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QUÍMICA

ANALÍTICA
QUALITATIVA

Christian Boller
Reações dos cátions
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Diferenciar e nomear cátions.


„„ Identificar reações envolvendo cátions.
„„ Exemplificar reações dos cátions.

Introdução
Tradicionalmente, a química é dividida em dois grupos distintos (ALBERTS
et al., 2017):

„„ a química orgânica, focada em compostos à base de carbono (C),


hidrogênio (H), nitrogênio (N) e oxigênio;
„„ a química inorgânica, que trata dos os outros elementos da tabela
periódica.

Entre os elementos inorgânicos, os cátions desempenham papel


central na química. Alguns são classificados como essenciais à vida, a
exemplo do sódio (Na), do potássio (K) ou mesmo do ferro (Fe), pois
sem eles muitos processos biológicos não ocorreriam (WELLER et al.,
2018). Outros, como o arsênio (As), o chumbo (Pb) e o mercúrio (Hg), são
considerados tóxicos ao meio ambiente e aos seres vivos (KLAASSEN;
WATKINS III, 2012). Um terceiro grupo, apesar de possuir potencial para
toxicidade, é empregado como agente terapêutico, como é o caso do
lítio (Li) e do bismuto (Bi) (HILAL-HANDAL; BRUNTON, 2016).
Neste capítulo, você vai entender como distinguir e dar nome aos
diferentes cátions e também reconhecer e exemplificar as diferentes
reações que têm os cátions como elementos centrais.
2 Reações dos cátions

Diferenciando e nomeando os cátions


O que são elementos e como estes se transformam em cátions? Quais elementos
se transformam em cátions?
Os elementos são estruturas básicas que formam as diferentes substâncias
que conhecemos. Você já deve conhecer alguns deles: sódio, potássio, ferro,
chumbo. Alguns são mais comuns na natureza; outros mais raros.
Veja, a seguir, na Figura 1, a tabela periódica que apresenta os elementos
mais comuns existentes na natureza.

Número atômico

Massa atômica

Figura 1. Representação da tabela periódica e os elementos mais comuns na natureza.


Fonte: Alberts et al. (2017, p. 43).

Cada elemento representado na tabela é composto por átomos e possui


características químicas e físicas distintas. O átomo é caracterizado pelo
número de prótons em seu núcleo. Para um mesmo elemento, esse número é
sempre constante. Já o número de nêutrons pode variar, originando os diferentes
isótopos do mesmo elemento (CHANG; GOLDSBY, 2013).
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A busca pela origem das coisas remonta as primeiras civilizações. Os filósofos pré-
-socráticos já buscavam pela origem do mundo na química. Dá-se crédito a Leucipo
e Demócrito pelo desenvolvimento da teoria atomista (REZENDE, 1986).

Não confunda elemento e átomo. Elementos são formados a partir de átomos.

Aqui você precisa tomar cuidado: um átomo tende sempre a ser neutro. Isto
é, o número de prótons no núcleo e o número de elétrons da eletrosfera tendem
sempre a ser iguais. Mas nem sempre é assim. Observe que, na Figura 2, o
número de elétrons da última camada não é 8 ou 2 (regra do octeto/dupleto)
(ATKINS; JONES, 2012).

11 Prótons 12 Nêutrons 11 Elétrons

Átomo Elemento Substância


Figura 2. Diferença entre átomo, elemento e substância.
Fonte: Adaptada de oorka/Shutterstock.com, Chang e Goldsby (2013, p. 39) e Andraž Cerar/Shutterstock.
com.
4 Reações dos cátions

Quando isto acontece, existe uma chance do átomo receber um elétron


de outro átomo menos eletronegativo (ou mais eletropositivo). Inversamente,
também pode doar seu elétron a outro átomo mais eletronegativo (ou menos
eletropositivo). Quando isto acontece, formam-se os íons, em um processo
chamado de ionização. Lembre-se que quanto mais eletronegativo (menos
eletropositivo) for um elemento, maior a probabilidade de este receber elétrons
(será um ânion). Ao contrário, quanto menos eletronegativo for um elemento
(mais eletropositivo), maior a chance em perder o elétron (será um cátion).
Você deve ter verificado que, pelo fato de ganhar ou perder elétrons, os
íons tem nomes diferentes. Quando um átomo perde elétrons, o número de
cargas positivas é maior que as negativas, portanto você terá um cátion. Em
caso contrário, ao ganhar elétrons, o número de cargas negativas é maior, logo
a estrutura formada tem o nome de ânion.
Observe, no Quadro 1, a seguir, o esquema representativo entre a ionização
dos átomos de sódio e cloro a seguir (ATKINS; JONES, 2012).

Quadro 1. Átomos e íons de sódio (Na) e de cloro (Cl)

Átomo de Na Íon Na+ Átomo de Cl Íon Cl-

11 prótons 11 prótons 17 prótons 17 prótons

11 elétrons 10 elétrons 17 elétrons 18 elétrons

Nessa fase da sua leitura, você irá focar apenas no estudo dos cátions.
De modo geral, podemos dizer que os cátions são estruturas monoatômicas,
isto é, formados por um único átomo ionizado. Como exceção a esta regra,
encontramos o íon amônio (NH4+) e o íon mercuroso (Hg22+).
Observe, agora, a Figura 3. Nela, você encontra os principais cátions que
precisa conhecer.
Reações dos cátions 5

Figura 3. Exemplos de cátions encontrados na natureza.


Fonte: Adaptada de Chang e Goldsby (2013).

Você percebeu que existem diferentes números nesta tabela? Estude-os com
cuidado, pois são essenciais para entender as reações que envolvem cátions.
Observe atentamente o mercúrio (Hg). Ele possui elementos acima (sobrescrito)
e abaixo (subscrito). O mesmo vale para outros elementos.
Você deve ter percebido que todos eles têm o sinal positivo, que determina
a valência do íon. Um único sinal positivo significa que o átomo perdeu um
elétron e tornou-se um íon monovalente, o sinal 2+ significa que perdeu dois
elétrons e tornou-se um íon divalente, e assim por diante.
Agora observe que o mercúrio, além da valência, possui o algarismo 2
subscrito. Isso significa que, para apresentar-se como elemento, são necessários
dois átomos de mercúrio. Diz-se, então, que ele é diatômico. A isso se dá o
nome de atomicidade. Os outros elementos não possuem numeração; logo
são monoatômicos.

Atomicidade e valência são conceitos diferentes. Seus valores não precisam ser iguais.
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Para finalizar o primeiro aprendizado proposto, veja o nome de alguns


cátions, no Quadro 2. Atente para a valência de alguns íons, como aqueles
das famílias 1, 2 ou 3 da tabela periódica. Eles só possuem um nome. Já os
íons das famílias 6–12 possuem valência variável e, portanto, podem ter mais
de um nome.

Quadro 2. Elementos, cátions e seus respectivos nomes

Elemento Nome do cátion

Sódio (Na) íon sódio (Na+)

Magnésio (Mg) íon magnésio (Mg+2)

Alumínio (Al) íon alumínio (Al+3)

Ferro (Fe) íon ferroso (Fe+2) ou ferro II


íon férrico (Fe+3) ou ferro III

Cobre (Cu) íon cuproso (Cu+) ou cobre I


íon cúprico (Cu+2) ou cobre II

Fonte: Adaptado de Chang e Goldsby (2013).

Você deve ter percebido que quando um elemento possui duas valências,
a menor tem a terminação oso no nome e a maior tem a terminação ico. É
importante identificar cada um deles, pois suas reações são diferentes. Esta
nomenclatura, embora usual, foi substituída pelo uso da numeração da valência.
Assim, por exemplo, você irá utilizar a expressão “ferro II” (que se pronuncia
ferro dois), em vez de se referir a íon ferroso.

Reações envolvendo cátions


As reações que envolvem cátions estão classificadas em dois grupos principais.
A diferença entre as duas está na forma como os íons se apresentam: em pó
(via seca) (ROSA; GAUTO; GONÇALVES, 2013); ou em solução (via úmida)
(DIAS et al., 2016).
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Conheça os elementos que podem ser analisados em laboratório, quando em sua


forma catiônica.
Prata (Ag), Chumbo (Pb), Mercúrio (Hg), Cobre (Cu), Cádmio (Cd), Bismuto (Bi), Arsênio
(As), Antimônio (Sb), Estanho (Sn), Cromo (Cr), Alumínio (Al), Zinco (Zn), Ferro (Fe),
Manganês (Mn), Cobalto (Co), Níquel (Ni), Magnésio (Mg), Bário (Ba), Cálcio (Ca), Estrôncio
(Sr), Sódio (Na), Potássio (K), Amônio(NH4)
Fonte: Dias et al. (2016).

Em geral, alguns cátions (em especial na forma de cloretos) podem ser


avaliados diretamente por via seca, sem necessidade de reações especiais. Isto
ocorre porque os cátions sofrem volatilização na chama não luminosa de Bun-
sen, cuja temperatura atinge níveis superiores a 2000 K (VOGEL et al., 2002).
Veja a Figura 4 para entender o processo. Ao colocar uma pequena quanti-
dade de material próximo à chama do Bico de Bunsen, o sal sofre evaporação
seguida de vaporização e dissociação. Os elétrons dos átomos oriundos do
cátion sofrem excitação térmica, aumentando seu nível de energia. Ao retor-
narem ao estado fundamental, liberam a energia absorvida na forma de luz
(OKUMURA; CAVALHEIRO; NÓBREGA, 2004).

Evaporação
M+X–(aq) M+X–(aerossol) MX(s)

Vaporação

Excitação Dissociação
M*(g) M(g) + X(g) MX(g)
térmica

Absorção de energia
Emissão radiante (hv)
hv
na chama

M*(g) Remissão (fluorescência)


hv ou hv’

Figura 4. Esquema da formação do espectro de emissão de um cátion.


Fonte: Okumura, Cavalheiro e Nóbrega (2004).
8 Reações dos cátions

A frequência da luz emitida possui relação direta com o átomo excitado.


Assim, a cor obtida indica o átomo analisado, conforme vemos na Figura 5.

Zinco Potássio Estrôncio Sódio Cobre

Figura 5. Coloração característica de cada cátion presente em uma amostra.


Fonte: Zern Liew/Shutterstock.com.

Esta análise é considerada preliminar e capaz de detectar quantidades


mínimas de analito (3–4 mg), sendo apenas qualitativa. Para resolver este
problema, foi desenvolvido um aparelho capaz de detectar e quantificar os
cátions, chamado fotômetro de chama. Este aparelho identifica a intensidade
da chama produzida pelo cátion em uma amostra e a relaciona com uma
solução padrão, determinando, assim, a concentração do elemento estudado
(VOGEL et al., 2002).
Como citado, outra forma de analisar cátions é por reações químicas em
meios aquosos. Estas reações envolvem a formação de precipitados devido
ao baixo Kps do produto formado (ROSA; GAUTO; GONÇALVES, 2013).
Veja como isto acontece. Quando colocamos um sal (o cloreto de cálcio,
por exemplo) em água, este rapidamente de solubiliza. Isso acontece porque,
nesta forma, tanto o íon cálcio (cátion: Ca+2) quando o íon cloro (Cl-2) são
solvatados pela água. Nesse momento, o cálcio fica separado quimicamente
do cloreto. Você pode estar pensando: “Mas o positivo não atrai o negativo?”
A resposta é sim, mas a água tem energia suficiente para mantê-los separados.
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O verbo solvatar é de uso comum em química. Ele indica que um elemento ou


substância é envolvido por outro elemento ou substância. O processo de solvatação
mais comum é quando um íon (cátion ou ânion) é envolvido por uma camada de água.

Apesar de a água ser considerada “o solvente universal”, não tem poderes


ilimitados. Nem sempre consegue manter os íons separados. Quando a sol-
vatação não tem força de manter cátions e ânions separados, eles mantêm-se
unidos e insolúveis no meio. Matematicamente, pode-se dizer que, quando a
força de solvatação é maior que a força de atração, o sal é solúvel; quando a
força de atração é maior que a força de solvatação, o sal é insolúvel.
Como esse conceito se aplica à identificação de cátions? Você viu ante-
riormente que o cloreto de cálcio é solúvel em água. No entanto, se o ânion
mudar para, por exemplo, carbonato? A resposta será: o cálcio irá precipitar.
Isso ocorre porque a força de atração entre o cálcio e o carbonato é superior à
força de solvatação. Logo, eles irão se unir. Assim, se quisermos identificar se
existe cálcio em uma amostra, basta adicionar alguma substância que contém
carbonato como ânion, como o carbonato de sódio.
Este processo de induzir a precipitação do cálcio é conhecido como reação
de precipitação. Observe que no exemplo citado, também forma-se cloreto de
sódio, que não irá precipitar, pois é solvatado completamente pela água. Aqui
fica evidente uma condição importante da reação de precipitação: deve-se
escolher com cuidado o agente precipitante (aquele que induz a precipitação)
para que apenas uma substância precipite, permitindo sua identificação.
Sabendo escolher o agente precipitante, qualquer cátion poderá ser pre-
cipitado, inclusive o sódio e o potássio (considerados os mais solúveis da
tabela periódica). Para precipitar estes elementos, são utilizados ânions muito
incomuns da prática laboratorial, como o acetato de zinco e uranila para o
sódio e a dipricilamina para o potássio (DIAS et al., 2016).
Além da precipitação, a identificação de cátions envolve a análise da cor.
Devido a propriedades intrínsecas de cada cátion, os precipitados obtidos
apresentam cores características. No exemplo anterior, para saber se um
líquido contem sódio ou potássio, deve-se observar a cor do precipitado. Ao
realizar a reação indicada, o sódio terá cor amarelo-esverdeado; já o potássio
terá cor vermelho-alaranjado (DIAS et al., 2016).
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Além das reações de precipitação, também podem ser utilizadas reações


que envolvem a formação de produtos voláteis. O exemplo característico deste
tipo de reação é a identificação de amônia. Em sua forma salina, o cloreto de
amônio é muito solúvel em água (CUIDADO: Amonia (NH3) é um gás e não
é cátion. Já o amônio (NH4+) é um cátion e existe em solução). Ao adicionar
uma base em um líquido contendo cloreto de amônio, esse se converte em
amônia e volatiliza-se. Assim como o sódio pode ser identificado pela cor, a
amônia pode ser identificada pelo odor tóxico característico.

Exemplo de reações
Você verá agora, reações envolvendo análises de alguns cátions importantes
na área farmacêutica e nutricional.
O cálcio é um elemento abundante na crosta terrestre, sendo o quinto em
ordem de quantidade relativa. É o principal componente de ossos, dentes e
também age como um segundo mensageiro celular. Apesar de sua importância,
pode precipitar no trato urinário, formando cristais de oxalato de cálcio com
relativa facilidade (WELLER et al., 2018).
O cálcio é muito solúvel na forma de cloreto, mas pouco solúvel na forma de
oxalato. Essa característica é utilizada em sua identificação (BRASIL, 2010).

Quadro 3. Exemplos de reações de análise (superior) e dupla troca (inferior)

CaCO3(s) + 2 HCl (aq) → CaCl2 (aq) + H2O + CO2

carbonato ácido cloreto água gás


de cálcio clorídrico de carbônico
cálcio

CaCl2 (aq) + NH4C2O4(aq) → CaC2O4 (s) + NH4Cl2 (aq)


cloreto de oxalato de oxalato de cálcio cloreto de
cálcio amônio amônio
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Você deve ter percebido que é muito simples identificar um cátion: basta
ter uma suspeita (qual cátion se imagina estar presente em uma amostra) e
escolher um agente precipitante ou que induza sua volatilização. Além disso,
se a amostra estiver no estado sólido, pode-se optar pela técnica da chama e
a cor resultante revelará qual é o íon. Resta uma pergunta: dentro do universo
de substâncias existentes na natureza, qual escolher para fazer as reações?”
Levando em consideração as reações em meio aquoso, você deve lembrar do
termo Kps, também chamado de constante de produto de solubilidade. Este termo
tem ligação direta com o processo de solvatação discutido anteriormente. É a partir
dele que você escolhe qual agente precipitante irá utilizar (ATKINS; JONES, 2012)
Na prática, quanto menor o valor de Kps, maior a probabilidade de ocorrer
a formação de um precipitado. Assim, você deve escolher o agente precipitante
cujo Kps do produto formado seja o menor possível, preferencialmente aquele
que gere uma coloração característica (ATKINS; JONES, 2012).
Usando os exemplos já citados, o cálcio pode ser identificado utilizando
carbonato de sódio ou oxalato de amônio. Com o primeiro, irá se formar o
carbonato de cálcio cujo Kps é de 8,7 10 -9. Já com o segundo, será obtido o
oxalato de cálcio com Kps de 2,6 10-9. Logo, o resultado experimental utilizando
o oxalato é preferido, pois o Kps é menor (ATKINS; JONES, 2012).
Calma! você não precisará testar todos os agentes precipitantes para saber
qual é o melhor. Isso já foi feito. As reações que envolvem precipitação de
cátions já foram categorizadas e chamam-se reações de identificações de
cátions. Para compreender melhor, observe o Quadro 4, que relaciona alguns
cátions e o respectivo agente precipitante:

Quadro 4. Cátions, agentes precipitantes e características dos precipitados

Íon Agente precipitante Precipitado

Sódio (Na ) +
Acetato de zinco e Uranila Branco
[Zn(UO2)(AcO)4]

Potássio (K+) Dipicrilamina [[(NO2)3C6H2]2NH] Vermelho-alaranjado

Cálcio (Ca+2) Oxalato de amônio [NH4C2O4] Branco

Prata (Ag ) +
Ácido clorídrico (HCl) Branco

Ferro Tiocianato de amônio [NH4CNS] Vermelho

Fonte: Adaptado de Dias et al. (2016).


12 Reações dos cátions

Perceba que, quando apenas um elemento está presente no meio (em geral
as reações são realizadas em tubo de ensaio ou tubo de Nessler, que é um tipo
especial de tubo de ensaio), a presença de precipitado indica o cátion. No entanto
esta situação é rara. Normalmente, mais de um cátion está presente no meio.
Assim muito cuidado é exigido nas reações de identificação de cátion e deve ser
seguida uma ordem precisa. Para que essa ordem não seja alterada, foram criadas
fluxogramas de análise sistemática de cátions. Esses fluxogramas indicam a
ordem exata em que as reações devem ser feitas para que o produto obtido possa
ser caracterizado sem o uso de equipamentos especiais (DIAS et al., 2016).
Ainda assim, em certos casos em que é exigida maior precisão, pode ser
necessário o uso de equipamento e técnica específicos, como a cromatografia
de íons, que não depende de uma reação química. Este equipamento, embora
tenha custo elevado, oferece vantagens relevantes quando a amostra é total-
mente desconhecida, pois evita a realização da análise sistemática completa
para todos os cátions.
Veja, agora, outro exemplo de reações de identificação de cátions: o
chumbo, muito encontrado como contaminante de alimentos e medicamentos.
Compostos à base de chumbo foram, durante muito tempo, utilizados como
antidetonante de combustíveis. Sua presença no meio ambiente é considerada
nociva à saúde, e portanto, deve ter seus níveis controlados (WELLER et al.,
2018). No organismo humano, seu acúmulo pode levar a problemas neuro-
lógicos (especialmente em crianças) e alterações no metabolismo do heme
(KLAASSEN; WATKINS III, 2012).
O chumbo é pouco solúvel em meio aquoso (ATKINS; JONES, 2012) e,
mesmo em micro quantidade, pode ser identificado a partir da reação com
ácido sulfúrico (precipitado insolúvel) e da confirmação com hidróxido de
sódio (composto solúvel) (BRASIL, 2010).

Quadro 5. Exempos de reações de deslocamento (superior) e de dupla troca (inferior)

Pb+2(aq) + H2SO4(aq) → PbSO4 (s) + 2 H+(aq)

cloreto de ácido sulfato de água


chumbo II sulfúrico chumbo II

PbSO4 (s) + NH4CH3CO2(aq) → Pb(CH3CO2)2 (aq) + (NH4)2SO4 (aq)


sulfato de acetato de acetato de sulfato de amônio
chumbo II amônio chumbo II
Reações dos cátions 13

Para conhecer mais reações, você está convidado a estudar a farmacopéia


brasileira, disponível no link a seguir. Lá, você encontrará a descrição da análise
de outros cátions, como o ferro (Fe), cobre (Cu), mercúrio (Hg), magnésio (Mg).

O link abaixo leva a um artigo publicado na revista Química Nova, tradicional no meio
científico, e aborda a importância da química analítica qualitativa e a identificação de
cátions em um contexto histórico.

https://goo.gl/bRdbVu

Também é importante verificar o site da Farmacopéia Brasileira, disponibilizado pela


Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que, em sua quinta edição, apresenta
a análise de diversos cátions importantes para saúde.

https://goo.gl/y45bBP

ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 1464 p.
ATKINS, P., JONES, L. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio
ambiente. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. 922 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Farmacopeia
brasileira: volume 1. 5. ed. Brasília: Anvisa, 2010. 545 p. Disponível em: <http://por-
tal.anvisa.gov.br/documents/33832/260079/5%C2%AA+edi%C3%A7%C3%A3o+-
+Volume+1/4c530f86-fe83-4c4a-b907-6a96b5c2d2fc>. Acesso em: 2 nov. 2018.
CHANG, R.; GOLDSBY, K. A. Química. 11. ed. Porto Alegre: AMGH; Bookman, 2013. 1135 p.
DIAS, S. L. P. et al. Química analítica: teoria e práticas essenciais. Porto Alegre: Bookman,
2016. 392 p.
HILAL-HANDAL, R., BRUNTON, L. L. Manual de farmacologia e terapêutica de Goodman
& Gilman. 2. ed. Porto Alegre: AMGH; Artmed, 2016. 1216 p.
KLAASSEN, C. D.; WATKINS III, J. B. Fundamentos em toxicologia de Casarett e Doull. 2. ed.
Porto Alegre: AMGH; Bookman, 2012. 472 p.
14 Reações dos cátions

OKUMURA, F.; CAVALHEIRO, E. T. G.; NÓBREGA, J. A. Experimentos simples usando


fotometria de chama para ensino de princípios de espectrometria atômica em cursos
de química analítica. Química Nova, São Paulo, v. 27, n. 5, p. 832-836, set.-out. 2004.
Disponível em: <http://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?id=4037>. Acesso
em: 2 nov. 2018.
REZENDE, A. (Org.). Curso de filosofia: para professores e alunos do ensino médio e de
graduação. Rio de Janeiro: Zahar, 1986. 312 p.
ROSA, G.; GAUTO, M.; GONÇALVES, F. Química analítica: práticas de laboratório. Porto
Alegre: Bookman, 2013. 128 p. (Série Tékne).
VOGEL, A. I. et al. Análise química quantitativa. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. 488 p.
WELLER, M. et al. Química inorgânica. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2018. 900 p.

Leituras recomendadas
ABREU, D. G. et al. Uma proposta para o ensino da Química Analítica Qualitativa. Quí-
mica Nova, São Paulo, v. 29, n. 6, p. 1381-1386, nov.-dez. 2006. Disponível em: <http://
quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?id=2555>. Acesso em: 2 nov. 2018.
ALLEN JR., L. V. Química farmacêutica. In: ALLEN JR., L. V. Introdução à farmácia de
Remington. Porto Alegre: Artmed; Pharmaceutical Press, 2016. p. 67-79.
MILLER, D. D. Minerais. In: DAMODARAN, S.; PARKIN, K. L; FENNEMA, O. R. Química de
alimentos de Fennema. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 410-444.
WELLER, M. et al. Química inorgânica na medicina. In: WELLER, M. et al. Química inor-
gânica. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2018. p. 820-833.
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