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Rezar é a aventura mais bela da vida, é deixar-se levar pelas ondas do

amor de Deus à praia infinita, onde ninguém pode perturbar nosso


silêncio de amor ou nossa liberdade de olhar para o céu e gritar sem
medo que Deus é nosso Pai e que o amamos.
Algumas vezes se fala em crise de oração. A oração nunca esteve em
crise; quem está em crise são os homens e as mulheres que, oprimidos
por tantas coisas: preocupações, trabalhos, olham sempre para a terra
e esquecem de elevar os olhos para o céu. “Olhai para o alto e não para
as coisas da terra”, ensina o apóstolo. Rezar é a capacidade de levantar
os olhos e ver que as coisas da terra são boas na medida em que
libertam o nosso coração de tantas mesquinharias e abrem os olhos à
luz do amor e da fé.
Uma nova pedagogia da oração
Pode até parecer meio estranho falar de uma nova pedagogia da
oração… Será que depois da pedagogia ensinada por Jesus quando os
discípulos, extasiados diante da maneira como Ele rezava, pediram-lhe:
“Ensina-nos a orar” (cf. Lc 11,1-4)…
Claro que não; sempre devemos voltar a repetir a oração que o Senhor
nos ensinou. Mas a maneira de rezar o Pai-nosso pode mudar e muito.
Afinal, a vida humana mudou bastante.
Gostaria de colocar em evidência alguns pontos que têm me ajudado a
rezar:
1. A Bíblia é uma grande assembleia de homens orantes. Os
personagens bíblicos são amigos de Deus e se esforçam para buscá-lo
com toda intensidade. O grito que perpassa a Palavra de Deus é sempre
o mesmo: “É a tua face que eu procuro, Senhor; mostra-me o teu rosto,
a minh’alma tem sede do Deus vivo”… Estes anseios fazem que a oração,
ou seja, o diálogo entre Deus e ser humano, caminhe no trilho único da
amizade. A amizade com Deus tem todas as características da amizade
humana.
2. Em todas as amizades alguém deve tomar a iniciativa. Os dois
sentem-se atraídos, mas um diz “eu te amo” e o outro responde
“também te amo”. No caso da oração, a iniciativa é sempre de Deus, que
é amor; Ele chama e nós respondemos, Ele convida e nós vamos.
3. “Rezar é escutar” (Dt 6,4-7)… Gosto de fazer minha oração em silêncio
e… deixar que o Senhor pense por mim. A arte e o desejo de escutar se
fazem mais fortes com a idade. Preciso, porém, abrir meu coração para
ouvir o Senhor que fala e me envia a fazer alguma coisa: “Obras quer o
Senhor,” diria Santa Teresa, minha mãe e mestra.
4. O Frei Camilo Maccise, Superior Geral do Carmelo, tem sempre
insistido nos seus livros, que a oração é vida e a vida é oração. São duas
realidades inseparáveis. A oração e a vida se fundem, se completam.
Os protagonistas da oração
Não necessitamos de muita perspicácia para compreender que os
protagonistas são três: Deus, eu e os outros.
DEUS é primeiro protagonista; é Ele quem toma a iniciativa, que se
revela, que nos declara o seu amor e vem ao nosso encontro a cada
momento. Deus se manifesta a nós por puro amor. Na sua
manifestação Trinitária “Pai, Filho e Espírito Santo”, as Três pessoas
entram em comunhão conosco na oração. Ninguém pode rezar sem
esta experiência trinitária. Desejo que um dia em nossa vida todos
possamos nos sentir – de uma forma única, irrepetível e incomunicável
– que somos habitados pela Trindade Santa.
EU! O interlocutor natural de Deus, com quem Ele pode entrar em
comunhão, é o ser humano. Somente a humanidade foi criatura à
“imagem e semelhança de Deus”.
Devemos aprender a falar a mesma língua de Deus, que é o amor. Na
oração nos sentimos amados e amamos, somos acolhidos e acolhemos.
Na nossa busca de Deus devemos nos aproximar sempre da Palavra do
Senhor e acolhê-la no mistério da fé.

OS OUTROS. A oração não é um diálogo solitário, deslocado da vida;


mesmo quando rezamos sozinhos ou em lugares solitários, a nossa
oração é sempre comunitária, exatamente porque somos habitados
pela Trindade Santa. Mas o nosso relacionamento Deus-eu se alarga,
imergindo-nos na realidade de que somos chamados à comunhão de
amor com os outros; neles podemos contemplar a cada instante a
imagem de Deus. Se não sabemos ver a imagem de Deus nos outros,
como podemos vê-la em nós?
É fascinante saber que na oração não estamos sozinhos, mas estamos
em comunhão com a Igreja, com a família e com a comunidade. Quem
reza vence toda solidão e sente-se parte viva do outro. A oração
harmoniza o nosso ser nos seus vários níveis: humano, psicológico e
espiritual. Somente na oração podemos vencer e superar as fraturas
que, ao longo da vida, sofremos. O amor cura e re-pacifica a cada um de
nós.
Alguns meios para rezar melhor
Rezar não é ficar parado, exige a nossa cooperação. Neste sentido,
devemos procurar um “método de oração que muito nos ajude”. Quem
sabe, sugiro alguns meios:
a. A Palavra de Deus. Ler e reler textos bíblicos que falem forte ao nosso
coração até decorá-los, para que se tornem nosso alimento e dele
possamos nos saciar à vontade;
b. A natureza. Precisamos nos dar tempo para parar e contemplar as
flores que nascem sozinhas à beira da estrada, ou escutar a voz de um
riacho que canta o seu louvor ao Senhor, ou uma estrela no céu…
Aprendermos a ser contemplativos…
c. Os acontecimentos da história. Quando você não tem motivação para
rezar ou não sabe para quem rezar, ligue a TV, leia o jornal, escute o
rádio e logo vai perceber tantos motivos para rezar. Não devemos
complicar a vida, mas simplificá-la. Não se importe em como os outros
rezam, encontre a sua maneira para rezar. A leitura da “História de uma
Alma”, de Santa Teresinha, sem dúvida pode ajudar muito a descobrir
“o seu jeito de rezar”.
d. A Eucaristia. Aprenda a amar mais e mais o mistério da Eucaristia.
Sempre participe da missa, se estiver preparado comungue, e depois
da comunhão fale face a face com o Cristo recebido.
e. O terço. Este é o ano do rosário, que o Papa João Paulo II tem
apresentado como meio de oração contemplativa, que todos podem
alcançar. Todos temos capacidade de rezar o terço, é a oração dos que
amam.
f. Rezar com as imagens. Quando as coisas não andam como quero,
costumo segurar o crucifixo e olhar para Jesus crucificado, então meu
coração mergulha no silêncio e decifra “as cruzes da vida”. Quando
estou alegre, gosto de contemplar imagens bonitas, ícones de nossa
Senhora e dos Santos…
g. Rezar com os gestos. Se você sente a necessidade de se ajoelhar, se
ajoelhe; se percebe que o desejo é de esconder o seu rosto entre as
mãos, faça-o. Todo gesto revela o que se passa dentro de nós. Cante,
reze, silencie…
h. A oração acontece, sem dúvida, dentro do nosso coração. É no quarto
interior, no castelo, na adega, como dizem os místicos, que acontece o
encontro de amor entre nós e Deus. Por isso, a oração exige uma
grande interiorização. Interiorização quer dizer assimilar a Palavra,
comê-la para que ela se transforme em vida e seja nossa força para
todos os momentos da nossa caminhada. Interiorizar é assimilar e
guardar a Palavra para que, em momentos difíceis, ela possa ser
lembrada e se torne novamente força para nós.
Partir com Deus para a vida
Depois de ter conversado com Deus, de ter lido a sua Palavra, ter
refletido, meditado, assimilado, interiorizado, não nos resta outra coisa
senão retomar as atividades de cada dia, com coração novo, olhos
diferentes, capazes, e com uma vontade grande de transformar o
mundo em que vivemos. De não nos deixar contaminar pelo mundo,
de não permitir que o mal nos prenda e nos torne seus escravos.
O orante não é diferente dos outros… veste-se como os outros, come o
que os outros comem, vai a todos os lugares e trabalha como os outros,
mas suas atitudes são atitudes novas, de alguém que assimilou e
decidiu ser de Cristo. Luta contra os pecados da carne.
Rezar é viver com os olhos fixos em Deus. Aquele que reza, ou muda de
vida ou deixa de rezar. Não podemos rezar e continuar numa vida na
qual não haja a presença de Jesus. A oração nos transforma, nos faz
criaturas novas. Cada um de nós sabe que a oração nos obriga a mudar.

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