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Autor

Oficial da Polícia Militar do estado de São Paulo, formado pela Aca-


demia de Polícia Militar do Barro Branco em 1993. Mestre e doutor em
Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pelo Centro de Altos
Estudos de Segurança Cel PM Nelson Freire Terra. Formado em Direito
pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo e especialista em
Direito Público pela Escola Paulista de Direito. Formado em Engenharia
Civil pela Universidade de Guarulhos. Trabalha no Corpo de Bombeiros,
no estado de São Paulo, desde 1994, onde exerceu diversas atividades
operacionais e administrativas. Em razão das funções exercidas no De-
partamento de Prevenção, órgão que gerencia o Serviço de Segurança
contra Incêndio no Estado de São Paulo, especializou-se na área de pre-
venção e contribuiu para a publicação do Código Estadual de Seguran-
ça contra Incêndio, com a revisão das Instruções Técnicas do Corpo de
Bombeiros de São Paulo, com a informatização dos serviços técnicos, por
meio da criação do sistema Via Fácil Bombeiros, e com a simplificação do
processo de licenciamento das empresas, por meio da integração com a
Junta Comercial, entre outras atividades que buscaram a excelência da
gestão e dos serviços prestados ao cidadão.
Agradecimentos

A Deus, por habitar em nosso coração e por nos guiar na luta pelo
dever, sempre trilhando o caminho do bem, do bom e do belo.
Aos meus familiares, por terem se sobrecarregado em seus afazeres
diários para que eu pudesse me dedicar a este trabalho.
Ao Coronel PM Adilson Antonio da Silva, pelos valiosos ensinamen-
tos ao longo da carreira e pelas recomendações e direcionamentos nesta
obra.
Aos oficiais e praças do Comando do Corpo de Bombeiros de São Pau-
lo, em especial do Departamento e Prevenção, por depositarem sua con-
fiança neste trabalho e por colaborarem para que ele fosse conduzido com
êxito.
Aos representantes dos Corpos de Bombeiros Militares de outros es-
tados, que dispuseram do seu valioso tempo para dar alguma contribui-
ção, reconhecendo, assim, a importância deste trabalho.
À superintendência e aos demais integrantes da ABNT/CB-24 – Co-
mitê Brasileiro de Segurança contra Incêndio, pelo apoio incondicionado
na obtenção de informações com as partes interessadas no setor.
Aos representantes das associações de fornecedores, organismos de
certificação, laboratórios de ensaio e demais partes interessadas, que
contribuíram com valiosas informações e sugestões para a presente obra.
A todos que, de alguma forma, contribuíram para o trabalho, esclare-
cendo que esta proposta inicial deverá ser avaliada por todos os interes-
sados e, com certeza, será melhorada com a contribuição de pessoas mais
esclarecidas e experientes.
“A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo.” (Peter Drucker)

“A qualidade nunca se obtém por acaso; ela é sempre o resultado do


esforço inteligente.” (Jonh Ruskin)
Resumo

O presente trabalho tem como principal objetivo propor uma forma


de atuação dos Corpos de Bombeiros Militares na atividade de certifica-
ção de produtos de segurança contra incêndio. A segurança contra incên-
dios é um dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, e deve
ser exercida pelos Corpos de Bombeiros Militares. A qualidade da segu-
rança contra incêndio nas edificações e áreas de risco somente poderá ser
garantida se ela for observada em todas as vertentes, sendo necessário
um bom regulamento técnico, um bom projeto técnico, bem como produ-
tos e instalações adequadas. Com base em um estudo sobre a qualida-
de dos chuveiros automáticos no Brasil, verificou-se que os produtos de
segurança contra incêndio apresentam sérios problemas de não confor-
midade, incorrendo em falha de funcionamento e afetando diretamente
a segurança do consumidor. A falta de regulação do setor tem afetado
também a concorrência no mercado, e o próprio Corpo de Bombeiros, que
vê prejudicado seu esforço despendido na área de prevenção. O Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia não tem oferecido pro-
gramas de avaliação da conformidade dentro das expectativas do setor
e, de alguma maneira, uma medida alternativa deve ser tomada para
que o presente cenário de desconfiança seja revertido no futuro. Além
da proposta principal, buscou-se trazer à luz dos integrantes dos Corpos
de Bombeiros, e da comunidade técnica que atua no setor de segurança
contra incêndio, todo o arcabouço jurídico nacional que regula a ativida-
de de avaliação da conformidade, de forma a nivelar os conhecimentos e
dirimir as dúvidas existentes, proporcionando a tomada de decisões mais
acertadas. Para verificar a complexidade do problema e balizar futuras
ações, foi realizada uma avaliação do cenário atual no Brasil, em relação
aos principais produtos de segurança contra incêndio, para conhecer so-
bre a existência de programas de avaliação da conformidade, de normas
técnicas, de associações de fornecedores, de laboratórios de ensaio, e de
organismos de avaliação da conformidade. Pesquisas com os Corpos de
Bombeiros dos estados, com empresas que atuam no setor e com espe-
cialistas ajudaram a indicar alguns caminhos alternativos que poderiam
ser adotados para implementar uma regulação e melhorar a qualidade
dos produtos de segurança contra incêndio.

Palavras-chave: Corpos de Bombeiros Militares. Segurança contra in-


cêndio. Certificação de produtos de segurança contra incêndio. Chuveiros
automáticos. Proposta de atuação dos Corpos de Bombeiros Militares.
Abstract

The present work has as main objective to propose a form of action of the
Military Fire Departments in the activity of certification of fire safety pro-
ducts. Fire safety is a duty of the State, right and responsibility of all, and
should be exercised by the Military Fire Departments. The quality of fire
safety in buildings and risk areas can only be guaranteed if it is observed
in all aspects, and a good technical regulation, good technical design,
adequate products, and installations are required. Based on a study on
the quality of sprinklers in Brazil, it was found that fire safety products
present serious non-compliance problems, resulting in a malfunction and
directly affecting consumer safety. The lack of regulation in the sector has
also affected competition in the market, and the Fire Department itself,
which has been hampered by its efforts in the area of prevention. The
National Institute of Metrology, Quality and Technology has not offered
programs of conformity assessment within the expectations of the sector
and, somehow, an alternative measure must be taken, so that the present
scenario of distrust is reversed in the future. In addition to the main pro-
posal, it was sought to bring to light the members of the fire brigades,
and the technical community that operates in the field of fire safety, the
entire national legal framework that regulates the activity of conformity
assessment, in order to level the Knowledge and resolve existing doubts,
providing the most accurate decision-making. In order to verify the com-
plexity of the problem and to mark future actions, an assessment was
made of the current scenario in Brazil, in relation to the main fire safety
products, to know about the existence of conformity assessment programs,
technical standards, associations of Suppliers, testing laboratories, and
conformity assessment bodies. Surveys with the State Fire Departments,
companies in the industry, and experts helped identify some alternative
paths that could be taken to implement regulation and improve the qua-
lity of fire safety products.

Keywords: Military Fire Departments. Fire Prevention. Fire Safety Pro-


ducts Certification. Sprinklers. Proposed action of the Military Fire De-
partments.
Lista de figuras

Figura 1 – Hierarquia do Regulamento de Segurança contra Incêndio


Figura 2 – Estrutura do SINMETRO
Figura 3 – Classificação da avaliação quanto ao agente econômico
Figura 4 – Cadeia de acreditação do SBAC
Figura 5 – Custo X benefício da Avaliação da Conformidade
Figura 6 – Selos de identificação do INMETRO
Figura 7 – Equação de qualidade da Segurança contra Incêndio
Figura 8 – Chuveiros automáticos que derretem com o fogo
Figura 9 – Chuveiro automático que faz uso de “O-Ring”
Figura 10 – “O-Ring” encontrado nos chuveiros automáticos submetidos
a testes
Figura 11 – Lodgment (obstrução)
Figura 12 – Resultado do teste de lodgment (obstrução de bico)
Figura 13 – Teste de índice de tempo de resposta (RTI)
Figura 14 – Teste de carga de montagem
Figura 15 – Teste de engradado de madeira
Figura 16 – Página de consulta de organismos acreditados pelo
INMETRO
Figura 17 – Retorno de OCP acreditados pelo INMETRO no escopo
“incêndio”
Lista de gráficos

Gráfico 1 – Importação de chuveiros automáticos no Brasil


Gráfico 2 – Quantidade de importação de bicos certificados e
não certificados
Gráfico 3 – Porcentagem de importação de bicos certificados e
não certificados
Gráfico 4 – Porcentagem de importação de bicos certificados e
não certificados
Gráfico 5 – Resultado da Questão 1 dos bombeiros
Gráfico 6 – Resultado da Questão 2 dos bombeiros
Gráfico 7 – Resultado da Questão 3 dos bombeiros
Gráfico 8 – Resultado da Questão 5 dos bombeiros
Gráfico 10 – Resultado ada Questão 1 das partes interessadas
Gráfico 11 – Resultado da Questão 2 das partes interessadas
Gráfico 12 – Resultado da Questão 4 das partes interessadas
Gráfico 13 – Resultado da Questão 5 das partes interessadas
Gráfico 14 – Resultado da Questão 6 das partes interessadas
Lista de quadros

Quadro 1 – Grau de prioridade de classificação dos produtos de


segurança contra incêndio pelo INMETRO
Quadro 2 – Resultado da situação dos produtos de segurança
contra incêndio
Quadro 3 – Resultado completo do levantamento da situação dos
produtos
Lista de abreviaturas e siglas

ABICHAMA – Associação Brasileira da Indústria de Retardantes de


Chama
ABIEX – Associação Brasileira das Indústrias de Equipamentos contra
Incêndio e Cilindros de Alta Pressão
ABINEE – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABRAVA – Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado,
Ventilação e Aquecimento
ABSpK – Associação Brasileira de Sprinkler
DRYWALL – Associação Brasileira dos Fabricantes de Chapas para
Drywall
CAES – Centro de Altos Estudos em Segurança
CB-24 – Comitê Brasileiro de Segurança contra incêndio da ABNT
CBAC – Comitê Brasileiro de Avaliação da Conformidade
CBM – Comitê Brasileiro de Metrologia
CBN – Comitê Brasileiro de Normalização
CBPMESP – Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São
Paulo
CBR – Comitê Brasileiro de Regulamentação
CBTC – Comitê Brasileiro de Coordenação de Barreiras Técnicas
ao Comércio
CCAB – Comitê Codex Alimentarius do Brasil
CF – Constituição Federal
CFBC – Centros de Formação de Bombeiros Civis
CONMETRO – Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial
CREA – Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
EA – European Co-operation for Accreditation
FAT – Formulário de Atendimento Técnico
FM – Factory Mutual
GBPR – Guia de Boas Práticas de Regulamentação
GSI – Grupo de Fomento à Segurança contra Incêndio
IAAC – Interamerican Accreditation Cooperation
IAF – International Accreditation Forum
IEC – International Electrotechnical Commission
ILAC – International Laboratory Accreditation Cooperation
ISB – Instituto Sprinkler Brasil
IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
IT – Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros
ITU – International Telecommunication Union
INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
IPEM – Instituto de Pesos e Medidas
ISO – International Organization for Standardization
LIGABOM – Liga Nacional dos Bombeiros
OAC – Organismo de Avaliação da Conformidade
OCA – Organismos de Certificação de Sistema de Gestão Ambiental
OCO – Organismos de Certificação de Obras
OCP – Organismos de Certificação de Produtos
OCS – Organismos de Certificação de Sistema da Qualidade
OIC – Organismos de Inspeção Acreditados
OPC – Organismos Acreditados de Certificação de Pessoal
OVD – Organismos de Verificação de Desempenho
PBAC – Programa Brasileiro de Avaliação da Conformidade
RAC – Requisitos de Avaliação da Conformidade
RBMLQ-I – Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade –
INMETRO
RGCP – Requisitos Gerais de Avaliação da Conformidade
RTQ – Regulamento Técnico da Qualidade
SBAC – Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade
SBN – Sistema Brasileiro de Normalização
SBM – Sistema Brasileiro de Metrologia
SINMETRO – Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial
UL – Underwriters Laboratories
Sumário

Autor
Agradecimentos
Resumo
Abstract
Lista de figuras
Lista de gráficos
Lista de quadros
Lista de abreviaturas e siglas

1 – Introdução

2 – Segurança contra incêndio


2.1 Conceituação de segurança contra incêndio
2.2 Competência dos Corpos de Bombeiros Militares

3 – Metrologia, normalização e qualidade industrial


3.1 Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial
3.2 Definições e conceitos básicos da avaliação da conformidade
3.2.1 Certificação
3.2.2 Declaração da Conformidade do Fornecedor
3.2.3 Inspeção
3.2.4 Ensaio
3.3 Programa Brasileiro de Avaliação da Conformidade
3.4 Requisitos essenciais para certificação de produtos7

4 – Análise do cenário nacional quanto à avaliação da


conformidade dos produtos de segurança contra incêndio
4.1 A qualidade dos produtos de segurança contra incêndio
4.2 Situação atual da certificação dos produtos de segurança
contra incêndio
4.3 Papel dos Corpos de Bombeiros Militares frente às
recentes demandas para certificação dos produtos de segurança
contra incêndio
5 – Pesquisas e entrevistas
5.1 Resultado da pesquisa com os representantes dos Corpos
de Bombeiros Militares de outros estados
5.2 Resultado da pesquisa com as Associações de Fabricantes
de Produtos de Segurança contra Incêndio e Partes Interessadas
5.3 Resultado da pesquisa sobre a situação dos produtos
de segurança contra incêndio no Brasil
5.4 Resultado das entrevistas com especialistas
5.4.1 Entrevista com Vladson Athayde
5.4.2 Entrevista com Glória Benazzi
5.4.3 Entrevista com Marcelo Olivieri de Lima
5.4.4 Entrevista com Sergio Pacheco
5.4.5 Entrevista com Antonio Fernando Berto
5.4.6 Entrevista com Walter Negrisolo
5.4.7 Entrevista com José Carlos Tomina
5.5 Resultado do encontro técnico com as partes interessadas
5.6 Resultado da pesquisa de programas de avaliação da
conformidade não regulamentados pelo INMETRO

6 – Proposta de atuação dos Corpos de Bombeiros na atividade


de certificação de produtos de segurança contra incêndio
6.1 Da criação de uma base legal e das premissas para atuação
6.2 Parceria com associações de fabricantes ou similares
6.3 Identificação e priorização das demandas
6.4 Estudo de Impacto e Viabilidade
6.5 Desenvolvimento ou adoção do procedimento de avaliação
de produto
6.6 Implantação do programa de certificação
6.7 Acompanhamento no mercado
6.8 Aperfeiçoamento ou desregulação

7 – Conclusão

Referências

APÊNDICE A – PROPOSTA DE LEVANTAMENTO DO MERCADO


DE PRODUTOS DE SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO
APÊNDICE B – PROPOSTA DE REQUISITOS GERAIS
PARA CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS DE SEGURANÇA
CONTRA INCÊNDIO
1 – Introdução

Na avaliação e no planejamento da segurança de uma coletividade,


mormente em um aspecto urbanístico, um dos tópicos a serem observa-
dos é a segurança contra incêndios.
Em que pese a segurança contra incêndio estar em evidência nos úl-
timos anos, de uma maneira geral, o Brasil ainda dá pouca importância a
essa questão, dado que não há legislação federal que regule a segurança
contra incêndio no país, deixando a cargo dos estados esse dever.
No estado de São Paulo, de acordo com o artigo 16 da Lei Comple-
mentar nº 1.257, de 6 de janeiro de 2015, que instituiu o Código de Pro-
teção contra Incêndios e Emergências, ficou expresso que a segurança
contra incêndios é um dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos, e deve ser exercida pelo Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do
Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2015).
Talvez com outros dizeres, esse texto repete-se nos demais estados
da federação, que regulam, por meio de seus Códigos Estaduais, a pro-
teção contra incêndio e os serviços prestados pelo Corpos de Bombeiros
Militares, uma vez que não há lei nacional que estabeleça os princípios,
os objetivos e as diretrizes gerais para atuação.
Após o incêndio da boate Kiss, no estado do Rio Grande do Sul, além
da exigência de medidas de segurança contra incêndio nas edificações, os
Corpos de Bombeiros ampliaram sua atenção para a avaliação da confor-
midade dos produtos instalados.
É fato que de nada adianta um bom projeto de segurança contra in-
cêndio, bem dimensionado de acordo com as Instruções Técnicas (IT) e
aprovado pelo Corpo de Bombeiros, se os equipamentos instalados forem
de qualidade contestável.
E, ainda, pouco importa a edificação possuir o Auto de Vistoria do
Corpo de Bombeiros (AVCB) se os equipamentos instalados funcionarem
apenas durante a inspeção do Corpo de Bombeiros, com uma probabili-
dade muito grande de não funcionarem a médio e longo prazo, por não
possuírem certificação da sua real qualidade.
A qualidade da segurança contra incêndio nas edificações e áreas
de risco somente pode ser garantida se, em todas as fases do processo
25
de prevenção, for plenamente observada, ou seja, é necessária uma boa
normalização técnica, um bom Projeto Técnico de segurança contra In-
cêndio, produtos de segurança contra incêndio de qualidade e instalação
realizada por pessoal devidamente capacitado e treinado.
É importante para os Corpos de Bombeiros ampliar a gama de pro-
dutos de segurança contra incêndio certificados; porém, há muita depen-
dência de terceiros nesse processo, tais como o Instituto Nacional de Me-
trologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), organismos de avaliação
da conformidade, laboratórios e associações afins.
Atualmente, há projetos de lei em âmbito nacional e em alguns es-
tados que dispõem sobre a exigência de certificação de produtos de segu-
rança contra incêndio; no entanto, a simples previsão legal dessa exigên-
cia não é suficiente para que a medida seja eficaz e efetiva.
A solução para tais problemas não é tão simples, pois são muitas as
variáveis que envolvem a atividade de certificação, como a existência de
normas técnicas nacionais e de laboratórios; até hoje, não foi feito um
estudo aprofundado no âmbito dos Corpos de Bombeiros sobre o tema,
dificultando assim a definição de procedimentos acertados para se exigir
a certificação em âmbito estadual.
De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),
na norma ISO IEC Guia 2, a avaliação da conformidade é um exame sis-
temático do grau de atendimento por parte de um produto, processo ou
serviço a requisitos especificados (ABNT, 2006).
A certificação é o mecanismo de avaliação da conformidade por ex-
celência, sendo realizada por uma terceira parte, ou seja, por um orga-
nismo independente que não tem ligação com os negócios, por meio do
qual pode ser avaliado o produto durante a fabricação e o pós-venda, bem
como o sistema de gestão da empresa, garantindo a rastreabilidade do
produto.
É evidente que a certificação não deve ser vista como uma solução
para todos os problemas da qualidade e muito menos como um sinônimo
de reconhecimento internacional, mas é um grande passo para que os
consumidores tenham mais confiança de que o produto atende às nor-
mas técnicas específicas, dando-lhes maior confiança e segurança para
decidir.
A certificação assegura ainda aos fornecedores um mercado mais jus-
to e homogêneo, no qual a inteligência de marketing é que faz a diferença
26
e facilita a abertura de novos negócios de exportação, ao superar barrei-
ras técnicas existentes em outros mercados.
As associações de fabricantes e a comunidade técnica que milita na
área de segurança contra incêndio, por diversas vezes, já se manifes-
taram solicitando aos Corpos de Bombeiros Militares ações efetivas no
sentido de fomentar ou exigir a certificação dos produtos de segurança
contra incêndio.
Atualmente, no mercado nacional, apenas os extintores de incêndio
e seus acessórios (indicador de pressão e pó para extinção de incêndio)
possuem certificação compulsória pelo INMETRO.
Alguns produtos podem ser certificados voluntariamente no mercado
nacional, tais como mangueiras de incêndio, esguichos reguláveis, chu-
veiros automáticos e portas corta-fogo; no entanto, a maioria dos produ-
tos usados na segurança contra incêndio não tem normas de testes ou
padrões nacionais para avaliação de sua qualidade.
Sem a exigência de um órgão estatal, a disponibilização de certifica-
ções voluntárias no Brasil, a exemplo do que acontece com o mercado de
chuveiros automáticos, pouco altera a situação crítica do mercado, em
que a maioria dos produtos é importada e utilizada sem nenhum critério
de avaliação da conformidade.
Como a certificação de produtos de segurança contra incêndio ainda é
incipiente no Brasil, para não dizer quase que inexistente, se comparado
com Estados Unidos, Canadá e diversos países da Europa, os Corpos de
Bombeiros acabam sendo questionados pelas empresas sobre a aceitabi-
lidade de determinados produtos.
Por não haver uma regra pré-definida para a aceitação desses pro-
dutos, o Corpo de Bombeiros o faz de maneira precária e sem o envolvi-
mento de laboratórios independentes, ficando refém dos dados fornecidos
pelas empresas e da experiência profissional de quem está avaliando.
Enquanto não há um procedimento definido pelos Corpos de Bom-
beiros, as associações de fabricantes acabam tomando a iniciativa e
criam programas de certificação próprios, definindo requisitos para a
avaliação da conformidade dos produtos de seus associados. Tal prática
visa melhorar a qualidade dos produtos; no entanto, os procedimentos
não apresentam uniformidade e universalidade, podendo gerar seg-
mentação e protecionismos no setor.
Há necessidade de definir os procedimentos quando não houver a
certificação pelo INMETRO, de modo a se estabelecer a correta manifes-
27
tação do Corpo de Bombeiros frente aos produtos de segurança contra
incêndio, sobretudo os novos e os importados, contribuindo ativamente
para a avaliação da conformidade dos produtos.
A presente proposta, oferecida aos Corpos de Bombeiros Militares e
às partes interessadas, originou-se da necessidade de se estudar melhor
o tema da certificação de produtos de segurança contra incêndio, bus-
cando definir uma estratégia para a sua implantação no estado de São
Paulo.
Inicialmente, foi apresentada uma tese pelo autor ao Centro de Altos
Estudos de Segurança Cel PM Nelson Freire Terra da Polícia Militar
do Estado de São Paulo, como parte dos requisitos para a aprovação no
programa de Doutorado Profissional em Ciências Policiais de Segurança
e Ordem Pública, em outubro de 2016.
Ao final da pesquisa, ficou claro que o trabalho poderia muito bem
ser adaptado e oferecido aos demais Corpos de Bombeiros Militares, à
Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), à Liga Nacional
dos Bombeiros (LIGABOM) e à comunidade técnica, em especial àqueles
que compõe a Frente Parlamentar Mista, que, entre outros temas, estu-
da a certificação dos produtos de segurança contra incêndio em âmbito
federal.
Para ser mais bem aproveitado e disseminado, este novo trabalho
buscou estudar a legislação de segurança contra incêndio e o papel dos
Corpos de Bombeiros Militares como um todo, substituindo a solução lo-
cal por outra que pudesse ser implementada em âmbito nacional ou ser
aproveitada por outros estados.
O presente trabalho inovou e abordou, de forma aprofundada, os pro-
blemas de não conformidade encontrados em os produtos de seguran-
ça contra incêndio. Tendo como base os estudos e testes laboratoriais
oferecidos pela Associação Brasileira de Sprinklers (ABSpk) em relação
ao mercado de chuveiros automáticos no Brasil, foi feita uma análise
aprofundada dos problemas desse setor, em que se verificou quão séria é
a questão colocada em pauta, evidenciando a necessidade, a relevância
e a urgência para que se adotem medidas efetivas para a mudança do
cenário atual.
A pesquisa elaborada buscou as principais contribuições bibliográ-
ficas no campo da segurança contra incêndio, no campo da gestão pela
qualidade e no campo da avaliação da conformidade, por meio de livros,
sítios da internet, trabalhos científicos com o mesmo referencial teórico,
28
entrevistas com especialistas e encontros técnicos com as partes interes-
sadas para discussões sobre o tema.
Na busca de dados primários, a pesquisa também se baseou na apli-
cação de dois questionários para populações fortemente relacionadas ao
tema da certificação. Um questionário foi destinado aos representantes
dos Corpos de Bombeiros Militares de outros estados que trabalham no
Serviço de Segurança contra Incêndio, para verificar a existência e as
práticas adotadas na área de certificação de produtos.
Outro tipo de questionário foi destinado aos representantes das asso-
ciações de fabricantes de produtos de segurança contra incêndio e partes
interessadas, para verificar as implicações e as expectativas em relação
à exigência de certificação de produtos de segurança contra incêndio.
O trabalho é apresentado sob a forma de um texto-base em que serão
analisados os procedimentos para certificação e a situação atual dos pro-
dutos de segurança contra incêndio em âmbito nacional, com a finalidade
de propor soluções legais, de planejamento e de gestão para a exigência
da certificação pelos Corpo de Bombeiros Militares dos estados.

29
30
2 – Segurança contra incêndio

2.1 Conceituação de segurança contra incêndio

A prevenção contra incêndio pode ser considerada como o conjunto de


medidas que visam impedir a eclosão de um incêndio, permitir a saída
segura dos ocupantes de uma edificação e controlar o incêndio após a
sua eclosão, subdividindo-se em duas vertentes: a educação pública e a
segurança contra incêndio.
Educação pública, segundo a Instrução Técnica (IT) do Corpo de
Bombeiros nº 02, que traz os conceitos básicos de segurança contra in-
cêndio, é o conjunto de atividades que consiste no preparo da população
por meio da difusão de ideias, a fim de divulgar as medidas de segurança
para evitar o surgimento de incêndios. Busca ensinar os procedimentos
a serem adotados pelas pessoas diante de um incêndio, os cuidados a
serem observados com a manipulação de produtos perigosos e também o
perigo das práticas que geram risco de incêndio (CBPMESP, 2011).
A educação pública está relacionada à conscientização da população
por meio da difusão de práticas prevencionistas a respeito do adequado
comportamento humano, visando evitar ao máximo a ocorrência de si-
nistros.
A segurança contra incêndio, de acordo com inciso XXXIV do artigo
3º do Decreto Estadual nº 56.819, de 10 de março de 2011, é o conjunto
de ações e recursos internos e externos à edificação e a áreas de risco
que permite controlar a situação de incêndio (SÃO PAULO, 2011). Ela
expressa as medidas de proteção para controlar o incêndio e reduzir os
danos à vida e ao patrimônio, as quais se constituem em sistemas e equi-
pamentos que devem ser previstos nas edificações e áreas de risco e são
fiscalizados nos processos de regularização e obtenção das licenças de
funcionamento.
Para Berto (1998, p. 407), a prevenção de incêndio traduz o conceito
de prevenir eclosões de incêndio ou de reduzir o risco de seu alastramento,
além de evitar o perigo para os ocupantes e para a propriedade. Explica
que a proteção contra incêndio está ligada a sistemas ou ações que ocorrem
após o início de um incêndio, ou seja, quando a prevenção não foi suficiente
para evitá-lo.

31
Segundo Granito (1993, p. 2002), uma adequada proteção contra
incêndio é elemento essencial em qualquer coletividade, que deve sa-
ber planificar, planejar e avaliar possibilidades e riscos do ambiente
em que vive, bem como saber definir o tipo e o nível de serviço público
de bombeiros desejados.
De acordo com Malhotra (1982, p.15), para formular um conhecimen-
to razoável relativo à segurança contra incêndio e definir previamente
as exigências de proteção concretas, é necessário, primeiramente, ter
objetivos ou metas claras de proteção contra incêndio. Esses objetivos
ou metas fornecem as bases para o desenvolvimento global de proteção,
permitindo ao poder público chegar ao nível de controle justificado para
alcançar os objetivos estabelecidos, que são a proteção da vida e da pro-
priedade, sem esquecer as considerações econômicas.
Ainda para Malhotra (1982, p.16), os objetivos da proteção contra in-
cêndio são aqueles destinados à segurança das pessoas que se encontram
no interior da edificação no momento de um incêndio, à prevenção da
propagação do incêndio por toda a edificação e à proteção da propriedade
(conteúdo e estrutura da edificação).

2.2 Competência dos Corpos de Bombeiros Militares

A competência dos Corpos de Bombeiros Militares nasce na Constituição


Federal (CF), que dispõe sobre os serviços de bombeiro no artigo 144 do
Capítulo III – Da Segurança Pública, dentro do Título V – Da Defesa do
Estado e das Instituições Democráticas:

Artigo 144: A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabi-


lidade de todos, é exercida para preservação da ordem pública e da in-
columidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
[…]
IV polícias militares e corpos de bombeiros militares. […]
§5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da
ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além de atribuições
definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
§6º Às polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxilia-
res e reservas do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias
civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
(BRASIL, 1988)

32
Na interpretação do texto constitucional, Lazzarini (1999, p. 17-19)
diz que a noção de ordem pública é vaga e ampla, não se tratando apenas
da manutenção material da ordem na rua, mas compreendendo a saúde
pública, a segurança pública, a moralidade pública e a tranquilidade pú-
blica. A ordem pública propriamente dita é a ausência de desordem, de
atos de violência contra as pessoas e contra os bens do próprio Estado.
Dessa maneira, a CF atribui aos Corpos de Bombeiros Militares dos
estados a preservação da ordem pública, principalmente nos aspectos
relacionados à salubridade pública, compreendendo as ações preventivas
e repressivas de proteção à incolumidade das pessoas e do patrimônio,
a execução de atividades de defesa civil e as demais atribuições defini-
das em lei, o que remete à legislação infraconstitucional, tanto federal
quanto estadual, a tarefa de regular melhor as atividades dos Corpos de
Bombeiros Militares.
Cabe ao Estado a competência para delegar atribuições aos Corpos
de Bombeiros e regular a sua organização, desde que não conflite com as
normas gerais. Tal competência decorre do fato de que toda vez que a CF
faz referência à lei, sem especificar se é federal, estadual ou municipal,
cabe ao intérprete verificar, a partir da divisão de competências, a quem
incumbe essa competência legislativa.
Como não se encontra na CF nenhuma norma indicativa de que essa
competência seja da União ou do município, e dentro da concepção de
que as competências residuais pertencem aos estados, entende-se que a
estes cabe legislar sobre a matéria. Essa ideia é reforçada pelo fato de a
CF subordinar os Corpos de Bombeiros Militares aos governadores dos
estados e do Distrito Federal.
Beznos (1992, p. 25) confirma a competência dos Corpos de Bom-
beiros Militares para exigir medidas de polícia no que tange à pre-
venção de incêndios, porque as calamidades decorrentes de incêndio
vulneram a saúde pública e a tranquilidade pública, atentando contra
a própria ordem pública, seja quanto à incolumidade das pessoas, seja
quanto ao patrimônio delas.
A prevenção de incêndio está ligada ao Direito Urbanístico e, de acor-
do com o artigo 24, inciso I, da CF de 1988, compete à União, aos estados
e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre Direito Urbanís-
tico.
Lazzarini (1992, p. 193), em análise desse assunto, diz que o estado
pode legislar concorrentemente com a União a respeito do Direito Ur-
banístico, que é capítulo do Direito Administrativo, podendo, portanto,
legislar sobre prevenção de incêndios, ficando com o município a compe-
33
tência de suplementar essa legislação, sempre atendendo ao fim social da
propriedade.
Gasparini (1992, p. 41) também diz que a entidade federativa com-
petente para legislar é competente para fiscalizar a sua execução e para
exercer o Poder de Polícia respectivo. Ao estado cabe legislar sobre todas
as matérias remanescentes, ou que não foram atribuídas à União ou ao
município, por força do que estabelece o artigo 25, § 1º, da CF.
As atribuições dos Corpos de Bombeiros também encontram guarida
nas constituições estaduais, que muitas vezes remetem a uma lei com-
plementar ou ordinária, a exemplo do artigo 23 da Constituição do Esta-
do de São Paulo, que contempla o seguinte:

Art. 23 – As leis complementares serão aprovadas pela maioria absolu-


ta dos membros da Assembleia Legislativa, observados os demais ter-
mos da votação das leis ordinárias.
Parágrafo único – Para os fins deste artigo, consideram-se complemen-
tares: […]
6 – a Lei Orgânica da Polícia Militar; […]
15 – o Código Estadual de Proteção contra Incêndios e Emergências;
[…]. (SÃO PAULO, 1989)

Como não há lei federal, atualmente toda a regulamentação de se-


gurança contra incêndio consta apenas nas leis estaduais, a exemplo da
Lei Complementar do Estado de São Paulo nº 1.257, de 6 de janeiro de
2015, que instituiu o Código Estadual de Proteção contra Incêndios e
Emergências, e diz no seu artigo 1º:

Artigo 1º – Fica instituído o Código Estadual de Proteção Contra Incên-


dios e Emergências com o objetivo de sistematizar normas e controles
para a proteção da vida humana, do meio ambiente e do patrimônio, es-
tabelecendo padrões mínimos de prevenção e proteção contra incêndios
e emergências, bem como fixar a competência e atribuições dos órgãos
encarregados pelo seu cumprimento e fiscalização, facilitando a atuação
integrada de órgãos e entidades. (SÃO PAULO, 2015)

Normalmente, os códigos ou leis estaduais atribuem ao próprio Cor-


po de Bombeiros a competência para regulamentar e detalhar as exigên-
cias, a exemplo do que é feito pelo Código Estadual de Proteção contra
Incêndios e Emergências, que, no seu artigo 20, prevê a competência do
Comandante do Corpo de Bombeiros para elaborar instruções técnicas e
34
expedir portarias para regulamentar o serviço de segurança contra in-
cêndio no estado (SÃO PAULO, 2015).
Isso posto, o Regulamento de Segurança contra Incêndio das Edifica-
ções e Áreas de Risco no Estado de São Paulo, que encontra similaridade
com outros regulamentos estaduais, talvez diferindo apenas nas denomi-
nações, é composto por uma lei complementar, por um decreto estadual,
bem como pelas instruções técnicas e portarias do Corpo de Bombeiros,
hierarquizado de acordo com o descrito na Figura 1.

Figura 1 – Hierarquia do Regulamento de Segurança


contra Incêndio

Fonte: o autor.

35
3 – Metrologia, normalização e qualidade industrial

Antes de se enveredar pelo tema da avaliação da conformidade dos pro-


dutos de segurança contra incêndio, é imprescindível que se faça uma
exposição da base normativa e doutrinária que regula essa questão no
Brasil.
A presente seção busca apresentar os conceitos mais relevantes da
área de metrologia, normalização e qualidade industrial, de modo a au-
xiliar o leitor a compreender a discussão deste trabalho.

3.1 Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e


Qualidade Industrial

Em primeiro lugar, é necessário entender a estreita relação entre as ati-


vidades denominadas metrologia, normalização e qualidade, como segue:

a) metrologia é a ciência das medidas que cuida do estabelecimento


das unidades de medida, da manutenção dos padrões de medição
e das metodologias de medição;
b) normalização é uma atividade que traduz, de forma sistemática,
as especificações para os produtos, os processos de fabricação, as
metodologias de ensaio e medição, para verificar se o produto fi-
nal está conforme o projetado;
c) qualidade é o resultado obtido, ou seja, o produto final deve estar
em conformidade com o planejado e deve atender aos requisitos
estabelecidos, sejam eles regulamentares, sejam do cliente.

Sobre o assunto, Barros (2004, p. 19) diz que a metrologia é a base, a


normalização é o meio e a qualidade é o objetivo final. Sem a metrologia
para medir e a normalização para fornecer a tecnologia, a qualidade se-
ria um atributo subjetivo.
De acordo com o conceito moderno, qualidade significa o atendimento
pleno às necessidades do cliente; entretanto, além de satisfazer o con-
sumidor, deve, ainda, atender aos seguintes requisitos: os especificados
pelo consumidor, os regulamentares, os necessários para o uso pretendi-
do e os determinados pela empresa (BARROS, 2004, p. 23).

36
Sobre o assunto, João Alziro Herz da Jornada, ex-presidente do IN-
METRO, que prefaciou o livro Movimento da Qualidade no Brasil, acres-
centa que a qualidade tem estreita relação com a avaliação da conformi-
dade:

A qualidade depende diretamente da normalização e da metrologia. Não


há qualidade se não houver especificação dos insumos, do produto final,
das metodologias de produção e de medição dos atributos-chave. (FER-
NANDES, 2011, p. 6)

Jornada afirma que a elevação do nível global de competitividade


da produção está entre as prioridades de todos os governos, o que im-
plica o fortalecimento da tecnologia industrial básica, sendo, portanto,
inquestionável o papel central das atividades relacionadas à metrologia,
normalização e qualidade (FERNANDES, 2011,P. 6).
No Brasil, na década de 1960, os níveis de competitividade entre as
empresas passaram a ser rapidamente superados, tornando-se crucial a
busca incessante pela melhoria contínua da qualidade e da produtivida-
de.
Para coordenar e promover o desenvolvimento da indústria nacional,
em 1972 foi criada a Secretaria de Tecnologia Industrial, subordinada
ao Ministério da Indústria e do Comércio. Essa secretaria tinha como
órgãos executivos o Instituto Nacional de Tecnologia, o Instituto Nacio-
nal de Pesos e Medidas e o Instituto Nacional de Propriedade Industrial.
A partir daí, foi elaborado um Plano Básico de Desenvolvimento Cien-
tífico e Tecnológico com objetivo de estabelecer um programa de informa-
ção tecnológica e industrial, desenvolver a normalização, a certificação e
a metrologia, bem como organizar o sistema de propriedade industrial.
Finalmente, buscando formular e executar a política nacional de me-
trologia, normalização industrial e certificação de qualidade de produtos
industriais, em 11 de dezembro de 1973, a Lei Federal nº 5.966 instituiu
o Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
(SINMETRO), criando, assim, uma infraestrutura de serviços tecnológicos
capaz de avaliar a conformidade de produtos, processos e serviços (BRA-
SIL, 1973).
Tal lei, com modificações dadas pelas leis nº 9.933/1999 e nº
12.545/2011, também criou, no âmbito do atual Ministério do Desenvol-
vimento, Indústria e Comércio Exterior, o Conselho Nacional de Metro-
logia, Normalização e Qualidade Industrial (CONMETRO) e o Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO).
37
As atividades de metrologia científica, industrial e legal, avaliação
da conformidade, acreditação de organismos e laboratórios, bem como
a normalização são tratadas de forma integrada pelo SINMETRO, por
meio dos seguintes sistemas que o compõem:

a) Sistema Brasileiro de Normalização (SBN), coordenado pela


ABNT, que é uma entidade privada sem fins lucrativos, reconhe-
cida pelo governo brasileiro como único Fórum Nacional de Nor-
malização; a ABNT desempenha papel relevante no Sistema Bra-
sileiro de Avaliação da Conformidade (SBAC), como responsável,
em conjunto com a sociedade, pela emissão de normas técnicas de
sistema e gestão, produtos, processos, serviços ou pessoal, alinha-
das às normas internacionais;
b) Sistema Brasileiro de Metrologia (SBM), coordenado pelo INME-
TRO, que envolve a rede de laboratórios acreditados, a execução
do controle metrológico e a fiscalização dos produtos regulamen-
tados, com conformidade avaliada compulsoriamente; e
c) Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade (SBAC), coor-
denado pelo INMETRO, que visa prover à sociedade um sistema
de avaliação da conformidade harmonizado internacionalmente.

O CONMETRO é o órgão normativo e o fórum político do SINME-


TRO, responsável por ditar as políticas e diretrizes de metrologia, nor-
malização e qualidade industrial, sendo presidido pelo Ministro do De-
senvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
O CONMETRO é constituído das seguintes instituições: Ministério
do Meio Ambiente; Ministério do Trabalho; Ministério da Saúde; Minis-
tério da Ciência, Tecnologia e Inovação; Ministério das Relações Exte-
riores; Ministério da Justiça e Cidadania; Ministério da Agricultura, Pe-
cuária e Abastecimento; Ministério da Defesa; Ministério da Educação;
Ministério das Cidades; Confederação Nacional da Indústria; ABNT;
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor; e Confederação Nacional
do Comércio.
A Figura 2 demonstra, de forma sintética, a estrutura que compõe o
denominado SINMETRO.
A parte funcional do CONMETRO é organizada por comitês abertos
à sociedade, responsáveis pela proposição das políticas e diretrizes pro-
mulgadas, quais sejam: Comitê Brasileiro de Avaliação da Conformida-
de (CBAC); Comitê Brasileiro de Metrologia (CBM); Comitê Brasileiro
de Normalização (CBN); Comitê Codex Alimentarius do Brasil (CCAB);
38
Comitê Brasileiro de Coordenação de Barreiras Técnicas ao Comércio
(CBTC) e Comitê Brasileiro de Regulamentação (CBR).

Figura 2 – Estrutura do SINMETRO

Fonte: o autor.

Integram, ainda, o CONMETRO: o INMETRO, como órgão de acre-


ditação nacional e como secretaria executiva do conselho; os organismos
acreditados; os laboratórios acreditados de calibrações e ensaios (RBC/
RBLE); ABNT e a Rede Brasileira de Metrologia Legal e Qualidade –
INMETRO (RBMLQ-I).
Dessa forma, de acordo com o artigo 3º da Lei nº 9.933/1999, alterada
pela Lei nº 12.545/2011, o INMETRO é uma autarquia federal que exer-
ce, entre outras, as seguintes funções:

a) organismo acreditador: é o único organismo acreditador reconhe-


cido pelo SINMETRO e internacionalmente autorizado a exercer
a função, seguindo a tendência internacional atual de apenas um
acreditador por país ou economia;
b) secretaria executiva do CONMETRO e dos seus comitês técnicos;
c) supervisor dos organismos de fiscalização: delega a área de me-
trologia legal aos Institutos de Pesos e Medidas (IPEM) estaduais
e exerce a fiscalização; e

39
d) órgão oficial de credenciamento de Organismos de Certificação de
Sistemas de Gestão. (BRASIL, 1999)

A acreditação é o reconhecimento formal, concedido por um orga-


nismo autorizado, de que a entidade tanto foi avaliada segundo guias
e normas nacionais e internacionais quanto tem competência técnica e
gerencial para realizar tarefas específicas de avaliação da conformidade.
O INMETRO acredita Organismos de Avaliação da Conformidade
(OAC), que, por sua vez, reconhecem a conformidade de um sistema de
gestão, produto, processo, serviço ou pessoa.
É importante ressaltar que a Lei nº 9.933/1999, com redação dada
pela Lei nº 12.545/2011, possibilitou ao INMETRO delegar a outras enti-
dades a execução de algumas de suas competências, como explicitam os
seguintes parágrafos do artigo 4º:

Artigo 4º O Inmetro poderá delegar a execução de atividades de sua


competência.
§ 1º As atividades materiais e acessórias da metrologia legal e da ava-
liação da conformidade compulsória, de caráter técnico, que não impli-
quem o exercício de poder de polícia administrativa, poderão ser reali-
zadas por terceiros mediante delegação, acreditação, credenciamento,
designação, contratação ou celebração de convênio, termo de coopera-
ção, termo de parceria ou instrumento congênere, sob controle, supervi-
são e/ou registro administrativo pelo INMETRO.
§ 2º As atividades que abrangem o controle metrológico legal, a apro-
vação de modelos de instrumentos de medição, fiscalização, verificação,
supervisão, registro administrativo e avaliação da conformidade com-
pulsória que impliquem o exercício de poder de polícia administrativa
somente poderão ser delegadas a órgãos ou entidades de direito público.
(BRASIL, 1999)

O artigo 5º da Lei nº 9.933/1999, com redação dada pela Lei nº


12.545/2011, reforça, ainda, o caráter impositivo dos atos normativos ex-
pedidos pelo CONMETRO e pelo INMETRO, como segue:

Art. 5º As pessoas naturais ou jurídicas, públicas ou privadas, nacio-


nais ou estrangeiras, que atuem no mercado para prestar serviços ou
para fabricar, importar, instalar, utilizar, reparar, processar, fiscalizar,
montar, distribuir, armazenar, transportar, acondicionar ou comerciali-
zar bens são obrigadas ao cumprimento dos deveres instituídos por esta

40
Lei e pelos atos normativos expedidos pelo Conmetro e pelo Inmetro,
inclusive regulamentos técnicos e administrativos. (BRASIL, 1999)

O INMETRO é o coordenador do SBAC e busca incentivar o aumen-


to do número de produtos, serviços e sistemas certificados, bem como
promover o reconhecimento internacional da avaliação da conformidade
brasileira.
O SBAC está estruturado em consonância com os sistemas existentes
em outros países, caracterizando-se pela descentralização operacional e
integração dos diversos agentes com atuação nessa área.
No âmbito do SBAC, os OAC, instituições públicas ou privadas sem
fins lucrativos, são os responsáveis por executar as atividades de avalia-
ção da conformidade. Os principais organismos acreditados pelo INME-
TRO que conduzem e concedem a avaliação da conformidade são:

a) Organismos de Certificação de Sistema da Qualidade (OCS): con-


duzem e concedem a certificação com base em normas de gestão
da qualidade (NBR ISO 9000);
b) Organismos de Certificação de Produtos (OCP): conduzem e con-
cedem a certificação voluntária ou compulsória de produtos, com
base em normas nacionais, regionais e internacionais ou em re-
gulamentos técnicos;
c) Organismos Acreditados de Certificação de Pessoal (OPC): con-
duzem e concedem a certificação de pessoal;
d) Organismos de Inspeção Acreditados (OIC): conduzem inspeções
em produtos, processos ou serviços e emitem laudos relatando os
resultados;
e) Organismos de Verificação de Desempenho (OVD): conduzem en-
saios para avaliação de desempenho de produtos, processos ou
serviços;
f) Organismos de Certificação de Sistema de Gestão Ambiental
(OCA): conduzem e concedem a certificação com base nas normas
de gestão ambiental (NBR ISO 14000); e
g) Organismos de Certificação de Obra: (OCO): conduzem e conce-
dem a certificação de obras na construção civil.

O INMETRO é reconhecido internacionalmente como o organismo de


acreditação brasileiro pelo International Accreditation Forum (IAF) e foi
o primeiro a ter esse reconhecimento na América Latina.

41
O reconhecimento é um instrumento facilitador nas transações co-
merciais entre os países e, como gera confiança, o Brasil é membro tam-
bém de diversos outros fóruns internacionais, com os quais mantém acor-
dos de reconhecimento dos programas de avaliação da conformidade.
Além do IAF, o INMETRO é signatário de diversas outras associações:

a) International Laboratory Accreditation Cooperation (ILAC): coo-


peração internacional, de caráter multilateral, que reúne orga-
nismos de acreditação de laboratórios de calibração e ensaios;
b) European Co-operation for Accreditation (EA): reúne os organis-
mos acreditadores de laboratórios de calibração e ensaio, orga-
nismos de certificação de sistemas de gestão, produtos e pessoas,
bem como organismos de inspeção da Comunidade Europeia;
c) Interamerican Accreditation Cooperation (IAAC): cooperação re-
gional que reúne os organismos acreditadores de toda a América.

Sem a confiança não há avaliação da conformidade. A credibilidade


e o reconhecimento técnico, lastreados pelas normas internacionais, são
essenciais para o sucesso da avaliação da conformidade.
A normalização internacional é aquela que resulta da cooperação e
dos acordos entre um grande número de nações soberanas e independen-
tes com interesses comuns. A normalização internacional é relevante,
pois facilita o comércio internacional, remove barreiras as técnicas, con-
duz para novos mercados, possibilita o aumento da qualidade de bens e
serviços e gera crescimento da economia. O atendimento a uma norma
internacional significa contar com as melhores condições para ultrapas-
sar eventuais barreiras técnicas (CNI, 2002a, p. 68).
As normas internacionais são estabelecidas por um Organismo In-
ternacional de Normalização (OIN) e são reconhecidas pela Organização
Mundial do Comércio (OMC) como base para o comércio internacional. Os
principais organismos internacionais de normalização são a ISO, IEC e a
ITU, como segue:

a) International Electrotechnical Commission (IEC);


b) International Organization for Standardization (ISO);
c) International Telecommunication Union (ITU).

No Brasil, toda atividade de avaliação da conformidade é lastreada


e padronizada por normas internacionais. Algumas normas foram até
traduzidas pela ABNT para facilitar a compreensão. São as chamadas
42
NBR ISO, que uniformizam os procedimentos a serem adotados pelo IN-
METRO e pelos demais integrantes do SINMETRO.
Para elaborar uma regulamentação técnica, o Instituto vale-se prio-
ritariamente de uma norma ISO. Se não houver norma ISO, ele se uti-
liza de normas reconhecidas pela IAAC e, se não houver, utiliza-se das
Normas Brasileiras (NBR). Por isso, na atividade de normalização da
ABNT, deve-se prezar para que as NBR não estejam muito dissociadas
das normas internacionais.

3.2 Definições e conceitos básicos da avaliação da


conformidade

De maneira bem sintética, a ABNT (2005b), na NBR ISO 17000, define


a avaliação da conformidade como a demonstração de que os requisitos
especificados relativos a produto, processo, sistema, pessoa ou organismo
são atendidos.
Já o INMETRO, de forma mais abrangente e permitindo uma análise
mais crítica do contexto em que a atividade é exercida no Brasil, define a
avaliação da conformidade como:

Um processo sistematizado, com regras pré-estabelecidas, devidamente


acompanhado e avaliado, de forma a propiciar adequado grau de con-
fiança de que um produto, processo ou serviço, ou ainda uma pessoa,
atende a requisitos pré-estabelecidos em normas ou regulamentos, com
o melhor custo benefício possível para a sociedade. (INMETRO, 2015a,
p. 10)

Essa avaliação tem como objetivo fundamental atender às preocupa-


ções sociais, transmitindo ao consumidor a confiança de que o produto,
processo ou serviço está em conformidade com os requisitos especifica-
dos, sem que isso se torne um ônus para a produção ou exija recursos
superiores aos que a sociedade se dispõe a investir.
Tal conceito preconiza a ideia de tratamento sistêmico e não pontual;
como em todo sistema, deve ser acompanhado da avaliação dos seus re-
sultados; portanto, constitui-se em uma poderosa ferramenta de qua-
lidade não só para o desenvolvimento industrial, mas também para a
proteção e defesa do consumidor.
Além de impulsionar o desenvolvimento tecnológico sustentável e o
crescimento do comércio interno e externo, a avaliação da conformidade

43
é fator de proteção do consumidor e contribui para minimizar impactos
ambientais na produção, com processos sustentáveis de utilização e des-
carte de produtos.
São vários, portanto, os aspectos que tornam justificável a adoção de
um programa de avaliação da conformidade, dentre eles:

a) concorrência mais equilibrada, quando processos, serviços e pro-


dutos obedecem aos padrões pré-estabelecidos;
b) desenvolvimento tecnológico, com melhoria contínua da qualida-
de, que é um dos objetivos básicos do programa;
c) defesa do consumidor, por garantir que processos, serviços e pro-
dutos atendam a requisitos pré-estabelecidos, permitindo-lhe
aperfeiçoar suas decisões quanto a aquisição, uso e descarte de
produtos;
d) estímulo ao comércio interno e externo, pois o mercado impõe
cada vez mais programas compulsórios de avaliação da conformi-
dade na comercialização de processos, serviços e produtos relacio-
nados a saúde, segurança e meio ambiente; e
e) agrega valor ao produto, que, por se diferenciar dos concorrentes,
reúne condições de atrair consumidores cada vez mais exigentes.
(INMETRO, 2015a, p. 16)

Não é possível comparar produtos com conformidade avaliada obje-


tivando identificar se um é melhor ou pior que o outro. A avaliação da
conformidade busca propiciar confiança de atendimento à norma ou ao
regulamento técnico, e não garantir a qualidade do produto, que é res-
ponsabilidade inerente do fabricante.
Dois produtos com conformidades avaliadas, utilizando a mesma re-
ferência normativa, devem ser entendidos como produtos que atendem
a requisitos mínimos aplicáveis às especificidades de uso do produto;
portanto, não cabe comparação entre eles no sentido de definir qual é
melhor ou pior (INMETRO, 2015a, p. 14).
Quanto ao campo de utilização, a avaliação da conformidade pode ser
voluntária ou compulsória. É voluntária quando a iniciativa é do forne-
cedor, que procura agregar valor aos seus processos, serviços e produtos,
incorporando uma vantagem competitiva em relação aos concorrentes. É
compulsória quando exigida por uma entidade reguladora que entende
que os processos, serviços ou produtos podem ocasionar riscos à saúde e
à segurança, ou podem trazer prejuízos econômicos à sociedade (INME-
TRO, 2015a, p. 19).
44
Quanto ao agente econômico, ou seja, quanto àquele que tem a res-
ponsabilidade de decidir sobre sua realização, a avaliação da conformi-
dade pode ser classificada como (INMETRO, 2015a, p. 19):

a) primeira parte, quando realizada pelo próprio fabricante, forne-


cedor ou por um representante dos seus interesses;
b) segunda parte, quando feita pelo comprador ou cliente, sendo co-
nhecida, também, como “qualificação de fornecedores”, e visa à
elaboração de um cadastro de fornecedores ou à tomada de deci-
são sobre um contrato;
c) terceira parte, quando realizada por organização previamente
acreditada e independente, tanto em relação ao fabricante ou
fornecedor quanto ao cliente; portanto, sem interesse direto na
comercialização do produto ou serviço.

Conforme o INMETRO (2015a, p. 39), a atividade de avaliação da con-


formidade apoia-se em dois fundamentos básicos: o reconhecimento da
competência técnica (instalações, sistema de qualidade, pessoal, calibra-
ção dos instrumentos de medição) e a credibilidade (ética, imparcialidade
e comprometimento).
A avaliação de conformidade realizada por primeira ou segunda par-
te pressupõe uma relação de confiança, pois a organização que deseja
demonstrar a conformidade deve ter competência para fazê-lo, e a enti-
dade que irá evidenciar a conformidade deve apoiar sua credibilidade na
ética e na imparcialidade. Já o organismo independente, normalmente, é
especializado em processos de gestão, auditoria e inspeção. (FIGURA 3)

45
Figura 3 – Classificação da avaliação quanto ao agente
econômico

Fonte: o autor

Em termos de procedimento, a avaliação da conformidade pode ser


feita de diversas formas que envolvem basicamente coleta de amostras,
inspeções, ensaios, auditorias do sistema de gestão da qualidade do for-
necedor e acompanhamento do produto no mercado.
Ela tem como alvo produtos, processos, serviços ou pessoas; porém,
como o tema deste trabalho diz respeito a produtos de segurança contra
incêndio, serão expostos os mecanismos de avaliação da conformidade
com foco apenas em materiais e equipamentos.

3.2.1 Certificação

Segundo a ABNT/ISO IEC Guia 2, a certificação é o procedimento


pelo qual uma terceira parte dá garantia escrita da conformidade com
os requisitos especificados de produto, processo ou serviço (ABNT, 2006).
Para o INMETRO (2015a, p. 22) a certificação é, por definição, rea-
lizada por uma terceira parte, isto é, por organismo reconhecido como
independente das partes envolvidas, ou seja, do fornecedor (primeira
parte) e do comprador (segunda parte).
Os modelos utilizados para certificação no Brasil são:

46
Modelo de Certificação 1a – Avaliação única. Nesse modelo, uma ou
mais amostras do produto são submetidas a atividades de avaliação da
conformidade, que podem consistir em ensaio, inspeção, avaliação de
projeto, avaliação de serviços ou processos, etc. Esse modelo não con-
templa a etapa de manutenção. A avaliação da conformidade do objeto
é efetuada uma única vez, e os itens subsequentes de produção não são
cobertos pelo Certificado de Conformidade emitido.
Modelo de Certificação 1b – Ensaio de lote. Esse modelo envolve
a certificação de um lote de produtos. O número de unidades a serem
ensaiadas pode ser uma parcela do lote, coletada de forma aleatória, ou,
até mesmo, o número total de unidades do lote (ensaio 100%). O Certifi-
cado de Conformidade é restrito ao lote certificado.
Modelo de Certificação 2 – Avaliação inicial que consiste em en-
saios feitos em amostras retiradas no fabricante, seguida de avaliação
de manutenção periódica por meio de coleta de amostra do produto no
mercado. As Avaliações de Manutenção têm por objetivo verificar se os
itens produzidos após a atestação da conformidade inicial (emissão do
Certificado de Conformidade) permanecem conformes.
Modelo de Certificação 3 – Avaliação inicial que consiste em ensaios
em amostras retiradas no fabricante, seguida de avaliação de manuten-
ção periódica por meio de coleta de amostra do produto na fábrica. As
Avaliações de Manutenção têm por objetivo verificar se os itens produ-
zidos após a atestação da conformidade inicial (emissão do Certificado
da Conformidade) permanecem conformes. A manutenção pode incluir
a avaliação periódica do processo produtivo (fonte: adaptada da ISO/
IEC 17067/2013).
Modelo de Certificação 4 – Avaliação inicial que consiste em ensaios
em amostras retiradas no fabricante seguida de avaliação de manuten-
ção periódica por meio de coleta de amostras do produto na fábrica e no
comércio, combinada ou alternadamente, para realização das ativida-
des de avaliação da conformidade. As Avaliações de Manutenção têm
por objetivo verificar se os itens produzidos após a atestação da confor-
midade inicial (emissão do Certificado da Conformidade) permanecem
conformes. A manutenção pode incluir a avaliação periódica do processo
produtivo (fonte: adaptada da ISO/IEC 17067/2013).
Modelo de Certificação 5 – Avaliação inicial que consiste em ensaios
em amostras retiradas no fabricante, incluindo auditoria do Sistema de
Gestão da Qualidade, seguida de avaliação de manutenção periódica
por meio de coleta de amostra do produto na fábrica e/ou no comércio,
para realização das atividades de avaliação da conformidade. As Ava-
liações de Manutenção têm por objetivo verificar se os itens produzi-

47
dos após a atestação da conformidade inicial (emissão do Certificado)
permanecem conformes. A manutenção inclui a avaliação periódica do
processo produtivo, ou a auditoria do SGQ, ou ambos (fonte: adaptada
da ISO/IEC 17067/2013).
Modelo de Certificação 6 – Avaliação INICIAL que consiste em au-
ditoria do Sistema de Gestão da Qualidade ou inspeções, seguida de
manutenção periódica. Esse modelo é aplicável, principalmente, à certi-
ficação de serviços e processos. As Avaliações de Manutenção incluem a
auditoria periódica do SGQ e avaliação periódica do serviço ou processo
(INMETRO, 2015a, p. 22-23).

O Modelo de Certificação 1b substitui o modelo de certificação dos


tipos 7 e 8 da edição anterior do Vocabulário Inmetro de Avaliação da
Conformidade.
A certificação por terceira parte envolve três entidades ou elementos:
normas ou regulamentos técnicos, órgãos acreditadores e organismos
certificadores. É a forma mais apropriada para avaliar produtos de alto
risco à saúde e à segurança do consumidor e do meio ambiente.
O modelo 5 é o mais abrangente, pois contempla a avaliação inicial
do produto, a avaliação no mercado após a emissão do certificado de con-
formidade e a avaliação do sistema de gestão do processo produtivo e de
controle da empresa. Por essa razão, esse tipo de certificação também
tem um custo maior, que normalmente é repassado ao mercado consu-
midor.

3.2.2 Declaração da Conformidade do Fornecedor

De acordo com o INMETRO (2015a, p. 25), a Declaração da Confor-


midade do Fornecedor é o processo pelo qual um fornecedor, sob condi-
ções pré-estabelecidas, dá garantia escrita de que um produto, processo
ou serviço está em conformidade com requisitos especificados.
Trata-se de um modelo de avaliação de conformidade de 1ª parte e,
segundo o SBAC, é um mecanismo de avaliação da conformidade mais
apropriado para produtos que oferecem de médio a baixo risco à saúde e
segurança do consumidor e do meio ambiente (INMETRO, 2015a, p. 26).
A Declaração de Conformidade do Fornecedor confere maior agilida-
de no atendimento às demandas por avaliação da conformidade, mas é
uma intervenção mais branda e menos onerosa nas relações de consumo,
já que a interferência externa (terceira parte) é eliminada. Dessa forma,
na implantação de programas de primeira parte, tornam-se necessárias
ações mais intensificadas de avaliação no mercado.
48
Segundo o INMETRO (2015a, p. 26), a declaração da conformidade
do fornecedor tem sido mais utilizada para serviços executados de forma
dispersa, por micro e pequenas empresas em todo o território nacional,
por ser difícil o emprego do mecanismo de certificação.

3.2.3 Inspeção

De acordo com o INMETRO (2015a, p. 27), a inspeção é definida como


uma observação e julgamento, acompanhada, conforme apropriado, por
medições, ensaios ou uso de calibres.
A inspeção é um mecanismo de avaliação da conformidade muito uti-
lizado em serviços, após a execução deles. O objetivo principal é reduzir
o risco para o comprador, o proprietário, o usuário ou o consumidor no
uso do produto.
O mecanismo da inspeção é muito praticado na avaliação da confor-
midade de segunda parte, quando compradores a executam, quando o
produto sai da fábrica ou na chegada dele às instalações do comprador, a
exemplo das inspeções veiculares.

3.2.4 Ensaio

Conforme o INMETRO (2015a, p. 27), o ensaio é a determinação de


uma ou mais características de uma amostra do produto, processo ou
serviço, de acordo com um procedimento especificado. É a modalidade
de avaliação da conformidade mais utilizada porque, normalmente, está
associada a outros mecanismos de avaliação da conformidade, em parti-
cular à inspeção e à certificação.
No entanto, os resultados de um laudo de ensaio não podem ser as-
sociados ou estendidos ao restante de uma produção, assim como ocorre
na certificação, uma vez que o laudo de ensaio é um atestado de que
uma determinada amostra, e somente esta, apresenta conformidade em
relação a determinada norma técnica.

3.3 Programa Brasileiro de Avaliação da Conformidade

Na atividade de avaliação da conformidade, periodicamente, o CONME-


TRO aprova as políticas do Programa Brasileiro de Avaliação da Con-
formidade (PBAC). Esse programa é elaborado com a participação dos

49
diferentes segmentos da sociedade interessados e contempla uma série
de questões de natureza estratégica, tática e operacional.
O PBAC apresenta as seguintes orientações estratégicas:

•  Dar foco às questões ligadas à proteção do meio ambiente, bem


como à saúde e à segurança do consumidor.
•  Desenvolver programas de avaliação da conformidade com a me-
lhor relação custo-benefício para os segmentos impactados, selecio-
nando o mecanismo de avaliação da conformidade em função do
risco associado ao produto e do custo-benefício do programa como
um todo.
•  Contribuir com o esforço de exportação, facilitando o acesso a merca-
dos, bem como fortalecendo o mercado interno e propiciando a con-
corrência justa.
•  Facilitar aos agentes reguladores o exercício de suas atividades de
regulamentação e fiscalização.
•  Informar, educar e conscientizar os diferentes segmentos da socie-
dade quanto à importância da atividade.
•  Criar mecanismos facilitadores do acesso das micro e pequenas em-
presas aos programas de avaliação da conformidade.
•  Identificar, com a devida antecedência, as necessidades de infraes-
trutura (padrões metrológicos, regulamentos, normas, laboratórios
e organismos acreditados).
•  Criar e manter um sistema de acompanhamento e retroalimenta-
ção dos programas de avaliação da conformidade.
•  Criar e divulgar um sistema de gerenciamento de reclamações, ape-
lações e denúncias, relativas aos programas de avaliação da confor-
midade.
•  Criar condições para que todos os agentes reguladores possam de-
senvolver seus programas de avaliação da conformidade em total
sintonia com o SBAC.
•  Desenvolver a atividade de avaliação da conformidade em total sin-
tonia e priorizando os recursos para ações que se alinhem à execu-
ção da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior do
País (INMETRO, 2016a).

Dentro do PBAC, cabe destacar a elaboração do Plano de Ação Qua-


drienal, que visa definir os produtos e serviços que terão sua conformida-
de avaliada.
Conforme a metodologia estabelecida pelo CONMETRO, os progra-
mas de avaliação da conformidade são identificados com a participação da
50
sociedade, sendo, depois, priorizados de acordo com os seguintes critérios
(INMETRO, 2016a):

a) critério 1: saúde, segurança e meio ambiente;


b) critério 2: fortalecimento do mercado interno; e
c) critério 3: balança comercial.

Com base nesses critérios descritos, os produtos devem ser classifica-


dos de acordo com os graus de prioridade estabelecidos no Quadro 1:

Quadro 1 – Graus de prioridade na classificação dos


produtos de segurança contra incêndio pelo INMETRO

Fonte: INMETRO, 2016a.

Depois de definir o grau de prioridade, é feita a priorização com a so-


ciedade por meio de reuniões que utilizam a técnica da discussão focada,
com representantes da sociedade, compostas por no máximo 15 pessoas,
com duração máxima de 5 horas cada uma.
Em um processo que ocorre em plenária, conduzido por um especia-
lista, os participantes avaliam cada produto, com base nos critérios defi-
nidos tecnicamente, segundo a sua percepção e o seu sentimento pessoal.
Em seguida, é realizada uma análise para apurar o enquadramento de
cada item.
Após as análises, uma vez obtido um consenso mínimo na socieda-
de sobre que produtos precisam ser priorizados, deve-se apresentar a
carteira ao Comitê Brasileiro de Avaliação da Conformidade (CBAC),
para que seja validada a proposta formulada pelos representantes dos
diferentes segmentos da sociedade.
Feita a validação do CBAC, o passo seguinte é o encaminhamento
dos produtos selecionados ao CONMETRO para aprovação. Uma vez

51
aprovado o Plano de Ação Quadrienal, é estabelecida uma Agenda Regu-
latória com horizonte de dois anos para execução.
Na execução do Plano de Ação Quadrienal, o INMETRO realiza a
análise de impacto regulatório ou as pesquisas pertinentes para os ob-
jetos constantes do Plano de Ação Quadrienal, com vistas a definir o de-
senvolvimento de regulamentações técnicas ou programas de avaliação
da conformidade da demanda validada e aprovada.
Durante a análise de impacto regulatório, é avaliado o histórico do
produto, os problemas ocorridos, o número de acidentes, as mortes e re-
clamações registradas, o nível de risco, a análise de normas e regulamen-
tos técnicos sobre o produto avaliado, o tipo de programa a ser adotado e
o custo, sendo emitida, ao final, uma conclusão dessa análise.
O grande desafio ao se criar um programa de avaliação da conformi-
dade é selecionar um conjunto mínimo de técnicas de gestão da qualida-
de que sejam suficientes para propiciar confiança na conformidade, com
o melhor custo-benefício para as partes interessadas.
Concluído o relatório da análise de impacto regulatório, ele é publi-
cado em portaria do INMETRO e também no Diário Oficial da União,
sendo submetido à consulta pública para a apresentação de sugestões e
críticas relativas ao texto proposto.
De acordo com o resultado do relatório, o INMETRO pode optar pela
não regulamentação, pela elaboração de um Regulamento Técnico da
Qualidade (RTQ) sem criar um programa de avaliação da conformidade,
ou pela implantação de um programa de avaliação da conformidade vo-
luntário ou compulsório.
Em geral, os programas serão compulsórios apenas quando o produto
oferecer um grau considerável de risco à saúde ou à segurança dos cida-
dãos, ou ainda ao meio ambiente.
Para realizar a avaliação da conformidade de determinado produto,
deve existir um regulamento técnico, uma norma técnica ou documen-
to similar (Instrução Técnica ou Portaria do Comandante do Corpo de
Bombeiros), que defina exatamente o que será avaliado em determinado
produto.
O Guia de Boas Práticas de Regulamentação do CONMETRO define
Regulamento Técnico e Norma como:

Regulamento Técnico é o documento que enuncia as características


de um produto ou os processos e métodos de produção a ele relacionados,
incluídas as disposições administrativas aplicáveis, cujo cumprimento

52
é obrigatório. Pode tratar parcial ou exclusivamente de terminologia,
símbolos e requisitos de embalagem, marcação ou rotulagem aplicáveis
a um produto, serviço, bens, pessoas, processo ou método de produção.
Norma é o documento estabelecido por consenso e emitido por um or-
ganismo reconhecido, que fornece, para uso comum e repetido, regras,
diretrizes ou características para produtos, serviços, bens, pessoas, pro-
cessos ou métodos de produção, cujo cumprimento não é obrigatório.
Pode também tratar de terminologia, símbolos, ou rotulagem aplicáveis
a um produto. (CONMETRO, 2014a, p. 5)

Em linhas gerais, o regulamento técnico é elaborado pelo poder pú-


blico, sem a obrigatoriedade de participação da sociedade, e tem caráter
legal-impositivo, cujo foco são os requisitos ligados à saúde, à segurança
e ao meio ambiente. A norma, por sua vez, é elaborada com a participa-
ção da sociedade na ABNT e aprovada em consenso, tendo um caráter
não obrigatório, ou seja, é de uso voluntário.
Sendo implementado um programa de avaliação da conformidade,
deverão elaborar-se os chamados Requisitos de Avaliação da Conformi-
dade (RAC) para cada produto, a fim de definir exatamente como ele
será avaliado.
No caso de programas compulsórios, o RAC sempre será elaborado
pelo INMETRO. Em programas voluntários, esses RAC podem ser ela-
borados pelo Instituto, por outro órgão regulamentador ou diretamente
pelo OCP.
Quando houver mais de um OCP acreditado pelo INMETRO certifi-
cando um produto por meio de requisitos diferentes, o ideal é que sejam
padronizados pelo Instituto ou pelo órgão regulador.
O INMETRO determina os Requisitos Gerais de Avaliação da Con-
formidade (RGCP), instituídos por meio de sua Portaria nº 118, que
orientam a elaboração dos RAC e têm como objetivo estabelecer os dispo-
sitivos comuns a todos os programas de avaliação da conformidade que
adotem o mecanismo de certificação (INMETRO, 2015b).
Para o INMETRO, os RAC deverão conter apenas os requisitos espe-
cíficos, complementares aos requisitos gerais de certificação de produtos,
respeitando as especificidades de cada objeto a ser certificado, como se-
gue:

Artigo 3º […]
§1º Os Requisitos de Avaliação da Conformidade deverão definir os se-
guintes itens:

53
I – Objetivo (específico do programa de certificação);
II – Siglas (apenas as que não constarem neste documento);
III – Documentos de referência e complementares (apenas os que não
constarem neste documento);
IV – Definições (apenas as que não constarem neste documento); V –
Mecanismo de Avaliação da Conformidade;
VI – Etapas da Avaliação da Conformidade (que deverão conter, quando
aplicáveis, pelo menos, os seguintes itens, complementando o RGCP):
Definição do(s) Modelo(s) de Certificação utilizado(s); Avaliação Inicial;
– Solicitação de Certificação;
– Análise da Solicitação e Conformidade da Documentação;
– Auditoria Inicial do Sistema de Gestão da Qualidade e Avaliação
do Processo Produtivo (quando aplicável);
– Plano de Ensaios Iniciais (quando aplicável);
– Tratamento de não conformidades na etapa de Avaliação Inicial;
– Emissão do Certificado de Conformidade;
Avaliação de Manutenção do Sistema de Gestão da Qualidade e Avalia-
ção do Processo Produtivo (quando aplicável);
– Auditoria de Manutenção (quando aplicável);
– Plano de Ensaios de Manutenção (quando aplicável);
– Tratamento de não conformidades na etapa de Avaliação de Manu-
tenção;
– Confirmação da Manutenção;
– Avaliação de Recertificação (quando aplicável); Casos Especiais;
VII – Tratamento de Reclamações;
VIII – Atividades executadas por OCP acreditado por membro do MLA
do IAF; IX – Transferência da Certificação;
X – Encerramento da Certificação;
XI – Selo de Identificação da Conformidade;
XII – Autorização para Uso do Selo de Identificação da Conformidade;
XIII – Responsabilidades e Obrigações;
XIV – Acompanhamento no Mercado; XV – Penalidades; e
XVI – Denúncias. (INMETRO, 2015b)

Quando da implantação do programa de avaliação da conformidade,


é importante o acompanhamento e o controle para que o gestor do pro-
grama possa certificar-se de que o produto está efetivamente sendo posto
no mercado em conformidade com as regras estabelecidas. Essa fase de
acompanhamento e controle é, muitas vezes, mais complexa do que a de
avaliação inicial; portanto, exige maior grau de sistematização.
54
Por meio de um Programa de Verificação da Conformidade, o INME-
TRO acompanha no mercado os produtos e serviços regulamentados com
a conformidade avaliada compulsoriamente, objetivando avaliar se eles
preservam as características de conformidade verificadas no âmbito do
SBAC.
O Programa de Verificação da Conformidade está disposto na Lei
nº 9.933/1999, que dispõe sobre as competências do CONMETRO e do IN-
METRO, notadamente no artigo 6º, que estabelece:

É assegurado ao agente público fiscalizador do Inmetro ou do órgão ou


entidade com competência delegada, no exercício das atribuições de ve-
rificação, supervisão e fiscalização, o livre acesso ao estabelecimento ou
local de produção, armazenamento, transporte, exposição e comerciali-
zação de bens, produtos e serviços, caracterizando-se embaraço, punível
na forma da lei, qualquer dificuldade oposta à consecução desses objeti-
vos. (BRASIL, 1999)

A análise efetuada pelo programa prioriza a avaliação dos requisitos


considerados essenciais para o produto ou o serviço relacionados à saúde,
à segurança e ao meio ambiente. Para selecionar e priorizar os produtos
e serviços que vão integrar o programa de verificação, o INMETRO con-
sidera como fontes de informação os seguintes critérios:

a) risco oferecido pelo produto;


b) histórico do produto no mercado, em particular reclamações de
consumidores; e
c) mecanismo de avaliação da conformidade utilizado.

Em alguns modelos de avaliação da conformidade estabelecidos pelos


OCP, os produtos são coletados também no comércio e submetidos a en-
saios em laboratórios acreditados pelo INMETRO.
Antecede a coleta uma pesquisa de mercado que abrange pontos de
venda em todo o país. Ela é feita por técnicos da RBMLQ-I, buscando
identificar e mapear a distribuição de fabricantes, importadores, marcas
e modelos, que formam a base do planejamento da coleta. A pesquisa
assegura a representatividade da amostra no que diz respeito ao porte e
à regionalização dos fornecedores.
Participam do Programa de Verificação, como partes interessadas,
fabricantes, importadores, entidades de classe e de defesa do consumi-
dor, autoridades reguladoras, organismos acreditados de certificação de

55
produtos e serviços, laboratórios de ensaios acreditados e membros da
RBMLQ-I.
Seu foco é a identificação de não conformidades sistêmicas, de forma
a ensejar oportunidades de melhoria no programa de avaliação da con-
formidade do produto, serviço ou processo verificado.
A questão da manutenção da conformidade de produtos e seu acom-
panhamento nos postos de consumo é uma preocupação imperante em
vários países. Diversas nações têm sistemas robustos para a garantia da
confiabilidade dos produtos.
Nos programas compulsórios, o INMETRO lança mão do Registro de
Objetos, que é o ato pelo qual ele autoriza, condicionado à existência do
Atestado de Conformidade emitido por um OCP, a utilização do selo de
identificação da conformidade e a comercialização do objeto em território
nacional.
O Registro de Objetos proporciona à entidade regulamentadora maior
poder de ação e agilidade em caso de produtos que, por alguma ocorrência
adversa e mesmo ostentando o selo de identificação da conformidade, não
atendam aos requisitos normativos, bem como possam apresentar algum
risco ao cidadão.
Esse instrumento é particularmente necessário e funcional nos inú-
meros casos de produtos objetos de recall ao redor do mundo, uma vez
que, no atual cenário mundial, convive-se com produtos de diferentes
nacionalidades.
Com o acompanhamento no mercado, conclui-se a denominada “ca-
deia de acreditação e controle do Sistema Brasileiro de Avaliação da
Conformidade”, sinteticamente representada conforme o disposto na Fi-
gura 4.

56
Figura 4 – Cadeia de acreditação do SBAC

Fonte: o autor.

3.4 Requisitos essenciais para certificação de produtos

Para melhor compreensão e delineamento de uma estratégia adequada


de certificação de produtos de segurança contra incêndio, depreende-se
da base normativa e doutrinária apresentada que o sucesso da atividade
depende de alguns requisitos essenciais que, se não observados, podem
inviabilizar a avaliação da conformidade pretendida.
A existência de uma relação de confiança entre as partes interessa-
das (acreditador, regulamentador, certificador, fornecedor e consumidor)
é primordial para o sucesso de qualquer processo de avaliação da confor-
midade. Todo ruído que interfira nessa relação de confiança pode invia-
bilizar a implantação ou continuidade de um programa de certificação.
De acordo com o INMETRO, para o desenvolvimento de qualquer
programa de avaliação da conformidade, independentemente do respon-
sável, é necessário que haja disponibilidade de infraestrutura adequada
e de requisitos essenciais, como segue:

a) reconhecimento interno e externo;


57
b) padrões metrológicos internacionais;
c) acervo de normas técnicas atualizadas e alinhadas internacional-
mente;
d) regulamentos técnicos;
e) laboratórios de ensaios;
f) organismos certificadores;
g) prévia avaliação de viabilidade e impacto regulatório;
h) programas de avaliação da conformidade sistematizados;
i) acompanhamento no mercado;
j) tratamento de reclamações e denúncias;
k) educação e informação;
l) selo de identificação de conformidade. (INMETRO, 2015a, p. 28-
36)

Primeiramente, o programa de avaliação da conformidade deve es-


tar inserido em um sistema que proporcione o reconhecimento da cadeia
de acreditação, tanto nacional como internacionalmente. Esse reconhe-
cimento gera a confiança no programa de avaliação da conformidade a
ser implementado, minimizando eventuais barreiras técnicas entre os
países.
No Brasil, o INMETRO é o único órgão reconhecido pelo SINMETRO
e pelo IAF como organismo de acreditação; portanto, os organismos de
avaliação da conformidade, para ter reconhecimento nacional e interna-
cional, devem ser acreditados pelo INMETRO.
A adoção de padrões metrológicos internacionais também é impor-
tante, pois traz a referência para calibração dos padrões laboratoriais e
industriais nacionais.
O acervo de normas técnicas atualizadas e alinhadas internacional-
mente também é necessário na medida em que proporciona maior con-
fiança, por ser elaborado com ampla discussão e em consenso com a so-
ciedade. O alinhamento internacional da norma visa ao reconhecimento
bilateral entre os países, minimizando assim as barreiras técnicas.
Sempre que possível, as normas técnicas devem servir de base para a
edição de regulamentos técnicos, que devem ser estabelecidos por órgãos
competentes, juridicamente amparados como autoridade regulamenta-
dora e fiscalizadora no campo compulsório.
A interação entre a norma e o regulamento técnico deve ser harmo-
nizada. Se existir regulamento prévio, a elaboração da norma deve guar-
dar total compatibilidade com ele. Já o regulamento, ao basear-se em

58
uma norma existente, deve limitar-se a definir os requisitos ligados às
questões de segurança, saúde e meio ambiente.
A existência de laboratórios de ensaios é essencial para o processo
de certificação de produtos, tanto no setor produtivo, para propiciar a
gestão pela qualidade, como nos setores independentes, para legitimar
eventuais ensaios realizados pelos fabricantes.
Os relatórios de ensaios emitidos pelos laboratórios constituem
o principal insumo para a atestação da conformidade, e, sempre que
possível, os laboratórios de ensaio independentes devem estar próximos
dos setores produtivos para diminuição dos custos.
A Resolução CONMETRO nº 05, de 18 de dezembro de 2007, instituiu
o Guia de Boas Práticas de Regulamentação (GBPR), elaborado pelo Co-
mitê Brasileiro de Regulamentação, um dos comitês técnicos do CONME-
TRO, para orientar a criação de regulamentos técnicos pelas autoridades
competentes.
O GBPR orienta, ainda, a elaboração de uma avaliação de impacto
como prática recomendada para avaliar-se o impacto da regulamentação
nas dimensões econômica, social e ambiental, com o objetivo de propor-
cionar à sociedade uma boa regulamentação (CONMETRO, 2014a, p.
11).
Nesse caso, espera-se que a autoridade competente possa confirmar
que analisou criticamente a avaliação do impacto da regulamentação e
se assegurou de que os impactos positivos decorrentes da implantação
da regulamentação superam os negativos, sejam econômicos, sejam
ambientais ou sociais.
É imperioso que se analise a regulamentação técnica criticamente, de
maneira a assegurar sua eficácia e alcance dos seus objetivos, para preve-
nir a ocorrência de distorções no mercado ou efeitos não pretendidos.
Para tanto, é conveniente que a autoridade regulamentadora procure
identificar claramente quem são as partes interessadas no escopo e pla-
neje o seu envolvimento, de maneira a assegurar a participação efetiva e
envidar todos os esforços para a elaboração de uma boa regulamentação
(CONMETRO, 2014a, p. 18).
A participação das partes interessadas em todo o processo de ela-
boração da regulamentação técnica é essencial e muito importante, ga-
rantindo maior apoio e eficácia na implantação do programa. O processo
participativo também é muito rico, em termos de aprendizado e difusão
de conhecimento sobre a atividade de avaliação da conformidade.

59
Para se chegar a um consenso, são essenciais, no estabelecimento de
programas de avaliação da conformidade, as participações de entidades
representativas dos setores produtivos, dos consumidores, do governo,
de autoridades regulamentadoras e do meio acadêmico.
Um dos principais desafios na criação de um programa de avaliação
da conformidade é chegar ao equilíbrio entre o custo para sua implanta-
ção e o benefício para a sociedade.
Deve-se selecionar um conjunto mínimo de técnicas de gestão da qua-
lidade, suficientes para propiciar confiança na conformidade, mas com
o melhor custo-benefício para as partes interessadas. Esse equilíbrio
constitui um requisito de sucesso para um programa de avaliação da
conformidade.
Segundo o INMETRO (2015a, p. 14), quanto maior for a frequência
de auditorias e de ensaios em amostras colhidas na expedição das fábri-
cas ou no mercado, maior será a confiança de que o produto avaliado está
em conformidade com a norma ou o regulamento técnico aplicável.
Entretanto, a aplicação dessas ferramentas tem um custo que onera-
rá o preço do produto final, que será repassado para o consumidor. Nes-
se aspecto, o ponto ótimo a ser alcançado é aquele que propicia melhor
custo-benefício, conforme o disposto na Figura 5.
Outro requisito essencial é que o programa de avaliação da confor-
midade seja devidamente sistematizado. As regras que definem exata-
mente o que deve ser avaliado e os requisitos específicos de avaliação
também devem ser estabelecidos com a participação das partes interes-
sadas, na medida em que legitimam a qualidade do programa e facilitam
a sua implantação.

60
Figura 5 – Custo-benefício da avaliação da conformidade

Fonte: INMETRO, 2015a, p. 15.

Deve haver organismos certificadores acreditados especificamente


para o escopo do produto a ser avaliado. As certificações têm de ser
levadas a efeito por empresas e auditores qualificados para manter a
credibilidade da atividade de avaliação da conformidade. Da mesma
forma, sempre que possível, os organismos certificadores devem estar
situados próximos às regiões produtoras, procurando diminuir os cus-
tos de deslocamento dos seus auditores.
Outro requisito para um programa de certificação é o estabelecimen-
to de regras claras de acompanhamento no mercado para verificar se os
produtos chegam ao consumidor final preservando os requisitos atendi-
dos pelo fornecedor e atestados pelo organismo de certificação, propician-
do a adoção das medidas preventivas, corretivas ou punitivas cabíveis.
De acordo com o INMETRO, os programas de avaliação da conformi-
dade devem ser continuados por um conjunto de ações de acompanha-
mento e controle que é, certamente, mais complexo do que a avaliação
inicial do produto; portanto, exige maior grau de sistematização (INME-
TRO, 2015a, p. 18).
Os produtos presentes no mercado que ostentam o selo de identifica-
ção da conformidade devem ser coletados nos pontos de venda, de forma
a verificar, por meio de ensaios em laboratórios acreditados, se chegam
ao mercado tal como tiveram sua conformidade preliminarmente avalia-
da.
61
De acordo com o INMETRO, o controle e o acompanhamento no mer-
cado visam ainda:

a) aperfeiçoar os procedimentos de avaliação da conformidade;


b) contribuir para a concorrência justa;
c) proteger os consumidores;
d) impedir a entrada de produtos não conformes nos mercados;
e) combater a pirataria. (INMETRO, 2015a, p. 34-36)

A disponibilidade de um adequado tratamento de reclamações e de-


núncias de produtos não conformes é outro fator importante para manter
a credibilidade do programa. O tratamento das reclamações e denúncias
feitas por todos os envolvidos, sobretudo pelos consumidores, além de
prover confiança, é uma excelente oportunidade para o aperfeiçoamento
contínuo do programa de avaliação da conformidade.
Para que haja o envolvimento dos consumidores no processo de aper-
feiçoamento do programa de certificação, é essencial que se amplie o ní-
vel de informação sobre o seu conteúdo. A educação pública, levada a
efeito pelas demais partes interessadas, é fator preponderante para o
engajamento e para o conhecimento de responsabilidades e direitos dos
diferentes atores (INMETRO, 2015a, p. 36).
Por fim, todo produto certificado deve ser coroado com um selo de
identificação de conformidade. A atestação de conformidade é a evidência
de que um produto atende aos requisitos estabelecidos pelo programa de
certificação.
A Portaria INMETRO nº 274, de 2014, estabelece os requisitos de
uso e a forma de apresentação dos selos que são apostos aos produtos
com conformidade avaliada nos programas de certificação compulsórios e
voluntários, os quais, de acordo com a especificidade, podem apresentar
diferentes formas de identificação:

a) etiqueta colada no produto;


b) layout desenhado na embalagem do produto;
c) layout desenhado em alto-relevo no produto;
d) certificado impresso em papel;
e) listagem impressa; e
f) banco de dados informatizado. (INMETRO, 2014)

Cada gênero de programa, tais como saúde, segurança, meio ambien-


te e sustentabilidade, tem uma cor para identificação. Nos programas
62
compulsórios, a marca do INMETRO aparece no lado direito do selo e é
maior que a marca do organismo certificador.
Nos programas voluntários, é a marca do organismo certificador que
aparece do lado direito e tem destaque maior. No selo de declaração da
conformidade do fornecedor, deve ser usada a marcação RTB, com a mar-
ca do INMETRO. (FIGURA 6)
Na referida Portaria, verifica-se grande preocupação com a gestão
da marca do INMETRO, de forma a protegê-la contra a vulgarização e o
descrédito. Neste sentido, sérias punições são previstas a fim de evitar
falsificações e seu uso indevido (INMETRO, 2014).

Figura 6 – Selos de identificação do INMETRO

Fonte: INMETRO, 2015a, p. 32.

É importante destacar que, em programas de certificação geridos


por outros órgãos públicos, não é permitido o uso do selo do INMETRO.
Nesse caso, o selo de identificação de conformidade deve ser específico
do programa ou do órgão certificador, quando realizado por entidade de
terceira parte.
Assim sendo, o selo de identificação padrão do INMETRO somente
será utilizado em programa de avaliação voluntário ou compulsório, quan-
do houver RAC estabelecido pelo INMETRO.

63
4 – Análise do cenário nacional quanto à avaliação
da conformidade dos produtos de segurança contra

incêndio

4.1 Qualidade dos produtos de segurança contra


incêndio

Para verificar a qualidade dos produtos de segurança contra incêndio no


estado de São Paulo, deve ser feita uma análise com base na gestão pela
qualidade visando identificar os problemas apresentados e os pontos que
carecem de melhoria.
Segundo a Norma Técnica NBR ISO 9000, qualidade é o grau no
qual um conjunto de características, isto é, propriedades diferenciadoras
inerentes, satisfaz a requisitos, que são necessidades ou expectativas ex-
pressas, geralmente, de forma implícita ou obrigatória(ABNT, 2005a).
Com uma concepção mais concisa e clara, Fernandes (2011, p. 60) diz
que qualidade significa adequação ao uso. É o atendimento aos desejos
e às aspirações dos consumidores, incluindo os aspectos econômicos, de
segurança e de desempenho.
Armani, em seu trabalho sobre a Gestão pela Qualidade no serviço
de segurança contra incêndio, fez uma abordagem dos requisitos de sa-
tisfação dos clientes e disse:

Pensando como o proprietário de qualquer empresa que preze pelo bom


atendimento ao cliente, os gerenciadores do SvSCI do Corpo de Bombei-
ros não podem estar alheios à realidade contemporânea, época em que
os produtos e serviços necessitam apresentar características próprias
para que o cliente esteja satisfeito. (ARMANI, 2011, p. 77)

O estudo da gestão pela qualidade realizado por Armani foi voltado a


verificar a satisfação dos clientes em relação aos processos internos (aná-
lise de projetos, vistorias e atendimento ao público); no entanto, para se
verificar a qualidade da segurança contra incêndio como um todo, deve-
-se levar em consideração também fatores externos que interferem na
qualidade.

64
A segurança contra incêndio deve ser considerada em todas as fases
de uma edificação, passando pela concepção do anteprojeto, pelo proje-
to executivo, pela construção, pela utilização de produtos de qualidade,
pela instalação adequada e pela manutenção. Se a segurança contra in-
cêndio for desconsiderada em qualquer uma dessas etapas, a edificação
ficará suscetível a riscos de inconveniências funcionais, gastos excessi-
vos e níveis de segurança inadequados.
Grande parte dos problemas relacionados à segurança contra incên-
dio ocorre durante a fase de utilização da edificação e depende do perfil
do usuário que a habita; entretanto, a falha comumente é iniciada no
processo construtivo, devido ao não atendimento à legislação de seguran-
ça contra incêndio existente. (FIGURA 7)

Figura 7 – Equação de qualidade da segurança contra incêndio

Fonte: o autor.

A segurança contra incêndio nas edificações somente pode ser ga-


rantida se em todas as fases do processo de prevenção for plenamente
observada, ou seja, é necessária uma boa normalização técnica, um bom
projeto técnico de segurança contra incêndio, produtos de segurança con-
tra incêndio de qualidade e instalação realizada por pessoal devidamen-
te capacitado e treinado.
Os Corpos de Bombeiros, de maneira geral, já atuam efetivamente
na regulamentação, por meio da edição das Instruções Técnicas, e na
adequação dos projetos, no processo de análise de Projetos Técnicos; po-
65
rém, atuam de forma muito modesta na exigência de produtos adequa-
dos e de instalações adequadas.
A vistoria técnica do Corpo de Bombeiros, para fins de emissão de
licença da edificação, tem como objetivo a verificação básica do funcio-
namento dos equipamentos e é realizada de forma amostral, não tendo
como fulcro testar todos os requisitos de norma para equipamentos e
instalações.
Considerando que o uso adequado do equipamento e sua manutenção
adequada são fatores mais associados à educação pública do que ao ser-
viço de segurança contra incêndio em si, restou ao Corpo de Bombeiros a
adoção de medidas efetivas para aferição da qualidade dos produtos e das
instalações.
Além de causar a perda de vidas e a perda patrimonial em caso de in-
cêndio, que por si só já justificaria qualquer intervenção para melhoria,
o não funcionamento, ou o funcionamento inadequado dos produtos, na
eclosão de um incêndio, compromete todas as medidas adotadas ante-
riormente e acarreta alto custo para o Estado.
A elaboração de uma Norma Brasileira, ou de uma Instrução Técnica
do Corpo de Bombeiros, envolve muito tempo de trabalho de profissio-
nais capacitados para ser colocado a perder com a instalação de produtos
sem qualidade.
Para aprovar um Projeto Técnico no Corpo de Bombeiros, o proprie-
tário tem de contratar um responsável técnico que deverá confeccionar
as plantas arquitetônicas com as medidas de segurança contra incêndio,
recolhendo a respectiva Anotação ou Registro de Responsabilidade Téc-
nica.
Além disso, o proprietário deve recolher uma taxa de análise ao Esta-
do, que varia de acordo com a área da edificação. O Estado, por sua vez,
deve manter estrutura e pessoal específico para análise da adequação
dos projetos em relação às normas.
Da mesma forma, para obter o AVCB, o proprietário deve contra-
tar um responsável técnico para fazer a instalação e/ou manutenção dos
equipamentos de segurança contra incêndio, emitindo a corresponden-
te Anotação ou Registro de Responsabilidade Técnica, além de outros
documentos obrigatórios, como o Atestado de Formação de Brigada de
Incêndio e o Atestado de Conformidade das Instalações Elétricas. Para
a vistoria, o proprietário também deve recolher uma taxa ao Estado, que
varia de acordo com a área da edificação a ser vistoriada.
O Estado também deve manter estrutura com vistoriadores em todas
as regiões que confiram os sistemas de proteção das edificações. Essa
66
estrutura é formada por uma grande equipe de apoio, sendo muitos com
dedicação exclusiva, para processar o pedido de vistoria até a emissão
da licença.
Os processos do serviço de segurança contra incêndio são mantidos
por sistemas informatizados, que também necessitam de despesas para
hospedagem e manutenção mensais; portanto, somando-se o ônus do Es-
tado e do interessado, o custo total para a regularização das edificações
nos Corpos de Bombeiros é muito alto e poderá ser todo em vão, caso os
produtos instalados não sejam de qualidade.
Além da questão do custo para a regularização, outro grande proble-
ma no setor é que, muitas vezes, os proprietários e os usuários das edifi-
cações não participam do processo de escolha e de compra dos produtos
de segurança contra incêndio. Dessa forma, os consumidores finais de-
frontam-se com a falta de qualidade, ou com a inoperância dos produtos,
justamente na hora em que mais precisam, ou seja, durante o “sinistro”.
Essa problemática ocorre porque, na maioria das vezes, são os respon-
sáveis técnicos (engenheiros e arquitetos) que escolhem e compram os pro-
dutos de segurança contra incêndio, por ocasião de construções, reformas
e regularizações das edificações, sendo que os verdadeiros consumidores,
proprietários dos imóveis ou simplesmente usuários, ficam a par desse
processo.
O problema é agravado pelo fato de os sistemas de segurança contra in-
cêndio comporem uma parte não funcional e, algumas vezes, não aparente
das edificações. Com frequência, as construtoras buscam economizar na
compra de produtos mais baratos disponíveis no mercado, normalmente
de baixa qualidade, mas que são aceitos pelos Corpos de Bombeiros, que
conseguem fazer apenas uma inspeção visual e de verificação básica de
seu funcionamento.
A falha de funcionamento dos produtos de segurança contra incêndio
no Brasil, devido ao não atendimento às normas técnicas e à baixa quali-
dade do produto, afeta diretamente a segurança do consumidor, que não
tem conhecimento da qualidade do sistema que o protege dentro de uma
edificação.
Além disso, o desequilíbrio no mercado, com a concorrência desleal
decorrente da falta de regulação e fiscalização, tem permitido a prolife-
ração de produtores e importadores que comercializam produtos de segu-
rança contra incêndio não conformes, a um custo muito baixo.
Por essas razões, nos últimos anos, tem se discutido muito a amplia-
ção da compulsoriedade da certificação para os produtos de segurança

67
contra incêndio no Brasil, sobretudo aqueles que mais sofrem com os
problemas relatados.
A fim de garantir que os componentes utilizados na instalação estão
em conformidade com as normas e regulamentações técnicas e que pre-
servam as condições adequadas de operação durante a fase de uso da
edificação, a única forma é submetê-los a ensaios laboratoriais.
Neste aspecto, como não é possível submeter a ensaio grandes quan-
tidades de produtos, oriundos de um número variado de edificações, a
solução alternativa seria um processo de certificação que fizesse a ava-
liação da conformidade dos produtos de forma amostral, sistemática e
rotineira, tanto no processo produtivo, quanto no comércio.
É evidente que a certificação não eliminará completamente os pro-
blemas de conformidade dos produtos, já que outras variáveis influem
nesse processo; no entanto, há estudos comprovando que a certificação
pode contribuir significativamente para a melhoria da confiabilidade dos
produtos.
Uma pesquisa interessante, realizada pelo Instituto de Pesquisas
Tecnológicas de São Paulo (IPT) durante os anos de 2015 e 2016, colheu
diversas amostras de mangueiras de incêndio do tipo 2, submetendo-as
a ensaio de comportamento hidrostático, de acordo com a ABNT NBR
12779 – Mangueiras de incêndio – Inspeção, manutenção e cuidados.
Antes da apresentação do resultado, é importante esclarecer que a certi-
ficação para mangueiras de incêndio é voluntária pelo INMETRO.
O resultado da pesquisa foi apresentado por Antonio Fernando Ber-
to, responsável pelo laboratório de segurança ao fogo e a explosões do
IPT, em palestra ministrada no seminário que marcou o lançamento do
Programa de Certificação de Produtos de Segurança contra Incêndio da
UL do Brasil, no dia 15 de março de 2016, na cidade de São Paulo.
Na ocasião, demostrou-se que foram colhidas amostras de 28 edifi-
cações distintas; em 13 edificações (46%) as mangueiras falharam. Das
49 mangueiras submetidas a ensaios, sendo 27 não certificadas (55%) e
22 certificadas (45%), 17 mangueiras de incêndio falharam (14 não cer-
tificadas e 3 certificadas), ou seja, 52% das mangueiras não certificadas
e 14% das mangueiras certificadas, comprovando uma alta taxa de não
conformidades para produtos sem certificação (BERTO, 2016).
No mercado de extintores de incêndio novos, em que a certificação é
compulsória pelo INMETRO, também é possível encontrar produtos não
conformes, mostrando claramente que a certificação não é a única solu-
ção para o problema; no entanto, não há como negar que a porcentagem
de conformidades é muito maior em produtos certificados, se comparada
68
a outros mercados como o de iluminação de emergência e o de sinalização
de emergência, que não contam com programas de certificação, realidade
bem conhecida dos vistoriadores dos Corpos de Bombeiros Militares.
A ABSpk, criada em 2011, tem constantemente advertido sobre a
importância da certificação de chuveiros automáticos. Em palestra pro-
ferida no 2º Congresso Brasileiro de Sprinklers, que ocorreu nos dias 27
e 28 de outubro de 2016, na cidade do Rio de Janeiro, o Coordenador do
Comitê Técnico da ABSpk, Felipe Melo, alertou que há milhões de bicos
instalados sem certificação no Brasil, colocando em risco as instalações e
os seus ocupantes (MELO, 2016).
Até 2007, as vendas de chuveiros automáticos no Brasil eram baixas,
provavelmente pelo desconhecimento quanto à aplicação da tecnologia e,
também, por não haver NBR de instalação atualizada. A partir de 2007,
as importações de chuveiros automáticos começaram a apresentar altas
taxas de crescimento até o ano de 2013. Foram evidenciadas quedas a
partir de 2014, que podem ser explicadas pela crise econômica que o Bra-
sil passa atualmente e pelo aumento da produção nacional. (GRÁFICO
1)

Gráfico 1 – Importação de chuveiros automáticos no Brasil

Fonte: Melo, 2016.

Foi esclarecido que o aumento da venda de chuveiros automáticos


no Brasil veio acompanhado pela entrada de bicos importados, sendo
69
a maioria proveniente da Ásia. Como até 2007 o consumo no mercado
nacional era pequeno, não havia interesse comercial na importação de
bicos-padrão; porém, com o crescimento do mercado, começou a chegar
ao Brasil uma grande quantidade de bicos-padrão com certificação UL e
UL/FM.
O problema é que, pelo estudo apresentado, em 2009 também come-
çaram a aparecer no mercado os chuveiros automáticos importados sem
certificação. Os anos seguintes foram marcados por uma entrada maciça
de bicos sem certificação e, em pouco tempo, a partir do ano de 2014, a
porcentagem de bicos sem certificação superou a porcentagem de bicos cer-
tificados. (GRÁFICOS 2 e 3)

Gráfico 2 – Quantidade de importação de bicos certificados


e não certificados

Fonte: Melo, 2016.

70
Gráfico 3 – Porcentagem de importação de bicos certificados
e não certificados

Fonte: Melo, 2016.

Outra preocupação da ABSpk é que, em 2015, foram registradas as


primeiras importações de bicos especiais para depósitos sem certificação,
alertando a todos quanto à evolução do quadro apresentado no mercado
nacional, caso nada seja feito.
O mercado de chuveiros automáticos, da forma como se apresenta,
dá azo à concorrência desleal entre as empresas, sendo que o preço dos
bicos comercializados no Brasil, com e sem certificação, pode explicar
essa problemática.
Segundo Melo (2016), no ano 2016, em uma pesquisa no mercado
nacional referente ao preço médio dos chuveiros automáticos do tipo
K-5.6, enquanto os importados com certificação UL ou UL/FM custaram
R$ 21,00 e os bicos nacionais certificados custaram R$ 17,00, os bicos
importados sem certificação foram comercializados por apenas R$ 6,00.
(GRÁFICO 4)
Considerando que há casos em que são necessárias centenas de bicos
para proteger a edificação, um valor 65% menor que o do chuveiro auto-
mático fabricado e certificado no Brasil é uma economia convidativa, em
um mercado desregulado, para o responsável que tem certeza de que o
produto sem certificação será aceito pelos Corpos de Bombeiros.

71
Gráfico 4 – Porcentagem de importação de bicos certificados e
não certificados

Fonte: Melo, 2016.

Uma das maiores preocupações da comunidade internacional em re-


lação ao produto sem certificação está no risco potencial de ele falhar. Es-
tudos elaborados recentemente com chuveiros automáticos comprovam
que a falta de adequação em relação à norma técnica tem gerado elevado
índice de deficiência do produto em caso de incêndio.
A SKOP, empresa nacional fabricante de chuveiros automáticos e asso-
ciada à ABSpk, publicou em sua página na internet, no dia 7 de março de
2016, um artigo com o título: Cuidado com sprinklers “fora de norma”.
O produto “fora de norma” é aquele sem certificação e que não cumpre os
requisitos das Normas Brasileiras ou de normas internacionais similares
(SKOP, 2016).
O interessante no artigo foi a pergunta inicial feita ao leitor: “Você
já ouviu falar em sprinkler que derrete com fogo? Parece piada,
mas não é!”. A empresa explica que os sprinklers não certificados cos-
tumam usar ligas metálicas frágeis, como o “zamac”, que não resistem
a 400 °C, enquanto que, em um incêndio real, facilmente a temperatura
ultrapassa os 700 °C. (FIGURA 8)

72
Figura 8 – Chuveiros automáticos que derretem com o fogo

Fonte: SKOP, 2016.

O artigo prossegue dizendo: “Risco de ‘entupimento’: o barato que


sai caro”. A empresa explica que ninguém consegue ver a olho nu, mas é
frequente o uso de anéis de borracha (tipo “O-Ring”) na vedação que, com
o tempo, podem se dissolver e “colar” o obturador ao corpo do sprinkler,
literalmente “entupindo” a saída de água, mesmo que haja rompimento
do bulbo. Complementa dizendo que o uso desses anéis de borracha foi
banido das normas técnicas e até provocou um recall gigantesco nos Es-
tados Unidos da América, causando a falência de um fabricante em junho
de 2001. (FIGURA 9)

Figura 9 – Chuveiro automático que faz uso de “O-Ring”

Fonte: SKOP, 2016.

73
O alerta da empresa SKOP foi comprovado por um estudo inédito
realizado pela ABSpk e pela National Fire Sprinkler Association (IFSA).
Foram retirados de duas edificações no estado de São Paulo, uma gara-
gem de um prédio comercial em Jundiaí e de um escritório em São Paulo
250 bicos upright e 96 bicos pendentes, todos recém-fabricados e sem
certificação, que foram substituídos por produtos certificados.
Os produtos extraídos foram embalados e enviados para testes nos
laboratórios da UL e da FM Approval (FM), nos Estados Unidos da Amé-
rica. Foram selecionados apenas nove itens da norma para avaliação, dos
cerca de 35 existentes, e os produtos passaram por minuciosa verificação
no que diz respeito a índice de tempo de resposta, controle da tempera-
tura, obstrução de bicos, vazão e distribuição.
Os resultados dos testes feitos com base nas normas UL 199: Stan-
dard for Automatic Sprinklers for Fire Protection Service e FM Approval
Standard 2000: Automatic Control Mode Sprinkler for Fire Protection,
que guardam correspondência com a Norma Brasileira, foram apresen-
tados por Nicholas Groos, representante da IFSA, no 2º Congresso Bra-
sileiro de Sprinklers, que ocorreu nos dias 27 e 28 de outubro de 2016, na
cidade do Rio de Janeiro.
O palestrante começou salientando a importância do sistema de chu-
veiros automáticos, esclarecendo, de acordo com os dados do IFSA, que
ele é responsável pela extinção ou pelo controle efetivo de 95% dos incên-
dios, reduz em até oito vezes os danos e, principalmente, reduz signifi-
cativamente o número de mortes, inclusive dos que se encontravam em
locais distantes do fogo. Complementa afirmando que os produtos sem
certificação, por não atenderem aos requisitos normativos, não apresen-
tam a mesma performance, fragilizando o sistema de proteção (GROSS,
2016).
Na amostra submetida a testes, todos os bicos utilizavam “O-Ring”,
material para vedação que não é permitido por norma há mais de 10
anos. “O-Rings” se degradam com o tempo, devido à corrosão e ao acú-
mulo de impurezas do ambiente. Quando eles se degradam, ficam pro-
pensos a vazamentos e, o que é pior, podem prender o obturador. Ao
“colar” o obturador à base do bico, somente um acréscimo de pressão
poderá desprendê-lo, sendo provável que ele nunca entre em operação.
(FIGURA 10)

74
Figura 10 – “O-Ring” encontrado nos chuveiros automáticos
submetidos a testes

Fonte: Gross, 2016.

Outro importante teste realizado foi o de obstrução, conhecido como


teste de lodgment, sendo este o pesadelo dos engenheiros de projetos de
chuveiros automáticos. No momento em que um bico entra em operação,
o teste de lodgment avalia se o obturador e as demais partes móveis não
ficam presos entre o orifício de descarga e o defletor, obstruindo a saída
e a perfeita distribuição da água. (FIGURA 11)
Segundo Gross (2016), quando a obstrução ocorre em um bico ativa-
do, o padrão de distribuição da água é imprevisível e, o que é pior, a obs-
trução pode fazer com que a água seja mal direcionada para outros bicos,
fazendo com que sua ativação seja tardia ou eles jamais sejam ativados.
O teste que avalia se há obstrução no bico é feito com alimentação
de água em ambas as direções e também em apenas uma direção, simu-
lando um bico no fim do ramal. O teste também é feito com uma ampla
gama de pressões na rede, que variam de 0,5 bar a12 bar. Pela norma,
admite-se apenas 1% de obstrução na amostra testada.

75
Figura 11 – Lodgment (obstrução)

Fonte: Gross, 2016.

Os chuveiros automáticos retirados das edificações em São Paulo,


submetidos a testes na UL e na FM, tiveram altíssimo índice de obstru-
ção. Com algumas exceções em baixa pressão, constatou-se uma média
de 47,5% de não conformidade no teste de lodgment, sendo que, em al-
gumas situações de pressão e de alimentação, 100% dos bicos falharam.
(FIGURA 12)

Figura 12 – Resultado do teste de lodgment (obstrução de bico)

Fonte: Gross, 2016.


76
Um outro teste buscou avaliar o índice de tempo de resposta (RTI)
dos chuveiros automáticos quando eles atingem a sua temperatura de
ativação. O RTI de um bico é obtido pela combinação entre a dimensão do
dispositivo de acionamento e a condutividade térmica do seu material,
determinando a rapidez com que um chuveiro automático será ativado
em caso de incêndio.
O padrão é que o RTI, medido em metros por segundo0,5, esteja na
faixa entre 80 e 250; porém, há sistemas de chuveiros automáticos que
utilizam bicos de resposta rápida, com RTI inferior a 50, especialmente
dimensionados para melhor controlar ou extinguir incêndios, uma vez
que serão ativados nos estágios iniciais da curva de crescimento do fogo.
Há também os chuveiros automáticos especiais, cujo RTI está dentro de
uma faixa intermediária. (FIGURA 13)

Figura 13 – Teste de índice de RTI

Fonte: Gross, 2016.

Para o uso de chuveiros automáticos com RTI fora do padrão, todo o


sistema deve ser dimensionado para essa condição, já que poderá ocorrer
a ativação de um maior número de bicos e, consequentemente, haverá
maior consumo de água. Para que o sistema não entre em colapso, por
falta de água ou de pressão, o dimensionamento deve prever maior re-
serva de incêndio ou maior espaçamento entre os bicos (GROSS, 2016).
Nos testes elaborados pela UL e pela FM, verificou-se que todos os
chuveiros automáticos submetidos tiveram valores de RTI inferiores ao
77
padrão, dentro de uma faixa classificada como especial. Como a NFPA
13, sobre dimensionamento de sistemas chuveiros automáticos, não pres-
creve o uso desse tipo de bico, é bem provável que as edificações estejam
dimensionadas para o uso de bicos com RTI padrão. Nessa situação, em
caso de incêndio, é impossível afirmar que o sistema de proteção contra
incêndio será eficiente (GROSS, 2016).
Outro teste no laboratório verificou a carga de montagem. Quando
um chuveiro automático é confeccionado, o bulbo ou o fusível é submeti-
do a uma força de compressão pelo obturador, responsável pela vedação
do orifício de descarga de água. Quando o bulbo ou o fusível se rompe, a
força de compressão é libertada e a pressão da água sobrepõe a vedação.
Essa força de compressão no bulbo deve ser suficiente para garantir a ve-
dação, mas não demasiada, para que não haja o risco de ruptura do bulbo
no caso de um aumento de pressão no sistema, a exemplo de quando a
bomba de incêndio é acionada. (FIGURA 14)

Figura 14 – Teste de carga de montagem

Fonte: Gross, 2016.

Nos testes elaborados pela UL e pela FM, a carga de montagem foi


compatível com um bico de resposta padrão; no entanto, como no teste de
RTI os bicos foram classificados como de resposta especial, o que sugere
uma parede de vidro do bulbo mais fina, as cargas de montagem excede-
ram os valores que são permitidos para os referidos bulbos, ocasionando
o risco de rompimento em caso de excesso de pressão (GROSS, 2016).

78
Outro teste realizado encontrou não conformidades na distribui-
ção da água. Nele um conjunto de recipientes é distribuído no piso
e os chuveiros automáticos acima são acionados. Após um tempo de
descarga de 10 minutos, os recipientes são mensurados para verificar
se houve distribuição uniforme e se o volume depositado está aceitá-
vel. Os chuveiros automáticos pendentes apresentaram volumetria
abaixo do recomendado por norma, o que pode prejudicar o controle
do incêndio (GROSS, 2016).
Foi realizado também um teste de fogo. Um bico acionado a 4,8 m
do piso deve controlar um incêndio provocado por um engradado de ma-
neira em chamas. Após 30 minutos de queima, o teste verifica quanto de
madeira foi consumido durante o período e quais foram as temperaturas
atingidas no ambiente. (FIGURA 15)
Segundo Gross (2016), os resultados comprovaram que os bicos sub-
metidos ao teste não conseguiram limitar a temperatura no teto abaixo
de 326 ºC, conforme exigido por norma.

79
Figura 15 – Teste de engradado de madeira

Fonte: Gross, 2016.

Com base nos testes elaborados pelos laboratórios da UL e da FM,


pôde-se comprovar as alegações da SKOP e da ABSpK, ambas preocupa-
das com a disseminação no Brasil dos chuveiros automáticos não certi-
ficados, não só por uma questão de mercado e credibilidade do produto,
mas também por causarem sérios riscos às propriedades e a seus ocu-
pantes.

4.2 Situação atual da certificação dos produtos de


segurança contra incêndio

Para dimensionar os obstáculos por vencer na implantação de um pro-


grama de certificação, é necessário analisar a situação atual dos produ-
tos de segurança contra incêndio no Brasil, sob a ótica dos requisitos de
80
sucesso para certificação de produtos já apresentados, sem prescindir,
posteriormente, do estudo individualizado de cada produto.
De uma maneira geral, mesmo com o SINMETRO, até o início dos
anos 1990, ainda era insignificante o número de produtos certificados no
Brasil, visto que os grandes compradores no mercado nacional não acei-
tavam explicitamente as certificações de organismos independentes, pre-
ferindo utilizar estrutura própria para qualificação de seus fornecedores.
Atualmente, o SINMETRO, por meio de seus órgãos, está mais bem
estruturado em termos de legislação e procedimentos de avaliação da
conformidade, disponibilizando, assim, um sistema com reconhecimento
nacional e internacional, dentro de uma cadeia de acreditação.
Da mesma maneira, os padrões metrológicos e laboratoriais já fo-
ram estabelecidos pelo CONMETRO e atendem às normas internacio-
nais, proporcionando credibilidade ao Sistema Brasileiro de Avaliação
da Conformidade.
A atuação mais efetiva do INMETRO, aliada à educação pública, à
demanda de mercado e à crescente onda da qualidade, gerou mudanças
comportamentais na sociedade como um todo, dessa forma, a partir dos
anos 1990, cresceu o número de programas de avaliação da conformidade
no Brasil.
Ainda assim, comparada a outros países, a certificação de produtos
no Brasil é muito incipiente, sobretudo na área de segurança contra in-
cêndio, pois, nesse escopo, somente os extintores de incêndio, os indi-
cadores de pressão para extintores de incêndio e o pó para extinção de
incêndio têm certificação compulsória pelo INMETRO.
Em relação a extintores, o INMETRO conta ainda com um programa
de avaliação da conformidade compulsória para inspeção e manutenção
de extintores de incêndio, mas utilizando o mecanismo de declaração do
fornecedor e não o da certificação. Dessa forma, de maneira compulsória,
temos regulamentados pelo INMETRO apenas os extintores de incêndio.
Essa questão é muito diferente em países desenvolvidos, onde muitos
produtos de segurança contra incêndio têm avaliação da conformidade
feita de forma compulsória.
Já no campo voluntário, ou seja, sem a exigência de órgãos públicos,
a certificação de produtos de segurança contra incêndio pode se apresen-
tar de duas formas:

a) programas regulamentados pelo INMETRO; e


b) programas não regulamentados pelo INMETRO.
81
De forma regulamentada pelo INMETRO, a certificação voluntária
também é muito pequena, uma vez que existe apenas o programa de
certificação para mangueiras de incêndio.
De forma não regulamentada pelo INMETRO, ou seja, com RAC
estipulados diretamente pelos organismos certificadores, existem mais
programas de avaliação da conformidade, que podem ser encontrados no
mercado nacional em duas situações:

a) programas de certificação com normas técnicas, RAC e organis-


mos de certificação nacionais; e
b) programas de certificação com normas técnicas, RAC e organis-
mos de certificação de outros países.

Com normas técnicas, RAC e organismos de certificação nacionais,


estão disponíveis no mercado os seguintes programas de certificação vo-
luntários, na área de segurança contra incêndio:

a) união para mangueiras de incêndio;


b) esguicho de jato regulável;
c) chuveiros automáticos para extinção de incêndio;
d) porta corta-fogo para saída de emergência;
e) acessórios para porta corta-fogo;
f) porta corta-fogo para entrada de unidades autônomas e de com-
partimentos específicos de edificações;
g) portas e vedadores corta-fogo com núcleo de madeira para isola-
mento de riscos em ambientes comerciais e industriais;
h) líquido gerador de espuma (LGE);
i) motores a diesel para bombas hidráulicas para uso em sistema
contra incêndio;
j) brigada de incêndio e centros de formação de brigada de incêndio;
e
k) inspeção e manutenção de mangueiras de incêndio.

Por um lado, atualmente, a ABNT – Certificadora é o organismo que


mais dispõe de programas de certificação na área de segurança contra
incêndio, com as variáveis de normas técnicas e os requisitos de avalia-
ção nacionais.
Por outro lado, com normas técnicas, RAC e organismos de certifi-
cação de outros países estão disponíveis no mercado internacional um

82
grande número de programas de certificação voluntários para diversos
produtos de segurança contra incêndio.
A Underwriters Laboratories (UL-USA) e a Factory Mutual Appro-
vals (FM Approvals), ambas dos Estados Unidos, podem ser considera-
dos grandes organismos de certificação estrangeiros, com séculos de ex-
periência na área de segurança contra incêndio.
A Conformidade Europeia (CE) é uma avaliação da conformidade
que utiliza, como regra, o mecanismo de declaração do fornecedor. Nes-
se caso, o próprio fabricante atesta que o produto atende aos requisitos
essenciais das legislações europeias pertinentes. Nos casos em que se
almeja a segurança do usuário, a CE também lança mão do mecanismo
da certificação, no qual a atestação da conformidade é realizada por or-
ganismo independente.
A marcação CE é uma medida importante que a União Europeia ado-
tou para estabelecer o mercado único e para promover o desenvolvimen-
to econômico nos Estados-membros.
Comparados aos nacionais, os programas de certificação de outros
países são muito mais caros, em razão do câmbio. Outro problema é que
esses organismos, algumas vezes, acabam não certificando produtos na-
cionais por não renunciarem à avaliação da conformidade utilizando nor-
mas técnicas e requisitos próprios.
É importante salientar que, embora haja poucos programas regula-
mentados pelo INMETRO, há OCP que são acreditados pelo INMETRO
para outros escopos, o que é perfeitamente possível dentro do Sistema de
Brasileiro de Avaliação da Conformidade.
A pesquisa para saber se há um OCP acreditado para determinado
escopo pode ser feita pela internet, na página do INMETRO. Como suges-
tão para refinar a consulta, pode-se selecionar como tipo “um organismo
de certificação de produtos”, com situação “ativa” no Brasil, sendo o esco-
po alguma palavra característica, como “incêndio”. (FIGURA 16)

83
Figura 16 – Página de consulta de organismos
acreditados pelo INMETRO

Fonte: INMETRO, 2016b.

Ao clicar no botão Consultar, a página retorna uma lista dos OCP


acreditados, tanto de programas compulsórios ou voluntários do INME-
TRO, quanto de programas não regulamentos pelo INMETRO. Para ver
a lista completa dos programas, basta clicar sobre o nome do organismo
acreditado. (FIGURA 17)

Figura 17 – Retorno de OCP acreditados pelo INMETRO


no escopo “incêndio”

Fonte: INMETRO, 2016b.

Com a pesquisa, pode-se comprovar que há poucos organismos acre-


ditados pelo INMETRO para certificação de produtos na área de segu-
rança contra incêndio.

84
Essa lacuna dá azo à existência de diversos programas de qualifica-
ção levados a efeito por associações de fabricantes e importadores de pro-
dutos de segurança contra incêndio, a exemplo da Associação Brasilei-
ra das Indústrias de Equipamentos contra Incêndio e Cilindros de Alta
Pressão (ABIEX) e da Associação Brasileira dos Fabricantes de Chapas
para Drywall (Associação DRYWALL), que buscam, fora do SINMETRO,
regular o mercado e proporcionar mais qualidade aos produtos.
No entanto, esses programas de qualificação fora do SINMETRO,
sem a interferência de órgãos públicos na fiscalização, podem não ser
muito eficazes. Por essa razão, algumas associações, tais como a pró-
pria ABIEX, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
(ABINEE) e, mais recentemente, a ABSpK, já solicitaram formalmente
ao INMETRO o desenvolvimento de programas de certificação para pro-
dutos de seus interesses.
Todas as solicitações estão sendo processadas. Em consulta ao Plano
de Ação Quadrienal 2014-2017, aprovado pelo CONMETRO, verificou-se
as seguintes decisões do órgão para cumprimento no referido período:

a) desenvolver o programa de avaliação da conformidade para man-


gueira de incêndio. Essa demanda já constava no Plano de Ação
Quadrienal 2012-2015 para estudos de impacto e viabilidade.
Concluído o estudo, o produto entrou no Plano Quadrienal atual
para desenvolvimento. Em 2015, foi instituído o programa de
avaliação da conformidade voluntário, conforme a Portaria IN-
METRO nº 148, de 13 de março de 2015;
b) aperfeiçoar os programas de avaliação de conformidade existen-
tes sobre extintores de incêndio, pó para extinção, indicadores de
pressão e serviços de inspeção e manutenção de extintores de in-
cêndio. Esse aperfeiçoamento já está em curso, com apresentação
de algumas propostas para consulta pública;
c) não regulamentar válvulas para extintores portáteis. Essa de-
manda já constava no Plano de Ação Quadrienal 2012-2015 para
estudos de impacto e viabilidade. Após o estudo, o INMETRO re-
comendou não desenvolver regulamentações técnicas ou progra-
mas de avaliação da conformidade para o referido produto;
d) não regulamentar mangotinhos para sistemas de hidrantes. Essa
demanda foi feita pelo programa “Brasil sem Chamas” e já cons-
tava no Plano de Ação Quadrienal 2012-2015 para estudos de
impacto e viabilidade. Em razão da desarticulação do setor pro-
dutivo em torno da demanda, foi solicitada pela coordenação do
programa a desistência da regulamentação.

85
e) efetuar a análise e a avaliação de impacto regulatório para acio-
nadores manuais de alarme contra incêndio, centrais de alarme,
detectores de fumaça, detectores de temperatura contra incên-
dio, sinalização de emergência e espuma de poliuretano autoex-
tinguível. Com exceção da espuma, os demais produtos já cons-
tavam no Plano de Ação Quadrienal 2012-2015 para estudos de
impacto e viabilidade.
f) aprovar o pedido para efetuar o EIV para chuveiros automáticos.
(CONMETRO, 2014b)

Após a aprovação do Plano de Ação Quadrienal, é estabelecida uma


Agenda Regulatória, com um horizonte de dois anos, para controle da
execução do referido plano.
Na página do INMETRO na internet, onde pode ser encontrada a
Agenda Regulatória do biênio 2015-2016, verifica-se que a temática da
segurança contra incêndio está sendo estudada com a seguinte justifica-
tiva:

O incêndio é uma ocorrência de risco alto para a segurança humana e


patrimonial. O estudo tem o objetivo de avaliar o problema e os riscos
dos objetos, os limites da competência legal do Inmetro, bem como esti-
mar os impactos, custos e benefícios da adoção de uma medida regula-
tória. (INMETRO, 2016c).

Na referida agenda, atualizada até 10 de junho de 2015, consta que


já foram concluídos, pela Diretoria de Avaliação da Conformidade do IN-
METRO, os estudos de impacto regulatório dos seguintes produtos:

a) chuveiros automáticos;
b) acionadores manuais de alarme contra incêndio;
c) centrais de alarme;
d) detectores de fumaça;
e) detectores de temperatura contra incêndio;
f) sinalização de emergência; e
g) espuma de poliuretano autoextinguível. (INMETRO, 2016c)

De acordo com a Agenda Regulatória 2015-2016, o programa para


espuma de poliuretano autoextinguível mudou de nome e passou a de-
nominar-se isolantes acústicos e térmicos para uso na construção civil.

86
Atualmente, nesse escopo, há uma proposta de Regulamentação Técnica
pelo INMETRO em consulta pública.
Embora concluídos, não foram disponibilizados, ainda, pelo INME-
TRO, os resultados finais dos estudos de impacto regulatório dos pro-
dutos de segurança contra incêndio listados na Agenda Regulatória
2015-2016, de sorte que não há uma definição ou priorização oficial para
implantação de novos programas de avaliação da conformidade nessa
área.
Para utilizar a estrutura do SINMETRO, além dos OCP, é muito
importante também que haja uma infraestrutura de laboratórios de
ensaio acreditados pelo INMETRO, no escopo específico do produto.
Uma excelente infraestrutura de laboratórios é aquela que possui vá-
rios laboratórios acreditados para possibilitar a concorrência e a agilida-
de do ensaio, se possível instalados próximo às regiões produtoras para
diminuir o custo, que sejam de terceira parte, ou seja, independentes
em relação ao fabricante ou importador e ao certificador, para garantir
a credibilidade.
Em funcionamento no território nacional, temos poucos laboratórios
acreditados pelo INMETRO, em escopos específicos de segurança contra
incêndio. O mais conhecido, que oferece o maior número de ensaio de
produtos, é o IPT, com mais de 100 anos de atuação.
Os laboratórios acreditados também podem ser pesquisados na pági-
na do INMETRO, seguindo a mesma sequência lógica para a consulta de
OCP. Na busca, é possível constatar essa grande deficiência laboratorial
na área de segurança contra incêndio.
De acordo com o Regulamento Geral de Certificação de Produtos,
a preferência sempre é a escolha de um laboratório de terceira parte
acreditado pelo INMETRO no escopo do ensaio. Porém, na ausência,
há regras claras e ordem de prioridades para escolha de outros tipos de
laboratórios (INMETRO, 2015b).
Pelo SINMETRO, é possível a escolha de laboratório não acreditado
pelo INMETRO, de laboratório acreditado para escopo diverso do preten-
dido, ou mesmo de laboratório de primeira parte (do fabricante). Nesse
caso, o órgão certificador deve acompanhar 100% dos testes efetuados.
A ausência de laboratórios acreditados pelo INMETRO no escopo não
é um impeditivo para o estabelecimento de um programa de certificação,
mas é um limitador na medida em que dificulta o acompanhamento no
mercado, já que os responsáveis pela fiscalização não terão como encami-
nhar amostras para os laboratórios acreditados.

87
É importante que o novo programa ofereça um prazo para que os
laboratórios interessados se acreditem no escopo; no entanto, decorrido
esse prazo, se o órgão regulador entender viável, a regra já permite sele-
cionar o próximo tipo de laboratório, na ordem de prioridades, para que
não se obstrua o programa de certificação.
Outra questão importante a ser abordada é a existência de normas
técnicas e regulamentos técnicos na área de segurança contra incêndio.
As Normas Brasileiras confeccionadas pela ABNT, em regime de consen-
so com as partes interessadas e oferecendo consulta pública à socieda-
de, não são de uso obrigatório. A obrigatoriedade de uma NBR decorre
do chamamento ou da referência em determinado regulamento técnico.
Este sim é obrigatório, sendo expedido pelos órgãos públicos reguladores.
Analisando as NBR relacionadas à área de segurança contra incên-
dio, verifica-se muito pouca produção normativa quando comparada a
outros países. Essa problemática decorre da juventude do Comitê Bra-
sileiro de Segurança contra Incêndio (ABNT/CB-24), criado em 1990, do
pouco investimento e do pouco interesse da sociedade no segmento. An-
tes do CB-24, a normalização da segurança contra incêndio era feita por
uma divisão do Comitê Brasileiro da Construção Civil (ABNT/CB-02).
A questão normativa agrava-se ainda mais quando se buscam nor-
mas de especificação ou de desempenho, necessárias para a certificação
de produtos. Atualmente, verifica-se que a maior parte das NBR são ela-
boradas com foco em dimensionamento, projeto e serviço de segurança
contra incêndio, que foram as primeiras a ser demandas pela sociedade.
Em relação aos regulamentos técnicos, o problema persiste, pois a
regulamentação pelo INMETRO é mínima, e a regulamentação pelos
Corpos de Bombeiros Militares tem foco em dimensionamento, projeto e
serviço, pouco demandando sobre avaliação da conformidade.
Por ser uma questão muito específica, muitas vezes alheia ao domí-
nio técnico de seus integrantes, os Corpos de Bombeiros Militares pouco
dispõem sobre a especificação e o desempenho dos produtos. Quando ne-
cessário, fazem isso referenciando as NBR existentes.
Na ausência de normas nacionais, os Corpos de Bombeiros Militares
costumam chamar as normas internacionais, principalmente as normas
ISO, ou normas reconhecidas internacionalmente, a exemplo das ame-
ricanas (NFPA) e europeias (DIN, EUROCODE). Essa prática é comum
para buscar referência em dimensionamento e projeto, mas, no caso de
especificação e desempenho de produtos, é pouco utilizada.
O problema é que, embora haja normas americanas e europeias para
quase todos os produtos de segurança contra incêndio, os produtos de
88
qualidade ou de alto desempenho, frequentemente utilizados em outros
países, são muito pouco comercializados no Brasil. Os motivos para que
isso ocorra normalmente são:

a) alto custo do produto de qualidade importado, em razão do câm-


bio;
b) falta de regulamentação no mercado nacional, o que dá azo à
fabricação e importação de produtos não conformes a um preço
muito baixo;
c) desalinhamento da normalização nacional com a internacional,
criando barreiras técnicas no setor;
d) proteção ao fabricante nacional; e
e) baixa conscientização e comprometimento do consumidor com
a qualidade.

Nesse aspecto, é importante enfatizar a questão das barreiras téc-


nicas. Essa preocupação não deve ser apenas dos órgãos públicos, na
exigência da avaliação da conformidade, mas também da ABNT, que, em
consenso com as partes interessadas, deve elaborar normas alinhadas ao
contexto internacional.
A abertura do mercado nacional incrementou o processo de trocas
comerciais entre países e aprofundou a necessidade do uso de uma lin-
guagem comum para o estabelecimento de requisitos de desempenho e
conformidade.
Hoje em dia, com a globalização, passou a ser uma temeridade tentar
produzir normas nacionais desconsiderando as normas internacionais
existentes. Na maioria dos países desenvolvidos, as normas nacionais
estão dando lugar às normas internacionais, a exemplo da Suécia, onde
95% das normas produzidas simplesmente reproduzem normas regio-
nais ou internacionais (FIGUEIREDO, 2000, p. 10).
O ideal, portanto, é que haja norma nacional de especificação, ou de
desempenho de produtos, alinhada internacionalmente. Na ausência de
normas nacionais, sendo necessária a regulamentação, podem se esta-
belecer programas de avaliação da conformidade com base em normas
internacionais ou em normas de outros países reconhecidas internacio-
nalmente.
É sempre prudente que o regulador ofereça um prazo razoável para a
produção ou atualização normativa correspondente, quando necessário;
no entanto, a inércia na produção pela ABNT não é um impeditivo para
a certificação de determinado produto.
89
A ausência de normas técnicas pode ser suprida pelo regulamento
técnico, que pode utilizar uma ou mais normas como base para o esta-
belecimento de seus requisitos ou estabelecer outros requisitos que não
estejam cobertos pelas normas técnicas.
Na área de segurança contra incêndio, temos como regulador o IN-
METRO, em âmbito federal, e os Corpos de Bombeiros Militares, em
âmbito estadual, por meio de suas Portarias e Instruções Técnicas. Por
questão de hierarquia legal, entende-se que a regulamentação do INME-
TRO vincula a regulamentação dos Corpos de Bombeiros Militares ao
mesmo escopo. Caso o INMETRO não disponha a respeito, aí sim os Cor-
pos de Bombeiros Militares podem regulamentar determinado escopo em
termos de avaliação da conformidade.
O que se verifica no Brasil é que não há programas de certificação
levados a efeito pelos Corpos de Bombeiros Militares. Na realidade, os
estados normalmente estabelecem exigências de cadastramento de for-
necedores e de prestadores de serviços, que são mecanismos de avaliação
de segunda parte, sendo que alguns até exigem da empresa o Certificado
de Conformidade do produto no ato do cadastro; no entanto, não pode
ser considerado um programa certificação sistematizado nos termos da
legislação do INMETRO.
Em programas de avaliação da conformidade do INMETRO, na área
de segurança contra incêndio, verifica-se muito pouco envolvimento e
contribuição dos Corpos de Bombeiros Militares na atividade de regu-
lamentação, muitas vezes não oferecem sequer sugestões às consultas
públicas levadas a efeito pelo INMETRO.
A única atividade comum e frequente nos Corpos de Bombeiros Mili-
tares é a fiscalização do selo do INMETRO nos programas compulsórios,
no caso apenas dos extintores de incêndio. Nos programas voluntários,
historicamente, os Corpos de Bombeiros Militares costumam cobrar o
selo do Organismo de Certificação de Produto em portas corta-fogo; po-
rém, essa exigência muitas vezes não é regulamentada de forma clara e
uniforme nos programas de avaliação da conformidade.
Nesse aspecto, na eventualidade de regulação do setor da seguran-
ça contra incêndio pelos Corpos de Bombeiros Militares, duas questões
importantes são suscitadas: primeiro que é muito difícil se obter uma
regulamentação em âmbito nacional devido à autonomia dos estados, e
segundo que os Corpos de Bombeiros Militares não têm experiência em
regulamentação e práticas na atividade de certificação de produtos.
Caso os estados queiram mudar essa postura, passando a atuar de
maneira mais ativa na regulamentação, é necessário suprir a falta de
90
experiência dos Corpos de Bombeiros, o que pode ser feito com a adoção
das boas práticas de regulamentação já estabelecidas pelo Comitê Bra-
sileiro de Regulamentação.
Elas prescrevem que os Corpos de Bombeiros devem realizar, pre-
viamente, estudos de impacto regulatório, buscando sempre a opinião e
a contribuição das partes interessadas no processo, avaliando sempre o
custo e o benefício das medidas.
Para auxiliar nos estudos de impacto regulatório, procurando sinteti-
zar a atual situação dos produtos de segurança contra incêndio no Brasil
e contribuir para a priorização dos programas de certificação a serem
implementados pelos Corpos de Bombeiros, foi feito um levantamento
do mercado no qual se buscou identificar informações relacionadas aos
principais produtos de segurança contra incêndio. Esse estudo teve como
fontes as informações das associações de fabricantes e partes interes-
sadas as quais foram sintetizadas em uma planilha. O resultado dessa
pesquisa será apresentado na próxima seção.
Em se optando pela criação de um programa de certificação, ele deve
ser bem sistematizado, consideradas as limitações dos órgãos públicos e
a sua operacionalidade. Do ponto de vista do setor regulado, espera-se
que o programa introduza mínimas medidas intervencionistas, com o
menor custo para adequação das empresas às prescrições do regulamen-
to.
É importante salientar que, ao assumirem o papel de reguladores,
caberá também aos Corpos de Bombeiros Militares sistematizar as ações
decorrentes dos programas de avaliação da conformidade, quais sejam, o
acompanhamento no mercado, o tratamento de reclamações e denúncias,
bem como a educação pública.
Essas demandas, normalmente, são mais difíceis de ser implementa-
das e mais custosas do que a própria criação do programa de avaliação
da conformidade; atualmente, os Corpos de Bombeiros Militares não têm
processos estabelecidos para essas atividades.
Pelo exposto, em decorrência da análise do cenário nacional no setor
de certificação de produtos de segurança contra incêndio, na eventua-
lidade de regulação pelos Corpos de Bombeiros Militares, é necessária
uma ampla reflexão sobre o papel legal da instituição e as limitações, de
maneira a definir clara e objetivamente uma estratégia de atuação na
atividade de avaliação de conformidade.

91
4.3 Papel dos Corpos de Bombeiros Militares frente às
recentes demandas para certificação dos produtos de
segurança contra incêndio

Atualmente, o mercado da segurança contra incêndio propicia séria lesão


ao direito dos consumidores finais, sem contar o risco à vida dos ocupan-
tes da edificação, que ficam alheios a todo esse processo. Por isso o Estado,
como garantidor dos direitos fundamentais, tem que suprir essa posição
de inferioridade do consumidor na cadeia da construção civil, criando me-
canismos sérios de controle e avaliação da conformidade dos produtos co-
mercializados.
O Código de Defesa do Consumidor, instituído pela Lei Federal nº
8.078/1990, já estabelece de forma genérica, no inciso VIII do artigo 39,
que é vedado ao fornecedor de produtos ou serviços colocar, no mercado
de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas
expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas
não existirem, pela ABNT; no entanto, esse instituto, na área de segu-
rança contra incêndio, não tem a eficácia esperada (BRASIL, 1990).
Segundo Roberts (1993, p. 1.765), normalmente cabe aos governos a
responsabilidade de proporcionar a proteção adequada contra incêndio e
a infraestrutura na qual se desenvolverá a citada proteção pública.
Em 2013, após a tragédia na boate Kiss, no Rio Grande do Sul, o
tema segurança contra incêndio entrou novamente em pauta, e alguns
projetos de lei antigos, de interesse do setor, foram retomados no Con-
gresso Nacional.
Em setembro de 2015, com o apoio de mais de 200 Deputados Fe-
derais e Senadores, foi constituída uma Frente Parlamentar Mista de
Segurança contra Incêndio, materializando, assim, o interesse do Con-
gresso Nacional em ampliar as ações relacionadas à segurança contra
incêndio no Brasil.
De acordo com a Frente Parlamentar Mista, as ações teriam como ob-
jetivo reduzir o número de vítimas de incêndio, além de prevenir a ocor-
rência de novas tragédias, evitando perdas humanas e danos ao meio
ambiente, patrimônio histórico, cultural e privado, contribuindo para o
desenvolvimento tecnológico, humano, social e econômico do Brasil.
Em novembro de 2015, no município de Goiânia, foi realizada a pri-
meira reunião da Frente Parlamentar Mista, com a participação dos
membros do Conselho Consultivo, que inclui órgãos do Poder Executivo
Federal, para discutir propostas e projetos de lei que integrariam a agen-
da de trabalho.
92
Na ocasião, a Frente Parlamentar Mista elencou as ações cujo desen-
volvimento seria prioritário no biênio 2016-2017, a saber:

a) criação de um Código Nacional de Segurança contra Incêndio;


b) divulgação periódica e publicidade de estatísticas sobre incêndios
no Brasil;
c) certificação de produtos e equipamentos de proteção contra in-
cêndio; e
d) criação de cursos técnicos e de nível superior direcionados à for-
mação de técnicos e engenheiros de prevenção de incêndios.

A criação de um Código Nacional de Segurança contra Incêndio se-


ria para suprir a falta de legislação no âmbito federal, haja vista que,
atualmente, toda a legislação é editada exclusivamente pelos estados,
proporcionando disparidade nas exigências.
A Frente Parlamentar Mista elencou também a certificação dos pro-
dutos de segurança contra incêndio como uma das quatro prioridades,
esclarecendo que a criação de regulamentos para detalhar as exigên-
cias de certificação dos produtos é muito importante, já que os produtos
utilizados no país não passam por avaliação de parâmetros mínimos de
desempenho.
As Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares são subor-
dinados diretamente aos governadores dos estados e, portanto, seguem
legislações próprias de segurança contra incêndio. Em São Paulo, a Lei
Complementar nº 1.257/2015, que instituiu o Código Estadual de Prote-
ção contra Incêndios e Emergências, não dispôs sobre a certificação de
produtos ou serviços de segurança contra incêndio.
No Rio Grande do Sul, a Lei Complementar nº 14.376/2013, que es-
tabelece normas sobre segurança, prevenção e proteção contra incêndios
no estado, atualizada pela Lei Complementar nº 14.690/2015, dispôs no
artigo 38 que os materiais e equipamentos de segurança contra incêndio
utilizados nas edificações e áreas de risco de incêndio deverão ser cer-
tificados por órgãos acreditados, nos termos da legislação vigente (RIO
GRANDE DO SUL, 2013).
O Decreto Estadual nº 51.803/2014, que regulamenta a referida Lei,
acrescenta, no § 1º do artigo 26, que na impossibilidade justificada de
certificação poderão ser aceitos laudos conclusivos de laboratórios de en-
saio ou profissionais habilitados nos conselhos de classe. Na prática, por
falta de procedimentos de certificação pelo INMETRO, a avaliação da

93
conformidade resume-se a laudos de laboratórios ou responsáveis técni-
cos.
Muitos Corpos de Bombeiros Militares têm práticas de cadastramen-
to de fornecedores e prestadores de serviços de segurança contra incên-
dio, inclusive alguns com exigência de Certificado da Conformidade, que
não é, propriamente, um programa de certificação, uma vez que não es-
tabelece os requisitos de norma específicos que devem ser observados, os
meios de fiscalização e as práticas de acompanhamento do mercado dos
produtos de segurança contra incêndio.
Sem a criação de regulamentação técnica pelos órgãos públicos com-
petentes e, também, sem que haja uma fiscalização efetiva e acompanha-
mento no mercado, esses dispositivos vagos de exigência de avaliação da
conformidade tornam-se inócuos, constituindo-se no que popularmente
se chama de “letra morta”.
Os Corpos de Bombeiros Militares, como órgãos legalmente respon-
sáveis pela regulação da segurança contra incêndio no território, devem
atuar, sempre que possível, em todas as vertentes do ciclo que interfere
na segurança contra incêndio de uma edificação.
A segurança contra incêndio é um dever do Estado, direito e res-
ponsabilidade de todos, e deve ser exercida pelos Corpos de Bombeiros
Militares. Exercer, nesse caso, nada mais é do que regular, que significa
implantar medidas com o propósito de disciplinar o comportamento dos
agentes intervenientes que estão abrangidos por essa autoridade.
A regulação é, portanto, uma intervenção do Estado no funcionamen-
to da sociedade ou da economia e se dá quando a ausência de intervenção
pode resultar em prejuízos ou danos, ou pode comprometer o alcance dos
objetivos pretendidos.
A regulação tem um objetivo definido, que é um problema a evitar ou
a corrigir. Para atingir o objetivo desejado, o Estado pode recorrer a uma
diversidade de ações, tais como convênios, parcerias, campanhas educa-
tivas e também aos conhecidos regulamentos técnicos.
Em termos de regulamentação, é necessário que os Corpos de Bom-
beiros contemplem, nos Decretos Estaduais e nas Instruções Técnicas,
entre outras medidas, a certificação de produtos e serviços de segurança
contra incêndio.
A previsão de avaliação da conformidade em decretos estaduais re-
veste-se de total legalidade, uma vez que tem base no Código de Defesa
do Consumidor, de maneira genérica, e visa atender aos objetivos dispos-
tos nos Códigos Estaduais de Proteção contra Incêndios.

94
Nos casos em que o INMETRO não regulamenta a avaliação da con-
formidade de determinado produto, não há óbice quanto à regulamenta-
ção pelos estados. A única orientação é que, em sendo editada uma regu-
lamentação superveniente pelo INMETRO, os estados devem se adequar
às regras editadas em âmbito nacional pelo órgão.
A falta de qualidade dos produtos compromete todas as partes envol-
vidas; sem contar a perda de vidas, que é imensurável. De nada adianta
criar-se um bom projeto de segurança contra incêndio, bem dimensio-
nado de acordo com as Instruções Técnicas e aprovado pelo Corpo de
Bombeiros, se os equipamentos instalados forem de qualidade duvidosa.
Os Corpos de Bombeiros devem almejar que o Auto de Vistoria não
seja simplesmente um requisito legal, que não reflete a segurança da
edificação. Os produtos instalados não podem estar funcionando ape-
nas durante a inspeção do Corpo de Bombeiros, com uma probabilidade
muito grande de não funcionar a médio e longo prazo, por sua real qua-
lidade não ter sido avaliada.
É evidente que a certificação não deve ser vista como uma solução
para todos os problemas e muito menos como um sinônimo de qualida-
de absoluta, mas é um grande passo para que os consumidores tenham
mais credibilidade no produto, dando-lhes maior confiança e segurança
na utilização.
A avaliação da conformidade pela certificação também é diferente da
avaliação por laudo de ensaio do produto. O laudo de ensaio é um ates-
tado de que uma determinada amostra, e somente esta, apresenta con-
formidade com determinada norma técnica. Os resultados de um laudo
de ensaio, portanto, não podem ser associados ou estendidos ao restante
de uma produção.
A certificação pode envolver a avaliação do sistema de gestão da qua-
lidade da empresa, do processo produtivo, do autocontrole, da coleta de
amostras e dos ensaios, garantindo, dentro de um grau de confiabilidade,
que os resultados obtidos nos ensaios podem ser estendidos para o res-
tante da produção.
Ocorre que a implantação da exigência de certificação não é tão sim-
ples para os Corpos de Bombeiros. Há dependência muito grande de ter-
ceiros, tais como INMETRO, organismos de avaliação da conformidade
acreditados, laboratórios competentes acreditados e associações de fa-
bricantes de equipamentos, que pode inviabilizar a rápida regulação do
mercado.

95
Apesar disso, os Corpos de Bombeiros Militares devem buscar sem-
pre a melhoria da segurança contra incêndio no Estado, com foco na so-
ciedade, de forma transparente e balizada por uma gestão interna eficaz;
porém, as exigências devem ser precisas quanto à sua aplicação e quanto
aos procedimentos adotados, para que o remédio ministrado não provo-
que efeitos colaterais indesejáveis.

96
5 – Pesquisas e entrevistas

Buscou-se realizar neste trabalho uma pesquisa de cunho exploratório


e descritivo. A pesquisa exploratória visa proporcionar maior familiari-
dade com o problema da qualidade da segurança contra incêndio, com
os processos de avaliação da conformidade e com a situação atual dos
produtos de segurança contra incêndio no Brasil.
De forma exploratória, buscou-se encontrar as principais contribui-
ções bibliográficas no campo da segurança contra incêndio, no campo
da gestão pela qualidade e no campo da avaliação da conformidade,
por meio de livros, sítios da internet, trabalhos científicos com o mesmo
referencial teórico, entrevistas com especialistas e encontros técnicos
para discussões do tema.
Foram feitas entrevistas individuais semiestruturadas com espe-
cialistas e pessoas ligadas ao ramo da certificação, tanto pessoalmente
quanto por meio de correio eletrônico e telefone, para a obtenção de opi-
niões e experiências em relação ao assunto abordado.
A pesquisa do trabalho também é descritiva, na medida em que se
busca colher dados primários e identificar a opinião, atitude e crença de
determinadas populações. Nesse aspecto, foram aplicados dois questio-
nários em duas populações distintas, fortemente relacionadas ao tema
da pesquisa.
Um dos questionários foi destinado por meio eletrônico aos represen-
tantes dos Corpos de Bombeiros Militares de outros estados, que traba-
lham no serviço de segurança contra incêndio, para verificar se existem
e quais são as práticas adotadas para fins de certificação.
Outro tipo de questionário foi destinado por meio eletrônico aos re-
presentantes das associações de fabricantes de produtos de segurança
contra incêndio e partes interessadas para verificar quais são as impli-
cações e suas expectativas em relação à exigência de certificação de pro-
dutos de segurança contra incêndio.
Para as associação e partes interessadas, o questionário também foi
disponibilizado pessoalmente no encontro técnico realizado para discus-
são do tema, quando foi possível novamente ressaltar a sua importância.
97
Em razão das especificidades, o resultado do encontro técnico será apre-
sentado em item apartado.

5.1 Resultado da pesquisa com os representantes dos


corpos de bombeiros militares de outros estados

Na sequência, serão apresentados os resultados da pesquisa efetua-


da com os Corpos de Bombeiros Militares. Além de testar as hipóteses
levantadas, o questionário teve como objetivo identificar legislações e
práticas adotadas nos estados, assim como opiniões a respeito da ati-
vidade de avaliação da conformidade. Dos 27 estados da federação, 16
responderam à pesquisa, quais sejam: Acre, Alagoas, Distrito Federal,
Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,
Pará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Catarina, Sergipe,
Tocantins, Mato Grosso e São Paulo. O nível de retorno desta pesquisa
foi de 59,25%.
Questão nº 1: “Existe previsão legal no seu estado para exigência de
certificação de produtos de segurança contra incêndio?”
Nesse quesito, 13% responderam “sim” e 87% responderam “não”.
Esse resultado demonstra que a grande maioria dos estados não tem
qualquer tipo de legislação que regule a avaliação da conformidade.
(GRÁFICO 5)
A falta de legislação específica, aliada ao desconhecimento do tema,
acarretou uma grande diversidade de opiniões a respeito da avaliação da
conformidade dos produtos de segurança contra incêndio, como se verá
nos próximos resultados.

98
Gráfico 5 – Resultado da Questão 1 dos bombeiros

Fonte: o autor.

Responderam “sim” a essa pergunta apenas os estados do Rio Gran-


de do Sul e do Espírito Santo.
O estado do Rio Grande do Sul disse ter previsão, no artigo 38 da
Lei Complementar nº 14.376/2013, atualizada pela Lei Complementar nº
14.690/2015, de certificação de produtos de segurança contra incêndio. O
Decreto Estadual nº 51.803/2014, que regulamenta a referida Lei, acres-
centa, no § 1º do artigo 26, que na impossibilidade justificada de certifi-
cação poderão ser aceitos laudos conclusivos de laboratórios de ensaio ou
profissionais habilitados nos conselhos de classe.
O estado do Espírito Santo disse possuir a norma técnica NT-01 –
Parte 4, que regulamenta o cadastramento de fornecedores e prestadores
de serviços no âmbito do Corpo de Bombeiros, na qual se prevê que o
Certificado de Conformidade dos produtos de segurança contra incêndio,
emitido por OCP acreditado pelo INMETRO, seja entregue como requi-
sito para o cadastro. A Circular nº 001/2015 – SNC/CAT prevê prazo de
seis meses para chuveiros automáticos e de um ano para sinalização de
emergência, para que as empresas entreguem os Certificados de Confor-
midade, quando do cadastro no Corpo de Bombeiros.
Embora os demais estados não tenham se manifestado nesse quesito,
a prática de cadastramento de fornecedores e prestadores de serviços de
segurança contra incêndio existe, também, em outros Corpos de Bom-
beiros. Ocorre que, nos demais estados, não há previsão de entrega de

99
Certificado de Conformidade por organismo acreditado pelo INMETRO,
motivo pelo qual o entendimento é que não há previsão legal para ava-
liação da conformidade dos produtos.
De qualquer forma, o autor deste trabalho entende que a simples
exigência de Certificado de Conformidade dos produtos, no ato de ca-
dastramento das empresas nos Corpos de Bombeiros, é um programa
de avaliação da conformidade deficitário, uma vez que não estabelece a
observação de requisitos específicos, os meios de fiscalização e as práti-
cas de acompanhamento do mercado dos produtos de segurança contra
incêndio.
Questão nº 2: “Caso não haja previsão legal no estado, o Corpo de
Bombeiros entende que deveria haver lei ou decreto estadual para exi-
gência de certificação de produtos de segurança contra incêndio?”
Neste quesito, 27% responderam “sim, a ser regulamentada pelo
Corpo de Bombeiros”, 27% responderam “sim, a ser regulamentada pelo
INMETRO” e 46% responderam “não, a previsão legal e a regulamenta-
ção devem ser federais”. (GRÁFICO 6)
Apenas 27% dos estados responderam que os Corpos de Bombeiros
devem assumir essa responsabilidade e regulamentar, de alguma forma,
a certificação de produtos de segurança contra incêndio, talvez por vis-
lumbrarem uma limitação no INMETRO ou a dificuldade de se chegar a
um consenso em nível federal em um espaço de tempo razoável.

Gráfico 6 – Resultado da Questão 2 dos bombeiros

Fonte: o autor.

100
O expressivo montante de 73% compreende que o Corpo de Bombei-
ros não deve interferir nesse tipo de regulamentação. Uma parte enten-
de que o problema é específico do INMETRO e outra parte entende que
a regulamentação até pode ser de órgão distinto; no entanto, deve ser de
ordem federal.
Nas justificativas, verificou-se uma compreensiva preocupação quan-
to aos recursos necessários à atividade de avaliação da conformidade,
tendo em vista que ela pode ser considerada secundária em relação à
atividade principal dos Corpos de Bombeiros, que compreende o atendi-
mento emergencial e a regularização das edificações. A atividade princi-
pal já consome quase a totalidade dos recursos disponíveis pelo Estado,
motivo pelo qual essa preocupação pode inibir a iniciativas dos Corpos de
Bombeiros na atividade de avaliação da conformidade.
Questão nº 3: “Caso haja previsão legal no estado, a exigência de
certificação de produtos não compulsória pelo INMETRO é feita de que
maneira?”
Nesta questão, ninguém respondeu que a exigência é “efetiva, para
diversos produtos, com forte regulamentação pelo Corpo de Bombeiros”,
20% responderam que é “moderada, para alguns produtos, com discre-
ta regulamentação pelo Corpo de Bombeiros” e 80% responderam que
é “incipiente, não havendo regulamentação pelo Corpo de Bombeiros”.
(GRÁFICO 7)
Conforme já relatado, a grande maioria dos Corpos de Bombeiros re-
conhece que não há exigência de avaliação da conformidade de produtos
de segurança contra incêndio nos estados. Quanto aos 20% que relata-
ram haver exigência moderada, vale lembrar que ela é feita unicamente
pela cobrança do Certificado de Conformidade, no processo de cadastro
das empresas, e não por meio de programas de certificação consistentes.

101
Gráfico 7 – Resultado da Questão 3 dos bombeiros

Fonte: o autor.

Questão nº 4: “No caso de uma regulamentação pelo Corpo de Bom-


beiros, você entende que a exigência de certificação de produtos deve
ser feita de forma planejada e gradual, considerando a situação de cada
produto no mercado?”
Nesta pergunta, todos responderam que “sim”. Caso haja regulamen-
tação de certificação pelo Corpo de Bombeiros, o entendimento unânime
é de que ela seja bem planejada e implementada de maneira gradual, a
fim de evitar qualquer tipo de impacto nas atividades operacionais.
Questão nº 5: “Identifique todos os itens que você entende que sejam
relevantes no caso de uma regulamentação do Corpo de Bombeiros, para
fins de exigência de certificação de produtos.”
Nesta questão, em que era possível selecionar todos os itens desejá-
veis, buscou-se identificar a relevância de cada um deles para a regula-
mentação da certificação de produtos de segurança contra incêndio.
Dos 16 estados que responderam ao questionário: 87% consideraram
relevante “a existência de normas técnicas nacionais”; 93% considera-
ram relevante “a existência de organismos de avaliação da conformidade
acreditados pelo INMETRO”; 93% consideraram relevante “a existên-
cia de laboratórios técnicos em território nacional”; 87% consideraram
relevante “a existência de requisitos específicos de avaliação para cada
produto”; e 18% descreveram “outros” aspectos relevantes. (GRÁFICO 8)

102
Gráfico 8 – Resultado da Questão 5 dos bombeiros

Fonte: o autor.

Os estados que responderam “outros” lembraram-se basicamente


da necessidade de adequação dos processos e recursos dos Corpos de
Bombeiros e do treinamento do efetivo para fins de fiscalização, sendo
essas grandes preocupações dos estados para atuação na atividade de
avaliação da conformidade.
Questão nº 6: “Identifique todos os itens que você entende que de-
vem ser trabalhados pelo Corpo de Bombeiros para que haja eficiência e
eficácia na exigência de certificação de produtos.”
Nesta questão, em que era possível selecionar todos os itens desejá-
veis, buscou-se identificar a relevância de cada um deles para que a cer-
tificação de produtos de segurança contra incêndio seja eficaz e eficiente.
Dos 16 estados que responderam ao questionário, 81% destacaram
“ações efetivas e permanentes com o INMETRO”; 81% destacaram
“ações efetivas e permanentes com a ABNT – normalização”; 68%
destacaram “ações efetivas e permanentes com os laboratórios técnicos”;
68% destacaram “ações efetivas e permanentes com os organismos
de avaliação da conformidade”; 50% destacaram “ações efetivas e
permanentes com as associações de fabricantes”; e 18% descreveram
“outros” aspectos. (GRÁFICO 9)
As repostas indicaram uma maior atuação no INMETRO e na ABNT
– normalização; no entanto, todos tiveram porcentagens expressivas e
103
merecem ser consideradas. Os estados que responderam “outros” lem-
braram-se basicamente da necessidade de ações efetivas perante a LI-
GABOM para que se busque alcançar a uniformidade da regulamenta-
ção em nível federal.

Gráfico 9 – Resultado da Questão 6 dos bombeiros

Fonte: o autor.

Questão nº 7: “Caso haja alguma regulamentação no Corpo de Bom-


beiros a respeito da exigência de certificação de produtos, solicito fazer
um breve relato sobre como isso é feito no seu estado, se possível encami-
nhando o disposto por e-mail”.
Nesta pergunta aberta, aqueles estados que têm alguma experiência
relativa à certificação de produtos dispuseram suas considerações, enca-
minhando a respectiva base normativa.
Conforme já explanado, aqui foram descritas somente iniciativas de
cadastro de empresas fornecedoras e prestadoras de serviço de seguran-
ça contra incêndio, que, no entender deste autor, não são programas de
certificação de produtos, mas sim de avaliação de segunda parte.
Questão nº 8: “Outras considerações e/ou sugestões a respeito da
certificação de produtos de segurança contra incêndio, mesmo que não
seja exigida no seu estado”.
Nesta última pergunta aberta, o único consenso foi que a certifica-
ção dos produtos de segurança contra incêndio é desejável e muito im-

104
portante para regular o setor, sugerindo-se, inclusive, a expansão para
serviços; no entanto, o modo como deverá ser regulamentada foi muito
controverso.
Basicamente, os estados apresentaram a dicotomia já relatada na
questão nº 2 deste questionário, ou seja, alguns entendem que o Corpo
de Bombeiros deve assumir essa responsabilidade, outros entendem que
é uma responsabilidade exclusiva do INMETRO e do mercado e outros
que a regulamentação somente pode ser feita em nível federal, talvez
por meio da LIGABOM ou da Secretaria Nacional de Segurança Pública.

5.2 Resultado da pesquisa com as associações de


fabricantes de produtos de segurança contra incêndio e
partes interessadas

Na sequência, serão apresentados os resultados da pesquisa efetuada


com as associações de fabricantes e demais partes interessadas no setor.
Além de testar as hipóteses levantadas, o questionário teve como objeti-
vo identificar os anseios e as opiniões daqueles que, de alguma maneira,
serão afetados pela implantação da certificação de produtos de seguran-
ça contra incêndio.
O questionário foi encaminhado às principais associações de fabri-
cantes, às instituições e aos sindicatos representativos do setor, aos
OCP, ao IPT e à ABNT/CB-24. No total de 12 pesquisas enviadas, 11
responderam-nas, proporcionando um retorno de 92%.
Questão nº 1: “Em sua opinião, em que patamar se encontra a exi-
gência de certificação de produtos de segurança contra incêndio no Bra-
sil?”
Nesta questão, ninguém respondeu que a exigência é “efetiva, para
diversos produtos, com forte regulamentação pelo Corpo de Bombeiros
dos estados”, 9% responderam que é “moderada, para alguns produtos,
com discreta regulamentação pelo Corpo de Bombeiros dos estados” e
91% entenderam que é “incipiente, não havendo regulamentação pelo
Corpo de Bombeiros dos estados e com pouca compulsoriedade pelo IN-
METRO”. (GRÁFICO 10)
Pelo resultado, constatou-se o entendimento das partes interessadas
de que praticamente não há programas de certificação de produtos de
segurança contra incêndio no Brasil, percepção esta que condiz com o re-

105
latado pelos Corpos de Bombeiros dos estados e também pelo autor deste
trabalho, quando discorreu sobre este assunto em seções anteriores.

Gráfico 10 – Resultado da Questão 1 das partes interessadas

Fonte: o autor.

Questão nº 2: “Em sua opinião, dever haver lei ou decreto estadual


para exigência de certificação de produtos de segurança contra incên-
dio?”
Neste quesito, 9% entenderam que “não, o mercado deve se ajustar
sozinho”, 27% entenderam que “não, a previsão legal e a regulamentação
devem ser federais”, e um total de 64% entendeu que “sim, a ser regula-
mentada pelo Corpo de Bombeiros”. (GRÁFICO 11)
Analisando o resultado dessa questão, pode-se obter uma importan-
te constatação, qual seja: no entender das partes interessadas do setor,
dificilmente o mercado se ajustará sozinho, sem a interferência do órgão
público regulador.
Foram relatados problemas crônicos de concorrência desleal e falta
de qualidade dos produtos que estão sendo disponibilizados ao mercado,
colocando em risco a segurança do cidadão.
Verificou-se, ainda, que, embora haja a preocupação de se padroni-
zar a regulamentação em nível federal, a grande maioria entendeu que
os Corpos de Bombeiros dos estados devem assumir a responsabilidade
pela regulação, até que haja um consenso entre os Corpos de Bombeiros,

106
talvez pela percepção de que o INMETRO não vá atender aos anseios do
setor.

Gráfico 11 – Resultado da Questão 2 das partes interessadas

Fonte: o autor.

Questão nº 3: “No caso de uma regulamentação pelo Corpo de Bom-


beiros, em sua opinião, a exigência de certificação de produtos deve ser
feita de forma planejada e gradual, considerando a situação de cada pro-
duto no mercado?”
Nesta pergunta, todos responderam que “sim”. Caso haja regulamen-
tação de certificação pelo Corpo de Bombeiros, o entendimento unânime
é de que ela precisa ser bem planejada e implementada de maneira gra-
dual, a fim de evitar qualquer tipo de impacto no mercado.
Questão nº 4: “De 1 a 5, sendo 1 menos relevante e 5 mais relevante,
marque abaixo o grau de relevância de cada item no planejamento para
certificação de produtos.”
Nesta questão, os valores obtidos indicam o grau de importância
para o item selecionado. Quanto maior é o valor, maior é a importância
para o planejamento no entender das partes interessadas.
O resultado demonstrou um equilíbrio entre as opções, a saber: “a
existência de normas técnicas nacionais” obteve o valor 47; “a existência
de organismos de avaliação da conformidade acreditados pelo INME-

107
TRO” obteve o valor 47; “a existência de laboratórios técnicos em territó-
rio nacional” obteve o valor 46; “a existência de requisitos específicos de
avaliação para cada produto” obteve o valor 46; e “outros” obteve o valor
9. (GRÁFICO 12)

Gráfico 12 – Resultado da Questão 4 das partes interessadas

Fonte: o autor.

Os que relataram “outros” citaram o acompanhamento no mercado


como fator importante para o planejamento da exigência de certificação.
Questão nº 5: “Em sua opinião é essencial que seja elaborado, pre-
viamente à exigência de certificação, um estudo de impacto e de viabili-
dade para cada produto, a fim de verificar a sua real situação no mercado,
se realmente é necessária a certificação e qual seria o prazo adequado?”
Neste quesito, apenas 18% entenderam que “não” e 82% das partes
interessadas responderam que “sim”, ou seja, a grande maioria concor-
da com a proposta de um EIV que analise a real situação do produto no
mercado, definindo assim um prazo adequado para a exigência de certi-
ficação. (GRÁFICO 13)

108
Gráfico 13 – Resultado da Questão 5 das partes interessadas

Fonte: o autor.

Questão nº 6: “De 1 a 5, sendo 1 menos importante e 5 mais impor-


tante, marque abaixo o grau de importância de cada item, para que o
Corpo de Bombeiros atue a fim de exigir a certificação de produtos.”
Nesta questão, os valores obtidos indicam o grau de importância
para o item selecionado. Quanto maior é o valor, maior é a importância
para o planejamento, no entender das partes interessadas.
O resultado demonstrou que: “ações perante o INMETRO” obteve
o valor 44; “ações perante ABNT – normalização” obteve o valor 46;
“ações perante os laboratórios técnicos” obteve o valor 51; “ações pe-
rante os organismos de avaliação da conformidade” obteve o valor 49;
“ações perante associações de fabricantes” obteve o valor 45 e ninguém
citou “outros” aspectos. (GRÁFICO 14)
O resultado obtido demonstra que todos os itens selecionados tiveram
um grau de importância muito elevado, com leve predominância para
ações perante laboratórios e organismos de avaliação da conformidade.
As ações perante o INMETRO tiveram resposta menos expressiva, o que
é compreensível tendo em vista que o mercado entende que os Corpos de
Bombeiros devem assumir a responsabilidade pela regulação do setor.
Questão nº 7: “No seu campo de atuação, quais são os produtos que
estão em melhores condições de serem certificados?”
109
Gráfico 14 – Resultado da Questão 6 das partes interessadas

Fonte: o autor.

Nesta questão aberta, buscou-se identificar a situação atual dos prin-


cipais produtos de segurança contra incêndio no país. O entendimento
comum é que se deve iniciar a certificação pelos produtos que tenham
maior relevância na proteção das edificações e estejam com a infraestru-
tura (normas técnicas, organismos de certificação, laboratórios acredita-
dos e RAC) mais adequada.
Questão nº 8: “Outras considerações e/ou sugestões a respeito da
certificação de produtos de segurança contra incêndio?”
Nesta última pergunta aberta, foi sugerido que o Corpo de Bombei-
ros mantenha posição isenta em relação às demais partes interessadas,
assumindo basicamente o papel de regulador.
O entendimento majoritário é que os Corpos de Bombeiros devem
assumir a responsabilidade e regular o setor; no entanto, deve-se buscar,
ao final, uma regulamentação em âmbito federal, se possível, por meio
da LIGABOM.
Alguns pesquisados mostraram preocupação quanto à possibilidade
de não aceitação de certificação por OCP acreditado por outros órgãos
reconhecidos internacionalmente, além do INMETRO.

110
5.3 Resultado da pesquisa sobre a situação dos produtos
de segurança contra incêndio no brasil

A fim de atender ao objetivo específico de identificar a situação dos


principais produtos de segurança contra incêndio no Brasil quanto à
existência de normas técnicas nacionais, à existência de organismos
de avaliação da conformidade acreditados pelo INMETRO, à existên-
cia de laboratórios técnicos competentes e à existência de RAC já ela-
borados, foi feita uma ampla pesquisa de mercado tendo como fonte de
informações a ABNT/CB-24, as associações de fabricantes, os organis-
mos certificadores e os laboratórios de ensaio.
A referida pesquisa de mercado teve o intuito de reunir as informa-
ções dos principais produtos de segurança contra incêndio e contribuir
para o estudo de impacto regulatório e para a priorização dos programas
de certificação a serem implantados pelo Corpo de Bombeiros.
O levantamento consistiu na elaboração de uma lista de produtos
contemplados pelas Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros de São
Paulo que foram considerados importantes pelo autor. Para cada um de-
les buscou-se identificar:

a) qual é a associação de fabricante interessada no produto?;


b) há NBR de especificação, requisitos ou desempenho para o pro-
duto? Neste caso, o resultado tabulado poderia ser 01 para “sim”
e 02 para “não”, sendo colocado o número e o título da NBR,
quando encontrado;
c) há NBR ou norma de referência internacional em condições de
ser adotada para o produto? Neste caso, o resultado poderia ser
01 para “sim” e 02 para “não”;
d) há programa de certificação no INMETRO para o produto? Neste
caso, o resultado poderia ser 01 para “compulsório”, 02 para “vo-
luntário” e 03 para “não existente”;
e) há RAC do INMETRO ou procedimento específico elaborado por
OCP para o produto? Neste caso, o resultado poderia ser 01 para
“sim” e 02 para “não”;
f) há OCP acreditado pelo INMETRO no escopo? Neste caso, o re-
sultado poderia ser 01 para “sim” e 02 para “não”; e
g) há laboratório independente no Brasil para testes do produto?
Neste caso, o resultado poderia ser 01 para “sim” e 02 para “não”.

111
A intenção de tabular as informações obtidas utilizando as nume-
rações visou escalonar a situação de cada produto por meio da soma de
cada um dos resultados. Dessa forma, o produto que obtivesse a menor
pontuação(06) estaria em melhor situação em termos de avaliação da
conformidade, e o produto que obtivesse a maior pontuação (13) estaria
em pior situação, na medida em que não apresenta nenhuma condição
precípua para a exigência da certificação.
Na realidade, os únicos que podem obter a pontuação mínima são os
produtos que já possuem certificação compulsória pelo INMETRO e, por
tal razão, estão plenamente regulamentados. Para os demais produtos,
quanto menor é a pontuação, em tese, melhores são as condições para a
exigência de certificação por parte do Corpo de Bombeiros.
O levantamento completo das informações, com as parciais de cada
uma das questões elaboradas, encontra-se disponível nos quadros do
Apêndice A. A seguir será apresentado apenas o resultado final da pes-
quisa, que pode ajudar na priorização da certificação dos produtos de
segurança contra incêndio. (QUADRO 2)

112
Quadro 2 – Resultado da situação dos produtos de segurança
contra incêndio

113
114
115
116
Fonte: o autor.

5.4 Resultado das entrevistas com especialistas


A fim de aprofundar os estudos e os conhecimentos de pontos relevantes
do processo de certificação, de modo a subsidiar a definição de uma es-
tratégia para a exigência de certificação de produtos de segurança contra
incêndio, foram feitas algumas entrevistas não estruturadas com espe-
cialistas da área, cujos resultados podem ser verificados a seguir.

117
5.4.1 Entrevista com Vladson Athayde

Em entrevista, Vladson Athayde, que trabalha na UL do Brasil, es-


clareceu que a UL foi fundada em 1894, nos Estados Unidos, constituin-
do-se em um organismo de avaliação da conformidade conhecido interna-
cionalmente, com fortes raízes na certificação de produtos de segurança
contra incêndio, e contando hoje com variado portfólio de certificações de
produtos em diversos segmentos.
A UL dispõe de mais de 152 laboratórios para realização de ensaios,
escritórios em mais de 40 países e clientes presentes em mais de 140
países, contribuindo na qualidade dos produtos e na proteção das mar-
cas das empresas, por meio de ensaios e da certificação do atendimento
às normas pertinentes.
Ressalta que a UL do Brasil, empresa filiada à marca UL, foi estabe-
lecida em território nacional em 1999 e, hoje, atua fortemente no merca-
do de avaliação da conformidade dos produtos elétricos e de segurança
contra incêndio. A empresa é acreditada pelo INMETRO e tem planos de
abrir um laboratório próprio no Brasil.
Em 15 de março de 2016, a UL do Brasil realizou, no município de
São Paulo, um grande Seminário para lançamento do seu Programa de
Certificação de Produtos de Segurança contra Incêndio, com a participa-
ção de diversos segmentos da sociedade.
O Seminário foi uma excelente oportunidade para discutir o tema da
segurança contra incêndio, em especial a certificação de produtos no Bra-
sil, oferecendo diversas palestras com representantes do CBPMESP, IN-
METRO, Instituto de Engenharia, ABSpK, Federação Nacional de Segu-
ros Gerais (FenSeg), ABNT/CB-24, IPT, e ABINEE. (Informação verbal)1

5.4.2 Entrevista com Glória Benazzi

Em entrevista, Glória Benazzi ressaltou que trabalha na Associa-


ção Brasileira dos Distribuidores de Produtos Químicos e Petroquími-
cos (ASSOCIQUIM), onde presta assessoria e coordena o PRODIR, um
processo de distribuição responsável para o setor, que desenvolve ações
preventivas e corretivas, controla documentos e dados, faz auditorias e
indicadores de desempenho para propiciar mais qualidade, saúde e segu-
rança às pessoas e ao meio ambiente.

1 Informação verbal obtida com Vladson Athayde, gerente comercial da UL-BR, em 13 de janeiro de
2016.

118
Esclarece que tem experiência com os setores da qualidade e da se-
gurança contra incêndio. Foi servidora do INMETRO por muitos anos
e também superintendente da ABNT/CB-24, quando de sua criação.
Atualmente, também é membro do Grupo de Fomento da Segurança
contra Incêndio (GSI), entidade sem fins lucrativos com sede na Univer-
sidade de São Paulo (USP), cujo objetivo é promover o desenvolvimento
e a divulgação da segurança contra incêndio no Brasil.
Glória entende que muitos produtos de segurança contra incêndio
no Brasil são de qualidade questionável, e o INMETRO tem grandes
dificuldades em ampliar a gama de programas de avaliação da confor-
midade compulsórios, em razão do alto custo e da falta de recursos para
acompanhamento no mercado. Por essa razão, avalia ser imprescindível
a intervenção do Corpo de Bombeiros para regular o setor.
Acredita que os Corpos de Bombeiros Militares podem e devem exi-
gir a certificação dos produtos de segurança contra incêndio no estado
de maneira planejada e gradual. A exemplo do INMETRO, sugere que
os programas sejam regulados por meio de Portaria do Comandante do
Corpo de Bombeiros, dando um prazo mínimo de um ano para a adequa-
ção do setor demandado e da infraestrutura necessária. Esclarece que o
tempo médio necessário para acreditação de organismos de certificação
no INMETRO é de aproximadamente seis meses. (Informação verbal)2

5.4.3 Entrevista com Marcelo Olivieri de Lima

Em entrevista, Marcelo Lima disse que é consultor da FM Global,


seguradora patrimonial internacional especializada em riscos altamen-
te protegidos que, no Brasil, atua como resseguradora admitida e tem
por objetivo proteger os bens segurados, dando suporte para a gestão de
riscos das empresas.
A FM Global possui uma filial denominada FM Approvals. Esta filial
é responsável pela aprovação de produtos, pela realização de ensaios de
terceira parte e pela certificação, com a proposta de oferecer altos pa-
drões de qualidade, integridade técnica e desempenho. A FM Approvals
atua nas áreas de segurança contra incêndio, equipamentos elétricos
para locais perigosos e materiais para a construção civil.
O entrevistado esclareceu que a FM Approvals tem um laboratório
próprio de testes e pesquisa, dentro do campo de pesquisa da FM Global,

2 Informação verbal obtida com Glória Benazzi, assessora da ASSOCIQUIM, em 18 de fevereiro


de 2016.

119
localizado em Rhode Island, Estados Unidos, onde realiza a maioria dos
ensaios de produtos previstos em norma.
A FM Approvals utiliza apenas normas próprias, as chamadas nor-
mas FM, certificando produtos e sistemas de proteção ativa e passiva,
em geral, e atuando como organismo de avaliação da conformidade.
Disse que na página da FM Approvals, na internet (www.fmappro-
vals.com), podem ser encontradas as normas FM Approvals disponíveis
para os diversos produtos e sistemas de segurança contra incêndio, bem
como os procedimentos para a obtenção da certificação FM Approved.
Marcelo Lima esclareceu que a política da FM Approvals atualmente
é de não instalar laboratórios de testes em outros países e também de
não certificar produtos com base em normas diversas das da FM Appro-
vals. Assim, um produto FM Approved tem exatamente a mesma avalia-
ção de conformidade em qualquer parte do mundo.
Disse ainda que, para atuar em outros países, trabalha em parceria
com organismos de avaliação da conformidade locais. Marcelo Lima sa-
lientou que foi feita no Brasil uma parceria com a ABNT Certificadora
para reconhecimento da certificação da FM Approvals.
Com essa parceria, a ABNT Certificadora avalia a certificação in-
ternacional concedida pela FM Approvals e verifica o atendimento aos
requisitos e procedimentos de certificação nacionais específicos para o
produto. Posteriormente, certifica o produto, atestando a competência do
organismo de avaliação da conformidade internacionalmente reconheci-
do.
Perguntada sua opinião sobre a exigência de certificação de produtos
de segurança contra incêndio, por meio de organismo acreditado pelo IN-
METRO, no âmbito estadual, respondeu que apoia o uso de produtos de
proteção contra incêndio ensaiados e certificados por organismos de ava-
liação da conformidade respeitáveis e baseados em normas publicadas.
Disse ser muito importante que produtos de proteção contra incêndio
sejam ensaiados por laboratórios acreditados e que o organismo certifi-
cador seja acreditado para certificação especificamente no escopo. Escla-
receu que é sempre mais seguro utilizar produtos certificados e que, no
Brasil, poucos são certificados, de modo que o Corpo de Bombeiros pode
desempenhar um papel vital na diferenciação de produtos aceitáveis ou
inaceitáveis.
Questionado sobre como deveria ser a atuação do Corpo de Bombeiros
para fins de exigência de certificação, considerando a grande diversidade
de produtos de segurança contra incêndio, disse que, para produtos que
já têm regulamentação local, o Copo de Bombeiros poderia exigir a certi-
120
ficação por meio de um organismo acreditado pelo INMETRO e, para os
produtos que não têm regulamentação local, o Corpo de Bombeiros po-
deria aceitar certificações de organismos de avaliação da conformidade
reconhecidos internacionalmente, até o momento em que o regulamento
ou requisito seja colocado em prática no país.
Nesse caso, o Corpo de Bombeiros poderia cadastrar organismos de
avaliação da conformidade reconhecidos internacionalmente, confiando
em listas de produtos por eles certificados. Os organismos de avaliação
da conformidade de produtos respeitáveis sempre mantêm uma lista pú-
blica dos produtos certificados (informação verbal).3

5.4.4 Entrevista com Sergio Pacheco

Em entrevista, Sergio Pacheco, que trabalha na ABNT – Certificado-


ra, esclareceu que a ABNT é uma entidade privada, sem fins lucrativos;
no entanto, é uma instituição de utilidade pública, uma vez que compõe
a estrutura do SINMETRO, dentro do Sistema Brasileiro de Normaliza-
ção.
Trabalhando em sintonia com governos e com a sociedade, a ABNT
visa contribuir para a implantação de políticas públicas, promover o
desenvolvimento de mercados, a defesa dos consumidores e a segurança
de todos os cidadãos.
Ela foi criada em 28 de setembro de 1940 para ser o Foro Nacional
de Normalização com a participação da sociedade. Em 1950, bem antes
da criação do INMETRO, a ABNT passou a atuar também na avaliação
da conformidade de produtos e serviços. Dessa forma, atua hoje em duas
grandes áreas: normalização e certificação.
Na área de normalização, é membro-fundador da International Orga-
nization for Standardization (Organização Internacional de Normaliza-
ção – ISO) e responsável pela publicação das Normas Brasileiras (ABNT
NBR), elaboradas por seus Comitês Brasileiros (ABNT/CB), Organismos
de Normalização Setorial (ABNT/ONS) e Comissões de Estudo Especiais
(ABNT/CEE).
Na área de certificação, é um dos maiores organismos de avaliação
da conformidade existentes no Brasil e já oferece vários procedimentos
voluntários para a certificação de produtos de segurança contra incên-
dio no campo.

3 Informação verbal obtida com Marcelo Olivieri de Lima, Consultor de Códigos e Normas do Grupo FM
Global para a América Latina e Diretor do Instituto Sprinkler Brasil (ISB), em 19 de fevereiro de 2016.

121
O entrevistado esclarece que a ABNT recentemente celebrou convênio
com a FM Approvals, certificadora norte‑americana internacionalmente
conhecida, a fim de proporcionar o reconhecimento em território nacional
do processo de certificação realizado pelo referido organismo de avaliação
da conformidade.
Segundo Sergio Pacheco, esse convênio garante não só o intercâmbio
da ABNT Certificadora com um avançado centro de pesquisas como tam-
bém, principalmente, a possibilidade de extensão da certificação brasilei-
ra para produtos ainda não acreditados pelo INMETRO.
Dessa forma, o entrevistado esclarece que a ABNT Certificadora
pode trabalhar na área de segurança contra incêndio de duas formas:

a) quando houver NBR ou Regulamento Técnico Nacional para de-


terminado produto, poderá acreditar-se no INMETRO e fazer a
avaliação da conformidade diretamente; ou
b) quando não houver NBR ou Regulamento Técnico Nacional para
determinado produto, poderá ser selecionada uma norma inter-
nacionalmente reconhecida, a exemplo das normas FM, e, por
meio de convênio, reconhecê-lo em âmbito nacional no INME-
TRO.

Perguntado sobre o que achava da exigência de certificação dos pro-


dutos de segurança contra incêndio no âmbito estadual, ele disse que é
essencial o Brasil ter regras claras e alinhadas internacionalmente para
o mercado (fabricantes, importadores e consumidores). Disse que, se a
certificação fosse feita por organismos independentes, com avaliação do
sistema de gestão, seria um grande avanço para a segurança contra in-
cêndio e para a sociedade.
Esclareceu que, como a legislação de segurança contra incêndio é
predominantemente estadual, quase não há regulamentação no INME-
TRO a respeito, de modo que é essencial uma atuação efetiva do Corpo
de Bombeiros na regulamentação desse setor.
Questionado sobre como deveria ser a regulamentação da certificação
de produtos em São Paulo, ele sugeriu que o Corpo de Bombeiros faça
uma regulamentação geral do programa de segurança contra incêndio a
ser seguida pelos OCP, sendo que estes elaborariam os procedimentos de
avaliação específicos para cada produto, buscando a sua acreditação no
INMETRO.
Sergio Pacheco disse que, normalmente, a elaboração de RAC pelo
INMETRO, mesmo que para certificação voluntária, é mais demorada do
122
que a elaboração dos procedimentos pelo próprio OCP. Esclareceu que o
INMETRO costuma elaborar um requisito de avaliação da conformidade
para uniformização, quando há divergências entre os procedimentos
efetuados pelos OCP.
Salienta que, sem dúvida, o conhecimento e a credibilidade dos Cor-
pos de Bombeiros ajudariam bastante o setor a exigir produtos certifica-
dos, fiscalizar sua aplicação nas edificações e exigir dos OCP, do INME-
TRO e do SBAC programas de certificação de qualidade adequados ao
mercado.
Decorrido o prazo estipulado para a certificação dos produtos, Sergio
Pacheco conclui que é essencial que o Corpo de Bombeiros tenha atuação
fiscalizatória proativa e contundente para manter a credibilidade do pro-
grama de certificação, adotando medidas corretivas contra os Organis-
mos de Avaliação da Conformidade e as empresas que estejam atuando
em desacordo com os procedimentos estabelecidos (informação verbal).4

5.4.5 Entrevista com Antonio Fernando Berto

Em entrevista, Antonio Fernando Berto, que é Chefe do Laboratório


do Fogo no IPT, afirma que a exigência de certificação de produtos de se-
gurança contra incêndio ainda é incipiente no Brasil, e, na falta de maior
atuação do INMETRO, o setor deve ser regulamentado pelos Corpos de
Bombeiros Militares.
Em sua opinião, no caso de uma regulamentação pelo Corpo de Bom-
beiros, a exigência de certificação de produtos deve ser feita de forma
planejada e gradual, com prazos de implantação individualizados. Para
tanto, é conveniente realizar um estudo de impacto regulatório e de via-
bilidade, a fim de verificar a situação específica de cada produto no mer-
cado.
Acrescenta que o sucesso do programa somente será obtido se houver
participação efetiva de todas as partes envolvidas: INMETRO, ABNT –
Normalização, laboratórios técnicos, organismos de avaliação da confor-
midade e associações de fabricantes.
Para Berto, em termos normativos e laboratoriais, muitos produtos já
estão em condições de serem certificados, tais como: materiais de revesti-
mento e acabamento, incluindo os termoacústicos, placas de sinalização
de emergência, blocos autônomos de iluminação de emergência, detecto-
res de fumaça, acionadores manuais, avisadores e centrais de alarme de

4 Informação verbal obtida com Sergio Pacheco, Gerente de Certificação de Produtos da ABNT, em 29
de março de 2016.

123
incêndio, esguichos reguláveis, válvulas, conexões ranhuradas, conexões
especiais, chuveiros automáticos, bombas dos sistemas de hidrantes e de
chuveiros automáticos, ventiladores para sistemas de controle de fuma-
ça, materiais de proteção passiva de estruturas de aço, selos corta-fogo,
dampers corta-fogo, portas e vedadores corta-fogo.
Sua maior preocupação é evitar regulamentos técnicos distintos ver-
sando sobre o mesmo escopo. As normas técnicas devem ser atualizadas,
e os regulamentos técnicos devem basear-se, sempre que possível, nelas
(informação verbal).5

5.4.6 Entrevista com Walter Negrisolo

Em sua entrevista, Walter Negrisolo disse que trabalhou no setor


de prevenção do Corpo de Bombeiros e que participou ativamente da
elaboração dos primeiros decretos estaduais de segurança contra in-
cêndio no estado. Esclareceu que a legislação estadual se sustenta nos
ensinamentos de Bill Malhotra, renomado consultor da área que, após
ter produzido normas para outros países, prestou consultoria em São
Paulo para a elaboração do Projeto de Lei Complementar nº 68/1993, a
primeira proposta de Código Estadual de Segurança contra Incêndios
e Emergências no estado.
Negrisolo complementa que, na ocasião, como suporte técnico para
a atividade de prevenção, no artigo 62 do Projeto de Lei Complementar
nº 68/1993, foi previsto que os materiais e equipamentos utilizados no
serviço e na proteção contra incêndios deveriam ser testados em labora-
tórios do Corpo de Bombeiros do estado de São Paulo ou em laboratórios
reconhecidos.
Perguntado sobre como deveria atuar o Corpo de Bombeiros na ati-
vidade de avaliação da conformidade dos produtos, Negrisolo entende
que o Corpo de Bombeiros deveria possuir um laboratório de ensaio e diz
que há exemplos de Corpos de Bombeiros de outros países que possuem
laboratórios e centros de estudos, a exemplo do Corpo de Bombeiros da
Itália, que funciona anexo à Escola Central.
Afirma que seria possível a construção de um laboratório na Escola
Superior de Bombeiros, em Franco da Rocha, caso houvesse apoio das
associações de fabricantes, da ABNT e da sociedade, e que isso refletiria
em melhor conhecimento e treinamento para os novos bombeiros, crian-
do uma cultura de pesquisa.

5 Informação verbal obtida com Antonio Fernando Berto, responsável pelo Laboratório do Fogo do IPT,
em 13 de maio de 2016.

124
Quanto à certificação dos produtos de segurança contra incêndio,
Negrisolo afirma ser favorável à exigência por parte do Corpo de Bom-
beiros, uma vez que, sem a interferência do órgão público responsável, o
mercado não se mobiliza e a situação atual não muda; portanto, a atua-
ção do Corpo de Bombeiros é peça fundamental nesse processo.
Em razão da mudança de comportamento das empresas, da socie-
dade e do alto custo para os envolvidos, ele sugere que a exigência seja
precedida de incentivos, como a prorrogação da validade da licença ou de
outra medida.
Embora acredite na certificação dos produtos como fator para a
melhoria da qualidade e da confiabilidade, Negrisolo entende que a
exigência deve ser gradativa e calcar-se em estudos, com comprovação
estatística das falhas dos produtos, a fim de lastrear a exigência.
Entende que os RAC devem ser muito bem definidos para evitar
reservas de mercado ou direcionamentos para produtos importados ou
excessivamente caros. Conclui dizendo que, pela sua experiência no mer-
cado, vê o setor de alarme e de detecção como muito crítico e um bom
começo para fins de estudos na área certificação (informação verbal).6

5.4.7 Entrevista com José Carlos Tomina

Em sua entrevista, José Carlos Tomina disse que dificilmente o IN-


METRO irá ampliar o rol de produtos de segurança contra incêndio com
certificação compulsória, motivo pelo qual entende que o Corpo de Bom-
beiros, como órgão responsável pelo setor, deve exigir a certificação des-
ses produtos.
Tomina entende que a exigência deve ser gradual e bem planeja-
da, avaliando individualmente a situação de cada produto no mercado
nacional, de modo a reverter o cenário atual do setor e garantir a qua-
lidade e a confiabilidade dos produtos de segurança contra incêndio, ao
longo de uma geração.
Tomina complementa dizendo que a exigência de certificação de pro-
dutos necessita do envolvimento de todas as partes interessadas, a sa-
ber: Corpo de Bombeiros, OCP, laboratórios de ensaio, associações de
fabricantes e ABNT/CB-24.
Entende que deve ser prestigiado o Sistema Nacional de Metrolo-
gia, Normalização e Qualidade Industrial, de modo que a certificação dos
produtos de segurança contra incêndio seja feita por organismos acredi-

6 Informação verbal obtida com Walter Negrisolo, Coronel da Reserva do CBPMESP, ex-Comandante
do Corpo de Bombeiros da Capital e membro do GSI, em 8 de agosto de 2016.

125
tados pelo INMETRO e a norma de referência seja, preferencialmente,
a nacional.
Perguntado sobre como a ABNT/CB-24 irá lidar com o aumento sig-
nificativo da demanda por produção, ou revisão de normas de desempe-
nho, ou de métodos de ensaio, Tomina diz que buscará atender à deman-
da solicitada pelo Corpo de Bombeiros e pela sociedade.
Questionado sobre a possibilidade de adoção, para fins de avaliação
da conformidade, de norma de referência internacional até que seja ela-
borada ou revisada a NBR de interesse, Tomina diz ser possível a refe-
rida adoção, em caso de necessidade e urgência, até que a ABNT/CB-24
conclua seus trabalhos, sendo imprescindível a análise da situação de
cada produto no momento em que surgir a demanda.
O entrevistado concluiu dizendo que, recentemente, a pedido do Cor-
po de Bombeiros, a certificação de produtos de segurança contra incêndio
foi amplamente discutida no âmbito da ABNT/CB-24, com a participa-
ção de representantes de diversas associações de fabricantes e dos OCP,
sendo o resultado majoritariamente favorável à regulação do setor pelo
Corpo de Bombeiros, com vistas à exigência de certificação (informação
verbal).7

5.5 Resultado do encontro técnico com as partes


interessadas

Em 5 de maio de 2016, foi promovido um encontro técnico no audi-


tório do Comando do Corpo de Bombeiros, em São Paulo, com as partes
interessadas para discussão da avaliação da conformidade dos produtos
de segurança contra incêndio no Brasil, a saber:

a) Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo


(CBMPESP);
b) ABNT/CB-24;
c) Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABI-
NEE);
d) Associação Brasileira das Indústrias de Equipamentos contra In-
cêndio e Cilindros de Alta Pressão (ABIEX);
e) Associação Brasileira da Indústria de Retardantes de Chama
(ABICHAMA);

7 Informação verbal obtida com José Carlos Tomina, Superintendente da ABNT/CB-24 – Comitê Bra-
sileiro de Segurança contra Incêndio, em 16 de agosto de 2016.

126
f) Associação Brasileira de Sprinkler (ABSpK);
g) Associação Brasileira dos Fabricantes de Chapas para Drywall
(Associação DRYWALL);
h) Instituto Sprinkler Brasil (ISB);
i) ABNT – Certificadora;
j) Factory Mutual Approvals (FM Approvals);
k) Underwriters Laboratories do Brasil (UL-BR);
l) Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT);
m) Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo
(CREA/SP);
n) Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Distrito Fede-
ral (CREA/DF); e
o) Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP).

O encontro técnico foi presidido pelo superintendente da ABNT/CB-24,


José Carlos Tomina, e contou com a participação do CBPMESP, das princi-
pais associações de fabricantes e dos principais OCP do setor, conforme ata
elaborada pelo Corpo de Bombeiros (CBPMESP, 2016b).
Primeiramente, como representante do CBPMESP, o autor deste tra-
balho fez uma rápida exposição da situação atual da avaliação da confor-
midade dos produtos de segurança contra incêndio no Brasil e explicou
o papel institucional do Corpo de Bombeiros na eventualidade de uma
regulamentação técnica para fins de certificação.
Em seguida, falaram os representantes dos OCP: ABNT – Certifica-
dora e UL – BR. Ambos esclareceram como funcionam os programas de
certificação de produtos, tanto de forma compulsória e voluntária pelo
INMETRO quanto de forma voluntária sem RAC estabelecido pelo IN-
METRO. Disseram que, nesse caso, também é possível a acreditação dos
organismos pelo INMETRO no escopo da certificação.
Quanto às associações, de maneira geral, todas concordaram que há
necessidade de ampliar os programas de avaliação da conformidade para
outros produtos de segurança contra incêndio e que o INMETRO, em
razão da sua limitação de atuação, não está suprindo as expectativas do
setor de segurança contra incêndio.
Nesse contexto, foi praticamente unânime o apoio das partes inte-
ressadas à possibilidade de intervenção do Corpo de Bombeiros para re-
gular novos programas de avaliação da conformidade; no entanto, foram
feitas observações importantes para que essa regulação atinja os objeti-
vos desejáveis pelo setor.

127
O representante da ABINNE salientou que é sempre preferível a re-
gulamentação em âmbito nacional, se possível pelo INMETRO, e que
continuará as tratativas com o órgão para implementar os programas
de seu interesse. Disse também que os Corpos de Bombeiros deveriam
cobrar de forma mais contundente o INMETRO para que os programas
solicitados pela ABINEE sejam estabelecidos.
Prosseguiu dizendo que, na hipótese de recusa do INMETRO em
criar novos programas de avaliação da conformidade, o ideal é que os
Corpos de Bombeiros dos estados regulamentem a certificação dos pro-
dutos de segurança contra incêndio em âmbito nacional, a fim de evitar
discrepâncias entre os estados e a criação de barreiras técnicas internas.
Dessa forma, a atuação isolada do CBPMESP para implantação de pro-
gramas no setor deveria ser a última alternativa.
Embora concorde com a intervenção do CBPMESP, tendo em vista
as limitações para regulamentação em âmbito nacional, o representan-
te do IPT também mostrou grande preocupação relacionada à uniformi-
zação das exigências.
Como exemplo, citou a situação da regulamentação dos isolantes
acústicos e térmicos para uso na construção civil, atualmente em trâmite
no INMETRO. Desde 2001, como base legal, existe a Instrução Técnica
nº 10 do CBPMESP, que trata do controle de material de acabamento e
de revestimento; atualmente, ela está em trâmite uma Comissão dentro
do CB-24 para elaboração de uma norma técnica a respeito.
A preocupação é que haja, em breve, três dispositivos tratando de
forma diversa o mesmo escopo. Assim, o representante do IPT conclui
que, no caso de uma regulamentação do setor pelo CBPMESP, a unifor-
mização das exigências deve ser a principal preocupação do órgão.
O representante do ISB disse que o setor de chuveiros automáticos
carece muito de programas de avaliação da conformidade e que apoia o
CBPMESP na regulamentação de programas de certificação, mas sugere
que depois se busque a nacionalização das exigências por meio do LIGA-
BOM.
Levanta, ainda, uma preocupação no sentido de que regulamentar a
certificação não inviabilize a importação e o comércio de produtos espe-
cíficos, como chuveiros automáticos especiais, que não têm fabricação e
normas técnicas nacionais.
Os representantes da ABSpK e da ABICHAMA expuseram alguns
problemas existentes nos seus respectivos setores e disseram apoiar,
sem restrições, uma possível regulamentação do CBPMESP para
exigir a certificação de produtos de segurança contra incêndio, desde
128
que haja transparência e envolvimento das partes interessadas. O
representante da ABSpK disse que o setor de chuveiros automáticos já
está preparado para a exigência de certificação.
O representante da Associação DRYWALL disse que, embora esteja
mais ligado à área da construção civil do que ao setor de segurança con-
tra incêndio, apoia as iniciativas do CBPMESP para exigir a certificação
de produtos.
Esclarece que a associação já participa de uma iniciativa de qua-
lificação de produtos denominada Programa Setorial da Qualidade do
Drywall (PSQ-Drywall), subordinado ao Programa Brasileiro de Quali-
dade e Produtividade no Habitat (PBQP-H). O PBQP-H exige que todos
os materiais de construção sejam submetidos a ensaios de verificação de
conformidade em instituições independentes de terceira parte.
Segundo o representante da Associação DRYWALL, esse programa,
lançado pelo governo federal, representa hoje um dos principais sistemas
de qualificação de materiais e sistemas construtivos utilizados no país.
Esclarece que, mesmo com a exigência de certificação de produtos por
parte do CBPMESP, é importante a manutenção de programas de quali-
ficação pelas associações para contribuir com o devido acompanhamento
do mercado.
O representante da ABIEX disse ter larga experiência nas regula-
mentações de programas de avaliação da conformidade, tendo em vista
a participação ativa da associação no único produto de segurança contra
incêndio que tem certificação compulsória pelo INMETRO, o extintor de
incêndio.
Tendo em vista as limitações do INMETRO em ampliar os programas
no setor, disse que concorda com a exigência, por parte do CBPMESP, de
certificação de produtos de segurança contra incêndio, mas faz algumas
sugestões para melhor efetivar essa regulamentação.
Sua maior preocupação é que haja uniformidade de requisitos a se-
rem seguidos pelos Organismos de Avaliação da Conformidade, uma vez
que eles podem estar acreditados pelo INMETRO com procedimentos de
avaliação distintos, o que comprometeria a credibilidade do programa.
Disse que, nos casos de divergências entre os requisitos de diversos
OCP, deve-se buscar a uniformização por meio de RAC do INMETRO,
nem que seja com programas de avaliação da conformidade voluntários,
porque aí vincularia todos os organismos.
Esclareceu que a ABIEX também possui um Programa de Garan-
tia da Qualidade de extintores para o uso em edificações, denominado

129
Qualincêndio. O programa é conduzido por empresa independente e tem
como principal objetivo melhorar a qualidade do setor de extintores de
incêndio, na área de fabricação, visando garantir que os extintores novos
estejam em conformidade com os regulamentos do INMETRO e com as
normas técnicas da ABNT.
Salientou que, mesmo com um programa de certificação compulsório
pelo INMETRO, muitos são os problemas no setor de fabricação de ex-
tintores de incêndio, e o Programa Qualincêndio tem papel fundamental
no acompanhamento do mercado. Acrescentou que mais difícil do que
implementar um programa é mantê-lo com ações efetivas de acompa-
nhamento do mercado e de fiscalização.
Concluiu afirmando ser essencial que o Corpo de Bombeiros atue
em conjunto com as associações de fabricantes e que estas devem contar
com programas de qualificação setorial para ajudar no acompanhamen-
to do mercado; caso contrário, os programas estabelecidos poderão ser
muito deficientes e não ter credibilidade.
O representante do CREA disse ser importante a regulação do CBP-
MESP, não só para certificação de produtos, mas também para serviços
e outros setores que garantam a qualidade da segurança contra incêndio,
lembrando que deve ser cobrada do responsável técnico a devida anota-
ção de responsabilidade, na medida de sua atuação na regularização das
edificações.
O superintendente da ABNT/CB-24 disse que o tema é de extrema
importância para a segurança contra incêndio e que irá apoiar os Corpos
de Bombeiros nos programas de avaliação da conformidade. Encerrou o
encontro técnico dizendo que a ABNT/CB-24 fará o seu papel na produ-
ção de normas técnicas de especificação e de desempenho dos produtos de
segurança contra incêndio, sempre que necessário.

5.6 Resultado da pesquisa de programas de avaliação da


conformidade não regulamentados pelo Inmetro

O SINMETRO possui estruturas e conceitos aplicáveis a qualquer setor;


no entanto, ele não é o único sistema oficial de avaliação da conformidade
no Brasil. De acordo com o arcabouço jurídico brasileiro, o INMETRO
não detém exclusividade para implantação de programas de avaliação
da conformidade compulsórios, pelo contrário, diversos órgãos públicos,
sobretudo os federais, podem implementar programas em seus respeti-
vos setores. Muitos desses sistemas dispõem de estruturas de avaliação
130
da conformidade que operam em diferentes níveis de consonância com o
preconizado pelo SINMETRO.
Dessa forma, há vários programas de avaliação da conformidade não
regulamentados pelo INMETRO. Basicamente, esses programas podem
ser estabelecidos por órgãos públicos responsáveis pelo setor, com pro-
gramas de natureza compulsória, ou criados por associações ou grupos
de interesse de fabricantes e prestadores de serviço, com natureza vo-
luntária.
Vale lembrar que os programas de avaliação da conformidade não re-
gulamentados pelo INMETRO divergem muito na forma como interagem
com o SINMETRO. Há programas que exigem organismos de certificação
e laboratórios acreditados pelo INMETRO, há programas que exigem
apenas laboratórios acreditados pelo INMETRO e há programas total-
mente desvinculados do SINMETRO, com sistema próprio de avaliação.
A Confederação Nacional das Indústrias (2002a, p. 37-43) cita al-
guns setores econômicos com programas de avaliação da conformidade
levados a efeito por outros órgãos públicos como ministérios, agências
reguladoras e Foças Armadas, a saber:

a) o setor hospitalar: o Ministério da Saúde implementou programa,


com base no Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar, para
promover a avaliação e a certificação dos serviços hospitalares;
b) a Marinha: implementou programa para certificar todos os ma-
teriais e equipamentos destinados à segurança das embarcações,
tripulantes, passageiros e profissionais não tripulantes;
c) o Exército: implementou programa para certificar os materiais de
emprego militar, tais como armamentos, munição, equipamentos
militares e outros materiais ou meios (navais, aéreos, terrestres
ou anfíbios) de uso privativo ou característico das Forças Arma-
das, de modo a assegurar características de segurança e desem-
penho;
d) a Aeronáutica: implementou programa para certificar aeronaves,
adotando os requisitos do organismo de certificação americano da
Administração de Aviação Federal. Esse programa era aplicável
apenas a produtos que faziam parte de uma aeronave, mas poste-
riormente foi autorizada a extensão da certificação para produtos
que não se enquadram na Homologação Aeronáutica;
e) o setor aeroespacial: o Sistema Nacional de Certificação na Área
Espacial implementou programa com objetivo de promover a

131
qualidade e a segurança das atividades espaciais no Brasil e o
desenvolvimento do setor espacial;
f) o setor de telecomunicações: a Agência Nacional de Telecomu-
nicações (ANATEL) implementou programa de certificação para
provedores de serviços de telecomunicações de interesse restrito
e/ou coletivo, para prestadores de serviços de radiodifusão, fabri-
cantes e fornecedores de produtos de comunicação;
g) o setor de alimentos e bebidas: a Secretaria de Defesa Agropecuá-
ria implementou programa para avaliar as atividades de defesa
sanitária animal e vegetal. O setor envolve produtos e derivados
de origem animal e de bebidas, vinagres, vinhos e derivados da
uva, bem como a produção, comercialização e a utilização de pro-
dutos veterinários e agrotóxicos;
h) o setor nuclear: a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)
implementou programa, de acordo com critérios da Agência In-
ternacional de Energia Atômica, para regular o setor.

A Confederação Nacional das Indústrias (2002b, p. 35-53) também


cita alguns exemplos de programas de avaliação da conformidade leva-
dos a efeito por associações e grupos de interesse, que tiveram grande
sucesso no objetivo de regular o setor e oferecer mais qualidade e compe-
titividade para as empresas envolvidas.
O setor da confecção implementou um programa voluntário, pela As-
sociação Brasileira da Indústria do Vestuário (ABRAVEST), com objeti-
vo de certificar vestuários, primeiramente os uniformes escolares.
Para operacionalizar o programa, os laboratórios têxteis foram cre-
denciados pela ABRAVEST e passaram a realizar ensaios e emitir os re-
sultados. Compete ao setor técnico da ABRAVEST analisar os relatórios
e emitir as autorizações para o uso da etiqueta. A solução encontrada
para o controle de conformidade do produto no varejo foi incluir o próprio
cliente final no sistema de controle, selecionando itens de fácil verifica-
ção.
O setor de cerâmica e revestimento implementou programa voluntá-
rio, pela Associação Nacional de Fabricantes de Cerâmica de Revestimen-
to (ANFACER), que percebeu o impacto negativo da má qualidade e de-
cidiu criar um órgão técnico que fosse capaz de certificar a qualidade dos
produtos cerâmicos.
A associação criou o CCB (Centro Cerâmico do Brasil), como Organis-
mo de Certificação de Produto (OCP), que se credenciou no INMETRO
e passou a certificar os produtos do setor. As empresas associadas assu-
132
miram o custo da certificação e, com o tempo, o programa tornou-se um
diferencial de qualidade, conscientizando o consumidor para que exija
produtos conformes. Com a acreditação no INMETRO, os produtos ainda
obtiveram certificação de aceitação internacional.
No setor de joias banhadas em ouro e prata, um grupo de 60 peque-
nas empresas da região de Guaporé, cidade situada a cerca de 200 km
de Porto Alegre, resolveu investir em qualidade para obter destaque no
mercado.
Esse grupo uniu-se para instalar um laboratório de ensaios, com o
objetivo de certificar a camada de metal precioso depositada em seus pro-
dutos. O grupo fez parcerias com outras entidades, mobilizando todos os
elementos indispensáveis para chegar ao seu objetivo. O caso é um bom
exemplo de cooperação, em que empresas concorrentes se aliam para
buscar vantagem competitiva para todos os participantes.
No setor de fundição, no fim da década de 1970, a indústria já era
tecnologicamente avançada e fornecia todos os fundidos consumidos pela
indústria automobilística, cuja cifra de produção excedia 1 milhão de
veículos por ano; todavia, a qualidade dos fundidos deixava a desejar e o
índice de rejeição era muito alto.
Associação Brasileira das Indústrias de Fundição (ABIFA) reuniu
as empresas do setor e contribuiu decisivamente para a melhoria da
qualidade e competitividade, desenvolvendo normas técnicas e ensaios
de conformidade em laboratórios próprios. A união do grupo de fundições
com os seus fornecedores, sob o patrocínio da associação técnica do setor,
consolidou uma base tecnológica que promoveu sua competitividade
internacional.
Na área de tubos de plástico, a Associação Brasileira dos Fabricantes
de Materiais para Saneamento – Grupo Setorial PVC (ASFAMAS-PVC)
e a Associação Brasileira das Indústrias de Cloreto de Polivinila (ABIVI-
NILA) implementaram um Programa de Garantia da Qualidade de tu-
bos e conexões de polivinila (PVC) para instalações hidráulicas prediais.
Optaram por um modelo que prevê o teste de amostras recolhidas no
fabricante e no comércio, por isso contrataram um organismo indepen-
dente para avaliar a conformidade no setor, com a compra de amostras
em todo o território nacional.
As amostragens do comércio atingem tanto o produto das empresas
participantes do programa como o de não participantes, produzindo um
relatório trimestral de auditoria, informando os resultados dos testes
no que se refere à conformidade com as normas técnicas. O programa

133
voluntário custeado pelas empresas do setor resgatou a confiança do con-
sumidor e regulou o mercado de PVC.

134
6 – Proposta de atuação dos Corpos de Bombeiros na
atividade de certificação de produtos de segurança
contra incêndio

De maneira geral, nas políticas públicas voltadas à segurança contra


incêndio, os Corpos de Bombeiros Militares assumem papel de destaque
e acabam sempre protagonizando a regulação do setor em diversas ativi-
dades, a fim de alcançar os objetivos pretendidos pelo estado.
No tocante à avaliação da conformidade, verificou-se neste trabalho
que ainda é incipiente a regulamentação pelo INMETRO e, portanto,
questiona-se a possibilidade de o Corpo de Bombeiros regular mais essa
importante atividade. A pesquisa mostrou que, atualmente, é pequena a
atuação dos Corpos de Bombeiros Militares nos programas dessa natu-
reza, que não abrange a certificação de produtos.
A questão é agravada pelo fato de não haver legislação de segurança
contra incêndio em nível nacional, de modo que a legislação e os enten-
dimentos a respeito da avaliação da conformidade são muito divergentes
nos estados, gerando um grande impasse a ser superado. Se por um lado
o entendimento comum sugere ser ideal a criação de programas de ava-
liação da conformidade de maneira uniforme pelos Corpo de Bombeiros
em nível federal, por outro lado não há consenso e base legal em todos
os estados para a implantação de programa de certificação de forma con-
junta.
O único consenso é que os Corpos de Bombeiros Militares, em sua
maioria, não dispõem de recursos e efetivo para realizar as mesmas ati-
vidades que o INMETRO desenvolve, haja vista as responsabilidades
operacionais de atendimento a emergências e de regularização das edifi-
cações e áreas de risco.
Por essa razão, baseado em estudos que envolveram a situação do
mercado, a regulamentação do INMETRO, a opinião dos Corpos de
Bombeiros, bem como a opinião de especialistas e das partes interessa-
das, buscou-se definir uma forma alternativa de atuação dos Corpos de
Bombeiros Militares, capaz de colaborar efetivamente com a atividade
de avaliação da conformidade dos produtos de segurança contra incên-
dio, a fim de melhorar a qualidade dos produtos e proporcionar maior
segurança ao cidadão.

135
6.1 Da criação de uma base legal e das premissas para
atuação

Primeiramente, é necessário compor a base legal para atuação dos Cor-


pos de Bombeiros na atividade de avaliação da conformidade. A situação
ideal seria a previsão dessa competência em uma lei nacional que defina
as competências e os limites de atuação dos Corpos de Bombeiros Mili-
tares dos estados.
Com uma lei federal, é possível a tratativa da atividade de avaliação
da conformidade pelos Corpos de Bombeiros Militares de forma conjun-
ta, proporcionando uniformidade em termos de regulação e, consequen-
temente, em termos de exigência. Tal medida evitaria a possibilidade de
haver procedimentos distintos em cada estado, como ocorre atualmente
em diversas situações.
Tendo uma lei federal, seria possível, por meio da Secretaria Nacio-
nal de Segurança Pública, da LIGABOM, ou de alguma outra estrutura
específica a ser definida, a participação de representantes dos Corpo de
Bombeiros Militares dos estados, a fim de padronizar as exigências em
relação à certificação dos produtos de segurança contra incêndio em âm-
bito nacional.
Caso essa condição ideal não prospere, entende-se que é possível
também a exigência da certificação dos produtos diretamente pelos es-
tados, até que seja possível e acordada uma regulamentação uniforme
em todo o país. É evidente que essa possibilidade deve ser precedida de
legislação e de regulamentação própria do ente federativo que assim o
desejar. A forma de atuação aqui proposta serve tanto para uma ação
conjunta quanto individualizada de cada estado.
Vale lembrar que, de acordo com o artigo 24 da Constituição Federal,
no âmbito da legislação concorrente, considerando a legislação de segu-
rança contra incêndio como parte integrante do Direito Urbanístico, a
competência da União deve limitar-se a estabelecer normas gerais, não
excluindo a competência suplementar dos estados.
Além disso, os parágrafos 3º e 4º do artigo 24 da Constituição Federal
ditam que, se inexistir lei federal sobre normas gerais, os estados pode-
rão exercer a competência legislativa plena para atender a suas peculia-
ridades, no entanto, a superveniência de lei federal sobre normas gerais
suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.
Atualmente, como não há um Código Nacional de Segurança contra
Incêndio, as leis estaduais acabam suprindo essa lacuna de forma a esta-
belecer as competências e os limites de atuação dos Corpos de Bombeiros
136
de cada estado, o que pode incluir a exigência de avaliação da conformi-
dade dos produtos de segurança contra incêndio.
Caso não haja a previsão expressa da avaliação da conformidade em
lei estadual, o Decreto Estadual que o regulamenta deverá fazê-lo, en-
quadrando esta atuação dentro dos objetivos da lei e da competência do
Corpo de Bombeiros Militar.
Como exemplo, no estado de São Paulo, o artigo 16 do Código Esta-
dual de Proteção contra Incêndios prevê que a segurança contra incên-
dio é um dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, e será
exercida pelo CBPMESP, estipulando assim a competência do Corpo de
Bombeiros para regular o serviço de segurança contra incêndio no estado
(SÃO PAULO, 2015).
O artigo 20 do referido Código Estadual de Proteção contra Incêndios
esclarece que as medidas de segurança contra incêndio serão disciplina-
das por meio de Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros, como segue:

Artigo 20 – As medidas gerais de segurança contra incêndio e emergên-


cias, bem como aquelas a serem adotadas por ocasião da construção,
reforma, mudança de ocupação ou de uso, ampliação de área construída,
aumento de altura da edificação e regularização das edificações ou de
áreas de risco, serão disciplinadas mediante a elaboração de Instruções
Técnicas pelo Corpo de Bombeiros, que integram o Regulamento de Se-
gurança contra Incêndios das edificações e áreas de risco no Estado de
São Paulo. (SÃO PAULO, 2015)

Assim sendo, o Código de Segurança contra Incêndio do estado de


São Paulo é bem generalista e não faz menção expressa à certificação
de produtos de segurança contra incêndio, mas dá azo para que ela seja
regulada de maneira infralegal, por meio de decretos estaduais e instru-
ções técnicas do Corpo de Bombeiros.
Para validar uma possível exigência de certificação de produtos em
São Paulo, foi revisado o decreto estadual onde se propôs a inclusão do
seguinte dispositivo:

Artigo 21 – O CBPMESP poderá exigir a certificação, ou outro mecanismo


de avaliação da conformidade, dos produtos e serviços voltados à seguran-
ça contra incêndio das edificações e áreas de risco, por meio de organismos
de certificação acreditados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Quali-
dade e Tecnologia – INMETRO, comprovando o atendimento às normas
técnicas nacionais.

137
§ 1º – A exigência de certificação de produtos e serviços de segurança
contra incêndio ocorrerá de forma gradativa, de acordo com ato norma-
tivo a ser expedido pelo CBPMESP.
§ 2º – Poderão ser aceitos produtos e serviços certificados com base em
normas técnicas e organismos de avaliação da conformidade internacio-
nalmente reconhecidos. (CBPMESP, 2016a)

Até o momento, o novo decreto estadual ainda não foi publicado, mas
a proposta de texto oferece a possibilidade clara de atuação do Corpo
de Bombeiros na atividade de avaliação de conformidade, com algumas
regras basilares, sendo considerada uma boa sugestão de texto para in-
clusão no Código Nacional de Segurança contra Incêndio.
Na proposta do decreto, o “caput” do artigo 21 diz que o CBPMESP
poderá exigir a certificação, ou outro mecanismo de avaliação da confor-
midade, dos produtos e serviços voltados à segurança contra incêndio
das edificações, por meio de organismos de certificação acreditados pelo
INMETRO.
Há uma priorização do mecanismo de avaliação da conformidade a
ser adotado pelo Corpo de Bombeiros, qual seja, a certificação, assim
como há uma limitação também para produtos e serviços voltados à se-
gurança contra incêndio, não fazendo menção a processos e pessoas.
Depreende-se do texto normativo que a exigência de certificação, ou
de outro mecanismo de avaliação da conformidade, é uma “faculdade”
do Corpo de Bombeiros, cabendo a este decidir sobre a sua exigência ou
não para cada um dos produtos ou serviços relacionados à segurança
contra incêndio.
É importante ressaltar que a certificação não deve ser colocada no
texto como uma obrigatoriedade, já que esta deve ser fruto de um estudo
de impacto e muitos produtos não estão em condições ou dispensam a
necessidade de certificação, que é uma medida restritiva e onerosa para
o fabricante.
O artigo 21, no seu parágrafo 1º, complementa dispondo que a
exigência de certificação de produtos e serviços de segurança contra
incêndio ocorrerá de forma gradativa, de acordo com ato normativo a
ser expedido pelo CBPMESP. Assim sendo, o decreto traz orientação
expressa para que a avaliação da conformidade seja implantada de
forma gradativa para evitar impacto no mercado.
O texto reforça, ainda, a competência legal e o caráter discricioná-
rio atribuído ao Corpo de Bombeiros para regulamentação por meio de
ato próprio. Nessa questão, é importante lembrar que, por ser exigência

138
estadual, ela não deve se contrapor à regulamentação do INMETRO,
quando houver.
O artigo 21, no seu parágrafo 2º, diz ainda que poderão ser aceitos
produtos e serviços certificados com base em normas técnicas e orga-
nismos de avaliação da conformidade internacionalmente reconhecidos,
caso o estudo de impacto assim recomende.
Pelo texto, de acordo com a necessidade e a urgência do caso concreto,
o Corpo de Bombeiros deverá decidir sobre a implantação de programas
de avaliação da conformidade com admissibilidade ou não de normas
técnicas e organismos de avaliação da conformidade internacionalmente
reconhecidos.
O próprio texto orienta, como regra, a utilização de OCP acreditado
pelo INMETRO, por trazer maior segurança jurídica ao consumidor em
caso de falha do produto e demandas indenizatórias. Para o Instituto,
o OCP deve ter estabelecimento no Brasil a fim de que possa ser facil-
mente demandado.
No entender do autor, os organismos internacionalmente reconhe-
cidos devem buscar a sua acreditação no INMETRO, ou então buscar
alguma parceria com OCP já acreditado pelo Instituto. Se isso não for
possível, o Corpo de Bombeiros pode optar pela “não regulamentação do
setor” para evitar a exposição dos consumidores a condições jurídicas
desfavoráveis.
Caso tenham interesse, os estados poderão adaptar as regras ante-
riormente propostas neste estudo em seu arcabouço jurídico, de modo a
viabilizar a atuação na avaliação da conformidade dos produtos de segu-
rança contra incêndio, de acordo com o que está sendo apresentado no
presente trabalho.
Quanto à proposta do decreto do estado de São Paulo, é importante
esclarecer a forma de participação dos Corpos de Bombeiros no processo
de avaliação da conformidade. O entendimento é que o Corpo de Bombei-
ros do estado deve assumir o papel de regulador, e não de certificador ou
acreditador. Isso porque a proposta do decreto deixa bem clara a existên-
cia de três atores distintos no processo, quais sejam:

a) o Corpo de Bombeiros, que pode exigir a certificação, ou seja, re-


gulamentar e fiscalizar a avaliação da conformidade, dentro da
estrutura do SINMETRO;
b) o organismo de certificação, que efetivamente irá avaliar a con-
formidade dos produtos ou serviços; e

139
c) o INMETRO, que fará a acreditação dos organismos de certifica-
ção, dando-lhes reconhecimento internacional.

No processo de certificação, o Corpo de Bombeiros deve representar


o Estado, de maneira genérica, e o consumidor, de maneira específica;
já a atividade de certificação deve ser feita por organismo independente
acreditado pelo INMETRO, por ser este o acreditador oficial no Brasil,
reconhecido internacionalmente.
O autor deste trabalho entende que o Corpo de Bombeiros deve
procurar manter sempre uma postura de regulador do setor, mesmo
quando utilizados outros mecanismos de avaliação da conformidade, a
exemplo da declaração do fornecedor, em que não existe a figura do or-
ganismo de avaliação independente.
Assim como o INMETRO, portanto, para dar maior credibilidade ao
programa estabelecido, o Corpo de Bombeiros deve manter a postura de
imparcialidade, ou seja, não deve se portar como um dos agentes econô-
micos, mas, sim, como regulador.
A atuação como OCP pode ser desastrosa para a credibilidade dos
Corpos de Bombeiros, que devem se manter isentos e independentes em
relação às partes envolvidas (produtor, certificador e cliente).
Para manter a imparcialidade, entende-se que os Corpos de Bom-
beiros também devem evitar a atividade de cadastro de fornecedores e
prestadores de serviços de segurança contra incêndio, por ser um tipo de
avaliação da conformidade eminentemente de segunda parte, com maior
probabilidade de gerar responsabilidade jurídica ao estado, de maneira
objetiva, e ao militar do estado, de maneira subjetiva, na eventualidade
de danos ao consumidor, com possibilidade de afetar a imagem institu-
cional, já que, neste caso, o Corpo de Bombeiros deixa de utilizar a tercei-
ra parte (organismo independente) como responsável pela confiabilidade
do produto.
A referência ao INMETRO na proposta do decreto de São Paulo, além
de reforçar a tese da imparcialidade do Corpo de Bombeiros, também
orienta quais são o sistema e a base normativa de regulamentação que
devem ser adotados nos processos de avaliação da conformidade. Nesse
sentido, entende-se que os programas a serem implementados pelo Cor-
po de Bombeiros devem estar inseridos no SINMETRO e devem adotar a
base normativa do CONMETRO e do INMETRO, no que couber.
A utilização da estrutura oficial do SINMETRO é importante, pois
propicia o reconhecimento nacional e internacional, por meio da acre-
ditação pelo INMETRO dos organismos de avaliação da conformidade e
140
dos laboratórios de ensaio, que utilizam as normas ISO, internacional-
mente convencionadas para as respectivas atividades.
Isso quer dizer também que, sendo editado um programa de certifica-
ção pelo INMETRO, seja ele compulsório ou voluntário, a regulamenta-
ção do Corpo de Bombeiros necessariamente deverá ser adequada. Aliás,
o ideal mesmo é que a regulamentação seja gradativamente absorvida e
uniformizada pelo próprio INMETRO, nem que seja de maneira volun-
tária, pois minimamente oferece uma padronização dos RAC.
Com relação aos requisitos de avaliação dos produtos e serviços de
segurança contra incêndio, a proposta do decreto orienta que a base nor-
mativa a ser adotada é a NBR, porém, o parágrafo 2º do artigo 21 também
autoriza a utilização de norma técnica reconhecida internacionalmente,
porque pode não haver NBR específica ou ela pode estar defasada.
Nesse aspecto, a decisão fica a cargo do Corpo de Bombeiros do esta-
do e deve ser fruto de estudo específico para cada produto ou serviço. O
autor entende que se deve fomentar a normalização pela ABNT e priori-
zar a adoção das NBR; no entanto, o Corpo de Bombeiros, a exemplo do
INMETRO, se necessário, pode adotar a NBR na íntegra ou em parte,
regulamentando de forma diversa os itens não desejados, baseando-se
em normas técnicas internacionalmente reconhecidas.
Como proposta de atuação do Corpo de Bombeiros na avaliação da
conformidade dos produtos de segurança contra incêndio, propõe-se a
adoção do mecanismo da certificação. A certificação é o mecanismo de
avaliação da conformidade que fornece maior credibilidade, sendo reco-
mendado pelo INMETRO quando se pretende enfrentar problemas de
segurança.
Para os serviços de segurança contra incêndio, também é possível a
adoção da certificação; todavia, quando há pulverização dos serviços no
território, muitas vezes executados por microempresas e empresas de
pequeno porte, o regulamentador normalmente adota o mecanismo da
declaração do fornecedor, por vislumbrar dificuldades operacionais e alto
custo com os organismos de certificação.
Tal cenário pode ser observado no setor de extintores de incêndio,
regulamentado pelo INMETRO. A fabricação deles é avaliada compulso-
riamente pelo mecanismo da certificação, e os serviços de manutenção e
recarga dos extintores são avaliados compulsoriamente pelo mecanismo
da declaração do fornecedor.
Tendo em vista que este trabalho visa apresentar uma proposta para
atuação do Corpo de Bombeiros na atividade de avaliação da conformida-
de dos produtos, a questão dos serviços relacionados ao setor deverá ser
141
estudada em apartado para verificar qual é o mecanismo de avaliação da
conformidade recomendado para cada caso.
Conforme explanado, a certificação dispõe de diversos modelos, que
variam de acordo com o grau de exigência. O modelo 5 do INMETRO
é o mais abrangente, pois contempla a avaliação inicial do produto, a
avaliação no mercado após a emissão do Certificado de Conformidade e
a avaliação do sistema de gestão do processo produtivo e de controle da
empresa.
A avaliação do sistema de gestão da qualidade, segundo requisitos
previamente determinados, possibilita à empresa estruturar-se segundo
os princípios básicos da qualidade, sendo esta a verdadeira garantia de
que o fornecedor poderá entregar, de forma consistente e repetitiva, bens
e serviços de acordo com a especificação regulamentada.
A avaliação do sistema de gestão não quer dizer que a empresa deve
possuir o certificado ISO 9001, mas sim que ela deve seguir algumas prá-
ticas de gestão consideradas importantes para a garantia de qualidade
dos produtos.
O autor do presente trabalho entende que a qualidade do sistema
de gestão da empresa traduz um importante compromisso do fornecedor
com a conformidade do produto, motivo pelo qual propõe que a certifica-
ção dos produtos de segurança contra incêndio, no âmbito do Corpo de
Bombeiros, seja exigida de acordo com o modelo 5 do INMETRO.

6.2 Parceria com associações de fabricantes ou similares

Sem dúvida, uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo INMETRO


é a operacionalidade do acompanhamento no mercado dos programas de
avaliação da conformidade estabelecidos compulsoriamente.
Como forma de suprir essa deficiência, o INMETRO busca estabe-
lecer parcerias com outros órgãos públicos e privados que tenham in-
teresse na regulação do setor, de modo que eles possam auxiliá-lo nas
atividades de fiscalização diretamente no mercado consumidor.
Com os Corpos de Bombeiros Militares, essa problemática é agrava-
da em razão das demandas operacionais de atendimento a emergências
e regularização das edificações e áreas de risco, cujo atendimento em
relação às atividades de avaliação da conformidade é prioritário.
É muito difícil, mas, por ser a sua atividade-fim, o INMETRO pode
suportar um programa compulsório sem que haja a contribuição de ter-
ceiros, caso haja necessidade comprovada e direcionamento de esforços;
contudo, é praticamente impossível que os Corpos de Bombeiros Milita-
142
res implementem programas de avaliação da conformidade compulsórios
sem que haja algum tipo de parceria e apoio das partes interessadas.
A atuação do Corpo de Bombeiros sem o apoio de terceiros pode ge-
rar sérias deficiências no acompanhamento do mercado, pois seria muito
limitada sua ação no mercado consumidor. Essa deficiência pode ocasio-
nar a falta de credibilidade no programa de certificação, pondo a perder
todo o esforço investido na regulação do setor.
Nesse contexto, o autor deste trabalho entende que o Corpo de Bom-
beiros somente deverá regulamentar determinado produto se houver
apoio e for estabelecida parceria com associação de fabricantes ou simi-
lar, para que possa contribuir efetivamente em todas as fases do progra-
ma de avaliação da conformidade.
Entende-se por associação uma entidade privada que congrega as
principais empresas produtoras ou importadoras de produtos de segu-
rança contra incêndio que se reúnem, de forma organizada, com o obje-
tivo de melhor regular o setor. As associações normalmente estabelecem
estatutos que permitem o aporte financeiro das empresas e possibilitam
a sua atuação formal em prol dos objetivos dos associados, muitas vezes
disponibilizando recursos e pessoal próprios.
Em um primeiro momento, pode-se questionar a dependência de ter-
ceiros para atuação do Corpo de Bombeiros; entretanto, deve-se ter em
mente que a regulamentação de programas de avaliação da conformi-
dade não é uma atividade-fim dos Corpos de Bombeiros Militares, que,
muitas vezes, não dispõem de conhecimento técnico, pessoal próprio e
processos específicos para atuação nessa área.
Além disso, é quase certo o insucesso caso Corpo de Bombeiros tente
aventurar-se na certificação de determinado produto sem o apoio do
setor correspondente para viabilizar a normalização, os procedimentos
de avaliação e o acompanhamento do mercado.
É importante que essa parceria entre as associações e o Corpo de
Bombeiros seja materializada em algum instrumento legal, como um
“Termo de Mútua Cooperação” que possa registrar os deveres dos envol-
vidos, não havendo necessidade de convênios ou de instrumentos muito
burocráticos, uma vez que já existe a previsão legal para a atuação.
De acordo a legislação de cada estado, outros instrumentos podem
ser avaliados pelos setores jurídicos; salienta-se, porém, que não foi obje-
tivo deste trabalho estudar os prós e os contras dos instrumentos legais
disponíveis.
Em relação ao momento em que deve ser firmado o Termo de Mú-
tua Cooperação, ou instrumento similar, entre as partes, entende-se que

143
deve ser formalizado ao término do desenvolvimento da regulamentação
e antes da implantação efetiva do programa de avaliação da conformida-
de, no âmbito do Corpo de Bombeiros.
As atividades desenvolvidas antes da efetiva implantação do progra-
ma de avaliação da conformidade podem ser executadas sem a forma-
lização da parceria; no entanto, é necessário que haja efetivo apoio da
associação nos trabalhos e manifestado interesse em firmar-se a parceria
com o Corpo de Bombeiros.
Pode ser entendido como manifestação de interesse em firmar par-
ceria, um ofício da associação ao Comandante do Corpo de Bombeiros
que declare a intenção de participar efetivamente em todas as fases da
implantação do programa de avaliação da conformidade, em especial na
execução das atividades de acompanhamento no mercado para o produto
demandado.
O principal compromisso que a associação deve assumir é o acompa-
nhamento no mercado. Entre outras medidas, a associação deve providen-
ciar, por meio de empresa independente, a coleta de produtos no mercado
consumidor e encaminhá-los para análise em laboratórios acreditados pelo
INMETRO.
Para ser mais didático, as demais ações a serem desempenhadas pelo
Corpo de Bombeiros e pelas partes interessadas serão detalhadas à me-
dida que forem apresentadas as etapas a seguir, como propostas para a
implantação dos programas de avaliação da conformidade, que teve como
referência o Guia de Boas Práticas de Regulamentação do INMETRO.

6.3 Identificação e priorização das demandas

As demandas para regulamentação podem advir basicamente:

a) do próprio Corpo de Bombeiros: a partir da atividade de atendi-


mento de emergências ou da área de prevenção contra incêndio,
em razão do histórico de ocorrências, das pesquisas de sinistros,
do histórico de falhas de produto, das reclamações dos consumi-
dores e de denúncias diversas;
b) de outros órgãos públicos: que tenham forte relação com determi-
nado produto e demandem a solução de algum problema especí-
fico; e
c) da sociedade organizada: a partir dos conselhos de engenharia e
de arquitetura, dos sindicatos da construção civil e similares, das

144
associações representativas do setor, tais como associações de fa-
bricantes e similares, e dos comitês específicos da ABNT, todos
com interesse em sanar problemas específicos do setor.

Para a sociedade organizada, sugere-se que a solicitação seja feita


por meio de pedido escrito que contenha todas as informações disponí-
veis em relação ao problema existente e, também, os objetivos que se
pretende alcançar com a referida regulamentação.
A partir das fontes apresentadas, o Corpo de Bombeiros deve manter
um rol de demandas para regulamentação com suas respectivas priori-
dades. Essas demandas devem ser formalmente registradas, e o resulta-
do de cada uma delas ao longo do tempo deve ser atualizado constante-
mente pelo Corpo de Bombeiros, devendo a informação ficar disponível
para conhecimento do público externo.
Tendo em vista a condição premente de existência de parceria entre
o Corpo de Bombeiros e as associações de fabricantes ou similares para a
implantação de programas de avaliação da conformidade, propõe-se que
seja atendida a seguinte ordem de priorização:

a) prioridade 1: demandas oriundas do Corpo de Bombeiros, ou de


outro órgão público, e da sociedade com manifestação de associa-
ção interessada em firmar parceria;
b) prioridade 2: demandas oriundas exclusivamente da sociedade
com manifestação de associação interessada em firmar parceria;
c) prioridade 3: demandas oriundas do Corpo de Bombeiros, ou de
outro órgão público, e da sociedade sem manifestação de associa-
ção interessada em firmar parceria; e
d) prioridade 4: demandas oriundas exclusivamente da sociedade
sem manifestação de associação interessada em firmar parceria.

Se houver mais de um produto na mesma classe, a priorização para


estudo será feita pelo Corpo de Bombeiros, de acordo com a importância
do produto na segurança das edificações e áreas de risco, considerando a
frequência de utilização do produto e as consequências de sua falha.
Ao atingir as classes 3 e 4, o Corpo de Bombeiros deve buscar, na
medida do possível, alguma associação de fabricantes ou similar que as-
suma a responsabilidade de efetuar o acompanhamento no mercado.
Havendo o compromisso preliminar de alguma associação de fabri-
cantes ou similar, deve ser elaborado um Estudo de Impacto e Viabilida-

145
de (EIV) específico para cada demanda, cujo detalhamento será exposto
a seguir.

6.4 Estudo de impacto e viabilidade

O EIV deve ser elaborado pelo Corpo de Bombeiros, em conjunto com a


associação interessada em firmar parceria para regulamentação do se-
tor. O EIV deve ter como objetivo concluir pelo desenvolvimento ou não
da regulamentação de um programa de avaliação da conformidade no
âmbito do Corpo de Bombeiros.
Tendo em vista a possibilidade de mudança no cenário estudado, pro-
põe-se que o EIV seja um processo que acompanhe a vida do programa
de avaliação da conformidade, devendo ser revisado ou atualizado antes
da efetiva implantação do programa e, posteriormente, quando houver
necessidade de seu aperfeiçoamento.
O referido estudo constitui um importante instrumento para deta-
lhar os problemas do setor, os objetivos pretendidos com o programa, os
possíveis impactos regulatórios e a infraestrutura existente para a sua
implantação, buscando sempre envolver as partes interessadas, com a
máxima transparência possível.

De maneira geral, o EIV deve responder às seguintes questões:


a) natureza do problema (qual é o problema a ser enfrentado?);
b) efeitos previsíveis da regulamentação (pode-se esperar que a
regulamentação apresente resultados melhores do que a ação do
mercado ou pode originar resultados piores?);
c) soluções alternativas (quais são as abordagens alternativas para
lidar com o problema, incluindo ações não regulatórias?);
d) parceria com associações (que suporte é oferecido pelas associa-
ções de fabricantes ou similares?);
e) benefícios da regulamentação (quais são os benefícios prováveis
das ações propostas? Quais grupos se beneficiarão? Como poderá
ser a divisão dos benefícios entre as diversas partes interessa-
das?);
f) custos da regulamentação (quais são os custos prováveis das
ações propostas? Quais grupos incorrerão nesses custos? Como
poderá ser a divisão dos custos entre as diversas partes interes-
sadas?);

146
g) consulta às partes interessadas (quais são as visões e percepções
do público e das partes interessadas sobre as opções propostas?);
e
h) impacto na competição (quais são os prováveis impactos na com-
petição de mercado?).

A resposta apropriada a essas questões não é tarefa fácil; no entanto,


se elas não forem seriamente enfrentadas, é bem possível que a regula-
mentação seja malsucedida.
Uma das principais dificuldades na realização dessas análises é a
disponibilidade e a confiabilidade dos dados, que variam de acordo com
a natureza do problema. Para evitar omissões na análise de assuntos
considerados importantes, propõe-se que o EIV seja um documento
formal que contenha, minimamente, os seguintes tópicos:

a) introdução;
b) análise do mercado e problemática do setor;
c) análise da competência do Corpo de Bombeiros;
d) análise da associação interessada na parceria;
e) análise da situação normativa;
f) análise da infraestrutura existente;
g) análise de riscos e de custos da regulamentação; e
h) relatório e conclusão.

Com relação à análise de mercado, sugere-se que seja abordado, com


o apoio da associação de fabricantes e das demais partes interessadas,
os seguintes temas: volume quantitativo de vendas; movimentação fi-
nanceira; impacto na economia; perfil social dos consumidores; vulnera-
bilidade dos consumidores finais; perfil dos fabricantes; nível de utiliza-
ção do Sistema de Gestão da Qualidade pelos fabricantes; existência de
programas setoriais da qualidade; canais e formas de comercialização
do produto; dificuldades de acesso ao mercado; percentuais de produtos
nacionais e importados presentes no mercado; e especificação do volu-
me (quantitativo e financeiro) de importação e exportação para verificar
qual é a predominância no mercado.
Na especificação da problemática existente, sugere-se abordar
temas como: histórico de irregularidade e falhas do produto; histórico
de acidentes ocorridos; riscos oferecidos pelo produto (probabilidade de
ocorrência X consequência da falha); existência de problemas no mercado,

147
como concorrência desleal e outros; e histórico de reclamações, denúncias
e dúvidas manifestadas no INMETRO e no Corpo de Bombeiros.
Na sequência, deve-se verificar se há correlação entre a proposta de
regulamentação apresentada e a solução dos problemas descritos. É ne-
cessário analisar se a proposta está apta a solucionar a problemática
ou se há fatores externos que comprometem a efetividade do programa,
sendo necessário adaptá-lo ou abandoná-lo.
Na análise da competência do Corpo de Bombeiros, deve-se verificar
se os produtos guardam estreita correlação com o setor de segurança
contra incêndio e se são utilizados, comumente, nos sistemas de proteção
das edificações e áreas de risco.
Deve-se avaliar, ainda, a situação do produto em relação à existência
de regulamentação federal. O Corpo de Bombeiros não pode contradizer
programas de avaliação da conformidade levados a efeito por órgãos fe-
derais, tais como INMETRO, ANATEL, ANVISA e outros.
Na análise da associação interessada em firmar parceria com o Corpo
de Bombeiros, deve-se buscar identificar: se é constituída formalmente;
se tem representatividade expressiva de fabricantes ou importadores;
quais são suas empresas associadas; grau de participação na ABNT; re-
lacionamento com o INMETRO outros programas ou demandas; se conta
com fontes de recursos materiais e humanos para utilização no progra-
ma de avaliação da conformidade; se segue programa de qualificação ou
se compromete a implementar um para acompanhamento no mercado;
se dispõe de canais de comunicação com os associados e com o mercado
consumidor para orientações diversas e educação pública; e se oferece
canal para denúncias.
A associação deve demonstrar disponibilidade e competência para
ajudar em todas as fases do programa de avaliação da conformidade e na
mobilização das demais partes interessadas. A falta de apoio da associa-
ção interessada na elaboração do próprio EIV pode ensejar a conclusão
pela não regulamentação da demanda, em razão de deficiência da asso-
ciação parceira.
Na análise da situação normativa, deve-se verificar: existência de le-
gislação aplicável ao produto; existência de regulamento técnico aplicá-
vel direta ou indiretamente ao produto; disponibilidade de norma técnica
internacional, regional ou nacional; e existência de acordos internacio-
nais, regionais ou bilaterais ligados ao setor.
Na análise da infraestrutura existente, deve-se avaliar, basicamen-
te, a situação dos organismos de avaliação da conformidade e dos la-
boratórios de ensaio. É necessário saber a quantidade de organismos
148
certificadores e laboratórios existentes no território nacional; se estão
acreditados pelo INMETRO ou qualificados para a atividade; sua disper-
são geográfica; e se há possibilidade de ampliação para se chegar a um
número ou uma distribuição desejável.
Na análise dos riscos e dos custos da regulamentação, sugere-se que
sejam utilizadas ferramentas e técnicas já conhecidas de análise dessa
natureza. Por vezes, não será possível expressar em termos monetários
os custos das ações, sendo conveniente relacioná-los com a sua eficácia
em relação à solução da problemática.
É importante reconhecer que qualquer método utilizado tem as suas
próprias limitações e não é inteiramente satisfatório. Da mesma manei-
ra, a disponibilidade de dados adequados para se efetuar uma análise é
uma dificuldade comum que precisa ser considerada e ultrapassada. De-
ve-se ter em mente que o objetivo primordial da análise de riscos e custos
é verificar o impacto positivo e negativo da regulamentação do Corpo de
Bombeiros. Os responsáveis pela análise devem tomar cuidado para não
superestimar involuntariamente os benefícios, muitas vezes por causa
de excessivo otimismo em se implementar medidas de qualidade. A aten-
ção deve ser focada na obtenção dos resultados efetivos da avaliação,
evitando que recursos analíticos escassos sejam desperdiçados com me-
todologias desnecessariamente complexas.
Por fim, todas as análises efetuadas devem ser resumidas de modo
a extrair as questões mais relevantes que vão orientar a conclusão dos
responsáveis pela elaboração do estudo.
Considerando as variáveis apresentadas, os responsáveis pela elabo-
ração do EIV devem concluir o relatório por uma das seguintes propos-
tas:

a) regulamentar a demanda no âmbito do Corpo de Bombeiros, opi-


nando pela assinatura do Termo de Mútua Cooperação com de-
terminada associação de fabricantes ou similar; ou
b) não regulamentar a demanda no âmbito do Corpo de Bombei-
ros, em razão de deficiências da associação interessada em firmar
parceria, ou por outros motivos, podendo o estudo sugerir formas
alternativas de regulamentação ou aceitação do produto.

Optando-se pela não regulamentação, caso as deficiências ou os pro-


blemas sejam superados, o EIV poderá ser atualizado, e a sua conclusão,
modificada.

149
Como regra, os responsáveis pela elaboração do estudo devem garantir
a ampla consulta às partes interessadas, a fim de buscar os dados necessá-
rios para a avaliação do impacto e da viabilidade da regulamentação. Pro-
põe-se que, durante o estudo, seja feita pelo menos uma audiência pública
com todas as partes interessadas para a discussão do tema e comprovação
da transparência.
Entende-se que o EIV é uma ferramenta que pode contribuir de ma-
neira efetiva para a implantação de boa regulamentação, caso seja bem
conduzida e balizada pela transparência e participação da sociedade.

6.5 Desenvolvimento ou adoção do procedimento de


avaliação de produto

Uma vez concluído o EIV, deve ser avaliada a questão do desenvolvimen-


to ou da adoção do PAP para o programa de avaliação da conformidade.
Correspondendo a cada produto desejado, deverá haver pelo menos
um PAP que disponha sobre os RAC a serem observados pelos avaliado-
res e pelos avaliados. Cada OCP tem o seu procedimento de avaliação e
busca, com base nele, a sua acreditação no INMETRO.
Normalmente, os PAP dos programas não regulamentados pelo IN-
METRO são elaborados pelos próprios OCP, que acabam definindo os
RAC relacionados à especificação e ao desempenho do produto, ao siste-
ma de gestão da empresa, aos procedimentos para seleção de amostras, à
escolha dos laboratórios e à frequência dos ensaios, entre outros.
Para que os OCP não elaborem PAP com regras muito distintas que
incorram em diferença de qualidade e variação de custos na avaliação da
conformidade, o que acarretaria concorrência desleal e falta de credibi-
lidade no setor, é imprescindível que o Corpo de Bombeiros informe os
requisitos gerais para certificação a serem observados.
Para fins de uniformização, no Apêndice B deste trabalho o autor
propõe a publicação dos Requisitos Gerais para Certificação de Produtos
de Segurança contra Incêndio (RGCP-SCI).
Nessa questão, considerando as variáveis possíveis, propõe-se que
sejam adotadas as seguintes posturas:

a) quando houver programa voluntário com RAC elaborado pelo IN-


METRO, este deverá ser adotado na íntegra;

150
b) quando não houver programa voluntário pelo INMETRO, porém
existir um ou mais Procedimentos Específicos disponibilizados
pelos OCP, estes deverão ser adaptados, se necessário, para aten-
der à base normativa e ao RGCP-SCI; e
c) quando não houver programa voluntário com RAC elaborado pelo
INMETRO e também não houver programa voluntário com pro-
cedimento de avaliação disponível no mercado, o PAP deverá ser
desenvolvido pelos OCP interessados, atendendo à base normati-
va e ao RGCP-SCI.

Se houver programa de certificação pelo INMETRO, este deverá ser


adotado na íntegra, mesmo que seja voluntário. Neste caso, no que se
refere a RAC editada. Aliás, o ideal é que a regulamentação seja grada-
tivamente absorvida e uniformizada pelo próprio INMETRO, nem que
seja de maneira voluntária, pois minimamente oferece uma padroniza-
ção dos RAC.
Nos casos em que houver somente um Regulamento Técnico do IN-
METRO, sem a implantação de programa de avaliação pelo órgão, o mes-
mo também deverá ser observado quando do desenvolvimento, adapta-
ção ou adoção de algum PAP.
O desenvolvimento dos PAP deve ser feito com a participação das
associações, dos OCP e da sociedade. Para tanto, as partes interessadas
devem ser consultadas, recomendando-se a realização de audiências pú-
blicas para a discussão dos procedimentos de avaliação de produto.
As associações devem viabilizar a consulta às partes interessadas,
organizando audiências públicas para discussões. A não colaboração e
empenho das associações nesse processo demonstra falta de interesse na
demanda, ensejando a possibilidade de não regulamentação no âmbito do
Corpo de Bombeiros.
Antes de implementar o programa, o Corpo de Bombeiros deve cer-
tificar-se de que houve a participação de todos os interessados na elabo-
ração dos PAP e se eles atendem ao RGCP-SCI. As associações de fabri-
cantes ou de importadores são os responsáveis pela avaliação dos PAP,
devendo reportar ao Corpo de Bombeiros quais procedimentos atendem
à base normativa e ao RGCP-SCI.
Em caso de não atendimento ou de não uniformização dos procedi-
mentos, o Corpo de Bombeiros deve solicitar a sua padronização. Se a
adequação ou a uniformização dos PAP não for obtida, o Corpo de Bom-
beiros poderá, a seu critério, solicitar ao INMETRO a padronização por

151
meio de um RAC e/ou rejeitar o Certificado de Avaliação da Conformi-
dade do OCP que não adequou o seu procedimento, em uma eventual
implantação do programa.
A fase do desenvolvimento termina na adoção, na adaptação ou no
desenvolvimento de um PAP que atenda ao RGCP-SCI, tendo o Corpo
de Bombeiros se certificado de que foi dada a devida transparência às
partes interessadas.

6.6 Implantação do programa de certificação

Uma vez vencida a etapa anterior, devem ser executadas as providências


para a implantação da regulamentação a fim de pôr em prática o progra-
ma de avaliação da conformidade.
Primeiramente, propõe-se que seja assinado um Termo de Mútua
Cooperação, ou documento similar, entre o Comandante do Corpo de
Bombeiros e o representante da associação interessada, a fim de que seja
firmada a parceria necessária para a execução e o acompanhamento no
mercado do programa de avaliação da conformidade.
Conforme explanado, as tratativas para a assinatura do Termo de
Mútua Cooperação, inclusive com minutas de texto, devem ser iniciadas
na fase do EIV; no entanto, recomenda-se que a assinatura formal seja
feita na presente fase, tão logo se conclua pela adoção de um PAP que
atenda à demanda.
Uma vez assinado o Termo de Mútua Cooperação, a autoridade re-
guladora deve utilizar o mecanismo apropriado para a implantação do
programa. No caso, propõe-se que essa regulamentação seja efetivada
por meio de Portaria do Comandante do Corpo de Bombeiros, que deve
traçar as linhas gerais do programa de avaliação da conformidade a ser
executado.
Deve ser expedida uma Portaria para cada produto demandado, que
deve conter, de forma sintética, a delimitação exata do produto a ser
avaliado, o prazo em que a certificação se tornará obrigatória e as regras
gerais que devem ser obedecidas pelas partes envolvidas.
Reputa-se que o ponto mais crítico na regulamentação é a definição do
prazo para entrada em vigor. Neste aspecto, propõe-se que o órgão regu-
lador leve em consideração as seguintes questões que devem ser vencidas
nesta fase:

a) adequação da infraestrutura;

152
b) adequação dos processos de fiscalização;
c) treinamento dos agentes de fiscalização;
d) adequação do mercado; e
e) divulgação e disseminação da regulamentação.

É necessário prever um tempo razoável para que a infraestrutura


tecnológica apropriada esteja disponível, principalmente, com relação à
acreditação de laboratórios e organismos de avaliação da conformidade.
Essa questão pode variar muito de acordo com o produto demandado,
sendo que alguns já têm a infraestrutura adequada e outros não têm
laboratórios e OCP acreditados pelo INMETRO.
O tempo para o estabelecimento dos processos de fiscalização e de
acompanhamento no mercado é outra questão a ser levada em conside-
ração. Para o Corpo de Bombeiros e para a associação de fabricantes, a
estrutura e os processos que serão criados para as primeiras demandas
poderão ser aproveitados para as subsequentes; no entanto, caso a parce-
ria seja com uma nova associação, deve ser aguardado um prazo razoável
para a sua preparação.
Um tempo para o treinamento dos agentes de fiscalização, tanto do
Corpo de Bombeiros quanto da associação ou contratada, deve ser levado
em conta, tendo em vista a necessidade de orientação específica para o
setor demandado.
Outra condicionante importante para a fixação do prazo é a situação
das empresas com relação à necessidade de adequação à regulamentação
técnica, tendo em vista que, muitas vezes, elas terão de modificar seus
processos produtivos ou fazer outro tipo de adaptação que requeira tem-
po e recurso para atender aos requisitos.
Convém lembrar, ainda, no caso de produtos, que seja considerada a
necessidade de o comércio esgotar seus estoques não conformes. Dessa
forma, podem ser estabelecidos prazos distintos para a adequação do
setor produtivo e para a adequação do comércio. Esse prazo de adequa-
ção do mercado depende muito da situação de cada setor demandado,
sugerindo-se em média um ano para o setor produtivo e dois anos para
o comércio.
Por fim, a portaria deve ser transcrita no Diário Oficial do Estado;
todavia, para ampliar a sua divulgação e disseminação, recomenda-se
que seja disponibilizada na página da internet do Corpo de Bombeiros e
da associação parceira, bem como encaminhada diretamente às partes
interessadas.

153
Dentro da parceria firmada, além da divulgação da regulamentação
internamente, a associação deve, também, de alguma forma, fazer che-
gar essa demanda às empresas não associadas e aos consumidores que
têm forte relação com o setor demandado.
A associação parceira pode ajudar muito na preparação das empre-
sas para o atendimento aos requisitos. São recomendáveis palestras, se-
minários ou cursos específicos para o perfeito entendimento dos procedi-
mentos específicos que serão exigidos.
Pouco antes do decurso do prazo, recomenda-se que seja atualizado o
EIV, a fim de verificar se a regulamentação necessita ser corrigida e se o
prazo para implantação precisa ser estendido.
Em suma, é imprescindível que o prazo para a implantação seja pla-
nejado adequadamente para que as condições necessárias estejam de fato
disponíveis, a fim de evitar ou mitigar impactos indesejáveis no setor.
Quando o programa estiver em vigor, o processo de certificação será
elaborado pelas OCP acreditadas pelo INMETRO. O órgão certificador
deve providenciar que o fabricante aplique a Marca da Conformidade ou
o Selo de Identificação da Conformidade em todos os produtos certifica-
dos com o objetivo de assinalar que o produto foi submetido ao processo
de avaliação da conformidade e atende aos requisitos contidos no PAP
e na base normativa.
Quando não regulamentado pelo INMETRO, a Marca ou Selo deve
identificar o OCP responsável pela certificação do produto. Se houver pro-
grama regulamentado pelo INMETRO, mesmo que voluntário, a identifi-
cação será controlada pelo referido órgão. É natural e até recomendável
que o INMETRO assuma, com o passar do tempo, a regulamentação dos
produtos de segurança contra incêndio, ainda que de forma voluntária.

6.7 Acompanhamento no mercado

Após o decurso do prazo estabelecido, deve ser iniciado o acompanhando


no mercado de modo a prevenir que os produtos regulamentados sejam
utilizados de maneira inadequada, colocando em risco a incolumidade
dos cidadãos e a concorrência leal e justa entre os fornecedores.
O acompanhamento no mercado pode ser considerado como gênero do
qual a fiscalização é uma espécie. A fiscalização é a forma mais consagra-
da de acompanhamento no mercado, sendo tipicamente uma prática de
polícia administrativa que visa coibir a presença no mercado de produtos
irregulares.

154
Nesta relação, a fiscalização deve ser feita pelo Corpo de Bombeiros
por ocasião das vistorias de regularização das edificações e das vistorias
oriundas de denúncias diversas. Para o exercício dessa atividade, o órgão
público pode valer-se das sanções administrativas definidas em lei, que,
no caso do Corpo de Bombeiros, representam a advertência, a multa e a
cassação da licença da edificação, se houver.
O acompanhamento no mercado é a atividade mais dispendiosa e
trabalhosa do programa e, por essa razão, reputa-se imprescindível a
parceria com a associação de fabricantes ou similar. A associação inte-
ressada tem papel preponderante para manter a credibilidade do progra-
ma na medida em que irá viabilizar, no comércio, a coleta e os ensaios
dos produtos de segurança contra incêndio rotineiramente.
Para efetivar esse acompanhamento, recomenda-se que a associa-
ção contrate empresa independente para identificar cientificamente uma
amostragem; proceder à coleta dos produtos no mercado; e submeter os
produtos a ensaios em laboratórios acreditados pelo INMETRO.
O resultado obtido do acompanhamento no mercado pode ser traba-
lhado para propiciar tanto a prevenção a produtos não conformes quanto
a educação pública dos consumidores, proporcionando grande oportuni-
dade de avaliar a eficácia da implantação da regulamentação.
Além da fiscalização nas instalações e do ensaio dos produtos coleta-
dos no comércio, é muito importante que o acompanhamento no mercado
contemple outras práticas que podem ser implementadas pelo Corpo de
Bombeiros e pela associação, quais sejam:

a) criação de canal de comunicação para denúncia ou reclamação;


b) criação de banco de dados sobre acidentes; e
c) acompanhamento de notícias nos meios de comunicação.

A criação de canais de comunicação com o cidadão, tais como ouvido-


ria, telefones 0800 e sítios na internet, de forma a melhor receber e tratar
denúncias, reclamações e pedidos de informação, são excelentes oportu-
nidades para a realização de campanhas de divulgação e esclarecimentos
sobre os regulamentos.
Além de contabilizar, saber exatamente as causas e os custos dos
acidentes relacionados aos produtos de segurança contra incêndio, essas
práticas podem oferecer, também, valiosas informações para o estabele-
cimento de medidas corretivas nos programas de avaliação da conformi-
dade. A elaboração de pesquisas de sinistros ou de relatórios de aciden-

155
tes são práticas que devem ser incentivadas nas comunidades técnicas
que buscam o aperfeiçoamento do setor.
Atualmente, o acompanhamento da comunicação escrita, falada e
televisiva tem papel fundamental para se entender os problemas nas
relações de consumo. O acompanhamento destes espaços e a análise de
coleções de fatos relatados sobre determinado produto podem também
ensejar oportunidades de aperfeiçoamentos nos regulamentos.
No acompanhamento de notícias, não podem ser esquecidos os sítios
da internet, incluindo os internacionais, que podem antecipar uma ten-
dência ou um problema que já ocorre em outros países.
Os OCP, responsáveis em primeira mão pela avaliação da confor-
midade dos produtos, não podem se furtar das atividades de acompa-
nhamento do mercado após a expedição do Atestado de Certificação. De
maneira proativa, os OCP devem implementar as práticas elencadas,
sobretudo a criação de canais de comunicação para denúncias e reclama-
ções. As informações obtidas devem balizar a atuação dos OCP no mer-
cado de forma a confirmar ou não o Atestado de Conformidade expedido.
De forma auxiliar, propõe-se que o Corpo de Bombeiros ou a associa-
ção parceira promova encontros técnicos periódicos entre as principais
partes envolvidas, a fim de identificar e discutir problemas recorrentes e
informações importantes para o monitoramento do mercado.
Qualquer que seja o meio, é essencial que o responsável por determi-
nada prática de acompanhamento no mercado disponibilize e divulgue
os seus resultados, de maneira abrangente, para todos os envolvidos ou
afetados pela regulamentação.

6.8 Aperfeiçoamento ou desregulação

As ações de acompanhamento no mercado visam, predominantemente,


identificar não conformidades como forma de aperfeiçoamento da regu-
lamentação técnica ou adoção de medidas corretivas; entretanto, pode-
-se concluir também por uma suspensão temporária da exigência, pela
desregulação do setor ou por outras medidas.
As não conformidades podem ter origem em deficiências no regula-
mento técnico, no PAP, nas normas técnicas por ele referidas, nos pa-
drões metrológicos, na deficiência de atuação dos organismos ou do labo-
ratório acreditados, na deficiente atuação dos fornecedores, na deficiente
atuação da associação parceira, entre outras.

156
No acompanhamento do mercado, também se pode chegar à conclu-
são de que as ferramentas da qualidade estabelecidas no PAP, tais como
auditorias, ensaios de tipo, amostragem e sistema de gestão da qualida-
de do fornecedor são insuficientes ou deficientes.
Cabe ao órgão regulador, auxiliado pelas associações parceiras e pe-
los OCP, identificar as não conformidades, avaliar a sua origem e de-
finir as ações corretivas. Considerando as variáreis que podem ocorrer
no acompanhamento do mercado, entende-se que o Corpo de Bombeiros
pode concluir, entre outras possibilidades, por uma das seguintes ações:

a) revisar o PAP, suspendendo ou não sua aceitação;


b) revisar a regulamentação (Portaria), suspendendo ou não o pro-
grama de avaliação da conformidade; e
c) desregular o setor.

Se a avaliação do acompanhamento no mercado concluir que os re-


quisitos de avaliação sejam deficientes e ensejam melhorias no PAP, este
pode ser revisado sem deixar de ser aceito na fiscalização, quando as
deficiências não comprometerem a credibilidade do programa ou a justa
concorrência no mercado. Neste caso, sugere-se que seja oferecido um
prazo para a conclusão da revisão necessária para que ela não se estenda
por muito tempo.
Neste ponto importa salientar que, na superveniência de criação de
um programa de avaliação pelo INMETRO, este deve ser adotado, mes-
mo que seja de ordem voluntária; nesse caso, deve-se adotar a RAC do
INMETRO como padrão.
Caso os requisitos de avaliação sejam muito deficientes a ponto de
comprometer a credibilidade do programa ou a justa concorrência no
mercado, o PAP não poderá ser aceito na fiscalização até que seja revisa-
do. Nessa situação, a suspensão de um PAP pode acarretar:

a) a continuidade do programa, caso haja outros procedimentos de


avaliação que possam ser aceitos; e
b) a suspensão do programa devido à inexistência de procedimentos
de avaliação que sejam aceitos na fiscalização. Neste caso, o Cor-
po de Bombeiros deve aguardar até que os procedimentos sejam
corrigidos ou uniformizados diretamente pelos OCP, ou mesmo
pelo INMETRO, por meio da criação de algum regulamento téc-
nico ou programa de avaliação, mesmo que voluntário.

157
Se a avaliação do acompanhamento no mercado concluir que há ne-
cessidade de limitar ou ampliar o escopo do programa ou redefinir suas
linhas gerais, sem que essa alteração seja comprometedora, pode-se op-
tar pela revisão da regulamentação técnica (Portaria), sem suspender-se
a operacionalidade do programa de avaliação da conformidade.
A regulamentação técnica também pode ser suspensa em razão de
sérias deficiências nos PAP, normalmente decorrentes de falhas nas nor-
mas técnicas de referência.
Outra decisão possível é desregular o setor. Umas das principais cau-
sas para isso seria a detecção de vício insanável no escopo do programa, a
exemplo de um produto que se tornou pouco utilizável ou deixou de existir
no mercado.
Outro motivo para desregular o setor seria quando os problemas, tais
como a concorrência desleal ou a segurança do usuário, que ensejaram
a criação do programa de avaliação da conformidade não existem mais.
Em tese, a meta de todo órgão regulador é que a regulamentação do
setor por determinado tempo provoque o ajuste necessário para que ele
subsista por seus próprios meios, sem que haja necessidade de inter-
venção do órgão público, de modo que este possa direcionar os recursos
disponíveis para outros setores demandados.
Para fins de transparência e definição das responsabilidades, antes
da tomada de qualquer decisão, propõe-se que seja revisado o EIV do
programa, a fim de que as informações e os dados disponíveis sejam de-
vidamente avaliados por todas as partes interessadas, sendo este um im-
portante instrumento para a formalização e para a motivação da decisão
a ser adotada.

158
7 – Conclusão

A segurança contra incêndios é um dever do Estado, direito e respon-


sabilidade de todos, e deve ser exercida pelos Corpos de Bombeiros dos
estados.
Ela somente pode ser garantida se for plenamente observada em to-
das as fases do processo de regularização da edificação, ou seja, é ne-
cessário estabelecer uma boa normalização técnica, um bom Projeto
Técnico, produtos de segurança contra incêndio adequados e instalações
realizadas por profissional devidamente capacitado e treinado.
Se a segurança contra incêndio for desconsiderada em qualquer uma
dessas etapas, a edificação ficará suscetível a riscos de inconveniências
funcionais, gastos excessivos e níveis de segurança inadequados.
O uso de produtos de segurança contra incêndio não conformes com-
promete totalmente as demais etapas do processo. A falha de funcio-
namento, em razão do não atendimento às normas técnicas e da baixa
qualidade do produto, afeta a segurança do consumidor.
Outro problema decorrente do uso de produtos inadequados é o dese-
quilíbrio no mercado devido à concorrência desleal. Por não haver regu-
lação e fiscalização no setor, tem se proliferado o número de fabricantes e
importadores que comercializam produtos de segurança contra incêndio
não conformes, a um custo muito baixo.
O Corpo de Bombeiros já atua de maneira efetiva na regulamentação,
por meio da edição das Instruções Técnicas, e também na adequação dos
projetos, com a análise dos Projetos Técnicos; no entanto, atua de forma
muito modesta na exigência de produtos e instalações adequados.
A vistoria técnica do Corpo de Bombeiros, para fins de emissão da
licença da edificação ou de fiscalização, tem como objetivo a verificação
básica do funcionamento dos equipamentos e é realizada de forma amos-
tral, não tendo como fulcro testar todos os requisitos de norma para equi-
pamentos e instalações, carecendo da adoção de medidas mais efetivas
para aferição da qualidade dos produtos e das instalações.
Na vistoria, além da exigência de comprovação de que o responsável
técnico instalou e testou os sistemas de segurança necessários, o que pode
ser feito por meio de Atestados ou Comissionamentos, vislumbrou-se a

159
possibilidade de avaliação da conformidade dos produtos de segurança
contra incêndio com a exigência de certificação, incluindo esta previsão
em legislações e Decretos Estaduais.
Por lei, a certificação de produtos é regulada pelo INMETRO, órgão
público federal responsável pela normalização, metrologia e qualidade
industrial. Caso o órgão edite alguma regulamentação para um produ-
to, nenhum outro pode dispor em contrário. No entanto, se não houver
regulamentação pelo INMETRO, o órgão público responsável pelo setor
pode implementar medidas de avaliação da conformidade, o que inclui a
certificação.
Foi justamente este o ponto focal deste trabalho, que buscou propor
uma forma de atuação dos Corpos de Bombeiros Militares na atividade
de avaliação da conformidade dos produtos de segurança contra incên-
dio.
Preliminarmente, foi apresentado um estudo aprofundado sobre a
regulamentação do INMETRO e um panorama geral do Programa Bra-
sileiro de Avaliação da Conformidade, destacando seus objetivos e pro-
cedimentos para desenvolver programas de avaliação da conformidade
com melhor relação custo-benefício para os segmentos impactados, sele-
cionando o mecanismo de avaliação da conformidade em função do risco
associado ao produto.
No Brasil, o INMETRO é o único órgão reconhecido pelo IAF como
organismo de acreditação; portanto, os organismos de avaliação da con-
formidade, para ter reconhecimento nacional e internacional, devem ser
acreditados pelo INMETRO.
No âmbito do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade, os
Organismos de Avaliação da Conformidade, instituições públicas ou pri-
vadas sem fins lucrativos, são os responsáveis por executar as atividades
de avaliação da conformidade, com base nos RAC elaborados para cada
produto, que definem exatamente “como” será a avaliação.
Para tanto, o INMETRO edita os chamados RGCP, que orientam a
elaboração dos RAC e têm como objetivo estabelecer os dispositivos co-
muns a todos os programas de avaliação da conformidade que adotem o
mesmo mecanismo de certificação.
A regulamentação do INMETRO traz os requisitos essenciais para
o desenvolvimento dos programas de avaliação da conformidade, inde-
pendentemente do responsável. São apresentados os fatores, a seguir,
considerados primordiais para o sucesso da exigência de certificação:

a) reconhecimento interno e externo;


160
b) padrões metrológicos internacionais;
c) acervo de normas técnicas atualizadas e alinhadas internacional-
mente;
d) regulamentos técnicos;
e) laboratórios de ensaios;
f) organismos certificadores;
g) prévia avaliação de viabilidade e impacto regulatório;
h) programas de avaliação da conformidade sistematizados;
i) acompanhamento no mercado;
j) tratamento de reclamações e denúncias;
k) educação e informação;
l) selo de identificação de conformidade.

Foi realizada uma pesquisa aprofundada sobre a atual situação dos


produtos de segurança contra incêndio no Brasil, sendo relatado que,
comparada a outros países, a certificação de produtos do setor é muito
incipiente, pois, nesse escopo, somente os extintores de incêndio, indi-
cadores de pressão para extintores de incêndio e pó para extinção de
incêndio têm certificação compulsória pelo INMETRO.
Além dos extintores, o Instituto regulamenta apenas mangueiras de
incêndio, porém essa certificação é voluntária. Há alguns programas de
avaliação da conformidade voluntários levados a efeito diretamente por
organismos certificadores; no entanto, em razão da ausência do Estado
em termos de exigência, a efetividade e a abrangência desses programas
é limitado.
Na Agenda Regulatória do INMETRO, consta que já foram concluí-
dos os estudos de impacto regulatório dos seguintes produtos: chuveiros
automáticos, acionadores manuais de alarme contra incêndio, centrais de
alarme, detectores de fumaça, detectores de temperatura contra incên-
dio, sinalização de emergência e espuma de poliuretano autoextinguível;
contudo, não há previsão para implantação de programas de avaliação
da conformidade pelo órgão e, caso isso ocorra, há probabilidade muito
grande de o programa ser apenas voluntário, medida que não tem surtido
grande efeito no setor.
O ideal seria que a certificação fosse compulsória pelo INMETRO. Caso
não seja implementada por este, em caso de necessidade, a exigência pode-
rá ser feita pelos Corpos de Bombeiros. Em princípio de maneira uniforme,
em âmbito nacional, mas, se não for possível, poderá ser feita diretamente
pelos estados.

161
Tendo um Código Nacional de Segurança contra Incêndio, seria possí-
vel, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública, da LIGABOM,
ou de alguma outra estrutura específica a ser definida, a participação de
representantes dos Corpo de Bombeiros Militares, a fim de padronizar as
exigências em relação à certificação dos produtos de segurança contra in-
cêndio em âmbito nacional.
Caso essa condição ideal não prospere, entende-se que é possível tam-
bém a exigência da certificação dos produtos diretamente pelos estados,
até que seja possível e acordada uma regulamentação uniforme em todo
o país. É evidente que essa possibilidade deve ser precedida de legislação
e regulamentação própria do ente federativo que assim o desejar.
Com base nos valiosos dados obtidos nas pesquisas, nas entrevistas
com os especialistas e no encontro técnico com diversas partes interes-
sadas do setor, foi realizada uma ampla reflexão sobre o papel legal do
Corpo de Bombeiros e, considerando suas limitações, buscou-se definir,
de maneira racional e objetiva, uma estratégia de atuação deste órgão na
atividade de avaliação da conformidade.
Com base em uma proposta de texto para o Decreto do Estado de São
Paulo, que poderia servir de base para a legislação de outros estados ou,
quem sabe, uma legislação federal, foi feita uma proposta de atuação dos
Corpos de Bombeiros Militares no que se refere à certificação dos produ-
tos de segurança contra incêndio.
Definiu-se que o Corpo de Bombeiros, na atividade de avaliação da
conformidade, deve representar o Estado, de maneira genérica, e o con-
sumidor, de maneira específica, sendo que a atividade de certificação
deve ser feita por um organismo independente acreditado pelo INME-
TRO, por ser este o acreditador oficial no Brasil, reconhecido internacio-
nalmente.
Quando não houver regulamentação pelo INMETRO, de acordo com
a base normativa, a decisão de regulamentar fica a cargo do Corpo de
Bombeiros e deve ser fruto de estudo específico para cada produto, deven-
do ser fomentada a normalização pela ABNT e priorizada a adoção das
NBR; no entanto, o Corpo de Bombeiros poderá, dependendo da situação
do produto no mercado, aceitar a utilização de norma técnica reconhecida
internacionalmente.
A fim de minimizar os impactos regulatórios e compor esforços com
as partes interessadas, propõe-se a implantação de uma estratégia que
envolverá medidas nas seguintes áreas:

a) parceria com associações de fabricantes e similares;


162
b) identificação e priorização das demandas;
c) EIV;
d) desenvolvimento ou adoção do PAP;
e) implantação do programa;
f) acompanhamento do mercado;
g) aperfeiçoamento ou desregulação.

O Corpo de Bombeiros deverá buscar sempre a parceria com asso-


ciações de fabricantes e similares. Sem esse apoio, pode haver sérias de-
ficiências no acompanhamento do mercado, pois seria muito limitada a
fiscalização do Corpo de Bombeiros. Essa deficiência pode acarretar a
falta de credibilidade do programa de certificação, pondo a perder todo o
esforço investido na regulamentação do setor.
Se houver grande demanda por certificação, propõe-se que a implan-
tação de programas de avaliação atenda a uma ordem de priorização,
levando-se em consideração a origem da demanda e a existência de asso-
ciação interessada em apoiar a certificação do produto.
Para cada produto deve ser elaborado um EIV. Este deve ser elabo-
rado pelo Corpo de Bombeiros, em conjunto com a associação interessada
em firmar parceria para regulamentação do setor. O EIV deve ter como
objetivo concluir pelo desenvolvimento ou não da regulamentação de um
programa de avaliação da conformidade, no âmbito do Corpo de Bombei-
ros.
Uma vez concluído o EIV, deve ser avaliada a questão do desenvol-
vimento ou da adoção de um PAP para o programa de avaliação da con-
formidade.
Para cada produto desejado, deverá haver pelo menos um PAP que
disponha sobre os RAC a serem observados pelos avaliadores e pelos
avaliados.
Os procedimentos específicos dos programas não regulamentados
pelo INMETRO, normalmente, são elaborados pelos próprios OCP, que
acabam definindo os RAC relacionados à especificação e ao desempenho
do produto, ao sistema de gestão da empresa, aos procedimentos para se-
leção de amostras, à escolha dos laboratórios e à frequência dos ensaios,
entre outros.
Para que os OCP não elaborem PAP com regras distintas que acarre-
tem diferença de qualidade e variação de custos na avaliação da confor-
midade, o que dará azo à concorrência desleal entre os OCP e a falta de
credibilidade no setor, propõe-se que o Corpo de Bombeiros edite previa-
mente os RGCP-SCI.
163
Os OCP que não adequarem ou não uniformizarem os seus PAP de
acordo com o RGCP-SCI poderão ter seus certificados de avaliação da
conformidade rejeitados pelo Corpo de Bombeiros em uma eventual im-
plantação do programa.
O desenvolvimento, ou a adaptação dos PAP existentes, deve ser feito
pelas associações, OCP e pela sociedade. Para tanto, as partes interessa-
das devem ser consultadas, recomendando-se a realização de audiências
públicas para a discussão dos procedimentos de avaliação.
Formalizada a parceria com a associação de interesse, a regulamen-
tação deve ser efetivada por meio de Portaria do Comandante do Corpo
de Bombeiros, que deve traçar as linhas gerais do programa de avaliação
da conformidade a ser executado.
Deve ser expedida uma Portaria para cada produto demandado que
deve conter, de forma sintética, a delimitação exata do produto a ser
avaliado, o prazo em que a certificação se tornará obrigatória e as regras
gerais que devem ser obedecidas pelas partes envolvidas.
É imprescindível que o prazo para a implantação seja definido ade-
quadamente para que as condições necessárias à certificação estejam de
fato disponíveis, a fim de evitar ou mitigar impactos indesejáveis no se-
tor.
Após o decurso do prazo estabelecido, deve ser iniciado o acompanha-
mento no mercado, de modo a prevenir que os produtos regulamentados
sejam utilizados de maneira inadequada, colocando em risco a incolu-
midade dos cidadãos e a concorrência leal e justa entre os fornecedores.
Nesta fase, a fiscalização deve ser feita pelo Corpo de Bombeiros por
ocasião das vistorias de regularização das edificações e das fiscalizações
diversas. Para o exercício dessa atividade, o órgão público pode valer-se
das sanções administrativas definidas em lei, que, no caso do Corpo de
Bombeiros, representam a advertência, a multa, a cassação da licença da
edificação e a interdição, de acordo com a legislação local.
O acompanhamento no mercado é a atividade mais dispendiosa e
trabalhosa do programa e, por essa razão, reputa-se imprescindível a
parceria com a associação de fabricantes ou similar. A associação inte-
ressada tem papel preponderante para manter a credibilidade do progra-
ma na medida em que irá viabilizar, no comércio, a coleta e os ensaios
dos produtos de segurança contra incêndio rotineiramente.
Para efetivar esse acompanhamento, recomenda-se que a associação
contrate empresa independente a fim de identificar cientificamente uma
amostragem, proceder à coleta dos produtos no mercado e submeter os
produtos a ensaios em laboratórios acreditados pelo INMETRO.
164
O resultado obtido do acompanhamento no mercado pode ser traba-
lhado para propiciar a prevenção de produtos não conformes e a educa-
ção pública dos consumidores, proporcionando grande oportunidade de
avaliar-se a eficácia da implantação da regulamentação.
As ações de acompanhamento no mercado visam predominantemen-
te identificar não conformidades como forma de aperfeiçoamento da re-
gulamentação técnica ou de adoção de medidas corretivas; todavia, pode-
-se concluir também por uma suspensão temporária da exigência, pela
desregulação do setor ou por outras medidas.
Em qualquer caso, antes da tomada de decisão, propõe-se que seja
revisado o EIV do programa, a fim de que as informações e os dados dis-
poníveis sejam devidamente avaliados por todas as partes interessadas.
Com a adoção dessas medidas, é possível que, em alguns anos, seja
revertido o quadro atual de desregulação e falta de confiabilidade dos
produtos de segurança contra incêndio. Atualmente, o setor propicia sé-
ria lesão ao direito dos consumidores finais, sem contar o risco à vida dos
ocupantes da edificação, que ficam alheios a todo esse processo.
O Estado, como garantidor dos direitos fundamentais, deve suprir
essa posição de inferioridade do consumidor na cadeia da construção ci-
vil e do usuário da edificação, criando mecanismos sérios de controle e
avaliação da conformidade dos produtos comercializados.
Nas políticas públicas voltadas à segurança contra incêndio, os Cor-
pos de Bombeiros Militares assumem papel de destaque e acabam sem-
pre protagonizando a regulação do setor em diversas atividades, a fim de
alcançar os objetivos pretendidos pela legislação.
Muitos Corpos de Bombeiros Militares possuem práticas de cadas-
tramento de fornecedores e prestadores de serviços de segurança contra
incêndio, porém não estabelecem os requisitos específicos a serem ob-
servados, os meios de fiscalização e as práticas de acompanhamento do
mercado dos produtos de segurança contra incêndio.
O Estado deve almejar que o AVCB não seja simplesmente um re-
quisito legal, que não reflita a segurança da edificação. Os equipamentos
instalados não podem estar funcionando apenas durante a inspeção do
Corpo de Bombeiros, com uma probabilidade muito grande de não fun-
cionarem em médio e longo prazo, por não possuírem avaliação da sua
real qualidade.
Sem a implantação de programas consistentes pelos órgãos públicos
competentes e também sem a fiscalização efetiva e o acompanhamento
no mercado, dispositivos vagos sobre exigência de avaliação da conformi-

165
dade tornam-se inócuos, constituindo-se no que popularmente se chama
de “letra morta”.
O Corpo de Bombeiros deve buscar sempre a melhoria da segurança
contra incêndio no Estado, com foco na sociedade, de forma transparente
e balizada por uma gestão interna eficaz. Porém, as exigências devem
ser precisas quanto à sua aplicação e quanto aos procedimentos a serem
adotados, para que o remédio ministrado não provoque efeitos colaterais
indesejáveis.
É evidente que a certificação não deve ser vista como uma solução
para todos os problemas e muito menos como um sinônimo de qualidade
ou de reconhecimento internacional, mas é um grande passo para que
o cidadão tenha plena confiança de que, ao adentrar em uma edificação
regularizada pelo Corpo de Bombeiros, estará em um local com alto grau
de segurança.

166
Referências

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nov. 2016

170
Apêndice A – Proposta de levantamento do mercado
de produtos de segurança contra incêndio

Quadro 3 – Resultado completo do levantamento da situação


dos produtos

171
172
173
174
175
Fonte: o autor.

176
Apêndice B – Proposta de requisitos gerais para
certificação de produtos de segurança contra
incêndio

Requisitos Gerais para Certificação de Produtos


de Segurança Contra Incêndio (RGCP–SCI)

1. Objetivo

Este documento estabelece os Requisitos Gerais para Certificação de


Produtos de Segurança contra Incêndio que devem ser observados em
todos os programas de avaliação da conformidade implementados de ma-
neira compulsória pelos Corpo de Bombeiros Militares.

2. Disposições preliminares

2.1. Na omissão deste documento, aplicam-se subsidiariamente os Re-


quisitos Gerais de Certificação de Produtos do Instituto Nacional de Me-
trologia, Qualidade e Tecnologia – INMETRO.
2.2. Na interpretação deste documento e na elaboração dos programas
de avaliação da conformidade, devem ser aplicadas as siglas e definições
constantes no vocabulário de Avaliação da Conformidade do INMETRO,
aprovado em Portaria própria.

3. Organismo de certificação de produtos

3.1. A certificação dos produtos de segurança contra incêndio deve ser


realizada por meio de Organismo de Certificação de Produto (OCP) acre-
ditado pelo INMETRO.
3.2. Para fins de padronização e transparência, o Procedimento de Ava-
liação de Produto (PAP) do OCP deve atender ao contido neste documen-
to.

177
4. Modelo de certificação

4.1. Os produtos de segurança contra incêndio deverão ser certificados


de acordo com o modelo 5 do INMETRO, que prevê a avaliação inicial
consistida de ensaios em amostras retiradas no fabricante, incluindo
auditoria do Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ), seguida de ava-
liação de manutenção periódica por meio de coleta de amostra do pro-
duto na fábrica e no comércio.
4.2. As avaliações de manutenção devem verificar se os itens produzidos
após a atestação da conformidade inicial (emissão do Certificado da Con-
formidade) permanecem conformes, devendo incluir a avaliação periódi-
ca do processo produtivo e auditoria no SGQ.

5. Documentação para certificação

5.1. O fornecedor deve encaminhar uma solicitação formal ao OCP, jun-


tamente com a documentação específica do produto, contendo no mínimo:

a) memorial descritivo contemplando o projeto do objeto em seus


detalhes construtivos e funcionais, bem como a relação de seus
componentes críticos, incluindo fornecedores e possíveis certifi-
cações existentes;

b) manual do usuário com instruções do produto que dizem respeito


a: instrução de montagem, instalação, desmontagem, desinstala-
ção, manuseio, funcionamento, limpeza, conservação, advertên-
cias e outras informações relevantes para o usuário; e

c) as empresas importadoras ou que adquiram o produto acabado


de outros fabricantes deverão apresentar a comprovação da for-
malização da representação legal entre o fabricante e a empresa
solicitante da certificação que explicite a responsabilidade legal
com relação aos produtos a serem certificados.

178
6. Procedimentos para auditoria

6.1. Para fabricantes/fornecedores:

6.1.1. O OCP deve avaliar os documentos e registros do Sistema de Ges-


tão da Qualidade e realizar auditoria nas dependências da unidade fa-
bril, com o objetivo de verificar a conformidade do processo produtivo.
6.1.2. Para fabricantes/fornecedores que contam com Sistema de Ges-
tão da Qualidade certificado, com base na edição vigente da Norma ISO
9001 ou Norma ABNT NBR ISO, devem ser avaliados, no mínimo, nos
seguintes requisitos:

Norma ISO 9001 ou


REQUISITOS DO SGQ
ABNT NBR ISO 9001
Controle de registros 4.2.4
Planejamento da realização do produto 7.1
Comunicação com o cliente 7.2.3
Processo de aquisição 7.4.1
Verificação do produto adquirido 7.4.3
Controle de produção e prestação de serviço 7.5.1
Identificação e rastreabilidade 7.5.3
Propriedade do cliente 7.5.4
Preservação do produto 7.5.5
Controle de equipamento de monitoramento 7.6
e medição
Monitoramento e medição de processos 8.2.3
Monitoramento e medição de produto 8.2.4
Controle de produto não conforme 8.3
Ação corretiva 8.5.2

6.1.3. Fabricantes/fornecedores que não contam com Sistema de Gestão da


Qualidade, certificado com base na edição vigente da Norma ISO 9001 ou
Norma ABNT NBR ISO, devem ser avaliados, no mínimo, nos seguintes
requisitos:

179
Norma ISO 9001 ou
REQUISITOS DO SGQ
ABNT NBR ISO 9001
Controle de documentos 4.2.3
Controle de registros 4.2.4
Análise crítica pela direção 5.6.1/5.6.2/5.6.3
Competência, treinamento e conscientização 6.2.2
Infraestrutura 6.3
Planejamento da realização do produto 7.1
Comunicação com o cliente 7.2.3
Processo de aquisição 7.4.1
Verificação do produto adquirido 7.4.3
Controle de produção e prestação de serviço 7.5.1
Validação dos processos de produção e 7.5.2
prestação de serviço
Identificação e rastreabilidade 7.5.3
Propriedade do cliente 7.5.4
Preservação do produto 7.5.5
Controle de equipamento de monitoramento e 7.6
medição
Satisfação do cliente 8.2.1
Auditoria interna 8.2.2
Monitoramento e medição de processos 8.2.3
Monitoramento e medição de produto 8.2.4
Controle de produto não conforme 8.3
Análise de dados 8.4(b), (c), (d)
Ação corretiva 8.5.2

6.2. Para importadores

6.2.1. Para fins de comprovação da qualidade, as empresas importadoras


que adquiram os produtos de fabricantes estrangeiros devem evidenciar
a implantação, no mínimo, dos seguintes requisitos no escritório da em-
presa no Brasil:

180
a) controle de recebimento do produto: o importador deve estabe-
lecer e implementar inspeção e verificação no recebimento dos
produtos adquiridos de seus fornecedores para assegurar que
atendem aos requisitos especificados;

b) identificação e rastreabilidade do produto: o importador deve es-


tabelecer um meio de identificar o produto ao longo da produção
e após a entrega para fins de garantia posterior; e

c) controle de produto não conforme: o importador deve assegurar


que os produtos que não estejam conformes com os requisitos es-
pecificados sejam identificados e controlados para evitar seu uso
ou entrega, devendo também definir os responsáveis por tomar
as ações necessárias.

7. Plano de ensaios

7.1. Os ensaios, seus métodos e critérios de aceitação/rejeição devem es-


tar definidos no PAP e devem ser realizados de acordo com os requisitos
pré-estabelecidos pela base normativa.
7.2. Para plano de ensaios, definição de amostragem e tratamento de não
conformidades, o OCP deve atender aos Requisitos Gerais de Certifica-
ção de Produtos do INMETRO.

8. Plano de ensaios

Para definição do laboratório de ensaio, o OCP deve atender à regra de


prioridade definida nos Requisitos Gerais de Certificação de Produtos do
INMETRO.

9. Certificado de conformidade

Cumpridos os requisitos exigidos no Procedimento de Avaliação de Pro-


duto do OCP e na base normativa, deve ser emitido um Certificado de
Conformidade exclusivo, com numeração distinta, para cada modelo ou
família do produto.

181
10. Avaliação de manutenção

10.1. Após a concessão do Certificado de Conformidade, o OCP deve ava-


liar periodicamente o fabricante/fornecedor para constatar se as condi-
ções técnico-organizacionais que deram origem à concessão inicial da
certificação continuam sendo cumpridas.
10.2. Devem ser avaliados os itens do Sistema de Gestão da Qualidade
e a realização de ensaios em amostras coletadas no fabricante e no co-
mércio.

11. Recertificação

Quando aplicável, ao término da validade do Certificado de Conformi-


dade, deve ser realizada uma avaliação de recertificação que abrangerá
todos os critérios e etapas realizados na avaliação de certificação.

12. Tratamento de reclamações

O OCP deve auditar todos os locais onde a atividade de Tratamento de


Reclamações for exercida para verificação do atendimento aos requisitos
estabelecidos no PAP ou na base normativa, nas avaliações iniciais, de
manutenção e recertificação, quando existentes.

13. Marcação dos produtos certificados

13.1. O fabricante deve aplicar a Marca da Conformidade ou Selo de


Identificação da Conformidade em todos os produtos certificados com o
objetivo de identificar que o produto foi submetido ao processo de avalia-
ção da conformidade e atende aos requisitos contidos no PAP e na base
normativa.
13.2. Quando não regulamentado pelo INMETRO, a marca ou selo deve
identificar o OCP responsável pela certificação do produto.
13.3. Tão logo conceda o Certificado de Conformidade, o OCP deverá
encaminhar formalmente ao Corpo de Bombeiros um relatório sobre o
processo de certificação, discriminando, entre outros dados relevantes:

182
a) os dados do fabricante ou importador;
b) as especificações do produto certificado e sua utilização;
c) a marca ou selo que irá identificar o produto;
d) o PAP utilizado para a certificação;
e) se o procedimento atende ao RGCP-SCI; e
f) a validade da Certificação de Conformidade.

13.4. Os OCP que não encaminharem o relatório do processo de certifi-


cação poderão ter os seus Certificados de Conformidade rejeitados pelo
Corpo de Bombeiros durante a fiscalização.

183

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