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Nehemiah Coxe

& John Owen

1ª Edição

Francisco Morato, SP
O Estandarte de Cristo
2020
Este livreto é composto de duas partes

Parte 1
Biblical Elders and Deacons
Por Nehemiah Coxe

Tradução por William Teixeira


Revisão por Camila Almeida Teixeira

Parte 2
The Special Duty of Pastors of Churches
The Works of John Owen, Vol. 16, Sec. 5 (pp. 105-132).
The True Nature of the Church and Its Government
Por John Owen

Extraído de
“Obras de John Owen”, vol. 16, seç. 5 (pp. 105-132).

A seção maior em que este breve tratado se encontra chama-se: “A Verdadeira


Natureza da Igreja e Seu Governo”.
Linguagem modernizada, notas e formatação por © William H. Gross.

Traduzido e publicado em português com a gentil permissão de William H. Gross.

Tradução por Pedro Lebarch


Revisão por Pedro Issa e William Teixeira

Copyright © 2020 Editora O Estandarte de Cristo
Francisco Morato, SP, Brasil

1ª edição em português: 2020.

Todos os direitos em língua portuguesa reservados por Editora O Estandarte de
Cristo. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações,
com indicação da fonte.

Salvo indicação em contrário e leves modificações, as citações bíblicas usadas
nesta tradução são da versão Almeida Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994,
1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Edição final e capa por William Teixeira

Visite: oestandartedecristo.com
Sumário
PARTE 1
Pastores & Diáconos Bíblicos | Nehemiah Coxe
I. Exposição.
A. O trabalho geral: ordenar as coisas que ainda restavam.
B. O trabalho específico: Nomeação de presbíteros em cada cidade.
C. O caráter daqueles que deveriam “pôr em ordem”.
1. Paulo tem o caráter de um apóstolo de Jesus Cristo.
2. Tito tinha o caráter e o ofício de um evangelista.
II. A ordenação de diáconos.
A. A ordenação de diáconos na igreja de Jerusalém.
B. Recomendações para aqueles que são ordenados ao ofício de diácono.
1. Fidelidade.
2. Compaixão.
3. Prudência.
4. Diligência.
C. Recomendações para a congregação que os chamou para esse ofício.
III. Ordenação de Pastores.
A. A continuação dos pastores.
B. Bispos, anciãos, presbíteros, pastores e mestres.
C. As qualificações exigidas da pessoa que almejam esse ofício.
D. Os deveres de um pastor.
1. Os Deveres Públicos.
(1.) O pastor se destaca como um intermediador entre Deus e o povo.
a. Orações públicas.
b. Pregação.
1. Seja cuidadoso ao lidar com as almas e consciências dos
homens, sabendo que é pela salvação das almas que você deve
trabalhar, pois o cuidado delas está lhe está confiado e você terá
que prestar conta por elas a Deus.
2. Para que isso possa ser feito, certifique-se de que você fala
“segundo as palavras de Deus” (1 Pedro 4:11) e pregue ao povo a
doutrina que é retirada da pura fonte da Palavra de Deus.
3. Lembre-se de que o dever requerido por sua posição não é
pregar a si mesmo, mas ao Senhor Jesus Cristo (2 Coríntios 4:5).
(2.) É seu dever administrar as ordenanças.
(3.) É seu dever exercer a disciplina na igreja.
2. Os deveres privados.
IV. O Dever de um pastor para com seu povo.
A. Um ministro de Cristo ao povo.
1. Que há uma dignidade verdadeira e proveitosa no ofício que você deve
administrar.
2. Se você recebeu seu ofício de Cristo, então você é responsável diante
dele for desempenhá-lo.
3. Aqueles a quem Cristo emprega em sua obra podem esperar sua
presença e assistência graciosa em todas as dificuldades que o
acompanham.
4. Certamente Cristo recompensará aquele que está empenhado
fielmente em seu serviço.
B. O cuidado e responsabilidade pelas almas.
V. O dever do povo em relação aos seus pastores.
A. Os deveres da congregação.
1. Vocês devem ter um grande amor para com seu pastor em virtude do
trabalho dele.
2. Você deve se submeter a eles enquanto desempenham seu ofício.
3. Vocês devem orar continuamente a Deus pelos seus pastores.
4. Vocês são obrigados a fornecer um sustento confortável para seus
pastores.
(1.) Lembrem-se das obrigações pastorais.
a. Um ministro é obrigado a se dedicar inteira e somente à sua
vocação ministerial, e não se enredar nos negócios desta vida, para ele
possa agradar a Deus que o chamou para essa batalha espiritual — e
ele só pode ser dispensado dessa obrigação se houver uma verdadeira
necessidade disso (2 Timóteo 2:1-7).
b. Não é menos dever de um ministro do que de outros homens,
sustentar a sua própria família, cuidar de sua esposa, filhos e outras
pessoas que, porventura, vivam com eles, os quais não podem ser
deixados expostos a mil misérias e tentações caso ele venha a lhes
faltar.
c. Um pastor ou bispo possui uma responsabilidade especial de ser
hospitaleiro e de fazer de si mesmo um padrão de caridade e
generosidade compassiva para com as almas dos pobres.
(2.) Razões pelas quais a congregação está obrigada a desempenhar esse
dever para com o seu pastor.
a. Pela lei eterna da natureza.
b. Pelo mandamento expresso e nomeação de Cristo.
c. Pelo grande e evidente mal e inconveniência que decorre da
negligência desse dever.
B. Como a congregação pode encorajar o pastor.
1. Em primeiro lugar, lembre-se de que seu pastor é o ministro de
Cristo, alguém que ministra os mistérios de Deus para você no nome
dele.
2. Em segundo lugar, um ministro trabalha para a salvação das suas
almas preciosas e imortais; portanto, é muito mais do que seu próprio
interesse do que do dele que você cumpra o seu dever
conscientemente.
VI. Conclusão.

PARTE 2
O Dever Especial dos Pastores de Igrejas | John Owen

1. O dever primeiro e principal de um pastor é alimentar o rebanho


pela diligente pregação da Palavra.
(1.) Sabedoria espiritual e entendimento dos mistérios do Evangelho, para
que possam declarar à igreja “todo o conselho de Deus” e “as insondáveis
riquezas de Cristo”.
(2.) Experiência do poder da verdade que eles pregam, em suas próprias
almas.
(3.) Habilidade para manejar bem a Palavra (2 Timóteo 2:15).
(4.) Uma consideração prudente e diligente da condição do rebanho sobre o
qual qualquer homem seja instituído,
(5.) Todas essas coisas, em todo o exercício de seu dever, devem ser
constantemente acompanhadas da evidência do seu zelo pela glória de Deus
e da compaixão pelas almas dos homens.
2. O segundo dever de um pastor para com o seu rebanho é a oração
contínua e fervorosa por eles.
(1.) para o êxito da Palavra, para todos os seus propósitos abençoados entre
eles.
(2.) para as tentações às quais a igreja é geralmente exposta. Estas variam
muito de acordo com as circunstâncias externas das coisas.
(3.) para o estado específico e a condição de todos os membros, na medida
em que isso seja conhecido deles.
(4.) para a presença de Cristo nas reuniões da igreja, com todas as
evidências abençoadas e testemunhos dela.
(5.) para a sua conservação na fé, amor e fecundidade, juntamente com
todos os deveres que lhes pertencem etc.
3. A administração dos selos da aliança está confiada a eles, como
mordomos da casa de Cristo; pois a eles é confiada a ministração
impositiva da Palavra, à qual está ligada a administração dos selos.
(1.) O tempo e os períodos da sua administração para edificação da igreja,
especialmente quanto à Ceia do Senhor, cuja frequência é exigida.
(2.) Guardar rigorosamente a instituição de Cristo, quanto à forma e modo de
sua administração.
(3.) Tomar cuidado para que essas coisas sagradas sejam administradas
apenas àqueles que estão aptos e dignos, de acordo com a regra do
Evangelho.
4. Compete aos pastores de igrejas preservar a verdade ou doutrina do
Evangelho recebido e professado na igreja, e defendê-la contra toda
oposição.
(1.) Um entendimento claro, sadio e abrangente de toda a doutrina do
Evangelho,
(2.) Amor pela verdade que eles tanto aprenderam e compreenderam.
(3.) Um cuidado consciencioso e temor de oferecer apoio ou encorajamento a
opiniões novas,
(4.) Erudição e capacidade mental para discernir e refutar as oposições dos
adversários da verdade
(5.) A sólida confirmação das verdades mais importantes do Evangelho, nas
quais todas as outras verdades se explicam, em seu ensino e ministério.
(6.) Manter vigilância diligente sobre seus próprios rebanhos contra a astúcia
dos sedutores forasteiros,
(7.) A assistência conjunta de presbíteros e mensageiros de outras igrejas
com as quais eles estão em comunhão,
5. Pertence à sua função e ao seu ofício trabalhar diligentemente para
conversão de almas a Deus.
(1.) Quando quaisquer pessoas não convertidas entram nas reuniões da
igreja, e são transformadas pelo poder da Palavra.
(2.) Na pregação ocasional em outros lugares, para os quais o pastor de uma
igreja pode ser chamado e dirigido pela providência divina.
6. Pertence a eles, por conta da sua função pastoral, o estar pronto,
disposto e capaz para confortar, aliviar e revigorar aqueles que são
tentados, perturbados, exauridos por temores e motivos de
desolamento em tempos de provação e desvios.
(1.) Ser capaz de compreender corretamente os vários casos desses tipos
que ocorrerão,
(2.) Estar pronto e disposto a assistir os casos especiais que possam lhes ser
trazidos,
(3.) Suportar com paciência e ternura a fraqueza, a ignorância, a apatia e a
sua hesitação em crer e para aceitar reprimenda – sim, talvez até mesmo
suportar a impertinência daqueles que assim são tentados.
7. Um sofrimento compassivo para com todos os membros da igreja em
todas as suas provações e tribulações, sejam internas ou externas, é
próprio do desempenho de suas funções;
8. Cuidado com os pobres e visitação dos doentes são partes deste
dever, comumente reconhecido, embora comumente negligenciado.
9. O cuidado prioritário do governo da igreja compete aos seus
pastores.
10. Há uma comunhão a ser mantida entre todas as igrejas da mesma
profissão e fé em qualquer nação.
11. Vou concluir com algo a respeito desses poucos exemplos do
encargo e do dever pastoral, sem o qual nada de todo o resto será
inútil para os homens, nem será aceito pelo grande pastor, Jesus Cristo.

Considerações sobre os Deveres dos Pastores da


Igreja
1. Uma devida meditação e visão dessas coisas, como proposto na Escritura,
é suficiente para fazer o mais sábio, o melhor o mais diligente dos homens
no cumprimento do ofício pastoral, clamar com o apóstolo: “para estas coisas
quem é idôneo?” (2 Coríntios 2:16).
2. Embora todas as coisas mencionadas pertençam clara, evidente e
inegavelmente ao desempenho do ofício pastoral, na verdade descobrimos
pelo sucesso [ou pela falta dele] que elas são muito pouco levadas em conta
pela maioria daqueles que buscam o ofício.
3. Uma prestação de contas desse ofício e do seu exercício deverá ser feita,
no último dia, a Jesus Cristo.
4. É também óbvio, a partir disso, o quão contraditório é, a esse ofício e ao
seu devido cumprimento, que qualquer homem se encarregue da ocupação
pastoral em mais de uma igreja, especialmente se elas forem distantes uma
da outra.
5. Todas as igrejas fariam bem em considerar o peso e o fardo que recai
sobre os seus pastores e mestres no desempenho das suas funções, de modo
que possam ser constantes em orações e súplicas fervorosas por eles;
6. Pode-se objetar: “Há tantas tarefas necessárias para o cumprimento desse
ofício, e de tão variados tipos e classes, que se exigem vários dons e
habilidades para a sua devida execução.
(1.) A finalidade, tanto do ofício quanto de sua execução, é a devida
edificação da igreja;
(2.) Quando um homem é chamado para esse ofício e se dedica
sinceramente à sua devida execução, se ele é notoriamente imperfeito
em relação a seu dever ou a quaisquer de seus ou deveres específicos,
essa falha deve ser suprida, chamando para ajudá-lo em seu ofício
qualquer outro que seja qualificado para suprir aquilo, para a edificação
da igreja.
7. Pode-se perguntar: qual é o estado dessas igrejas, e que relação devemos
ter com elas no que diz respeito à comunhão?
(1.) Eu não acredito que compete a qualquer igreja verdadeiramente
conferir o ofício pastoral, em virtude de qualquer ordenação que seja, a
qualquer um que seja aberta e evidentemente destituído de todas
aquelas qualificações citadas que a Escritura requer naqueles que são
chamados a esse ofício.
(2.) Nos casos de admissão dessas pessoas, por ignorância ou erro, ou
ainda pela usurpação de poder indevido sobre as igrejas ao impor
ministros a elas, não há futilidade absoluta nas suas administrações até
que sejam descobertos e condenados pela regra e pela lei de Cristo.
(3.) Quando essas pessoas são, por quaisquer meios, colocadas como
pastores em quaisquer igrejas ou sobre elas, e não há meios para a sua
remoção ou para uma reforma, então é lícito, e é dever de todo aquele
que cuida de sua própria edificação e salvação, retirar-se da comunhão de
tais igrejas.
(4.) Quando a maioria das igrejas, em qualquer tipo de associação, são
dirigidas por pastores que são faltosos nessas coisas, toda reforma
pública na igreja é moralmente impossível.

Perguntas sobre o Ofício dos Pastores da Igreja


1. Se um homem pode ser ordenado pastor ou ministro, sem relação com
qualquer igreja local, de modo a ser investido com o poder oficial?
2. Pode um pastor mudar-se de uma congregação para outra?
3. Pode um pastor voluntariamente, ou por sua própria vontade, renunciar a
seu cargo e dele dispor, e permanecer em sua função de modo privado?
PARTE 1

Pastores & Diáconos Bíblicos


Nehemiah Coxe

“Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses


em boa ordem as coisas que ainda restam, e de
cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já
te mandei” (Tito 1:5).
O propósito e escopo geral destas palavras fica evidente
para todo aquele que as lê. O grande apóstolo dos gentios
havia sido bem-sucedido em seu trabalho de pregação do
Evangelho aos cretenses, mas, então, ausentou-se deles
após haver, como um sábio construtor, estabelecido o
fundamento de muitas igrejas em Creta, e deixou Tito ali
para que ele continuasse a edificar sobre esse fundamento.
Enquanto Tito permanecia ali, Paulo enviou essa epístola
para o lembrar do serviço por Cristo, em suas igrejas, que
havia sido confiado a ele e, por meio dela, o apóstolo não
somente o estimula ao seu trabalho, mas também lhe dá
instruções completas e claras sobre como realizá-lo
corretamente.
I. Exposição.
A. O trabalho geral: ordenar as coisas que ainda
restavam.
Nosso texto relata que a razão de Paulo ter deixado Tito
em Creta foi o serviço que ele deveria realizar ali, e esse
serviço é descrito em termos gerais e abrangentes — ele
deveria pôr em ordem as coisas que ainda restavam (Tito
1:5). Primeiramente, é necessário esclarecer vocês quanto
ao significado de algumas palavras.
A palavra grega ἐ π ιδιορθώσ ῃ (epidiorth ō s ē ), que é
traduzida por “pôr em boa ordem”, não é usada em nenhum
outro lugar no Novo Testamento e nem na versão do Antigo
pela Septuaginta.[1] Diversos intérpretes eruditos traduzem
essa palavra como corrigas: “para que possas corrigir”; e
Erasmo em seus comentários a traduz por uma palavra
mais enfática, supercorrigas, que quer dizer, “corrigir com
precisão e exatidão”, como alguém que realiza um trabalho
novamente de modo que possa se assegurar de não ter
deixado passar nenhuma falha ou defeito. Alguns entendem
que essa parte da responsabilidade de Tito consistia em
corrigir os comportamentos dos cretenses através de
repreensões severas e da sã doutrina (Tito 1:13); e com
esse sentido a versão Árabe concorda plenamente, Ut res
vitiosas corrigas: “para que possas corrigir as coisas que
estão defeituosas”; além disso, fica evidente na sequência
da epístola que essa era uma parte de sua obra. Mas eu
entende que não é principal isso que é pretendido pela
apóstolo ao usar esse termo, mas sim o estabelecimento e a
organização das coisas relativas aos ofícios e governo na
casa de Deus bem como a boa ordem na comunhão na
igreja em que eram membros, e tudo isso em acordo pleno
e exato como que Cristo ordenou e que o apóstolo não teve
tempo de levar à perfeição durante o tempo que esteve
entre eles. E esse sentido concorda muito bem com o modo
como é usado um termo semelhante ao de nosso texto, a
saber, διο π θώσεως (diorth ō se ō s), que aparece em
Hebreus 9:10, onde os dias do Evangelho são chamados de
“tempo da correção”, pois neles a igreja é levada à sua
máxima perfeição aqui na terra e tudo o que esteve
faltando na lei é plenamente suprido no Novo Testamento.
B. O trabalho específico: Nomeação de
presbíteros em cada cidade.
Vejamos, agora, uma descrição mais específica do
encargo especial deixado para Tito, a saber, ele deveria
nomear presbíteros em cada cidade, como Paulo lhe havia
ordenado (Tito 1:5).
A edificação e beleza da igreja depende muito de sua
ordem, não uma ordem ditada pela superstição ou por
caprichos de pessoas contenciosas, mas uma que a
conforma com a vontade de Cristo e depende
especialmente que os ofícios nomeados por Cristo sejam
ocupados por pessoas devidamente qualificadas para o
exercício deles bem como do desempenho correto tanto de
oficiais quanto de membros de suas respectivas atribuições.
O que é especificamente ordenado a Tito é a nomeação
de presbíteros em cada cidade. Isso fica mais claro quando
comparamos nosso texto como Atos 14:23, onde a prática
dos próprios apóstolos está registrada: “E, havendo-lhes...
eleito [nomeado] anciãos em cada igreja...” ( κατ ὰ π όλιν e
κατ ἐ κκλησίαν .[2] são equivalentes nessas passagens).
naquele tempo, os convertidos em cada cidade não eram
tão numerosos, mas eles poderiam convenientemente se
reunir em um lugar para cultuarem a Deus e, assim, ordenar
presbíteros em “todas as cidades” era o mesmo que fazê-lo
em “cada igreja”. E embora essas primeiras ordenações
tenham sido realizadas por meio de homens extraordinários,
[3]
mas as pessoas não foram excluídas do justo direito de
escolher os seus próprios ministros, pois eles eram
nomeados para seu cargo pelo voto e sufrágio do povo.[4]
Todavia, Tito deveria presidir e dirigir esse processo de
escolha tanto no que diz respeito ao ofício quanto à própria
escolha de pessoas devidamente qualificadas para ele.
C. O caráter daqueles que deveriam “pôr em
ordem”.
A seguir, para uma exposição mais completa do texto
será necessário citar brevemente a qualidade e o caráter
daquelas pessoas que aqui envolvidas na ordenação das
coisas nas igrejas.
1. Paulo tem o caráter de um apóstolo de Jesus
Cristo.
A pessoa que empregou Tito nesse serviço, ou seja,
Paulo, possuía o caráter, o ofício e a autoridade de um
apóstolo de Jesus Cristo. Os apóstolos tinham um chamado
imediato e extraordinário para o seu ofício a partir do
próprio Deus e nosso Senhor Jesus Cristo. É por isso que
Paulo, quando quis demonstrar aos Gálatas a dignidade do
seu ofício tendo em vista restaurá-los à firmeza na doutrina
que havia pregado para eles, afirma que ele era um
apóstolo “não da parte dos homens, nem por homem
algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai” (Gálatas 1:1).
Embora os ministros ordinários como pastores ou
presbíteros não sejam da parte dos homens, isto é, não
recebam a sua autoridade, legitimidade e ordenação a
partir de homens, no entanto, eles são constituídos por
meio de homens, ou seja, é por meios de homens que ele
são trazidos ao seu ofício após serem chamados para isso
pela igreja. Mas não foi assim com relação aos apóstolos de
Cristo, eles não eram nem da parte de homens e nem por
meio de homens, mas obtiveram o seu chamado e poder
imediatamente a partir de Cristo — o ministério dos
apóstolos antecedeu às igrejas do Novo Testamento,[5] aliás,
os apóstolos foram chamados para plantar essas igrejas.
E assim como eles tinham um chamado extraordinário,
eles também foram qualificados com dons e habilidades
extraordinárias para realizarem a obra para a qual foram
chamados bem como possuíam uma orientação infalível do
Espírito quanto à doutrina que ensinavam — isso era
necessário, visto que as igrejas deveriam ser fundadas e
edificadas sobre eles (Efésios 2:20). Os apóstolos e profetas
do Novo Testamento são o fundamento da igreja no que diz
que diz respeito à sua doutrina, mas Jesus Cristo, a quem
eles pregavam, é o único fundamento dela em matéria de fé
e confiança. O poder dos apóstolos se estendeu igualmente
a todas as igrejas e é por isso que Paulo disse, “me oprime
cada dia o cuidado de todas as igrejas” (2 Coríntios 11:28);
e é como um fruto do zelo que tinha por realizar os deveres
do seu ofício que o apóstolo dá essa comissão a Tito. Nisso,
devemos considerar que ele agiu no exercício da autoridade
havia recebido de Cristo, que é o Cabeça e a Fonte de todo
poder e jurisdição eclesiástica. Não existe tal coisa como
autoridade na igreja ou sobre ela, senão a que é derivada
de Cristo, a quem foi dado todo o poder no céu e na terra
(Mateus 28:18).
2. Tito tinha o caráter e o ofício de um
evangelista.
A pessoa comissionada, ou seja, Tito, tinha o caráter e o
ofício de um evangelista. Os evangelistas também eram
ministros extraordinários, embora inferiores aos apóstolos;
eles costumavam assistir aos apóstolos em suas viagens e
auxilia-los na pregação do Evangelho e na plantação de
igrejas. E embora Tito não seja expressamente chamado de
evangelista, contudo, se considerarmos o seu trabalho e
compararmos essa epístola com aquelas que foram escritas
para Timóteo, o qual é particularmente comissionado para
“fazer a obra de um evangelista” (2 Timóteo 4:5), então não
teremos qualquer razão para duvidar de que Tito era um
evangelista, visto que ambos possuíam a mesma função. E
eles não agiram como bispos diocesanos[6] em sua
responsabilidade particular, porém, às vezes, eram
empregados em uma localidade e depois em outra,
conforme o serviço do Evangelho requeria sua presença. E
desde a cessação desses oficiais extraordinários e da
conclusão do cânon do Novo Testamento, todos os ofícios e
questões da igreja devem ser regulamentados e guiados
pela regra ordinária e permanente das Escrituras. E cada
congregação em particular tem não somente o direito, mas
o dever de organizar-se segundo a regra e governo que
Cristo instituiu em seu testamento.
Trataremos agora daquelas coisas sobre as quais o
nosso texto e a presente ocasião solicitam mais algum
discurso.
II. A ordenação de diáconos.
A. A ordenação de diáconos na igreja de
Jerusalém.
O primeiro exemplo que temos de estabelecimento de
ordem em uma igreja Cristã através da ordenação de
oficiais ordinários é a ordenação diáconos na igreja de
Jerusalém, registrada em Atos 6.
Considero que isso também esta incluído nessa
comissão geral dada a Tito, a saber, que ele deveria “pôr
em boa ordem as coisas que ainda restam [faltam]”, pois
parece que as igrejas primitivas, quando levadas ao estado
e ordem nos quais deveriam continuar, ordenavam tanto
bispos, ou pastores, quanto diáconos (Filipenses 1:1). E a
necessidade que a igreja possuí do ofício diaconal e de seus
oficias ficará evidente à medida que o seu número de
membros aumenta, como ocorreu na igreja em Jerusalém,
pois, “crescendo o número dos discípulos, houve uma
murmuração dos gregos[7] contra os hebreus, porque as
suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano”
(Atos 6:1). Os helenistas mencionados aqui não eram
gentios ou gregos por nacionalidade, mas eram dos judeus
dispersos que, por haverem recebido sua educação entre os
gregos e por falar a sua língua, eram chamados de gregos
em distinção daqueles que foram nascidos e criados na
Judéia e que falavam a língua judaica comum, que era então
era uma espécie de idioma caldeu-siríaco e foi chamada de
língua hebraica em Atos 22:2 devido ao fato de ser a língua
comum entre os hebreus ou a descendência de Abraão na
Judéia. Com relação a isso, Paulo afirma de si mesmo que
ele era um “hebreu de hebreus” (Filipenses 3:5).
Devido a essa murmuração dos helenistas e para a
prevenção de toda desordem ou negligência desse tipo no
futuro, os doze convocaram a multidão dos discípulos e
disseram-lhes que não era razoável que eles fossem
distraídos do serviço mais importante de pregar o
Evangelho para se ocuparem naquilo. Portanto, para que
eles tivessem a liberdade de se dedicarem continuamente à
oração e ao ministério da Palavra e para que as
necessidades do ministério cotidiano aos pobres e a
distribuição correta das esmolas da igreja também fossem
atendidos, os apóstolos ordenaram que escolhessem sete
homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de
sabedoria para que fossem encarregados desse serviço.
Esse é um breve relato da história da primeira ordenação de
diáconos. Porque isso que ocorreu pela primeira vez nesse
caso que deveria tornar-se a regra e padrão do que seria
feito posteriormente, consideraremos algumas passagens
para possamos entender isso melhor.
Em primeiro lugar, um diácono é um oficial ordinário na
igreja, ordenado para ministrar aos pobres daquela
congregação e a escolhas deles, de direito, pertence àquela
congregação na qual devem exercer o seu ofício. Embora os
santos apóstolos estivessem investidos de um poder
extraordinário e fossem peculiarmente comissionados por
Cristo para a instituição de tal ofício e oficiais, após haver
informado a igreja sobre isso e dado uma regra segundo a
qual eles deviam proceder, os deixou à sua própria escolha
voluntária e livre.
Em segundo lugar, o número daqueles que deveriam ser
ordenado aqui, ou seja, sete, era adequado para a presente
necessidade ou conveniência daquela numerosa
congregação na qual eles deveriam servir e não pretende
ser uma regra de modo que nem mais nem menos pudesse
ser ordenado em qualquer congregação posteriormente.
Isso deve ser determinado por uma devida ponderação que
leva em conta a finalidade do oficial e as circunstâncias de
cada congregação em particular, então deve ser ordenado
um número de diáconos suficiente para melhor atender
essa finalidade, de modo que as necessidades da
congregação sejam supridas e os pobres sejam auxiliados.
Em terceiro lugar, a regra segundo a qual a igreja deve
proceder ao escolher um diácono é apresentada quando são
declaradas as qualificações necessárias para que uma
pessoa seja ordenada ao ofício diaconal. Eles devem ser
homens “de boa reputação”, homens cuja vida pura e santa
seja bem atestada, pessoas de conhecida e aprovada
integridade, “cheios do Espírito Santo e de sabedoria” (Atos
6:3). Esses termos gerais abrangem os elementos
mencionados pelo nosso apóstolo na regra que ele deu
sobre a mesma questão em 1 Timóteo 3:8-9: “Da mesma
sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não
dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância;
guardando o mistério da fé numa consciência pura”.
Quando em seguida o apóstolo escreve que “também estes
sejam primeiro provados [testados], depois sirvam [como
diáconos], se forem irrepreensíveis” (1 Timóteo 3:10), ele
tem em mente que as pessoas a serem escolhidas passem
por um exame e julgamento segundo a regra já citada. Eu
menciono isso para corrigir um erro no qual penso que
muitos têm incorrido devido a um entendimento errado
deste texto, pois eles supõem que o apóstolo exige que os
pastores e diáconos sejam julgados para ver se
desempenham corretamente as funções de seu ofício, antes
que eles sejam ordenados a esse ofício. Mas esse tipo de
teste é tão estranho ao nosso texto quanto a noção
afirmada é inconsistente consigo mesma. Observe que ele
não diz: “Testem se eles desempenham bem o ofício de
diácono” — como eles desempenhariam esse ofício antes de
serem ordenados? — “e, em seguida, que eles sejam
ordenados, se desempenham corretamente as funções
diaconais por algum tempo”. A prova que é exigida aqui é
algo que antecede o desempenho deles do ofício diaconal, e
não é outra coisa senão uma comparação diligente das
qualificações das pessoas que possuem as características
exigidas para esse ofício que ele havia citado
anteriormente. Considera que este seja claramente o
sentido dessas palavras. E se isso não for admitido,
devemos supor que a regra de um apóstolo contradiz a
prática de outros que atuam pela mesma orientação
infalível do Espírito Santo — o que é um absurdo, pois é
claro em Atos que eles foram encaminhados para examinar
e analisar as qualificações e aptidão dos homens a serem
escolhidos para diáconos antes que houvessem realizado a
escolha deles, e que os apóstolos fizeram isso por uma meio
ordenação solene que aconteceu antes que eles o
houvessem exercido por algum tempo o ofício diaconal.
Em quarto lugar, em relação à obra de um diácono, o
cuidado dos pobres é a sua responsabilidade especial. E é
para isso que as contribuições e ofertas da igreja devem ser
confiadas a eles para que as administrem para aquilo que
julgarem apropriado.
B. Recomendações para aqueles que são
ordenados ao ofício de diácono.
Recomendarei quatro coisas aos diáconos que são
necessárias para o cumprimento do ofício que foi confiado a
vocês, a saber, fidelidade, compaixão, prudência e
diligência.
1. Fidelidade.
Uma confiança foi depositada em vocês para
administrarem as ofertas e contribuições da igreja, as quais
são, na verdade, uma espécie de coisas consagradas ou
dedicadas — e esse é uma confiança considerável. Sim, os
membros pobres do corpo de Cristo, que são tão queridos
por ele como a menina dos seus olhos, estão confiados ao
seu cuidado na medida em que vocês estão encarregados
de auxilia-los e socorrê-los no que diz respeito às coisas
exteriores. Quanto a isso, vocês são como mordomos para a
igreja —mordomos de Cristo — e é exigido de um mordomo
que ele seja encontrado fiel (1 Coríntios 4:2). Considerem,
portanto, o dever de sua posição e se disponham a
desempenhar fielmente os deveres relacionados a ele,
sabendo que vocês devem prestar contas a Cristo, que os
chamou para esse serviço, e que para com ele não há
acepção de pessoas (2 Coríntios 5:10; Romanos 2:11).
2. Compaixão.
Sua ocupação e serviço é auxiliar os santos pobres em
suas necessidades; e vocês nunca podem fazer isso com
uma motivações correta, a menos que desenvolvam um
sentimento de empatia para com eles devido às suas
necessidades e, então, imbuídos de uma simpatia graciosa,
por assim dizer, coloquem-se no lugar deles. Aquele que
contribui deve fazê-lo com alegria, e ele nunca fará isso se
primeiro seu coração não estiver cheio de compaixão.
Lembrem-se que esse ofício na igreja é um fruto da piedade
e da compaixão de Cristo para com os pobres. É dever do
diácono realizar os deveres inerentes ao seu ofício da forma
que representar melhor a piedade e a ternura daquele a
quem vocês servem no desempenho desse serviço.
3. Prudência.
Sua compaixão deve ser orientada pela discrição. E
como é necessário que um diácono tenha uma abundante
unção do Espírito bom e benigno, de modo que ele possa
ser gentil e carinhosamente terno para com seus irmãos,
assim, não é menos necessário que ele seja cheio de
sabedoria também, para que ele possa, corretamente,
discernir o caso e as circunstâncias daqueles que devem ser
aliviados por ele. E para que ele possa realizar seu
ministério de forma equilibrada, para evitar o
encorajamento da indolência por um lado, e a negligenciar
as angústias reais pelo outro — ambos são extremos a
serem evitados. É certo que há uma tão grande diferença no
temperamento das pessoas, que haverá necessidade de
investigação diligente das necessidades de alguns, cuja
modéstia poderia escondê-los mais do que é devido,
enquanto a importunação irrazoável de outros precisa de
uma verificação prudente.
4. Diligência.
É um serviço de Cristo aquele no qual vocês estão
empregados, e a obra do Senhor não deve ser feita de
forma negligente. Seu coração deve estar no seu trabalho, e
você não deve fazê-lo como algo secundário, com um
espírito descuidado e indiferente. Mas, vocês devem fazer
como Ezequias fez o trabalho de Deus na sua posição, cujo
ardente louvor foi: “E toda a obra que começou no serviço
da casa de Deus, e na lei, e nos mandamentos, para buscar
a seu Deus, ele a fez de todo o seu coração, e prosperou” (2
Crônicas 31:21). E saibam que o vosso trabalho não será
vão no Senhor (1 Coríntios 15:58), pois não há serviço
(exceto o que imediatamente relaciona-se à salvação das
almas dos homens) mais aceitável a Cristo do aquele no
qual vocês estão envolvidos.
C. Recomendações para a congregação que os
chamou para esse ofício.
Quanto à congregação, é o seu dever respeitar os seus
diáconos, de modo a estimar o seu serviço na igreja como
útil e honroso: “Porque os que servirem bem como diáconos,
adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé
que há em Cristo Jesus” (1 Timóteo 3:13). Mas
especialmente o seu dever é o de encorajá-los em seu
trabalho por uma contribuição livre e abundante para os
pobres, isto para que a partir da abundância daqueles que
desfrutam de muito, eles sempre possam ter o suficiente
para prover para o alívio daqueles que sofrem necessidade.
Muitas coisas podem ser instadas para a abertura de seus
corações para um tão bom trabalho, mas meu tempo
presente não admitirá a ampliação deste tópico.
III. Ordenação de Pastores.
Agora prosseguirei para o próximo ponto que está
diante de nós, ou seja, a ordenação de presbíteros ou
pastores em cada cidade ou igreja, o que foi
particularmente comissionado a Tito.
A. A continuação dos pastores.
Bispos ou pastores são oficiais ordinários na igreja, por
direito e nomeação divinos, os quais devem continuar nela
até o fim do mundo. Esse ofício é superior ao dos diáconos à
medida que é capaz de produzir maior benefício e
edificação da igreja assim como o cuidado e o pastoreio das
almas dos homens transcendem os cuidados do homem
exterior e as provisões para a vida temporal. Podemos ter
uma noção do cuidado que os apóstolos tinham pela boa
ordem das igrejas pelas palavras e pelo método que método
que eles observaram para chamar e ordenar pessoas para
esse ofício. Segundo Clemente, isso era feito,
συνευδοκησασης εκκλησιας π ασης , por meio do
consentimento e da aprovação de toda a igreja.[8] E quando
algum oficial ordenado falecia, outros homens aprovados
deveriam sucedê-los na administração das coisas sagradas
na Casa de Deus, os quais passariam a ser responsáveis
pela instrução e governo da igreja. Tanto a continuidade
quanto a finalidade são afirmadas em Efésios 4:11-13: “E
ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas,
e outros para evangelistas, e outros para pastores e
doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a
obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até
que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento
do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura
completa de Cristo”. Estas últimas palavras são claramente
abrangem a completude do corpo místico de Cristo e, assim,
todo o período da dispensação da graça nesse mundo, até
que não haja mais igreja na terra. E embora alguns desses
ofícios e dons mencionados no versículo 11 tenham cessado
agora, no entanto, é evidente que outros deles devem
continuar até o fim, até que o propósito do ministério do
evangélico seja perfeitamente cumprido.
É agradável ao escopo do discurso que o apóstolo faz
nessa passagem mencionar justamente ministros
extraordinários e ordinários, já que todos eles são todos
dados por Cristo para uma única e mesma finalidade, ou
seja, o aperfeiçoamento de seu corpo místico — isso é um
bom argumento para a exortação que o apóstolo está
fazendo aqui para que os cristãos se unam para realizar a
obra do ministério. Os apóstolos, profetas e evangelistas
eram necessários e lhes coube lançar a fundação das igrejas
evangélicas; e a continuação da edificação das igrejas
através de pastores e mestres não é menos necessária para
o aprimoramento do edifício espiritual da igreja até o fim do
mundo. E não há nenhuma razão para concluir que todos
esses oficiais deveriam permanecer continuamente na
igreja pelo simples fato de eles serem mencionados juntos
aqui mais do que há para afirmar que o poder de operar
milagres jamais cessaria pelo fato de a promessa de
concessão desse poder a alguns crentes é dada
indefinidamente junto com a promessa de salvação pela fé
em Cristo — visto que os desdobramentos dessa promessa
são certamente estendidos para todos os crentes em todas
as eras (Marcos 16:16-18).
Agora, assim como é de facto evidente que os milagres
ocorriam para a confirmação do Evangelho em sua primeira
promulgação e agora cessaram,[9] assim também é
semelhantemente claro que o ofício e os dons de apóstolos,
profetas, evangelistas eram destinadas para a período
inicial de plantação de igrejas e que eles não mais
continuariam quando a ordem dessas igrejas fosse
completamente estabelecida e a revelação da mente de
Deus no Novo Testamento fosse aperfeiçoada. E então a
sabedoria de Cristo viu que era melhor deixar as igrejas sob
a regra de sua Palavra escrita e sob a orientação de seus
oficiais ordinários que a governariam de acordo com ela.
B. Bispos, anciãos, presbíteros, pastores e
mestres.
Os oficiais dos quais estamos tratando agora e que em
nosso texto são chamados de presbíteros (π ρεσβυτέροι ),
são chamados em seguida de bispos ou anciãos
( ἐ π ίσκο π οι , a aplicação de ambos os termos para as
mesmas pessoas e ofícios pode ser observada em Atos 20).
Eles também são chamados de pastores e doutores (Efésios
4:11). É evidente que o Espírito Santo, ao usar esses termos
diferentes, não intenciona qualquer distinção ou
preeminência de ofício, antes todos esses termos são
adequados para ressaltar aspectos diferentes do ofício.
Algumas vezes, esses ministros são chamados de anciãos
por causa de sua gravidade e precedência na casa de Deus,
talvez isso tenha alguma relação com autoridade paterna e
a preeminência dos chefes de família e dos anciãos do povo
entre os israelitas do passado; e, outras vezes, eles são
chamados de bispos ou presbíteros porque o seu trabalho é
vigiar o rebanho e agirem como sentinelas fiéis que
guardam as almas das pessoas que foram confiadas a eles
para que possam prestar contas delas ao grande Pastor com
alegria e não com tristeza. Eles também são chamados de
pastores e mestres porque cabe a eles alimentar a igreja
com as palavras de vida eterna e exporem a mente de Deus
para as pessoas a partir das Escrituras para que possam,
por intermédio seu ministério, ser instruídos quanto ao reino
de Deus. Após considerarmos o ofício pastoral de forma
geral bem como a sua necessária continuidade na igreja,
examinaremos a seguir as qualificações necessárias para
alguém que almeja esse ofício e quais são os deveres
relacionados a ele.
C. As qualificações exigidas da pessoa que
almejam esse ofício.
Em primeiro lugar, quanto às qualificações necessárias
de um pastor ou bispo, elas são particular e integralmente
descritas para nós em Tito 1:6-9 comparado com 1 Timóteo
3:2-7. A primeira coisa necessária em ambas as passagens
é que ele deve ser irrepreensível, não que deva ser
absolutamente sem pecado, pois não há ninguém assim no
mundo, mas tal pessoa deve estar livre de qualquer defeito
notável ou ofensa escandalosa em sua vida — deve ser um
homem cuja conduta e comportamento gerais adornem a
doutrina que ele professa crer e que deve ensinar aos
outros.
Ele deve ser também marido de uma mulher; não é
necessário que ele seja um homem casado, mas se for, é
necessário que ele tenha sido o marido apenas de uma
única mulher, ou seja, uma por vez. Pois, embora ele tivesse
se arrependido de sua poligamia, contudo, a fama de sua
incontinência anterior permaneceria apegada a ele — a
poligamia não era bem vista nem mesmo entre os pagãos
civilizados. E era adequado que um bispo tivesse um bom
testemunho dos que estão de fora, para que não caísse em
afronta e no laço do Diabo (1 Timóteo 3:7). E isso também
inclui aqueles que se divorciaram de suas esposas e se
casaram novamente, o que era uma coisa que tanto os
judeus como os gentios costumavam fazer, mas que foi
totalmente proibida por Cristo, exceto no caso de fornicação
(Mateus 19:9; 1 Coríntios 7:10-16).
Além disso, deve ser considerado o comportamento de
seus filhos (se tiver algum) e enquanto eles estiverem
debaixo de sua disciplina familiar. Seus filhos devem ser
fiéis, separados de toda idolatria e paganismo, e viverem
suas vidas de forma sóbria e disciplinada, sujeitos a ele com
toda a reverência — pois se não ficar claro que alguém
governa bem a sua própria casa como ele será considerado
apto para cuidar da igreja de Deus?
Aquele que almeja o ofício pastoral também deve ter
sido conhecido por sua temperança, zelo e diligência em
seu trabalho e deveres anteriores, caso contrário, ele será
muito inadequado para o ofício pastoral, o qual exige
vigilância perpétua. Ele deve ser sóbrio, viver uma vida bem
regrada, adornada com modéstia e moderação; deve ter um
bom comportamento bem como toda a sua conduta
marcada por seriedade e humanidade. Por outro lado, ele
não deve ser obstinado, orgulhoso e impetuoso; nem
violento ou dado à ira, mas alguém que governa bem as
suas próprias paixões e cuja mansidão o dispõe a instruir e
a exortar os homens com toda a longanimidade e doutrina
(2 Timóteo 4:2).
Ele não deve ser dado a muito vinho, mas antes ser o
exemplo de mortificação dos prazeres sensuais e detestar
com veemência todas as formas injustas e sórdidas de
acúmulo ou manutenção de riquezas para si mesmo.
Também não deve ser ganancioso ou passível de uma
suspeita justa de que ele desempenha o seu ofício visando
obter quaisquer vantagens materiais através dele, e não
com uma mente disposta e um amor sincero por Cristo e
pelas almas dos homens. Ele deve ser hospitaleiro para que,
assim, possa ser o primeiro a tomar a iniciativa e a dar
exemplo para os outros em todos os atos de bondade e
caridade para com os santos. Tal homem não pode ser
contencioso, mas capacitado tanto com habilidades quanto
com uma mente pronta para ensinar e instruir aos outros e,
portanto, ele deve ser bem capacitado com o conhecimento
dos mistérios de Deus e alguém que sustente firmemente a
Palavra fiel que ensinou, para que, assim, ele seja capaz
tanto de exortar como de convencer os contradizentes, por
meio de sã doutrina. Em resumo, ele deve ser um homem
santo e justo em si mesmo e dever amor tudo que é assim.
Aquele que almeja o episcopado deve ser alguém cujas
virtudes foram provas e reveladas pelo tempo, um homem
firme e constante; não neófito para que não se ensoberbeça
e caia na mesma condenação do Diabo.
Essa lista de características fornece a regra e padrão
que todas as igrejas são obrigadas a seguir diligentemente
ao eleger pastores. Quando a igreja age assim, Cristo
aprova aqueles a quem ela escolheu e o Espírito Santo os
torna presbíteros, pois os dons, a graça e a autoridade de
um ministro do Evangelho provêm dele e nenhum homem
ou sociedade humana debaixo do céu pode, de jure,[10]
constituir como ministro aquele a quem Cristo não
qualificou para tal serviço. A validade de todos os atos da
igreja depende, e é determinada, por sua conformidade com
a regra da santa vontade e do testamento de Cristo.
E assim como esses dons, graça e virtudes devem ser
vistos naquele que é ordenado pastor antes que esse ofício
seja comissionado a ele, assim também, cabe ao pastor,
depois de sua ordenação, esforçar-se continuamente para
dar provas maiores dessas qualidades e se exercitar
diariamente nelas.
D. Os deveres de um pastor.
Em segundo lugar, os deveres de um pastor e do povo
devem ser considerados. Para que pudéssemos tratar disso
mais adequadamente seria necessário um outro tratado, por
isso, não falarei pormenorizadamente ou citarei todas as
coisas que estão relacionadas ao nosso assunto. Apenas
falarei brevemente sobre algumas coisas de natureza geral
e abrangente, e então aplicarei aquilo que for
particularmente oportuno para esta ocasião.
Primeiro, falaremos sobre o dever de um pastor, o qual
possui tanto um aspecto público quanto um privado. Ele
está vinculado a esse dever para com Cristo e para com as
almas dos membros da igreja em que ele ministra.
1. Os Deveres Públicos.
Nós começaremos com aqueles deveres que devem ser
cumpridos por ele mais publicamente. Que são os
seguintes:
(1.) O pastor se destaca como um intermediador
entre Deus e o povo.
Em alguns aspectos e coisas, o pastor age como um
intermediador entre Deus e o povo. Não me compreenda
mal, ele não deve ser um mediador entre Deus e a igreja, ou
seus interesses próprios devem se interpor entre Deus e as
pessoas, pois nenhum homem ou anjo é capaz
desempenhar tal ofício e serviço em favor da igreja — essa
glória pertence somente a Cristo. Assim como há um só
Deus, assim também há “um só Mediador entre Deus e os
homens, Cristo Jesus, homem” (1 Timóteo 2:5). Entretanto,
um ministro se interpõe entre Deus e o povo em dois
aspectos:
a. Orações públicas.
Ele deve ser a boca do povo para Deus e liderar a igreja
enquanto ela exercita os dons e graças que Cristo lhe
concedeu durante suas orações públicas ao Altíssimo.
Alguns consideram que esse é o sentido especial do que foi
dito pelos apóstolos em Atos 6:4: “Mas nós perseveraremos
na oração e no ministério da palavra”. Eles parecem estimar
ambos igualmente (a saber, a oração e o ministério da
Palavra) como os dois aspectos do dever público de seu
ofício na igreja; e não há dúvida de que o que é mencionado
continua a ser o dever dos ministros ordinários tanto quanto
o era dos apóstolos. Além disso, a Escritura não conhece
outro meio tão adequado e proveitoso para realizar esse
serviço na igreja do aquele que Cristo designou ao capacitar
pessoas com dons e com a unção do Espírito Santo para que
pudessem liderar seus irmãos. Seria muito triste ver as
almas das pessoas confiadas ao cuidado de homens que
não são tão familiarizados ou são insensíveis às suas
preocupações espirituais a ponto de não estarem bem
preparados para realizar esse aspecto de seu trabalho
ministerial, a saber, agir como a boca do povo ao fazer
orações públicas solenes a Deus.
b. Pregação.
Semelhantemente, ele deve ser a boca de Deus para o
povo. O trabalho mais eminente de um pastor é comunicar
a mensagem de Deus e falar ao povo em nome dele:
“Pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo,
redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade
e doutrina” (Timóteo 4:2). Eles são ministros do Novo
Testamento e embaixadores de Deus aos homens, e devem
ministrar os mistérios de Deus à sua igreja bem como
devem fazê-lo com toda a diligência para que possam se
apresentar ao Senhor como obreiros aprovados que não têm
do que se envergonhar, que manejam bem a Palavra da
verdade (2 Timóteo 2:15). Ai daquele que assume esse
ofício e não prega o Evangelho, que é o leite genuíno e o
alimento espiritual com o qual as almas de seu rebanho
devem ser alimentadas continuamente. Este dever é tão
seriamente enfatizado em todas as ocasiões em que essas
coisas são tratadas nas Escrituras que não há necessidade
de quaisquer outros argumentos para aplicá-lo, senão
aqueles que são óbvios aos olhos de todos que leem as
Escrituras. Aquele que não trabalha na Palavras também
não merece o nome de ministro, pastor ou bispo.[11]
Suponho que ninguém esteja esperando que aqui eu
passe a dar regras para a pregação ou que inicie um
discurso sobre qual o método deve ser seguido nos estudos
teológicos a fim fazer uma boa pregação. Permitam-me
apenas recomendar três coisas àqueles que estão sob a
responsabilidade tão rigorosa e solene de pregar o
Evangelho.
1. Seja cuidadoso ao lidar com as almas e
consciências dos homens, sabendo que é pela
salvação das almas que você deve trabalhar, pois o
cuidado delas está lhe está confiado e você terá que
prestar conta por elas a Deus.
O seu trabalho não é satisfazer a coceira dos ouvidos ou
os desejos carnais dos homens, mas falar aos corações
deles e, assim, recomendarem a si mesmos “à consciência
de todo o homem, na presença de Deus, pela manifestação
da verdade” (2 Coríntios 4:2). Seja diligente e consistente
na exposição dos princípios da religião e na recomendação
judiciosa à prática deles, de modo que a piedade sincera e o
poder da santidade possam ser promovidos através de seu
ministério. Inste com os homens a respeito de seus deveres
específicos quanto a cada relacionamento e circunstâncias.
Alerte-os sobre as sutilezas de Satanás, repreenda os erros
e as desordens dos que se desviam, conforte os aflitos e
quebrantados de coração — e todas essas coisas não deixe
faltar zelo, diligência, ousadia, habilidade e esforço.
2. Para que isso possa ser feito, certifique-se de
que você fala “segundo as palavras de Deus” (1
Pedro 4:11) e pregue ao povo a doutrina que é
retirada da pura fonte da Palavra de Deus.
Nada menos do que a evidência da autoridade divina é
que irá operar sobre a alma e conduzir a consciência de um
homem seja por meio de consolo, exortação ou repreensão
— é o carimbo do céu sobre aquilo que você prega que
tornará sua pregação poderosa. Portanto, que seu principal
cuidado seja pregar claramente para expor as Escrituras e
aplicá-la de modo pertinente a ponto de levar seus ouvintes
à convicção de que você “tem a mente de Cristo” (1
Coríntios 2:16). Não é suficiente que as coisas que você fala
sejam verdade, mas você demonstrar isso por meio de
provas fortes e convincentes. No que depender de você,
busque transmitir o próprio sentido pretendido pelo Espírito
Santo acerca das Escrituras que você está expondo e não
enfraqueça as verdades excelentes por extraí-las
distorcidamente a partir de textos que pretendem outra
coisa. A Palavra de Deus é sagrada e deve ser tratada com
todo o respeito e reverência piedosa. As coisas divinas não
admitirão nenhuma frivolidade.
3. Lembre-se de que o dever requerido por sua
posição não é pregar a si mesmo, mas ao Senhor
Jesus Cristo (2 Coríntios 4:5).
A glória do Senhor Jesus Cristo deve ser o objetivo de
todos os seus trabalhos e a graça dele, o principal assunto
de todos os seus discursos. Não é um discurso filosófico que
salvará as almas dos homens, mas a pregação de Cristo
crucificado. O Evangelho do Senhor Jesus Cristo é “o poder
de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Romanos
1:16) e o nome dele é o unguento que perfuma todos os
exercícios da piedade. Portanto, não vou dizer apenas que
haja aliquid Christi, algo de Cristo, em cada um de seus
sermões, mas que Cristo seja o começo, o meio e o fim de
seus discursos, pois nele “estão escondidos todos os
tesouros da sabedoria e da ciência” (Colossenses 2:3); nele
está a fonte e o manancial de todo verdadeiro consolo e
santidade.
(2.) É seu dever administrar as ordenanças.
Também faz parte da responsabilidade pública de um
bispo ou presbítero a administração dos sacramentos ou
ordenanças de instituição positiva na igreja, o batismo e a
ceia do Senhor. É dever deles administrar esses mistérios de
Deus que estão confiados a eles bem como é requerido
deles alimentar as ovelhas de Cristo.
(3.) É seu dever exercer a disciplina na igreja.
Também é dever dos pastores zelar pelo devido
exercício da disciplina na igreja e ordenar corretamente
todas as coisas que pertencem ao governo dela. Ele é o
supervisor da casa de Deus e deve governá-la
corretamente, não de uma maneira despótica ou tirana (1
Pedro 5:3), mas segundo o testamento de Cristo — como
um ministro que foi encarregado da herança do Senhor, a
qual é um povo voluntário, que deve ser conduzido não com
força e severidade, mas com seu próprio consentimento.
Todos os irmãos têm uma participação na gestão dos
assuntos da igreja, e na admissão e expulsão de membros;
no entanto, isso não nega a responsabilidade especial do
pastor nessas coisas, e ele será particularmente cobrado, se
for achado culpado de negligenciar a devida administração
da disciplina eclesiástica. Os casos de disciplina exigirão do
pastor muita prudência, sensibilidade, diligência e
imparcialidade. É muito importante que as portas da casa
do Senhor, as suas saídas e as suas entradas, sejam bem
vigiadas. Se os membros não são recebidos com a devida
cautela, o nosso número pode aumentar, mas não a nossa
alegria; e se alguém por expulso precipitadamente e sem
motivos justos, o escândalo e a inconveniência serão
enormes.
Durante todo esse processo, o pastor deve ser esforçar
para se comportar de tal maneira que em todos as suas
ações em seu ministério haja uma vívida demonstração do
amor, cuidado, sabedoria, compaixão, fidelidade e paciência
do Senhor Jesus Cristo, a quem ele serve.
2. Os deveres privados.
Também existem deveres de grande importância para
as almas dos homens os quais um pastor deve observar
disciplinadamente uma forma mais privada e particular. Ele
é obrigado a manter uma vigilância constante sobre o seu
povo bem como inquerir e examinar diligentemente o
estado do seu rebanho para que aqueles que estão em
perigo de incorrer em erros por falta de conselho sejam
orientados, para que o rebelde seja alertado e repreendido,
para que a alma fraca e abatida seja fortalecida, confortada
e encorajada e para que aqueles que estão enfrentando
dificuldades e tentações sejam socorridos e aliviados. Com
uma diligência incansável, Paulo encoraja os presbíteros da
igreja em Éfeso por meio de seu próprio exemplo: “Vós bem
sabeis”, diz ele, “como nada, que útil seja, deixei de vos
anunciar, e ensinar publicamente e pelas casas” (ver Atos
20:18-20). O mesmo aconteceu em relação aos de
Tessalônica: “Vós e Deus sois testemunhas de quão santa, e
justa, e irrepreensivelmente nos houvemos para convosco,
os que crestes. Assim como bem sabeis de que modo vos
exortávamos e consolávamos e testemunhávamos, a cada
um de vós, como o pai a seus filhos; para que vos
conduzísseis dignamente para com Deus, que vos chama
para o seu reino e glória” (1 Tessalonicenses 2:10-12). E
também: “A quem [Cristo] anunciamos, admoestando a todo
o homem, e ensinando a todo o homem em toda a
sabedoria [isto é, aplicando-lhes o que está de acordo com
suas várias circunstâncias e condições]; para que
apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo; e
para isto também trabalho, combatendo segundo a sua
eficácia, que opera em mim poderosamente” (Colossenses
1:28-29). Todo o trabalho de um pastor é facilitado por um
santo exemplo; pois, se um ministro não vive de acordo com
a instrução que ele dá aos outros e não demonstra ser uma
luz que arde e ilumina em sua vida e relacionamentos assim
como em sua doutrina, então seu mal comportamento irá
causar mais prejuízo do que todo o bem que suas palavras
possam fazer. Os exemplos exercem uma grande influência
sobre os homens. Verba docente, exempla trahunt.[12] É por
isso que é tão frequente repetidamente cobrado que eles
sejam exemplo para o rebanho em todas as coisas (1 Pedro
5:3).
IV. O dever de um pastor para com seu povo.
Pastor, proponho duas considerações: primeira,
considere pela autoridade de quem você deve agir como
representante e, segunda, considere a quem você serve.
A. Um ministro de Cristo ao povo.
Você é um ministro de Cristo e não alguém que foi
ordenado por um homem. Foi o Espírito Santo que fez de
você um presbítero, portanto, atente para si mesmo e para
o rebanho de Deus (Atos 20:28). Um argumento ou motivo
semelhante é incluído em Colossenses 4:17: “E dizei a
Arquipo: Atenta para o ministério que recebeste no Senhor,
para que o cumpras”. Receber um ministério no Senhor é
ser empregado em um serviço por Cristo, pela ordem e
autoridade dele. Agora, a partir dessas passagens e de
outras semelhantes podemos concluir o seguinte:
1. Que há uma dignidade verdadeira e proveitosa
no ofício que você deve administrar.
“Se alguém deseja o episcopado”, diz o nosso apóstolo,
“excelente obra deseja” (1 Timóteo 3:1). Esse é um ofício
em que um homem deve trabalhar, mas o seu trabalho é
uma “excelente obra”, ou seja, é nobre e útil, como a
palavra significa grega significa καλός . E você sabe que
difficilia que pulchra (ocupações nobres não são
desprovidas de fardo). Os homens podem desprezar essa
função, mas não deixe que isso o desanime. Cristo a
honrou, então que o senso de dever e gratidão a ele
mantenha você acima de todos os desânimos, o encoraje a
desempenhar fielmente aquilo que lhe foi confiado com
santa ousadia e firmeza de espírito.
2. Se você recebeu seu ofício de Cristo, então
você é responsável diante dele for desempenhá-lo.
Um dia o mordomo terá que prestar contas com seu
Senhor, e três vezes feliz será aquele a quem Cristo dirá no
dia do acerto de contas: “Bem está, servo bom e fiel... entra
no gozo do teu senhor” (Mateus 25:21). Não há nada que
nos influencie mais a nos envolvermos com toda a diligência
e fidelidade em nosso chamado do que uma reflexão
profunda e constante na solenidade da prestação de contas
que será exigida de nós no reino e no aparecimento do
Sumo Pastor.
3. Aqueles a quem Cristo emprega em sua obra
podem esperar sua presença e assistência graciosa
em todas as dificuldades que o acompanham.
Por isso temos a sua palavra: “Eis que eu estou
convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”
(Mateus 28:20). Em outras palavras, mesmo que você seja
perseguido, nunca será abandonado por mim; e embora, às
vezes, você esteja sobrecarregado por seu fardo, contudo,
minha força será aperfeiçoada em sua fraqueza e minha
graça bastará para você (2 Coríntios 12:9). É da graça e da
assistência de Cristo que um ministro deve depender e é
confiando nelas que ele deve esperar ser bem sucedido em
seu trabalho. E firmado nessa esperança, ele é abalado por
qualquer dificuldade ou oposição que encontre em seu
caminho — pois todo o poder no céu e na terra está nas
mãos daquele que o empregou.
4. Certamente Cristo recompensará aquele que
está empenhado fielmente em seu serviço.
Cristo não deixará de se revelar como um Senhor e
Mestre generoso para aqueles que o servem. Ninguém
jamais foi ou será um perdedor por fazer a sua obra. Esse é
o encorajamento que Pedro dá aos pastores da igreja
enquanto os exorta e anima seus corações: “E, quando
aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da
glória” (1 Pedro 5:4). E essa será uma compensação
abundante por todas as tristezas e fadigas sofridas aqui.
Veja o quanto seu trabalho é superior aos outros — Deus o
vestirá com raios brilhantes de glória. Então, aqueles que
foram convertidos por meio de seu ministério serão a sua
coroa e alegria, quando você ver que aqueles que
conduziram muitos ao caminho da justiça brilharão como
estrelas, para sempre e eternamente (Daniel 12:3).
B. O cuidado e responsabilidade pelas almas.
Considere que é o cuidado e a responsabilidade pelas
almas que lhe estão confiados. A maior responsabilidade de
seu ministério não é lidar com as preocupações temporais
desta vida, mas com os assuntos da vida eterna.
Ora, uma alma é mais valiosa do que o mundo inteiro,
porque ela é imortal e é feita para um estado eterno. A
influência que o ministério da Palavra exerce em relação ao
estado futuro estado dos homens fez Paulo perguntar
enfaticamente: “E para estas coisas quem é idôneo?” (2
Coríntios 2:16). Você deve lidar com as almas dos homens
que Deus julgou valer pena dar o seu próprio Filho para a
redenção delas e pelas quais Cristo não recusou derramar
seu precioso sangue.[13] A igreja é uma sociedade de
homens que Deus adquiriu para si pelo preço de seu próprio
sangue e que agora confiou ao seu cuidado e lhe designou
para cuidar de suas almas. Portanto, tenha cuidado de você
mesmo e do rebanho que Cristo lhe confiou — pois se
qualquer deles perecer por se desviar para um caminho
mau devido ao fato de você ter negligenciado o seu dever
para com ele, então eles morrerão em seus pecados, mas
Deus exigirá o sangue deles de sua mão (Ezequiel 3:18-20,
33:6-8).
V. O dever do povo em relação aos seus pastores.
Pastores capazes e fiéis são uma grande bênção e um
fruto especial do amor de Cristo pela sua igreja. Por isso, ele
espera e exige de seu povo que aperfeiçoe um talento tão
grande bem como que cumpram alegremente o seu dever
para com os seus ministros, assim como ele comissiona os
seus ministros a se dedicarem com toda a fidelidade e
diligência ao seu ofício. Recomendarei quatro coisas que o
povo deve fazer em relação aos seus pastores.
A. Os deveres da congregação.
1. Vocês devem ter um grande amor para com seu
pastor em virtude do trabalho dele.
Vocês devem ter grande amor, respeito e honra para
com seu pastor em virtude do trabalho dele; e Deus requer
que vocês o reconheçam devidamente por isso. Muitas
vezes o nosso apóstolo enfatiza a necessidade disso, por
exemplo: “E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que
trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e
vos admoestam; e que os tenhais em grande estima e
amor, por causa da sua obra. Tende paz entre vós” (1
Tessalonicenses 5:12-13). E novamente: “Os presbíteros que
governam bem sejam estimados por dignos de duplicada
honra, principalmente os que trabalham na palavra e na
doutrina” (1 Timóteo 5:17). Se vocês têm um amigo
verdadeiro no mundo, então esse é aquele que vela por
suas almas, que lhes fala a verdade e que trabalha dia e
noite para os apresentar perfeitos diante de Deus. Não
permitam que a fidelidade dele ao lhes admoestar faça com
que seu amor para com ele se esfrie, mas se vocês amam a
sua própria salvação, antes tenham-no em grande estima.
Nenhum homem sábio odiará o seu médico por ele lhe
haver dado um remédio amargo que serviu para salvar sua
vida nem aborrecerá um cirurgião por executar nele uma
operação dolorosa, quando a recuperação ou preservação
de um membro de seu corpo depende dela. Aquele que leva
a vocês as boas novas da salvação e anuncia a paz, merece
ter seus pés estimados como belos e ser recebido com o
amor e o respeito que são devidos a uma mensagem tão
boa e ao mensageiro dela. Cristo não tolerará que seus
enviados sejam desprezados; portanto, cuidem para que
vocês não o provoquem ao desprezar os mensageiros deles
e nem privem as suas próprias almas do benefício de seu
ministério por entreter más suspeitas ou preconceitos
injustificados contra eles.
2. Você deve se submeter a eles enquanto
desempenham seu ofício.
Vocês devem submissão e obediência aos seus pastores
enquanto desempenham seu ofício e exercem a liderança e
supervisão que Cristo comissionou a eles para a edificação
de vocês: “Obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles”
(Hebreus 13:17). A obediência que o apóstolo exige aqui
não é uma obediência cega e nem devemos supor que algo
como um poder de criar leis seja conferido aos oficiais da
igreja, mas é ordenado submissão a eles na medida em que
agem de acordo com seu ofício e com a lei e testamento de
Jesus Cristo. O que é exigido aqui é uma pronta obediência
à Palavra de Deus ministrada por eles, uma submissão
humilde à sua justa repreensão e correção pastoral, quando
isso se faz necessário devido a alguma má conduta — e isso
na medida em que os pastores desempenham os deveres
públicos ou privados que lhe foram confiados. Deus não
exige que os homens arranquem seus próprios olhos ou que
se façam escravos para serem conduzidos pelos oficiais da
igreja enquanto abrem mão de usarem à sua própria razão e
juízo — como acontece no papado, no qual o cego guia
outros cegos até que ambos caiam na cova (Lucas 6:39).
Mas quando a lei de Cristo é observada e de acordo com
ela e verdade das Sagradas Escrituras algo é solicitado,
então a obediência do povo pode ser justamente esperada.
Aquele que pensa que é bom demais ou muito sábio para
receber instruções ou para se submeter à uma repreensão
de seu pastor não merece um lugar em qualquer
congregação cristã. “Meus irmãos, muitos de vós não sejam
mestres [acautelem-se de um espírito orgulhoso e faccioso],
sabendo que receberemos mais duro juízo” (Tiago 3:1). E
assim como vocês devem receber a doutrina de Cristo
pregada por eles com mansidão e temor bem como se
submeterem-se humildemente à disciplina que os pastores
exercem de acordo com a autoridade que receberam de
Cristo, assim também vocês devem imitar o santo exemplo
deles: “Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a
palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua
maneira de viver” (Hebreus 13:7). Sejam imitadores deles
como eles o são de Cristo (1 Coríntios 11:1); pois é dever
deles serem exemplos para seus irmãos “na palavra, no
trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza” (1 Timóteo
4:12), o dever dos irmãos consiste em nada menos do que
seguirem e imitarem o exemplo do pastor em todas essas
coisas. Pois se esse ofício não for otimizado pela igreja para
sua edificação e verdadeiro crescimento na graça e na
santidade, então a finalidade dele será completamente
frustrada.
3. Vocês devem orar continuamente a Deus pelos
seus pastores.
Vocês devem estar contínua e persistentemente em
oração a Deus por eles (Romanos 12:12). Vocês sabem que
o apóstolo Paulo muitas vezes pede que a igreja ore por ele;
e se ele achava que o auxílio deles em oração era tão
necessário, nós temos muito mais razão para pensarmos
assim de nós mesmos. As tentações dos ministros são
muitas; eles têm que enfrentar grandes dificuldades e
desencorajamentos. Os pastores não conseguirão
desempenhar completamente seus chamados como
deveriam, senão com a ajuda e a assistência especiais do
Espírito Santo. O êxito de todos os seus labores depende da
bênção divina e da presença de Deus, e nisso tanto a glória
de Cristo quanto o consolo e a edificação de suas próprias
almas estão grandemente relacionados — esses motivos
são suficientes que vocês se conscientizem desse dever.
4. Vocês são obrigados a fornecer um sustento
confortável para seus pastores.
Vocês são obrigados, de acordo com sua capacidade, a
fornecer um sustento confortável e honroso para eles. “E o
que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens
com aquele que o instrui. Não erreis: Deus não se deixa
escarnecer...” (Gálatas 6:6-7a). Essas palavras ordenam não
somente o sustento dos ministros, mas uma contribuição
tão abundante a ponto de fazê-los participantes com vocês
“de todos os seus bens”. Se Deus abençoa a congregação
com uma porção abundante de bens deste mundo, é seu
dever fazer de seu ministro um participante com eles em
sua prosperidade. Se considerarmos qual é o trabalho dos
pastores e onde eles trabalham, seria algo extremamente
indigno pensar que vocês fizeram o suficiente quando
cuidaram de atender apenas as necessidades mais
urgentes, enquanto vocês esbanjam em suas
superfluidades. Se a congregação for pobre, seu ministro
deve se contentar em ser pobre com eles, deve se alegar e
se apresentar aprovado como um ministro de Cristo pela
fome e nudez, caso a providência de Deus o chamar a essas
coisas. Porém, se está no poder da congregação oferecer o
melhor para o pastor, então Deus espera que vocês façam
isso: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer”, e nem
permitirá que seus mandamentos sejam menosprezados e
rejeitados, sem que repreenda justamente o transgressor,
“porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará”
(Gálatas 6:7b).
(1.) Lembrem-se das obrigações pastorais.
Agora, para que vocês entendam melhor o seu
compromisso que está em causa nesse dever e antes de
instar com vocês para que o cumpram, permitam-me trazer-
lhes à memória as obrigações do pastor.
a. Um ministro é obrigado a se dedicar inteira e
somente à sua vocação ministerial, e não se enredar
nos negócios desta vida, para ele possa agradar a
Deus que o chamou para essa batalha espiritual — e
ele só pode ser dispensado dessa obrigação se
houver uma verdadeira necessidade disso (2 Timóteo
2:1-7).
Todo o seu tempo e força são poucos para serem
empregados na atividade para a qual ele foi chamado; ele
deve se dedicar ao ministério da Palavra e à oração bem
como persistir na leitura, na meditação etc., e viver como
um homem totalmente devotado ao serviço do Evangelho.
Portanto, pelo fato de o chamado ministerial dos pastores
exigir que eles abram mão dos meios de subsistência
seculares, é necessário que aqueles que trabalham nesses
empreendimentos e ocupações lhes forneçam seu sustento.
Isso se faz necessário para que, ao se ocuparem dos
negócios desta vida, eles não se distraiam e desviem suas
mentes do estudo da Palavra de Deus e do pastoreio das
almas, que são as principais responsabilidades de seu ofício.
E se eles não podem se expor aos cuidados e preocupações
que permeiam os negócios do mundo, mesmo que isso seja
lucrativo para eles, certamente não é de modo algum
adequado que ele seja exposto às dificuldades de uma vida
precária, enquanto que aqueles a quem ele ministra dispõe
de meios suficientes para evitar que isso aconteça.
b. Não é menos dever de um ministro do que de
outros homens, sustentar a sua própria família,
cuidar de sua esposa, filhos e outras pessoas que,
porventura, vivam com eles, os quais não podem ser
deixados expostos a mil misérias e tentações caso
ele venha a lhes faltar.
Confesso, que uma disposição gananciosa que se
apressa para acumular riquezas é mais imprópria para um
pastor do que para qualquer outro homem do mundo.
Contudo, estaremos completamente enganados se
pensamos que o pastor deve abrir mão do devido amor de
marido para com sua esposa ou de pai para com seus filhos
e, consequentemente, do cuidado e provisão legítimos que
decorrem dele.
c. Um pastor ou bispo possui uma
responsabilidade especial de ser hospitaleiro e de
fazer de si mesmo um padrão de caridade e
generosidade compassiva para com as almas dos
pobres.
E se é o seu dever ser hospitaleiro e caridoso em um
grau eminente, segue-se então, sem sombra de dúvidas,
que o povo a quem ele pastoreia deve se esforçar para
prover-lhe de modo que ele seja capaz de dar prova dessa
graça nele através do exercício da hospitalidade, quando
surgir ocasião.
(2.) Razões pelas quais a congregação está
obrigada a desempenhar esse dever para com o seu
pastor.
Tendo aquilo que falamos acima como premissas, vou
lhes mostrar que vocês se encontram sob a obrigação mais
forte que podem imaginar de desempenhar esse dever,
pelas seguintes coisas:
a. Pela lei eterna da natureza.
A lei e a luz da natureza obrigam vocês a
desempenharem esse dever como uma questão de
equidade e justiça. E é disso que nosso apóstolo extrai o seu
primeiro fundamento: “Quem jamais milita à sua própria
custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou
quem apascenta o gado e não se alimenta do leite do
gado?” (1 Coríntios 9:7). O ministério pastoral é uma guerra,
realizado sob o comando de Cristo, para o serviço das suas
almas; portanto, é muito razoável que vocês supram seus
ministros das coisas materiais assim como um soldado fiel
deve receber, das mãos de seu capitão, o seu salário
custeado pela comunidade para a qual ele milita. O pastor
que apascenta um rebanho pode ser impedido de beber o
leite produzido por esse mesmo rebanho pelo qual trabalha
ele para proteger e alimentar? É justo privar um homem do
fruto da vinha que ele mesmo plantou e cultivou? O mesmo
se aplica ao direito de um ministro de ser sustentado pelo
seu povo. Não estou pleiteado a caridade de vocês para
com seus pastores, pois isso é um caso de justiça e dívida.
Ele é empregado a seu serviço e, por direito, deve ser
sustentado por vocês. O pastor não foi chamado para outras
ocupações, portanto, o sustento dele deve ser provido por
vocês assim como vocês dão salários aos seus empregados,
embora temo que alguns deem mais aos menores
empregados de sua casa do que estão dispostos a dar para
seu ministro.
Certamente, se vocês escolherem como devem, os seus
ministros não serão pessoas incapazes; possivelmente, eles
serão competentes e possuirão certo grau de prudência e
habilidade para negociar com outros homens. Eles poderiam
gerenciar negócios ou se ocuparem em outros empregos e,
assim, conseguir bens materiais, como vocês, caso eles não
estivessem dedicados a um serviço mais nobre — é
necessário que eles sejam expostos à necessidades e
miséria no mesmo instante em que entrarem para o
ministério? Meus irmãos, isso não deve acontecer! Que os
seus ministros sejam tão bem tratados, pelo menos, como a
lei previa que os bois fossem: “Não atarás a boca ao boi,
quando trilhar” (Deuteronômio 25:4). Porventura nosso
Deus está preocupado com os bois? Ou será que não houve
nenhum propósito superior por trás desse mandamento
para que o direito da criatura bruta não fosse infringido?
Certamente houve: “Ou não o diz certamente por nós?
Certamente que por nós está escrito; porque o que lavra
deve lavrar com esperança e o que debulha deve debulhar
com esperança de ser participante. Se nós vos semeamos
as coisas espirituais, será muito que de vós recolhamos as
carnais?” (1 Coríntios 9:10-11).
b. Pelo mandamento expresso e nomeação de
Cristo.
O Senhor não nos deixou a argumentar sobre isso com
base apenas em princípios gerais da razão e da equidade
comum, antes — para colocar o assunto fora de discussão
— adicionou o seu mandamento expresso. O apóstolo
argumenta em seguida que o Senhor proveu para seus
ministros no tempo da lei: “Não sabeis vós que os que
administram o que é sagrado comem do que é do templo? E
que os que de contínuo estão junto ao altar, participam do
altar?” (1Coríntios 9:13). Tão logo Deus separou os levitas
para o serviço do seu santuário, proveu uma lei para o
sustento deles. E, embora eles fossem apenas uma tribo
dentre as outras doze, contudo, a décima parte da produção
de toda a terra foi dada a eles — além das primícias, de
ofertas e de vários outros benefícios — de modo que a
porção deles pudesse igualar e até mesmo superar a porção
de seus irmãos. Essa lei está agora revogada e nós não
pretendemos ter direito sobre seus bens materiais; porém, a
equidade geral desses preceitos jamais pode ser revogada.
Nem Cristo abandonou seus ministros neste vasto mundo,
mas também fez uma provisão para eles ao ordenar que
aqueles que professam seu nome os sustente: “Assim
ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho,
que vivam do evangelho” (1 Coríntios 9:14). O trabalhador
ainda é digno de seu salário e não se faz menos digno pelo
fato de trabalhar no Evangelho. Ainda que os homens
cumprissem plenamente seu dever, a sua obrigação para
com a manutenção da adoração evangélica pareceria muito
insignificante quando comparada com a da lei; pois, se
fôssemos comparar, penso que poderia demonstrar que a
quinta parte de seus bens deveria anualmente ser gasta em
coisas relacionadas com o serviço do templo. E se somos
conscientes do grande privilégio e bênção do Evangelho e
se o valorizamos muito mais do que as obrigações dele, nós
nunca pensaremos duas vezes para arcar com os custos
moderados de um ministro do Evangelho, de forma a
evidenciarmos nossa fé em Cristo.
c. Pelo grande e evidente mal e inconveniência
que decorre da negligência desse dever.
Vocês podem prevenir o mal e a inconveniência que
segue a negligência desse dever, se o praticarem
alegremente. Eu poderia ter dito “males e inconveniências”,
no plural, pois há muitos, e isso é facilmente visto um
observador livre de preconceitos. Porém, neste momento,
eu tenho em mente principalmente o desencorajamento ao
estudo. O fato de que os seus estudos serão
necessariamente desencorajados (refiro-me ao estudo da
teologia) pela negligência do povo para fazer uma provisão
confortável para seus ministros é demasiado evidente para
que alguma prova seja requerida. Quem vai se aplicar a
obter continuamente a grande quantidade de conhecimento
que é necessária para um ministro, se ele esperar que, por
agir assim, não adquirirá outra coisa para si mesmo senão
pobreza e aflição? Ou como um ministro pode ser capaz de
suprir a si mesmo com o conhecimento universal das coisas
relativas ao seu trabalho, se ele não tem os meios para o
seu próprio conhecimento ou nenhum tempo livre de
preocupações e ocupações desse mundo? E a desvantagem
que decorre disso finalmente será compartilhada com as
pessoas para quem ele ministra. Aquele que considera que
as Sagradas Escrituras são escritas originalmente em
hebraico e grego e, ainda assim, negue a utilidade deste
conhecimento a um ministro, é um insensato. Além disso,
para expor as Escrituras é necessário estudar muitas outras
coisas, das quais não há tempo para discorrer agora. E é
preciso um estudo diligente e contínuo para que as coisas
profundas de Deus possam ser trazidas à luz e assim
expostas a vocês para que suas mentes sejam enriquecidas
com um conhecimento claro e sólido delas.
Eu confesso que pouco conhecimento ou a falta de
estudo poderá produzir um homem cujo discurso é capaz de
agradar algumas pessoas fracas que julgam um sermão
pela intensidade da voz e pela afetuosidade das falas ou
que imaginam poder alimentar a si mesmas com as cinzas
das palavras e com a cadência dos termos de um discurso.
Mas, infelizmente, o aparente calor das emoções que são
despertadas por esses meios é como terra que, por um
momento, sofre uma inundação, mas depois seca-se, por
não haver nela nenhuma fonte para regá-la. Aquele que
deseja fazer o bem para as almas de seu povo e mostrar-se
como um pastor segundo o coração de Deus, deve
alimentá-las com o conhecimento e o entendimento,
esforçar-se para cultivar nelas um zelo e amor constantes,
instruí-las para que possam julgar segundo o reto juízo e
expor-lhes a mente de Deus a partir das Escrituras para que
tenham as suas consciências comandadas por ela. E só
podemos esperar isso daquele que é diligente tanto em seu
estudo quanto em seu púlpito. Não me entendam mal. Sei
que o sucesso e os bons frutos de todos os estudos e
trabalhos daqueles que pregam o Evangelho provêm da
graça e do poder do Espírito Santo, entretanto não devemos
esperar a assistência do Espírito a menos que estejamos
andando no caminho do nosso dever.
B. Como a congregação pode encorajar o pastor.
Alguns podem pensar que já foi dito o suficiente e, além
disso, o meu tempo me chama a colocar um ponto final em
meu discurso; porém, embora eu deseje sinceramente não
me alongar mais do que o necessário, há algumas coisas
que podem ser ainda mais aplicáveis ao meu presente
propósito, portanto, falarei mais algumas coisas para lhes
ajudar no cumprimento dos deveres que mencionei até aqui
e para que vocês encorajem e animem o seu pastor a
cumprir o dever dele.
1. Em primeiro lugar, lembre-se de que seu pastor
é o ministro de Cristo, alguém que ministra os
mistérios de Deus para você no nome dele.
E, portanto, quando o ministro está agindo em sua
posição e de acordo com o seu dever, o Senhor Jesus
considera como se ele mesmo tivesse feito aquilo por
intermédio de ministro — pois Jesus disse: “Quem vos ouve
a vós, a mim me ouve; e quem vos rejeita a vós, a mim me
rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me
enviou” (Lucas 10:16). Se o nome e a autoridade de Cristo
geram temor em vocês ou se seu amor incomparável e
indescritível os influencia, então não falta motivos para que
vocês sejam achados no desempenho dos seus deveres. Se
vocês reconhecem que reverência e respeito piedoso são
devidos ao Filho de Deus, então exerça-os em humilde
obediência à sua Palavra. Se você o ama e valoriza o
Evangelho dele, então não trate seus ministros de uma
maneira indigna. Não esqueçam que aqueles que deu a sua
vida em resgate por vocês merece ser recompensado com o
seu amor e sua honra, e isso não somente através de
palavras boas, mas também com os seus bens e com as
primícias de todas as suas rendas.
2. Em segundo lugar, um ministro trabalha para a
salvação das suas almas preciosas e imortais;
portanto, é muito mais do que seu próprio interesse
do que do dele que você cumpra o seu dever
conscientemente.
O apóstolo reforça sua exortação com esse argumento:
“Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a
palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua
maneira de viver” (Hebreus 13:17). O ministro nunca pode
ser eficaz para a salvação das suas almas, se vocês não
forem sinceros em sua obediência a ele.[14] E vocês serão
menos cuidadosos com as suas almas e com o seu bem-
estar eterno do que vocês são com os seus corpos e com os
confortos dessa vida temporal? Você pode se contentar em
empregar sua força e bens materiais para prover para essas
coisas enquanto aquelas outras?
É triste considerar quantos há entre aqueles que
professam a fé em Cristo que vivem neste mundo como se
não fosse verdade que um dia teremos que prestar contas a
Deus. Eles têm pouquíssima estima pelos meios mais
necessários para a sua salvação, ou seja, a Palavra, as
ordenanças de Cristo e um ministério evangélico. Há muitos
que, além de proverem para suas próprias necessidades,
podem gastar, talvez, cerca de cem pounds[15] para a
conveniência, ornamento ou deleite de seus corpos — os
quais, porém, com má vontade, darão metade disto aos
pobres ou para apoiar a adoração evangélica. Se seu corpos
ficam doentes, eles não pensam que cinco, dez ou vinte
pounds sejam um preço muito alto para o pagamento de um
médico, por sua habilidade e cuidado para com eles; por
outro lado, dificilmente eles pagam a metade disso àquele
que continuamente estuda e vela para promover a saúde e
salvação de suas almas doentes. Mas, quando os homens se
tornarem completamente conscientes de que a eternidade
não é uma ficção e de que o Evangelho é o único meio de
escapar da ira vindoura e herdar a glória eterna, então eles
agiram de modo diferente.
VI. Conclusão.
Nós contemplamos algo daquelas graciosas provisões
que Cristo, em sua sabedoria e fidelidade fez por sua igreja,
ao nomear diáconos para o auxílio dos pobres, e de
pastores guiar a nutrir a alma do povo de Deus para a vida
eterna. Ouvimos também sobre os deveres que Cristo
espera tanto em relação aos oficiais quanto em relação aos
membros de sua igreja até o fim do mundo. O que resta
agora, senão que todos nós, em nossas devidas posições,
nos conscientizemos em viver em obediência aos
mandamentos do Senhor Jesus (pois, se sabemos estas
coisas, bem-aventurados somos, se as praticarmos — João
13:17) e, nessa prática, reconhecermos o amor e fidelidade
dele, admiraremos constante a sua graça e o louvaremos
por todos os frutos dela? Que vocês possam fazer isso e que
“o Deus de paz, que pelo sangue da aliança eterna tornou a
trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande
pastor das ovelhas, vos aperfeiçoe em toda a boa obra, para
fazerdes a sua vontade, operando em vós o que perante ele
é agradável por Cristo Jesus, ao qual seja glória para todo o
sempre. Amém” (Hebreus 13:20-21).
PARTE 2

O Dever Especial dos Pastores de


Igrejas
John Owen

Apresentarei a seguir uma descrição de trabalho e dever


dos pastores no exercício de seu ofício. Mas esse tem sido o
tema de muitos discursos extensos, tanto entre os antigos
escritores da igreja quanto entre os recentes; eu hei de
tocar, portanto, apenas em algumas coisas que são de
extrema importância de se considerar:
1. O dever primeiro e principal de um pastor é

alimentar o rebanho pela diligente pregação da

Palavra.
É uma promessa atinente ao Novo Testamento que Deus
concederia à Sua Igreja “pastores segundo o seu próprio
coração, que o alimentariam com conhecimento e com
inteligência” (Jeremias 3:15), e isto pelo ensino ou pregação
da Palavra, e não de outra forma. Esse alimentar é a
essência do ofício de um pastor no que tange ao seu
exercício; de modo que aquele que não o faz, ou não o pode
fazer, ou não pretende alimentar o rebanho, não é pastor,
qualquer que seja o chamado ou serviço exterior que ele
possa ter na igreja. O cuidado de pregar o Evangelho foi
entregue a Pedro e, através dele, a todos os verdadeiros
pastores da igreja, sob o nome de “apascentamento”.
Conforme o exemplo dos apóstolos, eles devem se livrar de
todo embaraço para que possam se dedicar inteiramente à
Palavra e à oração (Atos 6:1-4). A sua obra é “trabalhar na
palavra e na doutrina” (1 Timóteo 5:17) e, desse modo,
apascentar o “rebanho sobre o qual o Espírito Santo os
constituiu bispos” (Atos 20:28), e isso é o que lhes é
atribuído, em todas as ocasiões, àqueles em liderança.
Portanto, como já foi dito, esse trabalho e dever são
essenciais para o ofício de um pastor. Um homem é um
pastor para aqueles a quem ele conduz pelo ensinamento
pastoral, e não para quaisquer outros; aquele que não
alimenta dessa forma não é pastor. Tampouco lhe é
requerido apenas que pregue ora ou outra, ao seu bel
prazer, mas que ele deixe de lado todos os outros trabalhos,
embora lícitos, e todas as outras obrigações na igreja, se a
sua constante atenção à elas puderem desviá-lo daquela
tarefa – para que ele esteja a trabalhar com o máximo de
sua capacidade naquelas coisas. Sem isso, nenhum homem
será capaz de prestar contas do ofício pastoral de modo
confortável no último dia.
Certamente, não há nada mais que seja exigido de
qualquer homem além daquilo para o que Deus lhe dá
capacidade. Fraqueza, doença e enfermidades físicas
podem incapacitar os homens para o verdadeiro exercício
desse dever naquela assiduidade e frequência que são
requeridas em casos comuns. Alguns podem, pela idade ou
por outra doença incapacitante, tornarem-se totalmente
desabilitados para tanto — caso em que é seu dever desistir
do ofício e ser dispensado dele. Ou, se sua deficiência é
apenas parcial, eles devem providenciar uma substituição
adequada, para que a edificação da igreja não seja
prejudicada. Mas, para os homens, fingir que são pastores
de igreja e serem incapazes ou negligentes nessa tarefa e
dever, é viver em aberta rebeldia às ordenanças de Cristo.
Temos vivido para ver e ouvir o escárnio reprovador e o
desprezo lançados sobre o preceito de “trabalhar na palavra
e na doutrina” (1 Timóteo 5:17). Todas as formas de
desencorajamentos são alegadas na tentativa de suprimí-lo
em diversas circunstâncias. De fato, alguns foram tão longe
a ponto de declarar que a obra da pregação é desnecessária
na igreja. Isso reduziria a religião à leitura e à ordem da
liturgia. A próxima tentativa deles, suspeito eu, pode ser a
de excluir o próprio Cristo de sua religião — a isto é que
negar a necessidade da pregação do Evangelho conduz; de
fato, caminha muito nesse sentido.
Diversas coisas são necessárias para esse trabalho e
dever de pregação pastoral, tais como:
(1.) Sabedoria espiritual e entendimento dos
mistérios do Evangelho, para que possam declarar à
igreja “todo o conselho de Deus” e “as insondáveis
riquezas de Cristo”.
A maior parte da igreja, especialmente aqueles que são
versados no conhecimento e na experiência, tem um
discernimento espiritual para essas coisas. O apóstolo ora
para que todos os crentes possam tê-lo. Mas se aqueles que
os instruem, ou que deveriam fazê-lo, não têm algum grau
de eminência nisso, então não podem ser úteis para
conduzir os outros à perfeição. O pouco cuidado ou
preocupação com isso tornou o ministério de muitos
pregadores, nos dias atuais, tanto infrutífero quanto inútil.
(2.) Experiência do poder da verdade que eles
pregam, em suas próprias almas.
Sem isso, eles não poderão empenhar sua vida e seu
coração à sua própria obra; e a maior parte de seu trabalho
não será proveitosa para os outros. O trabalho de pregação
pastoral é buscado, por esses homens, visando sua própria
vantagem, ou como algo que traz alguma satisfação pela
ostentação e suposta reputação que o acompanha. Mas um
homem só prega bem para os outros o sermão que prega
para sua própria alma. O homem que não se alimenta e não
cresce ao digerir o alimento que fornece para os outros,
dificilmente o tornará saboroso para eles. Na verdade, ele
não sabe se a comida que tem fornecido pode ser veneno, a
menos que ele mesmo a tenha provado realmente. Se a
Palavra não habitar com poder em nós, ela não sairá com
poder de nós. Nenhum homem vive em estado mais
lastimável do que aqueles que não acreditam de fato
naquilo que continuamente persuadem os outros de
acreditarem. A falta dessa experiência do poder da verdade
do Evangelho em suas próprias almas é o que nos rende
tantas orações insípidas e sem vida – excêntricas em
palavras e desprovidas de poder — em vez de pregar o
Evangelho em demonstração do Espírito. Que digam o que
quiserem, é evidente que a pregação de alguns homens,
bem como a ausência de pregação de outros, extraviaram o
crédito de seu ministério.
(3.) Habilidade para manejar bem a Palavra
(2 Timóteo 2:15).
Isso consiste em uma sabedoria prática, por meio da
atenção diligente à Palavra da verdade, para descobrir qual
é o alimento verdadeiro, substancial e adequado para as
almas dos ouvintes — para dar a todos os tipos de pessoas
na igreja sua porção apropriada. E isto requer,
(4.) Uma consideração prudente e diligente da
condição do rebanho sobre o qual qualquer homem
seja instituído,
quanto à sua força ou fraqueza, seu crescimento ou
falha no conhecimento (se, de acordo com suas
capacidades, precisam de leite ou alimento sólido), suas
tentações e deveres, e sua decadência ou prosperidade
espiritual — e isso não só de modo geral mas, tanto quanto
possível, em relação a todos os membros da igreja,
individualmente. Sem a devida atenção para essas coisas,
os homens pregam aleatoriamente, combatendo algo
incerto, como aqueles que desferem golpes no ar (1
Coríntios 9:26). Pregar sermões que não são feitos para
beneficiar aqueles para quem são pregados, insistir em
doutrinas gerais que não se adequam à condição dos
ouvintes e falar palavras sem considerar se essas palavras
devem ser ditas são coisas que deixarão exaustos da
pregação aqueles cujas mentes não são notoriamente
avantajadas; e estes deixarão exaustos os demais
simplesmente por ouvi-los.
(5.) Todas essas coisas, em todo o exercício de
seu dever, devem ser constantemente acompanhadas
da evidência do seu zelo pela glória de Deus e da
compaixão pelas almas dos homens.
Se isso não for vigorosamente exercitado nas mentes e
almas daqueles que pregam a Palavra, recomendando-se
eles mesmos à consciência de seus ouvintes, então o
aspecto vivificante, a vida e a alma da pregação serão
perdidos.
Todas essas coisas parecem comuns, óbvias e
universalmente reconhecidas; mas a ruína do ministério de
muitos pela falta delas, ou por defeitos notáveis nelas, é –
ou não pode ser menos que – igualmente conhecida. E a
mera menção delas (que é tudo o que eu pretendo fazer
aqui) é suficiente para evidenciar quão imperativo é, para
todos os pastores de igrejas, que se dediquem à palavra e à
oração, se ocupem da Palavra e da doutrina, que sejam
continuamente aplicados nessa obra, que empenhem todas
as faculdades de sua alma e que incitem todas as suas
graças e dons para o exercício constante do cumprimento
de seu dever. Pois “para estas coisas quem é idôneo?” (2
Coríntios 2:16). Assim como a consideração dessas coisas é
suficiente para instigar todos os ministros à fervorosa
oração pelas provisões do auxílio e assistência divina para a
obra que eles não podem realizar por suas próprias forças,
também é suficiente para adverti-los de que evitem todas
as coisas que os desviariam ou distrairiam de sua atenção
constante à sua tarefa.
Quando os homens se ocupam do ofício pastoral e
julgam não ser o seu dever pregar, ou não são capazes de
fazê-lo, ou buscam fazê-lo apenas em ocasiões solenes, ou
cumprem-no como uma tarefa necessária, mas carecem de
sabedoria, habilidade, diligência, cuidado, prudência, zelo e
compaixão que são necessários para isso, a glória e a
utilidade do ministério é totalmente destruída.
2. O segundo dever de um pastor para com o

seu rebanho é a oração contínua e fervorosa por eles.


“Nós perseveraremos na oração” (Atos 6:4). Sem isso,
nenhum homem pode pregar, ou de fato prega, para o
rebanho como deveria, tampouco executa qualquer outro
dever do seu ofício pastoral. A partir disso qualquer homem
pode medir o desempenho de seu dever para com seu
rebanho. Aquele que constante, diligente e fervorosamente
ora por eles, terá em si mesmo um testemunho de sua
própria sinceridade no desempenho de todos os seus outros
deveres pastorais; assim como não poderá voluntariamente
omitir ou negligenciar qualquer um deles. Quanto àqueles
que são negligentes nisso, não importa a grandeza de suas
dores, trabalhos e labutas em outras obrigações, pois eles
podem estar sendo influenciados por outras motivações, e
assim não dão nenhuma evidência de sinceridade no
desempenho de seu ofício. Essa oração constante pela
igreja é tão necessária a todos os pastores, que qualquer
coisa feita sem oração não tem valor aos olhos de Jesus
Cristo.
Então, os pastores devem atentar
(1.) para o êxito da Palavra, para todos os seus
propósitos abençoados entre eles.
Estes são nada menos do que o aperfeiçoamento e
fortalecimento de todas as suas graças, o direcionamento
de todos os seus deveres, sua edificação na fé e no amor,
juntamente com toda a conduta de suas almas na vida de
Deus, para o seu deleite nEle. Pregar a Palavra, portanto, e
não seguí-la com oração constante e fervorosa pelo seu
êxito, é desacreditar em seu proveito, negligenciar sua
finalidade e semear a semente do Evangelho ao acaso.
(2.) para as tentações às quais a igreja é
geralmente exposta. Estas variam muito de acordo
com as circunstâncias externas das coisas.
As tentações que, em geral, acompanham um estado de
paz e tranquilidade externas têm natureza diferente
daquelas que aparecem em um tempo de dificuldade,
perseguição, aflição e pobreza, assim como em outras
ocasiões e circunstâncias. Os pastores de igrejas devem
considerá-las diligentemente, observando-as como os meios
e modos pelos quais igrejas foram arruinadas e as almas de
muitos perdidas para sempre. Concernente a essas
tentações, portanto, suas orações pela igreja devem ser
fervorosas.
(3.) para o estado específico e a condição de
todos os membros, na medida em que isso seja
conhecido deles.
Pode haver aqueles que estão espiritualmente enfermos
e adoentados, tentados, aflitos, fora de vista, vagando fora
do caminho, surpreendidos em pecados e perdições,
desolados e perturbados no espírito de um modo especial. A
lembrança de todos eles deve permanecer no pastor e ser
continuamente mencionada em suas súplicas pastorais
diárias.
(4.) para a presença de Cristo nas reuniões da
igreja, com todas as evidências abençoadas e
testemunhos dela.
Somente isso é o que dá vida e poder para todas as
reuniões da igreja, sem o que, toda a ordem externa e
formas de culto nelas são apenas uma carcaça morta.
Agora, essa presença de Cristo nas reuniões de Sua igreja
se dá por meio de Seu Espírito, que acompanha todas as
ordenanças de culto com uma eficácia graciosa e divina,
evidenciando-se por operações abençoadas nas mentes e
corações da congregação. Os pastores de igrejas devem
continuamente orar por isso. Aqueles que assim o fazem
entendem que todo o sucesso de seu trabalho e toda a
aprovação dos seus deveres, como igreja, perante Deus
dependem disso.
(5.) para a sua conservação na fé, amor e
fecundidade, juntamente com todos os deveres que
lhes pertencem etc.
Deveria ser grandemente desejado que todos aqueles
que tomam sobre si esse ofício pastoral, considerem e
compreendam bem quão grande e necessária parte do seu
trabalho e dever consiste em sua fervorosa e contínua
oração pelos seus rebanhos. É a única maneira instituída
pela qual eles podem, em virtude de seu ofício, abençoar
suas congregações. Mas pelo próprio cumprimento de sua
função de orar, eles também acharão seus corações e
mentes cada vez mais cheios de amor, e engajados
diligentemente em todos os outros deveres do seu ofício. E
eles serão motivados para o exercício de toda a graça, para
com toda a igreja, em todas as ocasiões. Sempre que algum
deles é negligente nesse dever, todas as outras tarefas que
realizar para a igreja serão influenciadas por falsas
motivações, e isso não terá peso na balança do santuário.
3. A administração dos selos da aliança está

confiada a eles, como mordomos da casa de Cristo;

pois a eles é confiada a ministração impositiva da

Palavra, à qual está ligada a administração dos selos.


Sua finalidade principal é a confirmação especial e
aplicação da Palavra pregada. E, nisso, há três coisas que
eles devem observar:
(1.) O tempo e os períodos da sua administração
para edificação da igreja, especialmente quanto à
Ceia do Senhor, cuja frequência é exigida.
É dever dos pastores considerar todas as circunstâncias
necessárias para sua administração no que tange ao tempo,
lugar, frequência, ordem e decência.
(2.) Guardar rigorosamente a instituição de
Cristo, quanto à forma e modo de sua administração.
A introdução gradual de ritos e cerimônias não
instituídas na celebração da ordenança da Ceia do Senhor
resultou na ampla idolatria da missa. Apenas nisso, então, e
não em saudações, adulações e vestimenta, repousa a
glória e a beleza destas administrações: a saber, que elas
expressam a instituição de Cristo e são compatíveis com
ela, bem como nada mais se faz nelas exceto aquilo em
expressa obediência à sua autoridade. “Porque eu recebi do
Senhor o que também vos ensinei”, diz o apóstolo neste
caso (1 Coríntios 11:23).
(3.) Tomar cuidado para que essas coisas
sagradas sejam administradas apenas àqueles que
estão aptos e dignos, de acordo com a regra do
Evangelho.
Aqueles que impuserem aos pastores a administração
promíscua dessas ordenanças divinas ou a aplicação dos
selos a todos, indiferenciadamente, destitui-os de metade
de seu dever e ofício ministerial.
Mas aqui, alguns perguntam: “Se uma igreja não tem
pastor no momento, nem um presbítero de ensino com
poder pastoral, não pode ela, temporariamente, delegar e
nomear a administração dessas ordenanças especiais à
algum membro qualificado da igreja que esteja apto para
sua administração externa?”. Para o proveito de alguns, eu
hei de examinar isso.
Nenhuma igreja está completamente organizada sem
oficiais de ensino.
Uma igreja que não está completamente organizada
não pode estar completa nas administrações, porque o
poder das administrações depende, proporcionalmente, do
poder da ordem. Ou seja, o poder da igreja depende do
estado da igreja. Logo, o primeiro dever de uma igreja sem
oficiais é obtê-los, de acordo com a regra. E buscar
completar as administrações sem uma completude prévia
da sua organização é contrário à mente de Cristo (Atos
14:23; Tito 1:5: “Por esta causa te deixei em Creta, para que
pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de
cidade em cidade estabelecesses presbíteros”). A prática
proposta é, portanto, irregular e é contrária à mente de
Cristo.
A ordem da igreja é dupla — é essencial e é orgânica.
A ordem essencial da igreja, com o poder que emana
dessa ordem, serve primeiro para sua preservação, e em
segundo lugar para a sua perfeição.
(1.) Para sua preservação, na admissão e exclusão de
membros;
(2.) Para sua perfeição, na eleição dos oficiais.
Nenhuma parte desse poder que pertence à essência da
igreja pode ser delegada; o poder deve ser cumprido por
todos os membros da igreja. Eles não podem delegar a
alguns o poder para admitir membros, de tal forma que isso
não seja um ato de toda a igreja. Não podem delegar a
alguém o poder para eleger oficiais, tampouco podem
delegar qualquer outra coisa que essencialmente pertença a
eles enquanto igreja. A razão é que as coisas que
pertencem à essência de algo, pertencem-lhe formalmente,
e por isso não podem ser transferidas.
A igreja, portanto, não pode delegar o poder e a
autoridade solicitada, tomando-os como pertencentes ao
poder da ordem, considerando a igreja em sua essência,
pois isso não procede.
Se a igreja pode delegar ou substituir outros para
ministrar todas e quaisquer ordenanças, sem presbíteros ou
pastores, então pode aperfeiçoar os santos e completar a
obra do ministério sem eles, o que é contrário a Efésios
4:11-12; e, ainda mais, tornaria o ministério apenas
conveniente, e não absolutamente necessário para a igreja,
o que é contrário à sua instituição.
Uma igreja local, na sua ordem orgânica, e não na sua
ordem essencial, é o único agente adequado de todas as
ordenanças. Isso porque, na sua ordem essencial, ela nunca
pode se beneficiar de todas as ordenanças, especificamente
o ministério pelo qual é constituída como orgânica. Se
pudesse, então a igreja em sua ordem essencial seria de
fato o único agente adequado de todas as ordenanças.
Embora a igreja seja o único agente das ordenanças do
Evangelho, não é o único paciente delas; antes, os
pacientes são variados. Por exemplo:
(1.) A pregação da Palavra: seu primeiro paciente é o
mundo, para sua conversão; seu paciente seguinte consiste
naqueles que professam a Cristo, para a sua edificação.
(2.) O batismo: seu paciente não é nem o mundo nem
os membros de uma igreja local, mas apenas aqueles que
professam a Cristo, juntamente com aqueles que são
contados com eles por designação de Deus — isto é, a sua
descendência infantil.
(3.) A ceia: seu paciente é apenas uma igreja local, que
é reconhecida e pode ser aprovada para administrar essa
ordenança que é um fim especial de sua instituição; a
necessidade de disciplina depende disso.
As ordenanças das quais a igreja é o único agente e o
único paciente não podem ser administradas com a devida
autoridade, exceto por oficiais da igreja,
(1.) Porque ninguém, além dos ministros de Cristo, tem
autoridade, enquanto tal, em Sua casa e para com ela.
(2.) Porque é um ato de ofício de autoridade
representar a Cristo para toda a igreja, e alimentar o
rebanho inteiro por meio dessa autoridade.
Não há registros de tal prática entre as igrejas de Deus
que observaram a ordem — nem na Escritura, nem em toda
a antiguidade.
Mas é objetado, por aqueles que permitem essa prática
que, “Se a igreja pode nomear ou enviar uma pessoa a
pregar para os outros, ou nomear um irmão para pregar si
mesma, então pode designá-lo para administrar a
ordenança da ceia”.
Resposta: Há um erro na suposição. A igreja, isto é, o
corpo da igreja, não pode enviar, com a devida autoridade,
qualquer irmão para pregar. Há duas coisas exigidas para
isto: a conjunção de dons com a transmissão do ofício. A
igreja não pode conceder nenhum dos dois a alguém que é
enviado. Mas quando Deus concede dons a alguém pelo Seu
Espírito e o chama por Sua providência, a igreja apenas
consente com isso, não transmitindo qualquer autoridade
para a pessoa, mas orando por uma bênção sobre sua obra.
É o mesmo caso quando desejam um irmão para
ensinar entre eles. O dever é moral em sua natureza; os
dons e chamados vêm de Deus somente; apenas a ocasião
de exercer seus dons é administrada pela igreja.
Ainda é acrescentado, pelas mesmas pessoas, que “Se
um irmão ou alguém que é somente um discípulo pode
batizar, então ele também pode administrar a Ceia do
Senhor quando a igreja o desejar”.
Resposta: A suposição não é admitida nem provada;
mas ainda há uma diferença entre essas ordenanças — o
paciente de uma são aqueles que, em geral, que professam
a Cristo; o paciente da outra são aqueles que professam a
Cristo enquanto membros de uma igreja local.
Mas voltando,
4. Compete aos pastores de igrejas preservar

a verdade ou doutrina do Evangelho recebido e

professado na igreja, e defendê-la contra toda

oposição.
Essa é uma das principais finalidades do ministério, e
um dos principais meios de preservação da fé que uma vez
foi dada aos santos. Isso está confiado especialmente aos
pastores de igrejas, como o apóstolo repete, de modo
frequente e enfático, tal tarefa a Timóteo, e por ele a todos
aqueles a quem a dispensação da Palavra foi confiada. Ele
dá a mesma tarefa para os presbíteros da igreja em Éfeso. O
que ele diz de si mesmo, “o evangelho da glória de Deus
bem-aventurado, que me foi confiado” (1 Timóteo 1:11), é
verdadeiro a respeito de todos os pastores de igrejas, de
acordo com sua medida e chamado; e todos eles deveriam
ter por alvo a avaliação de seu ministério nisto: “Combati o
bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”
(2 Timóteo 4:7). A igreja é a “coluna e firmeza da verdade”
(1 Timóteo 3:15); e assim o é principalmente em seu
ministério. A negligência pecaminosa desse dever foi a
causa da maioria das heresias perniciosas e dos erros que
infestaram e arruinaram a igreja. Muitos daqueles cujo
dever era preservar íntegra a doutrina do Evangelho em sua
profissão pública, “falaram coisas perversas, para atraírem
os discípulos após si” (Atos 20:30). Bispos, presbíteros e
mestres públicos foram instigadores de heresias, razão pela
qual esse dever deve ser especialmente observado nestes
tempos, quando as verdades fundamentais do Evangelho
são impugnadas por todos os lados, por todos os tipos de
adversários.
Uma série de coisas são necessárias para tanto, tais
como:
(1.) Um entendimento claro, sadio e abrangente
de toda a doutrina do Evangelho,
alcançado por todos os meios que são úteis e
comumente prescritos para esse fim, especialmente pelo
estudo diligente da Escritura, com fervorosa oração pela
iluminação e entendimento. Os homens não podem
preservar para os outros aquilo que eles mesmos ignoram.
A verdade pode ser perdida por fraqueza assim como por
maldade, e a falha nisso, em muitos, é deplorável.
(2.) Amor pela verdade que eles tanto
aprenderam e compreenderam.
A menos que olhemos para a verdade como uma pérola,
como algo valorizado acima de tudo, como algo que deve
ser comprado a qualquer preço e como aquilo que é melhor
do que todo o mundo, não nos esforçaremos para preservá-
la com a diligência devida. Alguns estão prontos para
romper com a verdade facilmente, ou se tornar indiferentes
a ela; temos uma multidão de exemplos disso em nossos
dias. Seria fácil dar exemplos de várias verdades
evangélicas importantes, pelas quais nossos antepassados
na fé lutaram com toda seriedade, e estavam prontos para
selar com o seu próprio sangue, mas que agora são
totalmente desconsideradas e desafiadas por alguns que
pretendem sucedê-los em seu ofício. Se os ministros não
tiverem uma percepção do poder daquela verdade em suas
próprias almas, e se não saborearem da sua bondade, então
não se deve esperar o desempenho desse dever por parte
deles.
(3.) Um cuidado consciencioso e temor de
oferecer apoio ou encorajamento a opiniões novas,
especialmente aquelas que se opõem a qualquer
verdade cujo poder e eficácia têm sido experimentados
entre aqueles que creem. A curiosidade vã, as conjecturas
ousadas e a prontidão para propalar sua própria imaginação
causaram problemas e danos nada desprezíveis à igreja.
(4.) Erudição e capacidade mental para discernir e
refutar as oposições dos adversários da verdade
e, assim, tapar suas bocas e convencer aqueles que a
questionam (Cf. Tito 1:9-11).
(5.) A sólida confirmação das verdades mais
importantes do Evangelho, nas quais todas as outras
verdades se explicam, em seu ensino e ministério.
Os homens podem e muitas vezes prejudicam e, de
fato, traem a verdade pela fraqueza de pleito por ela.
(6.) Manter vigilância diligente sobre seus
próprios rebanhos contra a astúcia dos sedutores
forasteiros,
e contra qualquer raiz de amargura do erro que venha a
surgir entre eles.
(7.) A assistência conjunta de presbíteros e
mensageiros de outras igrejas com as quais eles
estão em comunhão,
ao declarar a fé que todos eles professam; devemos
falar mais amplamente sobre isso mais tarde.
É evidente que a erudição, o trabalho, o estudo, as
dores, a capacidade e o exercício das faculdades racionais
são normalmente necessários para o correto cumprimento
desses deveres. Naquilo em que os homens podem ser úteis
para a igreja em outras coisas, mas são defeituosos nestas
coisas, é apropriado que andem e ajam de modo tanto
circunspecto quanto humilde, muitas vezes desejando e
aderindo ao conselho daqueles a quem Deus confiou mais
talentos e maiores capacidades.
5. Pertence à sua função e ao seu ofício

trabalhar diligentemente para conversão de almas a

Deus.
Os meios ordinários de conversão foram entregues à
igreja, e o dever da igreja é observá-los. De fato, um dos
principais objetivos da instituição e da preservação de
igrejas é a conversão das almas. Quando não houver mais
nenhumas a serem convertidas, não haverá mais igreja na
terra. Ampliar o reino de Cristo, difundir a luz e o sabor do
Evangelho, ser subserviente ao chamado dos eleitos e
reunir todas as ovelhas de Cristo ao Seu aprisco, são coisas
que Deus planeja por meio de Suas igrejas neste mundo.
Agora, a causa principal e instrumental de todas essas
coisas é a pregação da Palavra; e isso está confiado aos
pastores das igrejas. É verdade, os homens podem ser (e
frequentemente são) convertidos a Deus pela eventual
ministração da Palavra por aqueles que não são chamados
ao ofício. Pois é o próprio Evangelho que é o “poder de Deus
para a salvação” (Romanos 1:16), não quem quer que o
administre. Ela tem sido eficaz para esse fim, mesmo no
necessário e eventual ensino de mulheres. Mas
frequentemente ela é eficaz no exercício dos dons
espirituais por aqueles que não são declarados oficiais da
igreja, embora isso não impeça sua ministração. Mas a
ministração do glorioso Evangelho do Deus bem-
aventurado, no que concerne a todos os Seus propósito,
está confiada aos pastores da igreja; e o primeiro alvo da
pregação do Evangelho é a conversão dos homens deste
mundo. E isso é verdadeiro na pregação de todos aqueles a
quem Cristo confiou esse trabalho.
O trabalho dos apóstolos e evangelistas trazia esta
ordem: Em primeiro lugar, eles deveriam fazer de homens,
discípulos, por meio da pregação do Evangelho para
conversão; e essa era sua principal função, como Paulo
testifica. Nisto, eles foram gloriosamente úteis ao
estabelecer as fundações do reino de Cristo por todo o
mundo. A segunda parte do seu trabalho era ensinar
aqueles que eram convertidos, e fazer discípulos que fariam
e observariam tudo o que Cristo lhes havia ordenado. No
cumprimento dessa parte da sua comissão, eles reuniram
os discípulos de Cristo em igrejas sob autoridade de seus
próprios oficiais ordinários. Embora o trabalho desses
oficiais, pastores e mestres ordinários seja da mesma
natureza do trabalho dos apóstolos e evangelistas, o seu
método é diferente. Pois a sua primeira obra ordinária é
conduzir e ensinar todos os discípulos de Cristo a
praticarem e observarem todas as coisas que designadas
por Ele — isto é, a pregar e a supervisionar os rebanhos
locais aos quais estão relacionados. Entretanto, eles não
são, por isso, dispensados de uma participação na outra
parte do trabalho — a pregação da Palavra para a conversão
das almas.
Eles não estão vinculados ao método dos apóstolos e
evangelistas; de fato, em virtude de seu ofício, eles são
normalmente excluídos disso. Depois que um homem é
chamado para ser um pastor de uma igreja local, não é seu
dever deixar essa igreja e sair, para cima e para baixo,
pregando para a conversão de estranhos. Digo,
ordinariamente não deve ser assim. Em muitos casos, pode
ocorrer que a edificação de alguma igreja local deva dar
lugar à glória de Cristo no que concerne ao chamado dos
membros da igreja universal. Mas, no cumprimento do ofício
pastoral, existem já muitas oportunidades para pregar a
palavra para a conversão das almas, tais como:
(1.) Quando quaisquer pessoas não convertidas
entram nas reuniões da igreja, e são transformadas
pelo poder da Palavra.
Nós experimentamos isso todos os dias. Um homem,
pregando para uma congregação, ao mesmo tempo e no
mesmo lugar, não pode pregar com autoridade ministerial
para aqueles que são da igreja à qual ele está vinculado e
pregar aos outros apenas em virtude de um dom espiritual
que ele recebeu. Nenhum homem pode distingui-los em sua
própria consciência — e não há nenhuma regra ou razão
para fazê-lo. Pastores, no que diz respeito ao todo de seu
ofício e a todos os seus deveres— muitos dos quais podem
ter somente a igreja como objeto — são ministros, em ofício,
para a igreja; portanto, são ministros da igreja. No entanto,
eles também são ministros de Cristo, e é por Ele, e não pela
igreja, que a pregação do Evangelho lhes é confiada. E tanto
lhes é confiada, em virtude de seu ofício, que devem usá-la
para todas as suas finalidades segundo a maneira e o
método de Cristo — sendo a conversão dos pecadores uma
dessas finalidades. Nenhum homem pode pensar a si
mesmo como tendo uma capacidade dupla enquanto está
pregando para a mesma congregação, e nenhuma
experiência humana pode realizá-lo.
(2.) Na pregação ocasional em outros lugares,
para os quais o pastor de uma igreja pode ser
chamado e dirigido pela providência divina.
Embora não pensemos na ficção de uma personagem
indelével seguindo ordens sagradas, não pensamos também
que o ofício pastoral seja tal que um homem deva deixá-lo
para trás a cada vez que sai de casa; tampouco está em seu
próprio poder, ou no poder de todos os homens do mundo,
despojá-lo desse ofício, a menos que seja dele dispensado
ou deposto pelo próprio Cristo, pelo comando da Sua
Palavra. Onde quer que um verdadeiro ministro pregue, ele
prega como ministro; pois como ministro, a ministração do
Evangelho é confiada a ele quanto a todas as suas
finalidades, dentre as quais a finalidade principal, como foi
dito, é a conversão das almas. Na verdade, isso é de tal
gravidade que o conforto e a edificação das igrejas locais
devem lhe ceder lugar. Quando, portanto, há grandes
oportunidades e chamados providenciais para pregar o
Evangelho para a conversão das almas, e sendo a colheita
tão grande que não há trabalhadores o suficiente, é lícito,
na verdade, é o dever de pastores de igrejas locais deixar a
sua presença constante em seu encargo pastoral nessas
igrejas, pelo menos por um período, para que se apliquem à
pregação mais pública da Palavra para a conversão das
almas dos homens. Tampouco qualquer igreja local está
indisposta a isso, caso entenda que toda a finalidade das
igrejas locais é tão somente a edificação da igreja universal,
e que o seu benefício e privilégio é dar lugar à glória de
Cristo em tudo. O bom pastor deixará as noventa e nove
ovelhas para buscar uma que vagueia; e certamente
podemos deixar algumas por algum tempo, para buscar
uma grande multidão das que vagueiam, quando somos
chamados para isso pela providência divina — e eu poderia
desejar sinceramente que fôssemos provados nisso neste
tempo.
Os ministros que, merecidamente, têm sido mais
notórios nos últimos tempos, nesta e nas nações vizinhas,
foram aqueles cujo ministério Deus fez eminentemente
bem-sucedido para a conversão das almas. Afirmar que eles
não fizeram o seu trabalho como ministros, em virtude de
seu ofício ministerial, é jogar fora a coroa e destruir a maior
glória do ministério. De minha parte, se eu não me achasse
compelido a pregar enquanto ministro, e enquanto ministro
autorizado em todos os lugares e em todas as ocasiões,
quando eu sou chamado a isso, penso que não pregaria
muito mais neste mundo. Tampouco sei qual regra seguem
aqueles que prosseguem na constante pregação pública por
muitos anos e, no entanto, não desejam nem pretendem ser
chamados para qualquer ofício pastoral na igreja. Mas não
devo insistir no debate dessas coisas aqui.
6. Pertence a eles, por conta da sua função

pastoral, o estar pronto, disposto e capaz para

confortar, aliviar e revigorar aqueles que são

tentados, perturbados, exauridos por temores e

motivos de desolamento em tempos de provação e

desvios.
“Uma língua erudita” é necessária a eles, para que
saibam dizer “uma boa palavra ao que está cansado” (Isaías
50:4). Uma excelente qualificação de nosso Senhor Jesus
Cristo, no exercício da Sua função sacerdotal agora no Céu,
é que Ele é sensível às nossas fraquezas e Ele sabe como
socorrer os que são tentados. Todo o seu rebanho neste
mundo é uma comitiva de homens tentados; Sua própria
vida na terra é por Ele chamada de “hora da tentação”
(Apocalipse 3:10), e aqueles encarregados de Seu rebanho
abaixo dele deveriam ter consciência de suas fraquezas e se
empenhar de uma maneira especial para socorrer os que
são tentados. Mas sempre existem alguns dentre eles que
são lançados em escuridão e desolações de uma forma
peculiar: alguns estão à beira de sua conversão a Deus,
conquanto têm um profundo senso do terror do juízo
Senhor, da severidade da condenação e da incerteza de sua
condição; alguns são reincidentes no pecado e omissões de
seus deveres; alguns estão passando por grandes, doloridas
e duradouras aflições; alguns estão lidando com
acontecimentos prementes, urgentes e específicos; alguns
estão enfrentando uma ausência; alguns estão sofrendo as
bofetadas de Satanás e as sugestões de pensamentos
blasfemos em suas mentes, juntamente com muitas outras
ocasiões de natureza semelhante. Ora, as perturbações,
desolações, desânimos e temores que surgem nas mentes
de pessoas nessas experiências e tentações são vários,
muitas vezes persuadidos e fortificados com argumentos
astutos e falsas aparências, desorientando as almas dos
homens à beira do desespero e da morte.
É próprio do ofício e do dever dos pastores:
(1.) Ser capaz de compreender corretamente os
vários casos desses tipos que ocorrerão,
a partir desses princípios e fundamentos da verdade e
da experiência que trarão uma confiança apropriada na sua
aplicação prudente, visando o alívio dos envolvidos – isto é,
ter “uma língua erudita, para que eu saiba dizer a seu
tempo uma boa palavra ao que está cansado” (Isaías 50:4).
Isso não vai ser feito por uma coleção e classificação de
casos, o que, contudo, ainda é útil e tem seu lugar; pois
dificilmente encontraremos dois casos do mesmo que
possam ser classificados exatamente pela mesma regra,
pois todos os tipos de circunstâncias lhes conferem
variedade. Mas, para isso, é preciso habilidade,
entendimento e experiência quanto à natureza da obra do
Espírito de Deus sobre as almas dos homens; do conflito
que existe entre a carne e o Espírito; dos métodos e das
artimanhas de Satanás; das artimanhas dos principados e
potestades ou espíritos malignos que estão nos lugares
celestiais; da natureza, efeitos e finalidades das ausências
divinas — juntamente com a sabedoria para aplicar esses
princípios ou para fazer remédios apropriados para cada dor
ou enfermidade. Essas coisas são desprezadas ou
negligenciadas por alguns, e seguidas por outros apenas em
casos de consciência, quando se sabe que alguns
perverteram terrivelmente as suas próprias consciências e
as dos outros, para escândalo e ruína da religião enquanto
prevaleceram. Não digo isso para debater o quão úteis,
nessas coisas, podem ser esses livros escritos sobre casos
de consciência; eles podem ser de grande utilidade para
aqueles que sabem como usá-los corretamente. Mas os
meios apropriados pelos quais os pastores e os mestres
devem obter essa habilidade e compreensão são o estudo
diligente das Escrituras e a meditação sobre elas, oração
fervorosa, experiência nas questões espirituais e tentações
em suas próprias almas — com uma observação prudente
quanto à maneira como Deus lidou com outros, e às
maneiras pelas quais se faz oposição à obra de Sua graça
neles. Sem essas coisas, todas as pretensões a essa
capacidade e dever do ofício pastoral são vãs; razão pela
qual todo esse trabalho é tão negligenciado.
(2.) Estar pronto e disposto a assistir os casos
especiais que possam lhes ser trazidos,
e não olhar para os mesmos como distrações
desnecessárias; antes, uma dedicação adequada a eles é
parte central de seu ofício e dever. Desestimular,
desencorajar qualquer de procurar alívio de confusões
dessa natureza, tratá-los com uma aparente morosidade ou
indiferença é o mesmo que rejeitar o coxo, afastar o doente
e de modo nenhum expressar o cuidado de Cristo para com
o seu rebanho (Isaías 40:11). Na verdade, é dever deles dar
atenção àqueles que possam estar tão perturbados,
procurá-los e lhes dar o seu conselho e orientação em todas
as ocasiões.
(3.) Suportar com paciência e ternura a fraqueza,
a ignorância, a apatia e a sua hesitação em crer e
para aceitar reprimenda – sim, talvez até mesmo
suportar a impertinência daqueles que assim são
tentados.
Essas coisas vão abundar entre eles, em parte pelas
suas fraquezas naturais, muitos sendo fracos e talvez
perversos, mas especialmente pela natureza de suas
tentações, propensas a perturbar e inquietar suas mentes, a
enchê-los de pensamentos confusos e fazê-los irascíveis
com tudo quanto lhes concernirem espiritualmente. Se não
se exercer para com eles muita paciência, mansidão e
condescendência, rapidamente serão desviados do
caminho.
No exercício de todo o ofício pastoral, não há dever que
seja de maior importância do que esse, nem com o qual o
Senhor Jesus Cristo esteja mais preocupado, nem que seja
mais eminentemente adequado à natureza do próprio ofício.
Mas trata-se de um trabalho ou dever que, pelas razões
mencionadas, deve ser acompanhado do exercício de
humildade, paciência, autonegação e sabedoria espiritual —
portando experiência com desvios exaustivos em outras
situações. Alguns dos antigos tomaram para si o
gerenciamento da conduta das almas dos homens e
transformaram toda essa parte de seu ofício e dever em um
artifício que chamaram de “confissão auricular”,[16] pela qual
eles deturparam as consciências dos cristãos para promover
seu próprio conforto, riqueza, autoridade e,
frequentemente, finalidades ainda piores.
7. Um sofrimento compassivo para com todos

os membros da igreja em todas as suas provações e

tribulações, sejam internas ou externas, é próprio do

desempenho de suas funções;


nada os torna mais semelhantes a Jesus Cristo, a quem
é seu dever principal representar perante a igreja. A visão e
a consideração, pela fé, da glória de Cristo na Sua
compaixão para com os Seus membros sofredores é a
principal fonte de consolo para a igreja em todas as suas
aflições. E o mesmo espírito, o mesmo pensamento nisso,
precisa estar em todos a quem o ofício pastoral foi confiado,
conforme a sua medida. Assim o apóstolo expressa a
respeito de si mesmo: “Quem enfraquece, que eu também
não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu me não
abrase?” (2 Coríntios 11:29).
A menos que essa compaixão e bondade acompanhem
todo o desempenho de seu ofício, não se pode dizer, desses
homens, que sejam pastores evangélicos; nem se pode
dizer, de qualquer maneira, que as ovelhas sejam deles. Há
aqueles que talvez almejem o ofício pastoral para viver na
riqueza e no prazer, apesar dos sofrimentos e tentações de
seu rebanho, ou dos pobres entre eles, ou que estão ligados
a igrejas nas quais é impossível que estejam familiarizados
com o estado da maior parte dos membros; isso não
corresponde à instituição do seu ofício e nem ao propósito
de Cristo para ele.
8. Cuidado com os pobres e visitação dos

doentes são partes deste dever, comumente

reconhecido, embora comumente negligenciado.

9. O cuidado prioritário do governo da igreja

compete aos seus pastores.


Este é o segundo encargo geral do poder e dever desse
ofício, ao qual pertencem muitas coisas específicas.
Contudo, porque tratarei do governo da igreja em si mesmo
distintamente depois, não insistirei aqui.
10. Há uma comunhão a ser mantida entre

todas as igrejas da mesma profissão e fé em

qualquer nação.
Em que consiste essa comunhão, e do que ela
necessita, será dito mais tarde. Compete aos seus pastores
o cuidado fundamental com ela, para a edificação das
igrejas. Quer isso seja feito por cartas de aconselhamento
mútuo, de felicitações ou consolo, ou no testemunho de
comunhão com os que foram chamados ao pastorado
naquelas igrejas; quer seja feito mediante a convocação em
sínodos para consulta de seus interesses comuns (algo que
constituiu grande parte do governo eclesiástico primitivo), é
dever dos pastores comparecer e cuidar disso.
11. Vou concluir com algo a respeito desses

poucos exemplos do encargo e do dever pastoral,

sem o qual nada de todo o resto será inútil para os

homens, nem será aceito pelo grande pastor, Jesus

Cristo.
Eu me refiro a uma conversa santa, exemplar e humilde,
em toda a santidade e honestidade. As regras e preceitos
da Escritura, os exemplos de Cristo e Seus apóstolos, junto
com os exemplos dos bispos ou pastores das igrejas
primitivas — e a natureza da coisa em si, juntamente com a
religião que professamos — inegavelmente provam que
esse dever é necessário e indispensável para um ministério
evangélico. Seria fácil encher um livro, para provar esse
ponto, com exemplos antigos com testemunhos da Escritura
e dos primeiros escritores entre os cristãos, com exemplos
de fracassos públicos e privados, e com demonstrações
evidentes de que a ruína da religião cristã, na maioria das
nações onde ela foi professada — e, assim, a ruína das
próprias nações — procedeu da ambição, orgulho, luxúria,
impureza, profanação e outras formas de conversas imorais
daqueles que foram chamados de “clero”. Vemos a partir de
observação diária — e isso é algo escrito com os raios do sol
— que a religião não fará progresso e nem será
aperfeiçoada entre o povo se qualquer coisa for feita nas
igrejas sem que os seus pastores, ou aqueles que são
considerados pastores, não sejam exemplares na obediência
ao Evangelho e na santidade. Se as pessoas admitidas
neste ofício forem levianas ou profanas em seus hábitos,
roupas e conversas; se forem corruptas em sua
comunicação, repugnantes e estéreis quanto ao seu
discurso espiritual; se elas forem cobiçosas, opressoras e
litigiosas; se forem negligentes quanto a seus deveres
sagrados em suas próprias famílias, e portanto incapazes de
incentivar os outros à tal diligência; e ainda mais, se eles
são abertamente sensuais, imorais e pervertidos — então
podemos dar adeus a toda a glória e poder da religião entre
as pessoas que estão comprometidas com suas
responsabilidades.
Para lidar com essa característica (ou complemento) do
ofício pastoral, seria necessário considerar distintamente e
explicar todas as qualificações prescritas pelo apóstolo
como necessárias para bispos ou presbíteros, evidenciadas
como necessárias antes de serem adequadamente
chamados para esse ofício;[17] mas me engajar nessa tarefa
não condiz com meu propósito nesta obra.
Considerações sobre os Deveres dos
Pastores da Igreja

Esses, acima, são alguns exemplos das coisas em que


consiste o dever do ofício dos pastores de igreja. Mas elas
não passam de algumas delas; e apenas indicadas, não
seguidas e enfatizadas pela consideração de todas aquelas
tarefas específicas, pela forma de sua execução, modo de
gestão, motivos e aplicações, seus defeitos e causas. Isso
exigiria uma grande dissertação. Mas elas são suficientes
para o nosso presente propósito; e podemos deduzir a partir
deles as seguintes e breves considerações:
1. Uma devida meditação e visão dessas coisas,
como proposto na Escritura, é suficiente para fazer o
mais sábio, o melhor o mais diligente dos homens no
cumprimento do ofício pastoral, clamar com o
apóstolo: “para estas coisas quem é idôneo?” (2
Coríntios 2:16).
Isso os fará olhar com bons olhos para o seu chamado e
ingresso nesse ofício, de modo que somente isso os apoiará
e os justificará ao aceitá-lo. Pois a percepção da
insuficiência não pode desencorajar totalmente alguém de
aceitar um trabalho para o qual ele está certo de que Cristo,
o Senhor, o chama. Pois quando Cristo nos chama a uma
tarefa, Ele dá força apropriada para realizá-la. E quando
dizemos, sob uma profunda consciência de nossa própria
fraqueza: “para estas coisas quem é idôneo?”, Ele diz: “A
minha graça te basta” (2 Coríntios 12:9).
2. Embora todas as coisas mencionadas
pertençam clara, evidente e inegavelmente ao
desempenho do ofício pastoral, na verdade
descobrimos pelo sucesso [ou pela falta dele] que
elas são muito pouco levadas em conta pela maioria
daqueles que buscam o ofício.
E a atual ruína da religião em todos os lugares, quanto
ao seu poder, beleza e glória, decorre principalmente deste
motivo: que multidões daqueles que aceitaram esse ofício
não são, de maneira alguma, aptos para ele, nem sequer
conscientemente observam ou diligentemente realizam as
funções que fazem parte dele. Sempre foi e sempre será
verdade, em geral, que “tal pastor, tal povo”.
3. Uma prestação de contas desse ofício e do seu
exercício deverá ser feita, no último dia, a Jesus
Cristo.
Ter levado isso em conta influenciou poderosamente os
próprios apóstolos e todos os primeiros pastores das igrejas.
Isso nos é apresentado frequentemente, e muitas
advertências nos são dadas, na Escritura. No entanto, é
evidente que são poucos os que dão a devida importância a
isso. No grande dia da visitação de Cristo, Ele irá indagar
sobre tópicos tais como aqueles aqui apresentados e outros
que são expressos na Escritura, e de modo nenhum sobre
aqueles que hoje são inquirir em nossas visitas episcopais. E
se eles puderem, sem que se ofendam, ser lembrados de
seu verdadeiro interesse e preocupação enquanto de posse
dos lugares que ocupam na igreja, então eu gostaria de
aconselhá-los a adequar as perguntas de suas visitas
àquelas que eles devem saber que o Senhor Jesus fará no
grande dia da sua visita, a qual se aproxima. Isso me
parece, no mínimo, razoável. Enquanto isso, para aqueles
que desejam prestar contas com alegria e confiança, e não
com pesar e confusão, é seu dever e sabedoria ter sempre
em mente o que o Senhor Cristo exige deles no
desempenho das suas funções. Obter benefícios
eclesiásticos,[18] desempenhar funções legais, por si mesmos
ou por meio de outros, não é plenamente compatível com
aquilo a que os pastores de igrejas foram chamados a fazer.
4. É também óbvio, a partir disso, o quão
contraditório é, a esse ofício e ao seu devido
cumprimento, que qualquer homem se encarregue da
ocupação pastoral em mais de uma igreja,
especialmente se elas forem distantes uma da outra.
Esse é um mal como o de prognósticos matemáticos em
Roma — sempre condenados e sempre mantidos.[19] Mas
uma compreensão dos deveres atribuídos a cada pastor,
cujo desempenho diligente deverá relatar no último dia,
excluirá essa prática de qualquer aprovação nas mentes
daqueles que forem sóbrios. No entanto, tanto faz ter dez
igrejas ao mesmo tempo quanto ter apenas uma, se o dever
de um pastor para com ela nunca for desempenhado.
5. Todas as igrejas fariam bem em considerar o
peso e o fardo que recai sobre os seus pastores e
mestres no desempenho das suas funções, de modo
que possam ser constantes em orações e súplicas
fervorosas por eles;
como também para que lhes provejam com o que as
cabe prover, de forma que esses pastores e mestres possam
estar desprovidos de dificuldades ou preocupações com as
coisas deste mundo.
6. Pode-se objetar: “Há tantas tarefas
necessárias para o cumprimento desse ofício, e de
tão variados tipos e classes, que se exigem vários
dons e habilidades para a sua devida execução.
Parece muito difícil encontrá-los ao mesmo tempo em
qualquer pessoa, em um grau considerável, de modo que é
difícil conceber como o próprio ofício deva ser devidamente
executado”. Eu respondo:
(1.) A finalidade, tanto do ofício quanto de sua
execução, é a devida edificação da igreja;
isso, portanto, lhes dá a sua medida. Quando isso é
alcançado, o ofício é devidamente executado, ainda que os
dons que habilitam os homens para isso não sejam
eminentes.
(2.) Quando um homem é chamado para esse
ofício e se dedica sinceramente à sua devida
execução, se ele é notoriamente imperfeito em
relação a seu dever ou a quaisquer de seus ou
deveres específicos, essa falha deve ser suprida,
chamando para ajudá-lo em seu ofício qualquer outro
que seja qualificado para suprir aquilo, para a
edificação da igreja.
O mesmo deve ser dito a respeito daqueles pastores
que, por causa da idade ou da fraqueza física, estão
inabilitados a cumprir qualquer parte do seu dever; pois a
edificação da igreja ainda é, em todas essas coisas, o que
deve ser provido primeiro.
7. Pode-se perguntar: qual é o estado dessas
igrejas, e que relação devemos ter com elas no que
diz respeito à comunhão?
Seus pastores serão, evidentemente, imperfeitos ou
negligentes nessas coisas se não forem ajudados em
alguma medida apropriada. E podemos, em particular, dar o
exemplo do primeiro e do último dos deveres pastorais que
frisamos acima. Suponha que um homem não é, de modo
nenhum, capaz de pregar a Palavra para a edificação
daqueles que supostamente seriam seu rebanho; ou que,
mesmo possuindo habilidade, não se dedica nem se
dedicará à Palavra e à oração; ou que ele não irá labutar na
Palavra e da doutrina, para grande prejuízo da edificação da
igreja. E suponha que a mesma pessoa seja visivelmente
falha na condução de uma conversa irrepreensível; ou que,
ao contrário, coloca a pedra de tropeço de seus próprios
pecados e loucuras diante dos olhos dos outros. Como
devemos julgar o seu ministério e o estado daquela igreja,
da qual ele é parte integrante enquanto governante? Eu
respondo:
(1.) Eu não acredito que compete a qualquer
igreja verdadeiramente conferir o ofício pastoral, em
virtude de qualquer ordenação que seja, a qualquer
um que seja aberta e evidentemente destituído de
todas aquelas qualificações citadas que a Escritura
requer naqueles que são chamados a esse ofício.
Há, de fato, uma margem a ser permitida ao julgá-los
em tempos de necessidade e de grande penúria de mestres
capazes, de forma que que as pessoas no santo ministério
buscam a glória de Deus e a edificação da igreja de acordo
com sua capacidade; mas, afora isso, o suposto ofício é
insignificante.
(2.) Nos casos de admissão dessas pessoas, por
ignorância ou erro, ou ainda pela usurpação de poder
indevido sobre as igrejas ao impor ministros a elas,
não há futilidade absoluta nas suas administrações
até que sejam descobertos e condenados pela regra
e pela lei de Cristo.
Mas se, frente a essas evidências, as pessoas se
associarem voluntariamente a tais homens, então elas são
participantes dos pecados desses homens e fazem o que
podem para excomungarem a si mesmas.
(3.) Quando essas pessoas são, por quaisquer
meios, colocadas como pastores em quaisquer igrejas
ou sobre elas, e não há meios para a sua remoção ou
para uma reforma, então é lícito, e é dever de todo
aquele que cuida de sua própria edificação e
salvação, retirar-se da comunhão de tais igrejas.
Ele deve se juntar a igrejas onde a edificação é mais
bem provida. Porque a edificação é o único objetivo das
igrejas, de todos os seus ofícios, oficiais e administrações; é
a maior loucura imaginar que algum discípulo de Cristo
pode ser ou é obrigado, pela autoridade de Cristo, a
permanecer na comunhão de tais igrejas, sem buscar alento
segundo as formas designadas por Cristo, já que nelas esse
objetivo foi totalmente perdido.
(4.) Quando a maioria das igrejas, em qualquer
tipo de associação, são dirigidas por pastores que
são faltosos nessas coisas, toda reforma pública na
igreja é moralmente impossível.
É dever dos homens individualmente cuidar de suas
próprias almas, digam o que quiserem as igrejas e os
clérigos.
Perguntas sobre o Ofício dos Pastores
da Igreja

Aqui estão algumas coisas que ainda podem ser


perguntadas com referência ao ofício de um pastor na
igreja:
1. Se um homem pode ser ordenado pastor ou
ministro, sem relação com qualquer igreja local, de
modo a ser investido com o poder oficial?
Costuma-se dizer que um homem pode ser ordenado
como um ministro para a igreja universal ou católica, ou ele
pode ser ordenado para buscar a conversão dos infiéis,
mesmo que ele não esteja ligado a qualquer rebanho ou
congregação em particular. Não vou, neste momento,
discutir várias das coisas sobre o poder e o método de
ordenação que influenciam esta controvérsia; vou apenas
falar brevemente sobre a ordenação em si:
(1.) Admite-se que um homem dotado de dons
espirituais para a pregação do Evangelho pode ser separado
por jejum e oração para aquela obra, se ele for
regularmente chamado para isso na providência de Deus;
pois,
[1.] Tal homem tem um chamado para isso feito visível
através dos dons que ele recebeu, o que lhe autoriza a
exercer esses dons para a edificação de outros quando tiver
oportunidade.[20] Separá-lo para uma obra importante pela
oração é um dever moral, e é útil nos assuntos eclesiásticos
de um modo especial.[21]
[2.] É necessário um testemunho público para a
aprovação de uma pessoa que se ocupa da obra de
pregação:
1º. Para a comunhão de igrejas, de modo que ele possa
ser recebido em qualquer uma delas oportunamente; assim
eram as cartas de recomendação na igreja primitiva.[22]
2º. Para a segurança das pessoas entre as quais esse
homem possa vir a exercer seus dons, para que eles não
sejam ludibriados por falsos mestres ou enganadores. A
igreja primitiva não permitiria, nem é permitido na
comunhão de igrejas, que qualquer pessoa assuma,
constantemente, a pregação do Evangelho se não for
aprovada, enviada e autorizada desta forma.
(2.) Essas pessoas que são separadas e enviadas dessa
forma, podem ser consideradas ministros no sentido geral
da palavra, e elas podem ser úteis para o chamado e
plantação de igrejas, onde podem ser instituídas no ofício
pastoral. Este originalmente era o trabalho dos
evangelistas; mas tendo esse ofício cessado na igreja (como
se provou em outra ocasião), a obra pode ser suprida por
pessoas desse tipo.
(3.) Nenhuma igreja, qualquer que seja, tem o poder de
ordenar homens ministros para a conversão dos infiéis.
Desde a cessação de oficiais e ofícios extraordinários, a
provisão dessa obra recai apenas sobre a providência de
Deus, tendo sido deixada fora dos limites das instituições
eclesiásticas. Só Deus pode enviar e autorizar homens a
empreender esse trabalho; e nenhum homem pode
conhecer ou satisfazer-se em um chamado para esse
trabalho sem alguma orientação prévia da providência
divina que o levasse a isso. Na verdade, é dever de todos os
ministros ordinários da igreja difundir o conhecimento de
Cristo e do Evangelho aos pagãos e infiéis entre os quais, ou
próximo aos quais suas habitações se alicerçaram. Eles têm
toda ordem de autorização divina para fazê-lo, como muitas
pessoas dignas fizeram-no efetivamente na Nova Inglaterra.
É dever de todo cristão verdadeiro que venha a ser posto
entre aqueles pela providência de Deus instruí-los conforme
sua habilidade no conhecimento da verdade. Mas não é da
competência de qualquer igreja, ou de qualquer tipo de
oficiais ordinários, ordenar uma pessoa para o ofício do
ministério para a conversão dos pagãos antes de qualquer
designação da providência divina.
(4.) Nenhum homem pode ser adequadamente ou
completamente ordenado para o ministério a menos que
seja ordenado para um ofício específico, tal como bispo,
presbítero ou pastor. Mas nenhum homem pode sê-lo, a
menos que seja ordenado em e para uma igreja local; isso
porque a prática oposta,
[1.] Seria contrária à prática comum dos apóstolos, que
não ordenaram oficiais ordinários exceto em e para igrejas
locais, que viriam a ficar sob a sua devida liderança e
cuidados.[23] Também não há menção, em toda a Escritura,
de quaisquer oficiais ordinários exceto aqueles que foram
fixados em igrejas locais, às quais estavam vinculados;[24]
tampouco se ouviu falar de tal prática, ou foi ela conhecida,
na igreja primitiva. Na verdade,
[2.] Ela era absolutamente proibida na igreja antiga, e
todas essas ordenações foram declaradas nulas, de modo a
não se transmitir poder de oficiar ou conceder qualquer
autoridade ministerial. Assim encontra-se expressamente no
primeiro cânone do Concílio de Calcedônia, o qual decretou:
“Que toda imposição de mãos em tais casos é inválida e
sem efeito”. Na verdade, tão precisos e cuidadosos eles
eram nessa matéria que, se alguém, julgando agir por
qualquer justa causa, deixasse a sua igreja local ou seu
cargo, eles não permitiriam que ele carregasse o nome ou
título de bispo, nem que ocasionalmente oficiasse naquela
igreja ou em qualquer outro lugar. Isso é evidente no caso
de Eustáquio, um bispo da Panfília. Esse bom homem
renunciou ao ofício após constatar que o desempenho de
seu ofício era muito árduo. Isso porque seus negócios
seculares atrapalhavam o ofício e porque ele recebeu muita
oposição e reprovação a partir da própria igreja. E assim, de
sua própria vontade, ele entregou seu ofício; a igreja
escolheu Teodoro em seu lugar. Mas após isso, apesar de
haver deixado seu cargo, ele desejava manter o nome, o
título e a honra de um bispo. Para este fim, ele apelou ao
Conselho de Éfeso. Em mera comiseração para com o idoso
(como eles mesmos expressaram), condescenderam com
seu desejo, quanto ao nome e ao título, mas não quanto a
qualquer poder de oficiar, o qual eles julgaram estar
absolutamente relacionado a um cargo específico.[25]
[3.] Tal ordenação carece de uma causa essencial
constitutiva; e falta-lhe parte do conjunto do poder de
oficiar, que é a eleição do povo; portanto, ela é inválida.
Veja o que provei anteriormente em relação a isso.
[4.] Bispo, presbítero e pastor são termos de relação;
tomá-los por tais sem que tenham qualquer relação com
uma igreja, com pessoas ou com um rebanho, é fazê-lo um
pai que não tem filho, ou um marido que não tem esposa,
uma relação sem correspondente, o que é impossível, e
revela uma contradição.
[5.] É inconsistente com toda a natureza e objetivo do
ofício pastoral. Quem quer que seja devidamente chamado,
separado ou ordenado para esse ofício, nele e por ele
compromete-se com o cumprimento de todas as obrigações
pertencentes ao ofício, e é obrigado a observá-los
diligentemente. Se, então, considerarmos o que foi
anteriormente provado como concernentes a esse ofício,
chegaremos à conclusão de que nem a menor parte desse
ofício, ou quase nada dele, pode ser aceita e realizada por
aqueles que são ordenados de forma absoluta, sem
qualquer relação com igrejas locais. É irregular para
qualquer um confiar um ofício a outrem e, ao mesmo
tempo, não encarregá-los com todas as funções desse ofício
e com a sua observância direta a tais funções; também é
irregular para qualquer um aceitar um ofício e poder de
oficiar sem saber quando, ou onde, exercer o poder ou
desempenhar as suas obrigações. Particularmente, governar
é uma parte essencial do ofício pastoral, a qual eles não
podem observar se não houver a quem governar.
2. Pode um pastor mudar-se de uma congregação
para outra?
Isso também é algo contra o qual a igreja antiga se
precaveu grandemente; pois quando algumas igrejas
cresceram mais do que as outras em membresia, reputação,
privilégios e riqueza, tornou-se prática comum entre os
bispos planejar e empenhar-se para obter a sua própria
transferência de um benefício menor para um benefício
maior. Isso é tão severamente proibido nos concílios de
Nicéia e de Calcedônia que eles não permitiriam que um
homem fosse bispo ou presbítero em qualquer outro lugar
que não fosse a igreja na qual ele foi originalmente
ordenado. Portanto, se alguém se transferisse, seria
decretado que fosse enviado de volta para casa e que
ficasse ali ou então deixasse de ser oficial da igreja.[26] As
pluralidades,[27] como são chamadas, e claras disputas por
promoções, benefícios e dignidades eclesiásticas, eram
então desconhecidas ou abertamente condenadas.
No entanto, não se pode negar que existem causas
justas para a transferência de um pastor de uma
congregação para outra. Porque o objetivo de todas as
igrejas locais é promover a edificação da igreja católica (no
sentido mais amplo), então, em qualquer situação especial
em que tal transferência seja útil para esse fim, é justo que
ela seja permitida. Casos dessa natureza podem surgir a
partir da consideração de pessoas, lugares, tempos e
muitas outras circunstâncias em que não me ater
especificamente. Mas, para que tais transferências sejam
feitas sem que haja transgressão, é necessário que sejam:
(1.) Com o consentimento voluntário das igrejas em
questão;
(2.) Com o aconselhamento de outras igrejas, ou de
seus presbíteros, com as quais eles mantenham comunhão.
E há muitos exemplos, nos tempos primitivos, de
transferências de bispos ou pastores, por conselhos e
orientações, de uma igreja para outra de forma ordenada e
para o bem de toda a igreja. Assim foi a transferência de
Gregório de Nazianzo de Sásima para Constantinopla;
embora eu reconheça que não tenha sido tão bem-
sucedida.[28]
3. Pode um pastor voluntariamente, ou por sua
própria vontade, renunciar a seu cargo e dele dispor,
e permanecer em sua função de modo privado?
Isso também foi julgado inconveniente, para não dizer
ilegal, pelo primeiro sínodo de Éfeso, no caso de Eustáquio.
Ele era, como parece, um homem idoso, que amava a sua
própria paz e tranquilidade, e que não poderia suportar bem
as oposições e censuras que ele encontrou na igreja, ou de
alguns nela. Com base nisto, solenemente, em seu próprio
julgamento e sem conselhos, ele entregou e renunciou ao
seu ofício na igreja local, que, em seguida, escolheu um
bom homem para substituí-lo. No entanto, o sínodo
condenou essa prática e, com fortes razões, eles
confirmaram o seu julgamento.
No entanto, nenhuma regra geral pode ser estabelecida
nesse caso; nem houve precisão no julgamento ou na
prática da igreja primitiva quanto a isso. Clemente, em sua
epístola à igreja de Corinto, expressamente aconselhou
aqueles que eram motivo de perturbações e divisões na
igreja a entregarem seu ofício e a retirarem-se dela.
Gregório de Nazianzo fez a mesma coisa em Constantinopla.
Ele protestou abertamente que, embora fosse inocente e
estivesse livre de culpa (como ele de fato era, e foi um dos
grandes homens da sua época), ainda assim ele preferia
sair ou ser removido do que não ter paz com eles; ele
procedeu nesse sentido. Mais tarde, um sínodo em
Constantinopla, sob autoridade de Fócio,[29] concluiu que,
em alguns casos, a autorrenúncia é legítima (cânone 5).
Portanto,
(1.) Não parece lícito fazê-lo apenas por causa de
fraqueza para o trabalho e o labor, mesmo que seja causada
pela idade, enfermidade ou doença física. Porque ninguém é
obrigado, de modo algum, a fazer mais do que é capaz e
guardando a preservação comum de sua vida; e a igreja é
obrigada a ficar satisfeita com o desempenho consciencioso
de quaisquer habilidades que um pastor tem, provendo para
si mesma, no mais, aquilo que está faltando.
(2.) Não é lícito apenas por causa de cansaço e
desânimo advindos de oposição e reprovações; um pastor é
chamado e obrigado a submeter-se a isso para o bem e
para a edificação do rebanho, e a não desfalecer na guerra
para a qual ele é chamado.
Estas foram as duas razões dadas por Eustáquio em
Perge [Cf. Atos 13:13], e que foram recusadas no Concílio de
Éfeso. Mas,
(3.) É lícito, quando há uma tal perda irreversível da
capacidade intelectual que um homem não possa de
desempenhar qualquer dever do ofício pastoral para a
edificação da igreja.
(4.) É lícito em caso de divisões insuportáveis na igreja,
que constantemente prejudicam sua edificação e que não
podem ser removidas enquanto aquela pessoa continua em
seu ofício, mesmo que ela não seja de forma alguma a
causa delas. Esse é o caso a respeito do qual Clemente
aconselha e do qual Gregório deu exemplo em sua própria
prática.
Mas esse caso e sua decisão apenas terão lugar
somente quando as divisões não puderem ser curadas por
quaisquer outros meios e formas. Pois, se aqueles que
causam tais divisões podem ser retirados da igreja, ou se a
igreja pode suspender a comunhão com eles, ou se existem
divisões em partidos e princípios rígidos, ou em opiniões ou
práticas, e eles podem dividir-se em comunhões distintas —
então, em tais casos, essa solução do pastor de entregar
seu ofício não deve ser empregada. Pelo contrário, todas as
coisas devem ser feitas para a edificação.
(5.) Pode ser lícito quando a igreja é totalmente
negligente em seu dever de suprir, de acordo com as suas
capacidades, as necessidades temporais de seu pastor e de
sua família, e quando, mesmo depois de ter sido advertida,
persiste nessa negligência. Mas esse processo não pode ser
decidido sem que haja uma consideração das muitas
circunstâncias específicas.
(6.) Quando todas ou muitas dessas causas convergem,
de modo que um homem não pode, alegre e
confortavelmente, continuar no exercício das suas funções,
não existe jugo tão penoso posto pelo Senhor Jesus Cristo
no pescoço de qualquer um de seus servos que impeça tal
pessoa de demitir-se pacificamente de seu ofício naquela
igreja. Isso é especialmente verdade se ele é pressionado
por uma questão de consciência, pelo descumprimento da
igreja do seu dever em relação a qualquer das instituições
de Cristo. E se a edificação da igreja, que nesse momento é
prejudicada, pode ser alcançada dessa maneira, em seu
próprio julgamento, então ele pode demitir-se. Ele tanto
pode assumir um posto privado[30] quanto tomar conta de
outra igreja na qual ele possa desempenhar o seu ofício (se
ainda puder) para o seu próprio conforto e para a edificação
deles.
A editora O Estandarte de Cristo é fruto de um trabalho que
começou a ser idealizado por volta do início de 2013, por William e
Camila Rebeca, com o propósito principal de publicar traduções de
autores bíblicos fiéis. Fizemos as primeiras publicações no dia 2 de
dezembro de 2013 (publicação de 4 eBooks). De lá para cá já são
quase 7 anos e centenas de traduções de autores bíblicos fiéis,
sobre diversos temas da fé cristã.

Somos uma editora de fé cristã batista reformada e


confessional. Estamos firmemente comprometidos com as
verdades bíblicas fielmente expostas na Confissão de Fé
Batista de 1689.

OEstandarteDeCristo.com
Conheça outros livros publicados pela editora
O Estandarte de Cristo

A Confissão de Fé Batista de 1689 + Catecismo Puritano compilado por


C.H. Spurgeon

❝ Nós precisamos de um estandarte pela causa da verdade; pode ser que esse
pequeno volume ajude a causa do glorioso Evangelho, testemunhando
claramente quais são as suas principais doutrinas… Aqui os membros mais
jovens da nossa igreja terão um Corpo de Teologia, que servirá como uma
pequena bússola, e por meio de provas bíblicas, estarão prontos para dar a
razão da esperança que há neles… Apeguem-se fortemente à Palavra de Deus
que está aqui mapeada para vocês. ❞ — C.H. Spurgeon, 1855
A Interpretação das Escrituras
A.W. Pink

❝ Dificilmente encontraremos um “tratado sobre hermenêutica”, tão bíblico e


completo, tão profundo e ao mesmo tempo tão prático, como diz o próprio
autor: Nestes capítulos temos nos esforçado para colocar diante de nossos
leitores as regras que temos usado há muito tempo em nosso próprio estudo
da Palavra; elas foram projetadas mais especialmente para os jovens
pregadores. Nós não poupamos esforços para torná-los tão lúcidos e
completos quanto possível, colocando em suas mãos esses princípios de
exegese que nos foram de grande proveito. ❞
Os Distintivos da Teologia Pactual Batista
Pascal Denault

❝ Pascal Denault merece muitos agradecimentos por seu trabalho ao pesquisar e


descrever as nuances da teologia do pacto da Inglaterra no século XVII. Ele
mostrou fatores significantes que contribuíram para as diferenças entre o
pensamento e a prática dos presbiterianos e batistas particulares, descrevendo
categorias teológicas em termos fáceis e acessíveis. ❞ — James M. Renihan,
Ph.D. Deão e professor de teologia histórica Institute of Reformed Baptist Studies
A Falha Fatal da Teologia por Trás do Batismo Infantil
Jeffrey Johnson

❝ Jeffrey Johnson produziu uma interação minuciosa, vigorosa e impressionante


com a teologia pactual, enquanto usada como apoio para o batismo infantil. Ele
expôs uma análise detalhada de cada parte do sistema, aprovou o que era
biblicamente fundamentado, desafiou o que é indefensavelmente inventado e
ofereceu alternativas convincentes para cada parte do sistema que ele
desafiou. ❞ — Tom J. Nettles, Ph.D. Professor de teologia histórica Southern Baptist Theological
Seminary
Um Guia para a Oração Fervorosa
A.W. Pink

❝ A oração particular é o teste de nossa sinceridade, o indicador de nossa


espiritualidade, o principal meio de crescimento na graça. A oração particular
é a única coisa, acima de todas as demais, que Satanás busca impedir, pois
ele bem sabe que, se ele puder ser bem sucedido neste ponto, o cristão
falhará em todos os outros... Por mais desesperado que seja o nosso caso,
maior é nossa necessidade de orar, se a graça em nós está fraca, a contínua
negligência em orar a fará ainda mais fraca, se nossas corrupções são fortes,
a omissão em orar as fará ainda mais fortes. ❞
Oração: Orando com o Espírito Santo e com o Entendimento
John Bunyan

❝ A oração é uma ordenança de Deus que deve ser praticada tanto em público
quanto em particular. Além disso, é uma ordenança que conduz aqueles que
possuem o espírito de súplica para grande familiaridade com Deus, e também
possui efeitos tão notáveis que alcançam grandes coisas de Deus, tanto para a
pessoa que ora como para aqueles por quem ela ora. A oração abre o coração
de Deus e através dela a alma, mesmo quando vazia, é preenchida. Através da
oração o cristão também pode abrir seu coração a Deus como o faria com um
amigo, e obter um testemunho renovado de Sua amizade. ❞
Piedade Cristã: Os Frutos do Verdadeiro Cristianismo
John Bunyan

Todo aquele que foi justificado pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo
encontrará aqui um excelente guia para que possa viver de modo agradável a
Deus. Este livro faz lembrar a magistral obra, A Prática da Piedade, do
piedosíssimo Lewis Bayly, por seu fervor e fidelidade bíblicos, e por sua
sobriedade e zelo piedoso de obedecer aos mandamentos do Senhor em todas
as áreas de nossas vidas e em todos os nossos relacionamentos. O autor nos
exorta à prática da verdadeira piedade cristã a partir de Tito 3:7-8.
O Homo como Sacerdote em seu Lar
Samuel Waldron

❝ A ideia de que um homem é sacerdote em seu lar se deriva naturalmente da


tese de que todo ministério cristão tem caráter sacerdotal. No entanto, esse
assunto confronta os homens com algumas das responsabilidades mais difíceis
que enfrentaremos. Quando cumprimos nosso dever e sentimos nosso pecado e
fraqueza nessa área, devemos constantemente nos lembrar da graça e das
promessas que Deus nos deu. Não podemos fazer progresso confiado em nossas
próprias forças. Somente cresceremos e assumiremos nossas responsabilidades
com a ajuda de Deus. ❞
A Doutrina da Trindade
John Owen

John Owen fez uma defesa magistral da grande doutrina bíblica da Santíssima
Trindade contra os socinianos. Dificilmente veremos hoje alguém que se
denomine um sociniano, mas não é tão raro assim encontrar alguém indouto e
inconstante que segue as pisadas deles e nega a verdade bíblica sobre a
bendita doutrina da Trindade, para sua própria perdição eterna (2Pe 3:16).
Portanto a refutação que Owen faz das principais objeções dos oponentes dessa
doutrina permanece útil também para os nossos dias. Sobretudo é proveitosa a
exposição fiel e profunda feita por ele sobre os principais textos bíblicos que
revelam essa verdade fundamental sobre o único e verdadeiro Deus: Pai, Filho e
Espírito.
Os 5 Pontos do Calvinismo
C.H. Spurgeon

Nesta excelente coletânea de sermões Charles Spurgeon expõe o ensino


bíblico sobre aqueles que ficaram conhecidos como os 5 Pontos do Calvinismo:
1. Depravação Total;2. Eleição Incondicional; 3. Expiação Limitada; 4. Graça
Irresistível; 5. Perseverança dos Santos. A capacidade ímpar com que Deus
dotou o pregador e a beleza e firmeza da verdade bíblica por ele tratada
fazem deste livro um recurso extremamente importante para todos aqueles
que desejam obter uma compreensão clara e robusta do ensino bíblico acerca
da soberania da graça divina na salvação dos homens.
Como Saltar em Segurança para a Eternidade
Lidiano Gama

❝ Com habilidade, o autor L.A. Gama desenvolveu a viagem de Greg Thopp


rumo à eternidade sempre ladeado pelas doutrinas que foram o fundamento
e alicerce não apenas dos batistas particulares (reformados), mas da própria
Reforma Protestante e do puritanismo inglês e norte-americano que se
seguiu. O livro é valioso para todos os cristãos, mas, sobretudo, é uma
preciosa contribuição para os batistas e uma excelente oportunidade para
se examinar cuidadosamente esse documento, a Confissão de Fé Batista de
1689. ❞ — Marcus Paixão
Teologia Bíblica Batista Reformada
Fernando Angelim

❝ Estou convencido da extrema necessidade e urgência da igreja brasileira,


especialmente os batistas, recuperar um entendimento bíblico profundo e
piedoso sobre os pactos de Deus. E estou igualmente convencido de que este
livro tem muito a contribuir para esse fim. Escrito de maneira clara e didática, e
sobretudo bíblica, este livro se mostrará útil tanto para o pai de família que
deseja conhecer melhor sua Bíblia e guiar a sua família piedosamente quanto
para aquele que foi chamado a se “apresentar a Deus aprovado, como obreiro
que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2
Timóteo 2:15). ❞ — William Teixeira

[1]
Septuaginta: tradução das Escrituras do Antigo Testamento hebraico para o
grego, iniciada no século III a.C.
[2]
κατ ὰ π όλιν e κατ ἐ κκλησίαν : “cada cidade” e “cada igreja”.
[3]
Extraordinário: Coxe distingue entre dons e ofícios “ordinários” e
“extraordinários” na igreja. Os “ordinários” são aqueles que foram nomeados
por Cristo e seus apóstolos para o exercício continuado na igreja, como
presbíteros/pastores e diáconos. Os “extraordinários” são aqueles que foram
nomeados por Cristo com a finalidade temporária de estabelecer as igrejas na
sua infância, como apóstolos e profetas.
[4]
O caminho apontado por Cristo para o chamamento de qualquer pessoa,
capacitada e dotada pelo Espírito Santo, para o ofício de bispo ou ancião em
uma igreja, é que ele seja escolhido para isso pelo sufrágio comum da própria
igreja e solenemente separado por jejum e oração, com a imposição das mãos
do presbitério da igreja, se houver algum nela anteriormente constituído. E de
um diácono, que ele seja escolhido por semelhante sufrágio, e separado por
meio de oração, e semelhante imposição de mãos (Segunda Confissão de Fé
Batista de Londres de 1689, Capítulo XXVI, Sobre a Igreja, parágrafo 9).
[5]
Seu ministério... antecedente às igrejas: Cristo designou os apóstolos
antes que existissem congregações do Novo Testamento; os apóstolos, em
seguida plantaram e regaram tais igrejas (1 Coríntios 3:5-11).
[6]
Bispos diocesanos: pastores que, em algum momento no passado, receberam
a responsabilidade de cuidar de múltiplas igrejas em uma determinada área
(diocese).
[7]
Grego: tradução do termo grego Ἑ λληνιστ ῶ ν (Hell ē nist ō n) do qual
derivamos a palavra portuguesa helenista. “Esse termo provavelmente se refere
aos judeus cuja língua principal era o grego em distinção daqueles que falvam
uma língua semítica [a família de línguas que inclui o hebraico, árabe, aramaico
e outros]... Gutbrod (Theological Dictionary of the New Testament 3:389) fala da
diferença entre aqueles que eram nativos de Israel e aqueles que vinham de
fora, entretanto é a prática social e religiosa que parece ser central para essa
distinção. As diferenças linguísticas e sociais produziram diferenças culturais
que, por sua vez, criaram uma divisão na igreja que a comunidade agora
reconhece e trabalha rapidamente para corrigi-la” (Darrell L. Bock, Acts, 258).
[8]
Quando... nos voltamos para os registros da história encontramos provas
suficientes para demonstrar que as igrejas continuaram mesmo após a
ascensão do Sistema Episcopal a defender e a exercer o direito de eleição,
aquele grande princípio que é a base da liberdade religiosa. A autoridade mais
antiga e mais autêntica sobre este assunto depois das próprias Escrituras é
derivada de Clemente de Roma, contemporâneo com alguns dos apóstolos. Este
honroso Pai, em sua epístola à igreja de Corinto cerca de 96 d.C, ou, de acordo
com Bispo Wake, entre os anos 60 e 70 de Cristo, fala dos regulamentos que
foram estabelecidos pelos apóstolos para a nomeação de outros para sucedê-los
depois de seu falecimento. Esta nomeação deveria ser feita com o
consentimento e aprovação de toda a igreja... fundamentado em seu
conhecimento prévio das qualificações do candidato para este ofício. Este
testemunho indica claramente a cooperação ativa da Igreja na nomeação de
seus ministros (Lyman Coleman, A Church without a Prelate: The Apostolical and
Primitive Church, 12).
[9]
Neste parágrafo, Nehemiah Coxe, deixa extremamente clara sua posição
cessacionista e considerando que ele foi comissionado pelos seus outros irmãos
batistas particulares para ser um dos editores da CFB1689 e levando em conta
também o próprio texto da Confissão (1:1, 6, 9, 10; 8:8; 10:1; 18:3; 22:1),
podemos facilmente concluir que o cessacionismo, como descrito neste
parágrafo, ou seja, a posição genuinamente bíblica, foi também a posição mais
comum entre todos os primeiros pais batistas particulares confessionais. As
igrejas batistas reformadas da ARBCA, sendo confessionais da CFB1689, creem
nesses mesmos princípios. Recomendamos com alegria a leitura de um de seus
documentos concernente à Posição da ARBCA Sobre A Continuação dos Dons de
Revelação nos Nossos Dias.
[10]
De jure: por lei; conforme a lei.
[11]
“Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de
duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina” (1
Timóteo 5:17).
[12]
Expressão latina: Verba docente, exempla trahunt — Palavras instruem,
exemplos lideram.
[13]
As Escrituras nos informam que o valor definido em Deus para com o
Seu quanto à salvação deles foi baseado em Seu propósito eterno para salvá-los
por causa de Seu amor, não baseado em qualquer valor inato que Ele tenha
visto neles (Romanos 5:6-8, Efésios 2:8-10).
[14]
Não que a salvação seja pelas obras de obediência, contudo a realidade
da nossa fé e salvação, a qual é somente pela graça, é evidenciada pelas boas
obras (Efésios 2:8-10). Para entender melhor e relação entre a fé e as obras na
salvação recomendamos o livro de Joel Beeke e Steven Lawson Raiz e Fruto:
Harmonizando Paulo e Tiago sobre a Doutrina da Justificação (O Estandarte de
Cristo: 2020).
[15]
Pound: Unidade monetária inglesa. Cem pounds no final do ano de 1600
equivalia, em valores atualizados, a cerca de £12.200,00 (doze mil e duzentas
libras) ou $19.500,00 (dezenove mil e quinhentos dólares) ou R$103.000,00
(cento e três mil reais).
[16]
Referência à tradição papista da “confissão auricular”. Para ler mais sobre
tais abusos, veja a obra de William Tyndale, The Obedience of a Christian Man,
1528, “Of Confession”. p. 57ff. {A vasta maioria das notas de rodapé da
presente tradução ou foram acrescentadas pelos editores ou pelos responsáveis
pela tradução e revisão.
[17]
1 Timóteo 3:2-7: “Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de
uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado
ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não
contencioso, não avarento; que governe bem a sua própria casa, tendo seus
filhos em sujeição, com toda a modéstia (Porque, se alguém não sabe governar
a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); não neófito, para que,
ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Tito 2:6-9: “Convém
também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia
em afronta, e no laço do diabo. Exorta semelhantemente os jovens a que sejam
moderados. Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra
incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível, para que o
adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós. Exorta os
servos a que se sujeitem a seus senhores, e em tudo agradem, não
contradizendo.
[18]
Benefício eclesiástico: um ofício da igreja que confere renda/salário ao seu
possuidor.
[19]
Expressão original usada por Owen: “mathematical prognostications at
Rome – always condemned and always retained”.
[20]
1 Pedro 4:10-11: “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu,
como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale
segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o
poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a
quem pertence a glória e poder para todo o sempre. 1 Coríntios 14:12: “Assim
também vós, como desejais dons espirituais, procurai abundar neles, para
edificação da igreja”.
[21]
Atos 13:1-3: “E na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e
doutores, a saber: Barnabé e Simeão chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e
Manaém, que fora criado com Herodes o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao
Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para
a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles
as mãos, os despediram”.
[22]
1 Coríntios 16:3: “E, quando tiver chegado, mandarei os que por cartas
aprovardes, para levar a vossa dádiva a Jerusalém”. 2 Coríntios 3:1:
“Porventura começamos outra vez a louvar-nos a nós mesmos? Ou
necessitamos, como alguns, de cartas de recomendação para vós, ou de
recomendação de vós?”. 3 João 1:9: “Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que
procura ter entre eles o primado, não nos recebe”.
[23]
Atos 14:23: “E, havendo-lhes, por comum consentimento, eleito anciãos
em cada igreja, orando com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem
haviam crido”. Tito 1:5: “Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses
em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade
estabelecesses presbíteros, como já te mandei”.
[24]
Atos 20:28: “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito
Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele
resgatou com seu próprio sangue”. Filipenses 1:1: “Paulo e Timóteo, servos de
Jesus Cristo, a todos os santos em Cristo Jesus, que estão em Filipos, com os
bispos e diáconos”. Apocalipse 2:2: “Conheço as tuas obras, e o teu trabalho,
e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que
dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos”.
[25]
Epist. Conc. Efésios 1, ad Synod. in Pamphyl.
[26]
Concílio de Niceia, cânones 15 e 16; Concílio de Calcedônia, cânones 5 e 20.
[27]
Trata-se do fenômeno de acumular rendimento sem a devida dispensação do
ofício. Alguns sacerdotes chegavam a ter dois cargos distintos em uma mesma
paróquia, um inferior e outro superior. Nesse caso, se ausentavam do primeiro,
deixando os encargos a subalternos, mas mantinham os vencimentos e
benefícios, enquanto atuavam de fato no cargo mais elevado. Zwingli chegou a
fazer isso por algum tempo, antes de começar a reforma em Zurique.
[28]
Em 379, o sínodo em Antioquia, sob o arcebispo Meletios, solicitou que
Gregório fosse à Constantinopla para convencer aquela cidade a abraçar a
ortodoxia Nicena. Ele proferiu cinco discursos sobre a doutrina de Nicéia,
explicando a natureza da Trindade e da unidade da Divindade contra as heresias
Ariana e Apolinariana (subordinacionismo e monofisismo).
[29]
Fócio I de Constantinopla (c. 810/20 — c. 893) foi o patriarca de
Constantinopla entre 858 e 867 e, novamente, entre 877 e 886. Fócio é
considerado o mais poderoso e influente patriarca de Constantinopla desde João
Crisóstomo e como o mais importante intelectual de seu tempo.
[30]
Aqui, posto privado (private station), provavelmente está se refe à
capelanias familiares e privadas. Muitos nobres na época mantinham um serviço
de capelania em suas residências, e muitos pastores protestantes acabavam se
abrigando nesses postos sem ter que comprometer suas crenças. Muitos
batistas fizeram isso, porque isso os permitia pregar a Palavra sem ter que
comprometer suas consciências com o batismo de crianças, já que o batismo
infantil deveria ser feito pelas igrejas paroquiais, e não por capelães.

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