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Resumo—Este artigo visa contextualizar o cenário nacional de Com essa mudança no cenário nacional, o uso de monitores
aplicação de cargas em transformadores de potência. Aborda os térmicos para controlar e supervisionar temperatura do óleo e
principais aspectos da norma NBR 5416/1997, da Resolução dos enrolamentos e a perda de vida passou a ser obrigatório nos
ANEEL 191 dez/2005, do Procedimento de Rede do ONS
Submódulo 2.3. Também será apresentado o campo de aplicação trafos.
e descrito os pré-requisitos necessários para a utilização de Os monitores térmicos digitais permitem ganhos e vantagens
monitor térmico digital com confiabilidade e segurança. É para as empresas, tais como:
ressaltada a necessidade da criação de uma base de dados para a • Possibilidade em atender sobrecargas temporárias,
parametrização dos monitores térmicos digitais, assim como os sem ultrapassar os limites térmicos propostos pelo
recursos necessários na especificação do mesmo, para atender
fabricante do equipamento, respeitando a perda de
plenamente o controle da carga aplicada e a importância do
sistema de resfriamento com partida automática. vida útil diária;
• Possibilidade de utilizar carregamentos acima das
I. INTRODUÇÃO condições nominais, por um período preestabelecido,
adiando investimento de expansão do sistema elétrico
A aplicação de cargas acima da potência nominal do
da empresa;
transformador vem sendo praticada desde a década de 80 por
várias concessionárias no Brasil. • Possibilidade de atender áreas de Manutenção e
Para regulamentar a prática, no ano de 1981 a ABNT Operação em seus estudos programados e em
publicou a norma NBR 5416/1981 [1] que definiu a aplicação emergência com confiabilidade e segurança;
de cargas em transformadores (trafos) do Brasil até a potência • Possibilidade de controlar e monitorar o sistema de
de 100 MVA. resfriamento, fornecendo alarmes na ausência de um
Em 1997, a ABNT publicou a norma NBR 5416/1997 [2], moto ventilador e/ou não acionamento do mesmo;
que definiu a aplicação de carga a todos os trafos do Brasil sem • Possibilidade de controlar o carregamento térmico dos
limitação de potência. A partir destas datas, todos os projetos trafos com confiabilidade e dentro dos limites de
de fabricação de trafos conforme a NBR 5356 [3] passaram a projeto e fabricação com perda de vida normal.
referendar estas importantes normas.
Em 2005 o ANEEL publicou a Resolução 191/DEZ 2005 [4] II. ASPECTOS NORMATIVOS DO CENÁRIO NACIONAL
definindo critérios e procedimentos para aplicação de cargas A. Norma NBR 5416
para os trafos pertencentes à Rede Básica (≥230 kV) e no ano No ano de 1981, visando regulamentar a aplicação de carga
de 2012 a ANEEL definiu o Procedimento de Rede Submódulo acima da potência nominal (sobrecarga) do transformador, a
do ONS (ONS - Operador Nacional do Sistema) que obriga a ABNT publicou a norma NBR 5416/81 [1]. Esta norma definiu
todas as novas aquisições de SE, pertencentes à Rede Básica, a os critérios para aplicação de cargas em transformadores até a
comprar transformadores de potência para atender o seguinte potência de 100 MVA.
critério de carga em regime. Este critério define que em um Em 1997, uma nova versão da norma NBR 5416/97 [2]
ciclo de 24 h, os transformadores devem ser projetados para estendeu este procedimento transformadores com potência
atender o carregamento de 19,5 h com 100% da carga, 4 h com acima de 100 MVA.
120% da carga; 30 minutos com 140% da carga sem exceder a A partir desta norma, todos os fabricantes de
perda de vida útil diária de 0,0369% transformadores que desenvolveram projetos de acordo com a
A fim de tornar as normas possíveis e aplicáveis nas norma de especificação NBR 5356/1993 [3], passaram a
concessionárias, foi necessária a implantação do Procedimento considerar os limites de carregamento estabelecidos pela
de Carregamento Admissível em Transformadores de Potência, NBR 5416/97.
conforme definido pelas normas NBR 5416/1981 e Desta maneira, todos os transformadores fabricados segundo
NBR 5416/1997. Este procedimento tem como um dos seus as normas brasileiras, devem ter os limites de aplicação de
fundamentos a implantação de um sistema de supervisão e carga e temperatura garantidas pelos fabricantes.
controle nos transformadores, que possibilitaria ao usuário a Extraídos da norma NBR 5416/97 e apresentados nas
segurança e confiabilidade na aplicação de cargas aos Tabela I e Tabela II, os valores limites de carregamento e
transformadores sem violação dos limites de projeto. temperatura estão relacionados às características construtivas
do transformador de acordo com a classe (55°C ou 65°C) e
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potência nominal (maior ou menor do que 100 MVA). As Assim, conforme já estabelecido nos Procedimento de Rede,
tabelas representam ainda, as condições máximas para as quais deverá ser utilizado o método para cálculo da capacidade de
o equipamento não ultrapassa a perda de vida útil diária, carga de um transformador de potência descrito na Norma
considerada como a representação da perda de vida para um dia Técnica ABNT- NBR 5416/97, inclusive para as situações em
em relação à vida total do transformador (em porcentagem). que o transformador opera com corrente acima do valor
TABELA I
nominal, resguardadas as condições limites de temperaturas no
CARGAS MÁXIMAS ADMISSÍVEIS topo do óleo e no ponto mais quente dos enrolamentos. Em
Transformador
caráter excepcional, nas situações em que possa ocorrer perda
Tipo de Transformador até
Carregamento 100 MVA adicional de vida útil quando comparada à expectativa final de
>100 MVA
de 40 anos, será avaliada pelo ONS a condição técnico-
Condição Normal 150% 130%
econômica mais adequada para a operação do referido
Emergência Longa Duração 150% 130% transformador, e caso aprovado, será aplicada a Resolução
Emergência Curta Duração 150% 140% ANEEL n° 513/2002 e utilizado o método de cálculo, valores e
TABELA II procedimentos para aplicação de carga em transformadores de
TEMPERATURAS MÁXIMAS potência conforme estabelecido na Resolução, respeitados os
Temp. do Ponto limites de temperatura estabelecidos na Norma Técnica
Temperatura do ABNT-NBR 5416/97.
Tipo de mais Quente
Topo do Óleo A mesma norma fundamentou também o Procedimento e
Carregamento (enrolamento)
Tr 55°C Tr 65°C Tr 55°C Tr 65°C Rede Submódulo 2.3 publicado pelo ONS no ano de 2011, o
qual estabeleceu que todas as novas aquisições de
Condição Normal 95°C 105°C 105°C 120°C
transformadores de potência para a Rede Básica devem atender
Emergência Longa Duração 105°C 110°C 120°C 130°C
ao seguinte critério: Em um ciclo de 24 horas, os
Emergência Curta Duração 105°C 110°C 130°C 140°C transformadores devem ser projetados para atender o
Estes limites são válidos apenas para trafos que possuem carregamento de 19,5 horas com 100% da carga, 4 horas com
controle do processo de degradação por ação da água, oxigênio 120% da carga e 30 minutos com 140% da carga, sem exceder a
e ácidos presentes no óleo isolante. Mantendo-se sob controle a perda de vida por ciclo de 24 h cujo valor é 0,0369%. Este ciclo
ação desses contaminantes, o envelhecimento da celulose é de carga é apresentado a seguir na Fig. 1.
predominantemente térmico e cumulativo.
B. Resolução ANEEL 191/DEZ 2005 e Procedimento de
Rede Submódulo 2.3 ONS
A norma NBR 5416/97 serviu de base para elaboração da
Resolução da ANEEL 191/DEZ 2005 [4]. Esta resolução
definiu os critérios e procedimentos, apresentados nas
Tabela III e Tabela IV para aplicação de cargas aos
transformadores pertencentes à Rede Básica.
TABELA III Fig. 1. Ciclo de Carga Diário
CARGAS E TEMPOS DEFINIDOS PELA RESOLUÇÃO 191/DEZ2005
Além disso, o Submódulo 2.3 dos Procedimento de Rede do
Tipo de Transformador
Tempo (horas) ONS definiu que:
Carregamento >100 MVA
• O ciclo de carregamento em condição normal de
Condição Normal 100 % 24
operação é aquele no qual, em nenhum momento, é
Emergência Longa Duração 130 % 4 excedida a temperatura do topo do óleo ou a do ponto
Emergência Curta Duração 140 % 1/2 mais quente do enrolamento para a condição normal,
TABELA IV
mesmo que, em parte do ciclo, seja ultrapassada a
LIMITES TÉRMICOS DEFINIDOS PELA RESOLUÇÃO 191/DEZ2005 potência nominal;
Temperatura do Temp. do Ponto
• Ciclo de carregamento em condição de emergência de
Topo do Óleo mais Quente longa duração permite que sejam ultrapassados os
Tipo de
Carregamento limites de temperatura do ciclo de carregamento em
Tr Tr Tr Tr
55°C 65°C 55°C 65°C condição normal de operação, uma vez que são
consideradas saídas prolongadas de unidades
Condição Normal 95°C 105°C 105°C 120°C
transformadoras, por desligamento de algum elemento
*Emergência Longa Duração – – – –
do sistema.
*Emergência Curta Duração – – – – Portanto, tanto a Resolução da ANEEL quanto o
*Nota: A resolução 191 da ANEEL considera os limites térmicos apenas para Submódulo 2.3 utilizavam o conceito da NBR 5416/97 de que a
a condição normal de carregamento na qual não há perda de vida diária menor
ou igual a 0.00684%.
sobrecarga em transformadores é caracterizada termicamente e
não pela potência.
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C. CPST – Contrato de Prestação de Serviços de Os critérios térmicos, para definir limites de carregamentos
Transmissão são pouco utilizados no país. Tanto na Transmissão quanto na
Após a publicação da Resolução ANEEL 191/DEZ e do Distribuição a principal razão é falta de confiabilidade nos
Submódulo 2.3 pelo ONS, as empresas Transmissoras tomaram monitores térmicos instalados nos transformadores.
conhecimento dos limites para as cargas e temperaturas Algumas empresas, para manter níveis de qualidade de
segundo a NBR 5416/97 os quais foram apresentados nas fornecimento satisfatório, estão admitindo os limites de
Tabela III e Tabela IV. carregamentos da Tabela I, 150% da potência nominal por
Inúmeras contestações por parte das empresas 30 minutos, sem controle de temperatura, desconsiderando os
Transmissoras foram feitas questionando os critérios na procedimentos definidos pela norma NBR 5416/1997.
definição dos limites para cargas e temperaturas aplicáveis aos
transformadores: III. UTILIZAÇÃO DOS LIMITES TÉRMICOS DEFINIDOS
Dentre as principais contestações, as empresas alegavam NBR 5416/97 PARA APLICAÇÃO DE CARGAS EM
que: TRANSFORMADORES
• Parte dos transformadores instalados haviam sido O controle de aplicação de carga, segundo a NBR 5416/97,
fabricados antes da publicação da NBR 5416/97, ou deve ser realizado avaliando-se, simultaneamente, potência e as
seja, em um período no qual não havia norma temperaturas do óleo e do ponto mais quente para que ambas
brasileira para transformadores com potência acima de não violem os critérios definidos nas Tabela I e Tabela II.
100 MVA; Desta forma, o controle do carregamento dos
• Ausência de um monitor térmico que apresentasse alta tranformadores deverá obedecer aos seguintes critérios:
segurança e confiabilidade para que pudessem adotar • Para valores de potência iguais ou inferiores aos
o controle de carregamento por temperatura, conforme apresentados na Tabela I, o controle de aplicação de
definido pela NBR 5416/1997. carga deve respeitar os limites térmicos (controle por
Com o objetivo de atender as revindicações das empresas temperatura) apresentados na Tabela II;
Transmissoras, o ONS elaborou o CPST - Contrato de • Para valores de potência superiores aos dispostos na
Prestação de Serviços de Transmissão [5]. Este documento Tabela I, mesmo que as temperaturas apresentem-se
contém procedimentos bem diferentes em relação ao dentro dos limites, medidas para desligamento ou
Submódulo 2.3. Dentre as principais diferenças, podemos citar: transferência de carga precisam ser tomadas.
• Os limites das Tabela III e Tabela IV não foram É importante citar que as temperaturas que serão atingidas
aplicados; pelo óleo e ponto mais quente do enrolamento dependem da
• O critério de sobrecarga foi definido pela potência temperatura ambiente em que o transformador está instalado,
nominal e não pelos limites térmicos; ciclo de carga pré-carregamento e eficiência do sistema de
• Aspectos de manutenção foram considerados como ventilação forçada.
fatores limitantes, tais como: presença de enxofre Por isso, o controle por temperatura é considerado dinâmico
corrosivo no óleo, e outros; e, desta forma, é possível a aplicação da máxima carga para
• Problemas de pagamento de Parcela Variável (PV), cada condição em que se encontrem as variáveis citadas
por parte das transmissoras, no caso de falhas em seus anteriormente. Respeitando o controle proposto pela
transformadores; NBR 5416/97 consegue-se aumentar a carga aplicada ao
• Aspectos comerciais foram avaliados visto que as transformador quando as condições operacionais forem
empresas transmissoras não recebiam por favoráveis e limitá-la quando as mesmas forem desfavoráveis.
carregamento acima do nominal do transformador. Para que seja possível a aplicação dos limites e critérios
Além disso, o ONS definiu também que para todos os estabelecidos, torna-se essencial a implantação de um sistema
transformadores fabricados até 2011, o critério de aplicação de de supervisão e controle dos transformadores. Este sistema visa
cargas é o CPST, no qual a maioria dos limites estabelecidos é garantir o monitoramento em tempo real com confiabilidade
a potência nominal dos transformadores, independentemente da dos seguintes parâmetros:
temperatura. Caso as empresas necessitassem carregar seus • Carregamento do transformador em pu (corrente
transformadores acima do limite do CPST, teriam que aplicada sobre corrente nominal);
flexibilizar seus limites de contrato e garantir sua • Temperatura do óleo;
aplicabilidade. • Temperatura do ponto mais quente do enrolamento;
Nas empresas Distribuidoras (cujo nível de tensão é menor • Temperatura ambiente;
ou igual a 138 kV), não há regulamentação para aplicação de • Eficiência dos estágios de ventilação forçada.
cargas nos transformadores. Os critérios são definidos pela Todas essas variáveis podem ser mensuradas através da
própria empresa. A grande maioria utiliza como critérios: utilização dos monitores térmicos digitais de transformadores.
• O carregamento em regime normal até 100% da Por meio desses, os usuários terão dados suficientes para aplicar
potência nominal; carregamentos sem extrapolar os limites estabelcidos pelas
• O carregamento em emergência e/ou contingência regulamentações.
120% da potência nominal por 2 horas.
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Fig. 3. Onde:
θ amb = temperatura ambiente de ensaio em fábrica
∆topo óleo /θ amb. = elevação da temperatura do topo do óleo sobre a temperatura ambiente de ensaio
∆θem / topo óleo = elevação da temperatura média do enrolamento sobre a temperatura do topo do óleo obtida no ensaio
∆t = gradiente do enrolamento/topo óleo para ajuste da imagem térmica dos transformadores de potência ∆t = ∆θem / topo óleo acrescida do FS
FS = fator de correção para a definição do ponto mais quente do enrolamento
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