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Um dos primeiros registos do "Mad Honey" foi feito por Xenophon (historiador da Grécia,
soldado e mercenário) de Atenas, aluno de Sócrates.
"Na sua crónica Anabasis, Xenophon escreveu que em 401 A.C., o exército grego liderado
por si retornava à Grécia, pela zona costeira do Mar Negro, após uma dura batalha com os
persas. Perto do Nordeste da Turquia, decidiram alimentar-se de mel local roubado de
colmeias. Horas depois, as tropas começaram a vomitar, tiveram diarreia, sentiam-se
desorientados e sem forças. No dia seguinte os efeitos tinham desaparecido e continuaram
a sua jornada até à Grécia."
Em 67 A.C, também no nordeste da Turquia, os soldados romanos não tiveram a mesma
sorte. Pompeu, o Grande, e o seu exército romano perseguiam o Rei Mitrídates VI do Ponto
e seu exército persa, ao longo do Mar Negro. "Os persas reuniram potes cheios de mel local
e deixaram-nos ao alcance das tropas romanas". "Os romanos comeram o mel, ficaram
desorientados e incapazes de lutar. O exército persa regressou e matou mais de 1.000
soldados romanos.”(Texas A&M Today) [1].
Grayanotoxina
Metais Pesados
Além das grayanotoxinas o mel pode conter metais pesados, as abelhas têm acesso a uma
área de cerca de 50 km2 e, por isso, entram em contato com o ar, solo e água de toda essa
zona geográfica. O conteúdo em metais pesados do mel reflete a abundância em metais
pesados das redondezas. (ISLAM, Md) [3].
Existem poucos artigos e estudos sobre os efeitos da grayanotoxina no corpo humano, mas
uma coisa todos eles têm em comum, os efeitos que foram observados por Xenophon em
401 A.C., vômito, diarréia e desorientação, dependendo da quantidade ingerida o indivíduo
pode chegar ao óbito.
Embora o mad honey seja a causa mais comum de intoxicação por grayanotoxina, não é o
único. A ingestão de folhas, néctar e flores de plantas contendo grayanotoxina também
pode causar intoxicação. Esses casos são muito raros e ocorrem principalmente, mas não
exclusivamente, na Ásia. A ingestão pode surgir de falsas crenças nas propriedades
medicinais da planta. Em Hong Kong, um bebê de 57 dias sofria de intoxicação por
grayanotoxina, apresentando dificuldade respiratória, bradicardia, hipotensão, pupilas
contraídas, salivação e contração muscular, depois que a avó adicionou uma decocção de
Rhododendron à garrafa de leite, convencido de ser benéfico para as vias aéreas. (Jansen,
SA, Kleerekooper, I., Hofman, ZLM).[4]
Partes tóxicas
Ligam-se aos canais de sódio na membrana celular e evitam a sua inativação. As células
musculares e nervosas são, assim, mantidos em um estado de despolarização. Ocorre
então efeito inotrópico positivo no músculo cardíaco, semelhante à dos glicosídeos
cardioativos, além de alterações da condução no sistema nervoso. (COVISA, 2017) [5].
Dose Tóxica:
Farmacocinética
Manifestações clínicas
O contato com a pele pode ocasionar dermatite de contato; Contato com a mucosa ocular
pode causar dor, hiperemia conjuntival (inflamação dos olhos, conjuntivite), lacrimejamento.
Intoxicações leves a moderadas: Náuseas, vômitos e bradicardia são comuns. Sialorréia
(produção excessiva de saliva), queimação na boca, sudorese, diarréia e parestesias (frio,
calor, formigamento, agulhadas, adormecimento, pressão etc.);
Intoxicações graves: Hipotensão (baixos valores da pressão arterial), bradiarritmias
(batimentos cardíacos lentos, abaixo de 50 bpm), distúrbios de condução átriovenrtricular
(AV) (ventrículos do coração, que conduz impulso elétrico), e bloqueio AV total (distúrbios do
coração e vasos sanguíneos), alteração do estado mental, convulsões, visão borrada ou
cegueira temporária, ataxia (equilíbrio ou coordenação motora prejudicados a danos no
cérebro).
O diagnóstico é mais efetivo de maneira clínica, baseando-se na história de exposição ao
agente tóxico e no exame físico, pois ainda não há um diagnóstico complementar
especializado para o mesmo. Todavia, o mel suspeito de estar contaminado, pode ser
submetido a técnicas de análise cromatográfica para pesquisar a presença de
grayanotoxinas. (COVISA, 2017) [8].
Tratamento
Não há antídoto para a intoxicação por grayanotoxinas, o que pode ser feito é o
monitoramento dos sintomas com a desobstrução das vias aéreas e a administração de
oxigênio, monitorização dos sinais vitais e frequência cardíaca, e hidratação adequada até
que o próprio organismo elimine as toxinas.
Com a raridade dos casos de intoxicação por grayanotoxinas, os médicos devem notificar o
Ministério da Saúde para investigação, de acordo com a Portaria MS/GM nº 204 de 17 de
fevereiro de 2016 na Ficha de Investigação de Intoxicação Exógena-FIIE.
Conclusão
Referências Bibliográficas
[1] Texas A&M Today (Outubro 2014): "Expert gives the buzz on mad honey" disponível em
http://today.tamu.edu/2014/10/15/expert-gives-the-buzz-on-mad-honey/#.VD7H1WfpVbI
consultado em 22.6.2020.
[2] Koca, I. and A.F. Koca, Poisoning by mad honey: a brief review. Food Chem Toxicol,
2007. 45(8): p. 1315-8.
[3] ISLAM, Md, et al. Toxic compounds in honey. Journal of Applied Toxicology, 2014, 34.7:
733-742.
[4] [10] Jansen, SA, Kleerekooper, I., Hofman, ZLM et al. Intoxicação por Grayanotoxina: 'Mad
Honey Disease' e além. Cardiovasc Toxicol 12, 208-215 (2012).
https://doi.org/10.1007/s12012-012-9162-2
[5] [6] [7] [8] COVISA 2017, Manual de Toxicologia Clínica - PDF dísponível em:
http://www.cvs.saude.sp.gov.br/up/MANUAL%20DE%20TOXICOLOGIA%20CL%C3%8DNI
CA%20-%20COVISA%202017.pdf
[9] Aliyev, F., Türkoğlu, C., & Çeliker, C. (2009). Ritmo nodal e parasistola ventricular:
Apresentação eletrocardiográfica incomum de intoxicação por Mad Honey. Clinical
Cardiology, 32 , e52 – e54.