Guadix-Baza, ainda provavelmente
mais antigo, que forneceu mais de uma centena de artefactos recolhidos em
níveis pertencentes à biozona Allophaiomys bourgondiae (Bermúdez de
Castro, 1998).
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Em conclusão: as decobertas recentemente efectuadas na Península Ibérica,
que vieram revolucionar o que até ao presente era geralmente admitido sobre
a antiguidade da presença do género Homo em solo europeu, devem ser
equacionadas numa envolvente geográfica mais alargada. Assim, o Homo
antecessor, representado em Atapuerca, poderá representar, não o primeiro,
mas o último elo de uma população europeia cuja presença teria de ser muito
anterior. Tal hipótese, que deverá manter-se em aberto, parece, no estado
actual dos conhecimentos, de rejeitar; importantes para a discussão desta
questão, nos termos em que ela deve, por ora, ser colocada, são os sítios de
Dmanisi, na Geórgia, muito perto do limite oriental do continente europeu, e
o de Ubeydiya, no vale do rio Jordão, em Israel. Neste último, definiu-se
uma sequência estratigráfica muito rica em indústrias líticas e em restos
faunísticos, onde se misturam espécies africanas, asiáticas e europeias. Com
base nas características da referida associação, a ocupação do sítio foi situada
entre 1,4 a 1,5 Milhões de Anos. A presença de bifaces, ao longo de toda a
sequência, mostra que o Acheulense, de clara origem africana, já então existia
às portas da Europa. Estando também presente no Norte de África
(Casablanca) há pelo menos 1 M.a., a ausência de bifaces nas estações
peninsulares da mesma época dá que pensar, permanecendo em aberto várias
hipóteses: uma delas, explicaria a presença de indústrias arcaicas até época
relativamente tardia pelo facto de ter havido uma penetração de origem
norte-africana em tempos pré-acheulenses – pelos antepassados do Homo
antecessor, admitidos por alguns – só voltando o continente a ser de novo
colonizado em fase avançada do Acheulense. É no quadro da discussão desta
possibilidade que o já referido sítio de Dmanisi adquire acrescida importância.
Localizado no início da década de 1990, tornou-se rapidamente conhecido
pela recolha de uma mandíbula humana arcaica. Um limite ante-quem foi
obtido pela datação radiomética de uma camada lávica subjacente, entre 2 e
1,5 Milhões de Anos. Actualmente, admite-se cronologia superior a
1,5 Milhões de Anos, cruzando os elementos radiométricos (incluindo também
correlações paleo-magnéticas), biostratigráficos, a identificação de novos
restos humanos e a classificação tecno-tipológica das indústrias líticas
(Gabinia et al., 2000). O estudo dos notáveis restos humanos ulteriormente
recolhidos permitiu, por outro lado, constatar as diferenças relativamente a
H. erectus asiático ou a H. heidelbergensis (o H. erectus europeu) e a
proximidade do morfotipo pré-erectus africano, representado por Homo
ergaster. Quanto à indústria lítica, conhecendo-se actualmente mais de um
milhar de peças, de onde se encontram ausentes os bifaces, e não existindo
limitações à sua presença de ordem cronológica ou inerentes à natureza da
matéria-prima disponível, é admissível atribuir a sua ausência a factores
culturais.
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aproximação das duas posições extremas, antes referidas: nem cronologias
demasiado "curtas", como a de 500 000 anos, já contrariada pelos achados
entretanto realizados, nem cronologias "longas" em demasia, da ordem dos
2 Milhões de Anos. É de admitir uma convergência em torno de 1,5 Milhões
de Anos a 1 Milhão de Anos. detendo, neste âmbito, importância incontornável
os sítios de Atapuerca TD 6 e de Fuente Nueva 3.
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3. O Paleolítico Inferior Pleno: O Acheulense
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O território português, no decurso do Plistocénico Médio, globalmente
situável entre cerca de 730 000 e 130 000 anos, conheceu sucessivas presenças
de grupos de hominídeos que, embora sem serem acompanhados até ao
presente quaisquer restos antropológicos, deixaram abundantes testemunhos
directos da sua presença através das correspondentes indústrias líticas.
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à glaciação de Günz, cerca de dez vezes mais antiga (cerca de
1 Milhão de Anos) daquela que lhe tinha sido atribuída (Antunes et al., 1986).
No caso dos terraços fluviais, tem sido usual a sua separação em duas
principais categorias: os terraços cuja formação se pode associar directamente
às variações do nível marinho de base, correspondentes à parte vestibular e
ao curso inferior dos grandes rios, como o Tejo, que acabam em grandes
estuários ou deltas interiores; e os terraços relacionados com oscilações locais,
dependentes directamente de condicionantes essencialmente climáticas, sem
possiblilidade de correlação fora do âmbito geográfico regional.
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Enfim, o facto das sucessivas praias ou terraços fluviais se encontrarem
encaixados uns nos outros, sendo mais antigos os que se encontram a altitudes
mais elevadas e mais afastados do leito actual dos cursos de água, decorre
em parte de um outro fenómeno paralelo, o da isostasia, correspondente ao
soerguimento generalizado da crosta terrestre, em virtude da erosão,
aliviando-a progressivamente do peso dos próprios sedimentos, primeiro
removidos e depois evacuados pelos cursos de água, ao longo de todo o
quaternário (Texier, 1979). Um bom exemplo desta realidade é fornecido
pela cronologia absoluta, obtida por método radiométrico (U/Th) e pelo
paleomagnetismo, dos terraços do Guadalquivir perto de Sevilha (in Raposo
& Santonja, 1995):
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clima, acompanhada por uma diminuição da capacidade de transporte.
A erosão e a carga sólida, ao diminuirem, conduzem à sedimentação de
materiais detríticos cada vez mais finos. Assim, cada terraço é constituído
por depósitos que integram um ciclo sedimentar completo, o qual se inicia
pelos depósitos formados por um movimento trangressivo (início de ciclo),
concluindo-se com os resultantes do movimento regressivo seguinte (fim de
ciclo). A sucessão deste mecanismo, numa mesma secção de um vale fluvial,
pode conduzir à sobreposição de depósitos de diversos ciclos, tornando
complexa a respectiva interpretação estratigráfica, a qual pode ser visualizada
através do seguinte modelo interpretativo, para a região de Alpiarça:
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uma modificação climática tendente a um aumento das precipitações
e do transporte fluvial. Estes depósitos forneceram indústrias do
Acheulense Superior, com forte patina eólica, avermelhadas pela
oxidação, indicando um clima com grandes estações secas, seguidas
de períodos pluviosos mais intensos.
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nível arqueológico exposto pela escavação em Milharós com a sequência de
1946 de G. Zbyszewski conduziria a integrá-lo no Riss inicial (camada 7), o
que é manifestamente inviável, dadas as caracterísitcas tipológicas apontadas,
que indicam o Acheulense Final. Assim, o ambiente regressivo, como foi
caracterizado por G. Zbyszewski (depósito de fim de ciclo) estaria
correctamente diagnosticado, mas a cronologia deverá ser revista, situando-a
no início da fase glaciária würmiana.
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crono-estratigráfica correspondente. Mas tais situações são, por enquanto,
excepcionais no que se refere à investigação do Paleolítico Inferior em
Portugal. É disso exemplo a escavação realizada na estação da Quinta do
Cónego (Leiria). Trata-se de um terraço médio do rio Lis, a cerca de 25 m
Fig. 29
acima do leito actual do rio, e deste modo, correlacionável com os terraços
médios de Alpiarça. A sua espessura não ultrapassa 1 m, assentando
directamente no substrato jurássico. J. P. da Cunha-Ribeiro, que ali procedeu
a escavações, identificou um conjunto acheulense, recolhido in situ na
cascalheira da base do terraço. Desta forma, a cronologia destas peças pode
aproximar-se da do conjunto acheulense da base do terraço médio de Alpiarça.
Na verdade, os bifaces oriundos desta camada são de tipologia primitiva,
com formas espessas e um elevado número de peças parciais, tal como o
verificado nos bifaces homólogos de Alpiarça, estando totalmente ausente a
técnica dita "levallois", juntamente com o claro predomínio de lascas de
primeira geração, isto é, extraídas directamente dos seixos em bruto. Tais
características da utensilagem fazem-na corresponder a um momento precoce
do Acheulense, comparável, na região de Leiria, a outros materiais recolhidos
noutros terraços do vale do Lis, cuja base também se situa a altitudes
semelhantes em relação ao leito actual daquele rio: é o caso do terraço (Q 2)
da Quinta da Carvalha (Cunha-Ribeiro, 1990/1991; 1992/1993).
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lascamento, correspondente à superfície de separação do núcleo; outra, de
preparação, conservando parte dos negativos de lasca previamente destacados
da face dorsal do núcleo. O objectivo essencial, era, deste modo, a obtenção
de uma lasca, de tamanho e configuração pré-definidos, a qual poderia possuir
a configuração de uma ponta, ou mesmo de lâmina; neste último caso, a
lasca seria obtida a partir de cristas produzidas na massa nuclear, ou orientadas
segundo uma nervura-guia, conferindo um contorno alongado, mais ou menos
triangular, à lasca pretendida.
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(Riss/Würm), avançando a possibilidade de ser contemporâneo do "começo
da glaciação würmiana ou ainda de um interestádio da mesma", (Zbyszewski,
1977, p. 35). Recentes revisões permitiram melhorar o conhecimento da idade
dos depósitos em causa. Com efeito, este é um dos casos que contraria as
conclusões de ordem cronológica caso fosse aplicada directamente a teoria
eustática: correspondendo tais depósitos a um baixo terraço fluvial, a sua
idade deveria corresponder, como admitiu G. Zbyszewski, ao último período
interglaciário, ou quando muito, ao início da última glaciação, e não a época
anterior, como é o caso. Trata-se, assim, de mais um exemplo (a somar ao já
anteriormente referido, de Algoz), que bem ilustra os cuidados a ter em conta
na atribuição da cronologia dos depósitos exclusivamente com base na
altimetria actual.
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- enfim, os níveis superiores mais grosseiros, presentes também na
Mealhada, correlativos da estação de Milharós, seriam do final do
Riss, época em que as condições climáticas voltaram a deteriorar-se.
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os triedros anteriores aos bifaces). Entre estes, encontra-se uma grande
variedade formal, dominando, porém, os bifaces integráveis em estádio antigo
do Acheulense, a que poderiam pertencer, também, os triedros. Este grupo
tipológico foi objecto de um estudo monográfico, tendo-se demonstrado a Fig. 25
sua predominância no sul (Caia e, sobretudo Guadiana), já que no vale do
Tejo são muito menos abundantes, o mesmo se verificando em estações mais
a norte (Zbyszewski & Penalva, 1988). Tal realidade reforçou a convicção
dos citados autores da sua origem norte-africana, através da transposição do
estreito de Gibraltar, no decurso do Acheulense, na esteira da proposta de
H. Alimen (Alimen, 1975). C. Penalva, aliás, já anteriormente tinha sido
autor de semelhante proposta relativamente a outro instrumento caracterísitico
acheulense, o machado (ou "hachereaux", termo traduzido em português por
"machadinho").
Com efeito, os machados acheulenses ("hachereaux") possuem uma presença
insistente nos inventários e, se mais não ocorrem, tal se deve às limitações
impostas pela matéria-prima, que requeria a disponibilidade de volumes
nucleares de grandes dimensões – no caso do território português, quase
exclusivamente seixos quartzíticos – já que se trata de um artefacto sobre
lasca, possuindo um gume terminal transversal (que justifica a designação
funcionalista adoptada). É, com efeito, um tipo artefactual presente desde o
Acheulense antigo, nas estações do Guadiana, como em Monte da Faia –
avultando, sobretudo, os grandes núcleos para a sua obtenção, que ali são
relativamente comuns – até ao Acheulense Final (de que é exemplo a estação
de Milharós). Sem jamais se afigurarem peças comuns, os machados ocorrem,
com certa insistência, nos níveis médios do terraço médio do Vale do Forno,
Alpiarça, com 8 exemplares (5,1 %) (Zbyszewski & Cardoso, 1978), e no
nível mais antigo do dispositivo de terraços do vale do Lis (correspondendo
à base de um terraço médio, cerca de 25 m acima do nível actual do leito do
rio Lis), com 7 exemplares, ou 7,9 % dos utensílios identificados
(Cunha-Ribeiro, 1992/1993). Como se disse atrás, este nível poderá
correlacionar-se com o nível basal de Alpiarça e, deste modo, pertencer ao
Riss. Este instrumento atinge o limite setentrional do território português,
estando presente no acheulense do litoral minhoto, tal como os triedros
(Meireles & Cunha-Ribeiro, 1991/1992).
As conclusões de J. P. Cunha-Ribeiro, relativamente às características do
Acheulense da pequena bacia hidrográfica do rio Lis, salientam, para além
da presença de "hachereaux" – que como se viu tem sido e continua a ser
invocada por diversos autores como indício da origem africana do Acheulense
da Península Ibérica (Bordes, 1968, 1971; Alimen, 1972; Freeman, 1975;
Penalva, 1978; Villa, 1981, 1993) – a tipologia dos bifaces, espessos e
frequentemente irregulares, que é sem dúvida um aspecto generalizável aos
conjuntos acheulenses portugueses – e um índice de talhe "levallois" nulo,
nalguns casos, muito baixo, noutros.
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A presença de triedros e de "hachereaux", em particular destes últimos, tem
sido considerada como uma das características mais salientes das indústrias
acheulenses peninsulares, mesmo nos conjuntos mais evoluídos, como o de
Milharós, onde os exemplares tecnicamente mais simples, segundo a
classificação de J. Tixier são, no entanto, maioritários.
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Na formação intermédia (FF2), situada entre 28 e 34 m acima do leito actual,
recolheram-se peças talhadas, as quais, pelo seu estado físico, foram organizadas
em três séries, para além de exemplares com duplas pátines, com significado
cronológico. Mais uma vez, se denota a pouca importância dos seixos afeiçoados,
numa indústria produzida em quartzito, com recurso apenas ao percutor duro. O
autor, embora admitindo a sua inclusão no Acheulense, chama a atenção para a
ocorrência de materiais atribuíveis ao Mustierense de Tradição Acheulense em
diversos locais do outro lado da fronteira, cuja relação com as indústrias em causa
seria possível.
Na formação seguinte (FF3), cuja base se desenvolve entre 20-22 m acima do leito
do Caia, efectuaram-se colheitas de superfície em diversos locais, que constituem
verdadeiras estações; as conclusões foram individualizadas da seguinte forma:
- estação do Caia (estrada internacional): colecção inteiramente constituída
por seixos de quartzito, talhados por percutor duro, onde se encontram
sobretudo representados os produtos de talhe de primeira geração (lascas
corticais) e núcleos, reflectindo esquemas operatórios simples; trata-se de
uma zona de abastecimento e talhe primário da matéria-prima;
- estações de Sortes da Godinha, Herdade da Comenda, Monte Campo – NW,
Ponte da Ajuda e Monte de D. João: destas estações, algumas foram já
referidas no estudo de Lereno Antunes Barradas (BARRADAS, 1939).
Apenas a última forneceu materiais que podem ser directamente
relacionados com o interior do terraço, constituindo um conjunto
homogéneo, apesar de possuírem dois estados físicos relativamente
diferenciados. Não existem dúvidas do seu posicionamento dentro do
Acheulense, dada a existência de um biface (amigdalóide) e de dois triedros.
A FF4, é a formação fluvial seguinte com materiais paleolíticos; corresponde a
retalhos a uma cota entre os 9 e os 11 m. Avultada presença abundante de lascas de
primeira geração, como se verificou em outras formações de terraço mais antigas,
o que pressupõe a existência de oficinas de preparação, aliás favorecidas e explicadas
pela própria abundância de matéria-prima, sob a forma de seixos rolados de
quartzito. Os núcleos estão representados pelos grupos operatórios mais simples;
os de maior complexidade parecem relacionar-se com as séries de menor rolamento,
facto que constitui mais um argumento a favor da validade a aplicação deste método
de seriação cronológica. Os utensílios sobre lasca apresentam, como nos casos
anteriores, fraca representação. No grupo dos bifaces, predominam os parciais
espessos (incluindo as peças unifaciais) e, no que toca aos seixos talhados,
observa-se uma maior abundância, face a outras estações da região atrás referidas;
são exclusivamente talhados, como os restantes utensílios, com o recurso ao percutor
duro. Parece, deste modo, tratar-se de uma indústria acheulense, aliás confirmada
pela tipologia dos bifaces.
Tendo presentes os três grupos de séries, de acordo com o desgaste superficial
correspondente, verifica-se que a mais abundante é a de desgaste intermédio (EF2),
com 221 artefactos, correspondendo à mais antiga (EF1) e à mais recente (EF 3),
respectivamente, 82 e 194 artefactos. No conjunto, verifica-se que as lascas são
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sempre o conjunto mais numeroso; os bifaces, sempre presentes, atingem o máximo
na série mais antiga (7,3%), o mesmo se verificando no grupo dos seixos afeiçoados
(8,5%). Sendo de integrar, globalmente, como é opinião do autor, os três
subconjuntos em causa no Acheulense Antigo, por comparação com outros
atribuídos a tal época (Caia – F2; rio Lis; e Pinedo, cf. Monteiro-Rodrigues, 1996,
Quadro 94), verifica-se que as "modificações técnicas entre EF1, EF2 e EF3 ter-se-ão
processado no seio de um mesmo contexto "cultural" (op. cit.,
p. 357).
Por último, FF5 corresponde à formação mais recente, com terraços cuja base se
desenvolve apenas 3-4 m acima do leito do rio. Na sua maior parte, os materiais,
de recolhas de superfície em diversos retalhos deste depósito, apresentam-se
profundamente boleados (78,5%). Esta facto sugere que se trata de peças
relacionadas com níveis mais altos de terrraços que, por arrastamento e transporte,
vieram depositar-se à superfície ou mesmo no seio dos depósitos mais baixos,
como elementos detríticos remobilizados.
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Sul, para além do Douro, também na embocadura do Tejo, nas vizinhanças
de São Julião da Barra (Oeiras), se encontram representados terraços médios,
atribuíveis ao Tirreniano (a cerca de 20 m de altitude), aonde se recolheu in
situ um conjunto de seixos afeiçoados atribuíveis ao Acheulense Superior
(Breuil & Zbyszewski, 1945; Zbyszewski et al., 1995). Enfim, na zona do
paleoestuário do rio Guadiana, também se recolheram peças paleolíticas in
situ atribuíveis ao Acheulense. Foi Mariano Feio (Feio, 1946), o primeiro a
chamar a atenção para o corte de Aldeia Nova, perto de Vila Real de Santo
António e para o seu modo conjugado de formação, de tipo flúvio-marinho.
Mais tarde, foi proposto um "modelo de sedimentação deltaica, talvez
resultante de enchimento progressivo de um estuário pré-existente, em estreita
dependência de acarreios continentais grosseiros ..." (Cardoso, Raposo &
Medeiros, 1985, p. 183). As peças talhadas mais antigas – as únicas que por
ora interessam, conquanto em número escasso e tipologicamente
incaracterísticas – provêm de uma camada cascalhenta, relacionável com o
início de um período glaciário, talvez do último. Mas tais peças, muito roladas,
são claramente anteriores, inscrevendo-se no grupo dos seixos afeiçoados
coevos do Acheulense, os quais dominam largamente nas estações paleolíticas
do litoral.
Com efeito, apesar de, nas estações paleolíticas atrás referidas, estarem
invariavelmente presentes seixos afeiçoados por talhe uni ou bifacial, onde
estes se apresentam com maior expressão, constituindo nalguns casos a
totalidade da utensilagem, é nas jazidas correlacionadas com as praias
levantadas quaternárias existentes ao longo do litoral português, conferindo
a tais conjuntos um aspecto particular, que H. Breuil e G. Zbyszewski,
surpreendidos com tão evidente arcaísmo e outros particularismos
morfológicos supostamente de natureza geográfica, baptizaram de
"Lusitaniano":
La deuxième partie de cette étude porta sur les plages d’Estremadura, depuis
Peniche juqu’à Setúbal. C’est dans cette région que Breuil définit les
industries paléolithiques de "style" lusitanien", représentées par de
nombreux galets de quartzite de petite taille, tronqués à l’une de leurs
extrémités par une ou deux tailles très simples et très primitives.
Ficava, deste modo, justificada a criação deste novo termo, o qual, doravante,
passaria a designar as indústrias desprovidas de bifaces que, de Leixões a
Vila Real de Santo António se distribuem abundantemente pelas praias
quaternárias, "imprimant à l’ensemble du vieux paléolithique des côtes
portugaises un aspect inattendu ..." (Breuil, Vaultier & Zbyszewski, 1942).
Porém, seria mesmo inesperado que tais indústrias não contivessem bifaces?
E justificar-se-ia a criação de um termo próprio, na ausência daqueles
artefactos acheulenses? Quanto à segunda questão, a resposta é fácil: é
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considerada por muitos condição essencial para a aplicação do termo
"Acheulense" a existência de bifaces; estaremos nas condições já definidas
por V. Oliveira Jorge (Jorge, 1972), que presidiram a designações de índole
cultural, como a de "Conjuntos industriais de seixos afeiçoados". Mas, se se
atribui ao termo Acheulense um significado essencialmente cronológico, à
semelhança do perfilhado para o termo Pré-Acheulense, tal como ele foi
anteriormente definido, então é óbvio que as indústrias essencialmente sobre
seixos afeiçoados da costa portuguesa poderão receber a designação de
acheulenses. Aliás, a generalização da ausência de bifaces em tal domínio
geográfico é abusiva: nalguns casos, estes ocorrem, e, até, com bom recorte
tipológico, em associação com as indústrias de seixos afeiçoados, nos locais
onde as características da matéria-prima tal permitia: é o caso dos belos bifaces
do Acheulense Superior de Lourinhã, recolhidos por I. e H. Mateus. É, pois,
nas limitações impostas pelo material disponível que se deve reportar a maior
ou menor presença de bifaces, e não a qualquer outro constrangimento, como
julgavam Breuil e Zbyszewski, de natureza cultural invocando a paralisia da
engenhosidade, determinada pela pouco exigente vida do litoral (cf. Breuil,
Vaultier & Zbyszewski, 1942). Este aspecto detém evidente importância: se
é certo que a natureza da matéria-prima, por si só, não constitui factor
incontornável na obtenção de instrumentos clássicos, como os bifaces, mesmo
daqueles confeccionados em rochas muito desfavoráveis como o quartzo, de
que se conhecem, não obstante, exemplares de grande qualidade, já o tamanho
das massas nucleares originais foi determinante para a possibilidade da sua
obtenção, tal como a de outros artefectos acheulenses, como é o caso dos
"hachereaux" sobre lasca, como já anteriormente se referiu. Sobre o
significado da ausência ou escassez de bifaces nestas praias levantadas,
transcreve-se o seguinte trecho, a propósito de uma situação semelhante
(Cunha-Ribeiro, 1992/1993, p. 110):
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minhoto: com efeito, na formação marinha M 10, contemporânea do último
período interglaciário, cerca de 96% dos seixos diponíveis para o fabrico de
utensílios situam-se entre 16 e 45 mm, o que explica a total ausência de
bifaces ou de "hachereaux"; em contrapartida, na formação M 9, onde apenas
16 % dos seixos se situa entre aqueles limites dimensionais, ocorrendo 17 %
nas classes superiores a 91 mm, observa-se "uma macro-utensilagem mais
diversificada, na qual estão presentes, além de seixos talhados, outros tipos
de utensílios, tais como bifaces, "hachereaux", triedros, etc. (...)" (Meireles
& Cunha-Ribeiro, 1991/1992, p. 39).
Uma das grutas que forneceu alguns materiais acheulenses, e, ainda assim,
em posição derivada, é a da Nascente do rio Almonda. Com efeito, numa das
galerias, foi recolhido um conjunto de cerca de 50 bifaces (a chamada "Galeria
dos Bifaces") e de mais de uma centena de lascas, a maioria de quartzito,
mas também de quartzo e de sílex, constituindo três concentrações,
correspondendo à redistribuição de materiais oriundos da superfície por
gravidade. As três datações pelo U/Th, obtidas sobre peças dentárias de cavalo,
aparentemente associadas às referidas concentrações de materiais, indicam
um intervalo de tempo entre 120 000 e 200 000 anos, compatível com as
características tecno-tipológicas das peças recolhidas (Zilhão & McKinney,
1995).
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humanos que ocuparam a cavidade, no Paleolítico Inferior/transição para o
Paleolítico Médio, a qual coincide igualmente com a passagem do Plistocénico
Médio para o Plistocénico Superior; com efeito, as indicações cronométricas
provisórias, indicam um intervalo de tempo entre 240 000 e 180 000 anos.
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estações com estratigrafia do Baixo Tejo, sendo de destacar a do Cabeço da
Mina, Salvaterra de Magos, objecto de uma escavação pioneira, a primeira
efectuada numa estação paleolítica de ar livre em Portugal (Corrêa, 1940) e
a de Samouco, Alcochete (Zbyszewki & Cardoso, 1978).
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4. O Paleolítico Médio e o Mustierense
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Para o conhecimento da presença humana no actual território português no
decurso do Mustierense – o único complexo cultural do Paleolítico Médio
até agora reconhecido e caracterizado neste espaço geográfico (Bicho, 2004)
– cujo terminus se terá verificado cerca de 35 000 anos, em datas calibradas
antes da nossa era limite que, actualmente, recolhe o consenso geral, importa
proceder à caracterização sumária dos sítios mais importantes até ao presente
reconhecidos. Este exercício suportará a discussão das principais questões,
conducente, na parte final deste apartado, a uma síntese conclusiva sobre os
padrões de exploração e de ocupação dos territórios, em estreita articulação
com a evolução das características paleoclimáticas e paleogeográficas dos
ambientes em que decorreram as actividades humanas.
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limitações deste critério trabalho, que continuou a ser aplicado em Portugal,
durante os sessenta anos seguintes, devido ao labor de G. Zbyszewski,
discípulo de Breuil, verifica-se que foi ele que, quase em exclusivo, presidiu
às classificações das indústrias do Paleolítico Inferior e Médio em Portugal
até aos inícios da década de 1980, quando despontou pequeno conjunto de
investigadores que, embora com formações científicas diferentes, conse-
guiram mobilizar, pela primeira vez, e por diversas formas, os financiamentos
mínimos necessários à investigação prolongada de depósitos de gruta ou de
estações de ar livre.
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basálticos que, de uma forma quase contínua, se desenvolvem desde a região
de Cascais, até à de Loures, formando um longo arco de círculo em torno da
capital, com uma maior concentração de ocorrências na região de Amadora e Fig. 33
de Benfica: por tal motivo, a extensa mancha paleolítica reconhecida nesta
região tem sido designada por Paleolítico do Complexo Vulcânico de Lisboa.
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água a pouca profundidade, e provavelmente com densa cobertura arbustiva,
pontuando manchas florestais circunscritas, corresponderiam a domínios
privilegiados para a caça, favorecidos ainda pelo clima pouco rigoroso,
explicado pela baixa latitude e pela proximidade oceânica. Com efeito,
a abundância destes acampamentos de ar livre, em detrimento da ocupação
de grutas, quase sempre de carácter esporádico, indica a existência de um
clima globalmente benigno, no decurso de boa parte da última glaciação.
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4.2 Terraços do vale do Tejo e dos seus afluentes da margem
esquerda
A média ponderada das três datações pelo U/Th realizadas sobre dentes de
cavalo (2) e de auroque (1), deu o resultado de 33 600 anos ± 500 anos BP.
No conjunto lítico, talhado em grande parte no local, configurando a existência
de um "work camp", é dominado pelo aproveitamento dos seixos de quartzito
localmente disponíveis em grande quantidade, nas cascalheiras do terraço
ali existente.
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ainda pela valiosa informação faunística ali reunida, constitui um dos mais
importantes sítios do Paleolítico Médio Final de ar livre da Península Ibérica.
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(Raposo, 1995). Fica assim delimitado o limite cronológico inferior do
Mustierense em Portugal, pelo menos naquela região, sem prejuízo de, noutras
áreas geográficas, já se poderem encontrar presentes tais indústrias; mas a
falta de datações absolutas impede a discussão adequada desta questão em
termos científicos.
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feitas no decurso dos levantamentos geológicos de que estavam incumbidos,
não fosse o caso de se encontrarem na imediata antecedência de uma
importante intervenção arqueológica, que lhes conferiu significado acrescido.
Com efeito, no âmbito da mitigação dos impactos ambientais decorrentes da
construção da Autoestrada A13, foram identificados diversos locais na mesma
região com indústrias paleolíticas dispersas à superfície e seis com interesse
estratigráfico, dos quais um, Arneiro Cortiço, até então inédito, mereceu
trabalhos de escavação.
Uma datação efectuada sobre ossos de elefante pelo método do U/Th, deu o
resultado de 81 900 anos; +4000/-3800 anos BP (Raposo, 1995), compatível
com a presença das referidas peças mustierenses.
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naquela região, no decurso do Mustierense: assim, enquanto as margens da
vasta bacia aluvionar do Tejo eram ocupadas por acampamentos residenciais
de ar livre especializados na caça e esquartejamento de grandes mamíferos
(cavalo, elefante), as grutas e abrigos, que se desenvolvem no topo das colinas
calcárias que dominam as referidas baixas aluvionares seriam utilizadas
mais esparsamente, no decurso de actividades cinegéticas. A natureza das
matérias-primas é local: com efeito, nos terraços baixos abundava o quartzito
e o quartzo, enquanto nos maciços calcários, onde se abrem tais grutas e
abrigos, existe o sílex, sob a forma de nódulos de boa qualidade, propícios
ao talhe e intensamente explorados para o efeito. Algumas destas cavidades,
com efeito, denotam ocupação, em geral de fraca intensidade: é o caso da
Gruta do Correio-Mor (Loures), onde se identificou, em estratigrafia, uma
indústria mustierense sobre nódulos de sílex, na base de uma sequência
arqueológica essencialmente holocénica, e da Gruta da Ponte da Laje (Oeiras),
sobre a ribeira do mesmo nome, na qual a utensilagem assume características
idênticas.
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(Cardoso & Monjardino, 1976/1977), onde avulta, também, a notável
abundância de núcleos mustierenses. No âmbito da sequência estratigráfica
definida no terraço médio de Alpiarça, a cascalheira do topo do terraço médio,
observada tanto em Cascalheira como no Alto da Pacheca, coroando uma
série arenosa com intercalações argilosas pode correlaciona-se com o começo
da fase regressiva, com aumento da capacidade de transporte e de
escavamento do leito do Tejo, verificada no início da última glaciação,
atribuição que se afigura compatível com a tipologia das indústrias
encontradas.
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matéria-prima disponível, largamente dominada por seixos de quartzito,
utilizados como núcleos, desde as massas iniciais, até os núcleos discóides
sobre calotes de seixo, ditos mustierenses. Está presente a técnica "levallois",
conducente também à obtenção de lascas, utilizadas tal e qual, ou
transformadas em diversos utensílios, sobretudo denticulados e entalhes, mas
também alguns raspadores e raros furadores. É de salientar a grande
normalização dos procedimentos técnicos, com base numa economia de gestos
face à função pretendida. Tal realidade é exemplificada pela abundância dos
"núcleos discóides sobre calote de seixo", caso limite da simplificação, em
que se aproveita a morfologia do seixo natural para dele se extrairem,
directamente, as lascas predeterminadas requeridas, sem necessidade de
recorrer a acções de formatação e de preparação dos planos de percussão,
através de levantamentos preliminares a partir do reverso.
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única matéria-prima que foi objecto de caracterização adequada. A análise
dos 584 artefactos identificados, mostrou que a exploração dos núcleos (27
exemplares) foi feita recorrendo à técnica "levallois" e à variante discóide
(centrípeta). Alguns núcleos apresentam-se esgotados, pelo facto do sílex
ser uma matéria-prima escassa na adjacência imediata da estação. As lascas
exibem alto grau de facetas na face dorsal, bem como elevada incidência de
transformação em utensílios, situação relacionada com a intensidade de
exploração dos núcleos, observando-se preferência pelas lascas de maiores
dimensões no âmbito da referida transformação, que atinge 173 objectos,
correspondendo a 29,6 % do total dos artefactos de sílex.
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faunístico nem carbonoso. Dominam os seixos de quartzo e de quartzito,
existentes localmente, no conglomerado do terraço, sendo o sílex muito mais
escasso.
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4.3.2 Ribeira da Ponte da Pedra, ou Ribeira da Atalaia (Vila Nova da
Barquinha)
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4.3.3 Estações dos arredores de Rio Maior
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4.4 Grutas da Estremadura e áreas adjacentes
Esta gruta, situada em plena serra de Sicó, forneceu, nos níveis arqueológicos
mais profundos, correspondentes ao Conjunto 3, subjacente à ocupação
gravettense, peças de sílex e, sobretudo, de quartzo leitoso, do Paleolítico
Médio (Aubry & Moura, 1994).
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carácter erosivo, atribuída ao episódio de Denekamp (Zilhão, 1997, Fig. 9.3).
O bloco de camadas N a L possuía escassos artefactos, de mistura com restos
abundantes de carnívoros, especialmente de hiena, pelo que a sua formação
foi conotada essencilmente como devida à acção daquele e de outros
carnívoros (Davis, 2002). Também a Camada K forneceu materiais de
tipologia exclusivamente mustierense, encontrando-se presente a técnica
"levallois", ainda que em escasso número, associados a abundantes restos
ósseos; tal situação sugere, igualmente, uma acumulação natural, talvez em
resultado da actividade das hienas; uma datação directa sobre osso forneceu
o resultado não calibrado de 27 600 ± 600 anos BP, a que corresponde a data
calibrada de ca. 32 400 a. C. (Zilhão, 2006). Tal cronologia, depois de ter
sido aceite pelo autor, foi neste seu último trabalho posta em causa,
considerando que a sua idade deverá ser próxima, por extrapolações de ordem
paleoclimática, a ca. 35 000 anos. Por outras palavras, a cronologia da camada
mustierense mais moderna da Gruta do Caldeirão não se encontra de
momento definida, admitindo-se que possa ter havido intrusão do único osso
datado desta camada a partir da camada Jb, já do Paleolítico Superior Inicial,
dado que uma amostra recolhida na parte média desta última camada, com
cerca de 0,22 m de potência, deu o resultado de 30 800 anos.
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iniciados na década de 1990. Os primeiros resultados publicados referem-se
a depósito atribuído inicialmente a um cone de dejecção, o "cone mustierense",
localizado em 1989, correspondente a uma acumulação secundária de
sedimentos efectuada no interior do sistema cársico, acima da entrada actual
da gruta do Almonda, por colapso de uma galeria situada a um nível superior,
idêntico ao da gruta onde presentemente se desenvolvem os trabalhos,
designada por Gruta da Oliveira.
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As camadas mais profundas apresentam-se muito abundantes em indústrias
líticas, embora estas ainda não se encontrem devidamente estudadas, sendo
anteriores à data determinada para a Camada 9, 44 000 – 43 000 a. C, atingindo
provavelmente as mais antigas a cronologia do "cone mustierense". Nestas
camadas mais antigas, recolheu-se em grande quantidade restos de tartaruga
e de coelho, com marcas de fogo, indício seguro que foram objecto de
consumo humano (informação pessoal de João Zilhão).
Três restos humanos, recolhidos nestes níveis mais profundos, são atribuíveis
a Neandertais, dada a tecnologia lítica associada ser claramente a mustierense.
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seu interior é, assim, mais recente que aquele episódio marinho, atribuído
ao último interglaciário (Breuil & Zbyszewski, 1942). A escavação, realizada
em 1879 por J.F. Nery Delgado (Delgado, 1884) respeitou as melhores normas
científicas vigentes à época, tendo sido cuidadosamente registada a
estratigrafia e a posição de todas as peças líticas e ósseas recuperadas, que
ainda hoje se conservam no Museu Geológico e Mineiro, em Lisboa. A
sequência plistocénica era constituída, na base, por um nível de cascalheira,
com escassos restos faunísticos, sucedendo-se um espesso conjunto
sedimentar, separado da cascalheira da base por uma crosta estalagmítica,
evidenciando descontinuidade na sedimentação; esta sucessão era constituída
por sete níveis ossíferos, separados por episódios de abandono constituídos
por areias eólicas.
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varrida pelo vento. As escassas indústrias recolhidas do Paleolítico Superior,
são conotáveis com esta última fase de enchimento do algar, entre as quais
duas folhas de loureiro solutrenses e uma lâmina de dorso, separadas por
H. Breuil e G. Zbyszewski em 1942 do conjunto lítico da necrópole neolítica
ulteriormente instalada no interior da gruta.
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À Camada 8, com 2433 artefactos, sucede-se a Camada 7 com 1880; a Camada
6 possui apenas 677, número que decai para apenas 56 e 107, respectivamente
nas Camadas 5 e 4, as mais modernas da sequência contendo indústrias líticas,
sem contudo se negar a possibilidade de a gruta continuar, esporadicamente
a ser ocupada, durante um intervalo de tempo impossível de determinar, mas
que não ultrapassaria escassas centenas de anos.
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7, somente três restos de hiena, contrastando com a abundância de indústrias
líticas, a que já se fez referência; inversamente, as camadas que se
apresentaram mais ricas de restos de carnívoros, na parte média do
enchimento, continham escassas indústrias líticas. Enfim, nos níveis
superiores, quase desprovidos da presença humana, abundam os restos de
aves, incluindo rapaces, com todo o cortejo de presas que normalmente lhes
estão associadas.
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Em conclusão: ainda que a informação cronométrica mereça esforços
adicionais no sentido da sua revisão/conformação, a abundância de indústrias
líticas e sua exclusiva atribuição ao Mustierense; a riqueza das associações
faunísticas reconhecidas, bem como a relação que foi possível estabelecer
entre ambos os conjuntos, ao longo da sequência estratigráfica estudada,
Fig. 41 uma das mais completas para o Mustierense do actual território português;
e, por último, a descoberta de um dente humano no topo da Camada 9, em
contacto com a Camada 7, num sector onde localmente faltava a Camada 8,
o qual viria a ser atribuído, pelas suas características, a um neandertal
(Ferembach, 1964/1965; Antunes et al., 2000), constituem elementos que
fazem desta gruta uma estação de referência do Mustierense Final Ibérico.
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4.4.7 Gruta da Figueira Brava (Setúbal)
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Deste modo, as datas publicadas em 2004 para o nível de 5-8 m do Forte da
Baralha devem ser encaradas com a maior reserva, até porque tentativas
anteriores do mesmo laboratório, conduzidas por equipa que integrava o autor,
sobre material idêntico e da mesma proveniência, foram inconclusivas, por
falta de colagénio.
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Face ao exposto, a ocupação humana identificada possui carácter residencial,
associada à exploração sistemática e não especializada dos diversos recursos
alimentares disponíveis nas imediações. A este propósito, salienta-se a
abundância de espécies marinhas, indicando a recolecção ao longo do litoral
rochoso ou arenoso, tanto na zona exposta entre marés como no domínio
infralitoral, incluindo a captura de crustáceos. A área de captação e de
exploração de recursos naturais não excederia a envolvência da estação, com
excepção do sílex esbranquiçado e por vezes zonado, o qual proviria da serra
de São Luís, a cerca de 10 km em linha recta. Mas a escassez desta
matéria-prima (161 produtos de debitagem e núcleos, num total de 3848
peças e 21 instrumentos, num total de 358) (Raposo & Cardoso, 2000 b),
atesta bem a escassa exploração deste recurso, apesar das suas evidentes
vantagens face à má qualidade das rochas locais, reforçando o carácter
localista, ainda que prolongado, desta ocupação humana.
Tal como na Gruta Nova da Columbeira, reconheceram-se ossos Fig. 43
intencionalmente partidos e utilizados. A presença humana nesta cavidade
encontra-se ainda ilustrada por um dente definitivo humano, cujas
características o remetem para neandertal (Antunes et al., 2000).
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da reescavação da gruta, entre 1989 e 1992. Foram, então, recolhidos
abundantes artefactos de quartzo, junto ao local já assinalado por Farinha
dos Santos, mas dentro da gruta, na zona que corresponde de facto à sua
entrada primitiva (Silva et al., 1991).
4.6 O Algarve
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de moluscos, a par da captura de mamíferos terrestres de médio porte (veado,
asinino e coelho), denunciando uma caça pouco especializada, compatível
com o largo espectro dos recursos capturados, dos quais (tal como se verificou
em outras grutas da Estremadura, acima descritas, também fazia parte a
tartaruga terrestre (Testudo sp.), e o coelho. A presença de restos de peixes,
denuncia o largo espectro da estratégia de exploração adoptada. A alta
densidade desta ocupação humana é indicada pelo facto de, tendo apenas
sido investigado 1 m², se terem recolhido mais de 200 artefactos, de
características mustierenses, a par da diversidade de matérias-primas
utilizadas, com predomínio do quartzo, mas também com sílex, quartzito e
até calcário (um núcleo discóide).
A outra estação que forneceu restos faunísticos foi a de Vale Boi. Trata-se de
um abrigo sob rocha situado de um dos lados de um amplo vale, a 2 km do
litoral, cujos níveis inferiores à ocupação mais antiga do Paleolítico Superior,
separados por 0,35 m de sedimentos, forneceram artefactos incaracterísticos
atribuíveis ao Mustierense, de quartzo, sílex e quartzito. Tais materiais estavam
associados a ossos queimados, a maioria de coelho, e a conchas. Uma vez
mais se evidencia o aproveitamento de caça miúda, bem como uma estratégia
de recolecção litoral, de evidente âmbito local, cujo expoente maior se
encontra representado pela Gruta da Figueira Brava.
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como, no lado oposto do grande estuário do Tejo, as estações de Cascalheira
e de Conceição, entre outras ali existentes, explorando intensamente a
abundante matéria-prima localmente disponível, constituída pelos seixos
rolados de quartzito carreados pelo Tejo a partir do Maciço Antigo. No entanto,
a falta de informação, devido à escassez de escavações em extensão, impede
conhecer a organização do espaço habitado, respectivos limites e eventual
existência de áreas de actividades específicas.
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de porte grande a médio, à época comuns nos respectivos biótopos, como o
auroque e o cavalo, característicos de espaços abertos, ou o veado,
correspondente a áreas mais florestadas. A ausência notória de certas espécies,
como o javali, prende-se sobretudo com a dificuldade da respectiva captura.
Seja como for, a caça pelo Homem de grandes mamíferos, está claramente
documentada pelo auroque (eventualmente pelo elefante, em Santo Antão
do Tojal), encontrando-se alguns dos seus ossos fracturados intencionalmente
e até, como na Gruta da Figueira Brava, transformados em diversos
instrumentos (Cardoso, 1993, Est. 13, n.º 5).
A caça de presas de porte médio, como o veado e a cabra montês está também
documentada, tanto na Gruta Nova da Columbeira, como na Gruta da Figueira
Brava); porém, em ambas, o veado constitui a maioria dos restos (com quase
60% na primeira e 34% na segunda); outras espécies, como o cavalo e a
cabra montês, encontram-se presentes em ambas as estações, mas em
quantidades diferentes, devido à natureza dos respectivos biótopos (o
contributo dos predadores não se pode quantificar, mas seria pouco
significativo, a ter em consideração o número de restos conservados,
especialmente nas Camadas 8 e 9 da Gruta Nova da Columbeira, como
anteriormente se sublinhou). A presença exclusiva do veado entre a fauna
caçada na Gruta da Oliveira, nos níveis mustierenses mais modernos datados,
depois de calibrados, entre 38 000 – 37 000 a. C. indica a existência de um
clima temperado, talvez mais quente que o correspondente à presença da
espécie nas duas grutas supracitadas, ambas ligeiramente mais recentes,
respectivamente 36 000 a. C. para a Gruta da Figueira Brava e 34 000 –
31 000 a. C. para a Gruta Nova da Columbeira, em datas calibradas, a
aceitar-se este resultado, pelas razões atrás expostas. Nessa época, o clima
seria mais fresco que o actual, dada a presença, em ambas, da cabra montês.
A ser assim, a degradação climática no sentido de um progressivo arrefeci-
mento, ter-se-ia iniciado naquela época, conduzindo, cerca de 18 000 anos
antes do presente ao pleniglaciário.
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aquela que denuncia maior incidência antrópica. A origem humana da sua
presença é, pois, inquestionável. A mesma conclusão é extensível aos restos
desta espécie provenientes dos níveis mais profundos da Gruta da Oliveira,
os quais se apresentam incarbonizados, tal como os de coelho aos quais se
encontram associados. Na verdade, ambas as espécies afiguram-se abundantes
na generalidade das grutas com ocupação humana mustierense – assinalada
igualmente na Gruta de Ibne Amar (Bicho, 2004) – ainda que em quantitativos
variáveis, evidenciando uma prática paralela de captura sistemática de
pequenos animais, que parece ter sido generalizada no Mustierense Final do
território português.
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concluiu-se, deste modo, que os respectivos territórios de captação de recursos
teriam sofrido redução na sua extensão (Zilhão, 2001, Fig. 2). No entanto, a
observação da referida figura evidencia apenas o declínio da presença do
sílex entre o conjunto recuperado no "cone mustierense" e o conjunto das
Camadas 8 a 12; como bem assinalou N. Bicho (Bicho, 2004), a evolução
verificada nesta última sequência é positiva, verificando-se aumento
consistente entre a Camada 11 e a Camada 8. Do mesmo modo, na Gruta
Nova da Columbeira, embora o total dos artefactos de sílex sofram um
aumento ao longo do tempo, o total dos utensílios desta rocha mantém-se
próximo da estabilidade (Cardoso, Raposo & Ferreira, 2002, Fig. 18). Assim
sendo, a conclusão da redução dos territórios de aprovisionamento, com base
no referido critério, não se afigura válida. Atente-se ainda na duvidosa
legitimidade de um tal indicador: na Gruta Nova da Columbeira foi real o
aumento da utilização do sílex; mas este aumento não se encontra relacionado
com uma efectiva necessidade de abastecimento de matéria-prima de
qualidade superior, uma vez que o número de utensílios nela fabricados não
aumentou, ao contrário do verificado precisamente com o quartzo e o
quartzito, conforme já anteriormente se assinalou.
Seja como for, devem também ter-se em consideração outras variáveis, como
trocas entre-grupos, ou aspectos culturais que conduziam à preferência por
determinado tipo de rocha, sem excluir, naturalmente, a efectiva mobilidade
destas comunidades e, com ela, o tamanho dos correspondentes territórios;
são estes factores, que, actuando em conjunto explicarão, por exemplo, a
quase exclusiva utilização do quartzo no Mustierense, substituído pelo sílex
nas ocupações do Paleolítico Superior da Gruta do Escoural.
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No Algarve, as estações até agora conhecidas não se situam a mais de 10 km
do litoral actual (Bicho, 2004), o que se compreende, pelo facto de o interior
algarvio, em boa parte, se encontrar, então, ocupado por denso coberto
florestal, dificultando a circulação e a prática da caça; seriam excepção as
linhas de água, que, tal como na Estremadura, constituíam boas vias de
penetração e de circulação, favorecendo a presença da caça e, deste modo, o
estacionamento de grupos em acampamentos ao ar livre, realidade que se
encontra particularmente evidenciada pelos testemunhos encontrados no vale
do Tejo e seus afluentes ou sub-afluentes, como o rio Nabão, na região de
Tomar.
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frio que o actual, mas com verões suficientemente quentes e insolados, que
permitiam a presença de espécies mediterrâneas. O estudo dos insectívoros,
quirópteros e lagomorfos recolhidos forneceu conclusões compatíveis com
as anteriores: associação de elementos mediterrâneos com elementos nórdicos,
indicando clima mais frio que o actual, e terrenos mais ou menos florestados
e rochosos; também os roedores sugerem clima temperado fresco, realidade
não muito diferente da obtida através do estudo da microfauna da Camada K
da Gruta do Caldeirão: a presença de Allocricetus bursae nesta camada,
testemunha a mais vasta extensão alguma vez registada para oeste desta
espécie, cuja migração se encontra relacionada com o arrefecimento climático
reportado àquela época. Ao contrário, o estudo dos roedores da Camada 8 da
Gruta da Oliveira levou à conclusão que, há cerca de 38 000 – 37 000 a. C.,
existiria um clima mediterrâneo na região; deste modo, também os pequenos
mamíferos conduzem à conclusão de ter existido um arrefecimento climático
progressivo, no decurso do Mustierense Final em Portugal.
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subespécie arcaica de lobo, de pequeno tamanho (Canis lupus lunellensis),
na gruta da Furninha (Peniche), no início do último período glaciário (cerca
de 80 000 anos atrás), enquanto que, na Europa além Pirenéus, tais subespécies
apenas se encontram registadas até ao interglaciário de Mindel-Riss, não
conseguindo sobreviver aos rigores do frio rissiano, com início há cerca de
250 000 anos.
Em 2002, tal modelo era assim exposto: "Entre cerca de 36 000 e cerca de
30 000 BP, a depressão do Ebro parece ter constituído uma fronteira
biocultural estável (...). No presente, essa depressão corresponde também à
fronteira que separa os domínios faunísticos ibérico e euro-siberiano, e os
dados disponíveis indicam que, no intervalo de tempo em causa, terá
desempenhado um papel biogeográfico semelhante: a sul, a Península Ibérica
estaria dominada pelo bosque temperado, enquanto, a norte, dominavam as
paisagens abertas de tipo estepe-tundra. As populações de tipo moderno que
penetraram na Europa ao longo do corredor danubiano desenvolveram
adaptações culturais a estes ecossistemas. Quando, com a deterioração das
condições climáticas globais (…), tais ecossistemas se estenderam para sul,
essas populações começaram a dispersar-se por toda a península,
misturando-se com os neandertais e gerando as populações mestiças de que
descendia a criança do Lapedo" (Zilhão & Trinkaus, 2002, p. 567).
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disponíveis implicariam um modelo de dinâmica populacional que se contrai
durante as fases áridas e de frio mais intenso e se expande durante as fases
interestadiais, mais quentes, dando a ideia de um desenvolvimento regional
do Aurignacense do Sudoeste europeu a partir das indústrias do Mustierense
Tardio realizadas pelos Neandertais; tais indústrias de transição, contudo,
estão completamente ausentes do território português, onde o Aurignacense
está de momento apenas representado no seu estádio evoluído. De comum,
com o anterior modelo, o facto de a inter-penetração geográfica dos territórios
ocupados respectivamente pelos dois grupos humanos, depender de causas
climáticas. Importa, naturalmente, proceder à análise crítica desta nova visão
das modalidades de transição do Paleolítico Médio/Superior na Península
Ibérica, a qual foi já objecto de uma primeira discussão e análise crítica, em
estudo já várias vezes referido (Zilhão, 2006).
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5. O Paleolítico Superior
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Apesar da segunda monografia arqueológica publicada em Portugal ser
dedicada a uma importante estação do Paleolítico Superior – a gruta da Casa
da Moura, Óbidos (Delgado, 1867) – as respectivas indústrias ficaram muito
tempo por identificar como tal, à semelhança do que aconteceu com as peças
da mesma época recolhidas na gruta da Furninha, Peniche (Delgado, 1884).
Com efeito, a semelhança com materiais mais modernos era evidente, tendo
sido com eles confundidos. Foi apenas em 1918, no decurso da primeira
estada em Portugal de Henri Breuil, que este reconheceu, de entre os materiais
das colecções da antiga "Commissão Geologica de Portugal", recolhidos na
gruta da Casa da Moura, diversos fragmentos de zagaia de osso, que lhe
sugeriram integração no Magdalenense Antigo, acompanhadas de um
conjunto de artefactos de sílex, atribuíveis também ao Magdalenense. Breuil
concluía esta primeira nota sobre a presença do Paleolítico Superior em
Portugal da seguinte maneira:
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média de 0,25 m, com máximo de 0,35 m (secção 9) e mínimo de
0,10 m (secções 6 e 7);
Nível 4 – "terra rossa" com fauna de grande porte, tendo colmatado a
base da fissura, cuja espessura não pôde ser determinada. Continha
indústria pouco típica, provavelmente do Paleolítico Médio.
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conhecimentos realizada antes da retoma das investigações em Portugal, no
final da década de 1970 (Zbyszewski, Leitão & Ferreira, 1999/2000).
Data dessa época o início das escavações da gruta do Caldeirão (Tomar), por
iniciativa de João Zilhão; ali vieram a recolher-se importantes testemunhos,
em estratigrafia, de sucessivas ocupações do Paleolítico Superior, que
impunham estudo actualizado. Ao mesmo tempo, o referido arqueólogo,
iniciou, no Museu Nacional de Arqueologia, o estudo sistemático dos
materiais das escavações de Manuel Heleno, tanto na região de Torres Vedras
como na de Rio Maior. O sucesso de tal linha de trabalhos justificou o
desenvolvimento, na década de 1980, ainda por iniciativa de João Zilhão, de
parcerias com especialistas norte-americanos, de que resultou não só uma
maior visibilidade internacional dos resultados entretanto obtidos,
potenciando novas e frutuosas colaborações, particularmente as de carácter
pluridisciplinar, mas também a formação, nas universidades norte-americanas,
de uma nova geração portuguesa de especialistas no Paleolítico Superior de
Portugal, que actualmente desenvolvem actividades, num efeito multiplicador,
que conduziu, nos últimos vinte anos, a notáveis progressos, sem paralelo
em nenhum outro período da nossa Pré-História, no mesmo intervalo de
tempo – apesar de ser, também, aquele que se encontrava mais carecido de
estudos actualizados, a par do Paleolítico Inferior e Médio.
5.1 Aurignacense
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especialmente as lamelas de tipo Dufour, subtipo Dufour, pequenos micrólitos,
estreitos e muito alongados, com extremidade em ponta, produzida por
retoques semiabruptos alternados.
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revisão da operacionalidade do conceito "Aurignacense" a nível europeu
(Zilhão & D’Errico, 2003).
5.2 Gravettense
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principalmente da presença dominante de pontas líticas, de tipo especial
(Pontas de Casal do Felipe, estação de ar livre da região de Rio Maior, a
Fig. 51 outra das estações fontesantenses até ao presente conhecidas), consideradas
o fóssil director do Fontesantense. Trata-se de uma ponta utilizada como
armadura, "simétrica, em que o ápice está situado sobre o eixo de debitagem
e resulta da convergência de dois bordos modificados pela aplicação de um
retoque bilateral abrupto executado sobre suportes laminares ou lamelares
(...)" (Zilhão, 1997, p. 195).
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identificação e escavação da estação do Vale Boi, Vila do Bispo, por uma
equipa liderada por N. Bicho; a ocupação do Gravettense foi datada em cerca
de 24 300 anos BP. Estas últimas descobertas, mostram que o que se conhece
actualmente no interior do território, é uma ínfima parte da informação ainda
por conhecer, o que só será possível com prospecções aturadas e dirigidas
para a identificação de tão ténues vestígios.
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Solutrense, face ao padrão verificado na área estremenha. Todas estas diferenças –
a que se poderiam juntar outras – sugerem que se está perante um "grupo
étnico-social diferente do que se conhece no Gravettense da Estremadura" (op.
cit., p. 380), denotando, em contrapartida, maiores afinidades com o Levante
Espanhol, hipótese que poderia explicar o povoamento do Algarve, a partir do
litoral levantino e andaluz, há cerca de 27 000 anos BP.
5.3 Solutrense
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quais só aparecem no Solutrense Superior. Aquela designação resulta de a
sua morfologia se aproximar do contorno lanceolado das folhas daquela
árvore. O retoque atinge, então, grande perfeição, sendo produzido por pressão
orientada, de levantamentos alternos, a partir de ambos os bordos dos suportes, Fig. 51
sobre lasca ou laminares. No Protosolutrense, a ocupação das grutas
multiplica-se, na Estremadura, enquanto os sítios de ar livre abundam,
especialmente na região de Rio Maior, mas também na região do Côa (Salto
do Boi, Cardina I), recentemente descobertos.
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um ensaio de reconstituição paleodemográfica, o primeiro a ser apresentado
para o Paleolítico Superior em Portugal. A informação entretanto recolhida,
mercê de intensos trabalhos de prospecção e de escavação, conduziu o referido
autor a sucessivos aperfeiçoamentos do modelo proposto. Assim, João Zilhão
admitiu, com base em paralelos etnográficos actuais e tendo presentes as
condições prováveis geoambientais da época que, no decurso do Paleolítico
Superior, a densidade populacional na actual Estremadura não ultrapassaria
0,05 habitantes por km²; admitindo que cada bando fosse constituído por
cerca de 25 indíduos, número considerado como óptimo, a cada um deles
corresponderia um território de 400 a 500 km². Este pressuposto, faria com
que a Estremadura estivesse compartimentada, ou partilhada, por diversos
bandos, tendo presente que, no pleniglaciário, ou em época próxima, entre
21 000 e 18 000 anos BP, correspondente ao Solutrense Superior, o litoral
ocidental estender-se-ia, nalguns casos entre 40 e 50 km para lá da linha de
costa actual, correspondente a um abaixamento do nível marinho de cerca de
120 m. Nestas circunstâncias, a degradação climática então observada,
conduziu objectivamente a uma melhoria das bases de subsistência, já pelo
aumento dos próprios territórios de caça, já, sobretudo, pelo desenvolvimento
de um coberto vegetal mais aberto, favorável à multiplicação das manadas
de grandes herbívoros, como o auroque e o cavalo. Assim, as grutas, situadas
no maciço calcário, seriam utilizadas como sítios sazonais ou logísticos,
enquanto que os acampamentos de ar livre se desenvolveriam de ambos os
lados daquela linha de relevos.
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funções (pontas de arremesso). Esta é uma prova da rápida expansão de tipos
específicos, oriundos de áreas culturais diversas, revelando a sua coexistência,
na mesma região, a efectiva coexistência de raízes culturais diferentes.
5.4 Magdalenense
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espacialmente como cronologicamente, escavado entre 1987 e 1993 por uma
equipa co-dirigida por João Zilhão e A. E. Marks.
Fig. 59 Encontra-se também datado na gruta do Caldeirão (Tomar) consubstanciando,
assim, a ocupação sincrónica de ambos os tipos de habitat, como
anteriormente. A produção lítica era dominada pela grande quantidade de
vários tipos de raspadeiras e pela produção de lamelas, transformadas por
retoque em armaduras microlíticas de artefactos compósitos, cujas
características são hoje impossíveis de conhecer.
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rochosas e fundos arenosos, bem como ambientes estuarinos, realidade que
é compatível com o registo ictiológico encontrado. Esta tendência para a
diversidade na exploração dos recursos, aliando a caça à pesca e à recolecção,
corresponde a uma linha evolutiva que, já vislumbrada no Paleolítico Superior
Final, se vai acentuar, na região estremenha, logo no início do pós-glaciário
(Epipaleolítico).
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Aurignacense, atrás referido), elementos que seriam montados em artefactos
compósitos, incluindo zagaias e flechas. A miniaturização faria, pois, sentido,
se entendida como consequência do aumento do recurso ao arco, arma
neurobalística já conhecida pelo menos desde o Solutrense Superior, como
indicam as pontas de seta pedunculadas com aletas encontradas em diversas
grutas do maciço calcário, de tipo mediterrâneo, como as das grutas da Casa
Fig. 56 da Moura (Óbidos), Caldeirão (Tomar) e Salemas (Loures), para além de
pontas de menor tamanho e peso, com forte pedúnculo e aletas incipientes,
de que se conhecem representantes nas grutas das Salemas e da Ponte da
Lage, Oeiras (Cardoso, 1995).
O crescente recurso ao arco pode ser entendido, por seu turno, como a
consequência directa de uma maior mobilidade dos grupos humanos,
especialmente dos caçadores, que, para percorrer percursos cada vez mais
extensos, teriam de socorrer-se de equipamentos progressivamente mais leves,
e também mais eficazes. Tal foi o resultado a que conduziu o aparente aumento
demográfico então verificado – a crer no acréscimo dos sítios conhecidos –
com a consequente pressão sobre os recursos e a necessidade de aumentar as
áreas de captura correspondentes.
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relacionados com o empreendimento de Alqueva. Dos nove sítios com
ocupações do Paleolítico Superior, o Magdalenense é o período melhor
representado (Almeida, Araújo & Ribeiro, 2002).
Da gruta das Salemas provêm cinco peças, das quais duas apenas com a falta
da extremidade distal; destas, uma é também executada em osso peniano
(neste caso de urso), e foi atribuída logo após a descoberta, ao nível
perigordense identificado na gruta (Roche, Ferreira & França, 1961). J. Zilhão,
reconheceu igualmente a existência desse nível, que integrou no Gravettense,
ao qual pertenceria a referida peça, conjuntamente com duas outras pequenas
zagaias (Zilhão, 1997, Fig. 25.2). Já a outra zagaia quase completa provém
do nível solutrense: trata-se de peça estreita e alongada, finamente trabalhada.
Fig. 54
Outra gruta que forneceu uma importante associação de peças ósseas, foi
a da Buraca Grande, provenientes de um contexto estratigráfico datado de
17 850 ± 200 anos BP, e atribuível ao Solutrense Superior. Trata-se de pontas
de zagaia em geral curtas e largas, num caso decorada (Aubry & Moura,
1994, Est. VI).
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5.5 Manifestações artísticas e funerárias do Paleolítico Superior
Arte rupestre
Mas a grande descoberta de arte paleolítica europeia dos últimos tempos foi
a do vale do Côa, a ponto de Henri de Lumley, a ter considerado como uma
das mais importantes jamais feitas desde que a Pré-História existe como tal
(Lumley, 1995). A importância científica deste conjunto artístico, foi ainda
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recentemente confirmada, ao ter sido promovido pela UNESCO à categoria
de "Património Mundial de Humanidade".
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As representações foram obtidas tanto por abrasão como por incisão, ou
ainda por abrasão e raspagem, por vezes associada às técnicas anteriores.
Quanto à temática, dominam cavalos e auroques, sendo menos frequentes
os veados e as cabras-monteses, e excepcionais outras representações, como
peixes (na Canada do Inferno e em Penascosa), ou a figura humana, presente
no painel 2 da ribeira de Piscos. Mais recentemente, foram noticiadas novas
descobertas, na rocha 24 da ribeira de Piscos, com numerosas reprsentações
antropomórficas, o que constitui elemento de grande raridade na arte do
Paleolítico Superior, sabendo da aversão dos artistas daquele tempo na
reprodução da figura humana. Foram obtidas por finas linhas incisas e
pertencem à última fase artística deste complexo, ou seja, ao Magdalenense
Final, com paralelos da mesma época na arte parietal franco-cantábrica.
A prova de que a arte rupestre do Côa não é caso isolado reside nos numerosos
achados – por enquanto apenas ocorrências esparsas – de insculturas rupestres
a céu aberto, distribuídas por vasta área do interior do país, desde o Nordeste
transmontano ao vale do Guadiana (apenas na margem espanhola), passando
pela Beira Baixa: é o caso do cavalo do vale do Ocreza, no concelho de
Mação (Zilhão, 2001; Baptista, 2001) e, mais recentemente, das figuras
identificadas na margem direita do Zêzere, no sítio do Poço do Caldeirão, do
concelho do Fundão (Baptista, 2003). Aqui, sobre afloramento xistoso,
identificou-se painel gravado por picotagem em superfície horizontal,
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possuindo três representações semi-naturalistas de equídeos, orientados todos
para o mesmo lado e voltados para o rio. Outra rocha, ao lado da anterior,
ostenta dois capríneos afrontados, aproveitando-se parcialmente a micro-
morfologia da superfície rochosa para sublinhar particualridades anatómicas
do corpo dos animais. Tal aspecto já se tinha observado na arte do Côa,
designadamente nos cavalos da Rocha 1 da ribeira de Piscos e na representação
de peixe patente na Rocha 5 de Penascosa. Cronologicamente, as duas rochas
são distintas, tendo presente o estilo e a técnica com que se executaram as
figuras.
Arte móvel
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Rituais funerários
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quais já anteriormente se traçou a trajectória e principais características da
sua presença no território português – não teriam, simplesmente, desaparecido
sem descendentes; ao contrário, o seu património genético dissolveu-se no
seio das novas populações recém chegadas, fazendo, deste modo, parte
integrante da nossa ancestralidade. Esta hipótese, invocada pelas
características físicas do "menino do Lapedo" – que ora indicam o Homem
Moderno, ora sugerem a manutenção de traços neandertais – carece de ser,
naturalmente, testada com base em outras descobertas da mesma faixa crono-
lógica, que se venham futuramente a efectuar. Em todo o caso, fica por explicar
cabalmente a já aludida descontinuidade absoluta entre as indústrias do
Paleolítico Médio (Mustierense) e as do Paleolítico Superior (Aurignacense),
facto que se encontra em contradição com a pretensa continuidade expressa
pela sepultura do Lapedo, a menos que, conforme foi recentemente defendido,
se tenha verificado uma "interacção desequilibrada em favor dos grupos
modernos": enquanto, no plano biológico, resultou uma população
miscigenada, no plano cultural (arqueológico) houve, simplesmente, uma
substituição, em benefício das indústrias mais evoluídas e, por conseguinte
mais eficazes. Com efeito, as indústrias que correspondem a esta fase de
pretensa coexistência, como já anteriormente se salientou – os
tecnocomplexos Aurignacense e Gravettense – não possuem, no território
português, quaisquer traços herdados do tecnocomplexo anterior
(Mustierense).
Outras grutas, ou abrigos sob rocha, deram, ainda que em poucas quantidades
e em estado muito fragmetário, outros restos humanos do Paleolítico Superior:
estão neste caso as grutas da Lapa da Rainha, Vimeiro (Almeida et al., 1970)
e do Caldeirão, Tomar (Trinkaus, Baley & Zilhão, 2001; Zilhão & Trinkaus,
ed., 2002), denunciando a existência de sepulturas nas proximidades dos
espaços habitados no interior de grutas e abrigos, como é o caso da sepultura
do Lapedo, adjacente a zona habitada.
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6. O Mesolítico
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O estudo dos tempos mesolíticos no território português suscitou, desde os
primórdios da investigação arqueológica em Portugal, grande interesse por
parte dos pré-historiadores, tanto portugueses como estrangeiros. A grande
atenção dispensada à exploração dos concheiros de Muge, desde a época da
sua descoberta, esteve na origem da primeira monografia editada em Portugal
sobre uma estação pré-histórica, da autoria de F. Pereira da Costa, em 1865
(Costa, 1865). A riqueza da informação disponível, a quantidade de trabalhos
e monografias – mais de cem – até agora dedicadas a estas estações, bem
como as informações novas que carrearam para o conhecimento do
Mesolítico, à escala europeia, justificou a apresentação de uma desenvolvida
síntese dos conhecimentos adquiridos, articulados com outros dos concheiros
do vale do Sado. Tais conhecimentos foram, a partir da década de 1980,
completados, no concernente às comunidades recolectoras e caçadoras, não
só com os obtidos no litoral estremenho, em parte suas antecessoras, mas
também com os resultados das estações que, do Mira se estendem ao cabo
vicentino, também objecto de discussão neste capítulo.
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Merecem destaque as seguintes estações:
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áreas diferenciadas, uma delas caracterizada por uma espessa acumulação
de conchas, umas estuarinas, outras características de litoral rochoso, como
o actual. As datas obtidas para os dois núcleos ocupacionais, mostram, como
seria de esperar, uma presença mais prolongada no concheiro mais compacto
e com maior potência de detritos acumulados, entre cerca de 8170 ± 80 e
7610 ± 80 anos BP, correspondentes, respectivamente, aos intervalos
calibrados para cerca de 95 % de probabilidade de 7423-6817 a. C. e
6553-6224 a. C. Neste concheiro reconheceu-se, segundo N. Bicho, a presença
de Littorina littorea (Bicho, 2000), pequeno molusco que é considerado de
águas frias, tendo desaparecido do litoral do golfo da Biscaia cerca de
2500 anos antes. Neste estudo procurou-se abordar o antigo coberto vegetal
que existiria na zona e identificar a madeira usada como combustível nas
lareiras epipaleolíticas ali identificadas (Queiroz & Van Leewaarden, 2002).
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Toledo (Lourinhã) – a norte da estação anterior e a cerca de 3 km do litoral
actual, situa-se o concheiro de Toledo; as escavações efectuadas (Araújo,
1998), permitiram identificar acumulação faunística onde também coexistem
moluscos estuarinos ou litorais, de fundos arenosos ou vasosos (berbigão,
lamejinha, amêijoa, ostra, navalheira) com espécies de litoral rochoso, como
o mexilhão e a lapa.
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dos recursos aquáticos na alimentação, a qual poderá ser correlacionada com
uma eventual escassez da caça, resultante da pressão cinegética anterior, face
ao provável aumento demográfico. Pode ser que tal escassez tenha sido
determinada por causas naturais, designadamente climáticas: tanto quanto
se pode concluir pelos dados paleoclimáticos disponíveis, o clima, na
Estremadura, seria tendencialmente temperado no Pré-Boreal, passando
progressivamente a quente e seco, no Boreal, condições que favoreceriam,
aparentemente, a presença da caça.
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de outras, e, com elas, a existência de elevada mobilidade, associada a tais
pequenos grupos humanos de caçadores-recolectores, entre o litoral e o
interior, percorrendo vastos territórios de exploração; com efeito, a transição
de Dryas III para o Pré-Boreal, cerca de 10 000 anos BP, foi abrupta, podendo
ter-se verificado em apenas vinte anos, conforme estudos recentes realizados
nas calotes polares da Gronelândia. Ou seja, em menos de uma geração, a
temperatura média subiu entre 5 a 10° C, com a consequente subida
catastrófica do nível marinho e, por conseguinte, da brusca modificação da
base económica das populações ribeirinhas que o frequentavam.
A exploração ali realizada (Arnaud & Bento, 1988), evidenciou uma espessa
acumulação de conchas de moluscos estuarinos, de mistura com alguma fauna
caçada de médio e pequeno porte (veado, coelho e lebre; a raposa e o texugo
crê-se que ocupariam naturalmente o local). A datação obtida para conchas
de berbigão da parte média do depósito, deu o resultado de 9710 ± 70 anos
BP, a que corresponde o intervalo calibrado, para cerca de 95 % de probabilidade,
de 9051-8610 a. C.; outra, mais moderna, corresponde à data de 9650 ± 90 anos
BP (intervalo de 8582-8081 a. C.). Estes resultados integram a formação do
depósito arqueológico no início do período Pré-Boreal, por populações cujo
padrão de subsistência se afigurava idêntico ao das suas vizinhas ribeirinhas,
semelhança que a assinalável distância que as separa torna assaz insólita
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(Gonzalez Moralez & Arnaud, 1990); esta realidade obriga a admitir, no
quotidiano de então, certos comportamentos ditados por critérios não
estritamente funcionalistas (Arnaud, 2002); seja como for, as provas materiais
recolhidas – onde não faltam diversas contas de colar do molusco marinho
Theodoxus fluviatilis – provam a relativa facilidade e rapidez com que se
efectuavam, à época, as deslocações ao litoral, sendo certo que os restos de
moluscos encontrados testemunham actividades alimentares, de produtos
comestíveis facilmente degradáveis e que, portanto, teriam de ser consumidos
rapidamente. Por certo, tal seria possível, utilizando-se os vales dos cursos
de água que desaguam no Oceano, como vias de circulação prioritárias.
Mais para norte, deve assinalar-se a gruta da Buraca Grande, em plena serra
de Sicó (concelho de Pombal), a qual forneceu, na sua camada 8, uma indústria
lítica constituída por raspadeiras sobre lasca e sobre núcleo, lamelas de retoque
marginal e núcleos. Estes materiais encontram-se datados através de várias
análises de radiocarbono sobre madeira incarbonizada (7580 ± 30 anos BP;
8120 ± 70 anos BP; 8445 ± 20 anos BP e 8680 ± 40 anos BP, correspondentes
aos intervalos calibrados, para cerca de 95% de probabilidade de,
respectivamente, 6456-6367 a. C.; 7298-6775 a. C.; 7535-7434 a. C.; e
7898-7544 a. C. (Aubry, Fontugne & Moura, 1997; Araújo, 2003). Deste
modo, como se admite que esta ocorrência mesolítica não seja única, visto
estar acompanhada por outras, também datadas da mesma época (Boreal),
como o Abrigo da Pena de Mira e o Abrigo Grande das Bocas, este último no
concelho de Rio Maior, pode concluir-se que a presença humana em domínios
interiores e montanhosos da Estremadura – designadamente em grutas ou
abrigos, como os referidos – foi uma realidade talvez mais insistente que a
sugerida pela escassa informação presentemente disponível.
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coerente: assim, enquanto que na camada mais antiga ("Fundo") se evidencia uma
fauna de grandes mamíferos variada, com cavalo, auroque, veado, cabra-montês e
camurça, correspondente a uma ocupação prolongada do abrigo, tal variedade
diminui drasticamente na Camada 0 (apenas com auroque, cavalo e javali), mas
onde, ao contrário, se assinalou fauna marinha, representada por conchas de berbigão
e de lapa, correspondendo a estacionamentos menos prolongados. A ausência de
fauna caçada na camada seguinte (Camada 1), é compensada pela abundância de
grande quantidade de conchas, o que levou N. Bicho a admitir que o grupo
responsável por tal acumulação teria vindo da costa, estabelecendo no abrigo um
acampamento de carácter funcional, especializado na produção de micrólitos,
aproveitando para o efeito o sílex, disponível a cerca de 1 km de distância.
158
© Universidade Aberta
Ao contrário das anteriores, por ser em campo aberto, a estação de Areeiro III, Rio
Maior, forneceu uma abundante indústria lítica e estruturas de combustão
semelhantes às encontradas na Ponta da Vigia e, como aquelas, datadas do início
do período Boreal (Zilhão et al., 1996; Bicho, 2000). As quatro datações sobre
madeira carbonizada deram os seguintes resultados e intervalos calibrados,
para cerca de 95 % de probabilidade (Araújo, 2003): 8380 ± 90 anos BP (7546-
-7097 a. C.); 8570 ± 130 anos BP (7929-7314 a. C.); 8850 ± 50 anos BP (8023-
-7705 a. C.); e 8860 ± 80 anos BP (8038-7644 a. C.).
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© Universidade Aberta
os quais, por ordem de importância decrescente, em termos de número de
restos encontrados são os seguintes: veado; auroque; javali; corço; coelho; e
cavalo. O espectro faunístico detectado, a natureza do sítio, as características
da indústria lítica e, enfim, a cronologia absoluta, levam a admitir que esta
estação constituísse um prolongamento ocidental do sistema de povoamento
do vale do Tejo, então florescente, o qual, deste modo, não funcionaria em
regime fechado, totalmente avesso a contactos exógenos, dos quais, aliás,
dependia parte do aprovisionamento de matérias-primas: é o caso do sílex,
presente nos concheiros de Muge, oriundo justamente da margem direita do
Tejo e, em parte, da região de Rio Maior, onde este sítio se localiza.
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© Universidade Aberta
de cunho residencial, que lhe possa corresponder. Assim, é também lícito
admitir um modelo intermédio, representado por pequenos grupos de alta
mobilidade, baixo grau de permanência e elevada especialização funcional,
aspectos que se verificam no sítio em causa (Sousa, 2004). É provável que
tão grande raridade de ocorrências similares se deva, em parte à transgressão
marinha, que poderá ter ocultado muitas estações (mas, sendo assim, não se
compreende porque apenas estas não ocorrem, ao contrário das mais antigas).
Findo o período mais frio da glaciação, a ascensão do mar foi, de início lenta; há
cerca de 16 000 anos BP, o nível do mar estabilizou em torno da batimétrica -100
m, onde permaneceu cerca de 3000 anos. Porém, entre 13 000 e 11 000 anos BP,
observaram-se importantes modificações no clima e no regime oceânico. A corrente
do Golfo, penetrando até ao mar de Barrents, teria promovido a rápida fusão dos
gelos defronte da frente atlântica europeia e o recuo da frente polar, que
anteriormente se havia instalado ao nível da Península Ibérica, para o Atlântico
norte-ocidental. A temperatura da água no actual litoral português seria semelhante
à actual, com correspondência no rápido movimento transgressivo então verificado,
que levou o mar para a batimétrica -40 m. Ou seja, em apenas 2000 anos, o mar
subiu cerca de 60 m, alagando bruscamente vastos territórios anteriormente
ocupados por diversos grupos humanos. É óbvio o impacte de tal fenómeno sobre
o quotidianos de tais comunidades, obrigadas a alterar, em tão curto espaço de
tempo, o seu quotidiano e lugares habitados.
No decurso dos primeiros tempos do Holocénico, a subida do nível marinho
continuou, devida ao rápido aquecimento global verificado no hemifério norte,
com a consequente fusão dos gelos retidos nos glaciares. Cerca de 10 000 anos BP,
aquela subida, no que ao litoral atlântico português diz respeito, foi de cerca de
40 m em apenas 2000 anos, atingindo há cerca de 8000 anos BP, a cota de -20 m.
E a subida continuou, paulatinamente, até o mar atingir, cerca de 5000 anos BP, o
nível actual onde, com pequenas oscilações, se manteve até à actualidade.
Nessa época, o clima seria tendencialmente temperado (Pré-Boreal, entre
10 000 e 8800 anos BP), passando progressivamente a quente e seco (Boreal, entre
cerca de 8800 e 7500 anos BP). Tais condições parecem apontar para uma regressão
nas manchas florestais, em resultado da subida da temperatura e da diminuição da
humidade (optimum climaticum), favorecendo o desenvolvimento de vastas
pradarias e zonas abertas, onde auroques e cavalos poderiam encontrar as condições
adequadas de desenvolvimento, a par de javalis e veados nas zonas mais arborizadas,
favorecendo a economia alimentar das populações, que continuaram organizadas
em bandos de caçadores/recolectores, porém certamente mais numerosos que os
161
© Universidade Aberta
anteriormente constituídos, devido ao provável aumento demográfico então
verificado. É neste contexto que se irão desenvolver as primeiras formas de
povoamento semi-sedentárias, consubstanciadas pelos concheiros do vale do Tejo,
a seguir apresentados, já do Atlântico.
162
© Universidade Aberta
Estava, assim, justificada, com a preocupação que então agitava a comunidade
científica, a saber, a antiguidade da espécie humana, a razão de ser das
referidas indagações de campo.
Em 1882, com o falecimento de Carlos Ribeiro, a direcção dos trabalhos de
campo foi confiada a Francisco de Paula e Oliveira; mas o prematuro
falecimento deste impediu o desenvolvimento dos trabalhos, os quais, ainda
assim, deram origem a um importante artigo, já publicado postumamente
(Oliveira, 1888/1892).
Foram os seguintes os concheiros mesolíticos reconhecidos no século XIX
no vale da ribeira de Muge: na margem direita, Moita do Sebastião e Cabeço
da Amoreira; na margem esquerda, Fonte do Padre Pedro (desaparecido) e
Fig. 77
Cabeço da Arruda. No vale da ribeira de Magos, também tributária da margem
esquerda do Tejo, a jusante da anterior, foram identificados os concheiros de
Cova da Onça e Monte dos Ossos, sinónimo do topónimo de Quinta da
Sardinha e de Arneiro do Roquete. Todos eles pertencem ao actual concelho
de Salvaterra de Magos.
Fig. 74
É de destacar a importância que o estudo científico dos concheiros conheceu
a nível internacional, logo no século XIX. Prova disso, é a reunião em Lisboa,
em Setembro de 1880, da IX Sessão do Congresso Internacional de
Antropologia e Arqueologia Pré-Históricas, no qual a discussão dos resultados
das explorações até então efectuadas constituiu um dos pontos mais
importantes da reunião. Com efeito, importava situar os concheiros das
ribeiras de Muge e de Magos no quadro cultural dos tempos pré-históricos
então vigentes. Uma das questões a debater, era, precisamente a seguinte:
Comment se caractérise l’âge néolithique en Portugal?
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de cento e vinte anos de distância, uma importância muito superior àquela
que, na época, lhe foi concedida. Com efeito, não sendo paleolíticos, nem
neolíticos, os concheiros de Muge deveriam ser integrados numa etapa
cultural, então ainda mal definida, mas para cuja creditação foram
testemunhos essenciais.
164
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relações entre o Capsiense do Norte de África e algumas civilizações do
Paleolítico Final e do pré-Neolítico do sudoeste europeu.
Porém, até época recente, não foi possível destrinçar com segurança a
diacronia das respectivas ocupações, no quadro das datações realizadas, as
quais evidenciam uma assinalável sobreposição da presença humana em todos Fig. 79
eles (Arnaud, 1987). Adiante se fará a síntese possível desta situação, com
base nos elementos actualmente disponíveis.
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Estas observações são indispensáveis à interpretação dos mecanismos
antrópicos que presidiram à formação destas acumulações, os quais têm sido
relegados para segundo plano.
166
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3. O estudo tipológico comparativo das indústrias presentes nos concheiros
do Cabeço da Amoreira, Cabeço da Arruda e Moita do Sebastião,
levou o autor à conclusão de ser o primeiro anterior aos restantes,
"principalement en raison de l’abondance de formes trapèzoïdales",
muito escassas no primeiro. Esta conclusão vinha, assim, em apoio
do parecer dos investigadores que anteriormente tinham abordado a
questão da cronologia relativa destas estações (Mendes Corrêa, Serpa
Pinto, H. Breuil e G. Zbyszewski), com base também em argumentos
de ordem arqueozoológica e geomorfológica, mas até então não apoiados
pelo radiocarbono, que só viria a ser aplicado algum tempo depois à
discussão desta questão.
4. Por último, é interessante notar que Jean Roche ignorou por completo
a questão das eventuais afinidades entre as indústrias do Cabeço a
Amoreira e as indústrias norte africanas do Capsense, tão caras aos
mais influentes pré-historiadores peninsulares das décadas anteriores.
Ao contrário: as suas comparações encaminham-se para o sudoeste
francês e, em menor grau, para a região levantina, afirmando-se deste
modo partidário de Breuil, que desde cedo reconheceu tratar-se de
uma indústria azilo-tardenoisense (Breuil, 1918), rejeitando, deste
modo, uma filiação cultural extra-europeia. Breuil, mais tarde,
reconheceu nestas produções mesolíticas certas particularidades
técnico-industriais, tendo criado o termo "Mugiense", integrando-se
no conjunto das indústrias mesolíticas europeias, como o
Tardenoisense (Breuil & Zbyszewski, 1947). Também, neste particular,
J. Roche se manifesta de acordo com Breuil; na conclusão do seu
trabalho, declara: "L’industrie des amas coquilliers de Muge forme
un ensemble original qui aurait pû être appelé de ‘Mugien’" (Roche,
1951, p. 55).
Sem dúvida que uma das questões científicas principais debatidas nas
primeiras décadas do século XX foi a pretensa filiação da origem africana
dos habitantes mesolíticos de Muge cujo principal mentor foi Mendes Corrêa,
como já anteriormente se referiu. Este tinha subjacente a ideia de um antigo Fig. 66
povoamento da Ibéria por grupos humanos norte-africanos, defendido na
década de 1920 pela maioria dos arqueólogos de nomeada, como
H. Obermaier (Obermaier, 1925, p. 373), P. Bosch-Gimpera (Bosch-Gimpera,
1922, p. 33) e L. Pericot (Pericot, 1923, p. 21). Como notas discordantes, as
posições de J. M. Santa-Olalla, que, embora aceite influências africanas
inquestionáveis, tanto em tipos étnicos como industriais, renuncia
definitivamente a explicar as indústrias de micrólitos geométricos mesolíticas
pelas pretendidas influências capsenses norte-africanas (Santa-Olalla, 1946,
p. 48). Em Portugal, Manuel Heleno apresenta-se como o mais consequente
(mesmo o único) defensor da origem europeia das populações mesolíticas
167
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do vale do Tejo. Com efeito, ao longo da segunda metade da década de 1930
encontrou, na região de Rio Maior, provas concludentes, não apenas quanto
à filiação europeia do Paleolítico Superior português como, ainda, no
respeitante à passagem da última fase deste para o Neolítico Antigo, através
dos níveis selados epipaleolíticos por si encontrados no Abrigo Grande das
Bocas, Rio Maior, a cujo espólio, recentemente estudado por N. Bicho, já
anteriormente se fez referência.
168
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influências norte-africanas), importa salientar a originalidade que Jean Roche
defendeu para o Mesolítico do vale do Tejo: em abono da origem local da
cultura mesolítica de Muge, salienta a existência, a apenas 30 km de distância Fig. 84
de "un important foyer culturel dans la région comprise entre Rio Maior et
Torres Vedras, oú il existe de nombreux gisements datant du Paléolithique
Supérieur et peut-être du Mésolithique. On sait de façon à peu prés certaine
que le silex utilisé à Muge provient de là. Il est fort possible que les habitants
de nos trois concheiros soient venus de cette région ou tout au moins, aient
entretenu des rapports constants avec elle pour les nécessités de leur Fig. 85
économie" (Roche, 1960, p. 140). Foi, pois, J. Roche o primeiro arqueólogo
a assinalar não só a origem local do Mesolítico do vale do Tejo, mas, ainda,
a propor uma origem para os habitantes dos concheiros no litoral da actual
Estremadura, proposta que estudos recentes parecem corroborar, de acordo
com os elementos atrás descritos, convenientemente alicerçados em datações
absolutas, ao tempo desconhecidas.
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influençé par des apports alochtones. Cet isolément peut s’expliquer par un
contexte géographique très particulier" (op. cit., p. 473).
170
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nos materiais recuperados no concheiro da Moita do Sebastião, nas escavações
de 1952 e 1953 (Zbyszewski, 1956): identificaram-se restos de auroque,
veado, corço e javali, a que se poderia somar o cavalo (presente no Cabeço
da Arruda, onde foi assinalado por Pereira da Costa).
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aves, frequentadoras sazonais da região no Outono e Inverno, bem como a
distribuição etária aparentemente indiferenciada das espécies de mamíferos
presentes, designadamente coelho, veado, e auroque, sugere a ocupação peri-anual
dos concheiros.
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doce, com a presença de plantas como Typha e Nymphea, e o desaparecimento
de Jadammina e Trochammina, foraminíferos aglutinados que denunciam a
influência directa das marés, embora existissem lagunas salgadas nas
proximidades, dada a alta presença de Chenopodiaceae.
Pode, pois, concluir-se que o sector terminal da ribeira de Muge antes da sua
confluência com o Tejo, se encontrava ainda directamente sujeito à influência
das marés, na época de instalação dos concheiros, embora tal influência
estivesse em fase de amortecimento acentuado, devido ao progressivo
assoreamento do paleoestuário, o qual determinou o abandono dos concheiros,
cerca de 5000 anos BP. É provável que o rápido assoreamento de um vale
mal drenado como aquele, tenha propiciado a conservação de importantes
estruturas arqueológicas, actualmente enterradas.
173
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seguido do veado, do auroque e, finalmente do cavalo. É interessante verificar
que o cavalo, no Cabeço dos Morros, é muito mais importante que nos
concheiros de Muge. Enfim os lagomorfos, ainda que possuindo uma
quantidade de biomassa muito inferior à dos grandes mamíferos, poderiam
constituir uma reserva sempre acessível, como os recursos aquáticos,
sobretudo em períodos de maior penúria, devido à sua fácil captura. As aves
estariam nas mesmas circunstâncias; cerca de metade das espécies
identificadas relacionam-se directamente com zonas húmidas, denunciando
também a importância destas na paisagem de então, não totalmente
desaparecidas, na actualidade, na região.
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© Universidade Aberta
desmembramento intencional, sugerindo desta forma a existência de uma relação
completamente diferente entre ambos os inumados.
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© Universidade Aberta
vida à nascença não ultrapassaria os 30 anos e que um terço da população
terá morrido antes dos vinte anos, taxa que se afigura relativamente baixa,
comparativamente à realidade de outras estações europeias mesolíticas.
Assim, pode concluir-se que as condições de vida seriam relativamente boas,
propiciadas por bases de subsistência disponíveis e variadas na própria área
adjacente; contudo, esta realidade poderá encontrar-se algo distorcida. Com
efeito, não só é muito alta a incidência de hipoplasias ambientais no esmalte
dos dentes definitivos (que indicam "stress" alimentar), mas também a
provável existência de conflitos entre grupos supostamente antagónicos
(Antunes & Cunha, 1992/1993), talvez resultantes de situações de carência
alimentar. Parecem ter existido, por outro lado, a aceitar as conclusões do
referido estudo, situações e práticas de violência, realizadas no vivo. Esta
realidade encontra-se de alguma forma confirmada por outras evidências
peninsulares, até pictográficas, da existência de guerra em épocas semelhantes
no levante ibérico (Mesolítico/Neolítico Antigo em diante): é o caso das
admiráveis pinturas rupestres de Molino de las Fuentes, Minateda e Combate
de Les Dogues, incluindo cenas que, sem dificuldade, poderiam se
interpretadas como de execução de inimigos capturados (Cova Remigia).
Importa salientar, com efeito, que, dos 186 sítios mesolíticos inventariados
na Europa em 1984 (Meiklejohn et al., 1984), em apenas 80 foram recolhidos
restos humanos. Desses 80, apenas 7 tinham séries incluindo mais do que
Fig. 84 10 indivíduos, sendo o Cabeço da Arruda, a Moita do Sebastião e o Cabeço
da Amoreira três deles (além do concheiro da Cova da Onça).
176
© Universidade Aberta
A razão para tal fenómeno demográfico seria simples de perceber: com o
estabelecimento de condições de fixação para uma vida proto-sedentária –
pela primeira vez ocorrem verdadeiros cemitérios constituídos nos próprios
concheiros, indicando uma "ancoragem" efectiva da população a território
bem definido – deixaria de se justificar o povoamento de uma outra região,
onde o quotidiano seria por certo muito mais penoso. Bastaria lembrar a
disponibilidade quase ilimitada de peixe e de moluscos existentes na área
adjacente aos concheiros – alguns deles encontrados ainda por abrir, indicando
práticas de armazenamento, ainda que de curta duração, corroboradas pela
existência, na Moita do Sebastião, de "silos de armazenagem" – para se
compreender a opção pela recolecção, mantida por cerca de um milénio,
quando, em outras regiões próximas, menos favoráveis, designadamente o
próprio Maciço Calcário, já se tinha afirmado a economia neolítica.
177
© Universidade Aberta
nos finais da década de 1950, prolongando-se até inícios da seguinte, por
iniciativa de Manuel Heleno, que assim procurou colmatar uma lacuna nas
colecções do Museu Nacional de Arqueologia, então por si dirigido, que até
então não possuía espólios de qualquer concheiro do Mesolítico. Porém,
como era frequente com escavações realizadas sob a direcção daquele
arqueólogo, aos trabalhos de campo não se seguiam as necessárias
publicações, pelo que aqueles se mantiveram inéditos. Nos inícios da década
de 1970, Manuel Farinha dos Santos, que tinha sido assistente de Manuel
Heleno e que já anteriormente tinha localizado no vale do Sado dois novos
concheiros, o Barranco da Moura e a Fonte da Mina, publicou, de colaboração
com J. Soares e C. Tavares da Silva, alguns espólios dos concheiros do Cabeço
do Pez (Santos, Soares & Silva, 1974), bem como os materiais campaniformes
do concheiro da Barrada do Grilo, que não interessam ao caso em apreço. Já
na década de 1980, J. M. Arnaud organizou um programa de investigações
que conduziu a novas escavações em diversos concheiros (Cabeço do Pez,
1983; Cabeço das Amoreiras, 1985 e 1986; e Poças de São Bento, 1987 e
1988), bem como à publicação de trabalhos de síntese e de outros, relativos
à história das descobertas (Arnaud, 2000).
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© Universidade Aberta
exploração dos respectivos recursos análoga à patenteada na mesma época,
no vale do Tejo. Mas, ao contrário destes, parece evidenciar-se um papel
mais diferenciado, com existência de concheiros principais, que constituiriam
acampamentos-base, com uma ocupação mais estável e permanente. É o caso
do concheiro do Cabeço do Pez, mais a montante – o único que conheceu
uma intensa ocupação, no Neolítico Antigo evolucionado, atestando a
manutenção da sua importância – enquanto noutros, sobretudo os situados
mais a jusante, apenas se registou uma fauna de moluscos (Poças de São
Bento, Arapouco, Cabeço do Rebolador), atestando a sua frequência sazonal,
sobretudo nos meses de Primavera e Verão. Com efeito, os restos de grandes
mamíferos, no concheiro do Cabeço do Pez, totalizam cerca de 1700 peças;
as cinco espécies mais relevantes na dieta alimentar, são as seguintes, por
ordem decrescente de número de restos identificados (Arnaud, 1987): veado
(70%); javali (26%); auroque (3%); corço (0,5%); e cavalo (0,5%). Uma
recente revisão deste conjunto faunístico (Detry, 2002/2003 b), conduziu ao
cálculo do número mínimo de indívíduos presentes de cada espécie, incluindo
os leporídeos: assim, na totalidade do seis níveis artificiais em que foi
subdividida a acumulação, desde a superfície até cerca de 1,25 m de
profundidade, identificaram-se restos correspondentes a 30 coelhos; 23 lebres;
13 javalis; 20 veados; 1 corço; 2 auroques; e um cavalo. Comparativamente
com os resultados arqueozoológicos obtidos no vale do Tejo, evidencia-se
uma nítida dominância do veado, à custa da diminuição dos efectivos de
auroque, enquanto que as quantidades de javali são, globalmente, comparáveis
nos dois conjuntos.
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© Universidade Aberta
As datas conhecidas apontam o concheiro de Arapouco como o mais antigo, com
uma data centrada em 7040 ± 70 anos BP para a sua parte média, correspondendo
ao intervalo calibrado com cerca de 95 % de probabilidade de 5992-5715 a. C.,
enquanto o Cabeço do Pez teria a sua última ocupação em torno de 6150 ± 70 anos
BP, correspondendo a um intervalo já plenamente neolítico (5214-4805 a. C.),
cronologia que, aliás, se encontra em sintonia com a abundância de cerâmicas do
Neolítico Antigo ali recolhidas. O concheiro das Amoreiras, possui ainda cronologia
mais moderna, visto às duas datas obtidas (5990 ± 75 anos BP e 5990 ± 80 anos
BP) corresponderem intervalos que atravessam todo o primeiro quartel do V milénio
a. C. (respectivamente 5060-4718 a. C. e 5064-4715 a. C.), cronologia a que
corresponde, em outros contextos, o Neolítico Antigo evolucionado. Com efeito,
neste concheiro ocorreram abundantes fragmentos de cerâmicas neolíticas, não só
na camada superficial mas também no próprio estrato do concheiro. De entre os
cerca de sessenta fragmentos recolhidos, destaca-se a presença de vários com
decoração cardial,oriundos dos níveis inferiores do concheiro (Arnaud, 2000), o
que configura a existência de interação entre os habitantes mesolíticos do sítio e
as populações já neolitizadas do litoral (Arnaud, 1986). Esta realidade difere da
reconhecida nos concheiros do Tejo, porquanto os fragmentos neolíticos ali
encontrados – dos quais nenhum é cardial – se circunscrevem à parte superior das
acumulações e jamais ao interior destas, sugerindo que, somente na fase final das
diversas ocupações, os respectivos habitantes teriam interagido com as populações
neolíticas do Maciço Calcário estremenho.
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© Universidade Aberta
relacionarem com a diacronia das diversas ocupações; em alternativa, tais
diferenças, tal como nos concheiros da região de Muge, poderiam dever-se,
simplesmente, a actividades específicas neles desenvolvidas, que assumiriam
características diferenciadas e especializadas.
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© Universidade Aberta
Invocando opinião de J. Vierra, segundo a qual a evolução da tipologia das
"armaduras" no Mesolítico da costa sudoeste é independente da
funcionalidade dos sítios, o autor apresentou a seguinte evolução cronológica,
Fig. 86 constituída pelas três fases principais seguintes:
Fase 2 – Situada na primeira metade do VI milénio a. C.; foi uma fase breve,
caracterizada pelo aparecimento dos característicos triângulos com
espinha, no Cabeço da Amoreira, ditos "triângulos de Muge", cuja
ocorrência diminui, segundo J. Roche, da base para o topo do
referido concheiro, ao contrário dos segmentos (crescentes), que
variam em proporções inversas. Por outro lado, enquanto nos
concheiros considerados das Fases 1 e 3 são os triângulos escalenos
que dominam, no conjunto dos triângulos, neste concheiro os
triângulos isósceles são os mais numerosos.
182
© Universidade Aberta
No conjunto, de acordo com G. Marchand, não se detectam diferenças
significativas entre a tipologia das armaduras dos concheiros do Tejo e do Sado,
salvaguardando as características impostas pela matéria-prima destas últimas,
essencialmente rochas locais de inferior qualidade: dominam, globalmente,
os trapézios e os triângulos, com fraca presença de triângulos escalenos.
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© Universidade Aberta
A riqueza documental do concheiro da Moita do Sebastião explica-se: com
efeito, foi o único sítio do vale do Tejo que foi objecto de escavações em
extensão, motivadas por um arrasamento dos níveis médios e superiores com
maquinaria, relacionados com a construção de diversas instalações agrícolas;
nos outros sítios intervencionados, J. Roche privilegiou a realização de cortes
estratigráficos, em detrimento da investigação em área, impedindo-o deste
modo de conhecer as modalidades de ocupação e organização do espaço
habitado.
184
© Universidade Aberta
foi confirmada plenamente por ulteriores trabalhos, tanto naquela região,
como no Sado, pelo que se justifica um maior detalhe na sua abordagem.
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O termo Languedocense foi criado em 1937 por Henri Breuil para designar
uma indústria sobre seixos recolhida à superfície dos terraços do vale do
Garona (França). Caracterizaria tais indústrias, entre outros, um artefacto
executado sobre seixo achatado, retocado em toda a sua periferia (o "disco"
languedocense). O Languedocense, na perspectiva do seu criador, teria
assinalável longevidade, já que o seu estádio mais antigo seria contemporâneo
do Acheulense, do Mustierense e ainda do Aurignacense, atingindo o seu
estádio mais recente, o Neolítico. Idêntico critério foi aplicado em Portugal,
no estudo das indústrias de base macrolítica, por Henri Breuil e
G. Zbyszewski, no decurso da estada do primeiro, em Portugal, entre meados
de 1941 e finais de 1942, em que tiveram a oportunidade de recolher e estudar
milhares destas peças (Breuil & Zbyszewski, 1945). Assim, por exemplo, no
estudo das indústrias de base macrolítica do litoral do Alentejo, consideram
a presença de um Languedocense Antigo, contemporâneo da última etapa do
Acheulense, de um Languedocense Médio, coevo do Paleolítico Médio, e de
um Languedocense Superior, correlativo do Paleolítico Superior (Breuil &
Zbyszewski, 1946). Tratar-se-ia, pois, de acordo com os referidos autores,
de um tecno-complexo sempre anterior ao Mesolítico, exactamente a época
em que aquele deverá ser preferencialmente incluído, segundo os
conhecimentos actuais.
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© Universidade Aberta
Paleolítico Superior, "cavalgando" as divisões clássicas de há muito
estabelecidas, um pouco à semelhança do defendido pelo mesmo autor,
conjuntamente com H. Breuil, para o "Lusitaniano", termo criado para
designar as indústrias frustes sobre seixos do litoral português. Mas os critérios
susceptíveis de justificarem esta designação jamais foram suportados por
uma inequívoca definição estratigráfica, baseada em conjuntos fechados,
homogéneos e numerosos, devidamente enquadrados do ponto de vista
cronológico. Com efeito, a identificação baseava-se apenas na ocorrência de
certos artefactos nucleares sobre seixo, considerados mais característicos,
como as raspadeiras espessas, raspadores em "D", os seixos raspadores, e os
discos talhados em toda a periferia, de talhe invariavelmente unifacial, muito Fig. 67
inclinado ("en gradin"), dando às superfícies lascadas um aspecto escamoso.
Ao referido conjunto haveria que somar, no litoral alentejano, os machados
mirenses, tipo particular de utensílio cujo nome deriva do rio Mira, a norte
do qual, sobre o litoral, se recolheram os primeiros exemplares: "Le hachereau Fig. 68
de l’Acheuléen, retaillé sur grand éclat, évolue vers une hache dont les flancs
sont écrasés par percussion, que, pour les trouver plus évoluées autour de
l’embouchure du Rio Mira, nous avons appelé "miriennes" (Breuil &
Zbyszewski, 1946, p. 332). Outra peça característica desta região litoral é o Fig. 69
pico, dito "proto-asturiense" por ser considerado mais antigo que os picos do
Asturiense do litoral cantábrico, indústria que, ao contrário do Languedocense,
se encontra melhor definida sob os pontos de vista cultural cronológico e
tipológico, desde a época do seu criador, o conde de la Vega del Sella, no
início do século XX. Picos de pequenas dimensões foram também encontrados
no vale do Tejo, na região de Muge, embalados em areias eólicas fini- ou já
pós-glaciárias (Corrêa, 1940) e na década de 1920, no litoral minhoto, dando
aqui origem a uma designação nova: o Ancorense, nome derivado de Vila
Praia de Âncora, zona onde eram numerosos os achados de uma abundante
macro-utensilagem sobre seixos rolados, sobretudo de quartzito, de que eram
sem dúvida os elementos mais sugestivos (Pinto, 1928).
H. Breuil e G. Zbyszewski pouca atenção dispensaram às peças sobre lasca,
mais difíceis de identificar em recolhas de superfície, as quais, só muito
tardiamente e numa tentativa pouco suportada do ponto de vista crono-
estratigráfico, L. Raposo e A C. Silva, tiveram algum tratamento; a tal
trabalho, apesar das insuficiências apontadas, reconhece-se o mérito de ter
chamado a atenção para a complexidade de abordagem destas produções
líticas (Raposo & Silva, 1984).
187
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reconheceu a ocorrência de peças de talhe remontante, de tipologia
languedocense em praticamente todas as épocas, desde as da chamada
"Pré-História recente", até às do Paleolítico Antigo, passando pelas do
Paleolítico Superior e Epipaleolítico (Almeida, Araújo & Ribeiro, 2002);
em resumo: o Languedocense corresponde a designação com larga tradição
no quadro da história das investigações portuguesas, devendo o seu uso ser
sempre entendido no estrito âmbito tecno-tipológico mencionado, desprovido
portanto de qualquer significado cultural ou cronológico. Já o termo Mirense,
com uma distribuição geográfica mais restrita ao litoral baixo-alentejano e
algarvio ocidental (costa vicentina) e um âmbito cronológico melhor definido,
responde de modo mais satisfatório aos requisitos para se poder considerar
como um termo com significado cultural próprio, tanto mais que pode ser
directamente relacionado com uma população cujas bases económicas são
conhecidas, como adiante se verá. No nosso país, admite-se que, no estado
actual dos conhecimentos lhe possam corresponder as indústrias de base
macrolítica e de época fini e pós-glaciária da costa sudoeste, representadas
por determinados tipos de artefactos e de técnicas de talhe, incluindo uma
componente sobre lasca a qual, até época recente, foi praticamente ignorada.
É esse conjunto industrial que será caracterizado a seguir.
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8400 ± 70 anos BP e 8802 ± 100 anos BP, a que correspondem os intervalos
calibrados para cerca de 95% de probabilidade de, respectivamente, 7543-
-7268 a. C. e 8033-7548 a. C. Foram os primeiros elementos cronométricos
obtidos para toda a vasta região litoral, que, de Sines se estende ao litoral
meridional do Algarve. Estes resultados vieram a situar no Boreal a
correspondente ocupação humana, reforçando a cronologia epipaleolítica que,
desde a década anterior, tinha sido atribuída às referidas indústrias.
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e a posição do nível marinho, estabelecida cerca de 50 a 60 m abaixo do
nível actual, com base em data de radiocarbono obtida sobre conchas, que
depois de corrigida deu o seguinte resultado: 10 400 ± 90 anos BP (Soares,
1995). Trata-se, pois de uma presença litoral que se pode situar no final do
tardiglaciário, Dryas III, de características frias e secas. Tal é a indicação
fornecida pela presença de Littorina littorea, espécie também presente no
concheiro, mais moderno, de São Julião (Mafra), no litoral da Estremadura,
a que já anteriormente se fez referência.
A estação da Pedra do Patacho (ou do Semáforo de Milfontes) é, pois, a
antecessora do final do Palelítico Superior, no litoral baixo alentejano, dos
concheiros que, tanto no Pré-Boreal e Boreal, como no Atlântico, se viriam
a multiplicar na mesma região, à semelhança do verificado no litoral da
Estremadura.
Investigações conduzidas na mesma área por J. M. Arnaud, interessando
pequenos núcleos do mesmo concheiro situados perto do núcleo referido,
permitiram outras datas de radiocarbono, com os seguintes resultados:
10 740 ± 60 anos BP; 10 380 ± 100 anos BP; e 10 450 ± 60 anos BP. Estes
resultados são, de facto, estatisticamente idênticos entre si e ao anteriormente
apresentado.
Em resumo, nos finais do tardiglaciário e nos primeiros tempos pós-glaciários,
as populações que viviam no litoral baixo alentejano possuíam um modo de
vida próprio, baseado essencialmente na recolecção sazonal, e um
instrumental lítico dominado por peças adequadas a tal quotidiano, nas quais
a componente macrolítica era dominante, mas onde persistia, ainda que
discretamente, uma produção microlítica, sobre sílex, de características
fini-paleolíticas.
A produção de machados mirenses, por vezes encontrados em grande quanti-
dade, possibilitou a definição de uma tipologia específica: é o caso da estação
do Monte dos Amantes, Vila do Bispo (Cardoso & Gomes, 1997). Esta
ferramente especializada pressupõe uma economia não apenas baseada na
exploração dos recursos marinhos, mas também voltada para os recursos
terrestres, no caso a exploração de madeiras, propiciadas pelo
desenvolvimento da floresta (com provável destaque para o pinheiro bravo),
no Pré-Boreal e Boreal, que então, à semelhança do verificado no litoral da
Estremadura, também ocuparia manchas significativas ao longo da costa
sudoeste.
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André. Foi possível articular a evolução paleoclimática com o desenvolvimento da
morfologia litoral, além da história do impacte humano o qual, naturalmente, sai
em grande parte do âmbito deste Manual (Mateus, 1992; Queiroz, 1999).
No período entre 10000 e 8000 anos BP, o clima seria mais húmido do que o actual
e, tal como noutras regiões litorais, corresponde-lhe a expansão máxima do pinheiro
bravo (Pinus pinaster), nos interflúvios arenosos não consolidados, o qual substituiu
o pinheiro silvestre, sendo abundante nas terras altas da área do Carvalhal,
desaparecendo ali, gradualmente, depois de 6000 anos BP. O clima seria algo mais
frio que o actual.
Nos vales e substratos mais ricos e consolidados, verifica-se a expansão dos
carvalhais marcescentes (Quercus faginea), constituindo formações extensas até
cerca de 3000 anos BP. Assinala-se a presença de carvalhais decíduos e do vidoeiro
(Betula) associados aos sistemas ribeirinhos, indicando temperaturas mais frias
que as actuais (carácter supramediterrânico).
No período seguinte, ulterior a 8000 anos BP, sucede-se clima mais seco que o do
período anterior, marcado pela expansão regional da vegetação de carácter meso e
termomediterrânico, e pelo acentuar da terrestrialização nas terras baixas palustres,
como a Lagoa Travessa. Cerca de 7650 ± 50 anos BP, a paisagem florestal era
caracterizada pela associação Quercion faginea, Oleo-Ceratonion e pinheiros, com
tendência para estes últimos, na região do Carvalhal, serem substituídos por matos.
As árvores perenifólias esclerófilas ganham terreno (o zambujal, o sobreiral, o
pinhal manso), devido ao aumento progressivo da secura, sendo favorecidas, no
final deste período, pelas comunidades humanas do Calcolítico e, depois, da Idade
do Bronze. Cerca de 6560 ± anos 70 BP, surgem mudanças drásticas na região das
terras altas do Carvalhal, Grândola, onde se desenvolve vasta área de vegetação
aberta composta por matos.
Esta evolução climática e do coberto vegetal foi acompanhada de transgressão
marinha, a qual estabilizou cerca de 5500 anos BP; este período de estabilidade
prolongou-se até cerca de 4150 anos BP; ulteriormente, e já em épocas fora do
âmbito deste capítulo, observou-se alternância de fases regressivas e transgressivas,
até à actualidade.
Neste contexto, os primeiros sinais do impacto humano no desenvolvimento da
vegetação, embora ainda fracos e difusos, datam de há cerca de 6000 anos BP,
sendo testemunhados por um decréscimo ligeiro da cobertura florestal climácica
nos interflúvios. É possível que este primeiro impacto antrópico se relacione com
a actividade humana da desflorestação, como sugerem os machados mirenses acima
mencionados. Na região do Carvalhal, Grândola, foi identificado um primeiro
provável impacto de natureza antrópica na vegetação no Mesolítico Final/Neolítico
Antigo, correspondendo a decrécimo dos quatro principais tipos arbóreos presentes
(Pinus, Quercus decidual, Olea e Alnus), recuperando porém de tal brusca redução
todos os grupos, exceptuando Pinus (Mateus, 1992).
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O concheiro de Samouqueira I (Camada 3), sobre o litoral de Porto Covo, já
do Atlântico, corresponde ao sítio mais moderno com machados mirenses, o
que não deixa de ser interessante se se admitir que tais artefactos serviriam
sobretudo para o abate de árvores e o ulterior trabalho da madeira; uma datação
deu o resultado de 7140 ± 70 anos BP, a que corresponde o intervalo, calibrado
para cerca de 95% de probabilidade, de 6117-5833 a. C. (Soares & Silva,
2003). Nesta estação, foram escavados restos de dois esqueletos humanos
cujas características se afiguram próximas do conjunto da Moita do Sebastião,
apesar de as condições paleoambientais serem muito diferentes (Lubell &
Jackes, 1985). Um dos restos humanos, datado de 6370 ± 70 anos BP,
corresponde ao intervalo, calibrado para cerca de 95% de probabilidade, de
5480-5220 a. C., o qual se sobrepõe, cronologicamente, à presença de
populações já neolitizadas na região; com efeito, a referida data parece ser
demasiado tardia para um contexto mesolítico, razão pela qual foi considerada
como neolítica (Soares & Silva, 2003), situação que é corroborada pela
estratigrafia; as diversas modificações patológicas patentes nos restos ósseos,
atestam fortes limitações na marcha e no dia-a-dia, indicando uma sociedade
que podia manter indivíduos que pouco ou nada contribuíam para a subsistência
do grupo, bem pelo contrário.
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sobretudo coelho e a restos de peixes, nos níveis médios, já claramente do
período Atlântico, datados a partir de 7450 ± 90 anos BP (intervalo calibrado
de 6452-6048 a. C., para cerca de 95% de probabilidade), e até 7170 ±
70 anos BP, a fauna está exclusivamente representada por restos de
invertebrados marinhos, predominando as conchas de lapas e de mexilhão.
Assim, de uma exploração de banda larga de recursos (caça, pesca e
recolecção), evoluiu-se para uma actividade especializada, só de recolecção,
no decurso da ocupação recorrente do concheiro, verificada ao longo de cerca
de 500 anos (Silva & Soares, 1997).
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BP e 6030 ± 180 anos BP (a que correspondem os intervalos calibrados de
5668-5348 a. C. e 5330-4510 a. C., para cerca de 95% de probabilidade),
respectivamente para a camada basal e para os níveis médios do concheiro.
Situado a 1 km do mar e a 10 km a norte do estuário do Mira, a sazonalidade
na ocupação deste sítio parece mais evidente: uma análise dos anéis de
crescimento das vértebras de peixe sugeriu que a pesca era sobretudo
efectuada nas estações quentes, Verão e Outono (Arnaud, 2002).
Ocasionalmente, eram capturados, por ordem de importância na alimentação,
veados, auroques e javalis (Straus, Altuna & Vierra, 1990). Outros concheiros,
implantados junto do litoral, como o de Samouqueira I (Camada 3), já referido,
junto a Porto Covo, parecem identificar-se com as características do concheiro
de Vidigal: seriam sítios de ocupação sazonal, do período Atlântico,
funcionalmente idênticos aos do litoral vicentino, explorando sobretudo os
recursos aquáticos, no decurso de uma parte do ano. Assim sendo, o modelo
demográfico, na região basear-se-ia, tal como no extremo sudoeste, em
acampamentos-base, situados mais para o interior, onde se encontra
documentada a caça de grandes mamíferos, tal como nos concheiros dos
vales do Tejo e nalguns dos do Sado (auroques, cabra montês, javali e veado,
são os mais importantes) e sítios de ocupação sazonal, e de carácter
especializado, junto ao litoral.
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± 50 anos BP, a que corresponde o intervalo calibrado para cerca de 95% de
probabilidade, de 7883-7535 a. C., resultado que vem, uma vez mais,
confirmar a anterioridade das indústrias de base macrolítica, a par das do
litoral minhoto e da costa sudoeste (o Ancorense e o Mirense), face às
indústrias mesolíticas dos concheiros do Tejo e do Sado: nestas, a componente
microlítica e geométrica dominante, muito embora também ocorram, tal
tipo de peças, como se referiu a propósito dos concheiros de Muge.
195
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Languedocense, termo que como se viu, não tem actualmente significado
cronológico-cultural, o qual se prolongaria por épocas pós-paleolíticas; é
Fig. 70 significativa, a seguinte passagem a tal respeito:
Les pièces proto-asturiennes, notamment certaines formes de pics,
apparaissent dès l’Acheuléen ancien, antérieur à la mer tyrrhénienne
(interglaciaire Mindel-Riss) quoique très rares encore à cette époque.
Ces pièces se multiplient progressivement. Elles ne sont pas encore très
fréquentes au début du Languedocien, quoiqu’on en trouve un certain
nombre à l’état roulé dans les dépôts grimaldiens (interglaciaire
Riss-Würm).
Elles deviennent par contre très abondantes dans les industries rollées par
la mer flandrienne à laquelle elles sont nettement antérieures." (op. cit.,
p. 128).
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nível da macro-utensilagem, por abundantes seixos talhados unifaciais e picos,
igualmente de talhe unifacial, bilateral convergente e/ou sub-paralelo,
acompanhada de utensilagem sobre lasca em proporções idênticas (Meireles,
1994). Caracterizada tal indústria do ponto de vista tecno-tipológico e definido
com adequado rigor o seu enquadramento regional, o autor considerou
estarem, pela primeira vez, reunidas as condições para se aplicar com
propriedade o termo Ancorense, que assim passará a designar uma indústria
do Paleolítico Superior do litoral minhoto, com suposta origem no Acheulense
regional, e com perdurações tardias, representadas pelas indústrias recolhidas
in situ em formações mais modernas, fini ou já pós-paleolíticas.
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Cabedelo, Costa da Caparica) se, por um lado, impede que se lhes atribua
um significado arqueológico específico, não deixa, por outro, de lhes sublinhar
a relativa modernidade.
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III. PARTE
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Objectivos de aprendizagem e actividades sugeridas
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crescente complexidade social e o aumento demográfico é susceptível
de se poder relacionar com o tamanho dos monumentos megalíticos e
com a diversidade e significado dos espólios funerários respectivos.
Trata-se de compreender a própria diferenciação social emergente, a
qual, naturalmente, revestiu aspectos particulares nas diversas áreas
geográficas do actual território português. Importa, deste modo, que se
tenha adquirido uma noção geral das características da evolução
arquitectónica dolménica nas áreas onde o fenómeno se encontra
estudado, em particular no Baixo Alentejo litoral; em Reguengos de
Monsaraz; na Beira Baixa e na Beira Alta; e na região do Douro litoral
(serra da Aboboreira, Amarante), sem esquecer outros núcleos
dolménicos (Alto Algarve Oriental (Tavira, Alcoutim); Monchique;
Coruche, Montemor-o-Novo, Arraiolos, Pavia, Évora, Ponte de Sor;
Elvas; Crato-Nisa; Beira Litoral (distrito de Aveiro); Minho e diversas
áreas transmontanas.
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da Beira Baixa, à Beira Alta ou à necrópole polinucleada da serra da
Aboboreira (Amarante);
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7. O Neolítico Antigo
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7.1 Estremadura e sul do país
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associadas à neolitização de modo progressivo, segundo ritmo próprio, ditado
pela própria necessidade. As condicionantes que conduziram à adopção, por
parte destas populações, de uma economia de produção, teriam sido
essencialmente de ordem endógena. Podem ser invocados factores como o
crescimento demográfico em regime de sedentarização acentuada, como era
aquele que caracterizava as populações do final do Mesolítico, que, contudo,
circulariam entre acampamentos de base peri-anuais e acampamentos
sazonais, junto ao litoral; nos vales do Tejo e do Sado, dadas as maiores
distâncias que as separavam da costa atlântica o estacionamento seria ainda
mais estável. Tais circunstâncias teriam conduzido a uma pressão crescente
sobre os recursos natuais potencialmente disponíveis na respectiva área de
captação envolvente, os quais, por seu turno, devido à transgressão flandriana,
teriam sofrido assinaláveis modificações e talvez mesmo uma redução
significativa, devido às áreas ribeirinhas terem sido então rapidamente
inundadas, com a colmatação progressiva dos vales e dos estuários por
sedimentos finos, tornando impraticáveis algumas actividades recolectoras
até então ali realizadas. Teria existido, pois, uma ruptura
demográfico-ecológica (Soares, 1996) na origem da nova ordem económica.
Neste sentido, tal realidade teria conduzido à apropriação, por parte destas
populações em "stress" alimentar, de elementos tecnológicos exógenos, então
em rápida circulação pelo sul do continente europeu: a adopção da
domesticação de certas espécies (ovelha, boi) e de plantas (cereais, como o
trigo e a cevada) seria acompanhada de novos artefactos (machados, enxós),
fazendo uso de novas tecnologias, como o polimento da pedra, para além
das produções cerâmicas, até então desconhecidas. Em suma: a assimila-
ção/adopção das novidades do chamado "pacote" neolítico terá sido motivada,
segundo a autora, por um desequilíbrio demográfico/ecológico o qual já vinha
de trás, explicando-se deste modo a economia de largo espectro do Mesolítico
tardio, com a exploração intensiva dos recursos marinhos, a que anteriormente
pouco se recorria.
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à costa, onde se evidenciou uma economia de curto espectro, da qual estavam
completamente ausentes quaisquer vestígios da domesticação animal e da
agricultura, visto as bases de subsistência serem exclusivamente de origem
marinha (Silva, Soares & Penalva, 1985; Soares, 1995) . A recolha de um
machado de pedra polida e de elementos cerâmicos, é compatível com uma
data de radiocarbono obtida: 6440 ± 140 anos BP. Este estacionamento
temporário pode-se correlacionar com o acampamento de base de
Samouqueira, estação que comporta dois núcleos, um mesolítico
(Samouqueira I), outro já do Neolítico Antigo (Samouqueira II); entre ambos,
transparecem mais continuidades do que rupturas (Soares, 1995). Deste modo,
estar-se-ia, segundo a referida autora, perante um modo de vida e de economia
em tudo comparável ao vigente no Mesolítico Final, no qual as bases de
subsistência – caça, pesca e recolecção – foram sendo gradualmente
substituídas por uma agricultura muito incipiente e pela criação de gado.
Prova de que a transição não foi linear, segundo um modelo estritamente
evolucionista, é a sobreposição cronológica observada na referida região entre
as estações onde se evidenciou um modo de vida estritamente mesolítico e
as primeiras comunidades neolíticas: no núcleo mesolítico de Samouqueira
I, encontraram-se dois esqueletos humanos, de cronologia já neolítica
(Camada 2, sobreposta à Camada 3, claramente mesolítica), cujo estudo
evidenciou a ausência de rupturas biológicas face às cracterísticas dos seus
homólogos neolíticos do concheiro da Moita do Sebastião; por outro lado, a
já atrás mencionada presença de indivíduos com graves limitações físicas,
pressupõe uma comunidade semi-sedentária, com laços fortes, cimentados
pelo parentesco, entre os seus membros, que antecedeu a emergência na região
do Neolítico Antigo. Tais indícios sugerem que as comunidades da transição
do Mesolítico para o Neolítico Antigo da costa sudoeste conheceram uma
apreciável redução da sua mobilidade territorial, baseada provavelmente em
núcleos familiares constituídos por sete a oito indivíduos (Soares, 1995).
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modo, globalmente contemporâneos dos concheiros mesolíticos do vale do
Sado. Por outro lado, as mais antigas presenças neolíticas verificadas nessas
duas áreas – Sado e litoral alentejano – seriam já epicardiais, ou seja,
documentadas por cerâmicas decoradas mais recentes que as decoradas pela
aplicação do bordo da concha de Cardium (berbigão), sem embargo de,
esporadicamente, estas também ocorrerem (Zilhão, 1997).
Fig. 89
Na verdade, este autor tem defendido um modelo totalmente diferente para
explicar a emergência das comunidades neolíticas no território português,
baseado na difusão não apenas de novos materiais (pedra polida, cerâmica) e
de novas tecnologias (a domesticação de plantas e de animais), como na
presença das próprias populações exógenas, suas portadoras. Esta discussão
aliás, não se iniciou na década de 1990: já nos inícios da década anterior, J.
Morais Arnaud, ao discutir o processo de transição do Mesolítico para o
Neolítico no vale do Sado e no litoral alentejano, ou seja, da mudança do
trinómio caça-pesca-recolecção para a fórmula que aos três itens se adicionou
a pastorícia e a agricultura (pois se tratou de uma adição, não de uma
substituição), tinha equacionado as duas perspectivas, sem, contudo, optar
por qualquer delas. O autor não deixa, de assinalar a presença, logo nas
camadas basais do concheiro das Amoreiras, no vale do Sado, de vários
fragmentos de cerâmicas cardiais; as duas datas de radiocarbono obtidas,
são estatisticamente idênticas, situando tal ocupação em torno de 5990
± 75 anos BP (data que calibrada para cerca de 95% de confiança corresponde
ao intervalo de 5060-4720 a. C.) (Arnaud, 2002). Tal realidade leva a admitir
uma convivência da comunidade mesolítica sediada no concheiro com as
populações neolíticas, existentes nas áreas circundantes. Com efeito, a
presença de recipientes cerâmicos em ambientes plenamente mesolíticos pode
significar, simplesmente, uma simples transferência de tecnologia, sendo certo
que as populações mesolíticas, nas centenas de anos anteriores, já tinham
necessidade de efectuar o armazenamento de produtos; o vasilhame cerâmico
seria, deste modo, de utilização imediata, sem ser acompanhado de outros
itens do "pacote neolítico", que, na verdade, ainda não seriam necessários,
às populações sediadas nos concheiros.
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as cerâmicas cardiais, mais antigas, sendo integráveis no chamado Neolítco
Antigo Evolucionado, com a manutenção de um modo de vida mesolítico,
mas já com elementos da cultura material neolítica.
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orla litoral: uma, mesolítica, de há muito estabelecida em ecossistemas litorais,
praticando uma economia sazonal de caça-pesca-recolecção; outra, já
Fig. 93 neolítica, estabelecida na faixa litoral algarvia, com uma economia já de
produção (pelo menos a pastorícia e, muito provavelmente a agricultura, como
sugerem os pequenos sachos de pedra polida, produzidos em rochas locais),
Fig. 91 portadora de uma cultura material exógena, onde avulta a cerâmica, com
decoração cardial.
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interregnos de largos meses, ou mesmo anos, na frequentação humana
de tais locais, reunindo-se as condições para a implantação ex-novo
das primeiras comunidades neolíticas na região, o que não impede a
existência, em outras zonas, de comunidades ainda mesolíticas, como
anteriormente se referiu.
Deste modo, mesmo que existisse uma população local mesolítica (de qualquer
forma, sempre de carácter sazonal e de baixíssima densidade), não existe nenhum
argumento decisivo para que a colonização marítima neolítica da costa vicentina –
e, por acrécimo, do maciço calcário estremenho – não se tenha efectuado nos moldes
propostos. Sem dúvida que, da interacção desta nova presença resultou, a breve
trecho, o abandono da economia mesolítica, por adopção de novas tecnologias
que, embora de implementação mais complexa, proporcionavam, uma vez
adquiridas, melhores benefícios com menores custos. Tal adopção não parece,
contudo, ter sido provocada pelo aumento da dificuldade na captação de recursos
marinhos por via do seu esgotamento, no litoral da costa vicentina: com efeito,
como foi recentemente verificado, a especialização mesolítica na recolecção de
moluscos marinhos aludida não conduziu a qualquer "stress" da população de Thais
haemastoma, espécie que, sendo recolectada no Mesolítico, o continuou a ser,
com a mesma cadência, no Neolítico (Stiner, 2003). Dito por outras palavras, apesar
dos dados relativos à zona sul portuguesa serem ainda demasiado escassos para
uma discussão fundamentada da questão, o argumento da rarefacção de recursos
ou o da pressão demográfica, por aumento do número de habitantes, não parece
dever ser invocado como "motor" da transformação económica e social das
respectivas populações.
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atestam a precoce neolitização da região no decurso da segunda metade do
VI milénio a. C., como indicam as duas datas de radiocarbono correspondentes
(6330 ± 80 e 6230 ± 80 anos BP) (Zilhão, 1992). A presença de uma ocupação
remontando aos primórdios do Neolítico Antigo, com cerâmicas cardiais,
foi, aliás, comprovada por outras estações do maciço calcário estremenho,
desde o paleo-estuário do rio Mondego, como as estações de ar livre de Várzea
do Lírio e de Junqueira (Figueira da Foz), exploradas por A. dos Santos
Rocha (Jorge, 1979), ou o Cabeço das Pias, Torres Novas (Carvalho & Zilhão,
1994), até estações em abrigos, como o de Pena d’Água, Torres Novas
(Carvalho, 1998), ou grutas, como a de Eira Pedrinha (Corrêa & Teixeira,
1949), a Buraca Grande (Moura & Aubry, 1995), e a gruta do Almonda
(Zilhão, Mauricio & Souto, 1991). Nesta última gruta, segundo os critérios
adoptados em recente síntese (Carvalho, 2003), as únicas datas com elevado
grau de fiabilidade, são as que resultaram da análise em acelerador (MAS)
de dois adornos e de osso humano no algar do Picoto, recuperados em
desobstrução de galeria, onde surgiram associados a cerâmicas incisas: os
resultados obtidos e os correspondentes intervalos calibrados, para cerca de
95 % de probabilidade, são os seguintes: 6445 ± 45 anos BP
(5477-5321 a. C.); 6445 ± 45 anos BP (5477 – 5321 a. C.); e 6000
± 150 anos BP (5285 – 4545 a. C.). Importa referir que, na cartografia dos
sítios do Neolítico Antigo do maciço calcário, parece evidente a valorização
do povoamento da zona do arrife, que separa a planície, percorrida por
afluentes e subafluentes do Tejo, da região mais montanhosa da serra de
Aire; tal localização tem uma leitura económica: assim, enquanto nas zonas
baixas se praticaria sobretudo a agricultura, nas partes altas era o pastoreio
sazonal e a caça que dominava. Contudo, das estações conhecidas, apenas
em uma foram recolhidos restos faunísticos de ovelha ou cabra; esta situação,
a par de ali também se terem encontrado duas espécies de murídeos de origem
extra-europeia (Póvoas, 1998), ausentes do registo faunístico anterior ao
Neolítico, no território português – Mus spretus e Mus musculus – dá que
pensar sobre a efectiva origem destas populações dos primórdios do Neolítico
Antigo.
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cabotagem. A razão aduzida para a fixação nesta região calcária destas
comunidades exógenas residiria, por um lado, nas semelhanças ecológicas e
ambientais que esta teria com as áreas de origem e, por outro, com o facto de
ela se encontrar muito pouco ocupada ou mesmo desabitada, visto se
desconhecerem, quase em absoluto, presenças do Mesolítico Final. Em abono
desta afirmação, existem, além das datas absolutas, outros argumentos. Assim,
é notória a semelhança decorativa entre recipientes recolhidos na Galeria da
Cisterna, do sistema cársico do Almonda, caracterizados pelos elementos
"barrocos" de técnica cardial e exemplares recolhidos nos níveis inferiores
da Cova de l’Or (Valência), como J. Zilhão bem evidenciou em 2001. Tal
semelhança encontra-se ainda reforçada pelas datas de radiocarbono de ambas
as estações, dos inícios da segunda metade do VI milénio a. C.,
estatisticamente idênticas às obtidas para as estações de Cabranosa e Padrão,
acima referidas.
Assim, com base nas datas disponíveis para o território português, parece
verificar-se o início do Neolítico Antigo, tanto na costa vicentina como no Maciço
Calcário, quase simultaneamente, em meados do VI milénio a. C., em
resultado da chegada de grupos de neolíticos, por via marítima, oriundos do
Mediterrâneo.
215
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Evolucionado, encontradas nas camadas superiores dos concheiros do vale
do Tejo (Ferreira, 1974), bem como nos concheiros do vale do Sado (Arnaud
2002), a que anteriormente se fez referência, bem como de locais que
forneceram vasos completos, talvez de cunho ritual.
Fig. 96
Observa-se então uma generalizada ocupação das grutas da Estremadura,
cujo paradigma é a gruta da Furninha, Peniche, de onde provém magnífico
vaso decorado, associado a outras cerâmicas epicardiais que estão na origem
Fig. 97 do chamado "horizonte da Furninha", definido na primeira síntese dedicada
ao Neolítico Antigo português e na qual já se postulava a existência de um
Neolítico Antigo Cardial, antecedente do referido "horizonte" (Guilaine &
Ferreira, 1970). Ao mesmo tempo, dava-se a ocupação de territórios em zonas
Fig. 98
de portela ou de montanha, como o povoado de Salemas, Loures, que
controlaria uma das passagens entre o domínio calcário e as terras baixas, de
alta fertilidade (Cardoso, Carreira & Ferreira, 1996) e o povoado de São
Pedro de Canaferrim, Sintra, situado em plena serra de Sintra (Simões, 1999):
A implantação de ambos reflecte, provavelmente, a importância crescente
da pastorícia na economia destas populações dos inícios do V milénio a. C.
da região de Lisboa. Porém, o povoado de Salemas denuncia, tal como outros
situados da mesma época conhecidos na zona do Arrife, Torres Novas (Zilhão
& Carvalho, 1996), a implantação em zona ecótono: dali se poderia aceder,
como se disse, às terras baixas, propícias a uma agricultura primitiva, e por
outro, ao domínio mais pedregoso e montanhoso, potencialmente aproveitado
para a pastorícia.
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despovoamento verificado no Mesolítico. Com efeito, embora se conhecessem
de há muito materiais cerâmicos cardiais da gruta do Escoural (Santos, 1970),
aos quais se somaram mais recentemente outros elementos (Araújo & Lejeune,
1995), a verdade é que, até à década de 1990, pouco se sabia das vastas áreas
entre o Sado, o Tejo e o Guadiana. A descoberta da estação da Valada do
Mato, Évora e a sua sequente exploração,veio demonstrar a existência, no
Alentejo Central de um povoamento do Neolítico Antigo, no primeiro quartel
do V milénio a. C.: dispõe-se de uma data de radiocarbono, 6030 ± 50 anos BP,
a qual, calibrada para cerca de 95 % de confiança, corresponde ao intervalo
de 5040-4780 a. C. (Diniz, 2001). Entre o espólio recolhido, avultam as
cerâmicas decoradas, impressas e incisas, incluindo a técnica do
puncionamento arrastado, também dita "boquique" e impressões cardiais,
associadas a decorações plásticas. Ao nível da indústria lítica, predominam
os micrólitos, com trapézios e crescentes de sílex, de nítidas afinidades
mesolíticas. Com efeito, tais afinidades foram sublinhadas por M. Diniz,
configurando uma efectiva interacção, no seu entender, entre o substrato
indígena mesolítico, representado pelas últimas populações dos concheiros
do Tejo e do Sado e os grupos neolíticos recém-chegados à região, com a
absorção, por parte destes, da cultura material mesolítica. Tal mecanismo,
no entender da autora, poderia ter-se efectuado através do influxo de mulheres,
oriundas das comunidades indígenas neolíticas (Diniz, 2004). Mas o
conhecimento da rede de povoamento encontra-se prejudicada, dada a falta
de estações do Neolítico Antigo comparáveis, na mesma área geográfica,
exceptuando o sítio habitacional de Xarez 12, Reguengos de Monsaraz,
investigado muito recentemente no âmbito dos trabalhos de minimização
dos impactes produzidos pelo empreendimento de Alqueva.
217
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território português, uma primeira fase, entre 5500 e 5000 anos a. C.,
caracterizada pela presença de cerâmicas cardiais. No entanto, estas, podem
por vezes não ocorrer – caso da gruta do Correio-Mor, Loures com duas
datações semelhantes à do conjunto cardial da gruta do Caldeirão e onde as
decorações cardiais se encontram substituídas por outros motivos impressos,
como o puncionamento arrastado ("boquique") (Cardoso, Ferreira & Carreira,
Fig. 95 1996), que pervive.
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pré-megalítica, recolhidos em zonas abertas da mesma região, como no
Tapado da Caldeira, Baião e em Lavra I, Marco de Canaveses (Jorge, 1980;
Sanches, 1988, 2003), da primeira metade do V milénio a. C. Trata-se de
pequenos sítios, ocupando encostas abrigadas, possuindo lareiras escavadas
no saibro, como as identificadas no primeiro daqueles sítios, onde se
recolheram cerâmicas lisas e decoradas e alguns micrólitos. De referir que,
na parte mais alta da serra da Aboboreira, se encontraram solos selados por
algumas mamoas, conservando buracos de poste, fossas e cerâmicas, caso
dos dólmenes de Chã de Santinhos e de Mina do Simão, situáveis na viragem
do V para o IV milénio a. C. (Bettencourt, 2004).
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que o pequeno tamanho dos recipientes sugere grupos com assinalável
mobilidade, de carácter sazonal, ligados à pastorícia (como indica a presença
de resto de ovino) e à caça (presença de geométricos utilizados como pontas
de projéctil). Recolheu-se, também, um machado em pedra polida (em
Quebradas) o qual, conjuntamente com fragmentos de mós manuais (na
Quinta da Torrinha), completa o "pacote" neolítico em ambas identificado.
Esta realidade é, pois extensível a diversas estações de carácter habitacional
da região dúrico-transmontana. No já referido sítio do Prazo (Freixo de
Numão), a ocupação do Neolítico Antigo, foi datada com base em duas
amostras de carvões recolhidos numa lareira e em osso queimado, cujos
resultados mutuamente se confirmam: 5640 ± 50 anos BP e 5735 ± 50 anos BP
(carvões) e 5760 ± 40 anos BP (osso queimado), a que correspondem os
intervalos calibrados, para cerca de 95 % de probabilidade de:
4581-4355 a. C.; 4709-4459 a. C. e 4711-4499 a. C. Esta cronologia é idêntica
à obtida em outros sítios adiante referidos, de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Estes resultados são de inegável importância para a discussão dos mecanismos
difusores da neolitização no ocidente peninsular: assim, pode hoje afirmar-se
com segurança que o início do Neolítico Antigo na região se terá verificado
na primeira metade do V milénio a. C.
A indústria lítica do Prazo , com lâminas, lamelas e geométricos (crescentes),
apresenta-se em continuidade com a do Mesolítico, presente no nível
subjacente, o mesmo se verificando com a tipologia das estruturas
habitacionais identificadas (fossas e estruturas de combustão). Ao nível
decorativo da cerâmica, estão presentes, tal como na Quinta da Torrinha, as
decorações incisas em espinha, ou formando motivos geométricos, ocorrendo
também decorações muito barrocas, associando elementos plásticos
(mamilos) à técnica do puncionamento arrastado ("boquique").
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dominaria, como admitem M. J. Sanches e S. Monteiro-Rodrigues (Sanches,
1997, 2003; Monteiro-Rodrigues, 2002). Seja como for, trata-se sempre de
sítios de permanência muito limitada, evidenciada pela fragilidade dos
vestígios habitacionais conservados e pela reduzida importância dos depósitos
produzidos.
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Na região do Douro Litoral, salienta-se a estação de Lavra I (serra da
Aboboreira, Marco de Canavezes), a qual documenta a frequência daquela
área atlântica por populações do Neolítico Antigo. Tratar-se-ia de um sítio
de estacionamento sazonal, com fraca densidade de espólio, disperso por
grande área, possuindo grandes estruturas de combustão circulares, escavadas
no saibro, preenchidas por materiais carbonosos. As cinco datas de
radiocarbono obtidas a partir de amostras recolhidas naquelas estruturas são
muito homogéneas, indicando a sua utilização entre meados do VI e os meados
do V milénios a. C. (Sanches, 1997, 2000, 2003). O escasso espólio
arqueológico é sobretudo importante pela cerâmica, onde se reconheceu a
técnica do puncionamento arrastado ("boquique"), formando grinaldas, ou
em "espiga" ou "falsa folha de acácia", bordos denteados, decorações incisas
e plásticas.
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(Carreira & Cardoso, 2001/2002), e a gruta do Carvalhal, Alcobaça (Spindler &
Ferreira, 1974), entre outras. Trata-se de recipientes de colo alto, por vezes de
parede rentrante, com fundo parabolóide, e decorações feitas a punção rombo ou
impressas, ocorrendo também as decorações incisas e com punção arrastado
("boquique"), em vários motivos, incluindo grinaldas. Tal realidade, insuspeitada
até época recente, permite considerar a existência de uma ligação entre o
interior-centro e a parte mais setentrional da Estremadura, a qual seria assegurada
através da região do Alto Mondego.
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8. A Consolidação do Sistema Agro-Pastoril no
Decurso do V e do IV Milénios a. C.
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Nos finais do V milénio a. C, a ocupação do território, em termos gerais,
seria ainda caracterizada por grupos itinerantes, de base familiar, talvez
constituídos por pouco menos de uma dezena de pessoas. Com efeito, o
reforço dos laços familiares (ou de parentesco) seria condição essencial para
a manutenção da coesão do grupo, indipensável ao êxito de uma economia
agro-pecuária, em face de crescente afirmação.
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das primeiras estruturas verdadeiramente megalíticas de índole funerária as
quais serão tratadas no capítulo seguinte.
Esta etapa cultural é pois, caracterizada, tal como a anterior, por implantações
em espaços abertos e regulares, constituídos por areias, as quais eram
facilmente agricultadas com os pequenos sachos de pedra polida, tal como
se tinha anteriormente observado nas estações do Neolítico Antigo, como a
de Cabranosa. Porém, ao contrário do verificado nessas estações, a cerâmica
lisa é agora quase exclusiva, sendo comum, como se disse, os esféricos e as
taças decoradas apenas por um sulco situado logo abaixo do bordo, revestidos
a almagre.
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al., 1986). De entre os materais arqueológicos, destaca-se a cerâmica,
representada esmagadoramente por recipientes lisos, alguns com sulco abaixo
do bordo; as raras decorações – cordões plásticos segmentados, mamilos e
matrizes impressas – sugerem reminiscências no Neolítico Antigo
Evolucionado do Alentejo litoral.
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povoado pré-histórico de Leceia, Oeiras (Cardoso & Detry, 2001/2002), entre
outros; por outro lado, é de admitir, no Neolítico Final, a introdução de
inovações tecnológicas, como o arado que, associado ao aproveitamento da
força de tracção animal, possibilitou, pela primeira vez, a lavoura de maiores
talhões agrícolas, com maior eficácia que a propiciada pelos pequenos sachos
ou outros dispositivos rudimentares até então utilizados, com a consequente
melhoria das produções.
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Também no norte do país se documentou recentemente, mercê de estudos
sistemáticos de terreno de Susana O. Jorge e de M. J. Sanches (Jorge, 1986;
Sanches, 1997), a existência de sítios domésticos, cuja escassez contrasta,
tal como na Beira Alta, com a informação relativa à arqueologia funerária da
mesma época.
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1992), os quais se implantam no topo de cabeços que se destacam na
paisagem; em ambos, é característica a presença de recipientes carenados,
os quais, tal como na Estremadura, marcam inquestionavelmente esta fase
cultural, embora no Alentejo se tenham prolongado, de forma pouco evidente,
pelo Calcolítico. Victor S. Gonçalves, em estudo sobre a distribuição, no sul
do país, deste tipo de recipientes (Gonçalves, 1991), registou outros sítios do
concelho de Reguengos de Monsaraz, com caracterísiticas de implantação
diferentes, correspondendo a zonas planas, como Torre do Esporão 3 e Areias
15, cujas características também se verificam nos vastos povoados em zonas
planas e arenosas do Alentejo litoral, como Vale Pincel 2, Sines, ou
Caramujeira, no litoral algarvio (Lagoa), sítios que podem ser globalmente
datados, à falta de indicações radiométricas absolutas, na segunda metade
do IV milénio a. C.
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associação coerente de formas lisas – onde dominam as taças carenadas e os
recipientes de bordo em aba – e decoradas, nas quais é praticamente exclusivo
o vaso de bordo denteado. A indústria lítica de pedra lascada, recorrendo ao
sílex, é muito abundante, certamente devido à disponibilidade local desta
rocha, avultando, além dos furadores, as lâminas de contorno elipsoidal e de
retoque cobridor, as quais se generalizam nos níveis mais recentes, já do
Calcolítico (Cardoso, 1994, 1997, 2000; Cardoso, Soares & Silva, 1996). A
sua ocorrência indica a existência de uma agricultura cerealífera –, possuem
acentuado brilho junto dos gumes, atribuído ao corte de gramíneas ("lustre
de cereal") – a par de elementos de mós manuais de arenito. Na indústria de
pedra polida, ocorrem com assinalável presença (em mais de metade das
peças), rochas anfibolíticas, inexistentes na Estremadura, cuja importação
do Alto Alentejo se justificava, atendendo às características mecânicas e de
dureza que possuem. Tal realidade será incrementada no decurso do
Calcolítico, evidenciando a intensificação económica, com a consequente
interacção cultural, então verificada. Mas o início de tal processo pode ser
ainda situado no Neolítico Final, mercê de uma economia agrícola em fase
de crescente especialização – no caso, trata-se, essencialmente, de uma
cerealicultura, propiciada pelas boas características dos terrenos adjacentes
– acompanhada de uma pastorícia igualmente florescente, baseada nos
rebanhos de ovelhas e de cabras e nos grandes bovinos, cuja abundância na
camada do Neolítico Final de Leceia é bem elucidativa da capacidade
económica das respectivas populações.
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do Alto Alentejo, poderá ser a "moeda de troca" destas pemutas, tendo presente
a sua abundância na Estremadura e na Beira Litoral, áreas onde se identificou
a sua exploração pré-histórica desde o Neolítico Final, tanto em pequenas
minas superficiais, como as existentes nas proximidades do povoado
pré-histórico de Leceia (Cardoso & Costa, 1991; Cardoso & Norton, 1997),
como através de verdadeiras galerias subterrâneas, como as identificadas
aquando da abertura do túnel ferroviário do Rossio, em Campolide (Choffat,
1889). Configura-se, assim, um dos exemplos mais interessantes da
importância dos recursos de origem geológica na economia das comunidades
agro-pastoris, a partir do Neolítico Final do território português. Numa escala
mais alargada, este processo poderia ser ainda adoptado na transmissão de
bens de prestígio como as belas contas de mineral verde, essencialmente do
grupo da variscite, cuja exploração atingiu o seu apogeu no Neolítico Final.
Tanto nos grandes monumentos megalíticos do Alto Alentejo, como nas grutas
sepulcrais, naturais ou artificiais, da Estremadura, igualmente utilizadas
naquela época, ocorrem com abundância tais elementos de adorno,
configurando um comércio a longa distância, a partir das zonas de exploração,
cujo mecanismo poderá ser explicado por permutas sucessivas, até aos locais
de utilização final. No caso destes minerais verdes, maioritariamente
representados pela variscite, a zona mais próxima de origem, face à
Estremadura, situa-se na região de Encinasola (Huelva), associada a materiais
vulcano-sedimentares silúricos (Edo, Villalba & Blasco, 1995). A grande
distância que separa esta mina dos locais de ocorrência dos materiais dela
provavelmente provenientes, implicaria complexos intercâmbios
transregionais. Tal realidade só se poderá justificar pela atribuição – num
fenómeno evidentemente supra-cultural, que abarcou toda a Europa ocidental
– a tais contas verdes de um valor simbólico e de prestígio. Deste modo, não
sendo tais matérias-primas acessíveis a todos os membros da comunidade –
especialmente os exemplares de maiores dimensões, que seriam por certo de
muito difícil obtenção, pela sua raridade, mesmo nas zonas mineiras – a sua
presença sugere a existência de diferenciações sociais intracomunitárias, com
origem, talvez, na emergência de actividades especializadas, no decurso do
Neolítico Final. Tal realidade encontra confir-mação na existência de peças
de carácter mágico-simbólico, como os báculos de xisto, artefactos de mando
e de prestígio, característicos da fase de apogeu do megalitismo alentejano.
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junto a Lisboa, cujas extraordinárias analogias (Zbyszewski, 1957), aliás
reforçadas pelas evidentes particularidades decorativas que ostentam, se
poderão explicar por terem sido produto do mesmo artífice ou oficina.
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fertilidade da terras e dos animais, da qual, como atrás se disse, passou a
depender a própria viabilidade dos grupos humanos. É assim que se
compreende a existência, tal como na generalidade das sociedades agrárias
neolíticas da bacia mediterrânea, de diversas figuras zoomórficas,
Fig. 104 representando espécies de alta fecundidade: coelhos ou lebres encontram-se
reproduzidos em dezenas de pequenas estatuetas, muitas delas com furo de
supensão, destinadas possivelmente a propiciarem a fertilidade dos seus
portadores, algumas em peculiar posição reprodutora, envolvendo dois
Fig. 105 animais. É também nesse âmbito que se compreendem as duas esculturas de
barro, representando suídeos (mais concretamente porcas na época do cio,
como sugere a morfologia da zona sexual, expressivamente reproduzida),
recolhidas no povoado pré-histórico de Leceia, na camada do Neolítico Final
(Cardoso, 1996). Importa referir que a representação de suídeos se estende à
Fig. 106 de recipientes utilizados por certo em cerimónias litúrgicas, como os
recolhidos na gruta do Carvalhal, Alcobaça, do Neolítico Final, ou já do
Calcolítico, como é o caso de exemplar de calcário oriundo do povoado
fortificado de Olelas, Sintra (Serrão & Vicente, 1958).
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9. Manifestações Funerárias Neolíticas não Megalíticas
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A partir do Neolítico Médio, assumem crescente importância, pela sua
visibilidade, as manifestações megalíticas, com uma distribuição generalizada
a todo o território português, embora de forma não aleatória. Deixando para
outro capítulo a caracterização do fenómeno funerário megalítico, importa
referir as sepulturas não megalíticas, isto é, aquelas que ocuparam espaços
ou recintos não definidos por grandes monólitos, as quais, por assumirem
carácter não-monumental, são por vezes preteridas na sua verdadeira
importância.
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tempo, em regiões desprovidas delas e de rochas com as dimensões suficientes
para a construção das sepulturas megalíticas primitivas, ter-se-ia recorrido à
simples abertura de covachos, que só acidentalmente se poderão encontrar: é
o caso da vasta região da bacia cenozóica do Tejo, a qual, sendo constituída
essencialmente por depósitos areno-conglomeráticos, não possuía recursos
geológicos propícios à construção de recintos megalíticos. É assim que se
poderá entender a sepulura do Vale das Lages, Alenquer, correspondente a
simples covacho aberto nos depósitos terciários a qual possuía, como
oferendas, apenas um pequeno machado de pedra polida e três geométricos
(Corrêa, 1928). Outra modalidade de sepultamento das fases mais antigas
do Neolítico é a patente na zona correspondente ao povoado de Salemas,
Loures: aproveitando as anfractuosidades do lapiás, em pequenas "cuvettes"
ou algares, efectuaram-se diversas sepulturas, datadas pelo radiocarbono no
Neolítico Antigo, entre 5230-4670 a. C., para um intervalo de confiança de
cerca de 95 %, época que é totalmente compatível com a tipologia do espólio
cerâmico recolhido na área do povoado (Cardoso, Ferreira & Carreira, 1996).
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Também no Neolítico Médio, prosseguiu, na Estremadura e áreas limítrofes,
a utilização de grutas naturais como necrópoles. Aqui, foram reportadas ao
Neolítico Médio as seguintes grutas: Gruta do Caldeirão; gruta do Cadaval;
Abrigo da Pena d’Água; Lapa da Bugalheira/Sala do Ricardo; e Lapa dos
Namorados (Zilhão & Carvalho, 1996). Os intervalos cronológicos
apresentados por estes autores, calibrados para cerca de 95 % de confiança,
variam entre os meados do V milénio a os meados do IV milénio a. C., sendo
de aceitar um intervalo de maior incidência no primeiro quartel do IV milénio
a. C. Uma data recentemente obtida para ossos humanos da gruta do Lugar
do Canto, Alcanede, deu o intervalo, depois de calibrado para cerca de 95 %
de confiança, de 4046-3752 a. C., resultado que se encontra conforme às
considerações anteriores. De realçar que esta gruta constituiu-se como uma
notável necrópole com apenas um único horizonte cultural, aumentando deste
modo o seu interesse no concernente à representatividade e homogeneidade
do respectivo espólio (Leitão et al., 1987).
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lamelas), furadores sobre esquírolas de ossos fracturados longitudinalmente, e
objectos de adorno, com destaque para pulseiras de conchas de Glycymeris
recortadas e contas de colar de conchas de Dentalium; ambas as categorias têm
paralelo nos espólios das sepulturas em fossa do Neolítico Médio catalão. De
salientar a total ausência de pontas de seta, indicando claramente uma época anterior
ao Neolítico Final, confirmada pela cronometria obtida.
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características das tumulações, realizadas sobre o chão da gruta,
correspondendo a deposições secundárias (Santos, 1972), por vezes
aproveitando as anfractuosidades das paredes laterais, como os espólios
recolhidos, indicam uma fase cultural inserível no Neolítico Médio: presença
de formas cerâmicas lisas, abertas e fechadas, de onde se encontra Fig. 135
completamente ausente a taça carenada, presente em contextos sepulcrais do
Neolítico Final regional; ainda quanto às formas cerâmicas representadas,
devem destacar-se diversos vasos de boca elíptica, de evidente raridade no
território português; na Lapa da Bugalheira, Torres Novas, obteve-se uma
data de radiocarbono correspondente ao intervalo de 3990-3727 a. C.,
relacionada com um destes vasos; por outro lado, na gruta do Escoural
reconheceu-se e presença de geométricos, com total exclusão de pontas de
seta (Araújo & Lejeune, 1995), o que abona a favor de uma fase mais antiga
que o Neolítico Final. Por outras palavras: parece ter-se verificado um
conservadorismo de produções líticas e cerâmicas, na passagem do Neolítico
Médio para o Neolítico Final, em certas áreas, enquanto que noutras, aquelas,
entretanto, já tinham sido progressivamente substituídas.
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O ritual de formação do correspondente depósito funerário foi descrito do
seguinte modo, pelos seus exploradores (Serrão & Marques, 1971):
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Muitas outras grutas naturais da região estremenha, foram ocupadas como
necrópoles no decurso do Neolítico Final: é o caso a norte do Tejo, da gruta da
Feteira, Lourinhã, para a qual se dispõe de uma datação de radiocarbono,
executada sobre uma costela humana, correspondente ao intervalo de 3506-3039
a. C., para cerca de 95 % de confiança. A respectiva escavação forneceu um
conjunto artefactual característico desta fase cultural: recipientes lisos, de
características idênticas aos recolhidos nos dólmenes (taças em calote, esféricos,
etc.), associados a taças carenadas e a vasos de bordo denteado, típicos do
Neolítico Final da Estremadura, enxós espalmadas totalmente polidas,
machados de anfibolito, lâmimas retocadas ou não, pontas de seta de base
côncava ou triangular, geométricos de sílex e mesmo um fragmento de placa
de xisto decorada, para além de diversos adornos (Zilhão, 1984). É este tipo de
associação artefactual que se repete, com maior ou menor abundância ou
riqueza, nos conjuntos funerários mencionados, que se distribuem na faixa
estremenha, do Mondego (gruta dos Alqueves) até Melides, localidade onde
foram identificadas igualmente diversas grutas funerárias com importante
ocupação funerária desta fase cultural (Nogueira, 1928).
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desaparecidos, e, mais recentemente, no Cerro das Cabeças, Silves,
correspondendo a uma sepultura em silo infelizmente destruída na sua quase
totalidade. Ainda assim, foi possível identificar vestígios de, pelo menos,
duas inumações, uma delas associadas a três artefactos: uma lâmina de sílex
não retocada, uma ponta robusta de osso totalmente afeiçoada por polimento
e um bracelete de Glycymeris ainda associado a porção de húmero (Gomes
& Paulo, 2003). Esta sepultura colectiva em silo integra-se no Neolítico Final,
possuindo o bracelete diversos paralelos, da mesma época, tanto na
Estremadura como mais para oriente, ao longo da Andaluzia e na Catalunha.
Na primeira das referidas regiões, merece destaque o fragmento encontrado
in situ na camada do Neolítico Final do povoado pré-histórico de Leceia
(Cardoso, 1997, p. 97) – a única ocorrência conhecida de área habitacional –
e, pela quantidade e qualidade, o conjunto recolhido nas grutas naturais
sepulcrais da Senhora da Luz, Rio Maior (Cardoso, Ferreira & Carreira, 1996).
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conjuntos homogéneos que não seja pela tipologia, designadamente os dos
seus primeiros utilizadores do Neolítico Final.
A gruta artificial da Praia das Maçãs é um monumento complexo, constituído por Fig. 188
um longo corredor, de lados bombeados como as grutas artificiais e parcialmente
escavado na rocha, a que se segue uma câmara de planta subcircular, em grande
parte também escavada na rocha, a qual comunica, através de uma estreita passagem
provida de dois nichos laterais, com uma segunda câmara, de menores dimensões,
totalmente escavada na rocha, a chamada "câmara ocidental" (Leisner, Zbyszewski
& Ferreira, 1969). Os referidos autores consideraram que esta última era a parte
mais antiga do monumento, à qual foi adicionada uma tholos calcolítica que, séculos
depois, teria sido construída no mesmo local da gruta artificial anterior e a ela
ligada. Esta suposição baseava-se no facto de o espólio ser muito diferente, para
além das datas de radiocarbono, obtidas em ambos os sectores, suportarem também
épocas de construção diferenciadas. Porém, escavações mais recentes, efectuadas
na década de 1970, que incidiram no sector do corredor até então não escavado,
vieram mostrar que este possuía elementos de cronologia compatível com o
Neolítico Final (Gonçalves, 1982/1983), sendo por conseguinte a construção de
todo o monumento atribuível a esta fase cronológico-cultural, sendo a zona da
câmara principal e do corredor, objecto de reutilizações sucessivas, no decurso do
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Calcolítico, que não se estenderam à câmara ocidental. Tratando-se de um túmulo
total ou parcialmente escavado na rocha, é compatível com a designação de gruta
artificial, embora a parede da câmara tenha sido revestida com lages, constituindo
cúpula, apoiada em pilar central de madeira, cujos testemunhos ainda se observaram
nas escavações da década de 1960.
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a que se reportam, respectivamente, os intervalos calibrados, também para
cerca de 95 % de probabilidade, de 3290-2880 a. C. e 3340-2900 a. C. (Silva,
2002).
Estes resultados são, deste modo, comparáveis aos obtidos nos túmulos homó-
logos da Estremadura; tais semelhanças são ainda sublinhadas pela seme-
lhança dos espólios encontrados, onde ocorrem igualmente os característicos
alfinetes de osso com cabeça amovível canelada, considerados por isso como
característicos do Neolítico Final, ainda que, como se viu, com sobrevivências
pelo Calcolítico: uma vez mais, é a continuidade cultural que se evidencia,
pontuada, naturalmente, por inovações.
Mas são as placas de xisto, tão abundantes nas grutas naturais e nos dólmenes
da Estremadura, utilizadas como oferendas funerárias cujo significado e
funções ainda se não encontram satisfatoriamente esclarecidos, a par dos
ídolos almerienses, em plaquetas recortadas, excepcionalmente reunidos na
mesma peça, que melhor corporizam os contributos oriundos do interior
alentejano, a que se somam os notáveis báculos de xisto, objectos de evidente
conotação com o exercício do poder; tal presença fez-se sentir, aliás, para
norte, na Beira Baixa, e para sul, no Baixo Alentejo e no Algarve, onde se
recolheram também numerosos exemplares. Esta realidade mostra que a Fig. 157
adopção de crenças e práticas funerárias de carácter transregional,
configurando um processo de interacção cultural generalizado,
multidireccionado e recíproco, não é mais, afinal, que a expressão material
de uma complexa rede de circulação de pessoas, de bens e de ideias, que se
intensificou no decurso do III milénio a. C.
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10. O Megalitismo no Território Português
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Os grandes monumentos pré-históricos que incorporam grandes pedras na
sua construção (literalmente: mega-grande; lithos, pedra), cujo inventário
sistemático se iniciou, em Portugal, no século XVIII, prosseguindo pelo
seguinte, podem repartir-se em dois grandes grupos: os de carácter
essencialmente funerário, os dólmenes ou antas, podendo, em diversas regiões
do país, ser designados por diversas expressões, como orca, arca, mamôa, ou
outras; e os de carácter ritual, constituídos apenas por um monólito de
dimensões variáveis (podendo ultrapassar os seis metros de comprimento),
designados por menires, quais podem ocorrer isolados, ou agrupados,
formando recintos fechados de geometria variável (cromeleques) ou
alinhamentos (apenas dubitativamente registados no território português). Fig. 107
Trata-se de dois processos com características e desenvolvimentos
completamente distintos, tal como distintos foram as respectivas finalidades
que presidiram à sua construção. Esta evidência justifica, pois, a manutenção
dos termos "megalitismo funerário", e "megalitismo ritual", conferindo-lhes
certa autonomia no quadro dos processos sociais observados no território
português entre meados do V milénio e os finais do III milénio a. C.
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estabilidade. Para sociedades cuja sobrevivência era baseada cada vez mais,
naquilo que produziam, impunha-se que criassem e cultivassem referências
identitárias em que todos se revissem. É desta forma que se pode explicar a
emergência e ulterior evolução da tipologia das sepulturas, que, de simples
covachos abertos junto da área habitada, no Mesolítico, evoluem para
verdadeiros monumentos megalíticos, cada vez mais evidentes na paisagem,
que, com o tempo, se vão tornando maiores e mais complexos. Nesses
primeiros momentos do megalitismo – também designado por
proto-megalitismo, dadas as dimensões modestas dos monólitos e dos espaços
por eles definidos – as sepulturas são individuais, e poderiam albergar apenas
dois ou três corpos, apresentam planta fechada e são cobertas por um
montículo de terra e pedras que as selavam; tal significa que, uma vez
consumada a tumulação, só com a remoção do montículo tumular se poderia
ter de novo acesso ao recinto funerário. Destinar-se-iam, provavelmente, aos
membros que mais se destacaram no seio da comunidade, os quais, deste
modo, assumiriam o papel de antepassado comum, que, fazendo parte da
memória colectiva do grupo de base familiar a que pertenciam,
desempenhavam assim um papel agregador e estabilizador. A implantação
destes sepulcros não se encontraria muito afastada do povoado onde vivia a
respectiva comunidade: na região que nos ocupa, o povoado de Salema, dos
finais do Neolítico Antigo Evolucionado, situa-se apenas a algumas centenas
de metros da sepultura proto-megalítica de Marco Branco, Santiago do
Cacém. Trata-se de uma câmara fechada, de planta elipsoidal e de pequenas
dimensões (1,70 m de comprimento por 1,35 m de largura), coberta por montículo
tumular também de pequenas dimensões. Identificaram-se dois momentos
de utilização do sepulcro, por certo separados por curto intervalo de tempo;
a ocupação mais recente integrava pelo menos restos de três indivíduos e
evidenciava rituais de fogo (Silva & Soares, 1983). O espólio recolhido é
pobre, no qual a única forma cerâmica identificada corresponde a uma taça
em calote lisa; a indústria lítica, também incaracterística, integra um raspador,
um buril e um trapézio simétrico, lâminas e lamelas com traços de uso. Se se
aceitar a conotação com o povoado da Salema, a cronologia para este sepulcro
ascenderia à primeira metade do V milénio a. C. e a uma fase de transição do
Neolítico Antigo Evolucionado para o Neolítico Médio.
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a ponta de seta de base pedunculada, o que remete a sua construção já para
os primeiros momentos do Neolítico Final, que antecederam a fase de apogeu
do megalitismo regional (segunda metade do IV milénio a. C.), representada
pelo dólmen de Pedra Branca. Trata-se de uma sepultura de câmara poligonal
e corredor de comprimento médio, provido de pequenos septos laterais. O
Fig. 128
número de deposições ascende pelo menos a sessenta e cinco, sendo muito
abundante a cerâmica, exclusivamente lisa, bem como as pontas de seta,
exclusivamente de base côncava ou recta, cuja importância aumenta, em
detrimento dos geométricos. Ocorrem, pela primeira vez, e em número
Fig. 129
elevado, as placas de xisto decoradas. Conquanto se baseasse apenas em três
monumentos, a evolução apresentada afigura-se coerente, apoiada nas
diferenças arquitectónicas, também observadas e nos respectivos espólios
exumados.
Para os autores, existem, pois, fundadas razões, não apenas para admitir que
um dos focos primordiais do megalitismo europeu se situou na região do
Alentejo litoral, mas também que a evolução do fenómeno megalítico, em
termos de espólios e arquitecturas, teve ali uma das suas áreas mais
expressivas.
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degenerescências das tholoi micénicas (Daniel, 1941), apesar de, muito antes,
diversos arqueólogos portugueses, como J. Leite de Vasconcelos e A. dos
Fig. 110 Santos Rocha terem chamado a atenção para a antiguidade do megalitismo
do território português.
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A evolução arquitectónica preconizada por Manuel Heleno para a região em causa
iniciar-se-ia, deste modo, pelas sepulturas fechadas, seguidas das pequenas galerias,
das antas só com câmara, depois das antas em câmara e corredor, terminando a
sequência com as antas de corredor longo, em particular as que apresentam corredor
com alargamento central e aquelas em que foi confirmada a presença de átrio
(Rocha, 2005, p. 99). A revisão que a autora citada faz dos monumentos e dos
espólios das escavações de Manuel Heleno, só possível graças aos seus cadernos
de campo, entretanto adquiridos pelo Estado, permitiu confirmar, naquela região,
a grande quantidade das pequenas sepulturas simples de granito, fechadas ou abertas,
mas sem corredor, as quais são sempre escassas nas outras regiões megalíticas
alentejanas. De modo geral, foi possível verificar empiricamente as seguintes
relações entre espólios e arquitecturas:
- a nítida incidência de espólio evoluído (pontas de seta e placas de xisto) em
monumentos de arquitectura mais complexa (antas de corredor);
- e a presença dominante dos espólios menos evoluídos, como geométricos,
nos túmulos de arquitectura mais simples (sepulturas fechadas ou de
corredor curto).
As incongruências entre estas tão simples relações foram explicadas através,
sobretudo, do conceito de polimorfismo evolutivo, segundo o qual a adopção de
novas formas de construir não se verificaram de forma monofilética, existindo um
período de coexistência entre formas arquitectónicas distintas; da mesma forma, a
substituição de espólios arcaicos por outros, mais evoluídos, respeitaram também
um modelo com ritmos próprios. Desta realidade, decorre a situação de existirem
túmulos e espólios aparentemente incongruentes, a qual, aliás, pode ter outras
explicações.
De facto, a ocorrência de espólios evoluídos em monumentos arcaicos pode ser
sempre explicada pela sua reutilização em épocas sucessivas, realidade de há muito
conhecida e comprovada, enquanto a ocorrência de espólios arcaicos em
monumentos evoluídos, além da explicação mais simples, recorrendo à própria
pervivência das produções (no caso dos geométricos), também realidade bem
conhecida, foi explicada pela hipótese de transladação de restos humanos e de
artefactos de monumentos mais antigos para os novos que iam sendo construídos,
a qual, porém, carece de confirmação.
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A cabal demonstração da antiguidade do megalitismo alentejano – e, por
extensão do megalitismo do ocidente peninsular – só foi, no entanto,
credibilizada, quando G. e V. Leisner dedicaram à antas da notável região
megalítica de Reguengos de Monsaraz estudo aprofundado, com a análise
cruzada, como Manuel Heleno anteriormente já havia feito, das arquitecturas
e dos espólios correspondentes (Leisner & Leisner, 1951), região onde
identificaram mais de cem dólmenes, a maior parte por eles escavados. Foram,
assim, levados à conclusão de que "o pequeno dólmen em forma de galeria
teria sido, no Alentejo, o tipo mais antigo", correlativo das sepulturas proto-
megalíticas acabadas de referir. Tal tipo encontra-se, porém, quase ausente,
na área de Reguengos, exceptuando a Anta 7 das Areias, de planta sub-
rectangular talvez aberta. Seguem-se os dólmenes de corredor curto e de
pequenas dimensões e, por fim os grandes monumentos de câmara poligonal
e longos corredores. Outra importante conclusão, que reforça a anterior, é a
da evidente maior modernidade das tholoi da região de Reguengos de
Monsaraz, face à das antas, o que contrariava a doutrina orientalista, atrás
referida. Decisiva para esta conclusão, que punha termo à hipótese contrária,
então ainda em voga (a revolução do radiocarbono viria pouco depois), foi a
Fig. 111 descoberta, no decurso da escavação da Anta 2 da Comenda e da Anta 1 da
Farisoa, de duas tholoi adjacentes,construídas no montículo tumular original,
prova evidente de que eram posteriores à construção das correspondentes
antas (Leisner & Leisner, 1951), como os autores bem salientam. Ficava,
deste modo, demonstrada, por argumentos empíricos, não apenas a grande
antiguidade das manifestações megalíticas do ocidente peninsular, como
também a sua evolução local, das construções megalíticas menores e mais
simples, para as maiores e arquitectonicamente mais complexas, sem excluir
a coexistência entre umas e outras.
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A Fase I do megalitismo de Reguengos encontra-se representada, como já
em 1951 foi assinalado por G. e V. Leisner, pela Anta 1 do Poço da Gateira,
o único sepulcro que ainda encontraram com o interior intacto. É constituído
por câmara alongada de tendência poligonal e corredor curto, definido por
dois esteios longos, de cada lado. Foram efectuadas talvez pouco mais de
Fig. 114
uma dezena de tumulações, tendo-se observado o uso do ocre vermelho,
aspergido ritualmente sobre os artefactos depositados. Nestes, merece
destaque a abundância de cerâmica lisa, com engobe a almagre, com
recipientes predominantemente fechados, com bordo ligeiramente saliente,
sublinhado por um sulco ou simples depressão característica, que é recorrente
nas produções do Neolítico Médio do sul do País, como atrás se referiu. Nas
indústrias líticas, ocorrem pequenos machados, toscos e de secção elipsoidal,
acompanhados de enxós de corpo espalmado e, excepcionalmente, de uma
goiva. A inústria da pedra lascada é constituída por lâminas não retocadas e
por geométricos, faltando totalmente as pontas de seta ou as placas de xisto
decoradas. Esta realidade é coerente com a cronologia absoluta, obtida por
termoluminescência sobre fragmentos de cerâmica, datados em cerca de 4500
a. C., ainda que com grandes intervalos de incerteza (Whittle & Arnaud, Fig. 115
1975), cronologia idêntica à obtida para a Anta 2 de Gorginos, da mesma
região e com idêntica arquitectura e espólio, ainda que menos abundante.
Estas duas datas situam, deste modo, a fase mais antiga do megalitismo de
Reguengos no Neolítico Médio, antecedido pela fase proto-megalítica antes
referida, correspondendo-lhe dólmenes de dimensões já assinaláveis, cujos
esteios maiores atingiam alturas da ordem dos dois ou mais metros, definindo
recintos com possibilidade de conterem pouco mais de uma dezena de
tumulações.
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pela Anta Grande do Zambujeiro, Évora e pela Anta Grande do Olival de
Pega, Reguengos de Monsaraz. Trata-se de túmulos de câmaras poligonais,
definidas por esteios que, no primeiro caso, atingem mais de cinco metros de
comprimento, com corredores muito longos, ultrapassando os dez metros de
comprimento. A presença de corredor, já detectada nos dólmenes da fase
anterior (Anta 1 do Poço da Gateira, por exemplo) permitia aceder
directamente ao interior da câmara funerária sempre que se pretendesse
realizar uma nova tumulação, nisso residindo uma das principais diferenças
funcionais relativamente às câmaras fechadas que só muito dificilmente
poderiam ser reutilizadas.
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que com configurações e atributos que evoluiram com o tempo: nas placas
consideradas mais antigas, dominam os motivos geométricos, designadamente as
bem conhecidas filas de triângulos isósceles, acompanhadas de zigue-zagues,
padrões em xadrez, por vezes em placas de cabeça e ombros recortados, que
aparentemente se sucedem às anteriores, o que sublinha o seu carácter
antropomórfico. Sem deixarem de ser fabricadas as mais antigas, sucedem-se, já
no Calcolítico, outras variantes, onde ocorrem, de forma ainda mais explícita,
atributos antropomórficos, incluindo a representação de pormenores anatómicos,
como olhos, nariz, sobrancelhas, e, em grupos particulares – incluindo exemplares
de arenito – de braços, mãos e, até de atributos sexuais (triângulo púbico feminino).
A produção maciça de placas de xisto – que atingem a Beira Baixa e o extremo
ocidental do Algarve, expandindo-se maciçamente para a Estremadura, como atrás
se referiu, situa-se no eixo de Reguengos de Monsaraz/Évora/Montemor, onde os
exemplares ascendem a vários milhares. Nos grandes monumentos dolménicos, a
sua presença é invariável e, como se verifica na Anta Grande do Olival da Pega,
podem ascender a muito mais de uma centena (Leisner & Leisner, 1951; Gonçalves,
1999), correspondendo cada uma a uma inumação ali realizada. A forte incidência
de placas no Calcolítico – como é demonstrado pelas que a escavação da tholos do
Escoural forneceu (Santos & Ferreira, 1969) – é mais um exemplo da continuidade
cultural verificada com a fase neolítica anterior. Em Espanha, as placas de xisto
circunscrevem-se à zona fronteiriça, tanto na Andaluzia (Huelva) como na
Estremadura (Cáceres, Badajoz). Tal distribuição geográfica faz deste artefacto
uma produção característica do território português, constituindo uma inequívoca
marca identitária das comunidades que o povoaram, associada à expressividade do
fenómeno megalítico no Alto Alentejo.
Não obstante a sua abundância, vicissitudes várias – escavações antigas,
remeximentos intensos do interior dos espaços funerários – fazem com que só
excepcionalmente se tenha podido associar estas placas ao inumado que
acompanhava. Um desses casos excepcionais registou-se na Anta 3 de Santa
Margarida, Reguengos de Monsaraz, onde uma notável placa de cabeça recortada
jazia ao pescoço do inumado, que pertencia a uma das vinte e cinco deposições da
primeira fase da utilização do monumento. Um osso deste indivíduo, datado pelo
radiocarbono, deu o resultado de 4270 ± 40 anos BP, correspondendo ao intervalo,
calibrado, para cerca de 95 % de probabilidade, de 2920-2870 a. C. (Gonçalves,
2003). As duas outras datas para a fase mais antiga da utilização funerária desta
anta, de câmara poligonal e corredor definido por dois grandes esteios, um de cada
lado, são idênticas, provando que a construção do monumento dolménico se
verificou nos inícios do III milénio a. C. Este facto torna-o coevo da construção da
tholos de Olival da Pega 2b, cujas datas, para a primeira fase de ocupação, serão
adiante apresentadas. A construção, na mesma região, de dois monumentos de
tipologias e tecnologias construtivas tão diferentes, faz crer na existência de grupos
culturalmente distintos: mas avulta a continuidade, ocorrendo as substituições de
forma difusa e paulatina.
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Quanto aos báculos de xisto – de que se conhecem também diversos exem-
plares em sepulcros colectivos estremenhos – é o caso do dólmen de Estria,
Sintra (Ribeiro, 1880), da gruta da Casa da Moura (Carreira & Cardoso,
2001-2002) e da Lapa da Galinha, gruta natural do concelho de Alcanena
(Sá, 1959) – um primeiro inventário, realizado por G. e V. Leisner e
ulteriormente retomado (Ferreira, 1985), permite situar em Montemor-o-Novo
Fig. 120 a zona de maior incidência de tais peças. Trata-se de exemplares com
decorações geométricas, idênticas às presentes nas placas de xisto, os quais
seriam empunhados pela base, que por vezes apresenta um rebordo, de modo
a facilitar tal manuseio. Sem se pretender discutir a simbologia subjacente a
estas peças, não existem dúvidas do seu significado, conotado com o exercício
do poder. Tal é indicado pela sua raridade, quando comparada com a
abundância das placas de xisto, sugerindo a existência de hierarquização
social e de relativa concentração do poder, aliás expressa implicitamente
pela própria construção dos grandes dolmenes do Neolítico Final alentejano.
Com efeito, a sua construção só seria possível no quadro de comunidades
numerosas, com uma estrutura interna já bem definida, capaz de mobilizar e
coordenar o esforço de centenas de pessoas, durante períodos de tempo
prolongados, necessários à construção daquelas sepulturas, técnicamente
complexas, desde a fase de extracção dos blocos nas pedreiras, até ao seu
transporte e ulterior fixação. Tais monumentos, que marcavam fortemente a
paisagem, tinham, deste modo, uma função múltipla: servindo de verdadeiros
depósitos mortuários, não deixariam de possuir um marcado simbolismo,
corporizando a memória colectiva da comunidade que os construiu e servindo
como marco de posse do território onde aquela se sediava, constituindo-se
assim como pólo agregador da sua coesão interna e expressão externa do seu
evidente sucesso. A pesada carga simbólica que estes enormes "contentores
de mortos" detinham fez-se sentir por muitas centenas de anos depois da sua
construção, durante os quais continuaram a ser intensamente utilizados. Aliás,
o facto de algumas das tholoi se encontrarem adstritas a antas da fase tardia
do megalitismo de Reguengos – para além das duas já referidas, pode
invocar-se o extraordinário conjunto da Anta 2 do Olival da Pega, constituído
por uma grande anta de longo corredor, e por vários sepulcros calcolíticos,
na sua adjacência e dentro do montículo tumular primitivo (Gonçalves, 1994,
1999) – sugere que existiu continuidade entre as duas técnicas arquitectónicas,
que o mesmo é dizer entre os seus respectivos construtores.
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que então conhecia o seu apogeu, para o qual concorreu decisivamente a
adopção, entre outras novidades tecnológicas ainda insuficiente demonstradas
(o carro, o arado), da força de tracção animal, já atrás referida.
Outro aspecto ritual que merece atenção é a orientação dos corredores das
antas de Reguengos: a representação gráfica mostra que a larga maioria se
orientava na parte média do quadrante de SE, ou seja, para a direcção de
onde desponta o Sol, no horizonte (Gonçalves, 1992). Esta abertura para a
luz, relaciona-se por certo com a crença na sobrevivência, aliás amplamente
manifestada pelo próprio ritual funerário e pelas oferendas que
acompanhavam quem partia: trata-se dos artefactos da vida quotidiana,
normalmente intactos, sinal de que não poderiam ser usados senão na vida
além-túmulo.
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Enfim, certas particularidades das cerimónias fúnebres havidas no interior
de alguns dólmenes foram caracterizadas, mercê de escavação meticulosa: é
o caso da Anta 3 de Santa Margarida, Reguengos de Monsaraz, onde uma
deposição primária tardia, de uma mulher de 40 a 45 anos, foi parcialmente
colocada sobre um cão de porte médio, com cerca de 18 meses de vida.
Ambas as deposições foram datadas pelo radiocarbono (Gonçalves, 2003): a
humana, deu o resultado de 3780 ± 40 anos BP, a que corresponde o intervalo,
para cerca de 95 % de probabilidade de 2310-2050 a. C.; para o cão, obteve-
se o resultado de 3720 ± 50 anos BP, e o intervalo de 2280-1960 a. C.;
trata-se, pois, de momento dos finais do Calcolítico, ou já do início da Idade
do Bronze, demonstrando a reutilização deste megálito, por certo acom-
panhada de muitas outras situações análogas.
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no entanto, conformar-se ao quadro geral de evolução da arquitectura
megalítica já antes apresentado.
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tipologia arquitectónica – é a constante presença de blocos de quartzo leitoso,
que revestem as mamoas, tornando-as deliberadamente visíveis, facto que,
aliás, favorece a respectiva identificação no terreno.
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baixo do que a câmara, devido às limitações impostas pelos pequenos elementos
de xisto ou de grauvaque utilizados. Tal como a arquitectura, também o espólio é
compatível com a fase de apogeu do megalitismo alentejano: ocorrem pontas de
seta de tipologia variada e cuidado acabamento bifacial, de sílex, machados de
pedra polida (que contudo não se diferenciam dos da fase anterior), placas de xisto
decoradas e cerâmica lisa, com destaque para a presença de taça carenada,
característica do Neolítico Final da Estremadura.
Fig. 122
Deste modo, à fase mais antiga poder-se-ia atribuir cronologia de meados do V
milénio a. C., enquanto que a fase de apogeu se verificaria cerca de mil anos depois,
ou seja, a partir de meados do IV milénio a. C. e até meados do milénio seguinte,
provavelmente já representada por monumentos de falsa cúpula, como é o caso da
Anta 3 de Amieiro, Rosmaninhal, Idanha-a-Nova (Cardoso, Caninas & Henriques,
2003), a qual seria equivalente da construção das tholoi no sul do país e na
Estremadura, já do pleno Calcolítico. A ser assim, trata-se de solução arquitectónica
já calcolítica – evidenciando, uma vez mais a continuidade, em detrimento de
ruptura – pela primeira vez documentada no interior do país a norte do Tejo, mas
com paralelos em monumentos do outro lado da fronteira, na província de
Extremadura (Badajoz e Cáceres) (Bueno Ramírez, 2000).
Esta sequência, embora clara, não deixa de ser matizada com a hipótese de
terem coexistido diversos tipos de arquitecturas megalíticas, configurando o
polimorfismo que V. O. Jorge tem vindo a defender para o megalitismo do
norte do país, perfilhada para a evolução megalítica do Alentejo Central sob
a designação de "polimorfismo megalítico", como atrás se referiu. Com efeito,
pequenas câmaras em forma de ferradura, abertas e desprovidas de corredor,
foram encontradas intactas; a escavação da Anta 8 do Amieiro, Idanha-a-Nova,
mostrou a presença de pontas de seta de base côncava, o que não deixa dúvidas
sobre a sua integração cultural em fase avançada do megalitismo (Neolítico
Final); do mesmo modo, a Anta 5 do Amieiro, a pouca distância da anterior,
revelou um espólio contendo uma grande lâmina de sílex, pontas de seta na
mesma rocha e uma grande placa de xisto de tipo alentejano, sendo deste
modo compatível com o Neolítico Final, apesar do arcaísmo da sua planta.
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a variante mais numerosa e considerada pela Autora a mais
característica da Beira Alta. Pode considerar-se uma forma
intermédia entre o grande dólmen de câmara poligonal e corredor
longo e o pequeno dólmen desprovido de corredor, dominante no
Noroeste peninsular.
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Na Beira Alta, o momento inicial do megalitismo foi associado à construção
do dólmen de Carapito 1 ("Horizonte" de Carapito/Pramelas); trata-se de
monumento de grandes dimensões, de câmara poligonal sem corredor; alguns
dos esteios encontram-se pintados, com destaque para os motivos astrais.
Uma datação de radiocarbono de alta precisão, obtida por D. Cruz e R. Vilaça
sobre madeira incarbonizada recolhida no chão primitivo da câmara, e por
isso relacionada pelos referidos arqueólogos, com a primeira utilização do
monumento, deu o resultado, para um intervalo de confiança de cerca de
95%, de 4031-3813 anos a. C, cronologia que remete para etapa precoce do
megalitismo regional, com espólio ainda de cunho arcaizante: observa-se a
associação de indústrias microlíticas a materiais arcaicos de pedra polida,
sobretudo machados, e a ausência de pontas de seta, que só surgem nos
monumentos mais complexos, do Neolítico Final ("Horizonte" de Moinhos
de Vento/Ameal), de J. C. da Senna-Martinez.Esta realidade enquadra-se
bem na atrás descrita, do monumento de Antelas.
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(desconhecidas na fase anterior), além de lâminas e de micrólitos, a que se
junta o extraordinário espólio do dólmen e de Moinhos de Vento, Arganil,
com evidentes ligações aos espólios dos monumentos dolménicos da região
da Figueira da Foz, com destaque para as grandes alabardas de sílex e punhais,
de fino trabalho bifacial.
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definitivamente encerrados. Exemplo paradigmático desta realidade foi
identificado, recentemente, pelo autor citado, na Orca de Castenairas, Vila
Nova de Paiva, já mencionada (López Saéz & Cruz, 2002/2003). Trata-se de
um dólmen construído em plataforma do rio Paiva, de corredor, cuja
construção se situará nos inícios do IV milénio a. C. (4000-3700 a. C.),
associando-se a última fase de ocupação a rituais de fogo, obstruindo-se
então a sua entrada e espaços adjacentes, em meados do IV milénio a. C.
Tal não significa, porém, que tais monumentos tenham perdido a sua carga
simbólica e funerária: embora os rituais possam ter mudado, os tumuli
continuaram, um pouco por todo o centro e norte do País, a serem objecto de
reutilização tardia, como locais de inumações singulares: na própria região
da Beira Alta, é de voltar a referir o dólmen dos Moinhos de Vento, com um
pequeno tumulus na periferia do original, que forneceu um espólio muito
rico, situável na segunda metade do IV milénio a. C. Verifica-se, assim, um
momento de profundas mudanças ao nível dos rituais funerários na região
em apreço, com o abandono das sepulturas colectivas e a emergência das
estruturas de tendência individual, as quais se afirmarão no decurso do III
milénio a. C., tanto nesta como em outras regiões, num fenómeno que expressa
o desinvestimento na construção dos grandes monumentos funerários,
concomitante com o esforço colectivo doravante canalizado para a edificação
de povoados fortificados.
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na fase mais antiga do megalitismo de outras regiões da Beira, parece não
fazer parte das oferendas rituais. Mais tarde, observa-se a generalização das
construções megalíticas; a par de grandes sepulturas poligonais simples, por
vezes fechadas, assiste-se à emergência de dólmenes com corredor. Surgem
então, pela primeira vez as pontas de seta, uma maior frequência de artefactos
de pedra polida, acompanhada da cerâmica, que aumenta muito
significativamente a sua presença (Silva, 1997). Alguns dólmenes são
decorados, como é o caso da mamoa 2 de Chão Redondo, Sever do Vouga.
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e deles parcialmente sincrónicos. Esta evolução não pressupõe, naturalmente,
uma substituição linear, de tipo evolucionista, dos dólmenes de arquitectura
mais simples pelos mais complexos, no que está de acordo com V. Oliveira
Jorge. Este último, de qualquer modo, conquanto defenda a realidade polimór-
fica do megalitismo da Aboboreira – citando como exemplo o caso da mamoas
contendo dolmenes e outras apenas fossas (Chã de Santinhos), admite que o
único monumento com corredor seja tardio, na sequência megalítica regional.
Fase inicial
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Fase média (3600-3100 a. C.)
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A visão que poderá ser retida da necrópole da Aboboreira é a seguinte: um
certo polimorfismo, patente sobretudo na sua fase inicial (no que Domingos
Cruz e V. Oliveira Jorge concordam), aceitando a existência de evolução
arquitectónica no sentido da crescente monumentalidade e complexidade,
no decurso do IV milénio a. C., ideia que, de facto, acabou por ser partilhada
de modo explícito por V. Oliveira Jorge (Jorge, 1990 b): "Il est possible que,
à un certain moment, des dolmens de type nouveau se soient ajoutés aux
petites chambres "traditionelles" dans les nécropoles déjà existentes (...)" (p.
51). Tais dólmenes teriam corredores e seriam de maiores dimensões,
implantando-se em locais dominantes numa dada necrópole, estabelecendo-se
assim uma espécie de hierarquia topográfica.
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pintados encontram-se incompletos ou em muito mau estado, sendo, por
isso de difícil interpretação. Seja como for, a sua ocorrência, com paralelos
noutros dólmenes da região, como o dólmen de Madorras – igualmente um
grande dólmen de câmara poligonal alongada e corredor bem diferenciado
(Gonçalves & Cruz, 1994) – faz estender à região transmontana, a par de
outras manifestações entretanto identificadas por Maria de Jesus Sanches, a
arte megalítica, tão exuberantemente representada em monumentos da Beira
Alta. Os indicadores cronológicos disponíveis para o dólmen de Madorras
situam a sua construção, para um intervalo de confiança de cerca de 95 %,
entre 4229-3984 a. C., com base num fragmento de tronco carbonizado
recolhido entre as lajes de contraforte, ali colocado aquando da construção
do monumento. O encerramento definitivo do monumento ter-se-á verificado
com base em data obtida de amostra recolhida no átrio, entre 3300-2917 a. C.
A mamoa 3 de Pena Mosqueira, Mogadouro (Sanches, 1997; Cruz, 1995), é
outro sepulcro transmontano sob tumulus, mas não megalítico. Com efeito,
a estrutura propriamente dita era constituída por um revestimento duplo de
pedras, interior e exterior, contendo na sua parte central, ao nível do substrato,
um enterramento simples, sublinhado no terreno por uma mancha de ocre.
Uma datação correspondente a carvões recolhidos nas terras que cobriam,
na parte central, a sepultura – eventualmente correspondentes a uma lareira
ritual pós-inumatória – indicou o intervalo, para cerca de 95 % de confiança,
de 3906-3633 a. C., que, em parte, coincide com o da construção do dólmen
anterior; estar-se-ia, pois, nas mesmas condições identificadas para a região
de Aboboreira: a construção coeva de sepulcros sob tumulus de vários tipos,
megalíticos e não megalíticos. Este sepulcro ilustra um tipo dominante em
Trás-os-Montes, representado por dezenas de pequenos a médios tumuli, em
geral não megalíticos, contendo no seu interior sepulturas simples ou
estruturas centrais em fossa (já observadas na serra da Aboboreira), de
cronologia igualmente neolítica (Neolítico Médio e Neolítico Final),
corporizando uma assinalável diversidade das arquitecturas tumulares da
época (Cruz, 1995).
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Barrosa, Caminha, correspondentes a monumentos isolados, que
predominam, na região minhota. A época tardia de edificação destes
monumentos tem sido admitida por diversos autores (Jorge, 1995, 1997).
Alguns destes dólmenes de planta evoluída apresentam-se decorados, o que
constitui um facto só recentemente identificado; nalguns casos, a pintura
associa-se à gravura, no mesmo suporte, situação observada no dólmen da
Eireira (Silva, 1994), com destaque para um grande antropomorfo gravado,
o maior reconhecido em dólmenes portugueses (Jorge, 1995). Mas o
polimorfismo – falta saber se estritamente sincrónico ou diacrónico – também
se evidencia nesta região. É o caso das pequenas estruturas fechadas como a
antela da Portelagem, Esposende e a mamoa 3 do Rapido, também naquele
concelho.
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Outra mamoa (a 6), situada cerca de 100 m a leste da mamoa 3, corresponde a
estrutura definida por anel lítico, sob tumulus.
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e "não megalíticos" (numa perspectiva restritiva desta designação) associados
a práticas funerárias/cultuais complementares" (Jorge, 2003).
Tendo presente o que atrás foi dito, a tendência para a diferenciação social
ter-se-ia iniciado nos vastos espaços alto-alentejanos, os quais, certamente
devido a condições naturais propícias, seriam muito mais povoados, como
revelam as centenas de tumulações identificadas nos maiores dólmenes, que
não têm paralelo no centro e norte do país.
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e ao Neolítico Final, existiria, de forma generalizada, tanto no norte como no
sul, uma evidente tendência para a desigualdade social, a qual, por seu turno,
encontrou nos excedentes de produção então gerados – muito difíceis de
admitir antes do Neolítico Final – a possibilidade de estes serem então
canalizados para a afirmação do poder das elites em ascensão (Soares, 1996),
o que obviamente não é incompatível com a própria afirmação do prestígio,
estendido a toda a comunidade responsável pela construção de tais estruturas,
por vezes imponentes.
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No concelho de Loures, é de destacar o grande dólmen do Alto da Toupeira,
o qual, como o de Penedo, perto de Verdelha dos Ruivos, poderia possuir
uma câmara e corredor indiferenciados (galeria coberta); a este tipo pertence
também o da Arruda, do concelho de Arruda dos Vinhos (Ferreira, 1959
Leisner, 1965). Os dólmenes de Casainhos e de Carcavelos, ambos no
concelho de Loures, possuem também câmaras poligonais e corredor. Os
espólios mais antigos neles encontrados são reportáveis ao Neolítico Final,
embora todos eles fossem reutilizados no Calcolítico: é o que indica, entre
outras evidências, as pontas de seta pedunculadas ou de base triangular, os
alfinetes de osso de cabeça postiça canelada ou lisa, as taças lisas carenadas,
bem como as grandes contas de mineral verde (variscite ?) que são
características dessa etapa crono-cultural, bem como as grandes alabardas
de sílex. A este conjunto artefactual, poderá acrescentar-se, no campo dos
objectos rituais, as plaquinhas de osso polido, representando o ídolo
antropomórfico almeriense e as placas de xisto decoradas, excepcionalmente
acompanhadas de báculos, como é o caso do exemplar recolhido na galeria
coberta da Estria. Uma característica construtiva particular deste conjunto
de monumentos megalíticos, os quais, com algumas excepções (cista
megalítica de Trigaches, Odivelas) se repartem entre os dólmenes de câmara
Fig. 140 poligonal e corredor e os dólmenes de câmara e corredor indiferenciados, é a
de incorporarem secções escavadas no substrato geológico, acompanhando
os tradicionais ortóstatos em especial no corredor. Trata-se, em suma, de
dólmenes tardios na sequência arquitectónica que se tem vindo a observar,
de técnica mista, associando simultâneamente o uso de ortóstatos e o recurso
à escavação do subsolo, à maneira das grutas artificiais anteriormente
referidas, das quais se poderão considerar globalmente sincrónicos (segunda
metade do IV milénio a. C. e inícios do milénio seguinte).
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lado a importância que, do ponto de vista simbólico detinham, no quadro de
uma região fortemente povoada, a tal ponto que se poderá admitir a hipótese
de, não só terem servido por muitas centenas de anos, mas também a várias
comunidades que, numa mesma época, partilhavam territórios adjacentes.
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10.1.6 Algarve
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O complexo funerário de Monchique foi dado a conhecer através de sucessivas
publicações, sendo a mais completa a publicada nos finais dos trabalhos,
pelos seus exploradores (Formosinho, Ferreira & Viana, 1953/1954). Embora
as origens desta vasta necrópole polinucleada, cujas sepulturas se concentram
Fig. 130
em zonas bem definidas (Palmeira, com dezasseis sepulturas, Eira Cavada,
com três, Buço Preto ou Esgravatadoiro, com sete, Belle France, com três,
etc.) deva remontar ao Neolítico Médio/Neolítico Final, a sua utilização
prolongou-se ao Calcolítico, com um máximo no Neolítico Final, época a
que se deve reportar a maioria das sepulturas.
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Por outro lado, há a registar elementos da super-estrutura simbólica exógenos, de
larga difusão supraregional, como as placas de xisto decoradas (um exemplar
recolhido no túmulo 7 do Buço Preto ou Esgravatadoiro, três no Rencovo),
confirmando a época em que este notável conjunto sepulcral se teria constituído: o
Neolítico Final ou o início do Calcolítico.
10.2.1 Menires
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arqueólogo a admitir que os menires em causa remontariam àquela época
(Calado, 1997, 2005); mas tal conclusão carece de confirmação inequívoca,
visto as ditas cerâmicas corresponderem a recolhas de superfície, que nada
provam quanto à antiguidade dos menires; seria o mesmo que encontrar,
num campo agrícola, um machado de pedra polida, junto aos muros romanos
de uma villa, das muitas existentes no Alentejo, e concluir-se que aquela
peça seria contemporânea dos romanos que habitaram esta última. Idênticas
reservas se poderiam apresentar para a antiguidade atribuída por alguns autores
aos monólitos conhecidos na notável região menírica do barlavento algarvio,
com base em pressupostos do mesmo género. Num dos casos, o menir de
Padrão (Vila do Bispo) encontrava-se a pouca distância de uma estrutura de Fig. 147
combustão, cuja datação corresponde ao Neolítico Antigo, conotável com
uma ocupação já anteriormente referida (Gomes, 1994): mas, como é óbvio,
tal estrutura poderá ser muito mais antiga que o menir, nada indicando que
se encontre funcionalmente associada a este. Já os critérios da estratigrafia
vertical são mais importantes, na discussão desta questão: na Caramujeira,
Lagoa, um dos menires encontrava-se, segundo M. V. Gomes, selado por
uma camada arqueológica do Neolítico Final, conferindo-lhe um limite
cronológico ante quem. Poderia, talvez com um outro, relacionar-se com a
ocupação do Neolítico Antigo Evolucionado ali caracterizada.
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sugestiva, que deverá ser devidamente confirmada, até por se basear, por
enquanto, em elementos muito discutíveis, incluindo a própria datação, obtida
por método ainda em fase experimental.
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Julgamos que as primeiras formas de megalitismo se terão traduzido nos
menires, sobretudo em peças de pequenas dimensões como as de Areias
das Almas, Caramujeira e Benagaia, encontradas em habitats,
desconhecendo-se então sepulcros cuja construção tivesse carácter
marcadamente monumental.
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O conjunto de menires do Lavajo, os primeiros a serem encontrados em todo
o sotavento algarvio, constituíam certamente marcos de carácter simbólico e
talvez também servindo como limites de territórios, cuja demarcação começou
seguramente a processar-se pelo menos no Neolítico Final. A este propósito,
cabe referir algumas antas, situadas junto a menires (Anta da Granja de
S. Pedro, Idanha-a-Nova; Anta Grande do Zambujeiro, Évora, dólmen de
Vale de Rodrigo 1, Évora), que poderão interpretar-se como reforço do marco
territorial, então já provavelmente constituído por aqueles monumentos,
alguns deles até à época actual (limites de freguesias, na sequência de
marcadores dos domínios das antigas ordens militares).
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de xisto morfologicamente idênticos recolhidos nas necrópoles do Neolítico
Final da Estremadura e do Alto Alentejo, a que já atrás se fez referência. No
entanto, M. Calado sublinha a possibilidade deste elemento ter sobrevivido
milénios, como expressão do domínio humano sobre os animais domésticos
(rebanhos de cabras e ovelhas), realidade que se manteve até aos nossos
dias. Por outro lado, a preparação, transporte (por vezes de vários km) e a
fixação de elementos de dimensões assinaláveis como estes, implicava a
existência de uma sociedade suficientemente organizada, aparentemente
desconhecida no Neolítico Antigo; a sua execução requeria também a
existência de excedentes de produção suficientes para manterem um segmento
importante da comunidade ocupados com as morosas tarefas de exploração
das pedreiras, transporte dos blocos e sua deposição em obra, longe de
confirmadas pelo registo arqueológico conhecido, antes do Neolítico Médio.
Também a dependência da fertilidade da terra, e dos seus sucessos agrícolas
(revelada pelo seu carácter fálico), parece mais forte do que seria de esperar
em grupos do início do Neolítico, ainda pouco praticantes da agricultura.
Estes são, pois, argumentos complementares para uma cronologia mais
moderna, do Neolítico Final, para a globalidade dos menires alentejanos.
A este propósito, importa referir que a implantação dos menires mais notáveis
da rica região de Reguengos de Monsaraz, marcariam, efectivamente, para
Victor S. Gonçalves, territórios de solos particularmente férteis, onde alguns
deles se situam, sendo a sua visibilidade e impacto simbólico evidentes, como
é o caso da grande estela-menir do Monte da Ribeira, Reguengos de Monsaraz,
atribuída ao Neolítico Final, até pela simbologia que ostenta, a qual será
adiante estudada (Gonçalves, Balbín-Behrmann & Bueno-Ramírez, 1997;
Gonçalves, 1999).
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O que aquele monumento evidencia, é a representação antropomórfica, tanto
volumétrica como gráfica, da figura do "chefe", que transparece, ataviado
com os atributos do seu poder, expressos ou de forma implícita, a que não
falta a representação de machados e do báculo. Se o significado do báculo
foi já foi anteriormente referido, não menos importante é a do machado,
relacionável com o domínio exercido pelo homem sobre a natureza vegetal,
através do desbaste de manchas florestais para a obtenção de campos agrícolas
e de pastoreio. A este propósito, cumpre referir que, desde o tempo de Manuel
Heleno se tem invocado, com razão, o "culto do machado", aliás na sequência
de evidências extra-peninsulares, devidamente valorizadas desde o século
XIX. Tal realidade, reflectindo a existência de uma sociedade já hierarquizada,
só é compatível com fase avançada do Neolítico, que Victor S. Gonçalves
conota com a segunda metade do IV milénio a. C.: assim se explicaria a
articulação entre a implantação destes menires e a fertilidade dos terrenos
adjacentes, como convinha a uma sociedade agro-pastoril, já distante da
economia de produção incipiente que caracterizou os primeiros tempos
neolíticos. Tais monólitos serviam, pois, como marcadores de propriedade,
por parte das comunidades que ocupavam os povoados adjacentes, com os
quais, nalguns casos e segundo o autor citado, foi possível estabelecer relação,
na região de Reguengos de Monsaraz.
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tradicionalmente fecundo, provenientes da camada do Neolítico Final do
povoado de Leceia, a que anteriormente se fez referência.
10.2.2 Cromeleques
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cromeleques: o cromeleque da Portela de Mogos, e o cromeleque de Vale
Maria do Meio, afastado cerca de 1,4 Km para ESE do primeiro. Aquele
corresponde a planta elipsoidal fechada, sendo constituído actualmente por
40 monólitos; o eixo maior, de orientação aproximada N – S, é sublinhado
por quatro menires, ocupando maior posição central. Esta direcção é
prolongada do lado nascente por outros menires, fora do recinto, constituindo
alinhamento (Gomes, 1997). Um estudo sobre a natureza petrogáfica dos
menires, mostrou que provieram de afloramentos compatíveis com os
existententes no próprio local, rectificando-se deste modo, anteriores
afirmações a tal respeito, resultantes de uma incorrecta implantação do sítio
no mapa geológico (Cardoso, Carvalhosa & Pais, 2000), não se confirmando
quaisquer preferências por tipos petrográficos exógenos, a que se pudesse
atribuir um especial significado simbólico.
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visto boa parte dos menires, de pequenas dimensões, se encontrarem tombados
e deslocados pelos trabalhos agrícolas, à data das descobertas. A recente
reescavação do recinto, no âmbito da minimização dos impactes arqueológicos
decorrentes da construção do complexo de Alqueva, manteve a planta Fig. 155
adoptada na reconstrução do recinto, com base em critérios que não se podem
considerar fiáveis. Seja como for, a parte central deste recinto seria ocupada
por grande menir fálico, cercado por cerca de cinquenta menires.
Tal como as entradas das antas, que se orientavam para o nascimento do Sol,
que desta maneira, se transformavam em caminhos de luz para a eternidade,
a própria temática exibida por alguns menires – corpos radiados, linhas
onduladas e outras representações abstractas – exemplarmente patentes no
menir de Belhoa (Reguengos de Monsaraz), reforça a conotação destes
monumentos com cultos astrais, extensivos de alguma forma aos cromeleques, Fig. 151
embora seguindo modelos ainda hoje obscuros (relembre-se a orientação do
cromeleque dos Almendres segundo a linha equinocial do nascimento solar).
Note-se que a manutenção destes cultos astrais no Calcolítico é uma realidade,
como denota a presença de recipientes com tal simbologia, gravada antes da
cozedura, reconhecida em diversos povoados da Estremadura e do Sudoeste.
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11. Arte Megalítica
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A arte megalítica será entendida neste manual como limitada às superfícies
dos monumentos megalíticos, sejam eles funerários ou não. No respeitante a
estes últimos, as considerações acima apresentadas já serão suficientes para
o nível de abordagem pretendido; deste modo, serão apenas tratadas as
manifestações artísticas existentes em monumentos funerários. Embora
possuindo íntima relação com a "arte megalítica", excluem-se da presente
síntese, as superfícies rupestres decoradas de afloramentos ao ar livre, bem
como as paredes decoradas de grutas ou de abrigos, as quais se tratarão
ulteriormente.
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Debaixo não tinha pedra, mas era terra barrenta, e com alguns carvoens. E
porque se entendeo, que a sobredita terra, e pinheiro forão escavados de
noite para effeito de roubar algum thesouro, que alli estivesse, se deu parte
ao Ouvidor de Barcellos, o qual foi lá com outro Ministro, e do que acharaõ,
deraõ aviso ao Conselho da Fazenda.
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nas datas de radiocarbono já mencionadas, situando a sua construção no
primeiro quartel do IV milénio a. C.
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Estes dois motivos solares concêntricos servem, por seu turno, de suporte a
uma outra representação antropomórfica, ao que parece ornada de dois
cornos divergentes, também observáveis, mas com menor grau de certeza,
na figura maior (apenas num dos lados?). Em redor deste conjunto peculiar,
distribuem-se pares de pequenos antropomorfos esquemáticos e zoomorfos,
talvez relacionados em cenas de caça (Cunha, 1995, Est. X). O outro esteio
pintado da câmara ostenta motivo não menos espectacular: trata-se de um
grande antropomorfo fálico de onde irradiam pequenos filamentos marginais
que dão um aspecto incandescente e sobrenatural à figura. De pernas direitas
e abertas, os braços, levantados e pendentes em ângulo recto ao nível do
ombro têm, ao mesmo tempo, tanto de ameaçador como de protector; com
efeito, de um dos lados parece proteger um par de antropomorfos
esquemáticos, enquanto do outro, o mesmo lugar é ocupado por um terceiro
antropomorfo de dimensões ligeiramente maiores.
Estas duas representações parecem apontar para a ideia do renascimento e
de protecção dos espíritos: no esteio da cabeceira, o sol, como motivo central
dos dois antropomorfos sexuados, símbolo também da fecundidade,
cercados por pequenos antropomorfos por vezes também fálicos, cães e
talvez cervídeos; no outro esteio da câmara, o grande antropomorfo
irradiante emana energia protectora, abraçando as almas dos defuntos,
representados pelos pequenos antropomorfos esquemáticos. Claro está que
esta é apenas uma interpretação possível de representações que,
eventualmente, eram feitas por certos elementos especiais do grupo, talvez
executadas sob o efeito de alucinogéneos (outra afirmação indemonstrável,
mas nem por isso menos plausível).
Orca dos Juncais (Vila Nova de Paiva) – a "cena de caça" que M. V. Gomes
identificou nos antropomorfos e zoomorfos que se observam em posição
secundária no esteio da cabeceira deste dólmen (Gomes, 2002) é de há
muito conhecida, pois a arte pictórica deste dólmen foi a primeira a
publicar-se, através do estudo pioneiro de José Leite de Vasconcellos, que,
no final do século XIX trouxe dali, para o Museu Etnológico, um fragmento
de esteio com duas representações antropomórficas esquemáticas, pintadas
a vermelho.
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do quotidiano no universo cognitivo, feito de alusões, e no quadro funerário
dos que ali foram tumulados; ainda que o realismo da composição mostra
que quem a pintou se encontrava bem documentado, incluindo detalhes
técnicos como as características tipológicas das pontas dos projécteis, a
intenção do artista não era, certamente essa. A cena tem uma leitura
simbólica que nos ultrapassa; sobre a qual, poderemos, apenas, subscrever
as considerações de outrem: embora sub-naturalista, "aquela arte não
pretendeu mimetizar o real, não auferindo de carácter narrativo estrito, tanto
ao nível do discurso iconográfico como no respeitante ao significado
imediato (...). As aparentemente ingénuas cenas de caça, apesar dos
convencionalismos figurativos (...) devem referir-se a universo religioso
complexo e, em especial, à fertilidade, tanto dos campos como dos rebanhos,
no quadro de sociedades perfeitamente neolitizadas, onde a caça estimularia,
através do seu ritual, de sangue e de morte, a renovação e a fecundidade,
aludindo, afinal, ao controlo do Homem sobre a Natureza" (Gomes, 2002,
pp. 179-180). Não se esqueça, ainda, que o veado é um dos animais
tradicionalmente conotados com a renovação da vida, desde a Pré-História,
talvez porque as suas armações caiem todos os outonos, para renascerem
na Primavera seguinte, como as plantas e as árvores cadocifólias. Importa
ainda referir que este motivo, embora notável, não ocupa a posição principal
na superfície decorada. Esta corresponde a um motivo pouco nítico, de
base rectilínea e lados verticais ortogonais, de evidente simbolismo não
figurativo: mais uma prova da complexidade subjacente à interpretação da
arte megalítica, mesmo dos seus motivos aparentemente mais simples e
evidentes: "Ceci n’est pas une pipe", parafraseando a célebre pintura de
Magritte, que serviu de mote a um ensaio de V. O. Jorge sobre a arte
megalítica, ao declarar: "oxalá interiorizemos um dia plenamente, ao
observar um serpentiforme gravado ou pintado num megálito: "ceci n’est
pas un serpent" (Jorge, 1997, p. 29).
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Com efeito, trata-se de cronologia justificada pelo facto de os dólmenes
poligonais simples (desprovidos de corredor) da região só raramente serem
ornados com pinturas ou gravuras, o que leva naturalmente a aceitar que
dólmenes complexos, de grandes dimensões e implantados em pontos
destacados, como é o caso, sejam os mais importantes e correspondam ao
momento inicial do apogeu do megalitismo regional; a tendência para a
monumentalização era sublinhada pela adição de arte, correspondendo-lhe,
desta forma, um concomitante reforço simbólico do seu significado. Como
bem sublinham os autores supra citados, o já aludido aumento demográfico,
que teria justificado o acréscimo no tamanho dos monumentos então
verificado, foi acompanhado por reforço do seu significado simbólico,
expresso pela arte que ostentam nos seus espaços interiores, os quais só
seriam acessíveis a um pequeno grupo diferenciado do todo comunitário,
reflectindo a complexidade das cerimónias que neles se desenrolavam. Esta
realidade não contraria, contudo, o seu pendor público, como atestam os
átrios exteriores, ao ar livre, onde as cerimónias poderiam ser acompanhadas
pela totalidade comunidade. Seja como for, a existência de espaços públicos
e espaços reservados, por certo só acessíveis a uns quantos, mostra como a
diferenciação social se pode também entrever na complexidade crescente
de arquitecturas funerárias e dos rituais a elas associados.
Dólmen de Pedralta, Cota (Viseu) – trata-se, igualmente, de monumento
dolménico decorado, de há muito conhecido (Coelho, 1924; Corrêa, 1928),
pertencente a um núcleo megalítico muito numeroso. À vista umas das
outras, refere o primeiro dos autores citados nada menos de três antas.
Explorou uma delas, de câmara simples, sem corredor, a qual não ostentava
qualquer esteio decorado, ao contrário da Pedralta, dólmen de grandes
proporções, com câmara e corredor, orientado como de costume para o
quadrante de SE. A câmara é constituída por dez esteios, de grandes
dimensões. Como refere José Coelho, do lado esquerdo do grande esteio
de cabeceira, existiam dois esteios pintados; tal como foi observado
anteriormente no dolmen de Baltar, a pintura predominante é a vermelho,
sendo o negro apenas muito localmente utilizado, para salientar pormenores;
outra característica comum também àquele megálito é a existência de uma
base branca, sobre a qual se executaram as pinturas, a vermelho, de
características invulgares: num caso trata-se de um motivo fitomórfico
simples; noutro, a decoração encontra-se compartimentada por linhas
horizontais em quatro campos, ocorrendo no segundo dois ídolos
antropomórficos, também a vermelho. Mendes Corrêa levou para o Porto
estes dois esteios, depois de os ter partido em diversos fragmentos. Os
desenhos publicados por Mendes Corrêa (Corrêa, 1928) destes esteios,
foram ulteriormente redesenhados por G. Leisner, e por este publicados
(Leisner, 1934); os que se mantiveram inéditos, foram incorporados na
obra de E. Shee Twohig (Twohig, 1981, Figs. 41, 42). Trata-se de exemplares
que, deste modo, foram desenhados em três momentos distintos, e por
autores diferentes. No grande esteio de cabeceira, G. Leisner pôde ainda
identificar a existência repetida, formando métopas horizontais, dos ídolos
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antropomórficos a vermelho que já haviam sido assinalados num dos esteios
laterais. A presença desta representação, claramente reportável ao ídolo
almeriense, tem, ainda mais a norte, no dólmen de Pedra Coberta (La
Coruña), equivalente próximo. Será, assim, necessário admitir a existência
de um fluxo transregional, susceptível de explicar, em paragens tão
setentrionais, um elemento ideotécnico de cunho marcadamente meridional.
Por tal evidência não ser única, aumenta a probabilidade de não se tratar de
um simples fenómeno de convergência formal. Com efeito, na orca das
Corgas da Matança, Fornos de Algodres, belo dólmen de câmara simples,
embora de grandes dimensões, recolheu-se um ídolo de azeviche,
antropomórfico, de contorno recortado, afim dos ídolos almerienses, com
afinidades em exemplares do sudeste espanhol (Los Millares, Almería) Cruz,
Cunha & Gomes, 1990, Est. IV).
Dólmen de Carapito I (Aguiar da Beira) – este grande dólmen, com esteios
que ultrapassam os 5 metros de altura, possui câmara poligonal, aberta a
nascente, e é desprovido de corredor, como já anteriormente se referiu;
alguns dos esteios são insculturados, embora não seja clara qual a
correspondência desta arte com as duas fases de ocupação detectadas no
monumento. Nas proximidades, conhecem-se outros três monumentos
megalíticos (Leisner & Ribeiro, 1968). As gravuras identificadas pelos
escavadores do dólmen, foram ulteriormente redesenhadas por E. Shee
Twohig (Twohig, 1981, Fig. 50); repartem-se essencialmente por dois
esteios: num deles, observam-se quatro circunferências e uma elipse, por
vezes ligadas por linhas serpentiformes; no outro, destaca-se a existência
de quatro círculos radiados, dispersos pelo campo decorado. Ulteriormente,
foram detectadas novas insculturas em outros esteios e completadas as já
conhecidas, o que fez aumentar para seis o número de figuras radiadas no
esteio já conhecido; noutro esteio, observou-se, ao nível da base, uma linha
ondulada e na área inferior de outro esteio, várias circunferências, algumas
com apêndices, integrando-se bem nas características já reconhecidas nos
outros esteios (Cruz & Vilaça, 1990). Deste modo, parece que o interior
deste dolmen monumental foi decorado logo no início da sua utilização,
remetendo as correspondentes gravuras para o primeiro quartel do
IV milénio a. C., o que não destoa de outros conjuntos conhecidos.
Dólmen 2 de Chão Redondo (Sever do Vouga) – estudado por L. de
Albuquerque e Castro (Castro, 1960), trata-se de um monumento com
câmara e corredor indiferenciados. No conjunto, destaca-se o grande esteio Fig. 159
de cabeceira, e, logo a seguir, os dois que o marginam de ambos os lados,
que ostentam motivos gravados geométricos, constituídos por zigue-zagues
verticais, associados a circunferências, como se observa no esteio situado
do lado esquerdo da cabeceira, ocupando, como nesta última, toda a
superfície disponível, num complexo motivo simétrico, organizado para
ambos os lados, a partir de um eixo vertical central, de cunho antropo-
mórfico.
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Os monumentos que temos vindo a caracterizar situam-se todos, exceptuando
o dólmen de Baltar, na Beira Alta; e muitos outros se poderiam adicionar,
embora com interesse menor, em face das representações artísticas estudadas
ou conservadas. Com efeito, o estudo já clássico de E. Shee Twohig que tem
vindo a ser citado (Twohig, 1981), inventariou mais de meia centena de
dólmenes decorados na Península Ibérica, a larga maioria dos quais situados
na Beira Alta e a norte de Douro. Porém, nas duas últimas décadas, muitas
outras ocorrências se registaram, especialmente a norte do Douro, onde a
rarefacção era evidente. Um balanço geral recentemente publicado, dá conta
das descobertas entretanto realizadas neste domínio (Gomes, 2002). Embora
as representações pictóricas se apresentem, em geral, pobres e mal
conservadas, foram registadas em diversos dólmenes transmontanos e do
Douro Litoral, como Madorras 1, Vilarinho da Castanheira, Zedes, Fonte
Coberta (Alijó), Chã de Parada 1 e 3 (serra da Aboboreira, Baião/Amarante),
Chão de Brinco 1 (Cinfães), para além de ocorrências no Minho litoral, como
nos dólmenes de Barrosa e de Afife (Viana do Castelo) e do planalto de
Castro Laboreiro.
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A descoberta mais interessante na região minhota feita até o presente no
capítulo da arte megalítica, refere-se aos dois dólmenes decorados do planalto
de Castro Laboreiro (concelho de Melgaço) – mamoa 2 da Portela de Pau e
Mota Grande – situados a pouca distância, o último já do outro lado da
fronteira. Relativamente ao primeiro monumento, as gravuras correspondem
a bandas em zigue-zague horizontais, realizadas em seis dos sete esteios que
constituem a câmara do monumento, desprovido de corredor, como Carapito
I. Mais raramente, observaram-se circunferências, por vezes articuladas com
as linhas em zigue-zague horizontais, meandriformes (serpentiformes) e, num
caso, uma figura antromórfica. Detectaram-se, ainda, nalguns esteios, restos
de pintura a negro (Jorge et al., 1997; Baptista, 1997).
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IV. PARTE
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Objectivos de aprendizagem e actividades sugeridas
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- os moldes em que se processou a acentuação das influências mediter-
râneas no decurso do Calcolítico (em especial na metade meridional
do território): a generalização do comércio transregional calcolítico e
a intensificação e especialização das produções, no quadro da RPS
(exploração de jazidas cupríferas) como veículo de difusão de novas
técnicas (metalurgia), matérias-primas exógenas (marfim) e artefactos
ideotécnicos de características até então desconhecidas (generalização
do culto da divindade feminina e correspondentes expressões simbó-
licas) e difusão, de Sul para Norte, de novas arquitecturas funerárias
(tholoi), face às características das tumulações calcolíticas de outras
zonas do País;
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por si só, as duas fases do Bronze do Sudoeste, deverão ser conhecidas
quanto à organização arquitectónica, rituais e espólios, na perspectiva
social, para a qual também concorre a caracterização das chamadas
estelas de tipo alentejano e respectiva iconografia e integração cultural.
Enfim, para além das necrópoles de inumação e de incineração do
centro interior norte, recentemente dadas a conhecer, avulta a
expressiva arte rupestre galaico-portuguesa, com antecedentes no
Calcolítico, cujos principais sítios, natureza das representações e seu
significado deverão ser discutidos.
O Bronze Final é dominado pela plena afirmação do comércio transregional
atlântico-mediterrâneo, favorecido pela própria realidade geográfica do
território português. Importa conhecer os testemunhos materiais desse período
e as respectivas balizas cronológicas. Assim, deverão os alunos estar
familiarizados com as produções de carácter atlântico (armas, objectos
utilitários e respectivas tipologias) e com as de cunho mediterrâneo (com
destaque para objectos de indumentária e de carácter cultual), cujo comércio
e difusão, no território português, foi suportado pela existência de
solidariedades económicas, baseadas em prováveis pactos formalmente
firmados entre comunidades, cujo territórios, de norte a sul do País, se
apresentariam cada vez mais compartimentados. A respectiva economia
deverá por isso ser conhecida, na qual, embora de base agro-pastoril, a
exploração mineira assumiu importância crescente. Neste contexto, importa
compreender as especificidades dos três grandes domínios territoriais – o
norte (incluído o interior centro), a Estremadura (até ao Mondego, na
perspectiva geográfica de O. Ribeiro) e o sul – possuindo cada um deles
características próprias. A plena afirmação de elites, necessárias para a boa
gestão de grandes povoados muralhados que despontam no Bronze Final
torna-se deste modo uma realidade que deverá estar presente, e ser
devidamente compreendida no quadro da própria evolução da sociedade.
Também a existência de outros testemunhos arqueológicos são concorrentes
para a percepção da realidade social: as jóias auríferas, tornadas frequentes,
deixam transparecer influências a um tempo atlânticas e mediterrâneas, por
vezes reunidas numa única peça (técnicas e tipologias decorativas), que devem
ser conhecidas; as armas são igualmente testemunho da afirmação das elites
guerreiras, encontrando-se representadas por peças de diferente tipologia (que
deve ser conhecida), para além de figurarem nas estelas de tipo estremenho.
O significado funerário-ritual destes monumentos é outro objectivo de
aprendizagem importante, bem como o conhecimento da respectiva
distribuição geográfica e faseamento interno, com base na evolução
iconográfico-simbólica e na cronologia absoluta.
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de urnas) e mediterrâneas (sepultura da Roça do Casal do Meio), que traduzem
uma realidade cultural complexa, resultante de cruzamento de influxos de
diversas áreas geográficas em simultâneo: é, no essencial, a compreensão
global desta realidade, a um tempo económica, social e cultural, coroando
um longo processo de diferenciação social, por um lado e, por outro, de
intensificação económica e interacção cultural, que lhe está subjacente, que
o aluno deverá ter presente, ao concluir o estudo desta última parte da
disciplina.
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- sepulturas de inumação e de incineração da Idade do Bronze do
território português: elaborar breve ensaio sobre o tema, sem esquecer
a distribuição geográfica das ocorrências e respectivas características,
espólios acompanhantes (cerâmicas, metais), cronologia absoluta e
integração cultural;
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12. A Emergência das Primeiras Sociedades
Complexas Peninsulares
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12.1 Difusionismo versus indigenismo: o caso dos povoados
fortificados da Estremadura
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Esta opção do autor, após ter enunciado anteriormente, sem se decidir por
nenhuma, outras hipóteses (Gonçalves, 1988), recupera ideias que, em
décadas anteriores tinham sido defendidas, tanto por investigadores ingleses
como alemães, com especial destaque para E. Sangmeister e H. Schubart
que, de 1964 a 1973, dirigiram trabalhos de escavação no Zambujal (Torres
Vedras). Transcreveremos algumas das mais expressivas afirmações que
consubstanciaram o pensamento dos autores:
A última versão daqueles dois autores que corporizam, entre nós, o expoente
da doutrina colonialista – uma das poucas vertida para português – pode
decompor-se em duas hipóteses distintas, mas não incompatíveis.
Transcrevê-las-emos na íntegra:
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A segunda hipótese dos autores aceita que as fortificações possam resultar
de um processo de competição interno, entre grupos autóctones, o que não
estaria longe da nossa perspectiva, não fosse atribuir aos pretensos grupos
exógenos a responsabilidade indirecta pela edificação de tais fortificações, e
ao cobre o leit-motiv da sua presença. Note-se, ainda, que não está
minimamente reconhecida, em termos arqueológicos, a coexistência, na
Estremadura, de dois ou mais grupos socio-culturais distintos, no decurso
do III milénio a. C. Ao contrário, o próprio registo arqueológico sugere uma
evolução "in situ" da formação social calcolítica da Baixa Estremadura a
partir das populações que aqui viviam, e pujantemente deixaram os traços da
sua presença, no Neolítico Final, ao longo da segunda metade do
IV milénio a. C., segundo datações de radiocarbono já disponíveis, com
destaque para Leceia (Oeiras), tanto em povoados, como em necrópoles
(grutas naturais, grutas artificiais e monumentos megalíticos).
Almería entonces debió tener una intensa relación con las islas del
Mediterráneo Occidental, en donde Malta es el puesto avanzado de la
relación egeo-anatólica. A esta relación se debe el nuevo tipo de ídolo de
forma humana de Los Millares (...), y, sin duda un perfeccionamento de la
técnica arquitectónica, que se manifesta en las murallas con torres de Los
Millares – que llegan a Portugal – (...) y la generalización de la falsa cúpula
en los "tholoi", sostenida a veces por una pilastra o columna.
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A pretensa semelhança vislumbrada entre os povoados fortificados em causa
e outros, do Mediterrâneo oriental, foi abordada por Blance (1957, 1961).
Do primeiro dos estudos referidos, destaca-se a seguinte passagem:
Desta breve análise podemos concluir que o uso dos bastiões ou cubelos
com finalidade defensiva não era desconhecido na região do Mediterrâneo
Oriental, se bem que, por outro lado, não fosse coisa vulgar. Tais construções
não estão, porém, confinadas a uma determinada zona, mas sim, de um
modo geral, espalhadas por toda essa área. É todavia interessante verificar
que, ao lado de todos os exemplos referidos de torres rectangulares, apenas
as de Chalandriani e de Buhen apresentam a forma semicircular (op. cit.,
p. 175).
Tais palavras parecem, ainda, ecoar nestas outras (Jorge, 1994a, p. 459):
As semelhanças estilísticas que aglutinam muitos artefactos e arquitecturas
do mundo mediterrânico não devem ser ignoradas, mas terão de ser
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interpretadas no âmbito de outros mecanismos difusores – interacções em
larga escala – cuja natureza requer uma avaliação contextualizada (...).
Para alimentar uma população de 200 a 300 habitantes, número que julgamos
adequado à realidade observada em Leceia, não seria necessária uma área de
captação de recursos superior à que se poderia atingir em duas ou três horas
de marcha. Dentro de tal território não se reconheceram, até ao presente,
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através de cartografia arqueológica e actualizada (Cardoso & Cardoso, 1993),
quaisquer núcleos activos no Calcolítico Inicial ou no Calcolítico Pleno,
susceptíveis de constituirem ameaça à segurança dos habitantes de Leceia.
Idêntica afirmação é válida, considerando a eventualidade de sobreposição
parcial de tal território com o correspondente a outro povoado situado fora
daquele limite. Com efeito, a cartografia arqueológica disponível para o
concelho de Cascais (Cardoso, 1991), conquanto assinale vários povoados
calcolíticos, nenhum corresponde à importância do de Leceia, ao menos
considerando o registo conservado. Os habitantes daqueles poderiam, no
entanto, constituir uma ameaça latente, conjuntamente com as populações
disseminadas em pequenos núcleos calcolíticos, situados a Norte, tanto no
concelho de Amadora como no de Sintra, cuja existência é segura. Em
consequência, e embora não se possa invocar a ameaça corporizada por um
outro povoado de grandeza análoga, de expressão regional, o conjunto de
núcleos de menor expressão identificados em um raio de 15 km em redor,
poderiam constituir uma pressão constante, ainda que difusa, sobre as terras
usufruídas pelos ocupantes de Leceia; e idêntica afirmação será válida para
os restantes sítios fortificados de primeira grandeza. Assim, cremos que a
construção destas fortalezas se terá devido mais a razões de ordem preventiva.
A simples presença de uma fortificação com tamanha imponência,
constituindo um marco bem evidenciado na paisagem, longe de nela se
dissimular, corporizaria a posse e os direitos sobre determinado território
envolvente, servindo, ao mesmo tempo, como elemento dissuasor (ou
intimidatório, cf. Sangmeister & Schubart, 1972, p. 197) de qualquer grupo,
oriundo ou não da região, que pretendesse invadir e ocupar tal domínio.
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complexificação e de tensão social, cada vez mais intensas, mas onde, de
início, a metalurgia do cobre não teria qualquer expressão.
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12.2 Faseamento do Calcolítico da Estremadura
Calcolítico Inicial
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Convém recordar, porém, que o intervalo de 50% representa o floruit do conjunto,
ou seja, o seu período de florescimento (ver discussão deste conceito em Soares &
Cabral, 1993, p. 220). Deste modo, tendo presentes os valores referidos, pode
afirmar-se que o Calcolítico Inicial terá tido uma duração inferior à do Neolítico
Final, correspondendo ao intervalo de 2800-2600 a. C. Assim sendo, a primeira
fortificação de Leceia, edificada logo no começo do Calcolítico Inicial, ascenderia
a cerca de 2800 a. C., ou talvez a algumas dezenas de anos antes. Por outro lado, o
terminus desta fase cultural situar-se-á perto de 2600 a. C., conclusão reforçada
pelas datas respeitantes à fase seguinte, o Calcolítico Pleno, adiante tratadas.
Leceia documenta, pois, a par dos dois casos homólogos mais conhecidos da
Estremadura – Vila Nova de São Pedro (Azambuja), onde se recolheram
centenas de pontas de seta de sílex em verdadeiros ninhos, talvez constituido
arsenais bélicos, no estrato Vila Nova I de A. do Paço (Paço, 1964, p. 145), e
Zambujal (Torres Vedras) – a pujança do povoamento calcolítico da Baixa
Estremadura, articulado em grandes centros fortificados, de características
proto-urbanas, cuja localização foi determinada por conjunção de condições
naturais de defesa (plataformas delimitadas por escarpas), em conexão com
vales agrícolas de elevada fertilidade, dominando as vias de circulação naturais
de toda a região adjacente, em estreita articulação com o estuário do Tejo
(Leceia) ou com o litoral atlântico (Vila Nova de S. Pedro e, especialmente,
o Zambujal); condições geomorfológicas propícias e aptidão agrícola dos
solos foram, pois, os dois aspectos determinantes da selecção de tais lugares
fortificados, a que se junta a implantação numa rede de circulação regional
de pessoas e de produtos.
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Os artefactos recolhidos documentam igualmente a importância das
actividades agrícolas, como os machados, frequentemente exaustos, com o
gume embotado pelo uso, destinados à desflorestação; os sachos, destinados
à cava; e numerosas mós manuais e elementos de foice, de sílex. Enfim, a
horticultura, em pequenas hortas ao longo dos vales, talvez recorrendo já a
sistemas de irrigação primitivos (Parreira, 1990), encontra-se ilustrada em
Vila Nova de São Pedro pela existência de fava (Paço, 1954) e do linho
(Paço & Arthur, 1953; Paço, 1954).
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pradarias que se desenvolviam pelo interior do território. A proximidade do
litoral e a ligação com este mantida, detectada em todos os dezasseis povoados
fortificados da Estremadura inventariados por Susana O. Jorge (1994a, p. 465),
expressa, objectivamente, a importância que os recursos ali facilmente
disponíveis desempenhavam na economia e bases de subsistência daquelas
populações. Na Baixa Estremadura, tal importância encontra-se sublinhada
pela distribuição dos povoados calcolíticos em torno da embocadura do Sado,
aproveitando os locais altos que a marginam, do lado Norte (Silva & Soares,
1986). O papel dos recursos aquáticos na dieta destas populações é ilustrado
pelo estudo, a vários títulos exemplar, consagrado à fauna malacológica
recolhida em um deles, o povoado da Rotura dominando o antigo braço do
estuário do Sado (Silva, 1963), de todos o povoado de onde provém o maior
número de anzóis de cobre (Gonçalves, 1971).
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A relação geométrica de tal camada com a fortificação interna, foi então
confirmada, pela execução de corte transversal intersectando aquela estrutura,
realizado em 1959 (Savory, 1970). Aquele tipo de cerâmica – a
"Importkeramik" de Sangmeister (in Paço & Sangmeister, 1956a) – assumiria
assim grande importância na doutrina colonialista que defendiam também,
explicitamente assumida, na mesma época, por outros investigadores (Blance,
1961), visto que, na sua opinião, era muito semelhante a cerâmicas do Egeu
(Cicládico antigo).
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Ainda no respeitante às cerâmicas decoradas, observa-se a aplicação da técnica
canelada, à decoração do interior de grandes taças de bordo espessado
interiormente, forma que substituiu, na Estremadura, as taças carenadas do
Neolítico Final (além do estudo de Leisner 1961, de carácter monográfico,
cf. Cardoso, 1989, Fig. 119, n.º 6; Cardoso, 1994a, Fig. 118, n.os 2 e 119,
n.os 3 e 4). Este tipo de recipientes decorados ocorre, por vezes, no Calcolítico
do Sudoeste, como no povoado de Porto Torrão, Ferreira do Alentejo, o que
constitui uma prova da existência, a par de outras, de contactos entra a área
Estremenha e a do Sudoeste, no decurso do Calcolítico.
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impede-nos de maiores rigores, embora Savory (1970) não os tenha
encontrado, no corte de 1959, na camada com "copos", pertencente a esta
fase cultural).
Por outro lado, nesta imponente fortificação – cuja área construída, como se
disse, se aproxima da de Vila Nova de S. Pedro, (1 ha) e é maior que a até ao
presente explorada do Zambujal (0,7 ha) – encontra-se implícita a existência
de excedentes alimentares, susceptíveis de permitirem o afastamento das
actividades produtivas do segmento mais activo da população, pelo período
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de tempo necessário à sua construção, situação extensível à das suas
congéneres.
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Calcolítico Pleno
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1968), corresponde, à transição de uma aceitação: de colonizações a larga
distância, nunca explicitamente por este autor defendidas, passou-se a
colonizações intra-peninsulares, o que estará mais próximo dos conceitos
difusionistas e de deslocação de pequenos segmentos populacionais, a escala
limitada, que seriam óbvios e naturais.
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No entanto, os resultados da distribuição percentual pela sequência
estratigráfica dos três grupos principais de produções cerâmicas presentes
ao longo do Calcolítico da Estremadura, efectuada por aquele autor: cerâmicas
caneladas (copos e taças); cerâmicas com decoração em "folha de acácia" e
"crucífera"; e cerâmicas campaniformes, vistos globalmente, não se afasta
muito dos resultados obtidos em Leceia: de facto, as produções caneladas
são mais abundantes nos níveis inferiores, enquanto os dois grupos restantes
dominam na parte superior, verificando-se a maior incidência das cerâmicas
campaniformes nos mais modernos de entre estes.
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(1964, p. 144) é categórico quanto à total ausência de metal em tal camada,
considerando-a "sem qualquer mescla de metalurgia".
É evidente que o cobre puro, de que são feitos, não poderia competir, quanto
à dureza e resistência, com qualquer machado de anfibolito, de obtenção
muito menos dispendiosa. A tal propósito é interessante registar a existência
em Leceia de dois gumes de machados cortados (Cardoso, 1989, Fig. 108,
n.º 13; Cardoso, 1994a, Fig. 136), a que se somam outras peças, de Vila
Nova de S. Pedro (Jalhay & Paço, 1945), do Zambujal (Sangmeister, 1995),
do Outeiro de São Mamede, Óbidos (Cardoso & Carreira, 2003), e de diversos
povoados do Calcolítico do Sudoeste, como o Monte da Tumba (Silva &
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Soares, 1987, Fig. 4). Qual o significado de tais peças? Cremos que se podem
considerar como porções extraídas de machados-lingote, destinadas a ulterior
transformação, que não se chegou a consumar. Com efeito, mesmo que o
objectivo fosse o reavivamento dos gumes, embotados pelo uso, então tal
desiderato seria facilmente atingido por nova martelagem (sabendo que tal
operação conduz, por acrécimo, a um endurecimento do metal), sem que
fosse necessário a eliminação do próprio gume.
O cobre poderá ser visto, deste modo, apenas como uma extensão da
Revolução dos Produtos Secundários (RPS), visando a melhoria da eficiência
de determinados instrumentos de produção ou de transformação, conducentes
à diversidade e especialização dos bens de consumo, designadamente
alimentares. Neste contexto, não cremos que deva ser demasiado valorizada
a sua presença como agente de mudança económica ou social.
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prospectores e de metalurgistas do cobre – com a difusão do uso deste metal,
da Andaluzia, até à Estremadura, passando pelo Alentejo (Ferreira & Viana,
1956; Viana et al., 1961). Na Estremadura, estes sepulcros são escassos, não
atingindo uma dezena; tal como os monumentos do mesmo tipo do Algarve
e os do Sudeste espanhol, compõem-se de um corredor sob tumulus,
antecedido ou não por átrio a céu aberto, que dá acesso a uma câmara em
geral de planta circular, com cobertura em falsa cúpula, cujo arranque, nalguns
casos, ainda foi possível observar, como na tholos da Tituaria, Mafra. O
monumento mais setentrional no território português deste tipo não ultrapassa
o paralelo de Paimogo, Lourinhã, denunciando nítida filiação meridional,
embora seja aceitável admitir ainda como tal, o destruído megálito de
Cabecinha Grande, Figueira da Foz, escavado por António dos Santos Rocha,
a que já anteriormente se fez referência.
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A demonstração de que o cobre nativo constituía a fonte principal de
matéria-prima, aliás em consonância com o já sabido a respeito de metalurgia
calcolítica, reforça a hipótese de a sua mineração se efectuar em especial na
região alto-alentejana, onde ocorrem filões de quartzo com mineralizações
de cobre nativo, mais do que na faixa piritosa baixo-alentejana. Neste contexto,
afigura-se importante a ocorrência de diversos lingotes de cobre em povoados
da Estremadura, como os anteriormente referidos. As duas únicas ocorrências
de lingotes registadas no Sudoeste – Santa Justa (Gonçalves, 1989, Est. 228,
n.º 7) e Porto Mourão (Soares et al., 1994) podem sem dificuldade
relacionar-se com jazigos cupríferos existentes nas proximidades de aqueles
dois povoados calcolíticos. O seu achado vem ilustrar o comércio do cobre,
sob a forma de lingotes, desde a área de exploração, onde seriam produzidos,
até aos povoados, onde seriam transformados em diversos artefactos,
recorrendo especialmente à técnica da martelagem.
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anfibolíticas – de cuja existência dependia a satisfação de actividades vitais
para a sobrevivência da comunidade. Trata-se de exemplo dos mais
interessantes, pelas distâncias envolvidas, de abastecimento especializado
de matéria-prima no âmbito da Pré-história peninsular e, mesmo europeia.
Em contrapartida, a Estremadura é rica em sílex, que ocorre sob a forma de
nódulos ou de leitos inter-estratificados nos calcários mesosóicos, que
constituem uma das suas unidades morfo-estruturais mais importantes,
matéria-prima escassa no Alentejo, como nas Beiras. Deste modo, reuniam-se
as condições para suportar as permutas de sílex por anfibolitos, que
constituíram, como se disse, uma das realidades económicas mais marcantes
da segunda metade do IV milénio a. C., até finais do milénio seguinte. Um
dos exemplos mais notáveis da exploração pré-histórica do sílex foi
casualmente encontrado, quando se abriu o túnel ferroviário do Rossio, em
Lisboa, tendo então sido intersectada, do lado de Campolide, diversas galerias,
ainda com numerosos percutores de basalto utililizados na exploração
(Choffat, 1889).
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de fragmentos decorados em "folha de acácia" e "crucífera", recolhidos no Monte
da Tumba (Silva & Soares, 1987, Fig. 25, n.os 10 e 11), do Calcolítico Pleno
estremenho. No Monte da Tumba também se recolheram alguns fragmentos com
decoração canelada afins dos "copos" e contemporâneos destes ( 1.ª fase de ocupação
daquele povoado, cf. Silva & Soares, 1987, Fig. 25, n.º 5).
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e recentemente valorizada como merecia (Gomes, 2005). Tal como outros
artefactos ali recolhidos (anteriormente fez-se menção de um alfinete com
extremidade em forma de falcão), é notória a filiação desta peça em protótipos
do Mediterrâneo Oriental (Egipto, Próximo Oriente), configurando a
existência óbvia de influências, dali oriundas, cujas modalidades de
transmissão se desconhecem por ora.
Sendo certo que tais peças representam algo de verdadeiramente novo, sem
antecedentes locais, é igualmente verdade que a demonstração da existência
de objectos indiscutivelmente importados, que de alguma forma poderiam
suportar a presença directa de elementos populacionais exógenos, não foi
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ainda efectuada (Silva, 1990). De qualquer modo, valorizar excessivamente
este argumento, seria perigoso: por um lado, a simples presença de um único
artefacto nestas condições deitaria por terra o argumento da ausência; por
outro lado, mesmo que tal viesse a verificar-se, não provaria por si só a
presença directa de elementos alóctones entre a população, visto poder ter
aqui chegado através de uma longa cadeia de trocas, protagonizadas por outros
tantos intermediários. É assim que poderá ser interpretada, a confirmar-se, a
recente descoberta de cerâmicas anatólicas (do Bronze antigo II, ca.
2600-2200 a. C.) na Andaluzia, em "un contexto característico del Cobre del
Sudeste tipo Millares-El Malagón, asociado a cerámica campaniforme"
(González- Prats et al., 1995).
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terceiro milénio. Aliás, a valorização de componente económico-comercial
na difusão da tradição arquitectónica, da metalurgia e dos objectos de
prestígio, foi anteriormente sublinhada por Parreira (1990, p. 29). Prova de
que muitas vezes eram os próprios objectos que "viajavam", tanto ou mais
do quem os produzia, é o de placa de xisto já atrás referida, encontrada
acidentalmente em Chelas, às portas de Lisboa, talvez já calcolítica, tendo
presente a representação facial que ostenta, formalmente idêntica a outra,
encontrada em megálito da província de Huelva (Zbyszewski, 1957), a tal
ponto que os caracteres particulares que as caracterizam só podem explicar-
se por serem produto da mesma oficina, senão da mesma mão.
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Este panorama só viria a ser decisivamente modificado com o estudo de
C. Tavares da Silva e de J. Soares (Silva & Soares, 1976/1977), no qual se
inventariam cinco sítios de caracter habitacional, no Baixo Alentejo e no
Algarve, dando corpo, pelos resultados das análises tipológicas sobre os mate-
riais exumados em cada um deles, à designação de "Calcolítico do Sudoeste",
a qual viria assim a adquirir significado arqueológico equiparável à expressão
"Calcolítico da Extremadura", já então utilizada. Dos cinco sítios então
publicados, os autores situaram dois na transição do Neolítico Final para o
Calcolítico: trata-se dos povoados de Cabeço da Mina (Torrão do Alentejo) e
de Vale Pincel II (Sines); a sua implantação é distinta: assim, enquanto o
primeiro se localiza num alto dominante, o segundo desenvolve-se
extensamente numa zona de encosta, sobranceira ao litoral. Os povoados
calcolíticos que identificaram são os de Monte Novo (Sines), Cortadouro
(Ourique) e Alcalar (Portimão). Todos eles se situam em superfícies
topograficamente destacadas e, nalguns casos, fortificadas (Cortadouro e
Alcalar).
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Nos povoados de Alcalar (Portimão) e de Cortadouro (Ourique), ambos
fortificados, ocorrem vestígios de metalurgia, situando-os inequivocamente
no Calcolítico. Trata-se, como se irá ver adiante, dos povoados
correspondentes aos construtores das tholoi do sul de Portugal.
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Uma data de radiocarbono, obtida sobre restos ósseos, oriundos de nível que
recobria directamente uma das rochas insculturadas, corresponde ao intervalo
calibrado, para cerca de 95 % de confiança, de 3094-2611 a. C., resultado
que é compatível com outras datas relacionadas com a construção e utilização
do espaço doméstico intramuros, adentro da primeira metade do III milénio
a. C. Aquele é delimitado, na parte explorada, por uma muralha, que cercaria
o topo do cabeço e por um bastião, de planta semi-circular, a ela adossada.
Ali se detectaram duas estruturas de combustão, de forma subcircular,
relacionadas com a metalurgia do cobre. Como elementos da cultura material,
avultam os característicos pratos de bordo "almendrado", os quais persistem,
embora em menor número, na camada superior.
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decurso primeira metade do III milénio a. C. (4140 ±110 anos BP, a que
corresponde o intervalo calibrado, para cerca de 95 % de probabilidade, de
2920-2460 cal. a. C.), intervalo que é compatível com o Neolítico Final ou o
início do Calcolítico da Estremadura (Leceia), o qual, como atrás se referiu,
é também caracterizado pela mesma forma cerâmica; a ser assim, a ocorrência
desta forma típica do Neolítico Final estremenho poderia ter sobrevivido até
ao início do Calcolítico no Alto Alentejo. Aliás, o sítio viria ulteriormente a
ser considerado do Neolítico Final e do Calcolítico, "notável pela grande
presença de taças carenadas, mas também de pratos de bordo espessado"
(Gonçalves, 1992, p. 397). Faltou, no entanto, a ser assim, a destrinça
estratigráfica entre as referidas ocupações, na área eventualidade de ela existir
de facto.
Outros sítios com fossos foram dados recentemente dados a conhecer, como
o Cabeço do Torrão, Elvas, correspondente a um recinto cercado por fosso,
implantado no topo do cabeço, no qual se identificaram diversas fossas de
planta circular escavadas no substrato. Nos contextos associados a essas
estruturas, recolheu-se uma grande quantidade de fragmentos de cerâmica
de construção – prova do carácter habitacional dos locais – abundantes
fragmentos cerâmicos, de que se destacam as formas esféricas, por vezes
mamiladas, as taças de bordo espessado, as taças carenadas, os elementos de
tear sub-rectangulares e os elementos de mós manuais (Lago & Albergaria,
2001). Estes elementos fazem admitir uma presença neolítica no local. O
sítio, aliás, integra-se num espaço complexo, com ocupações de diversas
épocas (menires formando recinto megalítico, rochas gravadas, sepultura
proto-megalítica, etc.).
Mas o mais notável exemplo, até pela extensão, que ultrapassa os 16 hectares,
de um recinto delimitado por fossos até ao presente encontrado em Portugal,
situa-se no concelho de Reguengos de Monsaraz; trata-se do povoado dos
Perdigões, no qual se realizaram extensas escavações em 1997 (Lago et al.,
1998), defendido por várias linhas de fossos escavados, lombas, muralhas
ou paliçadas, desde cedo evidenciadas por observação aérea.
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A presença humana neste sítio poderá remontar ao Neolítico Final, entre a segunda
metade do IV milénio a. C. e os inícios do milénio seguinte, conforme sugere a
presença de taças carenadas, que atingem 4 % na UE 26 e um valor dois ou três
pontos superiores nas colheitas de superfície. Mas a importância máxima deste
povoado – bem demonstrada pela profundidade do fosso periférico, que atinge
cerca de 8 metros – foi atingida no decurso do Calcolítico, durante o qual se
construiram dispositivos defensivos, que serviriam também a outras finalidades,
demarcando um espaço comum, partilhado pela comunidade, incluindo as de
carácter doméstico, relacionadas com o armazenamento de produtos agrícolas e a
recolha dos rebanhos. Com efeito, a implantação deste vasto povoado fez-se numa
zona de encosta, sem atingir as cotas mais elevadas, sendo por isso escassa a sua
visibilidade. Foram, portanto, outras, as causas que a determinaram. Os autores
referidos, salientam as seguintes: abundância de água; proximidade de terrenos de
boa aptidão agrícola; e subsolo facilmente escavável, propício à abertura dos fossos
de protecção identificados, os quais, por seu turno, serviriam á drenagem das terras.
Com efeito, a importância da economia agro-pastoril desta comunidade
sedentarizada, encontra-se demonstrada não só pela abundância dos artefactos
relacionados com a produção agrícola, mas também pela frequência das espécies
domésticas, representadas pelos respectivos restos ósseos. Trata-se, pois, de um
grande povoado de camponeses, que também dominavam as práticas metalúrgicas,
representadas por diversos artefactos, incluindo lingotes e testemunhos de fundição
do cobre.
O espaço habitado articulava-se com o espaço sagrado, representado por um
conjunto de menires situado a escassas dezenas de metros do recinto exterior, dos
quais pelo menos um foi considerado como Calcolítico (Gomes, 1994), o que
significa que ainda se encontraria funcional à data da presença humana no povoado;
idêntica relação foi observada no já mencionado sítio de Cabeço do Torrão, Elvas.
Prova do estreito contacto existente entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos,
é a presença, dentro do recinto, de uma sepultura de falsa cúpula, do tipo tholos,
situada do lado oriental do povoado. Esta realidade não é inédita: para além do
caso de Alcalar, em Portimão, adiante referido, conhecem-se grandes povoados
calcolíticos do sul peninsular, como La Pijotilla, Badajoz, Valencina de la
Concepción, Sevilha e o de Los Millares, Almería, relacionados directamente com
sepulcros colectivos do mesmo tipo. Esta sepultura não será única; com a
continuação dos trabalhos, é provável que outras, do mesmo tipo, invisiveis à
superfície, venham a encontrar-se.
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12.4.2 Baixo Alentejo
351
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veado, a que se soma também o cavalo, provavelmente ainda selvagem, ilustra
a existência de uma economia de produção rica e diversificada,
complementada pela caça e pela recolecção. Com efeito, apesar de este
povoado se encontrar a cerca de 65 Km em linha recta do litoral alentejano e
a 60 Km do estuário do Sado, foram aqueles domínios intensamente
explorados por gente do povoado ou por outras, que aqui acorreriam
regularmente para vender tais produtos, constituídos por abundantes restos
de moluscos marinhos (mexilhão, lapa, vieira) e estuarinos ou de águas
salobras (amêijoa, canivetes). Tal situação mostra uma área de influência ou
de captação de recursos muito alargada, aliás em consonância com a
notoriedade do aglomerado humano.
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Estremadura, anteriormente referidos, o qual poderia albergar, na melhor
das hipóteses, escassas dezenas de habitantes. No entanto, o evidente cuidado
dispensado à operacionalidade do sistema ao longo da sua vida útil, apesar
da má qualidade dos elementos de construção disponíveis (arenitos carbo-
natados ou argilosos), ilustra o clima de instabilidade e de conflitualidade
social que caracterizou todo o III milénio a. C. no sul de Portugal.
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As unidades habitacionais da Fase 1 encontram-se, por tal motivo, muito
mal conservadas, correspondendo a cabanas de planta circular. A Fase 2 é
caracterizada pela construção de uma torre, na zona de cota mais elevada,
implantada sobre o núcleo central da fortificação da Fase 1, e de diversas
cabanas de planta circular, com aquela articuladas.
A Fase I, que é aquela que por ora mais importa destacar, revela uma economia
de base agro-pastoril; em particular, os recipientes cerâmicos, onde predo-
minam largamente as formas abertas, são correlacionáveis com dieta de base
cerealífera, à base de papas, consumidas nas grandes taças ou pratos, onde
também eram confeccionadas; encontram-se representadas todas as formas
características do Calcolítico do Sudoeste: prato de bordo espessado (muito
abundante); taça de bordo espessado (muito abundante); e taça em calote
(muito abundante); entre as formas raras, assinala-se a taça carenada, uma
evidente reminiscência do Neolítico Final, exclusiva da Fase I. Estão também
presentes, em ambas as fases, os elementos de tear arqueados e de secção
circular.
Cerca de 1 km para sul deste povoado fortificado, foi escavado outro sítio
habitacional, o povoado do Mercador, igualmente explorado no âmbito da
mega-operação arqueológica do Alqueva (Valera, 2001). Ao contrário do
anterior, neste sítio não se edificaram defesas pétreas e a implantação
encontra-se dissimulada na paisagem; os vestígios distribuiam-se por colina
alongada, pouco marcada, com encostas suaves e extensas, ladeada pela ribeira
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do Mercador, tributária do Guadiana, que corre a cerca de 1200 m a Noroeste
do local arqueológico. As escavações puseram a descoberto solos de ocupação
e numerosas estruturas negativas, correspondentes a fossas de planta circular
pouco fundas, preenchidas por materiais arqueológicos. No conjunto da área
escavada, identificaram-se duas fases de ocupação, ambas atribuíveis ao
Calcolítico, mas sem vestígios de cerâmicas campaniformes. Além das
estruturas negativas mencionadas, atribuiu-se, ao final da Fase 1, a construção
de grande estrutura circular com cerca de 14 m de diâmetro, a qual poderia
corresponder a uma torre, enquanto, noutro sector da escavação, se
identificaram duas cabanas circulares adjacentes, pertencentes à Fase 2. Uma
deposição funerária, realizada sobre os derrubes de uma das referidas cabanas,
deu o resultado, para cerca de 95% de probabilidade, de 2134-1936 a. C.,
data que corresponde a época em que o sítio já se encontrava abandonado.
Com efeito, os resultados cronométricos obtidos para a fase de ocupação
mais moderna, indicam uma época imediatamente antecedente: 2458-2032
a. C.; e 2399-1855 a. C, para o mesmo intervalo de confiança (A. C. Valera,
comunicação pessoal). Documentou-se a presença de peças de cobre (frag-
mento de machado) e restos de cadinhos de fundição do cobre, mas não a de
materiais campaniformes, ao contrário do observado no Porto das Carretas.
Por outro lado, a presença de abundantes restos faunísticos de animais
domésticos (boi, ovelha/cabra) e especialmente de porco, associados a conchas
fluviais e a restos de peixes, reforça o carácter sedentário do local. Neste
sentido, seria admissível relacioná-lo como o Porto das Carretas, até pela
curta distância que os separa. Segundo C. Tavares da Silva e J. Soares, a
admitir a contemporaneidade da ocupação de ambos, e tendo presente o
escasso espólio recolhido no Porto das Carretas, este poderia corresponder a
um sítio-refúgio da população que, normalmente, se sediava no Mercador,
sítio aberto, não fortificado e de maior importância. Mas, claro está, trata-se
de mera hipótese que, embora sugestiva (e os autores apresentam outras)
carece evidentemente de contraprova, impossível de obter pelos meios
científicos actualmente disponíveis.
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A escavação revelou em todos os locais escavados uma ocupação mais antiga de
assinalável intensidade, com abundantes materiais exumados, característicos do
Calcolítico, com predomínio da taça de bordo espessado; os recipientes carenados
são vestigiais, como já se verificava no Porto das Carretas. Estão presentes os
elementos de tear de secção circular, cinchos, e fragmentos de cadinhos e de um
possível molde, ilustrando a prática metalúrgica do cobre no local. A presença de
mamíferos domésticos é escassa e os ossos apresentam-se muito fragmentados,
dificultando a sua identificação; estão presentes, entre outros, o boi, a cabra/ovelha,
e o porco, quadro que não se afasta do povoado do Mercador; neste contexto, a
caça era subsidiária. A fase mais moderna, tal como no Porto das Carretas, é
representada pelo "horizonte" campaniforme, o qual será tratado no capítulo
correspondente.
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principais novidades dos últmos 20 anos foi a identificação de recintos
definidos por fossos – até então desconhecidos – cujos antecendentes
remontam ao Neolítico Final. É o que se verificou com recente escavação do
grande povoado do Porto Torrão ( Ferreira do Alentejo), cuja ocupação
prosseguiu ao longo de todo o Calcolítico, bem como o sítio de Águas Frias
(Alandroal), da segunda metade dio IV milénio A. C., já atrás mencionado
por se tratar de povoado especializado no fabrico de placas de xisto. Deve-se
igualmente a M. Calado a identificação e publicação em co-autoria do povoado
de Juromenha igualmente pertencente ao Neolítico Final e do Torrão (Elvas),
a que se poderá juntar o povoado da Igreja Velha de S. Jorge (Ficalho), dado
a conhecer por A. M. Monge Soares.
12.4.3 Algarve
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calcolíticos, então identificados. Está nesse caso o Cerro do Castelo das
Mestras, o Cerro do Castelo da Corte de João Marques e, sobretudo, o Cerro
do Castelo de Santa Justa, topónimos evocativos, que prenunciavam
inquestionavelmente, mesmo para os mais desatentos, o evidente interesse
arqueológico, que viriam a confirmar. Porém, enquanto o Cerro do Castelo
das Mestras não foi objecto de escavações – impossibilitando mais
desenvolvidas considerações que não seja a constatação da sua ocupação
calcolítica e a escolha de um sítio alto e defensável, implantado sobre um
amplo chão isolado por acentuado meando da ribeira da Foupana – já o mesmo
não sucede com os dois outros povoados. As escavações efectuadas em Corte
de João Marques, considerado uma pequena aldeia de agricultores e
metalurgistas – realidade sublinhada pela presença, a escassas centenas de
metros, de antigas minerações de cobre – evidenciaram um povoado aberto,
implantado num cabeço dominando visualmente a paisagem, em anfiteatro.
358
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não parece corresponder ao perfil da população de arqueometalurgistas ali
sediada, muito embora esta tivesse de se abastecer de produtos por si
produzidos para o seu próprio sustento, para além da caça (a fauna desta
estação não foi estudada). A sua sobrevivência só seria viável "de acordo
com o reequilíbrio que só as redes de povoamento permitem: trocas a nível
local e regional" (Gonçalves, 2002, p. 92), no caso, apenas asseguradas através
das manufacturas metálicas que pudessem produzir.
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12.5 Calcolítico do centro e do norte
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Neolítico Final do Cabeço da Velha, Vila Velha de Ródão: implanta-se no topo de
plataforma culminante, evidenciando a mesma realidade. Outro sítio referenciado
como "neo-calcolítico" corresponde à ocupação mais antiga do Monte do Frade,
também do concelho de Penamacor (Vilaça, 1995). Implantado numa pequena
plataforma da parte somital daquela notável elevação granítica, o povoado
pré-histórico em apreço, de fraca expressão, aponta, contudo, para uma cronologia
anterior à que lhe foi atribuída. Com efeito, a tipologia das cerâmicas decoradas,
remete-o para o Neolítico Antigo, sendo comparáveis às das estações da bacia
interior do Mondego (Valera, 1998).
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Seja como for, a emergência, nesta etapa, que se pode globalmente situar na
primeira metade do III milénio a. C., e que foi designada de Calcolítico
Pleno (Valera, in Senna-Martinez & Pedro, 2000), de sítios altos e fortificados,
vem demonstrar que, também aqui, a sociedade se encontrava em fase
acelerada de intensificação económica e de complexificação social. É
interessante assinalar que, ao contrário dos sítios abertos, os povoados
fortificados implantam-se em zonas de solos pobres e afastados das zonas
mais produtivas (Valera, 1999, 2000). Este facto conduz a admitir a existência
de uma rede de povoamento, integrada em estratégia de ocupação dos
territtórios e de optimização na exploração dos respectivos recursos. Tal como
na Estremadura, o centro económico e demográfico passou a girar, no
Calcolítico, em torno dos sítios fortificados, que constituíam o vértice da
hierarquização demográfica, como marcos naturais construídos na paisagem:
como já antes se referiu, ao tratar do mesmo fenómeno na Estremadura, na
sua monumentalidade, sem perder as funções primárias que presidiram à
respectiva edificação – de defesa de pessoas e de bens da exploração dos
recursos neles acumulados – se espelhava o sucesso e o prestígio de toda a
comunidade. A emergência da fortificação foi, pois, simultâneamente, causa
e consequência do acréscimo da sedentarização e da concomitante maior
dependência das produções agro-pastoris: era ao povoado fortificado que se
reportaria a população que viveria em determinado território: a sua
delimitação, através de fronteiras bem definidas, reflecte a compartimentação
da paisagem ou, por outras palavras, a territorialização das comunidades –
antes inexistente – por via do reforço da economia produtora de que foram
protagonistas.
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no da Fraga da Pena (Fornos de Algodres) – remete a respectiva caracterização
para o capítulo correspondente ao estudo daquele "fenómeno".
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decorada, com motivos exuberantes, chega a atingir 80%, aumentando o seu
barroquismo à medida que os indicadores de intensificação económica se
tornam mais nítidos: trata-se das cerâmicas do "tipo Penha".
A maioria dos povoados estudados por S. Oliveria Jorge autora têm uma
fundação no Neolítico Final convencional.
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calcolíticos da região, como o Castelo de Aguiar (Jorge, 1986; Sanches,
1997).
365
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novas funções atribuídas aos vasos cerâmicos (Sanches, 1997). Os níveis II e
I, claramente calcolíticos, podem ter chegado ao final do Calcolítico, como
sugerem as imitações de vasos campaniformes, foram datados entre cerca de
2800 e 2500 a. C.; o abrigo foi então essencialmente utilizado como celeiro,
verificando-se a acumulação de sementes de trigo, cevada e fava ou de
produtos da recolecção (bolota), em grandes recipientes, que chegam a atingir
cerca de 50 litros de capacidade no Nível II e 80-90 litros no nível I. Estão
ainda presentes outros produtos, como a ervilha silvestre, a papoila do ópio,
o linho e a lentilha, os quais fazem supor uma agricultura desenvolvida e
diversificada, além de muito bem sucedida, como comprovam os produtos
armazenados. Mas o sítio funcionou em tal época também como local
habitado, junto à entrada, onde se praticou a metalurgia; ali se recolheram
peças de evidente prestígio, com destaque para cerca de sete dezenas de
contas de variscite e metavariscite e de seis contas de ouro – talvez os primeiros
produtos manufacturados nesse metal documentados entre nós – que
evidenciaram uma fusão, ainda que incipiente, do metal. Embora sejam
possíveis várias hipóteses para explicar esta notável ocorrência, o que não
permite dúvida é o facto de, no decurso da primeira metade do
III milénio a. C., existir, na região de Mirandela, uma assinalável produção
agrícola, que se quadra bem na intensificação económica que tem vindo a
ser apontada para o Calcolítico da região, a qual estará, por seu turno, na
origem do fenómeno da fortificação de alguns lugares à escala regional, à
semelhança do que aconteceu, pela mesma altura, nas outras regiões do actual
território português. Sítio excepcional de acumulação de recursos alimentares,
associados a objectos de adorno e de prestígio de evidente e real valor, que
atestam o alto estatuto dos seus frequentadores, não restam dúvidas quanto à
importância e sucesso de uma economia de produção cerealífera vigente no
Nordeste transmontano no decurso do Calcolítico, indissociável da
emergência e afirmação de segmentos minoritários das comunidades que ali
armazenaram os seus excedentes, aos quais só uns poucos teriam o privilégio
de aceder, efectuando a correspondente gestão dos mesmos. Por outras
palavras, o acesso a tais recursos não seria facultado a todos os elementos da
comunidade. Isso mesmo é indicado pelos produtos de luxo ali recolhidos,
indicando que a manipulação de tais bens seria reservada a elites muito
restritas de uma ou várias comunidades (no caso de o celeiro ser partilhado
por mais do que uma). Tal significa, enfim, que o processo de intensificação
económica não andaria arredado de um outro fenómeno, o da a diferenciação
social intragrupal.
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Numão, e o Castanheiro do Vento, Vila Nova de Foz Côa. A sua existência é
acompanhada pela de povoados abertos, como a Quinta da Torrinha (segunda
ocupação) e o Barrocal Tenreiro, do Calcolítico Inicial, a que se sucedem
outros, do Calcolítico Pleno/Final, como o Castelo de Algodres e o Curral da
Pedra, todos na região do Baixo Côa (Carvalho, 2003).
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No conjunto, trata-se de um sítio de carácter doméstico, beneficiando de estruturas
de carácter utilitário – os taludes que permitiram a criação de plataformas onde se
implantaram diversas estruturas habitacionais – e outras menos utilitárias, ou ao
menos de significado pouco claro, como o empedrado construído em etapa tardia
do Calcolítico ou já na Idade do Bronze. Porém, os dados publicados não são
suficientes, no nosso entender, para atribuir a este sítio o significado de
"povoado-monumento", mas, simplesmente, de "povoado fortificado",
conferindo-lhe, naturalmente, a fortificação, um carácter monumental.
O dispositivo defensivo teria sido delineado de uma única vez, e construído, com
base nas datas de radiocarbono disponíveis, talvez entre o segundo e o terceiro
quartéis do III milénio a. C. Viria, com remodelações importantes, a manter-se
activo até cerca de 2200-1700 a. C. (Fase II). Nesta fase, dá-se o reforço da muralha
interna, atravessando as balizas convencionais que separam o Calcolítico da Idade
do Bronze. Na Fase III, situada entre os inícios do II milénio a. C. e cerca de 1300
a. C., encerrou-se uma das entradas no recinto interno, mantendo-se a torre no seu
interior. Esta fase é reportável ao Bronze Pleno regional, correspondendo-lhe
cerâmicas com decorações plásticas e do tipo "Cogeces". Por último, cerca de
1300/1200 a. C., o lugar teria sido "selado" "através da deposição mais ou menos
organizada de camadas de pedra e argila" (Jorge, 2002, p. 31).
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inquestionavelmente doméstico: elementos de tear subrectangulares, com
furos nos vértices, alguns dos quais decorados, machados, enxós, elementos
de mós manuais, materiais de pedra lascada e cerâmicas típicas do Calcolítico
do norte de Portugal, onde dominam as decorações incisas, feitas a pente. A
estas peças, soma-se um machado plano e um cinzel de cobre. As cerâmicas
domésticas foram estudadas (Cruz, 1995), com o intuito de poderem indicar
alguns testemunhos de diferenciação social intracomunitária; contudo,
verificou-se assinalável homogeneidade de formas e de técnicas decorativas,
com o predomínio de taças em calote na primeira fase de ocupação, embora
tenha existido uma concentração de grandes vasos numa área restrita,
sugerindo a existência de uma "diferenciação social baseada na acumulação
de bens de produção" (op. cit., p. 261), ou, em alternativa, que se admite ser
mais consentânea com a realidade, de uma especialização funcional
intrapovoado, que é justamente um dos indícios da intensificação económica
verificada no Calcolítico.
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destinados a manter-se activos durante muitas centenas de anos, fala-nos
duma outra maneira de domesticar a paisagem e de a representar
simbolicamente".
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reforçando a finalidade prática que presidiu à construção de cada uma destas
estruturas defensivas.
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(Penamacor), ou ainda mais para sul, tanto na Estremadura – povoados
calcolíticos de Pragança, Cadaval; Penha Verde, Sintra; e Leceia, Oeiras
(Cardoso, 1995) – como no Alto Alentejo, como é o caso do povoado do
Fig. 180 Pombal, em Monforte (Boaventura, 2001), reflecte um fluxo cultural de Norte
para Sul, ainda que ténue, com equivalente no fluxo de sentido contrário,
aquele que explica as cerâmicas simbólicas calcolíticas encontradas no
povoado de S. Lourenço, Chaves. É ainda pertinente assinalar as evidentes
semelhanças entre alguns recipientes – tanto na forma como nas decorações
– das cerâmicas do "tipo Penha", com os copos canelados do Calcolítico
Inicial da Estremadura. São exemplos que materializam o fenómeno da
Fig. 181 interacção cultural, a somar a outros, já anteriormente referidos (comércio
de anfibolitos e do cobre), ou ainda as contas de variscite ou metavariscite e
os artefactos polido de fibrolite – matéria prima desconhecida no território
português em massas tão volumosas – fenómeno que se efectivou em
múltiplas direcções e sentidos.
Porém, das três áreas culturais referidas, foi sem dúvida o Sudoeste que,
mercê de características geo-ambientais mais propícias – maiores áreas
agricultáveis, concomitantes com uma muito menor compartimentação da
paisagem – tenha reunido condições para que uma organização social
proto-estatal se ter podido afirmar, como anteriormente se referiu. Que tal
fenómeno não teve continuidade, sabê-mo-lo nós; resta conhecer as razões
que estiveram na origem do fracasso.
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contextos domésticos do Neolítico Final, teria obrigado à procura de novos
territórios para exploração agro-pastoril, necessariamente maiores, mas
também cada vez mais afastados dos principais núcleos habitados. Em
consequência, a produtividade dos mesmos seria prejudicada pela distância
a percorrer, agravada pela instabilidade social, que tornaria o trabalho agrícola
ou a pastorícia cada vez mais difícil, mas também cada vez mais necessário,
face à necessidade de garantir a sobrevivência de uma população em contínuo
crescimento.
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O resultado final deste processo poderá não ter sido o decréscimo
populacional, visto globalmente: perante tal situação adversa, a cisão de cada
uma destas comunidades terá sido a resposta encontrada para a sua própria
sobrevivência: de alguma forma, esta teoria adapta-se ao modelo do
"enxameamento", proposto por V. S. Gonçalves (Gonçalves, 1989), utilizado
para explicar, no Calcolítico do Sudoeste, a colonização das terras mais
desfavoráveis, cuja ocupação só então seria possível graças às inovações
tecnológicas introduzidas no sistema produtivo, a partir de áreas mais férteis,
mas já superpovoadas. Tal realidade encontra-se sugerida pelo reduzido
números de habitantes que permaneceram em Leceia, bem evidenciada pela
retracção da zona ocupada no Calcolítico Pleno, em torno do núcleo mais
interno da antiga fortificação, já então desactivada. Tal processo, verificado
após cerca de 2600 a. C., prolongou-se até ao abandono do povoado, ainda
antes de final do milénio, num processo coevo da emergência das cerâmicas
campaniformes em múltiplos sítios abertos e de pequenas dimensões.
Contudo, é nesse curto intervalo da vida do povoado, que não terá ultrapassado
duzentos a trezentos anos, que aquela comunidade, como já anteriormente
se referiu, conheceu o apogeu do seu florescimento económico; muito embora
os modelos actualmente disponíveis, com base em interpretações do registo
material, simplifiquem irremediavelmente a realidade social então
protagonizada pelas respectivas populações – disso há que ter plena
consciência – o referido apogeu económico, desligado da manutenção da
anterior fortificação, mostra que, em meados do III milénio a. C., na
Estremadura, tal necessidade já não se faria sentir, no novo quadro social
então vigente. Mas querer ver, no abandono e decadência progressiva das
antigas fortificações, um declínio da própria sociedade, seria ingénuo: ao
contrário, a interacção cultural e a diferenciação social, viabilizadas por uma
contínua especialização económica, foi uma realidade que se acentuou a partir
de meados do III milénio a. C., aquando da plena afirmação do "fenómeno"
campaniforme, estudado no capítulo seguinte.
Esta situação faz crer que a coesão do grupo se terá desvanecido como
elemento primordial do seu sucesso e sobrevivência: findo o estado de conflito
real ou potencial, as comunidades, ao se cindirem em grupos mais pequenos,
de raiz familiar, garantiram um mais directo e eficaz acesso aos meios de
produção, ultrapassando um impasse a que um modelo de desenvolvimento,
que hoje diríamos "não sustentado", as teriam conduzido. Talvez que este
modelo tivesse baqueado apenas por não se ter assegurado uma característica
essencial à afirmação de grandes comunidades pré-históricas, proto-urbanas,
como se verificou em outras culturas da bacia do Mediterrâneo e do próximo
Oriente: o regadio. Como bem refere V. S. Gonçalves (2000/2001, p. 277),
"as sociedades que uma agricultura de sequeiro origina são sempre inferiores
numericamente às que praticam o regadio". Fica por explicar, no entanto,
por que razão, nas áreas onde tal era possível e mesmo efectuado – recorde-se
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a enormidade dos povoados de Perdigões e Porto Torrão, com equivalentes
em outros da Extremadura espanhola, como La Pijotilla e Marroquíes Bajos,
sem querer invocar exemplos mais longínquos, como Los Millares, Almería
– não foi essa a evolução verificada.
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13. Manifestações Funerárias do Calcolítico
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13.1 Aspectos arquitectónicos
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Algarve, através da célebre necrópole de Alcalar, a que se seguiu a publicação,
pouco depois, por outro pioneiro da pré-história portuguesa, A. dos Santos
Rocha, do núcleo vizinho de Monte Velho, constituído por três monumentos
(Rocha, 1911).
Fig. 183
A necrópole de Alcalar corresponde ao conjunto de túmulos de falsa cúpula
mais importantes reconhecidos em Portugal; tem interesse conhecer os
pormenores da descoberta:
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concluir-se que, à semelhança dos monumentos dolménicos da região de Lisboa, e
ao contrário do que se teria verificado em outras zonas do centro interior e norte do
país, onde os dólmenes, segundo D. Cruz, foram selados no decurso da segunda
metade do IV milénio a. C., também no Algarve se verificaram tumulações tardias.
Mas a evidente tendência conservadora na construção de uma qualquer necrópole
não resistiu, em Alcalar, à inovação tecnológica calcolítica. Na verdade, admitindo
que o único dólmen seja o monumento fundacional da necrópole, os restantes
monumentos que a constituem pouco têm a ver com ele, a não ser o seu significado
funerário: arquitectonicamente e tecnologicamente, correspondem a inovações
forâneas, chegadas ao Algarve nos finais do IV ou inícios do III milénio a. C. ou,
se quisermos uma equivalência cultural, tantas vezes redutora e simplista, com o
início do Calcolítico no Sudoeste. Só a planta, com corredores mais ou menos
longos, que dão acesso a uma câmara de contorno subcircular, se pode aproximar
da concepção já manifestada pelos dólmenes de corredor, semelhança a que já
anteriormente se aludiu, ao tratar-se da origem destes últimos. No resto, os dois
tipos de sepulcros colectivos evidenciam diferenças acentuadas, das quais a mais
evidente é a técnica de cobertura da câmara, recorrendo à construção em falsa
cúpula, na qual os pequenos elementos tabulares eram colocados em fiadas
sobrepostas, sucessivamente ultrapassadas para o interior, até garantirem a
pretendida cobertura do vão.
Essa técnica encontra-se bem evidenciada em diversos monumentos, como o n.º 7,
sendo o fecho da abóbada ocupado por uma grande laje, disposta horizontalmente.
O recurso a grandes monólitos foi, ainda, uma realidade, mas restrita aos pórticos
da entrada do corredor ou da passagem deste para a câmara. Alguns monumentos,
como os n.º 3, 4 e 7, são munidos de nichos laterais, o que conduz à hipótese de
terem servido para deposições individuais, de elementos de maior destaque da Fig. 184
comunidade que ali sepultava os seus mortos. De referir, a propósito, a existência
de um magnífico conjunto de armas de cobre recolhido no monumento n.º 3: cinco
punhais nervurados, que constituem, a par de elementos sumptuários diversos, a
começar pelas extraordinárias lâminas siliciosas já referidas ou de peças de marfim,
a prova do alto estatuto social dos ali tumulados, sublinhada pelo baixo número
destes, face à expressão monumental dos sepulcros. O marfim, trabalhado ou em
bruto, está presente em vários dos túmulos de Alcalar, cuja origem norte-africana
é indubitável: é o caso de bloco em bruto recolhido no monumento n.º 4, assim
descrita por Estácio da Veiga (Veiga, 1889, p. 213): "Era um fragmento cortado
longitudinalmente de um dente de elephante: tinha por isso uma secção plana e
outra convexa. O raio correspondente a esta curva mediu 0,05 m, e portanto o
diametro do dente devêra ter o dobro. O único trabalho que recebeu foi o da
serragem, e segundo parece estaria destinado para alguns artefactos". Esta peça,
como outras ali recolhidas, mostram as relações a longa distância que a população
de Alcalar mantinha, no sentido de aprovisionamento de materiais de evidente
exotismo e que por isso mesmo constituíam marcas de prestígio e de diferenciação
social aos seus possuidores. Por outras palavras, o estatuto social dos indivíduos
depositados nas criptas destes monumentos, pela razão atrás exposta, por certo
apenas uma pequena parte do todo social original, era diferenciado, mesmo na
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morte, não só pelos lugares onde os seus cadáveres se depositavam, mas ainda
pelos objectos com que se faziam acompanhar.
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No conjunto, identificaram-se sete camadas de deposições funerárias. Das
dezenas de deposições integráveis na fase mais antiga, duas foram
individualizadas com segurança; uma delas corresponderá ao "fundador" do
sepulcro. Assinale-se a presença de fogos rituais, ou simplesmente fogos de
higienização, que levaram à cremação parcial dos corpos, tendo presentes as
intensas marcas de calor evidenciadas pelos ossos. No entanto, tal como o
verificado nalgumas antas alentejanas já referidas, a cremação dos cadáveres
poderia ter sido realizada no exterior do monumento, e só depois os seus
restos depositados nele, acompanhados dos correspondentes espólios, também
eles com marcas de fogo. Estes parecem evidenciar diferenças, face ao da
anta a que se encontra geminado, a anta do Olival da Pega 2, grande
monumento com enorme corredor (OP 2a).
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regional: 4525 ± 60 anos BP, correspondente ao intervalo calibrado, para
cerca de 95 % de probabilidade, de 3370-2930 a. C.
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Carvalhal. Face à limitada área do espaço sepulcral, é admissível que
correspondam a túmulos individuais. É também o caso da Mamoa das Cabras,
da mesma necrópole, cuja cronologia, para cerca de 95 % de confiança, se
situa no intervalo de 2466-2057 a. C. intervalo que corresponde à fase mais
recente do Calcolítico regional.
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da aludida inspiração exógena, muito embora existam outras, em osso –
falanges de equídeo – e até em cerâmica, sob a forma de recipientes rituais,
ou de pequenas estatuetas, conceptualmente idênticas. A sua ocorrência
estende-se a grutas naturais e artificiais, mostrando a reutilização deste tipo
de sepulcros, no decurso do Calcolítico.
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colocação do círio pascal, na noite de Sábado para Domingo de Páscoa, o dia da
Ressurreição de Cristo, de cinco pinhas, simbolizando as cinco chagas de Cristo,
observado na Igreja de Santo António do Estoril. Tendo ficado clara a simbologia
da pinha, importa discutir a presença das três serpentes na peça de Casainhos, a
única em que aquelas se representaram. O significado da serpente, da Pré-História
aos dias de hoje, é de há muito objecto de estudo; a serpente, como animal sagrado,
encontra-se estreitamente associada à noção de morte/regeneração e à de
fecundidade/renovação, articulando-se directamente com outros elementos como
a água e a Lua (Eliade, 1997, p. 220; Tavares, 1967). Deste modo, a presença e a
posição das três serpentes na peça em causa, tem um significado que reforça o da
pinha, sendo assim compatível com a simbologia expressa por aquela. Assim sendo,
as pinhas calcolíticas de calcário da Estremadura corporizam a existência, nesta
área geográfica, de uma forma particular de culto à regeneração da vida, como
convinha a oferendas fúnebres, destinadas a acompanhar os mortos na sua última
viagem, que era também de renascimento para outra vida. Em épocas ulteriores,
também as serpentes continuaram a ser representadas, atingindo a sua máxima
expressão na Idade do Ferro do norte de Portugal (Gomes, 1999). A importância
destes répteis na estrutura religiosa das populações castrejas era relevante, a ponto
de existirem referências, nas fontes clássicas, a um "povo das serpentes", habitando
o ocidente peninsular, os Sefes, que J. de Alarcão admitiu terem vivido na actual
Estremadura, "entre o Tejo e o Mondego ou talvez, mais limitadamente, entre
aquele rio e o cabo Carvoeiro" (Alarcão, 1992, p. 340). É lícito, pois, ver nas duas
representações da peça de Casainhos – a serpente e a pinha – dois elementos de
uma epifania que chegou aos dias de hoje, mas cuja origem calcolítica é
demonstrável, tendo pervivido, exactamente no mesmo território através dos tempos,
para o que contribuiu também o facto de se terem tornado símbolos supra-regionais.
Em conclusão, a peça do dólmen de Casainhos, pelo significado religioso que
detêm as representações simbólicas nela insculturadas, testemuha, por si só, a
riqueza e a complexidade dos conceitos já então perfeitamente adquiridos e
praticados pelas comunidades estremenhas calcolíticas da primeira metade do
III milénio a. C.
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face oculada, provém da Lapa da Bugalheira, Torres Novas. Segundo os
escavadores, as peças concentravam-se de um dos lados da cavidade (Paço,
Vaultier & Zbyszewski 1942). A escolha destas falanges decorre da sua forma
antropomórfica, a qual, nalguns casos não sofreu qualquer transformação: é
o caso do exemplar recolhido na tholos do Cabecico de Aguilar que ostenta,
simplesmente, um triângulo púbico na zona basal, não deixando dúvidas
quanto ao sexo da divindade que representava (Leisner & Leisner, 1943,
Tf. 29).
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identity that often no auxiliary anthropomorphic features were deemed
necessary" (Gimbutas, 1989, p. 54, 55). Tal interpretação é, com efeito,
consentânea com o carácter funerário destas peças, que se quadra bem com
os hábitos nocturnos daquela ave; seria, pois, mais uma corporização da
omnipresente deusa-mãe calcolítica – que é também da fertitilidade e da
vida – como protectora dos defuntos, prenunciando a sua regeneração para
além da morte.
Não seria aceitável terminar este capítulo sem referir dois exemplos, entre
muitos outros, mas dos quais não subsistiram vestígios, dos pequenos gestos
associados às práticas funerárias, ou dos grandes rituais relacionados com
cerimónias públicas não funerárias dos tempos calcolíticos. No primeiro caso,
trata-se da oferenda de um machado plano de cobre, embrulhado num pano
de linho, encontrado em sepultura cistóide de Belle France, uma das
necrópoles das Caldas de Monchique. Qual o significado desta ritualização
do machado, provavelmente desencabado, envolvendo-o no pedaço de tecido
referido? Segundo os autores da descoberta, "O tecido, que lembra um linho
finíssimo e bem fiado, estava dobrado em quatro partes, notando-se que o
machado foi cautelosamente amortalhado (...)" (Viana, Formosinho &
Ferreira, 1948, p. 3; Formosinho, Ferreira & Viana, 1953/1954, Est. XVII,
n.º 2). Ambas as peças foram recentemente analisadas (Soares & Ribeiro
2003). O machado, é de cobre puro, não arsenical; quanto ao tecido,
confirmou-se que era de linho, dentro da categoria dos "tafetá", com uma
densidade de 36 por 31 fios por centímetro quadrado, obtido por fibras sem
torção, constituídas respectivamente por 16 e 11 fibras. Era visível, por outro
lado, no tecido, uma risca avermelhada, efectuada por pincelagem com corante
avermelhado, cuja análise química mostrou ser a "ruiva dos tintureiros"
(Rubia tinctorum L.), planta sub-espontânea em Portugal, cultivada com
aquela finalidade, extraindo-se o corante da respectiva raiz, que é vermelha.
Enfim, uma pequeníssima porção do tecido foi datada pelo radiocarbono,
indicando que aquele foi fabricado entre meados e o terceiro quartel do
III milénio a. C.; deste modo, constitui o exemplar de tecido datado mais
antigo da Península Ibérica (Soares & Ribeiro, 2003).
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desta cerimónia foi apresentada detalhadamente pelo próprio, correspondendo
à seguinte sequência:
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depositado ao mesmo tempo do anterior e relacionando-se assim com
idêntico momento do ritual.
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14. O "Fenómeno" Campaniforme
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A existência de um grupo cerâmico pan-europeu, denominado
"campaniforme" — facilmente identificável e relativamente homogéneo —
foi reconhecida nos finais do século XIX. Além da tipologia e das
características de decoração dessa cerâmica, desde cedo foi também notada
a sua associação regular a um conjunto de artefactos de cobre. Começaram
a aparecer, entretanto, vários estudos regionais e uma primeira síntese dos
conhecimentos adquiridos sobre o fenómeno campaniforme no espaço
europeu elaborada por Alberto del Castillo em 1928. Devido à grande
semelhança de tipologias e de estilos de decoração, o autor postulou não só
uma identidade tipológica e cronológica pan-europeia para a cerâmica
campaniforme, mas também uma teoria difusionista em que a origem dessa
cerâmica se situaria na Península Ibérica, tendo sido difundida para toda a
Europa por grupos caracterizados pelo uso de este tipo de cerâmica. Logo no
ano seguinte, em 1929, Gordon Childe aceitou a hipótese ibérica proposta
por A. del Castillo e ligou-a também à difusão da metalurgia do cobre,
propondo a existência de um povo campaniforme ("Beaker people" ou
"Beaker folk") de mercadores e metalurgistas, rapidamente dispersos, à
procura de recursos minerais e disponibilizando, em troca, artefactos
metálicos.
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raíz comum, ou várias, no contexto europeu, que explicariam as variantes
regionais identificadas.
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portuguesas" (Soares & Silva, 1974/77, p. 101). Esses três grupos principais
são:
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14.1 Estremadura
14.1.1 Povoados
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Ainda se não dispõe de um estudo completo do conjunto campaniforme: apenas
Harrison (1977, Figs. 55-59) apresenta o desenho esquemático da maior parte dos
referidos fragmentos, possibilitando uma apreciação global do conjunto. Assim,
na Casa 1 estão presentes vasos campaniformes com decoração de bandas, a
pontilhado ("marítimos"), caçoilas de ombro e carenadas, igualmente decoradas a
pontilhado; são muito raros os fragmentos (de pequenas dimensões, pertencentes
a formas difíceis de classificar) com decorações incisas. Quatro artefactos de cobre,
entre eles duas pequenas facas com chanfros de encabamento — sendo uma delas
de cobre arsenical (Junghans et al., 1968, An. N.º 2447) — completam o conjunto.
Da Casa 2 provêm vasos campaniformes "marítimos" com decoração a pontilhado,
taças hemisféricas de bordo ligeiramente espessado, também decoradas a pontilhado
e caçoilas de ombro e carenadas, ambas decoradas igualmente a ponteado. São
excepcionais os fragmentos incisos; entre eles, contam-se os de três taças Palmela,
além de uma taça hemisférica e de cinco fragmentos de recipientes inclassificáveis.
As peças metálicas, à base de cobre, todas de pequenas dimensões, correspondem,
sobretudo, a furadores ou sovelas de secção rectangular, sendo, pelo menos uma
delas, de bronze, com um teor em estanho de cerca de 10% (Junghans et al., 1968,
An. Nº 2448). Enfim, do "fosso" adjacente à Casa 2 obteve-se um vaso
campaniforme "marítimo" integrado em conjunto dominado, ao contrário dos dois
anteriores, por fragmentos de taças em calote e de taças Palmela com decorações
incisas, e de onde se encontram ausentes as decorações a pontilhado. As duas
peças metálicas de cobre reportáveis ao fosso são um furador de secção rectangular
e uma ponta Palmela.
Na Casa 2 recolheu-se um alfinete de ouro, de secção circular e cabeça em botão,
de formato lenticular (Zbyszewski & Ferreira, 1958, p. 50). Trata-se de artefacto
muito semelhante, a outro, oriundo de Areia, Mealhada, pertencente ao Museu
Nacional de Arqueologia (Fernandes, 1993, p. 152, 153). É crível que este exemplar,
ao contrário do artefacto em bronze acima mencionado, seja coevo do conjunto
campaniforme descrito. Desta forma, poderemos concluir que a ocupação da Penha
Verde é essencialmente campaniforme, embora uma presença da Idade do Bronze,
muito menos marcada, tenha também tido ali lugar.
Estas duas ocupações parecem confirmadas através das datas de radiocarbono
obtidas. A primeira foi determinada a partir de uma amostra de carvão, a qual,
depois de calibrada, corresponde ao intervalo, para cerca de 95 % de confiança, de
2282-1258 a. C. não tendo sido referida a qualquer das estruturas escavadas.
Informação pessoal de O. da Veiga Ferreira situa a amostra datada na Casa 2.
A uma segunda datação a partir de ossos cuja proveniência específica se desconhece,
corresponde o intervalo de 2620-2394 a. C., compatível com a ocupação dominante.
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espaçadamente, no final do Calcolítico Pleno. Indício deste facto é-nos
fornecido pela posição estratigráfica dos materiais campaniformes no interior
da área defendida, invariavelmente na parte superior da Camada 2, constituída,
em boa parte, por derrubes oriundos das muralhas e bastiões do dispositivo
defensivo, então já em parte arruinado e desactivado.
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A estratigrafia correspondente à Cabana EN indica, apenas, que esta se fundou em
derrubes da fortificação do Calcolítico Inicial, enquanto a Cabana FM assentou
directamente, ora no substrato geológico ora na camada 4, do Neolítico Final.
Assim sendo, a quase exclusividade de peças incisas na Cabana EN, bem como a
ausência de vasos "marítimos", conduz a considerar tal conjunto, à luz dos critérios
expostos, mais tardio do que o recolhido na Cabana FM e no interior da fortificação,
onde é frequente o vaso "marítimo" decorado a pontilhado, rareando as decorações
incisas.
Perante estes resultados, seria tentador considerar a data mais antiga reportável
ao Calcolítico Inicial; porém, dado o que a posição estratigráfica das cerâmicas
campaniformes no interior da fortificação é sempre mais recente que a camada
correspondente ao Calcolítico Inicial, deve concluir-se que é ao Calcolítico
Pleno que ambas as cabanas devem ser reportadas, situando-se em tal fase
cultural a emergência do fenómeno campaniforme na Estremadura. Por outro
lado, o facto de, em ambas as estruturas de carácter habitacional estudadas,
se encontrar totalmente ausente qualquer fragmento cerâmico decorado que
não fosse campaniforme, apesar de a utilização destas cabanas ser coeva da
ocupação do interior da fortificação, onde aquelas abundavam, de mistura
com materiais campaniformes, vem mostrar que os seus ocupantes detinham
uma cultura material distinta, facto que pode remeter para uma identidade
social diferenciada dos habitantes da área intramuros..
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com decorações em "folha de acácia" e "crucífera", ao longo de todas as
fases construtivas identificadas na estação, da mais antiga à mais recente
(Kunst, 1995, Abb.7) sendo mínimos, segundo este autor, na mais antiga.
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No Zambujal, predominam largamente as decorações a pontilhado aplicadas
sobretudo a vasos "marítimos" e a caçoilas (Kunst, 1987, Tf.2 e seg.).
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Um dos raros casos em que o material arqueológico sugere uma única
ocupação, é o do povoado de Malhadas, Palmela, implantado no topo de
colina (Soares & Silva, 1974/1977), correspondente, pela tipologia dos
recipientes (de onde se encontra ausente o vaso campaniforme de tipo
Fig. 202 "marítimo") e a técnica decorativa (o pontilhado), a um conjunto pertencente
ao Grupo de Palmela. Porém, a maioria das peças decoradas ostenta decoração
incisa – particularmente a norte do estuário do Tejo – o que corrobora a sua
relativa modernidade – aplicada a taças Palmela, caçoilas de grandes
dimensões e pequenas taças em calote; aqui, os únicos sítios com conjuntos
seguramente "fechados" até ao presente reconhecidos, são a Cabana EN de
Leceia, já anteriomente referida, e o núcleo do Monte do Castelo, situado a
cerca de 500 metros para sul, o qual deveria corresponder a uma unidade
doméstica de carácter familiar (Cardoso, Norton & Carreira, 1996); em ambos
Fig. 201 os casos, estão completamente ausentes os vasos "marítimos", que então já
não eram produzidos e dominam largamente as cerâmicas incisas. Esta
situação persiste nos sítios homólogos a norte de Sintra, implantados tanto
em colinas como em zonas planas – conquanto aqui se trate de colheitas sem
controlo estratigráfico ou estrutural – atingindo as cerâmicas incisas cerca
de 80% do total dos exemplares campaniformes decorados. Mais perto de
Lisboa, destaca-se a importante estação de Montes Claros, Lisboa, que, pela
abundância dos materiais, indica mais do que um casal agrícola ou núcleo de
carácter familiar, antes um extenso povoado campaniforme; a tipologia das
cerâmicas tal como os casos anteriores, é tardia, visto dominarem as
decorações incisas, aplicadas a caçoilas e a taças Palmela (Cardoso & Carreira,
1995). Situação idêntica é denunciada pelo rico e diversificado conjunto
campaniforme do povoado de encosta de Freiria, Cascais, no essencial ainda
inédito.
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14.1.2 Necrópoles
Verdelha dos Ruivos, Vila Franca de Xira: trata-se de uma gruta natural aberta
em calcários mesosóicos, ocasionalmente descoberta no decurso da lavra de
uma pedreira (Leitão et al., 1984). Identificaram-se onze enterramentos,
sobrepostos, ocupando pequena área do interior da cavidade; foram isolados
três níveis principais de tumulações, todos campaniformes, sendo as
sepulturas cobertas por lajes calcárias.
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intervalo de confiança, para cerca de 95%: 2705-2399 a. C. Este resultado coloca,
naturalmente, a questão de saber se corresponde ou não à cronologia do vaso
"marítimo" onde se encontrava, devido aos intensos remeximentos verificados,
embora nada obste a que tal se verifique. Mas é provável que assim seja, sendo o
resultado obtido consentâneo com tal realidade.
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em diversas taças das necrópoles calcolíticas de Los Millares, Almería e de Las
Carolinas, Madrid, possuindo evidente simbolismo; de facto, o significado religioso
do veado foi já anteriormente referido, a propósito das representações pictóricas
deste animal na arte megalítica da Beira Alta.
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Pleno da Estremaduraque o aparecimento das produções
campaniformes coincidirem, pelo menos, com o início do Calcolítico
Pleno, como foi varificado nos povoados da Rotura e da Penha Verde.
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14.2 Alentejo
14.2.1 Povoados
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qualquer outro elemento novo na cultura material característica da última fase da
ocupação pré-histórica deste povoado".
As observações das escavações de 2003 vieram pormenorizar a presença das
produções campaniformes: observou-se na estratigrafia do preenchimento de um
dos fossos que defendiam a área habitada (Fosso 2) o predomínio do "Grupo
Intetrnacional" nos níveis inferiores e do "Grupo de Palmela", nos níveis superiores
( ou "Pontilhado Geométrico"), ao qual nos níveis posteriores do enchimento do
fosso, se reune o "Grupo Inciso" (Valera & Filipe, 2004).
Cerro dos Castelos de São Brás, Serpa: trata-se de um sítio alto e fortificado
durante o Calcolítico. Nos estratos superiores, formados junto à muralha
interna, foram encontrados diversos fragmentos campaniformes (caçoilas),
muito raros, com nítico predomínio da técnica pontilhada, organi-zada em
padrões geométricos (Parreira, 1983).
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Calcolítico Pleno da Estremadura e do Sudoeste português, o mesmo se verificando
com os materiais coevos da bacia extremenha (espanhola) do Guadiana. No que
respeita às armas encontradas, nenhuma figura actualmente entre o espólio
conservado, sendo apenas conhecidas por desenhos de M. Heleno: trata-se de um
punhal com lingueta, de um outro munido de um par de chanfros de encabamento
simétricos, provavelmente reforçado na folha, e de uma ponta Palmela, peças que
confirmam a atribuição cronológico-cultural do conjunto ao campaniforme. Como
se disse, a peça mais importante é uma ponta de javalina, cujos únicos paralelos
peninsulares se resumem ao célebre conjunto do dólmen de La Pastora (Sevilha),
às duas peças soltas recolhidas à superfície no povoado de La Pijotilla (Badajoz) e,
bem mais próximo, ao exemplar mutilado recolhido em escavação arqueológica
no Cerro dos Castelos de São Brás (Serpa); o estudo comparativo realizado sobre
tais peças, conduziu à conclusão de esta arma não ser incompatível com a cronologia
do restante conjunto metálico, situável nos últimos séculos do III milénio a. C.
A importância do espólio metálico recolhido, confere ao povoado do Outeiro de
S. Bernardo o estatuto de sítio metalúrgico calcolítico, ou pelo menos de
centralizador do comércio de artefactos de cobre (hipótese reforçada pelo achado
de um possível lingote), podendo as peças estudadas serem, utilizadas no local ou
destinadas a exportação para outros locais, integrando-se nos circuitos transregionais
(incluindo matérias-primas como o cobre sob a forma de lingotes) estabelecidos
no decurso do Calcolítico entre a Estremadura portuguesa e o Alentejo. Este papel
de destaque na coordenação destas actividades de comércio e de troca, é ainda
reforçado, por um lado, pela posição estratégica do sítio face ao vale do Guadiana
e, por outro, pela sua proximidade das minas pré-históricas de cobre existentes na
margem esquerda do Guadiana, explorando, tanto o cobre nativo, como os
carbonatos cupríferos. Esta realidade é consentânea com a conhecida na região de
Badajoz, na qual os povoados com espólios campaniformes, foram os que mais se
dedicaram às actividades metalúrgicas.
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Barrada do Grilo, Alcácer do Sal: trata-se da ocupação campaniforme de um
sítio aberto (colina baixa), que se sucedeu a uma curta presença mesolítica
(Santos; Soares & Silva, 1972). Os autores referem um único momento de
ocupação, representado por grande número de recipientes lisos e decorados.
Neste últimos, é exclusiva a técnica incisa, cujas depressões são por vezes
preenchidas por pasta branca, com a intenção de as tornar mais evidentes.
Os padrões decorativos, de evidente barroquismo nalguns casos (cf. Est. VII,
n.os 34, 36), aproximam estes recipientes das cerâmicas campaniformes da
Meseta, grupo de Ciempozuelos (cf. Est. VIII, n.º 37).
Vale Vistoso, Sines: tal como na estação anterior, trata-se de uma ocupação
de um sítio aberto, implantado sobre o oceano. De evidente carácter sazonal,
a ocupação decorreu em curto período de tempo, compatível com o escasso
espólio exumado, constituído por pequeno e homogéneo conjunto de
cerâmicas campaniformes, todas decoradas pela técnica incisa, estando
representadas as caçoilas e as taças Palmela (Soares & Silva, 1976/1977).
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superficial dos 33 fragmentos campaniformes, que correspondem ao número
mínimo de 19 recipientes, sugere a existência de uma concentração em torno
da área central do povoado calcolítico pré-campaniforme (Lago et al., 1998).
A estes haverá que somar mais 6, perfazendo o total de 39 fragmentos.
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14.2.2 Necrópoles
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Para o sul do Baixo Alentejo, a ocorrência de materiais campaniformes torna-
-se ainda mais rara, faltando quase completamente no Algarve, com excepção
de três fragmentos pertencentes provavelmente a vasos "marítimos",
recolhidos na parte superior da estrutura da tholos de Alcalar 7, Portimão
(Morán & Parreira, 2004, p. 172, 214).
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cerâmicas de tipo Ciempozuelos, presentes, para além do Monte do
Tosco, nos povoados dos Perdigões e dos Três Moinhos, e,
eventualmente também, na Barrada do Grilo e no povoado do Pombal,
evidenciando claras afinidades culturais com a Meseta. Tais cerâmicas
apresentam-se, maioritariamente, com decoração incisa,
correspondendo a motivos muito densos e apertados, de grande
barroquismo, aplicados sobretudo a caçoilas, que possuem
frequentemente a parte interna do bojo, junto da abertura, decorada
por uma métopa (ou banda) horizontal de zigue-zagues. Este é um
aspecto de diferenciação segura face às cerâmicas estremenhas do
"Grupo inciso", aspecto que se mantém nos contextos funerários: ao
conjunto campaniforme típico do "Grupo inciso", recolhido no dólmen
da Pedra Branca, junta-se a bela caçoila baixa da anta de Casas do
Fig. 207 Canal, com todos os atributos para poder ser considerada uma
importação mesetenha, conclusão também extensível aos dois vasos
recolhidos na anta de Bencafede. Com efeito, a presença de
campaniformes mesetenhos no interior do actual Alto Alentejo e,
também, do Baixo Alentejo, só pode ser considerada como uma
extensão do grupo da Meseta-Sul, por domínios mais ocidentais e
meridionais, correspondendo tais ocorrências, sempre excepcionais,
a peças provavelmente exógenas, aqui chegadas por trocas a longa
distância. Já os vasos "marítimos", poderiam ter uma origem no litoral
ocidental, no caso do povoado do Porto Torrão, ou do interior sul –
mesetenho ou andaluz (vales do Guadalquivir e do Guadiana), no caso
do Porto das Carretas. Com efeito, naquela região, reconheceram-se
exemplares de vasos campaniformes de tipo "marítimo" clássico,
produzida a pontilhado (Castillo, 1928; Harrison, 1977). Aliás, a
presença de influências litorâneas, ainda que muito ténues, encontra-
se bem ilustrada pela ocorrência de dois fragmentos de taças Palmela
em contextos tão interiores como o Outeiro de São Bernardo ou
Aljustrel, correspondentes, respectivamente a um exemplar inciso e a
outro com decoração a pontilhado.
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1995). A ocorrência destes exemplares em região tão interior, foi relacionada
com a circulação pela importante via fluvial do rio Tejo, pondo em contacto
esta região com a Estremadura. Mas também não se podem menosprezar os
contributos continentais, oriundos da meseta, evidenciados pela ocorrência
de um fragmento de vaso (caçoila ?) com decoração pseudo-excisa, recolhido
na sepultura secundária do tipo cista, existente na mamoa da anta 5 do
Amieiro, Idanha-a-Nova. Com efeito, esta técnica decorativa ocorre de forma
insistente em recipientes das províncias de Salamanca e de Cáceres, muitas
vezes recolhidos em sepulcros.
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na região da Figueira da Foz, os materiais campaniformes ocorrem sempre
de forma isolada, correspondendo ao aproveitamento circunstancial de
megálitos ali existentes (já anteriormente referidos), ou à ocupação pontual
e sempre pouco intensa de sítios habitacionais, sejam de planura ou de altura.
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ainda cerca de dez recipientes, lisos e decorados, sendo nestes exclusiva a
temática campaniforme: vasos "marítimos", com decoração de bandas a
pontilhado; pontilhado geométrico; e recipientes do "Grupo inciso", tanto
vasos campaniformes como uma taça Palmela, correspondente ao exemplar
mais setentrional até ao presente conhecido (Cruz, 1992, Fig. 22, n.º 2).
Trata-se de grandes monumentos megalíticos, nos quais, por vezes, foram também
recolhidos artefactos metálicos típicos da panóplia campaniforme. J. C. de
Senna-Martinez apresentou inventário dos materiais exumados nestes monumentos
(Senna-Martinez, 1994), por vezes susceptíveis de constituirem conjuntos
"fechados", correspondentes a deposições funerárias tardias, como é o caso do
conjunto recolhido na Orca de Seixas, representado por um vaso campaniforme
"marítimo"; um vaso carenado de tipologia tardia, já integrável na Idade do Bronze,
com decoração de tipo "marítimo"; um machado plano e uma ponta Palmela de
cobre arsenical; e um braçal de arqueiro de xisto. Na Orca do Outeiro do Rato,
cujo corredor recebeu igualmente tumulações tardias, recolheu-se um anel
espiralado de ouro nativo, que condiz com a tipologia campaniforme do conjunto,
embora difira dos seus homólogos da Estremadura, por possuir secção circular e
não sub-quadrangular, como estes (o que poderia sugerir época aindamais tardia).
419
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"marítimos". Na década de 1990, tomou significativa importância o sítio de
Fraga da Pena, Fornos de Algodres: trata-se de um povoado implantado no
topo de elevação notável, constituindo evidente marcador da paisagem,
aproveitando o abrigo proporcionado pelos grandes penedos graníticos que
coroam o topo da elevação. Definiram-se duas linhas muralhadas, delimitando
uma área defendida em torno da acrópole ocupada pelo "caos" de blocos
graníticos. As cerâmicas campaniformes exumadas são constituídas por vasos
"marítimos", variante de bandas e linear, de fabrico não local, e por recipientes
campaniformes decorados com unhadas, outros motivos impressos ou incisos
e lisos, de fabrico local (Valera, 2000; Dias et al., 2000). Por corresponder à
ocupação campaniforme mais importante de toda a Beira Interior, este sítio
afigura-se, até pela sua implantação topográfica destacada, como um elemento
incontornável no sistema de povoamento do final do Calcolítico, à escala
regional. Por outro lado, é até agora o único sítio do interior centro que permite
atribuir uma cronologia absoluta à ocupação humana campaniforme, situável
no último quartel do III milénio a. C. Este resultado parece reforçar a
impressão obtida da componente funerária conhecida, de serem as escassas
manifestações campaniformes na Beira Alta tardias, situação aliás facilmente
explicável pelo seu carácter exógeno.
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No que se refere ao norte do país, convencionalmente a região entre curso do
Douro e a fronteira, foi elaborada recentemente uma síntese da presença de
materiais campaniformes, a propósito do achado de um fragmento de um
vaso campaniforme cordado, recolhido no povoado do Castelo Velho, Vila
Nova de Foz Côa, ainda a sul do Douro, na Beira Transmontana (Jorge, 2002).
Trata-se de um exemplar obviamente importado, constituído por impressão
de uma "corda" entrançada", aquilo que L. Salanova classifica como
"cordelette crochetée". O exemplar mais próximo dos compulsados provém
de Villa Filomena, necrópole de silos da região de Castellón, perto do litoral
da Catalunha (Esteve Gálvez, 1956). Desconhece-se, todavia, quais os
mecanismos que presidiram à sua manipulação e transporte até esta área
geográfica, situação igualmente extensível ao outro exemplar português
comparável, do povoado de Porto Torrão, Ferreira do Alentejo (Arnaud, 1993),
embora neste último a impressão cordada seja simples e não entrançada, ou
dupla.
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Quanto aos diversos grupos estilísticos, domina o "Grupo internacional",
recorrendo à técnica a pontilhado, de que são paradigma os vasos "marítimos"
nas suas diferentes variantes (de bandas e linear). Assinala-se, de acordo
com estudo anterior (Gomes & Carvalho, 1993), a predominância da
distribuição litoral deste grupo no que respeita às ocorrências funerárias
(Mamoas de Aspra, Caminha; de Eireira e de Chafé, Viana do Castelo; de
Guilhabreu, Vila do Conde; de Chã de Arcas, Arcos de Valdevez; e, mais
para o interior, a mamoa 1 de Chã de Carvalhal e o dólmen de Chã de Parada
1, ambos em Baião; e os povoados do Tapado da Caldeira, Baião e de Pastoria,
Chaves, entre outros. Salienta-se a presença de dois belos vasos
campaniformes pertencentes a este grupo, recolhidos no topo da camada 2
da câmara da Mamoa 1 de Portela de Pau, Castro Laboreiro (Jorge et al.,
1997, Est. XX e XXI). Este conjunto é estilisticamente afim do grupo de
Palmela, da região da baixa Estremadura, embora lhe falte a taça Palmela,
dele característico; por seu turno, evidencia afinidades com o grupo de
Ciempozuelos, já anteriormente referido, da Meseta Ibérica.
422
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Muitas têm sido as propostas defendidas por diversos arqueólogos, desde a
década de 1920, sobre a origem do "fenómeno" campaniforme à escala
europeia. O facto de, volvidas tantas dezenas de anos, se optar pela ambígua
expressão de "fenómeno", para designar as ricas manifestações
campaniformes, comuns à quase totalidade do território europeu, expressa
bem a dificuldade de encontrar explicações que reúnam o consenso sobre os
mecanismos que presidiram à génese e ulterior difusão de tais manifestações
materiais pelo espaço geográfico aludido.
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segmento social diferenciado no seio destas comunidades. Naturalmente,
esta interpretação encontra-se dependente da própria qualidade dos dados
disponíveis: e estes, ainda que do ponto de vista arqueológico sejam
insofismáveis, como anteriormente se demonstrou, já do ponto de vista
arqueométrico carecem de confirmação, visto de momento apenas se basearem
em duas datas de radiocarbono.
424
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existentes nas proximidades imediatas do povoado (Arnaud, 1993). Este
resultado vem salientar a necessidade absoluta de se continuar, com carácter
sistemático, este programa de análises, de modo a discutir, com maior
fundamentação científica, o problema da circulação de cerâmicas
campaniformes. Outro elemento importante recentemente obtido neste
povoado (trabalhos dirigidos por A. Valera, e por ele comunicados
verbalmente), diz respeito ao faseamento da cerâmica campaniforme; com
efeito, na escavação de área mais extensa que a investigada por J. M. Arnaud,
no povoado de Porto Torrão (Ferreira do Alentejo), vieram a encontrar-se
mais cerâmicas campaniformes, que deste modo teriam uma distribuição
não apenas circunscrita à parte mais alta da estação; por outro lado, a
escavação de um fosso mostrou uma maior abundância do "Grupo
Internacional" (presença de vasos "marítimos") na base da estrutura, enquanto
nos níveis mais altos dominavam os campaniformes de tipo geométrico e
inciso. A ser assim, seria a primeira vez que, em estratigrafia, se demonstrava
inequivocamente a anterioridade do primeiro grupo, o único que poderá ser
exógeno, face aos restantes. Com efeito, as evidentes semelhanças entre os
vasos bretões e os da fachada ocidental da Península Ibérica, só podem ser
explicadas por deslocamentos populacionais, por via marítima (não seriam
tanto os vasos que viajavam, mas mais quem os fabricava), provavelmente
nos dois sentidos, como recentemente foi defendido por Laure Salanova, a
que se seguiria a cópia generalizada dos protótipos importados
(desconhecendo-se o local onde estes primeiramente surgiram: na região da
baixa Estremadura ou na Bretanha?). É ainda a navegação de cabotagem que
permite explicar as diversas ocorrências de cerâmicas campaniformes no
litoral do Marrocos Atlântico, de provável origem peninsular; ali, poderiam
ser permutadas por marfim e ouro, presentes em contextos calcolíticos
portugueses.
Importa agora recapitular o que já foi dito sobre este tema. Não existem
ainda explicações consistentes para tal fenómeno, ainda mal conhecido, mas
aparentemente independente da emergência do "fenómeno" campaniforme,
cujos aspectos foram já objecto de discussão. A desagregação das grandes
comunidades calcolíticas em pequenos grupos de raiz familiar foi a resposta
encontrada para optimizar a exploração e produção de recursos dos quais
dependia, mais do que nunca, o sucesso do seu próprio crescimento. Esta
hipótese – que, como já se referiu, consubstancia a teoria do "enxameamento",
de Victor S. Gonçalves, mas difere dela por requerer o declínio e abandono
dos sítios anteriormente ocupados e não apenas a geração de novos locais
habitados – adapta-se bem à realidade observada na Baixa Estremadura, a
425
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Sul do paralelo de Torres Vedras e, particularmente, na fértil região a norte
de Sintra e dos arredores de Lisboa (Carreira & Cardoso, 1996). Trata--se de
pequenos núcleos campaniformes, de época tardia, onde domina largamente
a cerâmica campaniforme incisa – como é o caso, entre outros, do sítio do
Monte do Castelo, Oeiras (Cardoso, Norton & Carreira, 1996) – implantados
em zonas abertas, de alta aptidão agrícola. A Sul do Tejo, observa-se também
a ocupação de pequenos outeiros – caso dos outeiros onde se implantaram os
povoados de Malhadas, então pela primeira e única vez ocupado (Soares &
Silva, 1974/1977) e o da Fonte do Sol, então reocupado, ambos na região de
Palmela – que mantêm o regime de agricultura intensiva e extensiva, herdado
do período anterior. Tal é atestado pelos materiais recolhidos (mós, elementos
de foice sobre lâmina), cuja presença pressupões a existência de a par da
criação de gado (os bovinos e ovinos encontram-se documentados),
Fig. 202 actividades que requeriam a ocupação permanente dos respectivos territórios
e um grau de especialização tão elevado como o anteriormente atingido, ao
contrário do que poderia sugerir uma interpretação mais superficial da
realidade arqueológica imediata. Que a agricultura cerealífera se especializou,
conduzindo ao armazenamento de significativo volume de excedentes, é-nos
indicado pelo silo de Verdelha dos Ruivos (Vila Franca de Xira), cuja
integração no campaniforme é apoiada pela sua adjacência à gruta sepulcral
do mesmo nome, onde tal presença é exclusiva, conotável com o povoado de
Fig. 203
Moita da Ladra, situado nas proximidades. De facto, não há quaisquer indícios
de regressão económica face ao período anterior, como ingenuamente
seríamos levados a supôr com base apenas no declínio verificado dos grandes
povoados fortificados. Aliás, a riqueza do registo arqueológico evidenciada
em Leceia na camada do Calcolítico Pleno, sem precedentes no povoado,
mostra que é falacioso conotar linearmente o fenómeno da fortificação com
o sucesso económico das respectivas comunidades, visto tal camada
corresponder precisa-mente à fase de declínio definitivo da fortificação, com
a retracção do espaço habitado em torno do núcleo primitivo, ocupado desde
o Calcolítico Inicial.
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modelo não dispensasse a manutenção de alguns sítios fortificados, os quais,
nalguns casos, continuam ocupados até ao Bronze Pleno, ainda que resi-
dualmente, como os três mais importantes da região estremenha: Vila Nova
de São Pedro, Zambujal e Leceia; mas, noutros casos, são fundados ex-novo,
como o povoado de Moita da Ladra. Seja como for, a emergência de elites,
cuja componente guerreira é uma realidade, encontra-se documentada, para
além das grandes pontas Palmela (de dardo?), no final do Campaniforme,
pela ocorrência crescente das adagas de lingueta, por vezes de grandes
dimensões, como o belo exemplar da Quinta da Romeira, Torres Novas Fig. 205
(Cardoso, 2002, Fig. 237). Tais adagas evoluem, mais tarde, para as primeiras
espadas curtas, de evidente aparato, também munidas de lingueta, como a de
Pinhal dos Melos, Fornos de Algodres (Paço & Ferreira, 1957), para a qual
se apontaram afinidades com exemplares da Bretanha; e tal não deve causar Fig. 206
surpresa, dadas as evidentes afinidades atlânticas de uma das linhagens
campaniformes, atrás referidas, corporizada pelo "Grupo Internacional".
Trata-se de peças ostentatórias, usadas por um segmento em gestação, no
seio de uma sociedade que integrava, também, agricultores, pastores, artesãos
e comerciantes: assim se corporizou, paulatinamente, a transição para a Idade
do Bronze, onde a hierarquização social no âmbito do exercício do poder foi
uma realidade cada vez mais presente. Assim se ultrapassou, também, um
momento de crise, a que conduziu o clima a que alguns chamaram de guerra
endémica, protagonizado pelas comunidades calcolíticas pré-campaniformes,
entricheiradas e concentradas em povoados fortificados.
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Na segunda metade do III milénio a. C., por quase todo o território português,
encontravam-se mais ou menos disseminadas populações portadoras da
panóplia campaniforme. Mesmo regiões onde esta era, até há bem pouco,
desconhecida, como o Algarve, ou o sul da Beira Baixa, tal presença foi
recentemente identificada, justificando a afirmação, sempre presente, da pouca
fiabilidade dos critérios baseados na ausência, a qual, em geral, decorre
sobretudo do estado da investigação arqueológica. O prosseguimento recente
das investigações, tanto em sítios habitados, como em necrópoles, na Beira
Alta, na Beira Transmontana e a norte do Douro, veio carrear um notável
acréscimo de informação, nos últimos quinze anos, sobre a existência de
ocorrências campaniformes, em vastas zonas onde elas eram praticamente
desconhecidas. Por outro lado, nos recentes trabalhos de emergência
realizados na bacia do Guadiana, foram confirmadas as influências da
Meseta-Sul, através das numerosas cerâmicas do grupo de Ciempozuelos ali
presente-mente conhecidas em sítios habitados.
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15. A Transição do Calcolítico para a Idade do Bronze
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Os mecanismos de transição para a Idade do Bronze, curto período
corporizado pelos derradeiros momentos campaniformes (ou
epicampaniformes, visto já não ocorrerem as tão características cerâmicas
decoradas que estiveram na própria origem da designação, mas apenas
recipientes lisos) são ainda pouco conhecidos; crê-se que a presença
campaniforme, na Estremadura e Sul do País, tenha dado lugar a novas
expressões da cultura material, já inseríveis na Idade do Bronze, no final do
III milénio a. C. Esta conclusão é corroborada pela datação obtida no povoado
de Catujal (Loures), cujo intervalo para 95% de confiança é de 2028-1752 a.
C. O espólio recolhido exibe estreitas afinidades com o do Bronze Pleno do
Sudoeste, sendo, pois, de uma fase imediatamente ulterior às últimas
cerâmicas campaniformes produzidas na região.
Este curto período de transição (que se poderá designar por Bronze Inicial) é
corporizado na Estremadura pelo dito "Horizonte de Montelavar" (Harrison,
1977), definido no sítio epónimo, perto de Sintra; tratava-se de uma sepultura
cistóide rectangular onde se recolheu um punhal de lingueta e duas pontas
Palmela (Nogueira & Zbyszewski 1943); a cerâmica, aparentemente, não
constava do conjunto. Situação idêntica foi registada perto de Ferradeira
(Faro), onde H. Schubart, a partir de uma sepultura cistóide de planta
sub-elipsoidal alongada, explorada muito antes, contendo um indivíduo
depositado em decúbito dorsal, acompanhado de uma taça de carena baixa
lisa (tipológicamente da Idade do Bronze), um braçal de arqueiro e um
pequeno punhal de cobre, de lingueta, definiu o chamado "Horizonte de
Ferradeira" (Schubart, 1971). Esta sepultura tem provavelmente antecedentes
locais, visto conhecerem-se diversas ocorrências, tanto no litoral algarvio
como na zona da serra, a maioria ainda por escavar. A única até ao presente
objecto de escavação, foi a do Cerro do Malhão, Alcoutim, pequeno megálito Fig. 216
do tipo cista envolto por lageado, o que indica a ausência de tumulus; embora
violada, forneceu um machado intacto de anfibolito e uma ponta de seta
curta, de base cavada, de tipologia claramente calcolítica, além de um
pequeníssimo fragmento de placa de xisto gravada (Cardoso & Gradim, 2003).
Fig. 211
As cistas afins de Ferradeira, cujas características e espólio foram comparadas
por H. Schubart a outras, do Baixo Alentejo (Vila Nova de Milfontes,
Odemira, Aljezur e Aljustrel), por vezes com base apenas em semelhanças
tipológicas, consubstanciaria uma realidade material, com significado
Fig. 212
cronológico-cultural, com extensão pelo Sudoeste espanhol. O "Horizonte
de Ferradeira", seria, deste modo, o equivalente meridional do "Horizonte
de Montelavar". Já no país vizinho, merece destaque o rico conteúdo da cista
de Motilla (Córdova) muito semelhante à da cista constituída por uma caixa
sub-rectangular com chão lageado e coberta de lages, aparentemente Fig. 213
desprovida de tumulus da Quinta da Água Branca, Vila Nova de Cerveira
(Fortes, 1908). Apesar de situada em domínio geográfico bem diferente, de
431
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ambas provêm adagas de cobre longas, munidas de lingueta, de evidente
filiação na panóplia campaniforme, pontas Palmela e diademas em folhas de
ouro batido, encontrando-se ausente o espólio cerâmico. No sepulcro
português ocorreram também espirais de ouro, análogas às recolhidas em
Fig. 214
outras sepulturas campaniformes da Estremadura, como nas grutas de São
Pedro do Estoril, Cascais. Esta aparente homogeneidade de arquitecturas e
de conteúdos funerários, em áreas geograficamente tão afastadas, só se
compreende se se aceitar que a excessiva compartimentação do espaço, típica
da sociedade calcolítica, teria dado lugar a intensa circulação interregional,
Fig. 215 que se efectuaria livremente, propiciada por um tipo de ocupação, e sobretudo
de gestão dos territórios, por parte das comunidades que os ocupavam,
completamente diferente da anterior. Agora, os produtos poderiam mais
facilmente circular, assim se compreendendo o chamado "pacote"
campaniforme, constituído pelos elementos estandardizados supracitados.
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onde eram utilizadas pelas elites desta etapa inicial da Idade do Bronze.
Importa, a propósito, referir a recolha de uma outra espiral de prata na mamoa
da Cerca, Esposende (Almeida, 1985), a qual demonstra a reutilização desde
megálito na Idade do Bronze, à semelhança de outros da região, como Rapido
3, conforme é assinalado por E. J. L. da Silva (Silva, 1994).
433
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Em síntese: os pequenos monumentos sepulcrais do tipo cista que recen-
temente se têm vindo a identificar e escavar no norte e centro do País, são
cronologicamente próximos das simples fossas sob pequenos tumuli, cuja
frequência é, como a daqueles, muito maior do que até ao presente era
admitido; para tal contribui as características discretas das estruturas e modo
de implantação, pouco evidente, no terreno. Por outro lado, existe clara
continuidade entre as cistas datadas do Calcolítico e os monumentos de
tipologia análoga, situáveis na primeira metade do II milénio a. C. e portanto
já da Idade do Bronze, pelo que a separação entre uns e outros é meramente
cronométrica. Nestes derradeiros monumentos do Calcolítico ou já da Idade
do Bronze, imperou a variabilidade arquitectónica tumular, à qual já não se
poderá dar o nome de megalítica.
434
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16. A Arte Pós-Paleolítica de Ar Livre e de Abrigos Ruprestes e
as Estelas-menires e Estátuas-menires do Calcolítico
e da Idade do Bronze
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No território português, avultam diversas manifestações de arte rupestre pós-
-paleolítica, seja em vastos espaços de ar livre, seja em abrigos sob rocha;
seguidamente, apresentam-se, de forma sintética, as principais ocorrências
conhecidas.
437
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determinadas épocas do ano, ali acorriam para a prática cinegética, certamente
não desligada de rituais próprios, aliás sugeridos pela envolvência especial
conferida pelo rio e pelas imponentes Portas de Ródão, lugar de referência e
de sugestivo simbolismo, ao longo de milhares de anos.
Esta fase da arte rupestre do vale do Tejo tem equivalente no vale do Guadiana;
com efeito, foram ali recentemente identificados, em consequência dos
trabalhos de minimização dos impactos arqueológicos resultantes da
construção da barragem de Alqueva, numerosos motivos esquemáticos ou
geométricos (circunferências produzidas a picotado), que remetem, tal como
no Tejo, para intervalo dos finais do IV aos finais do III milénio a. C.; algumas
dessas figuras eram de há muito conhecidas (Baptista & Martins, 1979);
porém, só o estudo sistemático da totalidade das que actualmente se
conhecem, permitirá traçar uma panorâmica adequada dos ciclos artísticos
ali representados (Silva, 1999).
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tal motivo geométrico se encontra presente, uma cronologia do Bronze Pleno
(Baptista, 1981) o que, naturalmente, não pode ser generalizado, mesmo a
outras rochas do mesmo complexo rupestre. Com efeito, em 1978 aquele
arqueólogo, com M. Martins, discutindo o faseamento das insculturas da
vizinha estação de S. Simão, integraram as centenas de circunferências ali
identificadas na Fase III, a qual, conjuntamente com a fase anterior, foi situada
na época do megalitismo alentejano, anterior, pois, à Idade do Bronze
(Baptista, Martins & Serrão, 1978). A iconografia da chamada "arte
megalítica", atrás caracterizada nas suas linhas gerais, é, na verdade,
imediatamente anterior à da arte esquemática do Noroeste peninsular,
atribuível preferencialmente à Idade do Bronze.
Seja como for, pode afirmar-se que este sector do Tejo – que, aliás, se pode
considerar em articulação com o conjunto situado em Herrera de Alcántara
(Cáceres), constituído por mais de 20 km de rochas insculturadas, foi palco
de importantes manifestações da religiosidade do homem pré-histórico desde
o Paleolítico Superior até ao final do Calcolítico, aproveitando bancadas
xistosas das margens do Tejo, a jusante da imponente garganta epigénica das
Portas de Ródão, sem dúvida um elemento marcador paisagístico e simbólico
de primeira grandeza. Nesse vasto santuário a céu aberto, a água corrente do
rio desempenhou o seu papel habitual, representação viva da vida e da
renovação, dentro das concepções que enformavam a estrutura cognitiva das
muitas gerações que, ciclicamente, acorriam aos mesmos locais,
expressando-se embora de modos diferentes; neste particular, não deixa de
ser significativo verificar a existência de concentração de rochas insculturadas
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nos locais de maior agitação hídrica – os chamados "cachões" – onde a força
vital da água se manifestava de forma mais expressiva.
Faia (Vila Nova de Foz Côa), onde se identificaram diversos grandes bovídeos,
pintados em estilo sub-naturalista a sub-esquemático, a vermelho, em painel
rochoso vertical, acompanhados de antropomorfos e Fraga d’Aia (S. João da
Pesqueira), pequeno abrigo granítico sob-rocha onde se identificaram,
pintados na parede do fundo, com quase sete metros de comprimento, dois
Fig. 222 notáveis conjuntos pintados a diversos tons de vermelho (Jorge et al., 1988),
são dois bons exemplos da arte sub-naturalista, evocando o estilo levantino,
presente no norte o País. Na Fraga d'Aia, já anteriormente referida, um dos
conjuntos rupestres é constituído por uma possível representação de caça ao
veado, figurando grande animal com robusta armação, aparentemente
circundado por diversos antropomorfos; o segundo conjunto, situado à direita
do descrito, corresponde a friso horizontal de dez antropomorfos e um
zoomorfo (cão?), de menores dimensões, com evidente carácter ritual, a que
se juntam outros antropomorfos isolados, situados num plano inferior. As
datações de radiocarbono, realizadas sobre carvões de diversas lareiras –
embora não se encontrem identificadas as espécies utilizadas, o que retira
representatividade às datas encontradas – indicam o Neolítico Antigo, o que
seria compatível com as características estilísticas referidas, muito embora o
primeiro painel se afigure sub-naturalista, e o segundo sub-esquemático; mas
tal coexistência é perfeitamente possível, pelo que não existem razões para
atribuir-se cronologia diferenciada aos dois conjuntos. A longevidade deste
tipo de produções terá atingido o Neolítico Final regional, como indicam as
representações dos esteios da Orca dos Juncais e da Arquinha da Moura.
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A arte sub-esquemática ou já plenamente esquemática e geométrica, presente
nos numerosos painéis rupestres pintados de diversos abrigos sob rocha, de
Trás-os-Montes ao Alentejo, abarcando os últimos séculos do IV milénio a. C.
ao final do milénio seguinte, alguns deles já atrás referidos, encontra-se, em
boa parte, ainda por investigar. Recentemente, a ocorrência de abrigos com
arte esquemática estendeu-se ao Alto Ribatejo e à Beira Litoral, com a
descoberta do pequeno abrigo do Pego da Rainha, Mação, conotado com o
culto da água (Oosterbeek, 2002) e dos abrigos de Lapedo I e Lapa dos
Coelhos, Leiria (Martins, Rodrigues & Garcia Diez, 2004), com represen-
Fig. 223
tações claramente antropomórficas a vermelho. Estas ocorrências remetem,
em geral, para uma fase avançada da arte pré-histórica do ocidente peninsular,
situável entre o Neolítico Final e o final do Calcolítico, conforme indica a
respectiva iconografia: antropomórficos e zoomórficos esquemáticos, símbolos
astrais radiados, circunferências concêntricas, ramiformes, punctiformes, etc.,
com analogia com a arte megalítica, sem se poder excluir a hipótese de
sobrevivências na Idade do Bronze: é o caso do abrigo com gravuras de
Solhapa (Miranda do Douro), com uma notável associação de covinhas e
canais, atribuídas ao Bronze Final (Sanches, 1992).
Fig. 225
Ocorrências mais raras são os motivos reticulados, de contorno quadrangular,
pintados a negro e a vermelho, conhecidos no Cachão da Rapa, sobre o Douro
(Carrazeda de Anciães) os quais, integrados na fase mais antiga das
manifestações artísticas do noroeste peninsular, das três identificadas por
Fig. 226
P. Bosch-Gimpera (Bosch-Gimpera, 1959), se podem inscrever no
III milénio a. C.
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Os abrigos rupestres alto-alentejanos com arte esquemática, de que merece
destaque o de Voz de Junco, Arronches, possuem no território português
Fig. 227 mais meridional, apenas uma única ocorrência equipa-rável: trata-se do
pequeno abrigo de Penedo (S. Bartolomeu de Messines), com arte
esquemática e espólio neolítico (Gomes, 2002, p. 173).
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De qualquer modo, as origens destas manifestações artísticas, na ausência
de evidentes antecedentes locais, parece terem resultado de influxos culturais
novos, verificados no decurso da Idade do Bronze, os quais não se podem
desligar das relações comerciais atlanto-mediterrâneas, que então se detectam
na região da distribuição destas ocorrências.
Trata-se de uma arte não monumental, cobrindo por vezes vastas superfícies
dos afloramentos rochosos, muitas vezes em sítios pouco evidentes na
paisagem, cuja localização poderá, não obstante, coincidir com a delimitação
de territórios entre comunidades vizinhas, tornados por isso de referência
obrigatória e apenas delas (ou de parte delas) conhecidos; aí residirá, talvez,
a razão para a ausência de monumentalidade que evidenciam. Mas esta
afirmação é apenas uma suposição, na falta de elementos que possibilitem
uma discussão mais objectiva. De qualquer modo, a implantação que
caracteriza muitos sítios com arte rupestre do norte do País, faz crer que não
eram as características topográficas que os diferenciavam da restante área
envolvente, mas sim o seu significado intrínseco, de forte simbolismo,
conferido pelas rochas decoradas. A ser assim, é admissível aceitar que o
acesso a tais sítios seria restrito aos elementos de cada uma das comunidades
que, devido ao seu estatuto, a eles teriam conhecimento ou poderiam aceder.
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teriam paralelos atlânticos nas Ilhas Britânicas, chegando mesmo à
Escandinávia, situação que poderia ser explicada pelas ligações comerciais
estabelecidas com aquelas regiões, no decurso da Idade do Bronze. Outro
vector teria origem meridional, ligada ao mundo mediterrâneo, representado
pelos motivos labirínticos mais elaborados. Uma das ocorrências mais
emblemáticas é a estação da Bouça do Colado, na encosta meridional da
Fig. 230 serra da Amarela, Ponte da Barca. Segundo A. Martinho Baptista, observa-se,
na distribuição dos motivos insculturados em vasta superfície horizontal
granítica, correspondente ao núcleo principal do santuário rupestre, rodeado
por sete outras rochas insculturadas de menores dimensões, uma estruturação
do espaço gravado, correspondente a um projecto previamente elaborado.
Com efeito, o espaço central da composição, correspondente à intersecção
dos eixos maior e menor da superfície insculturada, é ocupado por um grande
idoliforme feminino, sendo as zonas envolventes ocupadas por diversas
representações, com destaque para as circunferências com covinha central.
Uma figura proto-labiríntica ocupa a base da composição. Porém, esta
interpretação, que se afigura evidente para o citado autor, é questionada por
outro arqueólogo (Gomes, 2002, p. 164), o que só revela quanto falíveis e
subjectivas são as mais elementares interpretações, em matéria de arte
rupestre, sem falar da respectiva cronologia, relativa ou absoluta.
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linhas rectas ou quebradas e podomorfos; estes últimos, cuja ocorrência
remonta ao Bronze Pleno do Sudoeste, visto encontrarem-se representados
em algumas das estelas funerárias insculturadas daquela época, encontram-
-se por vezes particularmente bem representados em sítios tão distantes como
a "Fraga das Passadas" (Mogadouro) e a "Pedra do Rasto", Queirã (Vouzela),
com mais de trinta destas representações, associadas a covinhas. Avulta a
verdadeira preocupação de preencher totalmente os espaços disponíveis, em
composições que têm tanto de desorganizado como de barroco e onde tais
motivos, no primeiro caso, se encontram associados a circunferências
concêntricas, motivos radiados, serpentiformes e até a uma representação
antropomórfica (Freitas, Santos & Rolão, 1994). Uma vez mais, é notória a
similitude entre estes motivos e os patentes em estações rupestres irlandesas,
a tal ponto que é difícil separar uns de outros (Baptista, 1983/1984). A
distribuição destes motivos pelos espaços inscultrados parece evidenciar o
já referido "horror ao vazio", consubstanciado no preenchimento, de forma
aparentemente caótica e desorganizada, das superfícies disponíveis.
Embora a larga maioria dos motivos iconografados nas estações dos dois
grupos supra caracterizados tenha sido produzida por picotagem, existem
casos em que a técnica utilizada foi a incisa, seguida por vezes da abrasão: é
o caso das gravuras, há muito conhecidas, da Pedra Letreira (Góis), de
Molelinhos (Tondela) e da Pedra Escrita de Ridevides (Vilariça). Trata-se de
grupo diferente dos dois anteriores, podendo a sua cronologia remontar ao
Calcolítico como defendeu J. R. dos Santos Júnior (Santos Júnior, 1963),
prolongando-se, depois, pela Idade do Bronze, como indicam as
representações de armas e de artefactos de bronze (alabardas, punhais, foices
arcos e flechas). A presença destas peças permitiu a exclusão do Bronze
Final dos petróglifos onde ocorrem, dado não se ter encontrado, em nenhum
deles, peças tipologicamente identificáveis com aquela fase cultural (Jorge
& Almeida, 1980).
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como Norte-Sul, sendo patentes, no primeiro as influências mediterrâneas.
Estas, que já anteriormente foram idicadas, encontrariam no motivo do
labirinto – que, embora muito escasso, se encontra exemplarmente
representado na estação de Lufinha, Viseu – uma das sua expressões mais
evidentes, segundo A. A. Tavares (Tavares, 1986/1987), que defende, também,
a integração da maioria destes petróglifos em fase tardia da Idade do Bronze.
A sublinhar esta cronologia, invoca a existência de motivos espiralados,
idênticos aos observados em artefactos metálicos, como o gancho para carne
(furcula) encontrado no castro da Senhora da Guia, Baiões, adiante referido.
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particular são as superfícies externas insculturadas de esteios ou dos chapéus
de monumentos dolménicos, dos quais se conhecem diversos exemplos no
País, especialmente no Alto Alentejo, ou em afloramentos próximo de
monumentos megalíticos. Importa questionar se tais elementos, no caso das
antas, eram para ser vistos, como os figurados nos penedos. No caso
afirmativo, naturalmente que teremos de admitir a sua menor antiguidade
face aos dólmenes onde se encontram insculturados, visto tais insculturas só
se poderem fazer depois da destruição do tumulus, que, em geral, cobria a
estrutura megalítica propriamente dita: as antas, despertando desde sempre a
especial atenção ou mesmo veneração das comunidades primitivas, mesmo
muito tempo depois da sua construção, podem ter continuado a funcionar
como espaços sagrados, onde, para além de receberem tumulações tardias,
como bem provam numerosos exemplos conhecidos por todo o País, poderiam
constituir santuários, assim se explicando tais insculturas. Mas estas poderiam
ter, também, um significado oculto, próprias para não serem vistas, como,
entre outros casos, o machado gravado na base da estela-menir do Monte da
Ribeira, situado abaixo do nível de fundação no terreno do monólito, realidade
que Victor S. Gonçalves bem salientou. Sem dúvida que, nalguns casos, tais
insculturas podem relacionar-se directamente com a utilização primária dos
monumentos: é o caso, para além do mencionado, do grande menir do Lavajo
(Alcoutim), que ostenta "covinhas" abaixo da zona que estaria visível, e da
anta 2 do Olival de Pega que possui, no início do longo corredor, dois
esteios-estela, dispostos de ambos os lados e profusamente decorados com
centenas de tais elementos, situados intencionalmente abaixo do nível do
terreno, a menos que se trate de um reaproveitamento de elementos
construtivos mais antigos.
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antropomórficas do Neolítico Final ou já calcolíticas da Beira Baixa e do
Alto Alentejo. Provém de A-de-Moura, Guarda (Silva, 2000) e corresponde,
provavelmente, a exemplar mais recente que os anteriores, mas ainda
calcolítico. Seja como for, este conjunto de monólitos exibe assinaláveis
semelhanças (especialmente os considerados mais antigos), como ídolo
pintado do abrigo de Peña-Tú (Astúrias) atribuído por Juan Cabré a divindade
funerária calcolítica feminina; mais recentemente, os pequenos monólitos
primeiramente referidos foram, com efeito, relacionados com a existência
de monumentos megalíticos, na vizinha Extremadura espanhola (Bueno
Ramirez & Cordero, 1995), situando-os entre o Neolítico Final e o Calcolítico.
Os monólitos de pequeno tamanho, por vezes assumindo o formato ovular e
maciço, evoluiriam até os exemplares do Bronze Final, gravados já em estelas
e com atributos que não deixam dúvidas quanto àquela integração cultural: é
o caso da estela de Torrejon del Rubio II, Cáceres, que ostenta de um dos
lados da figura humana, gravada na superfície plana da respectiva estela,
uma fíbula de cotovelo e um fecho de cinturão, daquela época (Almagro,
1966, p. 207, lám. XXII). Existem, com efeito, exemplares que evocam a
evolução referida, como é o caso da estela de Granja de Toniñuelo, Badajoz,
a qual se encontrou associada a uma sepultura de falsa cúpula (Bueno-Ramirez
& Cordero, 1995) sendo, deste modo, de idade calcolítica. Com efeito, foram
vários os autores que tentaram estabelecer um quadro evolutivo destes
interessantes monumentos, cuja larga diacronia (reiterada por Almagro Basch,
1972, p. 112), de quase dois milénios (todo o terceiro e segundo milénios
a. C.) é, no entanto, de difícil compreensão, no quadro da dinâmica cultural
conhecida para a região em causa, no referido intervalo de tempo. Mas a
coerência interna da referida evolução, faz pressupor, a existênciade uma
determinada unidade social, religiosa ou cultural, ou ao menos uma tradição
prevalecente, ao nível da simbólica religiosa, das sucessivas populações que
habitaram a Extremadura espanhola, no referido intervalo temporal, com
prolongamento para o vizinho território português.
Fig. 237 Outro recinto de estelas mais meridional que os supra referidos, situável
também no III milénio a. C., é o de Corujeira (Fornos de Algodres), implantado
em pequeno cabeço; as estelas, de granito, apresentam-se insculturadas por
sulcos, dispersos de forma aleatória, ou constituindo figuras geométricas,
aproximando-se deste modo do recinto de S. Cristóvão (Resende), implantado
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em plataforma da serra de Montemuro, a mais de 1100 m de altitude. Dado
a conhecer por E. J. L. Silva, trata-se de monumento de planta oval, constituído
por várias dezenas de pequenos monólitos, com outros no espaço interior, os
quais, segundo o autor, poderão relacionar-se com a arqueoastronomia
(Silva, 1997).
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al., 2001). Tal como os exemplares do grupo anterior, também estes, ocorrem
descontextualizados, dificultando a atribuição, não só da respectiva
cronologia, mas também dos correspondentes significado e funcionalidade.
O facto de se encontrarem frequentemente próximo de linhas de água, poderá
estar relacionado com o uso das correspondentes vias de circulação, fluviais
ou terrestres, sacralizando-as ou, simplesmente, servindo de marcos de deli-
mitação territorial, correspondentes a determinada comunidade, sem
inviabilizar a hipótese funerária, uma vez que nalguns casos se encontraram
junto a caminhos antigos (Faiões, Ataúdes).
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17. O Bronze Pleno
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Este capítulo é dedicado às manifestações do Bronze Pleno no território
português. Esta designação carece de precisão: com efeito, há muito que se
verificou que o clássico faseamento tripartido da Idade do Bronze da Europa
Ocidental dificilmente se aplicaria ao Ocidente peninsular. Admitindo que a
etapa inicial da Idade do Bronze, o Bronze Inicial, é caracterizada por
elementos de forte tradição campaniforme, como os referidos no final do
capítulo anterior – trata-se das manifestações integradas nos chamados
"Horizonte de Montelavar" e "Horizonte de Ferradeira", situáveis nos últimos
dois séculos do III milénio a. C. – ao Bronze Pleno (que não tem exactamente
o mesmo significado de Médio, porque com o adjectivo "Pleno" o que se
pretende significar é que é só nesta etapa que se manifesta a metalurgia do
bronze), corresponderiam manifestações que abarcam, cronologicamente,
toda a primeira metade do II milénio a. C., prolongando-se até aos inícios do
século XIII a. C., altura em que se verifica a emergência do Bronze Final no
território português.
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decorações gomadas em relevo, no bojo. Trata-se de produções cerâmicas,
onde as decorações incisas e caneladas se associam às decorações plásticas,
em recipientes com as superfícies regularizadas por brunimento, que lhes
conferiu frequentemente aspecto brilhante e toque quase metálico.
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origem (Cardoso, 1994). Ainda outra prática ritual, observada na sepultura
da Herdade do Montinho, Vale de Vargo, Serpa, consistiu na
impermeabilização da cista por matéria gordurosa, extraída possivelmente
de suínos, conforme demonstrou a análise das terras adjacentes por
espectrometria de infravermelhos por cromatografia em fase gasosa (Ribeiro
& Soares, 1991). Na necrópole de cistas dos Bugalhos, Serpa, foram
exploradas duas sepulturas, uma relacionada com tumulação feminina, sendo
a outra destinada a cadáver masculino, como é sugerido pelo espólio, que
incluía dois pequenos punhais de cobre. A escavação permitiu confirmar o
que já em outras necrópoles de cistas se tinha observado: o interior das caixas
tumulares não era preenchido por terra; assim se explica a presença de
incrustações sedimentares que cobriam a superfície das peças, bem como a
existência de dois recipientes fragmentados na cista 2, devido à queda da
tampa no interior da sepultura. É provável que estas duas sepulturas
constituíssem a totalidade do conjunto original: com efeito, ao contrário do
observado noutras regiões do Baixo Alentejo e do Algarve, na região do
Guadiana são frequentes as sepulturas isoladas ou quase, como é o caso. A
cista 2 forneceu, ainda, um fragmento de tecido de linho, o qual, depois de
datado por radiocarbono, forneceu o seguinte intervalo, para 2 sigma,
correspondente a cerca de 95 % de confiança: 1880-1672 a. C. (Soares, 2000).
Este resultado indica que a necrópole deverá pertencer à transição do Bronze
I para o Bronze II do Sudoeste. Com efeito, com base nas datas de
radiocarbono já conhecidas, pode propor-se para a fase inicial do Bronze do
Sudoeste (o designado Bronze I do Sudoeste) uma cronologia entre ca. 2100/
2000 e 1700/1600 a. C., data do início do Bronze II do Sudoeste, caracterizado
não só por produções cerâmicas mais finas, como as atrás referidas, mas
também pelo aparecimento das ditas tampas insculturadas e estelas decoradas,
ditas de "tipo Alentejano", adiante descritas.
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taças de carena angulosa, de tipo Santa Vitória, garrafas de colo estrangulado
com decoração de gomos, ou constituída por caneluras verticais, e outros
recipientes, como taças em calote e vasos altos. Entre os objectos metálicos,
destaca-se a presença de punhais, de uma faca curva e de um remate de
empunhadura de punhal, de cobre, comparável a objecto idêntico, mas de
pedra polida encontrado numa das cistas de Vale de Carvalho. Pelas
características evoluídas do espólio, esta necrópole insere-se no Bronze II
do Sudoeste, a que pertencem as mais ricas de espólio, caso das necrópoles
de Medarra, Aljustrel e de Farrobo, Vidigueira (Schubart, 1974).
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de forma pouco marcada, a existência de diferenciação social, na sequência
da emergência de um segmento guerreiro observado desde o campaniforme.
É também deste modo – recorrendo à existência de diferenciações sociais
intracomunitárias – que se podem interpretar as chamadas "estelas
alentejanas", com representação de armas, avultando espadas, punhais e
machados, nalguns casos de nítida raiz mediterrânica, cobrindo algumas das
cistas, ou mantendo-se ao alto, junto à cabeceira, pertencentes, naturalmente,
às personagens de maior destaque.
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protótipos correspondentes, é indício da importância do segmento guerreiro,
no seio da sociedade de então, e da forte influência mediterrânica, já que tais
Fig. 250 exemplares possuem estreitos paralelos em espadas da região de El Argar, o
que se explica dada a posição geográfica meridional do Baixo Alentejo e do
Algarve. Aliás, a espada argária de Fuente Álamo, Almería, também do tipo
II, apareceu associada a oito contas de vidro segmentadas azuis, verdes e
brancas, produzidas entre 1450 e 1400 a. C., sendo indícios de influências
do Mediterrâneo Oriental; tais contas possuem paralelos nas contas de pasta
vítrea, azuis e amarelas, da necrópole do Bronze do Sudoeste de Atalaia
(Ourique).
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orientais: é o que se deduz da existência de altares de "cornos" naquela região
(Cruz, 1992). Com efeito, os artefactos cerâmicos ali encontrados, publicados
pelo referido autor, possuem origem comprovada na região de Micenas –
Berbati, e datam seguramente de entre finais do século XIV a meados do
século XIII a. C. Seriam, pois, as primeiras provas peninsulares directas da
importação de produtos orientais de origem rigorosamente determinada,
antecedentes imediatos das produções fenícias, só generalizadas na Península
Ibérica a partir do século IX a. C.
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é, igualmente, semelhante à daquelas que, no final do Calcolítico, ocuparam
os mesmos territórios. Talvez mais do que então, se tenham desenvolvido as
pequenas explorações mineiras do cobre nativo, então abundante, tanto em
mineralizações limitadas do Algarve, algumas certamente já exploradas desde
o Calcolítico, como nos chamados "chapéus de ferro", ou "gossans", da faixa
pititosa, na zona de enriquecimento supergénico em cobre, ouro e prata nativa.
Com efeito, desde o século XIX que se detectaram vestígios de mineração
pré-históricos em diversas galerias de minas de cobre do Baixo Alentejo e
do Algarve. É o caso dos comuns "martelos mineiros", feitos de seixos rolados
de grande dureza, munidos de um sulco transversal mediano, mais ou menos
completo e profundo, obtido por picotagem, destinado à fixação do cabo.
Exemplares deste tipo de artefacto foram pela primeira vez noticiados em
Portugal na mina de cobre de Rui Gomes, Moura (Costa, 1868) e, mais tarde,
por Estácio da Veiga, em diversas minas de cobre do Algarve (Veiga, 1889,
p. 41; 1891, p. 79). Nem sempre se pode garantir a cronologia destas peças,
dada a sua sabida longevidade, praticamente sem modificações morfológicas;
sem dúvida, as mais antigas remontam ao Calcolítico (Montero Ruiz, 2000,
p. 54; Rothenberg et al., 1989), mas o seu uso prolongou-se provavelmente
para além do Bronze Final, abarcando, portanto, o período agora em discussão.
A confirmar esta realidade, em Fuente Álamo, Almería, povoado de época
argárica (Bronze Pleno), recolheram-se martelos idênticos. Com efeito, a
composição química das produções metálicas do Bronze Pleno, por via de
regra, são cobres arsenicais, como os calcolíticos, e, tal como aqueles,
seguramente de origem local ou regional (Alentejo e Algarve). Tal realidade
é conhecida desde o tempo de Estácio da Veiga, que foi quem primeiro tomou
a iniciativa de submeter a análise química algumas das peças por si obtidas
ou estudadas. Entre estas, merecem destaque os machados planos de cobre,
de gume peltado, que os diferencia dos seus antecessores calcolíticos, dos
quais se recolheram exemplares em minas antigas, como as de Alte, do Pico
Alto e de Santo Estêvão, no barlavento algarvio (Veiga, 1891), entre muitas
outras. Nalguns casos, a própria presença das minas terá determinado o
povoamento da região adjacente, como expressivamente é registado por
Estácio da Veiga (Veiga, 1891, p. 82). Referindo-se à existência de diversos
sítios com cistas da região de S. Bartolomeu de Messines, declara: "Cada
uma d´estas necropoles corresponde certamente a um logar povoado, e note-
se que todos devem ter ficado a curta distancia da mina de cobre do Pico Alto
(...). Foi mui provavelmente esta mina que attrahia a tão agreste escampado
aquella gente n´uma epocha ou idade em que os mortos tinham por abrigo
uma caixas quadrangulares de lages toscas (...)." A relativa riqueza
proporcionada pela metalurgia do cobre, terá justificado a ténue diferenciação
social existente em cada uma daquelas comunidades, em geral de reduzidas
dimensões, conclusão que é, aliás, sublinhada pelo em geral escasso número
de sepulturas que integram cada necrópole. No entanto, a emergência de
povoados de altura, que é sem dúvida uma expressão da tendência para a
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diferenciação social no interior de cada uma das comunidades aludidas, ter-
se-ia iniciado ainda no final do Bronze do Sudoeste: tal realidade encontrar-
se-ia comprovada pelos fragmentos de taças de "tipo Santa Vitória", recolhidos
no castro de Azougada, Moura (Gamito, 1997, p. 231). Tal hipótese, aliás já
havia sido anteriormente admitida por J. Soares e C. Tavares da Silva, ao
declararem que "A ausência de rupturas na transição Bronze Médio-Bronze
Final permite colocar a hipótese de a fundação de pelo menos alguns dos
grandes povoados fortificados do Sul de Portugal, genericamente considerados
do Bronze Final, remontarem ao Bronze Médio" (Silva & Soares, 1995,
p. 138).
A fase mais tardia (II) do Bronze do Sudoeste, com base nos elementos
cronométricos publicados por J. Soares e C. Tavares da Silva (Soares & Silva,
1995), situa-se na viragem da primeira para a segunda metade do
II milénio a. C. (Belmeque: 1630-1400 a. C.; sep. 16 do monumento II do
Pessegueiro: 1679-1442 a. C., ambos os resultados para 95 % de
probabilidade).
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17.2 Estremadura
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Na Baixa Estremadura, o povoado do Catujal, Loures (Cardoso & Carreira,
1993; Carreira, 1997) é exemplo (até agora único) de um povoado do Brnze
Pleno, implantado na extremidade de um esporão, limitado de ambos os lados
por vales profundamente entalhados, dominando, de cerca de 100 m de
altitude, o delta interior do Tejo. O sítio possui, deste modo, invulgares Fig. 252
condições naturais de defesa, de onde se descortinam vastos horizontes para
Sul. Tal como os dois sítios anteriores, os restos faunísticos identificados
conferem-lhe características de ocupação permanente. Infelizmente, o sítio
foi quase totalmente destruído em 1982; os materiais que dele se conhecem
resultaram de recolhas à superfície e em corte estratigráfico, o qual indicava
apenas uma única ocupação arqueológica, confirmada pela coerência
tipológica dos materiais exumados. A par de recipientes de dimensões médias
a grandes, destinados ao armazenamento, ocorrem recipientes de menores
dimensões, de evidente filiação no Bronze Pleno do Sudoeste, representados,
entre outros, por taças de tipo Santa Vitória e vasos ("garrafas") de colo
apertado, com decoração de nervuras verticais no bojo. O paralelo mais
próximo, na falta de outros, corresponde ao povoado aberto do Pessegueiro,
Sines, adjacente à necrópole do Bronze do Sudoeste do mesmo nome, apesar
deste se implantar em espaço plano, e não no topo de plataforma, como o
Catujal. Uma data de radiocarbono, efectuada em ossos humanos dali
provenientes, deu o resultado, a dois sigma de 1679-1442 a. C., com
intersecção na curva de calibração, em 1526 a. C. Comparado com este, o
resultado obtido no Catujal, em ossos de animais domésticos, com recurso à
mesma curva de calibração (Stuiver & Reimer, 1993), é mais antigo:
2028-1752 a. C., com intersecção em 1892 a. C. (Cardoso, 1994). Este
resultado indica cronologia recuada para o Bronze Pleno regional, por certo
correspondente a época em que as cerâmicas campaniformes já não faziam
parte dos espólios da região, como se pode concluir pelas características do
espólio cerâmico de Catujal. Com efeito, as cerâmicas campaniformes teriam
deixado de ser fabricadas na Estremadura cerca de 2300 a. C. (Cardoso &
Soares, 1990/1992). Outra conclusão a reter é a da maior antiguidade das
taças de tipo Santa Vitória, até agora utilizadas como "fóssil director" para a
fase mais tardia daquela Cultura, o Bronze II do Sudoeste.
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da Lapa do Fumo, Sesimbra (Carreira, 1997, p. 140), têm evidentes
semelhanças com exemplares do Bronze do Sudoeste. Tais afinidades
meridionais e mediterrâneas, constituem expressão de uma realidade cultural
que, até à publicação do povoado do Catujal, não tinha sido devidamente
valorizada.
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1991, Fig. 3), que pertencem os dois exemplares de Atouguia da Baleia,
Peniche e o exemplar de Bonabal, Torres Vedras, este último associado a
uma cadeia de oito espirais de ouro; em ambos os casos, trata-se de achados
fortuitos, produzidos, como é frequente, em locais incaracterísticos, no
decurso da lavra de campos agrícolas (Cardoso, 2004, p. 173).
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já completamente desprovidas de lingueta. Não existem, pois, dúvidas quanto
ao aumento de importância da panóplia bélica no Bronze Pleno da
Estremadura, correspondente em parte à evolução de tipos anteriores, e, em
parte, à introdução de novos tipos (é o caso, já referido, da alabarda de Baútas).
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Monteiro-Ruiz & Rovira Llorenz, 1995). Para tal terá também concorrido
uma pujante e diversificada metalurgia do cobre nesta última região,
propiciada pela abundância de cobre, nativo ou sob a forma de carbonatos
cupíferos.
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natureza intencional da ocultação, ficando porém por saber se com carácter
ritual ou não.
Tal como no Sul, as informações disponíveis respeitam mais às necrópoles,
ocorrendo, de forma frequente, as reutilizações de grandes monumentos
megalíticos. Noutros casos, construiram-se sepulcros não megalíticos, os
quais, tal como os povoados, são muito discretos na paisagem.
É neste contexto de evidente afirmação social, directamente herdado dos
últimos tempos calcolíticos, que se explica a distribuição das grandes folhas
nervuradas de alabarda do "tipo Carrapatas", peças de afinidades irlandesas,
que, à semelhança do verificado na Estremadura e sul do país, são ainda
feitas de cobre arsenical: testemunham particularmente o crescente prestígio
e importância da classe guerreira. Em Portugal, tais peças concentram-se na
região transmontana (onze exemplares), a que se junta o exemplar de Baútas
(Amadora), já referido. O conjunto mais numeroso, constituído por quatro
exemplares, encontrou-se acidentalmente ao lavrar um terreno, na serra de
Bornes, Vale Benfeito, Bragança (Bártholo, 1959). Estes exemplares integram
um tipo de características muito homogéneas, cuja base ostenta dois arcos
Fig. 254 côncavos de contorno desigual, separadas por uma parte convexa ocupando
a parte central, ao longo da qual se situam três orifícios destinados à fixação
por rebitagem. Outros dois exemplares, muito bem conservados, provêm de
Carrapatas, Macedo de Cavaleiros, sem indicações de pormenor; e ainda
dois outros da base do morro onde se situa o castro do Cemitério dos Mouros,
Mirandela, correspondente a uma possível ocultação (Jorge, 1995, p. 31).
Enfim, ao abrir a Estrada Nacional que liga Vila Real a Vila Flor, mais dois
exemplares foram recolhidos, escondidos na fenda de uma rocha que foi
necessário desmontar. Esta realidade confere a estas peças, ao menos quando
as condições de achado são conhecidas, as características de ocultações
intencionais, à semelhança dos machados anteriormente estudados. Tal como
o primeiro exemplar a ser recolhido, proveniente do Alto das Pereiras, Vimioso
(Delgado, 1889), sempre que se efectuaram análises é o cobre arsenical que
corresponde à matéria-prima utilizada, repetindo-se o que já na Estremadura
se tinha observado: a introdução de novos tipos, neste caso, alabardas, de
nítida inspiração irlandesa, por certo de fabrico local, dada a evidente
homogeneidade e concentração dos achados no Nordeste Transmontano, não
foi acompanhada pela tecnologia do bronze, entendida como liga binária
com cerca de 10% de estanho e 90% de cobre. Tal como na Estremadura,
continuou-se a fabricação de novos artefactos com as tecnologias herdadas
do Calcolítico. Deste modo, pode conceber-se um primeiro momento do
Bronze Pleno onde era ainda a metalurgia calcolítica a utilizada.
Aos artefactos referidos, poder-se-iam ainda juntar outros que confirmam tal
afirmação, como as espadas, representadas por exemplar de S. Bartolomeu
do Mar (Esposende), do tipo Ia de M. Almagro-Gorbea: possuindo marcado
estrangulamento da lâmina perto da empunhadura, com fixação ao cabo por
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rebitagem, evidencia afinidades ao tipo bretão de Tréboul – St. Brandan (Jorge,
1988). A este exemplar, poder-se-ia somar outro de tipologia diferente,
proveniente de Castelo Bom (Beira Baixa), estudado por M. Almagro-Gorbea
(Almagro-Gorbea, 1972), situável, tal como o anterior, em meados do
II milénio a. C. mas, ao contrário daquele, denotando influências meridionais,
especialmente da região argárica, no Levante espanhol. Assim sendo, a
Fig. 255
tipologia das raras espadas do Bronze Pleno conhe-cidas em território
português, oriundas do centro do país, ainda de cobre arsenical, evocam
influências a um tempo atlânticas e mediterrâneas, à semelhança do verificado
em outros grupos de artefactos metálicos, já atrás mencionados. Naturalmente,
trata-se de peças de prestígio, as quais, ao con-trário das de uso corrente,
teriam circulação geográfica alargada; assim sendo, peças idênticas poderiam
fazer parte das panóplias de comunidades que, do ponto de vista cultural,
poucas ou nenhumas afinidades teriam entre si.
Na região de Entre Douro e Minho, a metalurgia do bronze – dominada pela
produção de machados planos, do tipo Bujões/Barcelos – ascenderá, tal como
em toda a área setentrional do território português, segundo Ana Bettencourt,
ao segundo quartel do II milénio a. C. Dela foram detectados inequívocos
testemunhos no povoado de Sola IIb, Braga, em nível de ocupação datado
pelo radiocarbono entre os séculos XVII e XVI a. C. (Bettencourt, 2001,
p. 14). Os altos teores de estanho destas primitivas produções bronzíferas,
poderá ser o resultado de um ainda incipiente domínio da nova tecnologia
metalúrgica, sem embargo de diversos machados planos, serem bronzes já
de elevada qualidade.
A cronologia apontada é compatível com elementos de datação absoluta
disponíveis na Galiza, em Navarra e em Alicante. Ao mesmo tempo, ocorrem
jóias em ouro aluvionar. Tais jóias atestam, tal como as armas supracitadas,
evidentes influências atlânticas: é o caso dos braceletes de ouro de Arnozela
(Fafe) ou do bracelete aberto decorado de Corvilho (Santo Tirso).
Às peças auríferas referidas, podem somar-se as lúnulas e discos de Cabeceiras
de Basto (Braga), também de nítida filiação atlântica (são evidentes as suas
afinidades com exemplares irlandeses), para além de diversos braceletes Fig. 256
maciços e lisos, e cadeias de elementos helicoidais, conhecidos tanto no
Norte como na Estremadura e no Sul, que documentam a fácil circulação de
bens de elevado valor intrínseco, que abasteciam as elites do Bronze Pleno e
se prolongaram até ao Bronze Final. O prestígio dos chefes guerreiros,
aparentemente transformados em personagens divinizadas encontra-se
expressivamente documentado pela estela de ongroiva, Meda (Guarda), a
qual se junta às anteriormente referidas. Trata-se de monólito com cerca de Fig. 234
2 m de altura, no qual se representa um chefe guerreiro fortemente armado,
vestido com túnica até aos joelhos; do lado esquerdo, pode observar-se um
arco e uma adaga; do lado direito, ostenta uma alabarda nervurada "tipo
Carrapatas".
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Enquanto o sul testemunha a existência de ligações preferenciais ao
Mediterrâneo e o norte, como seria natural, revela contactos preferenciais
com o mundo atlântico, certas peças de luxo circulavam muito para além
destes vastos espaços culturais e geográficos. Esta realidade só poderá
explicar-se num contexto em que as populações, embora crescentemente
fixadas em territórios bem delimitados, mantinham múltiplas trocas
comerciais entre si, de vasto âmbito transregional, através de corredores
principais de circulação, determinados por acidentes geomorfológicos naturais
de primeira grandeza.
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Assim, no decurso do II milénio a. C., verifica-se, nas regiões do centro e do
norte do actual território português, grande extensão dos prados graminóides,
por efeito da actividade da pastorícia, assinalando-se, pela primeira vez, o
pinheiro, próprio de ambientes mediterrâneos (pinheiro bravo/pinheiro manso).
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habitados: estava-se já longe de tal opção como expressão da coesão social e
do sucesso do grupo, mas ainda distante da sua adopção, como expressão
formal de legitimização do poder das elites, que, no decurso deste período,
teriam encontrado outras formas de exteriorização do seu prestígio
(indumentária, jóias) para além daquelas, definitivamente inacessíveis ao
nosso conhecimento, mas que, por certo, acompanharam a sua própria
existência.
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18. O Bronze Final
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O Bronze Final corresponde ao último período da Pré-História do território
português. O intervalo cronológico situável entre o princípio do século XIII
(ou mesmo o anterior) e os finais do século IX/inícios do século VIII a. C. é
um dos mais ricos da pré-história portuguesa: com o aumento da informação
arqueológica, foi possível levar a pormenorização da reconstituição histórica
a um nível até então desconhecido, nas suas duas mais importantes vertentes:
a económica e a social, a que se soma a cultural (incluindo, naturalmente, a
componente religiosa funerária). Acresce o facto de, no Bronze Final, ser já
possível o aproveitamento das fontes escritas disponíveis para o conhecimento
da realidade da época, especialmente no concernente à Paletnologia dos povos
antigos que ocuparam o território hoje português. Deste modo, o Bronze
Final pode ser visto como uma fase de transição, da Pré-História para a Proto-
-História, sobretudo ao nível da análise das fontes escritas, confrontando-as
com a realidade arqueológica conhecida. Em tal domínio, avultam os trabalhos
de Jorge de Alarcão. Nesta obra, o Bronze Final será abordado sob uma
perspectiva estritamente arqueológica e apresentado de forma mais sucinta
daquela que o volume de informação disponível possibilitaria, não só pela
razão apresentada, mas também para respeitar o critério adoptado nos
capítulos anteriores, não o sobrecarregando de tal forma, que o resultado da
obra resultasse pouco harmonioso.
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18.1 Centro interior e norte
Tais povoados possuíam cabanas ovais ou circulares (São Julião e Vila Verde),
cuja origem é ainda pouco clara (provavelmente meridional), onde se
desenvolveriam actividades muito diversas, com destaque para a metalurgia;
as datações existentes para alguns deles, com dispositivos de defesa já
envolvendo muralhas de alvenaria (Côto da Pena, Caminha) ou fossos e
taludes (S. Julião, Vila Verde) indicam os finais do II milénio a. C./inícios do
milénio seguinte, sendo, deste modo, contemporâneos do povoado aberto da
Bouça do Frade (Baião). A existência de contas de colar de pasta vítrea,
encontradas em estrutura de combustão, situada no recinto muralhado de
plataforma superior do povoado de São Julião, Vila Verde mostra, tal como
adiante se verá para povoados homólogos da Beira Interior, a existência de
objectos exóticos, considerados de luxo, de origem mediterrânea.
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do Ferro, em zonas mais baixas, mais directamente relacionadas com os
terrenos aluvionares dos fundos dos vales, de alta aptidão agrícola. Esta
situação revela a existência, já nos finais da Idade do Bronze, de uma
hierarquização do povoamento. Assim, os povoados de altura, deteriam um
importante papel como pólos estruturantes da ocupação humana à escala
regional, tanto do ponto de vista económico e social, como ainda na
simbologia do poder, corporizada pelas elites neles sedeadas, talvez já
estruturadas em linhagens hereditárias. Ali se efectuariam cerimónias
religiosas, que hoje totalmente nos escapam, como parecem sugerir as
manifestações de arte rupestre neles existentes: é o caso dos povoados de
Falperra (Braga), Roriz (Barcelos), S. Lourenço (Esposende) e S. Julião (Vila
Verde), entre outros. Ao mesmo tempo, nos povoados de implantação mais
baixa, praticar-se-ia uma agricultura intensiva – é neles que se têm detectado
os silos de armazenamento, escavados no saibro – conforme é comprovado
pela existência de numerosas dessas estruturas identificadas na Bouça do
Frade, Baião, utilizadas como silos, o que denuncia, outrossim, assinalável
tendência para a sedentarização, mesmo no seio destes povoados secundários.
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Ainda que seja aliciante e, mesmo, lógica, a possibilidade de a cultura castreja
remontar ao Bronze Final, para S. Oliveira Jorge é discutível que, de facto, o
povoamento de altura que se vislumbra no Bronze Final esteja na origem da
cultura castreja do Noroeste peninsular, ao contrário da opinião expressa,
em notável estudo de caracterização por Armando Coelho. Segundo a autora,
não só tal estratégia se encontra documentada, especialmente no Bronze
Final II, em outras regiões, como a Estremadura e o Alentejo, retirando-lhe
identidade própria, como, na própria área geográfica do Noroeste, nem sempre
os sítios continuaram ocupados na Idade do Ferro, ou foram-no noutros
sectores dos correspondentes aos assentamentos do Bronze Final, como é o
caso dos povoados de S. Julião e de Barbudo (Vila Verde). Outros sítios que
aparentemente continuaram a ser habitados em continuidade (Coto da Pena,
Caminha) podem ter sofrido transformações habitacionais, no decurso dos
séculos VII/VI a. C., ainda difíceis de avaliar, dada a ausência de monografias
detalhadas ao nível de cada povoado.
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A autora não deixa de assinalar outras estruturas semelhantes, como as
presentes no povoado de Santinha, Amares (Bettencourt, 2001) do Final do
Bronze Final/transição para a Idade do Ferro, no qual as estruturas de
armazenamento mais modernas eram de maiores dimensões, sugerindo um
processo de intensificação produtiva, coincidindo com o aparecimento da
cevada e da ervilha.
No Monte do Frade, a possibilidade de ter sido apenas uma pequena elite a Fig. 260
ocupar o seu topo, já atrás apresentada, é ainda sugerida pela ocorrência de
uma faca de ferro, anterior à generalização do uso deste metal no ocidente
peninsular. À época, o ferro constituía certamente uma matéria de elevado
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custo, conferindo prestígio e estatuto aos seus possuidores. Facas curvas de
ferro foram recolhidas no Sul da Beira Interior, no povoado da Moreirinha
(Idanha-a-Nova), também datado entre os séculos XII/XI e IX a. C.; o povoado
do Monte do Trigo, da mesma região, forneceu também peças sidéricas,
correspondendo, igualmente, a introduções exógenas e, repita-se, mais a itens
sócio simbólicos do que a peças de uso comum. Ao contrário das peças
aludidas, nada há, no restante espólio, que não indique produções locais,
incluindo as peças de bronze, o que não significa ausência de trocas comerciais
transregionais: a presença de cerâmicas de ornatos brunidos do tipo "Lapa
do Fumo/Alpiarça", de Sabugal aos estuários do Tejo e do Sado, revela,
justamente, a existência da rota de escoamento do estanho, aproveitando o
rio Tejo. Por outro lado, as cerâmicas pintadas a vermelho com motivos
geométricos do tipo "Carambolo" dos povoados da Moreirinha e da Cachouça,
embora excepcionais, revelam influências andaluzas, mas pela via continental.
Enfim, as cerâmicas, igualmente muito raras, do "tipo Baiões", presentes
nos povoados de Alegrios e de Cachouça, indicam conotações com o mundo
do Bronze Final da Beira Alta. Por último, tal como o observado no Minho,
também na Beira Baixa se encontraram cerâmicas do "tipo Cogotas", em
Moreirinha e Monte do Frade, o que mostra a existência de relações com a
Meseta, estendidas a toda a parte Norte e Centro do território português, no
decurso do Bronze Final. A realidade descrita, faz da Beira Baixa uma região
nodal do ocidente peninsular, no decurso do Bronze Final, mercê das relações
mantidas pelos seus habitantes com os que ocupavam as vastas áreas adja-
centes, do litoral à meseta, e do interior norte ao Mediterrâneo, configurando
redes de troca de longa amplitude.
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Com efeito, o Bronze Final é caracterizado, pelo aumento notável do número
e variedade das produções metalúrgicas, cuja tipologia fornece pistas não só
para a reconstituição da sucessão das produções, mas também para o
conhecimento das grandes vias de comércio transregional. É neste contexto
que tem cabimento a expressão de "Bronze Atlântico", realidade de expressão
cultural que não deve ser confundida com o conceito de "Bronze Final", de
natureza essencialmente cronológica. Porém a sobreposição de ambos é
quase uma inevitabilidade, visto o primeiro corresponder ao apogeu do Fig. 271
comércio e circulação de objectos metálicos, o qual se verificou, precisamente,
no Bronze Final. Deste modo, é usual admitir-se uma fase inicial, entre os
séculos XIII e X a. C., no decurso da qual se afirmam as produções de carácter
atlântico, mescladas com outras de índole marcadamente regional, como os
machados de talão e duplo anel, característicos das regiões estaníferas do
NW peninsular. As raras espadas do tipo pistiliforme e uma sua variante,
considerada mais tardia, dita "em língua de carpa", caracterizada por um
estrangulamento da folha próximo da empunha-dura, ambas conhecidas em
território português, documentam a integração deste (afinal, uma estreita faixa Fig. 272
entre o Oceano e a vasta área mesetenha) numa complexa rede de intercâmbios
entre elites, embora se conheçam produções de cunho mais regional, como
os punhais de lingueta rebitada do tipo "Porto de Mós". Duas daquelas espadas
de tipo "língua de carpa" provêm da Beira Interior (Teixoso, Covilhã; e Vilar
Maior, Sabugal) embora, como é habitual, se desconheçam as condições
precisas do achado: a segunda foi encontrada juntamente com escórias de
fundição (Rodrigues, 1961). Recentemente, publicou-se exemplar incompleto
proveniente do povoado da Tapada das Argolas, Fundão (Vilaça et al., 2002/
2003).
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Oriente, região que é considerada, pela generalidade dos autores, como a
originária de tais produções: tal como nos casos de artefactos anteriormente
referidos, à origem oriental, seguir-se-ia uma rápida adopção pelas sociedades
do Bronze Final atlântico, expressa pelas múltiplas produções locais, aliás
atestadas pela presença de moldes de fundição destinados ao seu fabrico,
incluindo o território peninsular (mas não o espaço português, onde até hoje
não se reconheceu nenhum exemplar). Os espetos articulados de bronze
constituem outro item claramente atlântico. Com efeito, na região da Bretanha/
Ilhas Britânicas reportaram-se 8 exemplares, contra apenas dois na área
mediterrânea: um no depósito do Monte Sa Idda, Sardenha, outro na sepultura
523 da necrópole de Amathonte, Chipre (in Ruivo, 1993, p. 109). Neste
contexto, o território português afirma-se como uma região intermédia, de
assinalável riqueza, pois aqui se registaram dez exemplares, provenientes do
Centro (interior e litoral) e do Minho, contra apenas dois espanhóis, um da
região de Badajoz, outro de El Berrueco, Salamanca. A difusão destes
produtos manufacturados, de evidente valor simbólico explica-se através de
um processo de solidariedades fortemente interactivas, estabelecidas entre
grupos autónomos, que não possuíam entre si quaisquer laços formais, a não
ser aqueles que resultavam da partilha dos mesmos princípios no exercício
do poder e dos objectos a ele associados: nesse sentido, será lícito admitir
um fundo cultural comum, das Ilhas Britânicas ao Mediterrâneo, a que se
pode aplicar a designação de "Bronze Atlântico", conceito que fica, deste
modo, definido.
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machados unifaciais foi datado entre 1270-1060 a. C., de acordo com a datação
do respectivo contexto, do castro de S. Romão, Seia (Senna-Martinez, 2002).
Poderão situar-se na evolução directa dos machados de tipo "Reguengo
Grande", desprovidos de anéis – outra produção de cunho marcadamente
setentrional e atlântico. A distribuição geográfica, no território português,
dos machados de talão e duplo anel concentra-se no Centro interior, sobretudo
ao Norte do Douro. As elevadas percentagens de chumbo que alguns destes
machados ostentam, correspondendo a ligas ternárias de cobre/estanho/
chumbo, como os achados contextualizados de Penices II (Famalicão), são
atribuídas a produções de cunho atlântico muito tardias, na transição para a
Idade do Ferro, aliás com paralelos em muitos outros do Alto Minho, cujos teores
de chumbo (Pb) se situam entre 18,7% e 46,7% (Bettencourt, 2001).
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face plana, no castro da Senhora da Guia, Baiões, associado a um importante
conjunto de peças metálicas (Silva, 1986, Est. 84), entre as quais um belo conjunto
de machados de dois anéis, indício de que ambas as produções de machados
coexistiram. Aliás, já em 1940 era noticiado o achado de um molde bivalve, de
bronze, para fundição de machados de dois anéis, perto de Castro Daire junto de
um penedo (Teixeira, 1940). No interior centro são, da mesma forma, conhecidas
importantes ocultações de machados, a par de outros objectos metálicos. É o caso
do conjunto constituído por mais de 40 peças de bronze, entre completas e
fragmentadas, encontrado na encosta da serra da Guardunha, na Quinta do Ervedal,
Castelo Novo (Villas-Boas, 1947). Os machados partidos e inteiros, são todos de
talão e de uma argola, bivalves, mas o que situa este conjunto entre os mais
importantes no seu género, é a existência de 24 lingotes inteiros e partidos em
forma de menisco, de bronze, idênticos aos encontrados no conjunto de Veatodos,
já antes referidos. Não parece existir dúvida, pelo peso de metal em causa
representado pelos lingotes – cerca de 13 kg – constituindo o maior conjunto de
toda a Península Ibérica do Bronze Final (Gómez Ramos, 1999, p. 102), que este
depósito esteja relacionado com a refundição, para a produção de peças metálicas
em grandes quantidade. Esta realidade tem ainda mais nítida expressão nos cerca
de 200 machados identificados em Vilar de Mouros (Pinto, 1933).
Pode-se, pois, concluir, que estes depósitos (ou reservas) de metal, incor-
porando peças não usadas, e outras, já partidas, destinadas a refundição,
estariam em geral relacionados com pequenos centros produtores de cunho
local, e para uso das respectivas populações funcionando nos povoados mais
importantes, como sugere a sua frequente associação ou proximidade a tais
núcleos populacionais, de entre os mais importantes reconhecidos
regionalmente; a circulação seria mais de ideias e de modelos do que dos
próprios protótipos embora a presença destes tenha sido, naturalmente,
essencial, para a sua ulterior reprodução local. Este panorama estende-se aos
povoados do Sul da Beira Interior (Vilaça, 1995). Tal realidade encontra-se
evidenciada tanto pelos artefactos metálicos de utilização funcional (foices,
machados) como simbólica ou ritual (espetos, espadas, capacetes, escudos,
caldeirões, etc.).
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Destes, os utensílios, as armas, o caldeirão, o espeto articulado e as jóias de
ouro, possuem carácter atlântico, enquanto o conjunto de taças, e os carros
votivos, denotam tradição mediterrânica. São múltiplos os indícios da prática
local de metalurgia, encontrando-se documentado, pela ocorrência dos
respectivos moldes, o fabrico de pontas de lança de alvado e de machados
planos de talão, com um anel, a que se somam os vestígios da fundição de
foices de alvado, do tipo britânico, das pulseiras, e das argolas.
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simples acumulações de sucata, destinada a fundição. É o que sugere a
ocorrência, a par de artefactos partidos ou defeituosos, de lingotes em bruto.
Nestes casos, é mais natural perfilhar-se a hipótese de reservas de matéria-
prima que deveria ser ocultada, dado o estado de instabilidade social vigente
na época, sugerido pela assinalável panóplia guerreira da época. O paradigma
deste tipo de ocorrências é o conjunto metálico recolhido no Castro da Senhora
da Guia (Baiões, S. Pedro do Sul), já referido, como bem sublinhou J. C. de
Senna-Martinez.
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Sem cair no exagero de remeter tudo quanto não tem uma explicação imediata
e lógica para a esfera do simbólico, a verdade é que existem algumas
ocultações de peças de bronze, que facilmente se poderiam considerar dentro
dessa esfera. É o caso do achado de Solveira, Montalegre, tanto pelas
condições do achado, como pela composição do conjunto, constituído por
quatro peças: um machado de talão e dois anéis, duas pontas de lança e um
gancho para carne: trata-se de associação heterogénea, sem elementos fora
de uso ou inutilizados. Segundo a notícia publicada (Costa, 1963, p. 12), o
conjunto "foi encontrado sob um socalco de terra, à profundidade aproxi-
madamente de 1,30m, a uns 6m de distância e na margem direita de um
regato (…). Do lugar do achado ao regato havia um rego subterrâneo, coberto
de lages líticas, com o comprimento de uns 6m". A construção foi então
interpretada como correspondendo a uma mina obstruída, aproveitada para a
ocultação do achado; contudo, não parece crível a interpretação de uma mina
conduzindo a uma linha de água. É, pois, muito provável estar-se perante
uma construção ritual, permitindo uma relação directa entre o conjunto
metálico e a água do regato; a ligação com a água é, como veremos, um
denominador comum a muitos depósitos rituais do Bronze Final, ainda que
escassos no território português.
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2000); neste último sítio, o correspondente contexto foi datado entre
1270-1030 a. C., confirmando a maior antiguidade deste modelo face às
fíbulas de dupla mola (Senna-Martinez, 2002). Acerca destas últimas,
igualmente de origem mediterrânica, merece destaque o achado de uma fíbula
de dupla mola, por ser das raras conhecidas a Norte do Maciço Central, no
Outeiro dos Castelos de Beijós (Carregal do Sal), associada a lareira datada
de 814-777 a. C., confirmando a sua maior modernidade face ao tipo anterior,
como se referiu. Aliás, a presença de fíbulas mediterrânicas no centro-interior
peninsular era conhecida de há muito, pelo achado de uma fíbula com
enrolamento no arco, no Cerro del Berrueco, Salamanca (Schüle, 1969, Abb.
10), sugerindo a sua difusão pela meseta, à semelhança das jóia auríferas de
grande dispersão geográfica, como os braceletes do tipo Villena/Estremoz,
adiante referidos. Ao nível estritamente arqueológico, verifica-se, pelos
exemplos referidos, que aos materiais de origem atlântica que têm sido
encontrados no Mediterrâneo Central com destaque para o notável conjunto
metálico do depósito do Monte Sa Idda (Sardenha), já referido, se contrapõe
um testemunho incontornável da influência de sinal contrário, expressa por
adereços pessoais como os supra referidos, ou artefactos de cariz simbólico
ou religioso.
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de Sobreiral (Castelo Branco) que evidencia os cuidados dispensados aos
adereços do vestuário, somando-se, na mesma região, as contas de âmbar do
povoado da Moreirinha, Idanha-a-Nova e de pasta vítrea nos povoados de
Alegrios, Monte do Trigo e Cachouça (Vilaça, 2000). A presença de âmbar
foi igualmente verificada no castro de Senhora da Guia, Baiões: tanto as
quatro contas dali analisadas, como as três da Moreirinha mostraram
claramente provir da região do mar Báltico (Vilaça, Beck & Stout, 2002);
deste modo, são mais um elemento a ilustrar a ligação comercial do centro Fig. 269
interior do País às rotas atlânticas, no decurso do Bronze Final. O achado de
uma conta de âmbar no povoado do Bronze Final da Quinta do Percevejo
(Almada) pode indicar que era através dos grandes estuários, como o Tejo
ou o Mondego, que a penetração desses produtos exóticos e caros se fazia,
para o interior do território.
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cotovelo supra-referidas teriam tal origem, com protótipos conhecidos nos
séculos XI/X a. C. da fase Va do povoado de Meggido, e peças como os
ganchos para carne, características de banquetes rituais orientais, atingiram
a Irlanda, numa expressiva afirmação da profundidade, rapidez e extensão
da difusão dos rituais e das liturgias adoptadas pelas elites nas respectivas
regiões, por mais distantes que estivessem do seu fulcro original.
É ainda o caso dos carros com rodas (de que se recolheram restos de vários
exemplares) do castro da Senhora da Guia, Baiões (S. Pedro do Sul),
considerados "votivos", mas que, na realidade, corresponderão a queimadores
de essências. Trata-se de peças de origem claramente oriental, conforme se
evidencia pela respectiva distribuição geográfica: apenas se encontram
Fig. 275 registadas três outras ocorrências, uma em Itália, as restantes em Chipre.
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coesão sociais inter-grupos, por outro lado, não podem deixar de reflectir
uma sociedade competitiva e potencialmente violenta; as jóias seriam, pois
"o suporte e um dos recursos a que as elites recorreram para se afirmar,
legitimarem e sobreviverem" (Vilaça, 2000, p. 35).
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18.1.2 Necrópoles e rituais
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Mais recentemente, foi publicada outra necrópole do mesmo tipo (Santos &
Aveleira, 2001); trata-se da necrópole do Caramelo, Tondela, constituída por vários
tumuli baixos, do Bronze Final, dos quais dois possuem no interior pequenas cistas
sub-quadrangulares. O facto de os restantes não possuírem estruturas internas, não
inviabiliza, por si só, finalidade funerária, reforçando, tal como os exemplos
anteriores, o assinalável polimorfismo de tais manifestações.
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que fazia parte integrante do tumulus de Monte Calvo 1, compatível com numerosos
exemplos da arte rupestre do norte do País, também da Idade do Bronze; esta
ocorrência vem, deste modo, juntar-se à lage insculturada com motivo reticulado
servindo de tampa a uma das fossas da necrópole de tumuli de Casinha Derribada,
Viseu (Cruz, Gomes & Carvalho, 1998).
Fig. 284 Esta realidade que, articulada com os campos de urnas de Alpiarça adiante
referidos, permite, como bem notou D. Cruz, admitir uma progressão conti-
nental até ao ocidente peninsular, dos "Campos de Urnas" catalães dos finais
da Idade do Bronze. Tal possibilidade transparece, na mesma época, nas
fossas funerárias de cremação individual do Noroeste (Minho e Galiza),
Fig. 285 contendo vasos de forma peculiar, de largo bordo horizontal. Um dos
contextos habitacionais em que tais recipientes ocorreram em abundância,
associados, na última fase, a cerâmicas do "tipo Baiões" foi o da Bouça do
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Frade (Baiões), onde foram datados pelo radiocarbono entre o século XVIII
e finais do século IX a. C.; no povoado de Sola, Braga (Bettencourt, 2000),
tais vasos remontam à época mais recuada da Bouça do Frade, visto situarem-
se, também pelo radiocarbono, no segundo quartel do II milénio a. C.
(Bettencourt, 1997).
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anterior, desde o final do Calcolítico/inícios da Idade do Bronze (inumação
em sepulturas ou em cistas planas), outra introduzida no decurso da Idade do
Bronze (cremação em pequenas cistas, ou em fossas abertas no saibro).
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contradiz o mito da ausência de sepulturas do Bronze Pleno e do Bronze
Final, aliás flagrantemente desmentido pela importância das descobertas
acima referidas. Não se esqueça que as explorações de José Coelho, na
necrópole do Paranho, Viseu (Coelho, 1925), demonstravam, de há muito,
exactamente o contrário.
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Até o presente, o sítio melhor conhecido é o povoado da Tapada da Ajuda, Lisboa.
Implantava-se em encosta de declive suave, entre 100 e 115 m de altitude, voltado
a Sul, para o estuário do Tejo, que se descortina do local, e na imediação de linha
de água, que nele desaguava. A comunidade ali sedeada, habitando casas de
embasamento de alvenaria irregular, constituída, por blocos basálticos, de planta
elipsoidal – com antecedentes locais, representados pelas cabanas campaniformes
de Leceia – dedicava-se à criação de animais domésticos (ovinos, bovinos e suinos),
à recolecção intensa de moluscos e à pesca, no estuário adjacente, excepcionalmente
à caça do veado (Cardoso et al., 1986; Cardoso, 1995). Porém, a actividade
económica mais importante era a produção cerealífera, expressivamente
documentada pelas centenas de elementos denticulados de foices, sobre lascas de
sílex, destinadas a serem montadas em cabos de madeira, também abundantes
noutros povoados da região como o do Alto das Cabeças, Leião, Oeiras (Cardoso
& Cardoso, 1996).
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e distinta no seio da comunidade, ocupando o Monte do Frade (Penamacor),
entre os séculos XII/XI e IX a. C., foi recentemente admitida, na sequência
da reinterpretação do sítio.
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Andaluzia, de há muito conhecido, este último com sobrevivência na Idade do
Ferro (Gamito, 1990/1992; Correia, 1998). Com uma ou outra destas regiões terá
havido contactos, como sugere pequena taça carenada com decoração interior, da
Quinta do Marcelo, Almada (Barros, 1998, p. 31), já que, nos dois referidos grupos,
são frequentes as decorações no interior dos recipinetes, ao contrário do verificado
na Estremadura.
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escassos, visto apenas existirem referências a dois, referidos pelos três autores
que, sucessivamente apresentaram inventários relativos a tais peças: Monteagudo,
1977; Kalb, 1980 b; e Coffyn, 1985: trata-se das peças do povoado de altura de
Cabeço de Moinhos, Mafra e de Monte Sereno, Sintra, pequena gruta existente na
encosta de um povoado coevo (Pereira, 1957).
Estendendo a análise da distribuição espacial dos machados de alvado e dois anéis
a um âmbito geográfico mais vasto, ter-se-á de referir, entre outros, o exemplar de
Reguengo do Fetal, Batalha, que ilustra a progressão deste tipo de produção pela
Beira Litoral. No conjunto, encontram-se inventariados cerca de 50 exemplares na
fachada atlântica peninsular, (Ruivo, 1993) concentrados especialmente entre o
Sado e o Mondego.
A hipótese de uma maior modernidade deste tipo face aos machados de talão,
defendida por Coffyn (1985, pag. 193) não foi partilhada, no concernente ao
território português por P. Kalb, argumentando que a distribuição geográfica é
distinta (argumento apenas válido para os machados de talão bifaciais de um ou
dois anéis, não para os de face plana), bem como por ser muito diferente o peso
dos dois tipos de machados, o que configuraria utilizações distintas. A estes dois
argumentos, pode juntar-se um terceiro, que é o de ocorrerem em conjuntos fechados,
por vezes os dois tipos de artefactos: é o caso do depósito de Coles de Samuel, Soure
(Pereira, 1971).
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Fernandes, 1995; Cardoso, 1997). Assim sendo, os elementos detentores do
poder na região, actuariam como intermediários no comércio e circulação de
tais bens, arrecadando as mais-valias correspondentes.
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a outra do tipo de aletas convexas alargadas na base, com pelo menos um paralelo
português, em Portelas, Lagos (Cardoso, Guerra & Gil, 1992).
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sido feito a partir de um bracelete do tipo Villena/Estremoz (Armbruster, 1995).
Ambos os tipos são considerados de tipologia atlântica, mais marcada no caso dos
colares do tipo Sagrajas/Berzocana, enquanto as quatro campânulas fixadas por
rebitagem ao aro central, são comparáveis aos terminais dos braceletes de Torre
Vã (Ourique), cuja filiação mediterrânea é evidente (Armbruster & Parreira, 1993).
Deste modo, o colar de Sintra é a síntese de elementos de tecnologia e tipologia
muito diferentes, e também de tradições culturais distintas, exprimindo, mais do
que qualquer outra peça, a realidade vigente na região, nos últimos momentos da
Idade do Bronze.
Fig. 268
Uma das provas mais sugestivas dos contactos entre o mundo norte-atlântico e a
região centro do País é representada pelas contas de âmbar. Uma destas raras peças,
já anteriormente referida, provém da bolsa 2, datada do século IX a. C. do sítio da
Quinta do Marcelo (Barros, 2000, fig. 55), embora não seja certa tal origem, podendo
provir igualmente do Mediterrâneo Oriental. Com efeito, a sua tipologia é algo
distinta das duas contas recolhidas no povoado de Moreirinha, Idanha-a-Nova,
cuja análise química confirmou origem báltica (Beck & Vilaça, 1995). As restantes
três ocorrências de âmbar em contextos do Bronze Final, correspondem igualmente
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a contas e são todas de carácter habitacional; no castro da Senhora da Guia, Baiões,
encontrou-se ainda um bloco de âmbar, que sugere transformação em contas in
loco, mais ao gosto local, o que explicaria a heterogeneidade tipológica de tais
peças.
Seja como for, o elevado peso do colar de Sintra, a par do seu reduzido
diâmetro interno (apenas 14 cm) tornaria difícil a utilização efectiva
desta jóia (Ruiz-Gálvez Priego, 1995 a): também Leite de Vasconcelos tinha
afastado, pela mesma razão, a aludida utilização ao pescoço (Vasconcelos,
1896). Nestes termos, a sua conotação com dote feminino, num quadro de
armazenamento social da riqueza, não é incompatível com o carácter funerário
atribuído ao achado. Mariza Ruiz chamou ainda a atenção para a frequência
de achados de jóias auríferas desprovidas de contextos, achadas isoladas, em
zonas de portela ou de passagem. A ser assim, o achado do Casal de Santo
Amaro, na periferia da serra de Sintra, quadra-se bem nesta concepção,
situando-se "na penumbra" produzida pela própria imponência da massa
rochosa, que adquiriu, desde a Pré-História, pela sua posição geográfica,
verdadeiro marco do "fim do Mundo", o estatuto de montanha sagrada, o
"Monte da Lua", como já anteriormente se referiu. Com efeito, é significativa
a densidade dos achados do Bronze Final, com sobrevivências evidentes no
período romano: veja-se o caso do santuário marítimo do Alto da Vigia, perto
da Praia das Maçãs, dedicado ao Sol e à Lua, estudado por Francisco d'Ollanda
(Ribeiro, 1982/1983, p. 166, nota 9).
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ou imitação peninsular (Lo Schiavo, 1991, Fig. 7) podem constituir elemento
comparativo merecedor de reflexão, a par do já referido culto das águas poder
passar pela utilização de grutas com circulação de água como necrópoles (Coffyn
& Sion, 1993); porém, nenhuma das cavidades referidas evidencia tal realidade e
outras, onde aquela é evidente, não conservam testemunhos comparáveis. Ainda
reportável a tal tipo de depósitos é uma pequena garrafa, apenas com 6,6 cm de
altura e com decoração canelada, oriunda de uma das grutas do Poço Velho, Cascais
(Spindler et al., 1973/1974). O paralelo mais próximo são as pequenas garrafas
áureas do tesouro de Villena, Alicante, situável no início do Bronze Final, ca.
1575-1400 a. C. (Mederos Martin, 1999). O exemplar português poderia interpretar-se
como uma imitação em barro de tais peças, à semelhança de exemplares coevos do
Cerro de La Encina, Granada, do grupo Cogotas I, assinalados pelo referido autor
e, deste modo, inscrever-se como mais um testemunho das relações então
estabelecidas entre a Baixa Estremadura e outras áreas meridionais peninsulares.
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para interpretar uma realidade muito mais complexa do que aquela que as
ténues evidências materiais deixam supor – o certo é que peças como o colar
do Casal de Santo Amaro mostram o sucesso das elites do fim do Bronze
Final, associadas ao culminar do estabelecimento de uma vasta rede de
intercâmbios, baseadas na complementaridade de interesses, suportadas por
pactos de solidariedade entre as elites. Sendo certo que, nesta época, a
importância mineira da Península se baseava na presença do cobre, a Sul, e
do estanho e ouro, a Norte, as alianças firmadas pelas respectivas elites
regionais terão por certo desempenhado papel de primordial importância na
optimização da exploração de tais recursos, e no acréscimo das produções
com o consequente escoamento dos minérios, sob a forma de lingotes, ou
dos respectivos produtos manufacturados. Tais bens permitiram, em troca,
obter produtos "de luxo", bem como certas matérias-primas, como o âmbar
e o ferro, tão expressivamente representado pelas três faquinhas da Quinta
do Marcelo, já anteriormente referidas, datadas do século IX a. C., que se
somam a exemplares da região beirâ, já aludidos.
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passagem para a câmara por amontoado de blocos. Todos estes elementos
foram observados em tholoi da área micénica, embora a sepultura da Roça
do Casal do Meio seja cerca de 200 a 300 anos mais recente que os mais
modernos daqueles sepulcros (Mylonas, 1957). Na câmara, efectuaram-se
duas deposições de adultos e do sexo masculino, um entre 20 e 40 anos,
outro entre 40 e 50 anos, (Vilaça & Cunha, 2005), em decúbito dorsal (sep. 1),
e em decúbito lateral retraído, sobre pequena banqueta argilosa encostada à
parede da câmara (sep. 2). Ritualmente, depositaram-se aos pés das duas
tumulações – sem dúvida efectuadas em simultâneo, ou separadas de curto
intervalo de tempo – restos de quatro ovino-caprinos juvenis; a análise dos
segmentos anatómicos conservados mostra que correspondiam a nacos ricos
de carne. Oferendas do mesmo tipo, talvez relacionadas com o banquete
funerário, encontram-se igualmente em tholoi micénicas, tal como o uso de
depositar os corpos em banquetas, como a observada (Mylonas, 1948),
costumes que se não verificam nas tholoi calcolíticas da região.
O alto estatuto social das duas personagens ali tumuladas encontra-se sublinhado
pelo espólio acompanhante: à primeira sepultura, pertencia um pente de marfim,
uma pinça depilatória e um anel de bronze; à segunda, reporta-se outra pinça, de
maiores dimensões, um "agrafe" de cinturão e uma fíbula. Dois recipientes – um
vaso de colo alto com ornatos brunidos no bojo e uma taça carenada – ambas
produções típicas do Bronze Final – completavam o conjunto, sendo o únicos
exemlares de produção claramente local ou regional. Com efeito, a requintada
indumentária usada pelos dois personagens, é indicada pelo agrafe de cinturão, tal
como a fíbula, objectos até então desconhecidos na região, que pressupõem a
utilização de tecidos finos, atendendo à sua fragilidade e pequeno tamanho; por
outro lado, o cuidado com a própria apresentação é ilustrada pelo pente – um dos
escassos marfins anteriores às importações fenícias,a par dos braceletes de Peña
Negra I, Alicante (González-Prats, 1990) – e pelas pinças depilatórias. Estas últimas,
são muito mais que um simples objecto de cosmética, podendo associar-se ao
tratamento da barba, como símbolo de idade e hierarquia (Ruiz-Gálvez Priego,
1995c, p. 139).
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tratar de peça sem equivalente na região. Recentemente, (Vilaça & Cunha,
2005), promoveram datação pelo radiocarbono, que confirmou tal cronologia,
ao indicar que as tumulações teriam ocorrido entre os meados do século XI
e os finais do século IX a. C.
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Bronze Final. As limpezas efectuadas, muito depois, na superfície dos
recipientes, por G. Marques, revelaram que muitos deles possuíam decorações
de "ornatos brunidos". Tal situação seria suficiente para situar as duas
necrópoles no Bronze Final, a que se somam os vestígios recuperados no
vizinho Cabeço da Bruxa, também atribuíveis a outra necrópole, muito
destruída. Os seus escavadores, P. Kalb e M. Höck, admitiram uma cronologia
adentro do Bronze Final, muito embora refiram a hipótese de as duas
necrópoles exploradas por Mendes Corrêa serem já da Idade do Ferro.
Compreende-se, deste modo, o alto interesse que teria a datação pelo
radiocarbono dos fragmentos ósseos recuperados em Meijão, a qual se
efectivou recentemente (Vilaça, Cruz & Gonçalves, 1999), confirmando a
atribuição da necrópole ao Bronze Final II, datando-a entre meados do século
XI e inícios do século IX a. C. Esta cronologia é compatível com o faseamento
proposto para os campos de urnas da Catalunha: a 1.a fase dos campos de
urnas antigos situar-se-ia, naquela região, entre 1100 e 1000 a. C., para
Almagro-Gorbea (1977) e Ruiz Zapatero (1985), cronologia a que os dados
do radiocarbono vieram conferir maior precisão: assim, os campos de urnas
mais antigos distribuem-se entre cerca de 1400 e 1100 a. C., envelhecendo
assim o faseamento anteriormente proposto (Castro Martínez, Lull & Micó,
1996, Gráf. IV.2.1).
Esta realidade vem, pois, mostrar que o afastamento das diferentes tumulações
não poderia ser grande, confirmando a existência de verdadeiros "campo de
urnas", tal como haviam sido considerados por Mendes Corrêa (Corrêa,
1935).
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Em Portugal, por evidentes dificuldades inerentes às próprias condições dos
achados, não se tem valorizado o cunho ritual de muitos depósitos metálicos
do Bronze Final. Todavia, um rápido levantamento levaria a relacionar a
maioria das jóias auríferas atribuíveis ao Bronze Final, aparecidas
simplesmente na terra, muitas vezes no decurso de trabalhos agrícolas, como
panóplias femininas, ali depositadas ritualmente, como defendeu M. R.
Gálvez-Priego; ao contrário, os raros achados de armas, nas águas ou
depositadas nas fendas das rochas, são interpretáveis como cultos funerários
masculinos. Se os primeiros são relativamente abundantes (ver inventário
em Armbruster & Parreira, 1993), já dos segundos, o único exemplo em
Portugal é a espada do tipo "língua de carpa" dragada em Cacilhas, que poderá
ter outras leituras, para além das estritamente funerárias. Numa época de
crise climática, com acentuada progressão da aridez, que terá correspondido
a quase toda a Idade do Bronze, acentuar-se-iam as práticas religiosas com
valorização das divindades aquáticas, a quem seriam ofertadas tais peças.
Com efeito, inventários realizados na área atlântica, evidenciaram um aumento
de tais achados ao longo de toda a Idade do Bronze. A exacerbação desta
prática teria também conduzido, como já se referiu, ao culto das águas
subterrâneas ou das cavidades, transformando em santuários numerosas grutas
naturais, o que explicaria, como já anteriormente se referiu, o achado frequente
de materiais da Idade do Bronze em tais locais (com natural incidência na
região onde abundam, a Estremadura), sem que em geral se possam associar
a sepulturas. A espada dragada em Cacilhas poderá, enfim, corresponder a
uma peça perdida, ou a um naufrágio: o que só evidencia as dificuldades de
estabelecer, neste como em outros casos, nexos de causa-efeito.
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nos povoados da Idade do Ferro do norte do actual território português. Deste
modo, a presente ocorrência tem o interesse de fazer recuar ao Bronze Final
tal técnica defensiva, como é indicado pelo espólio arqueológico recolhido
(Soares, 1986, 2003). Alguns dos povoados de altura alentejanos, vastos e
com monumentais dispositivos defensivos já da Idade do Ferro, configuram
a presença de milhares de habitantes no fim do Bronze Final, tornando
incontornável a existência de uma sociedade estratificada, na qual uma
determinada elite detinha o poder (Alarcão, 1996). Tal realidade só nesta
fase avançada do Bronze Final se afirma, na sequência da longa evolução
desde pelo menos ofinal do Calcolítico. Um dos mais expressivos exemplos
dos grandes povoados alentejanos do Bronze Final é o da Coroa do Frade,
Évora. Trata-se de um vasto povoado de altura, correspondendo, como o
próprio topónimo indica, à ocupação do alto de um cabeço, envolvida por
uma linha muralhada. Segundo J. M. Arnaud, o dispositivo defensivo
principal, cuja planta tem a forma piriforme, desenvolve-se segundo um eixo
maior com cerca de 200m, possuindo o eixo menor cerca de 100m,
encontrando-se a entrada principal reforçada por um bastião (Arnaud, 1995).
Não existem dúvidas quanto à integração desta grande mas singela fortificação
no Bronze Final, visto corresponder à única ocupação arqueológica
identificada nas escavações realizadas.
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No entanto, a recolecção litoral continuou a ser actividade importante, assumindo
provavelmente um carácter mais vincadamente sazonal do que anteriormente,
documentada pelos sítios abertos de Cerradinha, junto à lagoa de Santo André
(Santiago do Cacém) e de Pontes de Marchil, sobre a ria de Faro, entre outros.
Verifica-se, pois, a existência de um polimorfismo no tocante às características
dos sítios habitados, envolvendo povoados de diferentes dimensões e com distintas
características de implantação geográfica, desde as praias litorais, passando por
territórios abertos, a colinas e mesmo a elevações, defendidas naturalmente ou
ainda com recurso a dispositivos construídos para o efeito, rincluindo muralhas,
aterros ou fossos.
Datam deste curto período de transição para a Idade do Ferro diversas jóias
auríferas, expressivamente representadas pelo conjunto do Álamo (Moura),
o qual revelam em parte, tecnologia orientalizante, patenteada em particular
no colar, que é oco, embora com decoração do tipo Sagrajas/Berzocana, de Fig. 277
filiação atlântica, enquanto outro colar, laminiforme, evoca o mundo conti-
nental de filiação hallstática: uma vez mais, é o sul, mediterrâneo, a
cruzar-se, no interior do actual território português, com o mundo europeu e
Fig. 278
continental. De qualquer modo, teríamos produções destinadas às elites, talvez
obra de artífices forâneos, que adaptaram aos seus gostos as jóias fabricadas
por novos métodos. Outro exemplo dessa forte presença orientalizante são
as duas magníficas pulseiras de Torre Vã, Ourique, da transição do Bronze
Final para a Idade do Ferro (século VIII a. C.), com granulado produzido
por pequenas esferas soldadas ao longo do corpo de cada uma das peças, que
é oco (Armbruster & Parreira, 1993). Importa referir o célebre bracelete
de Estremoz, com cerca de 1Kg, hoje no Museu Arqueológico Nacional
de Madrid, que suportou a criação do grupo de Villena/Estremoz. É
caracterizado pela utilização da técnica de fundição em molde de cera perdida
e o recurso à rotação ao torno, conferindo contorno perfeitamente circular a
tais peças, correspondendo a braceletes e a anéis, como o recolhido em
Trindade, Beja. A origem destas produções, que ascendem a cerca de 60
exemplares, mostra uma distribuição generalizada pelo território peninsular,
como peças que, de facto, circulavam, como presentes, para assinalarem
pactos entre comunidades ou, simplesmente, no âmbito da acumulação social
da riqueza, pelas elites, como já anteriormente se referiu. No entanto, a
presença assinalável de ocorrências deste grupo de jóias no Alentejo, poderá
justificar a hipótese de um centro de produção regional (Armbruster, 1993;
Perea, 1994); com efeito, podem referir-se, para além das mencionadas, outras
ocorrências (Lopes & Vilaça, 1998), entretanto assinaladas a propósito do
estudo de uma peça notável, de bronze, recolhida em pequeno cabeço, perto
da confluência da ribeira de Terges com a ribeira de Cobres, Beja. Trata-se
de um exemplar de uso não conhecido, com forma arqueada, decorada por
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entrançado em espinha, longitudinal, acompanhando dupla espiral; o melhor
exemplar análogo, quase completo, provém do depósito do Monte Sa Idda,
Cagliari (Sardenha), tanto pela forma como pela decoração peculiar. É-se,
assim, levado, por via desta ocorrência para o mundo mediterrâneo, de onde
esta peça pode ter sido directamente importada. Comparações com produções
ainda mais orientais de Chipre à costa sírio-palestina seriam certamente
possíveis. Em Portugal, assinalam-se paralelos no fragmento do Castro de
Pragança, Cadaval, no exemplar proveniente do Monte de S. Martinho,
Castelo Branco (Vilaça, 2004) e, sobretudo nos queimadores de essências
do depósito do Castro da Senhora da Guia, Baiões, já atrás referidos. Todos
estes exemplares, conquanto possam ter sido verdadeiramente importados –
dada a sua raridade e especificidades – nada obsta a que tenham sido
produzidos localmente, hipótese que parece menos provável.
Recente revisão desta questão (Cardoso, 2004 c), conduziu à conclusão que
foram diversos os sepulcros megalíticos reutilizados no Bronze Final, tanto
como sepulturas de inumação como de incineração. No primeiro caso, o
exemplo mais nítido é o da tholos do Cerro do Malharito, Alcoutim: o interior
da câmara do monumento calcolítico foi completamente esvaziado para, sobre
o chão primitivo, se inumar pelo menos um indivíduo, acompanhado de
objectos de adorno e de recipientes cerâmicos típicos do Bronze Final ou
mesmo da transição para a Idade do Ferro. No segundo caso, avulta a
descoberta, no interior da câmara de tholos do Barranco da Nora Velha,
Ourique, de quatro recipientes, duas urnas e duas taças, com ornatos brunidos.
Abel Viana, que escavou este monumento, relacionou as taças como sendo a
cobertura das urnas, que assim teriam funcionado como contentores
cinerários. Próximo, encontraram-se os restos de um caldeirão de bronze,
também situável naquela época. Estaríamos, assim, em presença da
reutilização deste megálito no Bronze Final, através da deposição de duas
urnas cinerárias. É provável que as contas de âmbar e de ouro ali também
recolhidas se reportem a tal reutilização que teria, nas necrópoles de
incineração de Alpiarça, atrás mencionadas, o seu melhor paralelo.
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abarca, também, vasto território interior a norte do Tejo. Com efeito, a sua
área de dispersão em território português estende-se desde o barlavento
algarvio ao centro interior beirão, correspondente ao prolongamento ocidental
da área de maior concentração, a Estremadura espanhola e Andaluzia
Ocidental. No conjunto, são conhecidas cerca de 80 estelas, na sua esmagadora
maioria na Extremadura espanhola – por isso chamadas "extremeñas" – cujo
significado, tradicionalmente considerado de cunho funerário com base em
analogias com as estelas mais antigas, como a de Alfarrobeira (São
Bartolomeu de Messines), que marcava efectivamente um sepulcro – não
Fig. 240
obriga forçosamente que estejam invariavelmente relacionadas com tal tipo
de ocorrências (aliás quase desconhecidas na área correspondente à sua
dispersão: com efeito, trata-se, na maioria dos casos, e à semelhança com o
verificado nas suas congéneres mais antigas, de monumentos descon-
textualizados, impedindo maiores certezas.
Da família das estelas ditas "extremeñas", não fazem parte três monólitos, embora
com elas possuam estreitas afinidades: trata-se do conjunto proveniente do Monte
de São Martinho, Castelo Branco; a estela I, será adiante referida mais em pormenor;
a estela II exibe a forma fálica – como a estátua-menir de Chaves, já mencionada
– estreitamente conotada com o personagem masculino nela representado, atirando
com arco e flecha na direcção de um veado o qual, por sua vez, é perseguido por
um cão. Trata-se, evidentemente, de cena simbólica, recordando a cena homóloga,
mas alguns milhares de anos mais antiga, pintada no dólmen dos Juncais, Sátão,
anteriormente referida. O alto estatuto do indivíduo assim heroicizado é indicado
pelos atributos que o rodeiam: uma fíbula de cotovelo, um cão, um espelho e,
talvez uma espada embainhada, de um lado e o carcaz, do outro lado; enfim, a
estela III, incompleta, tem semelhanças com a primeira. O destaque dado a este
conjunto estelar advém também do facto de ser o único directamente relacionado Fig. 241
comimportante povoado coevo (Vilaça, 2000); assim sendo, estar-se-ia perante
santuário, com o qual a população do povoado diariamente convivia, onde se
encontrariam representados personagens heroicizados nos quais todos se reviam,
constituindo assim importante elemento para a coesão social da comunidade ali
sedeada.
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integrando uma aristocracia guerreira em nítida fase de consolidação. Nesta
perspectiva, a uma fase mais recuada, onde aparecem apenas representações
de armas (escudos com chanfradura em V, espadas em língua de carpa, lanças
de alvado), suceder-se-ia uma fase intermédia, já com a representação humana
e a esta, a fase final, inserível no século IX a. C., onde o defunto, ou chefe
guerreiro heroicizado, nos surge cercado de todos os atributos do seu poder
(jóias, armas, carros de combate, cães, etc.), e, nalguns casos, com os seus
servos ou inimigos, vencidos aos pés, de que é paradigma a estela de Ervidel
II (Beja).
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Fig. 242
em contrapartida, inspirou J. de Alarcão para uma nova leitura da estela I do
Monte de São Martinho (Castelo Branco), onde as duas figuras de guerreiros,
ambas com capacetes de cornos liriformes, se encontrariam sob a protecção
de uma divindade, talvez Oipaingia, adorada nas proximidades, cujos braços,
pendentes sobre as cabeças dos guerreiros, sugerem tal atitude.
Assim sendo, sem pretender traçar uma conotação das estelas estremenhas
com os Lusitani – visto a distribuição daquelas excederem em muito os limites
geográficos atribuíveis a estes – a verdade é que elas também ocorrem
particularmente dentro de tais limites; tendo presente, por outro lado, que a
sua cronologia se sobrepõe à presença deste conjunto de populi, que o autor
admite terem chegado no fim do Bronze Final aos vastos espaços abertos da
Extremadura espanhola a com extensão pela actual Beira Interior, por via de
uma invasão pré-céltica de origem indo-europeia, fácil é concluir que estes
também adoptaram tais monumentos, seja com carácter sepulcral, seja como
marcadores de fronteiras, funções que, aliás, não são incompatíveis.
Seja como for, a realidade das estelas "extremeñas" é, de facto, acompanhada Fig. 273
pelo registo material, com o acréscimo de armas, no Bronze Final II; as
lanças de alvado, actualmente conhecidas no Sul, e a respectiva análise
tipológica foram objecto de inventário (Cardoso, Guerra & Bragança, 1992),
a propósito da descoberta, em pequena lapa sobre o Guadiana, próximo da
barragem de Alqueva de um pequeno depósito, provavelmente de índole ritual;
das espadas, merecem destaque os dois exemplares de folha pistiliforme de
Safara, Moura (MacWhite, 1951), bem como os dois exemplares de tipo
"língua de carpa", de Évora, um dos quais partido por dobragem intencional
(Jorge, coord., 1995). Recorde-se que este facto tem evidente carga simbólica, Fig. 270
sendo conotável com o desaparecimento físico do seu possuidor: morto este,
a espada, atributo individual por excelência do chefe guerreiro, teria também
de sofrer fim idêntico. A representação do escudo com chanfradura em "V",
de origem oriental, ocupando o centro das composições estelares, a que se
juntam outros elementos da simbólica das elites (o pente, o espelho, a fíbula
de cotovelo, o carro), configuram influências mediterrâneas orientais notórias.
Contudo, apesar de serem nítidas tais influências nos objectos representados,
a que se poderão acrescentar os capacetes de cornos, representados na Estela I
de São Martinho, Castelo Branco, a concepção mais arcaica destas estelas
pode encontrar-se na própria região, sendo corporizada pela estela de Fig. 242
Longroiva, já atrás mencionada, pertencente aos primórdios do Bronze Pleno.
Verifica-se, desta forma, uma realidade sempre presente, no decurso da
Pré-História: a absorção de novos estímulos culturais efectuou-se em
harmonia com realidades há muito conhecidas, disso resultando uma situação
nova, sem rupturas com a realidade antecedente.
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Bronze Pleno, pelo menos na Estremadura. É o caso da gruta de Ibne-Amar,
junto ao estuário do Arade (Concelho de Lagoa), onde se recolheram diversos
exemplares cerâmicos do Bronze Final, entre os quais alguns decorados com
ornatos brunidos (Gomes, Cardoso & Alves, 1995), bem como a gruta da
Ladroeira Grande, Olhão, dada recentemente a conhecer, de onde provém
um conjunto de cerâmicas lisas (Gomes & Calado, 2007).
É no âmbito de tudo o que foi dito que o termo "Bronze Atlântico" ganha
substância. Trata-se de realidade arqueológica baseada, como anteriormente
se disse, na produção de peças de bronze e sua comercialização transregional
– sobretudo seriam os modelos, mais do que as peças que viajariam, sendo
rapidamente reproduzidos localmente – decorrentes das relações comerciais
estabelecidas na fachada atlântica da Europa Ocidental, desde o Bronze Pleno,
Fig. 288 com progressiva intensificação até ao Bronze Final II, nos séculos XI/X a
VIII a. C., altura em que se estenderam mais claramente ao Mediterrâneo.
Tais actividades, baseadas no mútuo interesse comercial, veicularam
realidades culturais específicas, que, deste modo, se difundiram a outras
regiões, onde foram adoptadas pelas elites que nelas governavam. Originou-
se assim uma nova realidade transcultural, de expressão supra-regional, e de
base económica, onde se mesclavam tradições religiosas distintas, umas de
raiz atlântica, outras originárias do oriente mediterrâneo.
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tância económica dos dois grandes rios peninsulares que aqui confluem com
o Oceano, assegurando, o escoamento do ouro e do estanho, oriundos do
interior centro e norte, e do cobre, oriundo sobretudo do Alentejo. A franca
exposição atlântica do seu litoral e o abrigo proporcionado à navegação
oceânica pelos dois estuários respectivos, explica, enfim, a sua relevância
nas rotas comerciais marítimas.
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encontrava nas mãos de elites, permeáveis à adopção de costumes e de práticas
rituais exógenas, susceptíveis de promoverem ainda mais a sua segregação
do todo social.
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1.a edição
Lisboa, 2007
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303 ISBN: 978-972-674-664-5