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Pequenas anotações de um ex-estudante de luteria

“É com o violino (e em outros instrumentos da sua família),


que atinge a apoteose da sua utilização. Diferentes
espécies de madeiras são necessárias para executar as
cerca de oitenta peças que compõem o instrumento. Mas
dentro de cada espécie, só as de origens muito específicas
são adequadas para lhe conferir a qualidade acústica que o
instrumento exige. Outros diferentes materiais também são
utilizados: marfim, aço e crina de cavalo. Falar-se-á disso
tudo, mas é para os autores impossível fazê-lo sem falar
também na sublime arte que esses materiais tornam
possível e nos virtuosos que a concretizam, fabricando ou
utilizando esses instrumentos.”
“Fazer violinos é um ato de amor.” – Antônio Capela

O SEGREDO DA LUTERIA É O CORTE


É muito comum atribuirmos à ferramenta o nome de
raspadeira, quando na verdade o que ela faz de fato é
cortar a madeira. Assim, o ideal seria atribuir-lhe o
termo CORTADEIRA.

“Afiar é o mesmo que dar forma e perfilar arestas


de ferramentas novas e de restaurar o corte ou o
perfil de ferramentas usadas que já estão
desgastadas.”

Vamos falar neste tópico sobre formões e lâminas e


plainas, o importante é que a ferramenta seja capaz
de cortar as fibras da madeira de maneira rápida e
eficaz, aplicando o menor esforço possível. Mesmo
usando o aço sobre a madeira, que é um material
muito mais fraco, as lâminas vão sofrendo um
desgaste e com o tempo perdem o fio. A ponta vai
achatando e perdendo a capacidade de corte, embora
ainda possa cortar, não vai produzir o resultado
desejado, pois acaba rasgando a madeira, não dando
acabamento perfeito que desejamos. Vai ainda
obrigar-nos a um maior esforço, uma vez que não
corta as fibras de uma maneira eficiente.

FERRAMENTAS BÁSICAS E MATERIAIS BÁSICOS

- FORMÃO (ângulo de 30° graus)


- PLAINA (ângulo de 20° graus)
- GUILHERME
- RASPILHA
- ESPÁTULA / GOIVA
- ESPECÍMETRO
- ESMERIL
- MORSAS / TORNOS
- TORMEC
- LIXAS
- PEDRA (para afiar)
- COLAS
- GROSA
- MACACOS / GRAMPOS
- LIMA
- CORTADEIRA (raspadeira)
ALGUMAS MEDIDAS
*Fonte: Medidas Úteis para Fabricantes de Violinos –
Henry A. Strobel
*Fonte: Medidas Úteis para Fabricantes de Violinos –
Henry A. Strobel
FUNDO E TAMPO

*A melhor madeira para o fundo é o ACERO (átiro)


*A melhor madeira do tampo é o ABETO (pinho
sueco) – família das penáceas (100 anos para
produção);

O tampo é dividido em três partes:

- o próprio tampo;
- catena (barra harmônica) ref: linha catenária
- furos FF

O tampo é mais alto que o fundo e são duas partes


de madeiras coladas (bipartido), já o fundo pode ser
inteiro ou separado (bipartido) e SEPARADO É
MELHOR;

BARRA HARMÔNICA

A BARRA HARMÔNICA ou BARRA CATENÁRIA é


uma madeira posicionada na parte interna do
instrumento de forma estratégica de formato singular
e específico.

Suas funções são:

1- Sustentação
2- Transmissão

### Força Gravitacional e Força Longitudinal


O formato curvo é mais resistente que o reto, por isso
o tampo do violão precisa de mais barras harmônicas,
pois o tampo é reto. Já o violino tem apenas uma
barra harmônica, pois seu tampo é abaulado.

O violão possui apenas dois vetores (pestana e


cavalete), o violino possui no mínimo seis.
Certamente, o que faz com que o violino não quebre
são a bombatura, a espessura, a barra harmônica e a
alma.

A barra é colocada inclinada, pois se fosse colocada


de forma reta, ficaria exatamente no mesmo sentido
do veio. Isso poderia facilitar a quebra do tampo. Já
inclinada, ela proporciona um reforço nestes veios.

Cada corda exerce uma força em cima do tampo,


sendo que a soma das quatros cordas equivale a
29kg em Newton (kilo força). Quando se passa o
arco, essa tensão aumenta para 37kg.

Se a barra harmônica fosse reta, o tampo racharia e a


barra, também. Por isso, a forma catenária, pois nas
extremidades, por ter uma espessura menor, a
força/tensão se dissipa.

O violino é como uma obra de construção civil, a alma


seria como uma coluna e é colocada um pouco para
trás do pé do cavalete (aproximadamente a metade
externa do pé do cavalete), e a barra harmônica
funciona como uma viga.
VEIOS

Os VEIOS (riscas) também são chamados ANÉIS DE


CRESCIMENTO e quanto mais rígido a madeira do
tampo, melhor o resultado final (tudo entalhado, nada
prensado);

BLOCOS

Os blocos (ZOCCOLI) são de ABETO, possuem


medidas diferentes para restauro e harmonização;

FAIXAS

Falando das faixas, elas possuem 1mm. Possuem a


contrafaixa ou reforço (área de colagem);

FILETES

O FILETE é uma madeira entalhada (canaleta). São


três fios, ambos de ÉBANO. Trata-se de uma cinta
que serve para CONTER rachaduras;

VOLUTA

A VOLUTA é chamada de Voluta de Arquimedes, e


nos remete a arquitetura jônica. Ela serve,
basicamente, para pendurar o violino. Assim, como as
aberturas acústicas, as volutas de Stradivari são
magníficos trabalhos de marcenaria. Aparentemente,
elas revelam certo conhecimento matemático, pois
lembram os PRINCÍPIOS DO TRAÇADO DE
ESPIRAIS descobertos pelo filósofo grego
Arquimedes.
A Espiral de Arquimedes (também espiral aritmética)
obteve seu nome do matemático grego Arquimedes,
que viveu no Século III antes da Era Comum. Se
define como “o lugar geométrico de um ponto
movendo-se a velocidade constante sobre uma
reta que gira sobre um ponto de origem fixo a
velocidade angular constante.”

CAVALETE

O CAVALETE é um ÁTIRO PONTUADO (acero). Um


bom cavalete tem suas partes bem trabalhadas
(coração, botas, chanfo, etc). Suas medidas variam
de profissional para profissional, mas aprendi que a
LARGURA SUPERIOR é de 1.5 e a LARGURA
INFERIOR é de 4.5

ALTURA: CORDA SOL / CORDA MI


4.5 3.5
Para a corda MI, colocar couro para proteger o
cavalete. São três tipos: (tambourin, gado ou lobo).
PESTANA

Num exemplo onde a PESTANA mede 24mm de


largura, sendo 0,75 da corda MI, e 1mm na corda
SOL.

Como medir a pestana?


Ex: Uma pestana de 16.5 da corda SOL a MI

24 - 16,5 = 7,5
7,5 / 2 = 3,75
Logo, 3,75 de um lado, e 3,75 do outro.

ALMA

A ALMA é um ABETO, seu tamanho é de 50x30mm.


Trata-se de um pilar cilíndrico feito de abeto colocado
atrás do pé direito do cavalete, de 3 a 5mm, servindo
como uma coluna de sustentação e um transmissor
de vibração entre tampo e fundo a espessura da alma
de violino e de 6-2mm a 5.5mm.
Quanto mais densa a madeira da alma, melhores são
as suas funções acústicas.

Como fazer uma alma?

Primeiro, com a madeira, deixar com 6mm (no máx.


6.2) de espessura com a plaina;
Segundo, tirar as pontas do quadrado, depois do
octógano e assim sucessivamente;
Terceiro, passar lixa levemente para acabamento.
1ª função – Sustentação

Forças: A= 29kg / B= 36kg / C= 10.4kg

Equação de mecanismo: (B X A = C)
Logo, B X A=C é o mesmo que 36 x 29 = 10,44
*C= 10,40kg
*Obs.: A força B pode mudar de acordo com o
músico.

Funcionamento:

1) Arco/Corda
2) Corda/Cavalete
3) Cavalete/Tampo
4) Tampo/Alma
5) Alma/Fundo
6) Caixa/Volume de Arco

1) o atrito entre corda e arco gera uma vibração; 2) a


corda faz com que o cavalete vibre; 3) o cavalete
passa para o tampo; 4) a vibração do tampo para a
alma; 5) a alma para o fundo; e 6) do fundo para a
caixa.
*Obs.: o som acontece fora da caixa.
ESTRUTURA

Alguns afirmam que foi Leonardo Da Vinci quem


projetou o violino. Ele teria se baseado na Viola da
Gamba (uma coluna jônica), que era um obelisco.
Euro Pezucci, ao contrário, diz que Tartaglia teria
projetado o violino.
Para se abrir um violino, é comum que se utilize a
técnica italiana. A ferramenta (faca/lâmina) deve
conter 1mm de espessura.

VERNIZ

Conhece-se e se emprega verniz desde os tempos


mais remotos. Existem documentos que comprovam
a utilização de verniz por Assírios, Egípcios, Gregos e
Romanos.
O Renascimento foi muito fértil em conhecimento e
resultados no campo de vernizes e tinturas, em
particular dois nomes se destacam nas pesquisas
sobre o assunto: Leonardo Da Vinci e Leon Battista
Alberti.
Existem basicamente dois tipos de verniz, os do tipo à
álcool, e os do tipo à óleo. Existem também vernizes
que combinam os dois tipos, eles são os vernizes
mistos.
POLIMENTOS:
Polimento Italiano
Serve para “puxar” brilho no verniz.
Polimento francês
Serve para acrescentar mais camadas de verniz
sobre o verniz já existente.
Ao usar a boneca, o verniz começa a empastelar
(como leite coalhado). Para abastecer a boneca co
mais verniz, acrescentar o verniz de dentro para fora,
molhando o algodão e depois revestindo com a
malha.

Para deixar o braço na mesma cor do instrumento,


deve-se identificar qual a primeira cor usada no
instrumento e dar a primeira demão.

Restauro de verniz
- 30 gramas de celofane de breu;
- 150 gramas de goma laca (resina);
- De 50g em 50g de goma laca, colocar 10 gramas de
breu;
- ½ litro de ácool absoluto
- 3 gramas para um litro
- 30 gramas de cânfora chinesa
Para hidratar os pincéis, deixá-los no condicionador
capilar ou Shampoo, por 15 dias.
Limpeza do violino
Polimento “semi-italiano” (com álcool fraco)
*pode-se misturar com água
Saber a base no instrumento: óleo ou álcool
Outra opção é bensina refiticada
*com verniz sintético, pode-se utilizar mais álcool.
Para limpar por dentro, despejar grãos de arroz e
chacoalhar (balançar) o violino.
Depois, lixar com lixa 1200 com água
Por último, polimento francês (óleo de linho + boneca
com verniz).
*Hipocloreto e água oxigenada para limpar a madeira
quando já está escurecida pela ação do tempo.
*Dois pingos de limão na cola animal fazem com que
ela não escureça com o tempo
*Ácido oxálico também serve para limpar madeira
(clarear, na verdade).
Acabamento:
Bombril – Verniz
Verniz também serve para tapa-poro.

Boneca, estopa e pano. Alimentar a parte de dentro.


Youtube: Repair of na old HOPF violin

COLAS
A cola animal teve origem no Egito há mais de 3.300
anos atrás. Por volta de 1690, a cola foi pela primeira
vez fabricada comercialmente na Holanda, e logo
após, na Inglaterra. A padronização do produto foi
feita em 1827, por Peter Cooper.
Para a luteria, utiliza-se a cola coqueiro – derivada do
colágeno animal.
REFERÊNCIAS:
Jean Baptiste Villane
Felix Savart
Atelier Claude Lebet
Peter Lam
Ada Quaranta
Luteria Napolitana (Ventapane, Gagliano, Pistucci)
Conservatório de Tatuí
Universidade Federal do Paraná
Documentário: Os demônios de Da Vinci

BIBLIOGRAFIA:
1) Stringed Instruments – John Whiteley
2) Il Museo della Musica (La Luteria Italiana)
3) Atti Della Giornata di Studi sul restauro liutario
4) Catálogo Mostra/Exhibition Cataloque:Cremona
1730-1750
5) Making – Christopher Reuming
6) Four Centuries of Violin Making
7) Medidas úteis para fabricantes de violinos, Henry.A
Strobel

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