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ORGANOLOGIA E PSICOACÚSTICA
CELESTA
Patrícia Manso - 46842
Introdução
A celesta, cujo nome deriva da palavra francesa “cèleste”, que significa “celestial”, é um idiofone
com teclado que se parece um pouco com um piano. Foi inventada em 1886 por Victor Mustel e
o filho Auguste e o seu tom suave assemelha-se a uma combinação de um glockenspiel com
uma harmónica de vidro. Tornou-se especialmente conhecida a partir da sua utilização em 1892
por Pyotr Ilyich Tchaikovsky na "Dança da Fada do Açúcar" do ballet O Quebra Nozes.
Índice
História 2
Antecedentes 2
Invenção e primeiros avanços 3
Utilização e Repertório 7
Simbolismo e função 7
Repertório 8
Bibliografia 10
Anexos 11
História
Antecedentes
A necessidade de combinar um metalofone com um teclado, de modo a facilitar a execução de
acordes ou de passagens mais rápidas, já havia sido satisfeita pelo glockenspiel de teclado, mas
ao longo do século XVIII foi surgindo a ideia de obter um timbre mais doce e suave, sem no
entanto haver perda de projeção. Neste sentido, foram feitas algumas tentativas:
Aiuton
A primeira destas tentativas terá sido o aiuton, inventado pelo irlandês Charles Claggett em
1788. Este instrumento consistia numa caixa de ressonância de madeira na qual estava
montada uma linha de diapasões que eram friccionados por um cone metálico rotativo. O
instrumento tinha uma extensão de seis oitavas e nunca ultrapassou a fase experimental.
Dulcitone e Tipofone
80 anos depois, por volta de 1860, foram inventados dois instrumentos semelhantes quase
simultaneamente: o dulcitone e o tipofone.
O dulcitone foi desenhado por Thomas Machell em Glasgow e consistia num instrumento de
teclado cujo som era produzido por diapasões que vibravam quando atingidos por martelos
cobertos de feltro, ativados pelo teclado. Era um instrumento leve e compacto mas o volume
produzido era extremamente limitado, impedindo o seu uso em orquestra.
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Esta derivou de aperfeiçoamentos sucessivos no tipofone que eventualmente levaram à
substituição dos diapasões por lâminas de metal, à semelhança de um glockenspiel. A utilização
das lâminas e a adição de ressoadores de madeira calibrados para as suas frequências levaram
a que o volume produzido pelo instrumento
fosse bastante superior ao do seu antecessor,
atingindo assim o último objetivo a que se
aspirava.
O design da celesta foi patenteado por Mustel em 1886 com indicações específicas sobre a
disposição e construção dos mecanismos (ver Anexo II).
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A singularidade deste novo instrumento, está no método de geração de som. Através da
ativação de um teclado semelhante ao de um piano, lâminas de metal que repousam em apoios
de feltro sobre ressoadores de madeira são atingidas por cima por martelos de feltro.
Características e design
A celesta assemelha-se muito a um piano, com uma caixa característica, uma claviatura e um
único pedal. A caixa contém um sistema mecânico de martelos de feltro, lâminas de aço e
ressoadores de madeira.
Estrutura e mecanismo
O celestista toca no teclado, como num piano normal. As teclas ativam os martelos que atingem,
por sua vez, e por cima, as lâminas. O som produzido ressoa nas caixas de madeira acopladas às
lâminas.
Lâminas sonoras
As lâminas metálicas da celesta são muito semelhantes às de um glockenspiel. São geralmente
feitas de aço e aumentam de tamanho quanto mais graves forem as notas. Repousam em
apoios de feltro sobre as caixas de ressonância e têm amortecedores que são elevados quando
a tecla está a ser pressionada. Têm tendência para produzir vários parciais inarmónicos.
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Caixas de ressonância
As caixas de ressonância são ocas e feitas de madeira e estão calibradas para a fundamental das
lâminas metálicas, amplificando-a. Para além disso, suprimem os parciais inarmónicos
produzidos por estas, resultando num som claro e puro.
Inicialmente, a cada caixa estavam associadas duas lâminas, à distância de meio tom, e as caixas
estavam calibradas para a média das duas frequências, de modo a diminuir a dimensão do
instrumento.
As lâminas e ressoadores, que aumentam em tamanho quanto mais grave for o som, estão
dispostas em dois níveis, um sobre o outro, alternando de tom em tom (por exemplo, dó e dó#
em baixo, ré e ré# em cima, etc), de modo a manter um timbre consistente.
Martelos
As lâminas metálicas são atingidas por cima
por martelos cobertos de feltro, que estão
conectados ao teclado. No entanto, ao
contrário do piano, os martelos da celesta
variam em tamanho e peso; as notas mais
graves são produzidas usando martelos
maiores com uma cobertura de feltro mais
espessa, o que resulta num timbre
particularmente quente e rico.
Pedal
Extensão e notação
A celesta começou por ter uma extensão de quatro oitavas (dó 3 - dó 7). No entanto, as notas
mais graves eram pouco ressoantes e o seu som era algo difuso. Por esta razão, a segunda
geração de instrumentos tinha apenas três oitavas (dó 4 - dó 7). À medida que o instrumento se
desenvolveu, nomeadamente quando se passou a utilizar uma caixa de ressonância para cada
lâmina, foi possível tornar o som do registo grave mais claro e sonante, permitindo aumentar a
extensão da celesta até às cinco oitavas e meia (dó 2 - fá 7).
A celesta é um instrumento transpositor, a sua notação é escrita uma oitava abaixo do que
efetivamente soa. É normalmente notada em sistema com duas claves, de sol e de fá.
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Características do som
Embora possua um teclado como o de um piano, não tem tanta sensibilidade ao toque,
limitando assim o seu alcance dinâmico. A celesta é um instrumento relativamente pouco
sonoro, pelo que não se faz ouvir sobre uma orquestra completa.
O seu timbre é relativamente homogéneo ao longo de toda a extensão, podendo notar-se
apenas que as notas mais graves têm um som mais quente e rico e as notas mais agudas um
som mais brilhante.
O som da celesta é descrito como prateado, brilhante, etéreo, doce, flutuante, claro, cintilante,
semelhante a sinos, delicado, macio, aveludado, sensível, dourado, vítreo, puro, frágil.
Aperfeiçoamentos técnicos
Caixas de Ressonância
Pedal
Celestas mais antigas tinham o pedal na posição central, a que os pianistas não estão
habituados. As celestas atuais têm este pedal desviado ligeiramente para o lado direito.
As celestas mais antigas tinham teclas mais pequenas e um toque mais pesado, o que
comprometia a fluidez do som, especialmente para pianistas. Desde o final do século XX, a
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maioria das celestas passou a ser equipada com um teclado de piano de tamanho original, o
que permite um toque leve, apreciado pelos pianistas ou celestistas.
A maior diferença entre um glockenspiel de teclado e uma celesta é que os glockenspiele
utilizam martelos de plástico ou metal e as celestas utilizam martelos cobertos de feltro. Isto
resulta no som do glockenspiel ser muito mais metálico e menos suave. Para além disto, a
celesta, ao contrário do glockenspiel, possui ressoadores de madeira que suprimem frequências
indesejadas, tornando o som ainda mais claro e suave e amplificando-o simultaneamente.
Classificação Hornbostel-Sachs
O som da celesta é obtido ao percutir, com martelos acionados por teclas, um conjunto de
lâminas de metal.
Os corpos vibrantes são as lâminas, pelo que se trata de um idiofone (H-S 1). As lâminas são
postas a vibrar quando atingidas por martelos acionados por teclas, pelo que se trata de um
idiofone percutido (H-S 11) diretamente (H-S 111) por um objeto não sonoro (H-S 111.2). Por
serem lâminas, ou placas, inserem-se na categoria “Placas de percussão” (H-S 111.22) e por ser
um conjunto de placas, e não apenas uma, a sua classificação final é H
-S 111.222.
Utilização e Repertório
Simbolismo e função
Simbolismo
Função
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As funções da celesta em combinações com outros instrumentos incluem proporcionar
pequenos realces na forma de notas únicas ou acordes (à semelhança do triângulo ou
glockenspiel), tocar pequenos excertos melódicos, dobrar outras vozes em uníssono ou oitava,
terceira ou quinta, fundindo-se com os outros instrumentos e formando um timbre composto, e
executar glissandos na forma de escalas, arpejos ou tremolos, dando um brilho prateado a
certas passagens orquestrais.
Também pode ser utilizada em passagens de alta complexidade técnica originalmente escritas
para o glockenspiel de teclado, que caiu em desuso, como é o caso n’A Flauta Mágica d
e Mozart.
Repertório
Música de Concerto
Ernest Chausson foi o primeiro compositor a usar este instrumento na música de palco de La
Tempête, de Shakespeare. Pyotr Ilyich Tchaikovsky utilizou-o para a “Dança da Fada do Açúcar”
do bailado O Quebra Nozes e, antes disso, na balada sinfónica “A Voyevoda”. Béla Bartók
imortalizou-o na sua Música para Cordas, Percussão e Celesta. A celesta também ocupa um lugar
privilegiado em Os Planetas de Holst, no movimento “Neptuno”. Sete das quinze sinfonias de
Shostakovich contam com a intervenção da celesta. Mas foi Gustav Mahler quem mais a usou,
na sua 6ª Sinfonia, 8ª Sinfonia e na “Canção da Terra”.
A celesta teve também um papel importante na ópera, tanto na Tosca de Puccini (1900), L’heure
espagnole de Maurice Ravel ou Sonho de uma noite de Verão de Benjamin Britten (1945). Richard
Strauss trouxe-lhe mais fama na sua ópera O Cavaleiro da Rosa durante a apresentação da rosa
prateada.
Jazz
Pop e Rock
Embora a celesta ainda seja pouco conhecida no mundo pop, está a tornar-se mais popular.
Algumas das músicas mais famosas são certamente “Baby it’s You” dos Beatles, “She’s a
Rainbow” dos Rolling Stones, “Girl don’t tell me” dos Beach Boys e “Mother” dos Pink Floyd. O
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instrumento começou a aparecer em musicais, anúncios publicitários e é muito popular em
músicas de Natal devido ao seu som brilhante, semelhante a sinos.
Banda sonora
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Bibliografia
“Auguste Victor Mustel.” Wikipedia, Wikimedia Foundation, 9 Aug. 2018,
fr.wikipedia.org/wiki/Auguste_Victor_Mustel.
“BUILDERS.” Names of Octaves on Keyboard. A Comparition between European and Anglosaxon
Approach, www.harmoniumnet.nl/history-8-mustel.html.
Baines, Anthony C. The Oxford Companion to Musical Instruments. Oxford University Press, 1992.
“Celesta.” W
ikipedia, Wikimedia Foundation, 18 Nov. 2018, en.wikipedia.org/wiki/Celesta.
“Celesta - History.” V
ienna Symphonic Library, www.vsl.co.at/en/Celesta/History.
“The Celesta Instrument – History, Sound & More (2018).” Schiedmayer Celesta GmbH, 23
“Louis Debierre.” H
ARMONIUM - Mark Richli, www.harmonium.ch/site/forschung#Mustel.
“Mustel Catalog 1896.” Names of Octaves on Keyboard. A Comparition between European and
Sadie, Stanley. The New Grove Dictionary of Music and Musicians. MacMillan, 1980.
Mustel, Charles Victor. Brevet d’Invention Nº 176,530. Paris, France: Ministères du Commerce de
l’Industrie, 1886.
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Anexo I
Anexo II
Excerto da patente
O desenho (em anexo) mostra claramente em que consistem os órgãos característicos do
sistema, a fig. 1 é uma secção vertical traçada sobre um plano que passa pela tecla, o
mecanismo de escape e o martelo, enquanto que a fig. 2 é uma secção transversal da caixa de
ressonância que suporta as duas lâminas metálicas vibrantes.
O órgão produtor de som consiste numa série de placas de metal A e B, que vibram sob a ação
percutante do martelo C, como num piano, mas cujas disposições são especiais, no sentido que
a colisão, em vez de ser vertical, como no piano de cordas verticais, ou por baixo, como no piano
de cauda, faz-se por cima, como indica o desenho em anexo.”
Patente completa:
https://www.celesta-schiedmayer.de/wp-content/uploads/2016/04/Patent-Mustel.pdf
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Anexo III
Anexo IV
https://www.celesta-schiedmayer.de/en/celesta/all-about-the-celesta/repertoire/
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