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Raymond Chang

Kenneth A. Goldsby

Química
11ª edição
C456q Chang, Raymond.
Química [recurso eletrônico] / Raymond Chang, Kenneth
A. Goldsby ; [tradução: M. Pinho Produtos Digitais
Unipessoal Lda.] ; revisão técnica: Denise de Oliveira Silva,
Vera Regina Leopoldo Constantino. – 11. ed. – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2013.

Editado também como livro impresso em 2013.


ISBN 978-85-8055-256-0

1. Química. I. Goldsby, Kenneth A. II. Título.


CDU 54

Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB10/2052


QUÍMICA
EM AÇÃO

O hélio primordial e a teoria do Big Bang


D e onde viemos? Como o Universo começou? Os humanos
têm formulado essas perguntas desde quando começaram
a pensar. A busca por respostas proporciona um exemplo do
método científico.
Na década de 1940, o físico russo-americano George
Gamow formulou a hipótese de que o nosso Universo teve
início há bilhões de anos em uma explosão gigantesca, ou
Big Bang. Nos seus momentos iniciais, o Universo ocupava
um volume minúsculo e era inimaginavelmente quente. Esta
bola de fogo faiscante de radiação misturada com partículas
microscópicas de matéria esfriou gradualmente de modo que
átomos puderam se formar. Sob a influência da gravidade, eles
aglomeraram-se para gerar bilhões de galáxias incluindo a
nossa, a Via Láctea.
A ideia de Gamow é interessante e muito provocativa e
foi experimentalmente testada de várias maneiras. Primeiro,
as medições mostraram que o Universo está em expansão; isto
é, as galáxias estão afastando-se umas das outras a grandes ve- Fotografia de uma galáxia distante, incluindo a posição de um
locidades. Este fato é consistente com o nascimento explosivo quasar.
do Universo. Imaginando a expansão ao contrário, como em
um filme em reverso, os astrônomos deduziram que o Univer-
so nasceu há cerca de 13 bilhões de anos. A segunda observa- 1995, os astrônomos analisaram a luz ultravioleta de um qua-
ção que apoia a hipótese de Gamow é a detecção da radiação sar (uma fonte intensa de luz e de sinais de rádio que acredita-
cósmica de fundo. Ao longo de bilhões de anos, o Universo -se ser uma galáxia em explosão no extremo do Universo)
esfriou para 3 K (ou ⫺270°C)! A esta temperatura, a maior distante e verificaram que, no seu percurso para a Terra, uma
parte da energia está na faixa das micro-ondas. Como o Big parte da luz era absorvida por átomos de hélio. Como este
Bang deve ter ocorrido simultaneamente em todo o minúsculo quasar está a mais de 10 bilhões de anos-luz (um ano-luz é a
volume do Universo em formação, a radiação que gerou deve distância percorrida pela luz em um ano), a luz que chega à
ter preenchido todo o Universo. Portanto, a radiação deve ser a Terra revela acontecimentos que se deram há 10 bilhões de
mesma, seja qual for a direção em que se observe. De fato, os anos. Por que não se detectou o hidrogênio, que é mais abun-
sinais de micro-ondas registrados pelos astrônomos são inde- dante? Um átomo de hidrogênio tem apenas um elétron, que é
pendentes da direção. arrancado pela luz do quasar em um processo conhecido como
A terceira parte da prova que apoia a hipótese de Ga- ionização. Os átomos de hidrogênio ionizados não são capa-
mow é a descoberta de hélio primordial. Os cientistas acredi- zes de absorver a luz do quasar. Por outro lado, um átomo de
tam que o hélio e o hidrogênio (os elementos mais leves) fo- hélio tem dois elétrons. A radiação pode arrancar um elétron,
ram os primeiros elementos formados nos passos iniciais da mas nem sempre os dois. Os átomos de hélio monoionizados
evolução cósmica. (Pensa-se que os elementos mais pesados, ainda podem absorver luz e são, portanto, detectáveis.
como o carbono, o nitrogênio e o oxigênio, tenham se forma- Os proponentes da explicação de Gamow alegraram-se
do mais tarde, por via de reações nucleares envolvendo o hi- com a deteção de hélio nas regiões longínquas do Universo.
drogênio e o hélio no centro das estrelas.) Se assim for, um gás Como reconhecimento de todas as provas que a apoiam, os
difuso de hidrogênio e de hélio teria se espalhado por todo o cientistas referem-se à hipótese de Gamow como a teoria do
Universo primitivo antes da formação de muitas galáxias. Em Big Bang.

1.4 Classificação da matéria


No início da Seção 1.1 definimos a química como o estudo da matéria e das
transformações que ela sofre. Matéria é tudo aquilo que ocupa espaço e tem
massa. A matéria inclui coisas que podemos ver e tocar (como a água, a terra e
as árvores), bem como coisas que não vemos (como o ar). Assim, tudo no Uni-
verso tem uma relação “química”.
Capítulo 1 ♦ Química: O estudo da transformação 7

Os químicos distinguem várias subcategorias de matéria baseadas na com-


posição e nas propriedades. As classificações da matéria incluem substâncias,
misturas, elementos e compostos, bem como átomos e moléculas, que conside-
raremos no Capítulo 2.

Substâncias e misturas
Uma substância é uma forma de matéria que tem uma composição definida (cons-
tante) e propriedades distintas. Temos como exemplos a água, a amônia, o açúcar
(sacarose), o ouro e o oxigênio. As substâncias diferem umas das outras na compo-
sição e podem ser identificadas por seu aspecto, cheiro, sabor e outras propriedades.
Uma mistura é uma combinação de duas ou mais substâncias em que es-
tas conservam as suas identidades distintas. Alguns exemplos familiares são o
ar, as bebidas, o leite e o cimento. As misturas não têm uma composição cons-
tante. Por isso, amostras de ar colhidas em cidades diferentes certamente terão
composições diferentes devido às diferenças de altitude, poluição, etc.
As misturas podem ser homogêneas ou heterogêneas. Quando uma colher
de açúcar se dissolve em água obtemos uma mistura homogênea na qual a com-
posição é a mesma em toda a sua extensão. Se misturarmos areia com limalha
de ferro, contudo, os grãos de areia e a limalha de ferro mantêm-se separados
(Figura 1.4). Este tipo de mistura é chamado de mistura heterogênea porque a
sua composição não é uniforme.
Qualquer mistura, homogênea ou heterogênea, pode ser criada e depois
separada por meios físicos em seus componentes puros sem alterar a identida-
de dos componentes. Assim, o açúcar pode ser recuperado de uma solução em
água por evaporação da água até à secura. A condensação do vapor devolve-nos
o componente água. Para separar a mistura ferro-areia, podemos usar um ímã
para retirar a limalha de ferro da areia, pois a areia não é atraída pelo ímã [ver a
Figura 1.4 (b)]. Depois da separação, os componentes da mistura terão a mesma
composição e propriedades que tinham no início.

Elementos e compostos
As substâncias podem ser elementos ou compostos. Um elemento é uma subs-
tância que não pode ser separada em substâncias mais simples por processos
químicos. Até agora, foram identificados, sem sombra de dúvida, 118 elementos.
A maior parte deles ocorre naturalmente na Terra. Os outros foram criados pelos
cientistas por meio de processos nucleares, que são o assunto do Capítulo 19
deste livro.

Figura 1.4 (a) A mistura contém lima-


lha de ferro e areia. (b) Um ímã separa
a limalha da mistura. A mesma técnica
é usada, em uma escala maior, para
separar o ferro e o aço de objetos não
magnéticos, como o alumínio, o vidro e
(a) (b) os plásticos.
8 Química

Tabela 1.1 Alguns elementos comuns e seus símbolos


Nome Símbolo Nome Símbolo Nome Símbolo
Alumínio Al Cromio Cr Níquel Ni
Arsênio As Enxofre S Nitrogênio N
Bário Ba Estanho Sn Ouro Au
Bismuto Bi Ferro Fe Oxigênio O
Bromo Br Flúor F Platina Pt
Cálcio Ca Fósforo P Potássio K
Carbono C Hidrogênio H Prata Ag
Chumbo Pb Iodo I Silício Si
Cloro Cl Magnésio Mg Sódio Na
Cobalto Co Manganês Mn Tungstênio W
Cobre Cu Mercúrio Hg Zinco Zn

Por conveniência, os químicos usam símbolos de uma ou duas letras para


representar os elementos. A primeira letra do símbolo é sempre maiúscula, mas
as letras seguintes não. Por exemplo, Co é o símbolo do elemento cobalto, en-
quanto CO é a fórmula da molécula do monóxido de carbono. A Tabela 1.1
mostra os nomes e os símbolos dos elementos mais comuns; uma lista completa
dos elementos aparece no verso da capa do livro. Os símbolos de alguns elemen-
tos derivam dos seus nomes latinos – por exemplo, Au de aurum (ouro), Fe de
ferrum (ferro) e Na de natrium (sódio) – ao passo que a maior parte deles vem
dos seus nomes ingleses. O Apêndice 1 explica a origem dos nomes e faz uma
listagem dos descobridores da maioria dos elementos.
Os átomos da maior parte dos elementos podem interagir uns com os ou-
tros para formar compostos. O hidrogênio gasoso, por exemplo, entra em com-
bustão com o oxigênio para formar água, que tem propriedades bastante diferen-
tes das dos materiais iniciais. A água é constituída por duas partes de hidrogênio
e uma parte de oxigênio. Esta composição não se altera, quer a água venha de
uma torneira nos Estados Unidos, de um lago na Mongólia ou de um manto
de gelo de Marte. Assim, a água é um composto, uma substância composta de
átomos de dois ou mais elementos quimicamente unidos em proporções fixas.
Ao contrário do que acontece com as misturas, os compostos apenas podem ser
separados em seus componentes puros por processos químicos.
As relações entre os elementos, compostos e outras categorias de matéria
estão resumidas na Figura 1.5.

Revisão de conceitos
Quais dos seguintes diagramas representam elementos e quais representam
compostos? Cada esfera (ou esfera truncada) representa um átomo.

(a) (b) (c) (d)


Capítulo 1 ♦ Química: O estudo da transformação 9

Matéria

Separação por Substâncias


Misturas
métodos físicos puras

Misturas Misturas Separação por


Compostos Elementos
homogêneas heterogêneas métodos químicos

Figura 1.5 A classificação da matéria.

1.5 Os três estados da matéria


Todas as substâncias, pelo menos em princípio, existem em três estados: sólido,
líquido e gasoso. Como mostra a Figura 1.6, os gases diferem dos líquidos e dos
sólidos nas distâncias entre as moléculas. Em um sólido, as moléculas mantêm-
-se próximas umas das outras de uma forma ordenada com pouca liberdade de
movimento. As moléculas em um líquido estão próximas umas das outras mas
não se mantêm em uma posição rígida e podem mover-se umas em relação às
outras. Em um gás, as moléculas estão separadas por distâncias que são grandes
quando comparadas com as dimensões das moléculas.
Os três estados da matéria podem interconverter-se sem alterar a compo-
sição da substância. Por aquecimento, um sólido (por exemplo, gelo) derrete-
rá para formar um líquido (água). (A temperatura a que esta transição ocorre
chama-se ponto de fusão.) Continuando o aquecimento, o líquido se converterá
em um gás. (Esta conversão dá-se no ponto de ebulição do líquido.) Por outro
lado, o resfriamento de um gás leva à sua condensação em um líquido. Quando o
líquido é resfriado, ele congelará formando o sólido. A Figura 1.7 mostra os três

Figura 1.6 Representações microscó-


picas de um sólido, de um líquido e de
Sólido Líquido Gasoso um gás.
10 Química

Figura 1.7 Os três estados da matéria.


Um ferro quente converte gelo em água
e vapor.

estados da água. Note que as propriedades da água são únicas entre as substân-
cias comuns pelo fato de as moléculas no estado líquido estarem mais próximas
umas das outras do que no estado sólido.

Revisão de conceitos
Um cubo de gelo é colocado dentro de um recipiente que depois é fechado.
Quando aquecido, o cubo de gelo primeiro derrete-se; depois, a água ferve e
transforma-se em vapor. Qual das seguintes afirmações é verdadeira?
(a) A aparência física da água é diferente em cada fase da transformação.
(b) A massa de água é maior sob a forma de gelo e menor como vapor.

1.6 Propriedades físicas e químicas da matéria


As substâncias são identificadas pelas suas propriedades, bem como pela sua
composição. A cor, o ponto de fusão e o ponto de ebulição são propriedades fí-
sicas. Uma propriedade física pode ser medida e observada sem alterar a com-
posição ou a identidade de uma substância. Por exemplo, podemos medir o
ponto de fusão do gelo aquecendo um bloco de gelo e registrando a temperatura
Capítulo 1 ♦ Química: O estudo da transformação 11

a que este se converte em água. A água difere do gelo apenas na aparência, não
na composição, logo, esta é uma transformação física; podemos congelar a água
e recuperar o gelo original. Portanto, o ponto de fusão de uma substância é uma
propriedade física. Do mesmo modo, quando dizemos que o gás hélio é mais
leve do que o ar, estamos nos referindo a uma propriedade física.
Por outro lado, a afirmação “O hidrogênio entra em combustão com o oxi-
gênio para formar água” descreve uma propriedade química do hidrogênio, por-
que para observar esta propriedade temos de realizar uma transformação quí-
mica, neste caso, a combustão. Depois da transformação, a substância original, o
hidrogênio, terá desaparecido e tudo o que restará será uma substância química
diferente – água. Não é possível recuperar o hidrogênio da água recorrendo a
uma transformação física, como ferver ou congelar.
Sempre que cozinhamos um ovo, realizamos uma transformação química.
Quando submetidas a uma temperatura de cerca de 100°C, a gema e a clara
do ovo sofrem mudanças que alteram não só o seu aspecto, mas também a sua
constituição química. Ao ser injerido, o ovo é novamente transformado por subs-
tâncias nos nossos corpos chamadas enzimas. Esta ação digestiva é outro exem-
plo de transformação química. O que acontece durante a digestão depende das Hidrogênio em combustão no ar para
propriedades químicas, quer das enzimas, quer dos alimentos. formar água.
Todas as propriedades mensuráveis da matéria podem ser classificadas em
uma de duas categorias: propriedades extensivas e propriedades intensivas. O
valor medido de uma propriedade extensiva depende da quantidade de matéria
considerada. A massa, que é a quantidade de matéria em uma dada amostra de
substância, é uma propriedade extensiva. Mais matéria significa mais massa.
Valores da mesma propriedade extensiva podem ser adicionados. Por exemplo,
duas moedas de cobre terão uma massa que é a soma das massas de cada moeda,
e o comprimento de duas quadras de tênis é a soma dos comprimentos de cada
quadra. O volume é outra propriedade extensiva. O valor de uma propriedade
extensiva depende da quantidade de matéria.
O valor medido de uma propriedade intensiva não depende da quantidade
de matéria considerada. A densidade, definida como a massa de um objeto di-
vidida pelo seu volume, é uma propriedade intensiva, assim como a temperatura.
Suponhamos que temos dois béqueres com água à mesma temperatura. Se os
combinarmos de modo a obter uma única quantidade de água em um béquer
maior, a temperatura da quantidade maior de água será a mesma que nos dois
béqueres separados. Ao contrário da massa, do comprimento ou do volume, a
temperatura e outras propriedades intensivas não são aditivas.

Revisão de conceitos
O diagrama em (a) mostra um composto formado por átomos de dois
elementos (representado pelas esferas de cor diferente) no estado líquido.
Quais dos diagramas (b) a (d) representam uma alteração física e quais re-
presentam uma alteração química?

(a) (b) (c) (d)


Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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