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Pré-História

Apontamentos de: Alda Oliveira Delicado


E-mail: alda.delicado@sonae.com
Data: 30/10/06

Livro:

Nota:

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PRÉ-HISTÓRIA

1 – INTRODUÇÃO

Definição de Pré-História:
- a História antes da invenção da escrita
- em Portugal desenvolve-se desde os primeiros habitantes do território até à Idade do
Cobre (Calcolítico) e Idade do Bronze
- dividida em 3 Idades (Pedra, Bronze e Ferro) com a divisão da Idade da Pedra em
Paleolítico e Neolítico
- primeiro e mais longo período da História Humana
- disciplina científica
- conjunto de saberes e utilizações sociais que decorrem do seu estudo

Estudos de pré-história em Portugal


- séculos XV e XVI: Diogo Gomes, Zurara, Gaspar Frutuoso e André de Resende
- séculos XVII e XVIII: Academia Real de História Portuguesa e Academia Real de
Ciências de Lisboa (regulamentação e inventariação) – Frei Manuel do Cenáculo Vilas
Boas
- século XIX – a pré-história começa a ser objecto de estudo a partir da segunda
metade do século – Comissão de Trabalhos Geológicos (Pereira da Costa, Paula e
Oliveira, Nery Delgado e Carlos Ribeiro – pai da arqueologia pré-história portuguesa);
outros arqueólogos como Martins Sarmento, Estácio da Veiga, Santos Rocha, Leite de
Vasconcelos e Augusto Filipe Simões

Arqueologia
- Procura de fontes
- Prospecção de campo (cartas topográficas e corográficas)
- Prospecção arqueológica
- Escavação arqueológica (contextos evidentes (perceptíveis de imediato na
escavação), contextos latentes (detectáveis a posteriori), contextos discretos
(observáveis mesmo depois da escavação e contextos fugazes (destruídos no acto da
escavação).

Métodos de datação absoluta:


- Arqueomagnetismo – de 1000BP a 100BP
- Dendocronologia – de 1000BP a 100BP
- Radiocarbono – de 100.000BP a 800 BP
- Potássio-Argon – de 10.000.000BP a 1.000.000BP
- Termoluminiscência – de 200.000BP a 100BP
- Séries de Urânio – de 10.000.000BP a 100BP
- Hidratos da Obsidiana – de 80.000BP a 100BP
- Amino-Ácidos – de 1.000.000BP a 100BP
- Paleomagnetismo – de 10.000.000BP a 10.000BP
- Urânio-Tório – de 10.000.000BP a 200.000BP
- Teores Químicos Ossos – de 10.000.000BP a 10.000BP
- Ultra-sons ossos – 1.000BP a 100BP

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Métodos de datação relativa (sem o recurso a outras fontes permitem apenas
estabelecer ordens de sequências não quantificadas): tipologia, estratigrafia,
comparação corológica.
2 – PALEOLÍTICO
2.1 Aspectos Gerais

Características:
- é no mais antigo e mais longo período da história humana (abarca 2 milhões de anos)
- evolução do homo habilis para o Homo Sapiens Sapiens
- período dos caçadores recolectores, das economias depredadoras da Natureza
(anteriores à prática da produção de alimentos)
- densidade populacional demasiado baixa que não suporta conceitos de “grupo
étnico”
- Plistocénico ou Período Glaciário

Divisão em 4 períodos:
- Paleolítico Arcaico – limitado ao continente africano – das origens do homem até ao
aparecimento dos primeiros bifaces (há 1,5 milhões de anos)
- Paleolítico Inferior – subdividido em 3 períodos:
· Antigo – correspondente à saída dos primeiros hominídeos de África
até ao aparecimento dos primeiros bifaces na Europa (há 700 mil anos)
· Médio – fases iniciais das indústrias com bifaces na Europa (até há
cerca de 300 mil anos)
· Recente – até há cerca de 100 mil anos quando surge o Acheulense -
instrumentos sobre lascas e pré-determinação de formas ao nível do
núcleo
- Paleolítico Médio – subdividido em 2 períodos:
· Antigo – lascas são principais instrumentos e bifaces se
encontram em número reduzido ou inexistente
· Recente – entre 100 e 300 mil anos atrás correspondente ao
conceito de Paleolítico Médio
- Paleolítico Superior – subdividido em 3 períodos:
· Inicial – entre 35 e 22 mil anos
· Pleno – entre 22 e 17 mil anos (extensão máxima da última glaciação)
· Final – entre 17 e 10 mil anos (quando terminou a Idade Glaciária)

Diferença entre Plistocénico e Holocénico:


- Plistocénico – surgiu a maior parte das famílias e géneros de animais e plantas hoje
existentes mas com importantes variações
- Holocénico – período em que tanto as coberturas vegetais como as populações
animais são geralmente idênticas às de hoje

Grandes glaciações (com períodos intermédios):


- Würm - de 10 mil a 85 mil anos (Paleolítico Superior e Médio e finais do Inferior)
- Riss – de de 120 a 350 mil anos (Paleolítico Inferior Recente)
- Mindel – de 500 a 600 mil anos (Paleolítico Inferior Médio)
- Günz – de 700 a 900 mil anos (Paleolítico Inferior Antigo)
- Danúbio – de 1100 a 1500 mil anos (Paleolítico Arcaico)
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- Biber – até 3000 anos (Paleolítico Arcaico)

Características do período glaciário ou interestadial:


- pouca circulação de água em estado líquido
- expansão máxima das calotes geladas
- escavamento do leito dos rios
- desnudamento do território por ausência (deserto) ou rarefacção (estepes) da
cobertura vegetal
- faunas de climas frios (rinoceronte lanudo, antílope de saiga, mamute, rena)
- abandono de áreas ou ocupação apenas sazonal por parte do Homem

Características do período temperado (interglaciário ou interestadial)


- maior circulação de água em estado líquido
- subida dos níveis dos mares dando origem à formação de praias em alturas mais
elevadas
- desenvolvimento do coberto vegetal
- faunas de climas temperados (veado, bisonte, auroque, javali, hipopótamo, elefante)
- ocupação humana regular de regiões em latitudes mais setentrionais

2.2 Paleolítico Inferior

Evolução Humana:
- Australopithecus – criaturas hominídeas de tipo proto-humano
- Homo Habilis – primeiros homens, produtores de instrumentos de pedra lascada e
osso e detentor de outras características inovadoras: bipedismo, família nuclear
estável, alimentação omnívora oportunística – surge na África Oriental há cerca de
2,5 milhões de anos
- Homo Erectus – aparece há cerca de 1,5 milhões de anos nas mesmas zonas e inicia
a expansão para Este e para Norte (Norte de África e Europa) e em pouco mais de
meio milhão de anos, todo o Velho Mundo foi povoado pelo Homo Erectus.

Ocupação Humana da Europa:


- há mais de 1 milhão de anos embora nos primeiros milhares de anos todas as
ocupações fossem apenas na Europa Meridional
- clima tropical em paisagens abertas e dentro de um quadro de grande previsibilidade
de recursos ao longo do ano (mais um recolector do que um caçador) – ambiente em
África
- na Europa era necessário ter um domínio intelectualmente mais elaborado do espaço
tirando partido dos alimentos disponíveis em cada época do ano
- vias de penetração do Homem na Europa: Próximo Oriente, istmos siciliano-tunisino
e hispano-marroquino
- entre 500 e 300 mil anos assistiu-se a uma primeira explosão demográfica na Europa
- só a partir de 300 mil anos é que se pode dizer que a Europa conheceu uma ocupação
humana e continuada

Ocupação humana em Portugal:


- primeira ocupação situava-se exclusivamente nas partes meridional e litoral
- mais tarde procedeu-se à ocupação das terras do interior preferencialmente seguindo
os vales dos grandes rios (Douro, Tejo, Guadiana, Ebro e Jiloca)

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- localização de sítios arqueológicos na costa do Algarve Ocidental até à Estremadura

Os complexos industriais do Acheulense caracterizam-se por:


- utensilagens mais padronizadas
- utensílios grandes e cortantes: bifaces, triedros, machados e raspadores
- existência de dois estereótipos técnicos:
· Australantropiano (indústria de seixos talhados) – talhe por percussão
directa com percutor duro segundo ângulos perpendiculares ao objecto
percutido com menor controlo das pancadas (formas pouco
standartizadas)
· Arcantropiano (indústria de bifaces) – talhe por percussão directa,
com percutor duro ou elástico, combinando ângulos perpendiculares e
ângulos tangenciais com maior controlo das pancadas (formas mais
standartizadas)
- biface – instrumento de simetria bifacial (dois lados) e bilateral (dois gumes opostos
convergindo para uma ponta), de uso polivalente, para usar na mão
- ocorrência de maior número de restos faunísticos, assim como a prática frequente de
esmigalhamento de ossos – aumenta o aproveitamento humano dos animais
- caça regular de mamíferos de pequeno e médio porte
- maior diversificação de sítios habitados – padrões de territorialidade
- domínio do fogo
- relações sociais mais complexas
- existência de padrões de estética funcional e de práticas de canibalismo apontam
para uma incipiente espiritualidade

Esquema evolutivo do Acheulense – divisão em dois períodos:


Abevilense – bifaces tosocos, pouco simétricos de gumes sinuosos
Micoquense – bifaces mais elegantes, claramente simétricos de gumes finamente
retocados e serrilhados

Diversidade regional do Acheulense – as diferenças regionais são ao nível dos


materiais utilizados, o que pode acontecer não por uma escolha consciente, mas sim
por ser o material disponível na região; assim, a escolha do quartzito nas regiões
meridionais em vez do sílex relaciona-se com essa disponibilidade regional.

Evolução cronológica do Acheulense:


- Acheulense Antigo – idade pré-rissiana; ausência de bifaces de formas evoluídas,
importante presença de triedros, presença de machados de tipo primitivo, predomínio
de núcleos simples, pouco organizados, ausência de talhe levallois
- Acheulense Pleno – de idade rissiana; bifaces e mchados regulares, emprego do
método levallois, embora em níveis pouso expressivos, ocorrência de utensílios
pequenos e de tipos elaborados, uso esporádico do percutor elástico
- Acheulense Final – de idade pós rissiana; bifaces muito evoluídos tipologicamente,
machados de tipos primitivos mas de excelente execução técnica, ausência ou pouco
uso do método levallois, ocorrência abundante de utensílios sobre lasca.

2.3 Paleolítico Médio

Homem de Neandertal:

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- mais encorpado, baixo e musculoso do que o homem actual
- comportamento espiritual evidente no enterramento dos mortos
- surge entre há 100 e 120 mil anos no seguimento da evolução do Homo Erectus

Características do Paleolítico Médio:


- número muito maior de complexos industriais do que nos períodos anteriores
- maior organização espacial regional das actividades económicas
- ocupação permanente de novas áreas geográficas
- adopção de certos locais como bases residenciais
- ocasionalmente a caça de animais seleccionados
- penetração para o interior a baixas altitudes e em relação com as bacias fluviais
- maior utilização de lascas e diminuição ou desaparecimento dos bifaces
(Musteriense)

Novo estereótipo técnico:


· Paleantropiano – talhe por percussão directa, com percutor duro ou
elástico, combinando técnicas de lascamento anteriormente existentes
mas acrescentando-lhes a utilização de um novo modo de fabrico: as
massas iniciais a talhar deixam de ser vistas como instrumentos
potenciais para passar a ser vistas como núcleos a partir dos quais se
obtêm sub-produtos de talhe utilizados depois como extraídos do
núcleo (utensílios a posteriori) ou objectos de retoque secundário que
lhes defina gumes úteis e formas mais standartizadas (utensílio a priori)

Conceito Levallois – concepção de fabrico de instrumentos sobre lascas de tal modo


que as formas das lascas pretendidas se encontra pré-determinada pelas operações de
formatação efectuadas no núcleo; tem vários métodos operativos, modalidades de
gestão de núcleos, cadeias operatórias diferenciadas e por fim técnicas de talhe e de
retoque.

Ocupação de vários territórios em Portugal:


- grutas da Estremadura
- arredores de Lisboa e Rio Maior
- praias quaternárias do litoral da Estremadura
- terraços quaternários da bacia do Tejo
- Algarve meridional

Caracterização das indústrias líticas portuguesas:


- feitas a partir de matérias-primas existentes no local
- índices muito baixos de utensílios a priori (grutas são as que possuem mais
utensílios retocados – mais longe das matérias-primas)
- gumes denticulados predominam sobre os gumes de raspador
- corrente o emprego do método levallois sob a modalidade de gestão de núcleos
centrípeta recorrente.

2.4 Paleolítico Superior

Homo Sapiens Sapiens

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- surge fora do continente europeu, mas penetrou lá há pouco mais de 40 mil anos
- o Homem de Neandertal extinguiu-se mas sem cenários de confrontação com o
Homo Sapiens Sapiens
- processo de expansão de comunidades de caçadores-recolectores por segmentação
- polimorfismo com grande variedade de tipos humanos (Cro-Magnon, Chancelade e
Grimaldi)

Características do Paleolítico Superior:


- Plano Tecnológico – fabrico de instrumentos em osso, de transporte, de vestuário,
de conservação de alimentos, de caça e de pesca
- Plano do Habitat – complexidade sem precedentes nas épocas anteriores
(habitações de dimensões variadas, frequentemente grandes, divisão interior do espaço
habitado; sepulturas de formas muito variadas correspondendo a rituais funerários
diversificados;
- Plano Territorial – multiplicação do número de sítios e aumento da sua extensão;
existência de sistemas de trocas a grande ou muito grande distância; ocupação de
zonas setentrionais
- Plano da Percepção Temporal – sinais de calendarização através do planeamento
antecipado da vida económica e social
- Plano Económico – utilização de uma gama alargada de recursos materiais (osso e
marfim) e energéticos; especialização ao nível da caça
- Plano Social – maior complexidade e consciência de pertença a grupos definidos
que dá origem a culturas e à produção artística

Evolução cronológica:
- Paleolítico Superior Inicial – há cerca de 35 a 40 mil anos até há cerca de 18 mil
anos
- Paleolítico Superior Recente, que se divide em:
· Paleolítico Superior Pleno – último máximo glaciar (18/20 mil anos)
· Paleolítico Superior Final – até há cerca de 10 mil anos

Tecnologia laminar ou leptolítica, que se caracteriza pelo último estereotipo no


trabalho da pedra por lascamento:
· Neoantropiano (indústrias de lâminas) – talhe por percussão ou por
pressão com percutor duro ou elástico, directo ou indirecto;
desenvolvimento da concepção levallois sob a forma do método
prismático

Características da tecnologia laminar:


- produção em série de lâminas muito idênticas que depois serão retocadas dando
origem a utensílios muito variados e especializados
- procura sistemática do sílex reservando as outras rochas para instrumentos que não
pressupõem a técnica laminar

Diferentes complexos industriais do Paleolítico Superior Inicial:


- Castelperronense – adopção pelo Homem de Neandertal de tecnologias e tipos
líticos e em osso integráveis no Paleolítico Superior que surgem associados a
instrumentos mais antigos (35/36 a 32 mil anos); sudoeste e Centro-Oeste francês e
Cantábria espanhola
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- Aurinhacense – correspondente ao Homem Moderno e conhecido em toda a Europa
a baixas latitudes; uso da tecnologia laminar e a produção de instrumentos do tipo
Paleolítico Superior, significativa indústria do osso e alguma produção artística (39/40
a 25/26 mil anos)
- Gravetense – conjunto de complexos muito diversos ao longo de toda a Europa com
a tecnologia laminar de criação de pontas inseridas em cabos, muito provavelmente
surgida devido às necessidades da caça (26/27 a 21 mil anos)

Complexo industrial do Paleolítico Superior Pleno:


- Solutrense – corresponde ao máximo glaciário würmiano (20 a 18 mil anos) –
emprego corrente da técnica de retoque plano e invasor realizada sobre lascas de um
lado ou de ambos (instrumentos foliácios como as folhas de loureiro ou de salgueiro –
pontas de lança)

Em Portugal este complexo tem um elevado número de presenças arqueológicas


nomeadamente na Estremadura, com a frequência sazonal das zonas de montanha para
a caça de caprídeos. O Solutrense caracteriza-se por uma evolução em 3 fases:
· Solutrense Inferior (anterior a 20,5 mil anos) – pontas de face plana e
ausência de peças foliácias bifaciais
· Solutrense Médio (entre 20,5 e 20 mil anos) – introdução e abundância
das pontas bifaciais foliácias
· Solutrense Superior (até há cerca de 18 mil anos) – surgem peças como
a ponta de Parpalló

No Paleolítico Superior Final com o desenvolvimento progressivo das condições


climáticas e sociais assistem-se a dois tipos de tradições tecnológicas:
- Epi-Gravetense . latitudes meridionais em regiões onde as tecnologias foliácias do
período anterior não chegaram
- Madalenense (entre 17 e 10 mil anos) – instrumentos líticos e sobretudo indústrias
de osso muito elaboradas; utilização compósita ou múltipla de um mesmo suporte,
microlitização e geometrização – apogeu das sociedades de caçadores e recolectores
(seguida de tecnologias como o Azilense)

A arte parietal é claramente animalística e foi explicada por motivos ludícos ou


motivos mágicos (renovação das populações faunísticas e propiciatório da realização
de boas caçadas).

Em Portugal identificam-se 3 fases para a arte parietal (Escoural):


- Solutrense – pinturas animalísticas, sobretudo quadrúpedes, de contorno negro ou
vermelho e gravuras com incisão larga e profunda utilizando técnicas de representação
claras, situadas em zonas de fácil acesso e boa visibilidade
- Madalenense – apenas gravuras representando pequenas cabeças de equídeos e de
caprídeos com o interior preenchido por incisões múltiplas muito finas
- Madalenense Final e primeiros tempos do Holocénico – signos geométricos e figuras
abstractas manchadas de traços, escalariformes e reticulados por vezes sobrepostos a
figuras de períodos anteriores e em locais dissimulados

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A arte móvel caracterizava-se por um variado conjunto de peças: objectos simbólicos
(estatuetas femininas com formas deformadas), utensílios de uso comum decorados
(zagaias, arpões) ou simples adornos (conchas ou dentes perfurados, contas de colar).

3. MESOLÍTICO
3.1 Aspectos Gerais

Características do Mesolítico:
Nível Tecnológico – produção massiva de micrólitos geométricos destinados a serem
utilizados como elementos cortantes ou perfurantes, colados ou incrustados em
suportes de madeira ou osso – invenção do arco e flecha, construção de embarcações
Nível Territorial – uma muito maior sazonalidade em territórios de menores
dimensões dos que os do Paleolítico Superior Pleno e Final, localizados
frequentemente em zonas estuarinas ou lagunares
Nível Económico – tipo de subsistência de espectro amplo fazendo recurso de
biomassas muito diversificadas
Nível Sócio-Cultural – complexos culturais entre 500 e 5000 indivíduos com padrões
de ausência de conflitos generalizados com comportamentos rituais e funerários por
vezes muito complexos.

O Mesolítico divide-se em 2 fases:


- Mesolítico Antigo ou Epipaleolítico – tecnologias e modos de vida são ainda as do
período Paleolítico mas em fase pós-glaciária e Holocénica
- Mesolítico Recente – características do Mesolítico com a formação dos concheiros

A evolução climática com o final do Período Galaciário caracterizou-se por:


- modificações geográficas – subida acentuada do nível do mar;
- modificações das coberturas vegetais – desenvolvimento acentuado de florestas de
clima temperado/quente húmido com o povoamento extensivo da Europa e
diversificação acentuada dos ambientes vegetais
- modificações nas populações animais – extinção, redução ou deslocação para outras
latitudes da mega-fauna plistocénica e expansão dos animais mais adaptados aos
climas temperados e dos recursos animais aquáticos

3.2 Mesolítico Inicial ou Epipaleolítico

As principais diferenças entre o Paleolítico Superior Final e o Mesolítico Inicial vão


ser ao nível da sazonalidade, que se torna bem marcada no período mais recente.

Ao nível industrial lítico, surgem duas realidades distintas:


- Indústrias microlaminares – conjuntos líticos nos quais predominam os
instrumentos feitos a partir de lâminas de pequenas dimensões chamadas lamelas;
surgem também micrólitos de formas geométricas embora sem a predominância no
Mesolítico Recente; localizadas na retaguarda de pequenos estuários, com ocupações
curtas e com vestígios alimentares diversificados
- Indústrias macrolaminares – conjuntos líticos onde predominam utensílios feitos
sobre rochas locais de dimensões grandes ou muito grandes de forma aparentemente
sumária, mas com padrões tipológicos muito definidos, como o pico, o disco ou o

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seixo de talhe periférico e remontante ou o machado de dois flancos esmagados;
localizadas ao longo de amplas faixas do litoral e em vários vales fluviais do interior.

3.3 Mesolítico Pleno

Em Portugal as principais jazidas deste período encontram-se nas margens de


importantes cursos de água (vale do Tejo – Muge e Magos) e vale do Sado) ou no
litoral junto a arribas (litoral alentejano).

Características do Mesolítico Pleno:


- economia de caça-recoleccção-armazenamento
- redução da mobilidade do grupo
- prolongamento da vida social em comum
- quantidade maior de trabalho investido no habitat
- organização social mais estável talvez apoiada na família alargada
- localização das sepulturas dentro dos habitats (importância social dos antepassados)
- rituais funerários precisos que envolviam a utilização de ocre e fogo assim como a
deposição de alimentos

A evolução das técnicas líticas variou dentro das principais 3 zonas:


- Vale do Tejo:
· Fase Antiga – fraca frequência de raspadores, furadores, raspadeiras e
buris enquanto os denticulados e os geométricos (trapézios) se
encontram bem representados
· Fase Média – passagem progressiva das formas trapezoidais para as
triangulares
· Fase Final – os geométricos aumentam ainda mais com o
desenvolvimento dos segmentos
- Vale do Sado – os trapézios predominam, os triângulos estão mal representados e os
crescentes são também muito frequentes
- Alentejo Litoral
· Fase Antiga – trapézios predominam sempre, embora ainda seja
frequente a macro-utensilagem
· Fase Recente – macro-utensilagem praticamente desaparece;
geométricos representados por trapézios, ocorrendo truncaturas,
denticulados e buris

Características:
- geométricos dominam os restantes utensílios
- utensílios feitos sobre outros materiais (ossos)
- surgimento das primeiras cerâmicas
- diferenciação funcional dentro de um habitat com as áreas associadas a várias
actividades económicas
- estratégia global de exploração dos recursos de um território: estabelecimentos de
base utilizados durante a maior parte do ano e estabelecimentos sazonais para a
recolecção de recursos marinhos

4 – NEOLÍTICO ANTIGO

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Alterações com a passagem do Mesolítico para o Neolítico deveram-se a dois
factores:
- morfologia costeira altera-se
- pressão antrópica – pastoreio e utilização do fogo para as práticas agrícolas

O surgimento da economia de produção de alimentos foi propiciada por vários


factores:
- a acumulação de excedentes que caracterizou o Mesolítico
- estabilidade das comunidades reduzindo a mobilidade dos grupos e permitindo a
vida em comum mais frequente
- papel social dos antepassados

A assimilação dos elementos neolíticos foi feita de dois modos no território


português:
- na fachada litoral uma adopção relativamente precoce e pouco selectiva dos
elementos neolíticos que não consegue fazer desaparecer o fundo indígena –
economia polimorfa com aspectos de caça, recolecção e cultivo de alimentos
- nos Vales do Tejo e Sado uma adesão selectiva em que só a cerâmica é adoptada

Divisão do Neolítico Antigo em 2 fases:


- Neolítico Cardial, Neolítico IA ou Neolítico Antigo Pleno – caracteriza-se pelas
cerâmicas impressas; talhe das indústrias líticas acentuadamente lamelar com retoque
parcial, irregular, oblíquo e pouco profundo; geométricos constituídos por trapézios e
crescentes; meados e da segunda metade do V milénio aC
- Neolítico Antigo Evolucionado – caracteriza-se pelas cerâmicas impressas-incisas;
na indústria lítica, acentua-se o domínio das lascas sobre as lamelas e os geométricos
são representados essencialmente por crescentes; bem representada em numerosas
grutas e abrigos da Estremadura e em habitats de ar livre do Sul de Portugal; finais do
V milénio aC e primeira metade do IV milénio aC.

Os habitats de ambas as áreas ocupam áreas arenosas, planas e abertas, quer junto das
linhas de costa, quer a poucos quilómetros da costa, nas margens de cursos de água.
No maciço calcário estremenho surgem nos habitats em gruta ou em abrigo sob
rocha.

Durante o Neolítico Antigo assistiu-se a duas estratégias de articuladas:


- exploração de largo espectro enriquecida pela introdução da agricultura e da criação
de gado – estabelecimentos de base;
- exploração de reduzida banda do conjunto dos recursos naturais disponíveis –
concheiros.

Período de transição para o Neolítico Médio (Salema):


- indústria de pedra lascada afastada do fundo tradicional mesolítico
- indústria de pedra polida muito desenvolvida e bem acabada
- estruturas de habitat muito especializadas e elaboradas relacionáveis com as
actividades agrícolas (fornos)
- povoamento mais concentrado

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- primeiras formas de megalitismo - surgem na sequência do desenvolvimento da
economia de produção de alimentos, do reforço das relações de parentesco que
sinalizam uma estrutura social fragmentária em formação.

5 – NEOLÍTICO MÉDIO E FINAL. MEGALITISMO

Neolítico Médio – meados do IV milénio aC


Neolítico Final – primeira metade do III milénio aC – apogeu do megalitismo

Diversidade do fenómeno megalítico com uma clara divisão entre:


- Setentrional – género de vida destas populações mais voltado para o pastoreio e
caça; grande pobreza de espólio funerário e extrema fragilidade das estruturas dos
habitats que praticamente não sobreviveram registos arqueológicos; presença
sigmificativa de cenas de caça e das representações humanas e de animais
- Meridional – assinalam-se vários fáceis: Évora-Reguengos, Melides, Ourique,
Monchique e Estremadura

Uma evolução comum a todas estas zonas foi o aumento progressivo das dimensões
das sepulturas e a abertura ao exterior da câmara funerária.

Complexo Megalítico Meridional


- abrange o Alto e Baixo Alentejo, o Algarve, a Estremadura e o sul das Beiras
- desenvolvimento em 3 estádios:
· Fase Inicial ou protomegalítica – ocupação de curta duração em
habitats localizados em zonas baixas, abertas e arenosas, com
recipientes cerâmicos de formas simples (taças em calote), por vezes
decorados (impressões e incisões); pequenas sepulturas simples de
planta ovalada ou sub-rectangular, fechadas e talvez individuais com
escasso espólio
· Fase Média – habitats de curta duração situados em zonas baixas,
abertas e arenosas com recipientes cerâmicos de formas geralmente
simples (primeiras formas carenadas) e escassamente decorados;
sepulturas colectivas de tipologia diversa segundo os fáceis

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