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ANALÍTICA
QUALITATIVA
Christian Boller
Reações dos cátions
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Tradicionalmente, a química é dividida em dois grupos distintos (ALBERTS
et al., 2017):
Número atômico
Massa atômica
A busca pela origem das coisas remonta as primeiras civilizações. Os filósofos pré-
-socráticos já buscavam pela origem do mundo na química. Dá-se crédito a Leucipo
e Demócrito pelo desenvolvimento da teoria atomista (REZENDE, 1986).
Aqui você precisa tomar cuidado: um átomo tende sempre a ser neutro. Isto
é, o número de prótons no núcleo e o número de elétrons da eletrosfera tendem
sempre a ser iguais. Mas nem sempre é assim. Observe que, na Figura 2, o
número de elétrons da última camada não é 8 ou 2 (regra do octeto/dupleto)
(ATKINS; JONES, 2012).
Nessa fase da sua leitura, você irá focar apenas no estudo dos cátions.
De modo geral, podemos dizer que os cátions são estruturas monoatômicas,
isto é, formados por um único átomo ionizado. Como exceção a esta regra,
encontramos o íon amônio (NH4+) e o íon mercuroso (Hg22+).
Observe, agora, a Figura 3. Nela, você encontra os principais cátions que
precisa conhecer.
Reações dos cátions 5
Você percebeu que existem diferentes números nesta tabela? Estude-os com
cuidado, pois são essenciais para entender as reações que envolvem cátions.
Observe atentamente o mercúrio (Hg). Ele possui elementos acima (sobrescrito)
e abaixo (subscrito). O mesmo vale para outros elementos.
Você deve ter percebido que todos eles têm o sinal positivo, que determina
a valência do íon. Um único sinal positivo significa que o átomo perdeu um
elétron e tornou-se um íon monovalente, o sinal 2+ significa que perdeu dois
elétrons e tornou-se um íon divalente, e assim por diante.
Agora observe que o mercúrio, além da valência, possui o algarismo 2
subscrito. Isso significa que, para apresentar-se como elemento, são necessários
dois átomos de mercúrio. Diz-se, então, que ele é diatômico. A isso se dá o
nome de atomicidade. Os outros elementos não possuem numeração; logo
são monoatômicos.
Atomicidade e valência são conceitos diferentes. Seus valores não precisam ser iguais.
6 Reações dos cátions
Você deve ter percebido que quando um elemento possui duas valências,
a menor tem a terminação oso no nome e a maior tem a terminação ico. É
importante identificar cada um deles, pois suas reações são diferentes. Esta
nomenclatura, embora usual, foi substituída pelo uso da numeração da valência.
Assim, por exemplo, você irá utilizar a expressão “ferro II” (que se pronuncia
ferro dois), em vez de se referir a íon ferroso.
Evaporação
M+X–(aq) M+X–(aerossol) MX(s)
Vaporação
Excitação Dissociação
M*(g) M(g) + X(g) MX(g)
térmica
Absorção de energia
Emissão radiante (hv)
hv
na chama
Exemplo de reações
Você verá agora, reações envolvendo análises de alguns cátions importantes
na área farmacêutica e nutricional.
O cálcio é um elemento abundante na crosta terrestre, sendo o quinto em
ordem de quantidade relativa. É o principal componente de ossos, dentes e
também age como um segundo mensageiro celular. Apesar de sua importância,
pode precipitar no trato urinário, formando cristais de oxalato de cálcio com
relativa facilidade (WELLER et al., 2018).
O cálcio é muito solúvel na forma de cloreto, mas pouco solúvel na forma de
oxalato. Essa característica é utilizada em sua identificação (BRASIL, 2010).
Você deve ter percebido que é muito simples identificar um cátion: basta
ter uma suspeita (qual cátion se imagina estar presente em uma amostra) e
escolher um agente precipitante ou que induza sua volatilização. Além disso,
se a amostra estiver no estado sólido, pode-se optar pela técnica da chama e
a cor resultante revelará qual é o íon. Resta uma pergunta: dentro do universo
de substâncias existentes na natureza, qual escolher para fazer as reações?”
Levando em consideração as reações em meio aquoso, você deve lembrar do
termo Kps, também chamado de constante de produto de solubilidade. Este termo
tem ligação direta com o processo de solvatação discutido anteriormente. É a partir
dele que você escolhe qual agente precipitante irá utilizar (ATKINS; JONES, 2012)
Na prática, quanto menor o valor de Kps, maior a probabilidade de ocorrer
a formação de um precipitado. Assim, você deve escolher o agente precipitante
cujo Kps do produto formado seja o menor possível, preferencialmente aquele
que gere uma coloração característica (ATKINS; JONES, 2012).
Usando os exemplos já citados, o cálcio pode ser identificado utilizando
carbonato de sódio ou oxalato de amônio. Com o primeiro, irá se formar o
carbonato de cálcio cujo Kps é de 8,7 10 -9. Já com o segundo, será obtido o
oxalato de cálcio com Kps de 2,6 10-9. Logo, o resultado experimental utilizando
o oxalato é preferido, pois o Kps é menor (ATKINS; JONES, 2012).
Calma! você não precisará testar todos os agentes precipitantes para saber
qual é o melhor. Isso já foi feito. As reações que envolvem precipitação de
cátions já foram categorizadas e chamam-se reações de identificações de
cátions. Para compreender melhor, observe o Quadro 4, que relaciona alguns
cátions e o respectivo agente precipitante:
Sódio (Na ) +
Acetato de zinco e Uranila Branco
[Zn(UO2)(AcO)4]
Prata (Ag ) +
Ácido clorídrico (HCl) Branco
Perceba que, quando apenas um elemento está presente no meio (em geral
as reações são realizadas em tubo de ensaio ou tubo de Nessler, que é um tipo
especial de tubo de ensaio), a presença de precipitado indica o cátion. No entanto
esta situação é rara. Normalmente, mais de um cátion está presente no meio.
Assim muito cuidado é exigido nas reações de identificação de cátion e deve ser
seguida uma ordem precisa. Para que essa ordem não seja alterada, foram criadas
fluxogramas de análise sistemática de cátions. Esses fluxogramas indicam a
ordem exata em que as reações devem ser feitas para que o produto obtido possa
ser caracterizado sem o uso de equipamentos especiais (DIAS et al., 2016).
Ainda assim, em certos casos em que é exigida maior precisão, pode ser
necessário o uso de equipamento e técnica específicos, como a cromatografia
de íons, que não depende de uma reação química. Este equipamento, embora
tenha custo elevado, oferece vantagens relevantes quando a amostra é total-
mente desconhecida, pois evita a realização da análise sistemática completa
para todos os cátions.
Veja, agora, outro exemplo de reações de identificação de cátions: o
chumbo, muito encontrado como contaminante de alimentos e medicamentos.
Compostos à base de chumbo foram, durante muito tempo, utilizados como
antidetonante de combustíveis. Sua presença no meio ambiente é considerada
nociva à saúde, e portanto, deve ter seus níveis controlados (WELLER et al.,
2018). No organismo humano, seu acúmulo pode levar a problemas neuro-
lógicos (especialmente em crianças) e alterações no metabolismo do heme
(KLAASSEN; WATKINS III, 2012).
O chumbo é pouco solúvel em meio aquoso (ATKINS; JONES, 2012) e,
mesmo em micro quantidade, pode ser identificado a partir da reação com
ácido sulfúrico (precipitado insolúvel) e da confirmação com hidróxido de
sódio (composto solúvel) (BRASIL, 2010).
O link abaixo leva a um artigo publicado na revista Química Nova, tradicional no meio
científico, e aborda a importância da química analítica qualitativa e a identificação de
cátions em um contexto histórico.
https://goo.gl/bRdbVu
https://goo.gl/y45bBP
ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 1464 p.
ATKINS, P., JONES, L. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio
ambiente. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. 922 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Farmacopeia
brasileira: volume 1. 5. ed. Brasília: Anvisa, 2010. 545 p. Disponível em: <http://por-
tal.anvisa.gov.br/documents/33832/260079/5%C2%AA+edi%C3%A7%C3%A3o+-
+Volume+1/4c530f86-fe83-4c4a-b907-6a96b5c2d2fc>. Acesso em: 2 nov. 2018.
CHANG, R.; GOLDSBY, K. A. Química. 11. ed. Porto Alegre: AMGH; Bookman, 2013. 1135 p.
DIAS, S. L. P. et al. Química analítica: teoria e práticas essenciais. Porto Alegre: Bookman,
2016. 392 p.
HILAL-HANDAL, R., BRUNTON, L. L. Manual de farmacologia e terapêutica de Goodman
& Gilman. 2. ed. Porto Alegre: AMGH; Artmed, 2016. 1216 p.
KLAASSEN, C. D.; WATKINS III, J. B. Fundamentos em toxicologia de Casarett e Doull. 2. ed.
Porto Alegre: AMGH; Bookman, 2012. 472 p.
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Leituras recomendadas
ABREU, D. G. et al. Uma proposta para o ensino da Química Analítica Qualitativa. Quí-
mica Nova, São Paulo, v. 29, n. 6, p. 1381-1386, nov.-dez. 2006. Disponível em: <http://
quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?id=2555>. Acesso em: 2 nov. 2018.
ALLEN JR., L. V. Química farmacêutica. In: ALLEN JR., L. V. Introdução à farmácia de
Remington. Porto Alegre: Artmed; Pharmaceutical Press, 2016. p. 67-79.
MILLER, D. D. Minerais. In: DAMODARAN, S.; PARKIN, K. L; FENNEMA, O. R. Química de
alimentos de Fennema. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 410-444.
WELLER, M. et al. Química inorgânica na medicina. In: WELLER, M. et al. Química inor-
gânica. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2018. p. 820-833.
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