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CARBONO: ESSENCIAL E
VERSÁTIL
Página Inicial ! Artigo

Considerado vilão da crise


climática, elemento químico é
essencial para a existência de
todos os organismos vivos do
planeta Terra e é o mais versátil
da tabela periódica, com
inúmeras aplicações em nosso
cotidiano.

Do lápis ao diamante, do carboidrato à


proteína, do DNA à respiração. O carbono,
conhecido como o ‘elemento da vida’, está
presente em tudo isso e muito mais. Nós,
humanos, e todos os organismos vivos da
Terra somos constituídos por muitas
moléculas baseadas em carbono. A incrível
versatilidade desse elemento permite que
ele esteja no simples carvão do churrasco e
que forme materiais complexos como os
nanotubos de carbono, com inúmeras
aplicações na vida moderna. Por outro lado,
é considerado o grande vilão do
aquecimento global, embora a
responsabilidade pelo aumento de suas
emissões seja, na verdade, dos humanos.

Sem ele, a vida não seria possível. O carbono,


primeiro elemento do grupo 14 da tabela
periódica, é o principal responsável pela vida
na forma como a conhecemos. Tudo que é
vivo na Terra é constituído por um grande
número de moléculas baseadas em carbono,
que, junto com nitrogênio, hidrogênio e
oxigênio, corresponde a praticamente 98%
dos elementos químicos presentes em
qualquer organismo. Mas, nesse quarteto, o
papel central é do carbono

Elemento usado desde a


pré-história
O carbono é o sexto elemento mais
abundante do universo, mas é o 19°
em quantidade na crosta terrestre,
representando 0,025% dos
elementos químicos existentes – o
oxigênio está em primeiro lugar, com
aproximadamente 50%, seguido de
26% de silício, 8% de alumínio, 5%
de ferro, 4% de cálcio, 3% de sódio.
Apesar de estar em menor
quantidade em nosso planeta, o
carbono é responsável por um
número de compostos e moléculas
conhecidas maior do que todos os
outros elementos juntos.

O nome carbono é originário da


palavra grega carbo, que significa
carvão. A primeira descrição do
carbono como elemento químico se
deu em 1779 pelo químico francês
Antoine Lavoisier (1743-1794),
considerado o pai da química
moderna. Mas seu uso é bem mais
antigo. Há registros da utilização do
carvão pelo ser humano desde a pré-
história, e evidências de que os
chineses conheciam o diamante em
aproximadamente 2.500 a.C. Sabe-se
também que algumas civilizações no
sudeste da Europa usavam grafite
como pigmento para decoração por
volta de 4.000 a.C.

A vida escolheu o carbono por um motivo


simples: é o único elemento com estrutura
atômica adequada à formação de ligações
químicas estáveis e variadas com um número
grande de elementos químicos. E mais
importante ainda: apresenta fantástica
capacidade de se ligar a outros átomos de
carbono, originando moléculas com
diferentes tamanhos e arranjos. Essas amplas
possibilidades permitem a ocorrência de
moléculas simples como o CO2, que expelimos
durante a respiração, e de moléculas com alto
grau de complexidade, como o DNA, que
contém toda a informação relacionada à
nossa individualidade.

Mas por que determinados átomos são mais


propícios a se ligar a outros? No caso do
carbono, isso se deve à sua configuração
eletrônica, ou seja, a forma como seus seis
elétrons estão dispostos energeticamente.
Tal disposição possibilita muitas alternativas,
incluindo ligações consigo próprio – criando
cadeias ou conglomerados de átomos ligados,
o que faz com que o número de combinações
seja incontável. Assim, é praticamente infinito
o número de moléculas baseadas em
carbono!

Do lápis ao diamante
Parece impossível acreditar, mas o diamante
e o grafite (usado nos lápis) possuem
exatamente a mesma composição química:
somente átomos de carbono. Mas, se são
formados exclusivamente pelo mesmo
elemento químico, como podem ser tão
diferentes? A resposta está na característica
que faz do carbono o ‘elemento da vida’: as
diversas formas como seus átomos de
carbono se ligam e se organizam são capazes
de originar substâncias muito diferentes.

No diamante, cada átomo de carbono está


diretamente ligado a outros quatro, que, por
sua vez, estão ligados a outros quatro, e
assim sucessivamente.

Já no grafite, cada átomo de carbono se liga a


outros três, todos no mesmo plano, formando
estruturas que se parecem com o desenho de
uma colmeia, originando folhas planares com
um único átomo de espessura. Várias dessas
folhas se empilham umas sobre as outras,
como se fossem um pão de forma ou um
monte de cartas de baralho, formando o
grafite.

Uma das propriedades do grafite é sua


‘maciez’, que se deve justamente ao
deslizamento dessas folhas umas sobre as
outras, por fricção. Quando escrevemos, o
pedaço de grafite que sai do lápis e fica
grudado no papel foi rompido por esse
deslizamento das folhas, causado pela fricção
do papel sobre o lápis. Já o diamante é
extremamente duro, decorrente da estrutura
formada pelas quatro ligações químicas de
cada átomo.

Estrutura do diamante (A) e do grafite (B),


materiais muito diferentes formados
apenas por átomos de carbono.

Fulerenos e nanotubos
Mas, além do diamante e do grafite, existem
outras substâncias formadas somente por
átomos de carbono: em 1985, foi descoberto o
fulereno, um composto molecular
representado pela fórmula C60. Nessa
molécula, os 60 átomos de carbono estão
ligados uns aos outros formando uma
estrutura esférica, possível de ser atingida
por meio da alternância de pentágonos e
hexágonos, como uma bola de futebol
perfeita

A estrutura química do fulereno, substância


com 60 átomos de carbono, forma uma bola
de futebol perfeita.

Os três cientistas envolvidos na descoberta


da molécula de fulereno – Henry Kroto, da
Universidade de Sussex, Inglaterra; Robert
Curl e Richard Smalley, ambos da
Universidade Rice, nos Estados Unidos –
foram premiados com o Nobel de Química em
1996.

Um pouco antes disso, em 1991, o químico


japonês Sumio I!ima, ao observar amostras
de fulereno em um microscópio eletrônico de
transmissão, notou a presença de outras
estruturas bastante diferentes e intrigantes.
Depois de analisá-las, o cientista se deu
conta de que as estruturas se tratavam de
uma nova substância elementar formada
somente por carbono. Assim, se deu uma das
mais fantásticas descobertas recentes da
ciência: os nanotubos de carbono.

Sabe aquela folha onde cada átomo de


carbono se liga a outros três, formando uma
estrutura planar que se parece com uma
colmeia, e cujo empilhamento dá origem ao
grafite? Imagine que essa folha pode se
enrolar, formando tubos, mas com uma
característica peculiar: o diâmetro desses
tubos está na faixa de alguns nanômetros (um
nanômetro corresponde a um bilionésimo de
metro, que é 10-9 m ou 0,000000001 m. Para
efeito de comparação, 1 nanômetro é 70 mil
vezes menor que o diâmetro de um fio de
cabelo). Essa é a estrutura dos nanotubos de
carbono.

Existem diferentes formas de enrolar uma


folha de átomos de carbono. Pode-se também
enrolar várias folhas juntas, formando tubos
com várias folhas concêntricas. Cada uma
dessas possibilidades origina um nanotubo de
carbono diferente, que se caracteriza pelo
número e pela maneira com que as camadas
concêntricas estão enroladas e pelo diâmetro
do tubo.

A descoberta dos nanotubos de carbono


causou grande alvoroço na comunidade
científica pela beleza da sua estrutura, mas,
principalmente, pelas propriedades
fantásticas desses alótropos (substâncias
diferentes formadas pelo mesmo elemento
químico). São os materiais com a maior
resistência mecânica conhecida, mas são
também extremamente leves; podem ser
mais condutores que o cobre, ou então
apresentar propriedades de um semicondutor
como o silício; além de transportarem melhor
o calor do que qualquer outra substância.

Por todas essas características, são muitas


as possibilidades de aplicação útil dos
nanotubos de carbono. Praticamente todas as
áreas do conhecimento relacionadas ao
nosso cotidiano são ou serão impactadas por
esse material: agricultura, medicina, cuidados
pessoais, informática, eletrônica, química,
física, biologia, comunicações, engenharias
etc.

Vários produtos contendo nanotubos de


carbono já estão no mercado, entre eles,
materiais esportivos de alto desempenho
(bicicletas de corrida, raquetes de tênis,
remos, tacos de beisebol etc.), equipamentos
eletrônicos como celulares e tablets, células
solares, plásticos resistentes, para-choques
de automóveis e tintas condutoras.

Outras faces do carbono


Mas esse versátil carbono ainda tem outra
face. Lembra-se daquela folha onde cada
átomo de carbono se liga a outros três,
formando uma estrutura planar que se parece
com uma colmeia? Aquela que empilhada dá
origem ao grafite e enrolada forma o
nanotubo de carbono? Imagine agora essa
folha isolada. Essa é a estrutura do grafeno,
outra substância elementar formada somente
por átomos de carbono e considerada o
material mais fino que se conhece (tem a
espessura de um único átomo de carbono,
com dimensões laterais que podem chegar
até a centímetros). Foi isolado a partir do
grafite em 2004, pelos cientistas André Geim
e Konstantin Novoselov, da Universidade de
Manchester, na Inglaterra, que, por esse
trabalho, conquistaram o Prêmio Nobel de
Física de 2010.

O grafeno (A) é a substância mais fina que


se conhece, com espessura de um átomo.
Suas folhas, enroladas em forma de tubos
com diâmetro de alguns nanômetros, dão
origem aos nanotubos de carbono (B)

O grafeno apresenta propriedades singulares


por sua peculiar espessura monoatômica.
Isso faz com que os elétrons presentes na sua
estrutura fiquem livres para se movimentar e
não sejam perturbados pelos elétrons de
folhas adjacentes. Essa substância também
apresenta propriedades mecânicas e
térmicas muito parecidas com as dos
nanotubos de carbono, o que lhes confere
também inúmeras aplicações tecnológicas.

E a lista não para por aí: o carbono ainda


constitui outras substâncias com estruturas
não claramente definidas, porque os átomos
não adotam posições regulares e nem se
comportam da mesma maneira. As estruturas
com essas características – genericamente
conhecidas como carbono amorfo – também
contêm certa quantidade de outros
elementos, como oxigênio e hidrogênio. O
carvão, a fuligem, o negro-de-fumo e o
carbono vítreo são alguns dos representantes
dessa classe de materiais.

Carbono e meio ambiente


O carbono pode ficar estocado em mares,
rios, solos, vegetação, atmosfera e seres
vivos. A representação de onde (e como) o
carbono está estocado e como o elemento se
movimenta de um desses reservatórios a
outro é chamada de ciclo do carbono. Esse
ciclo é complexo e costuma ser dividido em
um componente geológico (relacionado ao
transporte de carbono da atmosfera para
solos e oceanos, em processos que duram
milhões de anos) e um componente biológico,
que acontece em uma escala de tempo muito
menor e envolve basicamente (mas não
exclusivamente) os processos de respiração
(liberação de carbono na forma de CO2 para a
atmosfera) e de fotossíntese (captura do CO2
atmosférico pelas plantas).

O carbono pode ficar estocado em mares,


rios, solos, vegetação, atmosfera e seres
vivos e se movimenta entre esses
reservatórios por meio de processos
geológicos e biológicos.

Por meio da fotossíntese, utilizando água e a


energia da luz solar, as plantas absorvem o
CO2 do ar para produzir glicose. Enquanto
plantas e organismos vivos usam diferentes
carboidratos para gerar energia para seu
próprio metabolismo, a respiração faz o
processo inverso, liberando CO2 para a
atmosfera.

Além da fotossíntese e da respiração, o


componente biológico do ciclo do carbono
envolve outros processos, como a conversão
de espécies enterradas (após a morte) nos
chamados combustíveis fósseis, como o
petróleo, que, ao ser extraído e usado como
combustível, devolve o CO2 à atmosfera.

Com o processo de industrialização e


aumento da demanda energética, o ser
humano tem aumentado sobremaneira o uso
de combustíveis fósseis, o que tem causado
um aumento nas taxas de emissão de CO2
para a atmosfera, desequilibrando o ciclo do
carbono. Ou seja, muito mais gás carbônico
está chegando à atmosfera do que a
quantidade que pode fazer o caminho inverso
pelos processos conhecidos. O
desmatamento crescente também contribui
para esse desequilíbrio.

O excesso de gás carbônico é o principal


responsável pelo chamado ‘efeito estufa’, que
aumenta o aquecimento global do planeta,
devido ao excesso de CO2 que se acumula na
atmosfera e impede que a radiação
infravermelha (responsável pelo calor que
sentimos quando ficamos sob o Sol) refletida
pela superfície da Terra seja dissipada. O
resultado é um aumento da temperatura
média do planeta, que causa prejuízos à vida
(pois o metabolismo de vários
microrganismos é alterado), além de provocar
derretimento de gelo acumulado nas calotas
polares, o que aumenta o nível dos mares e
oceanos, podendo levar a inundações,
maremotos e tsunamis.

A diminuição da taxa de emissão de CO2 para


a atmosfera deve ser encarada como um dos
grandes desafios para a humanidade, e
depende de ações políticas e de mudanças
comportamentais, como o contínuo
investimento em novas formas de geração de
energia que não dependam de combustíveis
fósseis, a substituição dos automóveis
tradicionais pelos veículos elétricos e pelo
transporte coletivo, entre tantas outras. O
vilão do meio ambiente, portanto, não é o
carbono (como muitos pensam), mas sim o
ser humano, responsável por sua emissão de
forma desgovernada.

Aldo J.G. Zarbin

Departamento de Química,
Universidade Federal do Paraná

Matéria publicada em 19.07.2019

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