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Para a tradução simultânea PORTUGUÊS DO BRASIL

Sierre, 18 de março de 1982


Pensamento Espiritual:

SERMOS A SUA PALAVRA1

Caros amigos,
Estamos ainda – e esperamos estar por toda a vida - na "Santa Viagem",
que nos propusemos a fazer todos juntos. E não é, certamente, por mania de
perfeição ou para alimentar o nosso possível orgulho nem para sermos melhor que
os outros, mas para nos santificarmos para a glória de Deus porque Ele o quer: "É
esta a Vontade de Deus: a vossa santificação", disse São Paulo (1Ts 4,3).
Porém, também nestes próximos 15 dias, vamos em frente, caminhando
sem parar. Se por acaso tivermos parado um pouco, como sempre é possível,
temos um motivo a mais para recolocarmo-nos a caminho com mais ânimo.
Um dia. Madre Teresa de Calcutá escreveu-me: “Seja santa porque Jesus é
santo." Exatamente isso: devemos nos tornar santos porque Jesus é santo. E
seremos santos, vivendo a Palavra. Aliás, já sabemos: quem vive a Palavra, pelo
menos naquele momento em que a vive, já é santo. “Quem escuta a Palavra (isto
é, quem a acolhe no próprio coração e a pratica) já está purificado”, disse Jesus.
Então, se é assim, é claro que nos tornaremos santos na medida em que
formos, a cada momento, - e, portanto, também agora – a Palavra viva, formos a
“Palavra”.
Caros amigos, hoje queremos entender melhor como viver bem a Palavra.
A palavra deve ser vivida como a coisa mais importante a ser feita na vida.
Mas quantas vezes o nosso coração é atraído por tantas coisas do mundo que nos
circunda ou que estão dentro de nós! E quantas vezes colocamos em primeiro
lugar, por exemplo, o trabalho, o apostolado ou o estudo; ou talvez até um
'hobby', ou divertimento. Quantas vezes somos dominados por uma vaidade
presos por um afeto, quando não somos escravos de coisas que não agradam a
Deus, de modo algum. Geralmente, vivemos a nossa vida distribuindo a atenção
da nossa inteligência, o afeto do nosso coração, a tensão da nossa vontade,
praticamente só em coisas desta terra! E então, que lugar ocupa a Palavra? Nós
nos lembramos dela de vez em quando e é só.

1 Chiara Lubich, A VIDA, uma viagem, Cidade Nova, São Paulo, 1986 Pág. 35-37.

1
Não! Esta não é a vida que Jesus nos pede. A Palavra deve ser, entre todos,
o nosso primeiro amor. Deve ser o pilar sobre o qual se apoia a nossa experiência,
a raiz da qual floresce a nossa vida. É a Palavra que deve iluminar, momento por
momento, todas as nossas atividades, retificar e corrigir cada expressão da nossa
vida.
Olhemos para Maria. A vida da Virgem correspondia totalmente às Palavras
de Deus; àquelas palavras que ela conservava no seu coração e sobre as quais
meditava para traduzi-las em vida. Pode-se dizer que Maria é “toda” Palavra de
Deus. E porque viveu santamente, de um modo perfeito, a sua vida foi realmente
uma "Viagem santa".
Mas olhemos sobretudo para Jesus. Ele viveu como nós: foi carpinteiro,
cansou-se, fez apostolado, repousou, alimentou-se; amou Maria e José; instruiu os
discípulos, e fez milagres; saciou o povo.
Mas, quem era Jesus? Não era ele o Verbo, isto é, a Palavra de Deus que se
encarnou? Se Ele é a Palavra, que a natureza humana assumiu, nós seremos
verdadeiros cristãos e santos se formos homens que preencham toda a própria
vida com a Palavra de Deus. A Palavra que estamos vivendo neste período é: "Se
alguém quer servir-me, siga-me e onde estou Eu, ali também estará o meu servo.
Se alguém me serve, meu Pai o honrará"(Jo 12,26). E sabemos que se segue
Jesus renegando a nós mesmo e abraçando a cruz. Qual quer objetivo que se
quiser atingir, também neste mundo, requer disciplina, sacrifico, suor, treinamento.
Do mesmo modo, a perfeição cristã: requer renúncia e cruz. São Palavras
duras, mas sabemos que a Santa Viagem exige muito empenho. E este é o
cristianismo: viver a morte de Jesus para que Ele ressuscite em nós, momento por
momento. Portanto, podar o “homem velho”2 para que a árvore da nossa vida não
permaneça um arbusto inútil, mas dê frutos saborosos. Não queremos esperar
somente o último momento para oferecer a Deus a nossa morte, quando ela já for
inevitável. O amor por Ele nos diz: morrer com a sua ajuda, dia após dia, para
ressuscitar dia após dia, momento por momento.
Caros amigos, que vivamos bem estes quinze dias, para podermos ensinar,
levar para frente e ajudar o nosso “cacho”.
Chiara Lubich

2 No uso paulino de homem corrompido pelo próprio egoísmo (Cf. Ef 4,22)

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