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RESUMÃO

NIKETCHE
ÍNDICE

RES UMO DA OBRA

QUES TÕES

G AB A R I T O C O M E N TA D O

@isanovasrodrigues Professora Isa Novas


RESUMO DA OBRA

CAPÍTULO 1
Um estrondo ouve-se do lado de lá. Uma bomba. Mina antipessoal. Deve ser
a guerra a regressar outra vez. Penso em esconder-me. Em fugir.
● 10 anos após a Guerra Civil de Moçambique.
○ Independência de Moçambique: 1975
○ Guerra Civil: de 1975 a 1992
○ Publicação do livro: 2002
● “Penso em esconder-me”: foco narrativo em 1ª pessoa.

Deixo o Betinho e vou à rua. O proprietário do carro está bravo como uma
fera. Esperava que ele me esganasse, mas nem piou. É daqueles que falam
fino e não agridem as mulheres. Aproximo-me e peço perdão em nome do
meu filho. Digo-lhe que o meu marido, o Dr. Tony, comandante da polícia,
irá resolver o problema. Ele diz que sim, mas sinto que não acredita em mim.
Qual é o homem de bem que acredita nas palavras de uma mulher
desesperada?
● Bentinho: filho de Rami (narradora).
● O barulho: Bentinho quebrou o vidro de um carro.
● Rami tenta resolver a situação.

— Esta falta de ordem é falta de homem nesta casa - desabafo. - O Tony é o


culpado de tudo isto. Sempre ausente. Primeiro foi uma noite de ausência,
depois outra e mais outra. Tornou-se hábito. Ele diz-me que faz turnos à
noite. Que supervisa o trabalho de todos os polícias pois é quando a noite
cai que os ladrões atacam. Faço de contas que acredito nele. Mas os passos
dos homens são rastros de caracol, não se escondem. Sei muito bem por
onde anda. — Não és a única, Rami. O meu marido, por exemplo - diz uma
vizinha - largou-me faz anos e correu atrás de uma menininha de catorze
anos, para começar tudo de novo. Um velho que se tornou criança.
● Tony (marido de Rami) está sempre ausente.
● Muitas mulheres passam pela mesma situação.

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CAPÍTULO 2
— Senhora Julieta ou Juliana?
— Julieta. Por favor, em que a posso ajudar?
— Venho buscar o meu marido.
Invado a casa quarto a quarto, vasculho, sem pedir licença, a casa é do meu
marido, por isso é minha, sou a esposa legítima, com contrato assinado no
cartório. (...) Reconheço que esta casa é de longe melhor que a minha, meu
Deus, esta casa me deixa louca. Em que é que o Tony pensava quando
construiu esta casa? O que pensavam eles de mim, quando projetavam esta
casa? E de onde veio o dinheiro para construir e rechear esta casa? (...)
Quero descobrir nesta Julieta o que ela tem e eu não tenho. O que faz Tony
afastar-se de mim e apaixonar-se por ela? Ela é mesmo bonita, confirmo,
mas, Deus meu, por mais bonita que seja, não tem o direito de tirar-me o
marido que é meu.
● Rami invade a casa de Julieta (2ª esposa de Tony).

Primeiro round: Explosões de raiva correm como tempestades. Lanço sobre


ela todas as palavras injuriosas deste mundo. (...) Surpreendo-me a gritar
palavrões que nunca antes gritei. (...) Ela responde e o jogo aquece.
Segundo round: Lanço uma bofetada à minha rival. (...) Ela reage e defende-
se com uma força mágica vinda não se sabe de onde. (...) O meu corpo é
pesado e os gestos lentos. A minha rival é mais leve e mais ágil. Arranha-
me, despe-me, rasga-me, morde-me, esmurra-me.
Terceiro round: Defendo-me bem, tiro-lhe a peruca e arranho-lhe a cara.
Quarto round: Sinto que estou a perder o combate. Dou passos em
retaguarda e alcanço a rua. (...) Ela crava as unhas no meu pescoço, quase
que me estrangula. Os filhos dela, assustados, soltam gritos
ensurdecedores. Entro em pânico, sinto que vou morrer, começo também a
gritar, a rogar que ela me solte. Liberto-me.
Quinto round: Socorro, esta mulher me mata! Na altura em que tento fugir,
levo uma garrafada na nuca. Vejo estrelas no céu nublado.
Sexto round: Fui à guerra e perdi o combate. Desmaio.

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● Luta entre Rami (1ª esposa) e Julieta (2ª esposa).

Começamos a falar. Friamente Delicadamente. A minha rival abre-se e


conta-me a sua longa história. A sua cama é fria como a minha. Vive numa
solidão pior do que a minha. Tem cinco filhos como eu e agora espera o
sexto.
● As rivais conversam.
● Tony dizia que era solteiro para a 2ª esposa.
● Quando Julieta engravidou, ele contou que já era casado.
● A 2ª esposa diz que está sempre sozinha.
● Fala da possibilidade de uma 3ª mulher.

CAPÍTULO 4
A minha vizinha do lado insiste em levar-me para o curandeiro dela, mas eu
preferi matricular-me num curso promovido por uma famosíssima
conselheira amorosa que mora num lugar escondido no centro da cidade.
Hoje vou ter a minha primeira lição.
● Rami procura ajuda com uma conselheira amorosa.

As mulheres do sul acham que as do norte são umas frescas, umas falsas.
As do norte acham que as do sul são umas frouxas, umas frias. Em algumas
regiões do norte, o homem diz: querido amigo, em honra da nossa amizade
e para estreitar os laços da nossa fraternidade, dorme com a minha mulher
esta noite. No sul, o homem diz: a mulher é meu gado, minha fortuna. Deve
ser pastada e conduzida com vara curta. No norte, as mulheres enfeitam-se
como flores, embelezam-se, cuidam-se. No norte a mulher é luz e deve dar
luz ao mundo. No norte as mulheres são leves e voam. Dos acordes soltam
sons mais doces e mais suaves que o canto dos pássaros. No sul as mulheres
vestem cores tristes, pesadas. Têm o rosto sempre zangado, cansado, e
falam aos gritos como quem briga, imitando os estrondos da trovoada.
Usam o lenço na cabeça sem arte nem beleza, como quem amarra um feixe
de lenha. Vestem-se porque não podem andar nuas. Sem gosto. Sem jeito.
Sem arte. O corpo delas é reprodução apenas.
● Comparação entre as mulheres do SUL e do NORTE de Moçambique.
● Rami é do SUL.
● Ela quer reconquistar o marido.

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● Mudança sugerida pela conselheira: roupas e atitudes.

CAPÍTULO 5
O coração do meu Tony é uma constelação de cinco pontos. Um pentágono.
Eu, Rami, sou a primeira-dama, a rainha-mãe. Depois vem a Julieta, a
enganada, ocupando o posto de segunda-dama. Segue-se a Luísa, a
desejada, no lugar de terceira-dama. A Saly, a apetecida, é a quarta.
Finalmente a Mauá Sualé, a amada, a caçulinha, recém-adquirida. O nosso
lar é um polígono de seis pontos. É polígamo. Um hexágono amoroso.
● Rami descobre que, além dela, Tony tem mais 4 esposas (Julieta,
Luísa, Saly e Mauá).

CAPÍTULO 8
Vesti-me a rigor, de branco e vermelho - cores santas -, durante mais de seis
meses. Vasculhei fantasmas. Persegui o rastro do meu homem, o que foi
fácil, porque em cada passo ele caga um filho.
● Rami procura informações de todas as esposas.
● Julieta tem 5 filhos e está grávida do sexto.
● Luísa tem 2 filhos.
● Saly tem 2 filhos.
● Mauá é muito jovem.

CAPÍTULO 10
Gosto deste aniversariante. Bonitinho como o Tony, meu marido. Faz-me
lembrar o meu Betinho quando era bebê. Parece que os dois foram feitos
com o mesmo molde. São iguais. Iguaizinhos.
● Festa de aniversário do filho de Luísa.
● Conheceu Vito (amante de Luísa).

Comecei a frequentar a casa da Lu. A partilhar segredos. O Vito passou a ser


a sombra misteriosa perseguindo a sombra do meu ser. A lua que brilha na
fresta da minha janela. Excelente amante polígamo, distribuindo-nos amor
roubado, numa escala justa, tudo por igual. A situação embaraçava-me, por
vezes enjoava-me. A minha consciência censurava-me, mas o meu corpo

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estava lá à hora combinada, absolutamente dependente daqueles
encontros secretos como uma viciada em heroína.
● Rami marca encontros com Vito na casa de Luísa.

CAPÍTULO 11
Conheço um povo com tradição poligâmica: o meu, do sul do meu país.
Inspirado no papa, nos padres e nos santos, disse não à poligamia.
Cristianizou-se. Jurou deixar os costumes bárbaros de casar com muitas
mulheres para tornar-se monógamo ou celibatário. Tinha o poder e
renunciou. A prática mostrou que com uma só esposa não se faz um grande
patriarca. Por isso os homens deste povo hoje reclamam o estatuto perdido
e querem regressar às raízes. Praticam uma poligamia tipo ilegal, informal
sem cumprir os devidos mandamentos. Um dia dizem não aos costumes, sim
ao cristianismo e à lei. No momento seguinte, dizem não onde disseram sim,
ou sim onde disseram não. Contradizem-se, mas é fácil de entender. A
poligamia dá privilégios.
● Influência da colonização portuguesa.

CAPÍTULO 13
— Somos cinco. Unamo-nos num feixe e formemos uma mão. Cada uma de
nós será um dedo, e as grandes linhas da mão a vida, o coração, a sorte, o
destino e o amor. Não estaremos tão desprotegidas e poderemos segurar o
leme da vida e traçar o destino.
● Reunião convocada por Rami.
● Faz proposta de união entre as esposas.

CAPÍTULO 14
O Tony vai completar cinquenta anos de vida. Preparei tudo para a grande
festa, tinha que ser uma festa de arromba. (...) Há uma convidada entrando.
A Ju, muito tímida, entra com o cortejo das cinco crianças e o bebé no colo.
Estava vestida exatamente como a instruí. Vou saudá-la e recebo o bebé
como uma prenda. Ofereço-lhe um lugar mesmo ao meu lado e procuro um
espaço para as crianças dela. Nesse instante chega a Lu com os seus
meninos e entrego-a aos cuidados da Ju. A Saly entra em passos de furacão,
amazona, guerreira, disposta a vencer qualquer batalha. Finalmente entra
a Mauá Sualé, suave como sol de inverno, uma estrela que ilumina o mundo.

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Estávamos todas vestidas de igual, como se devem apresentar as mulheres
de um polígamo. As crianças também se vestiram de igual, ovelhas do
mesmo rebanho. E nós conversávamos animadamente umas com as outras,
como irmãs.
● Todas as esposas comparecem ao aniversário de Tony.

Faço o balanço do dia. Trazer estas mulheres para aqui foi uma autêntica
dança, um ato de coragem, um triunfo instantâneo no jogo de amor. O Tony
agrediu-me e retribuí o golpe, usando a sua própria arma.
● Tony fica envergonhado e foge.

CAPÍTULO 16
Isto acontece porque não trabalham. Em cada sol têm que mendigar uma
migalha. Se cada uma de nós tivesse uma fonte de rendimento, um
emprego, estaríamos livres dessa situação. É humilhante para uma mulher
adulta pedir dinheiro para sal e carvão.
● As mulheres buscam independência financeira.
● Elas empreendem e prosperam.

CAPÍTULO 18
- A nova rival é uma separada - explica a Lu. - Era esposa de um político e foi
rejeitada por ser estéril.
● Descobrem uma sexta mulher (Eva).
● Preparam vingança (Se Tony não consegue cuidar das cinco esposas,
qual é a necessidade de uma sexta?)

CAPÍTULO 21
- Tomei uma decisão. Vamos divorciar-nos. (...) — Quero assegurar-te de
uma coisa: não é por falta de amor. É punição. Pura vingança. Quero
colocar-te ao nível das outras mulheres. A tua conduta dos últimos tempos
não é digna de uma esposa. Já que estás registada nos meus documentos,
julgas que és alguma rainha. No lugar de educares as outras esposas,
instigas atitudes maldosas. Tenho que acabar com isso. Já tratei de tudo:
será divórcio de comum acordo. Vais assinar os papéis, o advogado vai
procurar-te dentro de alguns dias.

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● Tony pede divórcio para Rami.
● Motivo: vingança (momento de humilhação para Rami).
● Ela NÃO assina os papéis do divórcio.

CAPÍTULO 26
Uma sirene de ambulância interrompe o meu canto e olho para a esquerda.
Há um rio vermelho correndo no asfalto, alguém foi mortalmente
atropelado por um camião. (...) — Estou aflita. Ele não está em casa de
nenhuma das esposas.
● Elas relacionam o atropelamento com o desaparecimento de Tony.

CAPÍTULO 27
— O Tony foi atropelado ontem de manhã, na ponte, por volta das oito.
Respiro fundo. Vi o morto da ponte. Não tinha nada a ver com o Tony. Como
é que chegaram à conclusão de que era ele, se nós, as esposas, ainda não
procedemos à identificação do corpo?
● A família de Tony (irmãos) afirma que o corpo é do marido de Rami.
● Rami nega, mas a família dele não faz questão de escutá-la.

Ele pediu-me o divórcio. Eu disse que não. É bem sabido que ser viúva rende
mais do que ser divorciada. Na superstição de alguns, eu encomendei a
morte por magia, para evitar o divórcio e ficar com o espólio do morto.
● Rami é acusada de planejar a morte do marido.

CAPÍTULO 29
Agora falam do kutchinga, purificação sexual. Os olhos dos meus cunhados,
candidatos ao sagrado ato, brilham como cristais. Cheira a erotismo no ar.
A expectativa cresce. Sobre quem cairá a bendita sorte? Quem irá herdar
todas as esposas do Tony? Fico assustada. Revoltada. Minha pele se
encharca de suor e medo.
● A família de Tony chama Rami para uma reunião.
● Assunto: kutchinga.
● Rami (1ª esposa) deve passar por um ato sexual de purificação.
● O homem escolhido foi o irmão de Tony (Levy).
● A viúva não tem poder de decisão (ato obrigatório).

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CAPÍTULO 30
— Tenho as minhas razões. Primeiro, fui eu que sugeri ao Tony esta viagem
para ir consultar um médico por causa daquele problema do joelho. Tratei
de tudo, desde as reservas de voos, hotéis, consultas. Quando tudo está
pronto, carrega na bagagem outra mulher, para a lua-de-mel. A tal Gaby.
Segundo, eu não sabia que ele tinha tantas mulheres. Conhecia apenas a
Mauá, a quem ele me convenceu ser a única e a legítima esposa. Descobri
que ele mentia. Fiquei muito magoada.
● Eva (6ª esposa) procura Rami.
● Conta que Tony está viajando (consultar um médico).
● Ele está com outra amante na viagem (Gaby).
● Eva também foi enganada por Tony.
● Como vingança, Rami finge não saber a verdade e pratica o ato sexual
de purificação com Levy (era como devolver a traição).

CAPÍTULO 33
O Tony regressa a casa como um homem vencido, um desertor arrependido,
filho pródigo. Um traste, um homem morto. Depara com a casa vazia. Em
passos rápidos varre todos os compartimentos. Dá umas tantas voltas. Tem
a sensação de estar a caminhar num outro lugar que não é a sua casa. As
salas parecem-lhe campos de futebol de salão. No outro quarto vê os filhos
sentados numa esteira como prisioneiros numa cela.
● A família de Tony retira os bens de Rami e filhos (seguir a tradição).
● Tony retorna para casa.

— Vi a tua morte e fui ao teu funeral — desabafo. — Usei luto pesado. Os


malvados da tua família até o meu cabelo raparam. Até o kutchinga,
cerimônia de purificação sexual, aconteceu.
(...)
— Quem foi o tal?
— Foi o Levy
— Não reagiste, não resististe?
— Como? É a nossa tradição, não é? Não me maltratou, descansa. Foi até
muito suave, muito gentil. É um grande cavalheiro, aquele teu irmão.

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Falo com muito prazer e ele sente a dor de marido traído. No meu peito
explodem aplausos. Surpreendo-me. Sinto que endureci nas minhas
atitudes.
● Rami revela a verdade: as atitudes da família dele, o cabelo, os bens
e o ato de purificação.
● Tony fica envergonhado.
● Pede perdão.

CAPÍTULO 34
— Não fiquem assim, meninas, que o manto da vida se tece com fios de
amor e perda o. Eis-me aqui, sou vosso. Crucifiquem-me na cruz de pedra,
tatuem-me as costas com chibatadas e ferro em brasa, meninas, vamos,
vinguem-se, mas por favor, vos peço: perdoem-me.
● Reunião com as 5 esposas: Tony implora por perdão.

CAPÍTULO 36
O Tony cumpre o seu papel de amante e apaixonado por todas, procurando
agradar-nos com toda a força que a sua macheza permite. Passa os fins-de-
semana a correr de uma discoteca para a outra, de um baile para o outro.
● A paz reina por um tempo.

CAPÍTULO 37
Tirou do bolso um envelope para eu ler. Abri. Li. Era uma carta breve, de
despedida. Uma carta linda e curta. E tinha um convite de casamento,
assinado por Vito e Lu, que vão casar este fim-de-semana. Meti a carta no
envelope e devolvi-a ao Tony que a meteu novamente no bolso. Um forte
rumorejo afasta-nos das divagações. Olhamo-lo. O seu rosto era pesado e
denso como uma fera.
● Lu (3ª esposa) pede separação.
● Ela vai casar com Vito (amante antigo).
● Tony culpa Rami por não colocar ordem nas outras esposas.

- Bastam-me, sim. Mas o que dirá o mundo? Todos os homens zombarão de


mim. Todos duvidarão da minha virilidade e serei motivo de chacota. Dirão

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que entrei na andropausa. Que estou a perder os meus poderes. Que deixei
a gaiola aberta por incompetência.
● Tony preocupado com o julgamento da sociedade.
● Humilhação.

CAPÍTULO 39
A cerimônia acaba, a Lu já é casada. Todos saem para cumprimentar os
noivos. Eu sou a última.
● Todas as esposas comparecem ao casamento de Lu e Vitor.

CAPÍTULO 40
De tudo ter. acabei não tendo nada. As minhas esposas esvoaçam como
pássaros numa gaiola aberta, e eu fico a olhar, espantado, essas mulheres
a quem amordaçava as asas e afinal sabem voar. Ontem, vendedeiras de
esquina, eram submissas e me adoravam. Hoje, empresárias, já não me
respeitam.
● Tony fica preocupado com a independência das esposas.
● As consequências da independência financeira.

- Ser esposa de um polígamo é responsabilidade imensa — falo com toda a


autoridade. — Queremos ter a honra de mostrar ao mundo que somos
adultas e sabemos partilhar. Que não temos ciúmes. Eu, em particular,
quero usar o direito que a poligamia confere, como primeira esposa. Decidi
que tens que casar com uma nova mulher. Expus o caso às esposas mais
novas e todas concordamos.
● As esposas escolhem outra esposa para Tony (substituir a Lu).

- Respeitamos a tua decisão—diz a Saly — Ficarás então no teu canto. Terás


de tudo: alimentos, cuidados e paz, menos a nossa companhia. A tua recusa
é uma declaração de impotência sexual, e então vamos reunir o conselho de
família, informar do que se passa e procurar assistentes conjugais. Este é
um direito que a poligamia nos confere.
● Tony nega.
● Elas usam o direito da tradição e pedem assistentes conjugais
(amantes).

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- Eu tenho já um assistente conjugal que será meu marido dentro de quinze
dias. Tony terei muitas saudades tuas. Só me resta agradecer-te. Recolheste-
me no monte de lixo e aproximaste-me da Rami, que me deu as lições da
vida e me fez nascer outra vez.
● Mauá (5ª esposa) diz que já tem um assistente conjugal.
● Está com casamento marcado.
● Abandona Tony.

— Eu estou sempre calada, mas hoje quero falar. Preciso de falar. (...) O meu
novo marido é um português. Nós nos amamos, muito, muito, muito. É
muito meiguinho, aquele meu velhinho. E viúvo, esse meu homem. E tem
dinheiro. Muito dinheiro. (...) Ele adotou os meus filhos como seus e dá-lhes
muito carinho. Em breve vou me casar com véu e tudo. Finalmente hei de
subir ao altar vestida de branco, usar aliança, entrar na igreja em marcha
nupcial com música e tudo.
● Mais uma esposa (Julieta – 2ª esposa) abandona Tony.

CAPÍTULO 43
A Lu, a desejada, partiu para os braços de outro com véu e grinalda. A Ju, a
enganada, está loucamente apaixonada por um velho português cheio de
dinheiro. A Saly a apetecida, enfeitiçou o padre italiano que até deixou a
batina só por amor a ela. A Mauá, a amada, ama outro alguém. Só fiquei
eu, a rainha, a principal (...).
● Revelação do destino de cada esposa.

O abraço é forte e pressiona-me o ventre duro como uma pedra, palpitando


de vida.
— Rami, é um filho?
Baixo os olhos. Chegou a minha vez de chorar.
— Mas como, se... Não respondo, continuo no meu choro silencioso.
— Diz que é meu, diz e salva-me.
● Tony percebe que Rami está grávida.

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— Não te posso salvar. Tento salvar-te mas não consigo, não tenho força,
sou fraca, não existo, sou mulher. Os homens é que salvam as mulheres e
não o contrário.
— Rami!
— O filho é do Levy!
● O filho é do irmão de Tony (engravidou no ato de purificação –
kutchinga).

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QUESTÕES

Unicamp 2022
1) Tudo na vida é mortal, tudo se apaga. Se a tua chama se apaga é em ti
que está a falta. Faz o que te digo e magia nenhuma te derrubará nesta vida.
Tu és feitiço por excelência e não deves procurar mais magia nenhuma.
Corpo de mulher é magia. Força. Fraqueza. Salvação. Perdição. O universo
inteiro cabe nas curvas de uma mulher.
(Paulina Chiziane, Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.
p. 38.)

O excerto acima corresponde a uma das primeiras lições que a conselheira


amorosa oferece a Rami, a personagem principal do romance. Tendo em
vista as várias peripécias vividas por Rami, essa lição é
a) aceita pela protagonista, mas sua trajetória lhe ensina que o corpo
feminino é, no fim das contas, perdição.
b) abandonada pela personagem principal, uma vez que seu marido
não se encanta com seus novos ardis.
c) frustrada, pois Rami, ao conhecer suas rivais, percebe que não
possui todos os atributos desejáveis.
d) confrontada com a experiência pessoal de Rami e de suas rivais,
transformando-as de modo significativo.

Unicamp 2023
2) Conheço um povo sem poligamia: o povo macua. Este povo deixou as suas
raízes e apoligamou-se por influência da religião. Islamizou-se. (...) Conheço
um povo de tradição poligâmica: o meu, do sul do meu país. Inspirado no
papa, nos padres e nos santos, disse não à poligamia. Cristianizou-se. Jurou
deixar os costumes bárbaros de casar com muitas mulheres para tornar-se
monógamo ou celibatário. (...) Um dia dizem não aos costumes, sim ao
cristianismo e à lei. No momento seguinte, dizem não onde disseram sim,
ou sim onde disseram não.
(CHIZIANE, Paulina. Niketche. Uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004,
p. 92.)

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Baseando-se no excerto e na leitura da obra, é correto afirmar que
a) a organização familiar é fruto da vida religiosa dos povos, cabendo
assim a monogamia aos povos cristãos e a poligamia aos povos
islâmicos.
b) os costumes culturais no modo de organizar os arranjos familiares
são colocados em xeque por novas estruturas de poder, as quais
transmitem outros valores.
c) a monogamia aparece como evolução natural aos costumes
supostamente bárbaros de os homens se casarem com muitas
mulheres em determinadas culturas africanas.
d) o povo macua tornou-se monogâmico depois de abraçar a fé cristã
trazida pelo papa e padres, o que pode ser considerado um
aprimoramento social.

UERJ 2023
3) Vou ao espelho tentar descobrir o que há de errado em mim. (...) Ah, meu
espelho estranho. Espelho revelador. Vivemos juntos desde que me casei.
Por que só hoje me revelas o teu poder? (cap. 1)

Não mais terei aquele espelho onde se refletia a imagem daquilo que fui, do
que não sou e nunca mais voltarei a ser. (cap. 38)

Assim como em outros textos literários, o “espelho” é um objeto que


assume função simbólica na construção da narrativa em Niketche. Em
relação a Rami, narradora e personagem principal, essa função é de:
a) marcar etapas de sua trajetória em busca de transformar sua
identidade em uma sociedade patriarcal.
b) apresentar seus conflitos morais a fim de denunciar sua
cumplicidade com uma estrutura polígama.
c) desvendar traços de sua personalidade de modo a debater sua
fragilidade em um país colonizado.
d) destacar suas ações recorrentes com o intuito de superar seu papel
em uma família tradicional.

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UERJ 2023
4) Niketche é o nome de uma dança executada em ritos de iniciação sexual
das jovens em algumas regiões de Moçambique. No contexto do romance,
a apropriação da dança pela autora pode ser entendida como uma
subversão de sentidos.

Essa subversão está melhor exemplificada no seguinte fragmento:


a) No coração da noite residem os sonhos. Umas vezes são coloridos
como as flores. Outras, pássaros negros dançando nas trevas como
fantasmas. (cap. 1)
b) Fazem fofocas. Falam nos ouvidos umas das outras e mandam
risinhos de troça. Comem, bebem e dançam. (cap. 14)
c) Só o Tony é que não deu pela mudança. Está na dança de homem,
onde tudo é permitido. (cap. 36)
d) A cantar e a dançar, construiremos escolas com alicerces de pedra,
onde aprenderemos a escrever e a ler as linhas do nosso destino. (cap.
39)

Ufu 2022
5) Há diferenças enormes, aliás, entre Couto e Paulina Chiziane, a mais
recente vencedora do Camões e igualmente moçambicana, mas diferente
em cor. A autora de "Niketche" foi a primeira mulher da África a vencer o
prêmio, como a primeira negra a publicar um romance no seu país.
O repórter pergunta se Couto avalia que ser um homem branco o ajudou a
se tornar um dos autores mais prestigiados da língua portuguesa. Ele
responde sorrindo que "gostaria de imaginar que não", e afirma ser fruto
de uma "cota invisível pela sua condição racial".
São poucos milhares de brancos em Moçambique, diz ele, contra dezenas
de milhões de negros. Mas esse privilégio está se dissolvendo; hoje o
reconhecimento aos escritores negros é muito maior, o que se espelha na
figura de Chiziane.
"Ela não ganha prêmios porque ela é mulher nem porque é preta, mas por

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sua obra", complementa ele, acrescentando que de quebra ela tem o mérito
do pioneirismo.
Em Moçambique, houve ao longo da história "um clima que impedia que
mulheres fossem lidas como sujeitos de sua própria história", ainda mais ao
falar sobre sua sexualidade como faz Chiziane. "Além de um exemplo como
escritora, ela é um exemplo de heroísmo."
PORTO, Walter. Disponível em: . Acesso em: 10 jun. 2022. (Adaptado).

Analise as expressões destacadas no fragmento acima e assinale a


alternativa correta.
a) O termo “nem” em “‘Ela não ganha prêmios porque ela é mulher
nem porque é preta’ [...]” cumpre a mesma função de expressar a ideia
de adição que “além de” em “‘Além de um exemplo como escritora’
[...].”
b) O termo “como” em “[...] como a primeira negra a publicar um
romance no seu país.” apresenta função equivalente ao seu uso em “ao
falar sobre sua sexualidade como faz Chiziane.”
c) O termo “aliás” no trecho “Há diferenças enormes, aliás, entre
Couto e Paulina Chiziane” cumpre a mesma função que a expressão
“apesar de” cumpriria no enunciado, caso esta viesse a substituir o
referido termo.
d) A expressão “Ainda mais” em “[...] ainda mais ao falar sobre sua
sexualidade [...]” tem a mesma força argumentativa que o termo “e”
em: “[...] e afirma ser fruto de uma "cota invisível pela sua condição
racial".

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GABARITO COMENTADO

Questão 01
a) [ERRADA] Rami aceita o conselho apenas no princípio, depois ela
entende que o corpo feminino é muito mais do que apenas perdição.
b) [ERRADA] Rami não abandona os conselhos. O entendimento restrito
do início se modifica e ela passa a não se importar mais com o olhar do
marido, mas sim com o julgamento de si mesma.
c) [ERRADA] Rami, ao longo da narrativa, entende que cada mulher
possui suas próprias qualidades e a comparação deixa de ser importante.
d) [CORRETA] A princípio, Rami acredita que o uso do corpo é estratégia
para vencer as rivais, mas descobre que a sua verdadeira força se revela
quando consegue libertar-se de Tony, o marido. Portanto, os conselhos
foram reinterpretados ao longo da narrativa.

Questão 02
a) [ERRADA] A religião tem influência significativa na organização
familiar, no entanto, não é única e decisiva. O trecho “Um dia dizem não
aos costumes, sim ao cristianismo e à lei” mostra que as pessoas que
estão no poder tomam todas as decisões e as transformam em lei.
b) [CORRETA] No trecho, Rami mostra como em Moçambique coexistem
duas religiões e dois costumes culturais distintos: a poligamia, da
tradição islâmica, e a monogamia, da tradição cristã. Ela revela como
essas duas estruturas, então, influenciam os arranjos familiares, que
podem se alterar a qualquer momento: “Um dia dizem não aos
costumes, sim ao cristianismo e à lei. No momento seguinte, dizem não
onde disseram sim, ou sim onde disseram não”.
c) [ERRADA] A expressão “evolução natural” anula a alternativa, pois
esse processo não ocorre naturalmente, mas por imposição do poder
religioso, econômico e político. A monogamia é considerada uma
evolução apenas diante da lei, pois os homens continuam praticando a
poligamia ilegalmente.

@isanovasrodrigues Professora Isa Novas


d) [ERRADA] O povo macua manteve sua tradição poligâmica. O
processo de apagamento de culturas não é colocado como
aprimoramento social.

Questão 03
a) [CORRETA] Na obra, o espelho marca etapas da trajetória de Rami em
busca de transformar sua identidade em uma sociedade patriarcal. Trata-
se de um espelho revelador, por meio do qual a personagem encara sua
vida atual e, posteriormente, altera sua identidade. Ela precisou se
redescobrir e ultrapassar barreiras do período e contexto, o que trouxe
mudanças.
b) [ERRADA] O espelho é utilizado por Rami para confrontar e questionar
os costumes familiares e a estrutura imposta pela sociedade. Anula-se a
alternativa pelo trecho “denunciar sua cumplicidade com uma estrutura
polígama”, pois ela não é cúmplice da estrutura polígama, ela busca uma
solução para a família que lhe foi imposta.
c) [ERRADA] A obra retrata as consequências culturais de um país
colonizado, no entanto, o espelho entra para fixar a fragilidade da
protagonista, mas sim transformá-la.
d) [ERRADA] A estrutura familiar é questionada na obra. Rami não tem a
intenção de se encaixar em um modelo de família tradicional, ela busca
sua própria identidade.

Questão 04
a) [ERRADA] A dança faz referência aos sonhos e desejos. O trecho não
segue o comando do enunciado que orienta sobre a conexão subversiva
da dança pela personagem Rami.
b) [ERRADA] Aqui a dança é utilizada com sentido literal, momento de
diversão e descontração. Não é um sentido subversivo.
c) [ERRADA] O enunciado orienta a conexão do trecho com a apropriação
da dança pela aula e, aqui, aparece apenas o Tony, marido da
protagonista Rami.

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d) [CORRETA] Nesse trecho, a dança faz referência ao público feminino
e, por consequência, à Rami, protagonista da obra, o que configura
Niketche de fato, mas não apenas como movimentos e atos específicos.
A autora subverte o sentido da dança, inicialmente conectados a ritos de
iniciação sexual das jovens, o que indica a ideia de autoconhecimento e
aceitação do eu e, a partir desta descoberta, cada mulher busca traçar o
próprio destino.

Questão 05
a) [CORRETA] Nos contextos indicados, os termos “nem” e “além de”
expressam ideia de adição, podendo ser substituídos por “e”.
b) [ERRADA] O primeiro “como” tem sentido de adição e o segundo
apresenta noção de exemplificação.
c) [ERRADA] O termo “aliás” reforça e enfatiza o que está sendo
afirmado. A expressão “apesar de” tem sentido de contrariedade.
d) [ERRADA] “Ainda mais” representa acréscimo ao que já foi mencionado.
O termo “e” indica acréscimo de uma informação nova.

@isanovasrodrigues Professora Isa Novas


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