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Universidade Federal de Uberlândia

Faculdade de Engenharia Civil


Curso de Arquitetura e Urbanismo

INSTALAÇÕES PREDIAIS I

APOSTILA DA DISCIPLINA

Prof.: Dr. Marcio Ricardo Salla


Aluno: João Eduardo Ribeiro da Silva
1 SISTEMAS DE UNIDADES

1.1 Grandezas fundamentais e derivadas

Na natureza, de uma forma geral, qualquer grandeza (força, pressão,


velocidade, vazão, etc…) possui, em sua composição, diferentes combinações
de unidades de distância, massa, tempo, temperatura, corrente elétrica,
quantidade de matéria e intensidade luminosa. Tais unidades são ditas como
grandezas fundamentais.
Com isso, entende-se que grandeza derivada corresponde à
combinação de grandezas fundamentais. Nas engenharias, mais
especificamente na disciplina Hidráulica Agrícola, as grandezas fundamentais
mais utilizadas são: distância, massa e tempo. Como exemplo, tem-se a
velocidade e o volume. A velocidade (m/s ou cm/s ou m/min ou m/h …) trata-se
de uma grandeza derivada, pois corresponde-se à combinação de duas
grandezas fundamentais: distância e tempo. Também, o volume (m3 ou cm3 ou
mm3 ou dm3 ….) trata-se de uma grandeza derivada, correspondente à
grandeza fundamental distância.
Na sequência deste texto comentar-se-á apenas sobre as grandezas
fundamentais mais utilizadas dentro da disciplina Hidráulica.

1.1.1 Comprimento

Inicialmente, a grandeza fundamental distância mais conhecida é a


métrica. Na história, existem várias definições para a unidade metro. A mais
atual (1983) define metro como comprimento do trajeto percorrido pela luz no
vácuo durante um intervalo de tempo de 1/299.792.458 segundos. O sistema
métrico em escalas decimais de grandezas mais usuais facilita a compreensão
das ordens de grandeza. A Tabela 1.1 mostra o sistema métrico em escalas
decimais mais usuais.
Tabela 1.1 – Sistema métrico em escalas decimais mais usuais

Unidade Abreviação Valor


Milímetro mm 10-3 m
Centímetro cm 10-2 m
Decímetro dm 10-1 m
Metro m 1m
Decâmetro dam 10+1 m
Hectômetro hm 10+2 m
Quilômetro km 10+3 m

O sistema métrico é muito aceito na comunidade internacional. Os


ingleses tentaram, sem sucesso, impôr ao mundo algumas grandezas
fundamentais de distância, como: polegada, jarda e pé. A relação entre tais
unidades e o sistema métrico está mostrado na Tabela 2.2.

Tabela 1.2 – Equivalência entre polegada, jarda e pé com o sistema métrico de


unidades
Unidade Valor Equivale
Polegada (“) 25,4 mm Comprimento de três grãos de cevada alinhados
Distância entre a ponta do nariz e o polegar, com o braço
Jarda 0,914 m
estendido, do rei Henrique I (Século XII)
Pé 0,305 m 12“
Fonte: SALVAGNINI, W,M

1.1.2 Massa

Historicamente, o rei Henrique VIII da Inglaterra (século XVI) definiu


como peso padrão 700 grãos de trigo, também chamado de libra. Visto que tal
unidade era muito grande para a pesagem do ouro e da prata, dividiu-se a libra
em 16 partes, passando, o peso padrão, ser chamado como onça (até hoje
esta unidade é utilizada para o ouro).
Observa-se que tais definições eram bastante confusas, visto que
dependiam das características gerais dos grãos de trigo. Não obstante, os
franceses (1790) teriam elegido como o padrão de massa o grama (g) como a
massa de 1 cm3 de água destilada à 4ºC. Daí, surgiu a escala decimal para a
grandeza de massa, onde as mais usuais e que facilita a compreensão estão
mostradas na Tabela 2.3.
Tabela 1.3 – Escalas decimais mais usuais para a grandeza de massa
Unidade Abreviação Valor
miligrama mg 10-6 kg
grama g 10-3 kg
decagrama dag 10-2 kg
hectograma hg 10-1 kg
kilograma kg 100 kg
tonelada ton 10+3 kg

1.1.3 Tempo

Na idade média, o termo segundo (s) foi definido como unidade padrão
de tempo, que corresponde a fração 1/86400 do dia solar médio. De acordo
com Salvagnini, W.M.: “Mas como a duração do dia tem variação ao longo dos
anos (o dia tem aumentado a sua duração de 0,5 s por ano) em 1967 se
estabeleceu uma definição mais rigorosa para o segundo: “ É a duração de 9
192 631 770 períodos da radiação correspondente à transição de um elétron
entre os dois níveis do estado fundamental do átomo de Césio 133”.
A Tabela 1.4 mostra as unidades de tempo mais usuais e seus
correspondentes valores em segundos.
Tabela 1.4 – Unidades de tempo mais usuais
Tempo Abreviação Valor
segundo s 1s
minuto min 60 s
hora h 3600 s
dia dia 86400 s

1.1.4 Temperatura

Por definição, a temperatura pode ser medida em Kelvin (K), em graus


Célsius (oC) ou em Faherenheit (F).

Para transformar kelvin para celsius…………………..........t(oC) = T(K) - 273,15


Para transformar celsius para kelvin………………………..T(K) = t(oC) + 273,15
Para transformar celsius para faherenheit(F)………………... F = 1,8*t(oC) + 32
Para transformar faherenheit para celsius…………………….t(oC) = (F - 32)/1,8

1.2 Sistema de Unidades

A seguir serão citados alguns sistemas de unidades, onde diferenciam-


se pela atribuição de diferentes unidades fundamentais, sendo os principais:
MKS, MKS* (MKS técnico), CGS e SI (Sistema Internacional de unidades).
1.2.1 MKS

Nesse sistema de unidades, as grandezas fundamentais distância,


massa e tempo possuem, respectivamente as unidades metro (M), kilograma
(kg) e segundo (s). No sistema MKS algumas grandezas derivadas recebem
nomes especiais, como: força recebe o nome de Newton (N); pressão recebe o
nome Pascal (1Pa = N/m2); energia é Joule (J).

1.2.2 MKS* (MKS técnico)

O sistema de unidades MKS* diferencia-se do MKS pela imposição da


grandeza força como fundamental, no lugar da grandeza massa. Neste
sistema, a grandeza fundamental é o quilograma – força (Kgf). Então no MKS*
tem-se metro, Kgf e segundo como unidades fundamentais.
Para o entendimento da diferença entre MKS e MKS*, utiliza-se da
equação F = m.a, onde F é a força, m é a massa e a é a aceleração da
gravidade (a = g = 9,81 m/s2).
No sistema MKS, F(N) = m(Kg). a(m/s2)
Já no sistema MKS*, F(Kgf) = m(1utm). a(m/s2), onde utm significa
unidade técnica de massa. A utm perdeu muito espaço para o Kg (hoje
encontra-se quase em desuso).

1.2.3 CGS

No sistema de unidades CGS as unidades fundamentais são: centímetro


(cm), grama (g) e o segundo (s). A unidade derivada força é definida como:

1unidade de força no CGS = 1g x 1cm/s2

Essa unidade de força é chamada de “dina”


1kg= 1000g; 1m/s2 = 100cm/s2; então 1N = 1000g x 100cm/s2 = 100000 g.cm/s2 =
105 dina
1.2.4 SI (Sistema Internacional de unidades)

Através das unidades fundamentais: metro, quilograma, segundo,


kelvin, mol, ampère e a candela (mede a intensidade luminosa), pode-se
compor qualquer outra unidade de grandeza da física.
Observação importante: Todas essas unidades citadas anteriormente
possuem atualmente enorme aceitação universal. Portanto, todos os trabalhos
realizados pelos alunos na vida acadêmica e profissional deverão sempre
utilizar as unidades fundamentais no SI.
O diagrama apresentado na Figura 2.1 mostra a inter-relação entre os
diferentes sistemas de unidades.

Figura 1.1 – Interrelação entre os diferentes sistemas de unidades.


Fonte: SALVAGNINI, W,M

O Anexo 1.1 apresenta o texto completo sobre o Sistema Internacional


de unidades (SI) elaborado pelo INMETRO (2007).
Dentro da disciplina, o aluno se depara com grandes quantidades de
grandezas derivadas e, consequentemente, variações enormes de unidades
derivadas. Com já foi mencionado anteriormente, e, objetivando uma
padronização no sistema de unidades em todo o mundo, os alunos deverão
sempre aplicar o Sistema Internacional de unidades (SI) em sua vida
acadêmica e, mais adiante, em sua vida profissional.
A Tabela 1.5 apresenta as grandezas fundamentais e derivadas de
interesse, para todos os sistemas de unidades citados anteriormente.
1.3 Exercícios propostos

a) Transformar 200 cm2 em m2 e mm2.


1º Passo: Sabe-se que:
1 m = 100 cm
2º Passo: Elevando os dois lados ao quadrado, tem-se:
(1 m)2 = (100 cm)2
Assim,
1 m2 = 10000 cm2
3º Passo: Por fim, utiliza-se uma regra de três:
1 m2 = 10000 cm2
X m2 = 200 cm2

200 = X.10000
X = 200 / 10000
X = 0,02 m2

4º Passo: Repetindo-se o mesmo procedimento para mm2


Sabe-se que:
1 cm = 10 mm
5º Passo: Elevando os dois lados ao quadrado, tem-se:
(1 cm)2 = (10 mm)2
Assim,
1 cm2 = 100 mm2
6º Passo: Por fim, utiliza-se uma regra de três:
1 cm2 = 100 mm2
200 cm2 = X mm2

X = 200.100
X = 20000 mm2
b) Transformar 27000 cm3 em m3 e Litros.

1º Passo: Sabe-se que:


1 m = 100 cm
2º Passo: Elevando os dois lados ao cubo, tem-se:
(1 m)3 = (100 cm)3
Assim,
1 m3 = 1000000 cm3
3º Passo: Por fim, utiliza-se uma regra de três:
1 m3 = 1000000 cm3
X m3 = 27000 cm3

27000 = X.1000000
X = 27000 / 1000000
X = 27/1000
X = 0,027 m3

4º Passo: Sabe-se que:


1 m3 = 1000 L

5º Passo: Por fim, utiliza-se uma regra de três:


1 m3 = 1000 L
0,027 m3 = X L
X = 0,027 . 1000 = 27 Litros.

c) Transformar a velocidade de 2,0 m/s em cm/s, m/h, cm/h, mm/h e


m/dia.

2,0 m/s . 100 cm / 1 m = 200 cm/s

2,0 m/s . 3600 s / 1 h = 7200 m/h

[(2,0 m/s . 3600 s / 1 h) . 100 cm / 1 m ] = [7200 / h . 100 cm ] = 720000 cm/h


720000 cm/h . 10 mm / 1 cm = 7200000 mm / h

7200 m/h . 24 h / 1 dia = 172800 m / dia

d) Transformar a vazão de 8,0 m3/s em L/s, L/h, m3/h e L/dia.

e) Transformar 1000 kgf/m3 (MKS*) em N/m3 (SI)


Tabela 1.5 - Grandezas fundamentais e derivadas de interesse na disciplina Hidráulica
Agrícola, para todos os sistemas de unidades.
Unidades
Grandezas
MKS MKS* CGS SI
m m cm m
Distância (L)
1 m = 102 cm = 103 mm
Kg utm g Kg
Massa (M)
1Kg=103g=106mg; 1ton=103Kg; 1utm=9,81Kg
Fundamentais
s s s s
Tempo (t)
1 dia = 24 h = 1440 min = 86400 s
o o o o
C; K; F C; K; F C; K; F C; K; F
Temperatura (T)
t(oC) = T(K) - 273,15 ; t(oC) = (F-32)/1,8
m2 m2 cm2 m2
Área (A)
1 m2 = 104 cm2
m 3
m 3
cm3 m3
Volume (Vol)
1 m3 = 106 cm3 = 103 litros (L)
m/s m/s cm/s m/s
Velocidade (v)
1 m/s = 102 cm/s
m3/s m3/s cm3/s m3/s
Vazão (Q)
1 m3/s = 103 L/s; 1 m3/s = 106 cm3/s
m/s 2
m/s2 cm/s2 m/s2
Gravidade (g)
1 m/s2 = 102 cm/s2
N Kgf dina N
Força F
1 Kgf = 9,81 N; 1 N = 105 dina
Pa Kgf/m2 dina/cm2 N/m2
Pressão P
1 Pa = 1 N/m2
Kg/m3
Massa específica (ρ) Kg/m3 utm/m3 g/cm3
Ns2/m4
ou dens. absoluta
ρ = M/Vol; 1 Kg/m3 = 10-3 g/cm3
N/m 3
Kgf/m3 dina/m3 N/m3
Peso específico (‫)ﻻ‬
‫ = ﻻ‬Peso/Vol; Peso = Força; 1 Kgf/m3 = 9,81 N/m3
Derivadas ----- ----- ----- -----
Dens. Relativa (∂)
∂ = ρfluido/ρágua (adimensional)
m3/Kg
Volume específico m3/Kg m3/utm cm3/g
m4/ Ns2
(Volesp)
Volesp = 1/ρ
Pa Kgf/m2 dina/m2 N/m2
Tensão Cisalhante τ
1 Pa = 1 N/m2
Pa.s g/(cm.s) = N.s/m2
Coef. viscosidade utm/(m.s)
Kg/m.s 1Poise Kg/m.s
dinâmico (μ)
μ = τ.dy/dv; μ = M.L-1.t-1
cm2/s =
Coef. viscosidade m2/s m2/s m2/s
1 stoke
cinemático (‫)ט‬
‫ = ט‬μ/ρ
N.m N.m
Kgf.m dina.cm
Energia (E) (joule) (joule)
E = (força F).(distândia); força F = M.g
J/s
N.m/s Kgf.m/s dina.cm/s
(Watt)
Potência (Pot)
Pot = E/tempo; 1000W = 1KW = 1,36cv; 1cv =
0,986321577hp; cv:cavalo-vapor; hp:horse-power.
2 CARACTERÍSTICAS DOS FLUIDOS

2.1 Coesão

Resistência das partículas fluidas às pequenas tensões. Um exemplo


simples e de fácil compreensão do fenômeno de coesão são as gotas formadas
na saída de uma torneira, onde as forças de atrações entre as moléculas de
água são maiores do que as tensões externas. A gota de água cairá da torneira
apenas quando a força peso da gota for maior que a coesão.

2.2 Adesão

Atração entre parte sólida e partículas fluidas. Um exemplo simples e de


fácil compreensão do fenômeno de adesão são as gotas de água que se
aderem ao azulejo. Neste caso, as forças de atração entre a parte sólida
(azulejo) e a parte líquida (molécula de água) são maiores do que as forças de
coesão entre as moléculas de água. As gotas de água aderidas apenas
“escorregarão” pelo azulejo quando a força peso da gota for maior que a
adesão.

2.3 Tensão superficial

É um fenômeno que ocorre na superfície líquida, onde a mesma se


comporta como uma película elástica.
Moléculas líquidas situadas abaixo da interface líquido-ar são atraídas
por moléculas vizinhas em todas as direções, fazendo com que a força
resultante nessas moléculas seja nula. Já as moléculas líquidas situadas na
interface líquido-ar são atraídas por moléculas situadas ao seu lado (na
horizontal) e moléculas abaixo da superfície líquida, fazendo com que a força
resultante nessas moléculas crie uma tensão superficial, comportando-se como
uma película elástica.
Vários exemplos práticos de tensão superficial podem ser citados, como:
 insetos que andam sobre a superfície líquida;
 lâmina de barbear sobre a superfície líquida. A lâmina somente afunda
quando a parte superior da mesma é revestida por líquido. Isso ocorre pois,
atuam na lâmina de barbear, forças de coesão das moléculas líquidas acima da
lâmina com as moléculas líquidas laterais e inferiores à lâmina. Estas forças de
coesão fazem com que a lâmina afunde.
2.4 Capilaridade

Causada pela adesão entre a parte sólida e a parte líquida associada ao


fenômeno de tensão superficial, já definidos anteriormente.
O fenômeno da capilaridade pode ser facilmente visualizado pelo nível
líquido formado dentro de uma tubulação com pequeno diâmetro interno, de
aproximadamente 3 mm. A Figura 2.1a mostra o fenômeno de capilaridade em
uma tubulação preenchida com água. Observa-se, nesta figura que, junto às
paredes internas da tubulação, as forças de adesão são maiores que as de
coesão, fazendo com que o nível de água seja côncavo. Já a Figura 2.1b
mostra a mesma tubulação, agora preenchida com mercúrio (Hg), cuja
densidade relativa é de d = 13,6 (ou seja, o mercúrio é 13,6 mais pesado que a
água). Nesta nova situação, junto às paredes da tubulação, as forças de
coesão do mercúrio são maiores que as de adesão, fazendo com que a nível
de mercúrio seja convexo. Também, nas Figuras 2.1a e 2.1b, observa-se o
fenômeno de tensão superficial, junto ao nível líquido, na região central da
seção transversal da tubulação.
Figura 2.1 – Exemplo de capilaridade
Um exemplo prático e de fácil visualização do fenômeno de capilaridade
é o nível de água formado no lençol freático. Através da Figura 2.2 observa-se
que, a partir da superfície do curso de água, o nível do lençol freático ascende
em função do fenômeno de capilaridade. Nesta situação, em comparação com
o exemplo da Figura 2.1, o diâmetro da tubulação é substituido pelos vazios
entre os grãos minerais.
Figura 2.2 – Nível do lençol freático formado pela capilaridade
(www.colegiosaofrancisco.com.br)

3 PROPRIEDADES BÁSICAS DOS FLUIDOS

3.1 Massa específica ou densidade absoluta

É a quantidade de matéria ou massa de uma substância qualquer por


unidade de volume, representada por ρ (pronuncia-se Rô). Pela definição:

ρ = M/Vol (3.1)

Onde:
ρ = massa específica ou densidade absoluta, em Kg/m3;
M = massa do fluido, em Kg;
Vol = volume ocupado pelo fluido, em m3.

Conforme apresentado na Tabela 1.5, a unidade de massa específica,


no Sistema Internacional de Unidades (SI), é Kg/m3 ou N.s2/m4. Sabe-se que a
massa específica da água varia com a temperatura, de cordo com a Figura 3.1.
1000

Massa específica (Kg/m )


3
995

990
985

980

975

970
965
960

955
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Temperatura (oC)
Figura 3.1 – Variação da massa específica da água com a temperatura.

3.2 Peso específico

É o peso de uma substância qualquer por unidade de volume,


representado por γ (pronuncia-se gama). Pela definição:

γ = Peso/Vol (3.2)

Sabe-se que:

Peso = M.g (3.3)

Onde:
M = massa do fluido, em kg;
g = aceleração da gravidade, 9,81 m/s2.

Substituindo a equação (3.3) em (3.2), resulta:

γ = M.g/Vol (3.4)

Substituindo a equação (3.1) em (3.4), fica:

γ = ρ.g (3.5)

Conforme apresentado na Tabela 2.5, a unidade de peso específico, no


Sistema Internacional de Unidades (SI), é N/m3, obtida através da seguinte
sequência:
[γ] = ρ.g = (Kg/m3).(m/s2) = kg/(m2.s2) (3.6)

De acordo com a 2a. Lei de Newton:


F (N) = M (Kg).a (m/s2) → Kg = N.s2/m (3.7)

Substituindo a equação (3.7) em (3.6) resulta:

[γ] = (N.s2/m)/(m2.s2)

[γ] = N/m3

É importante salientar que o peso específico da água à 20oC, no


Sistema Internacional de unidades (SI), é γágua = 9810 N/m3 ≈ 10 kN/m3.

3.3 Densidade relativa

É um número adimensional que compara a massa específica de um


fluido qualquer em relação à massa específica de um fluido padrão. No caso do
fluido ser líquido, utiliza-se a água como fluido padrão. Já no caso do fluido ser
gasoso, utiliza-se o ar como fluido padrão. Pela definição:
d = ρfluido/ρágua (adimensional)
A densidade relativa de um fluido é similar em qualquer sistema de
unidade, visto que trata-se de um número adimensional.

3.4 Pressão de vapor

É a pressão parcial que as moléculas de vapor exercem no espaço, ou


seja, é a força que as moléculas de vapor exercem em uma determinada área
no espaço.
Se a pressão num determinado sistema fica menor ou igual à pressão de
vapor, certamente haverá a ebulição do líquido.
Para a água à 20oC:
Pvapor = 2,447 KPa = 2,447 KN/m2 = 2447 N/m2 ≈ 0,25 m → pois γágua =
9810 N/m3.
O conhecimento da pressão de vapor da água em relação à temperatura
ambiente local é de extrema importância na definição do posicionamento dos
sistemas elevatórios. Tal definição baseia-se no impedimento de cavitação da
bomba, assunto este que será tratado mais adiante, no item Sistemas
Elevatórios.
3.5 Exercícios propostos

a) Dois líquidos miscíveis têm densidades relativas d1 = 0,8 e d2 = 1,2.


Para que a mistura desses líquidos tenha a densidade relativa d = 0,9,
determinar:
- quantas vezes o volume do 1º líquido corresponde ao do 2º ?
- quantas vezes a massa do 1º líquido corresponde à do 2º ?

1º Passo: Encontrar a massa específica do líquido 1 e do líquido 2:


Sabe-se que d1 = ρ1/ρH2O
ρH2O = 1000 kg/m3
Assim,
ρ1 = 800 kg/m3
ρ2 = 1200 kg/m3
ρ = 900 kg/m3 (Mistura)

2º Passo: Use a definição de massa específica e deixe a massa (m) em função


do Volume (V).
ρ1 = m1/V1
800 = m1/V1
m1 = 800 . V1 (1)

ρ2 = m2/V2
1200 = m2/V2
m2 = 1200. V2 (2)

3º Passo: Massa específica composta para dois líquidos.


A massa específica da mistura do líquido 1 e do líquido 2 foi dada no
enunciado e vale 900 kg/m3.

ρ = m 1 + m 2 / V 1 + V2

900 = m1 + m2 / V1 + V2 (3)
Substitua as fórmulas 1 e 2 na 3, assim:

900 = (800.V1 + 1200.V2) / (V1 + V2)

900 . (V1 + V2) = 800.V1 + 1200.V2

Distributiva:

900. V1 + 900. V2 = 800.V1 + 1200.V2

900. V1 - 800.V1 = 1200.V2 - 900. V2

100. V1 = 300.V2

V1 = (300/100).V2

V1 = 3.V2

b) No sistema MKS o peso específico de um gás é γ = 0,95 Kgf/m3.


Obter o peso específico no sistema internacional (SI).

c) A massa específica do mercúrio é ρ = 13,595 g/cm3. Obter seu peso


específico no sistema internacional (SI) para os seguintes valores da
gravidade:
- g1 = 981 cm/s2;
- g2 = 978 cm/s2;
- g3 = 983 cm/s2.

d) O peso específico de certo líquido é γ = 12,95 N/dm3, para g = 981


cm/s2. Determinar sua massa específica em Kg/dm3.

e) Para o peso específico γ = 1 Kg x m-2 x s-2 (sistema S.I.), calcular o


correspondente valor da massa específica ρ no sistemas S.I.
f) Um tubo cilíndrico mede 50 cm de comprimento e 12 mm de diâmetro
interno. Determinar a massa de mercúrio (ρ = 13,6 g/cm3) necessária para
encher o referido tubo.

1º Passo: Obtenção dos dados do problema:

Dados:
Cilindro:
H = 50 cm
D = 12 mm

Líquido:
ρ = 13,6 g/cm3
Massa = ???

2º Passo: Ajuste de unidades:


Sabe-se que:
1 cm = 10 mm
X cm = 12 mm
Regra de três:
X = 1,2 cm

Resultando em:
Cilindro:
H = 50 cm
D = 1,2 cm

Líquido:
ρ = 13,6 g/cm3
Massa = ???

3º Passo: Cálculo do volume do cilindro:


Sabe-se que o volume do cilindro é dado por:

Vol = Abase . H

Inicialmente, determina-se a área da base do cilindro:

Abase = π.D2 / 4

Abase = π.1,22 / 4

Abase = 1,131 cm2

Em seguida, define-se o volume:

Vol = Abase . H

Vol = 1,131 . 50

Vol = 56,55 cm3

Tem-se o volume e a massa específica, pela definição:

ρ = m/V

13,6 g/cm3 = massa / 56,55 cm3 --------- massa = 13,6 . 56,55 = 769,04 g
g) Colocam-se 4 Kg de mercúrio (ρ = 13,6 g/cm3) em um recipiente em
forma retangular, com 100 cm2 na área da base. Determinar a altura a que se
elevará o líquido no recipiente. Em seguida, substituindo o mercúrio por
gasolina (ρ = 0,7 g/cm3), obter a altura a que se elevará igual massa de
gasolina.

h) Um volume de água a 0°C é V1 = 1836 L. Calcular, em m3, o volume


de gelo, obtido com aquele volume de água, sabendo que a densidade relativa
do gelo é δGELO = 0,918.

i) Sabendo que 5 m3 de um óleo combustível médio a 27°C pesam


41692,5 N, calcular seu peso específico γ e sua densidade em relação à água
(ρ = 1000Kg/m3).

j) Ao passar de um local onde g1 = 9,78 m/s2 para outro local onde g2 =


9,82 m/s2, um líquido experimentou um acréscimo de peso igual a 0,12 N.
Determinar a massa (m) desse líquido (em Kg).

k) Sendo ρ = 13,569 g/cm3 a massa específica do mercúrio, em


determinadas condições, calcular o seu peso específico no sistema
internacional de unidades (SI).

l) Há 41202 N de gasolina em um tanque com 2 m de largura, 2 m de


comprimento e 1,5 m de altura. Determinar a massa específica da gasolina em
g/cm3.
4 LEI DE VISCOSIDADE DE NEWTON

A viscosidade de um fluido é a propriedade pela qual este fluido exerce


resistência ao escoamento. Na prática observa-se que o mel é mais viscoso
que a água, pois o primeiro exerce maior resistência às eventuais deformações
moleculares.
Para o entendimento correto da Lei de Viscosidade de Newton é
importante imaginar duas situações distintas, sendo, na primeira, um
reservatório com volume e fluido qualquer com movimento nulo e, na segunda,
uma tubulação que transporta um fluido com movimento uniforme.
Na primeira situação (Figura 4.1a), comparando-se duas camadas (ou
moléculas) do fluido, observa-se a inexistência de tensão cisalhante entre as
moléculas, visto que as mesmas estão estáticas (sem escoamento) e, portanto,
a diferença de velocidade entre elas é nula. Já na segunda situação (Figura
4.1b), em função do escoamento e da diferença de velocidade entre as
camadas de fluidos, existe uma tensão cisalhante em sentido contrário ao
escoamento.

Figura 4.1 – (a) Reservatório com fluido estático; (b) Tubulação transportando fluido

A tensão de cisalhamento τ (pronuncia-se Tau) caracteriza-se como uma


força que atua paralelamente a uma área superficial A. Na Figura 4.1, observa-
se que a tensão cisalhante atua entre as duas partículas de fluido,
paralelamente à área superficial existente entre essas partículas.
Através da Figura 4.1b, observa-se que a tensão de cisalhamento τ é
diretamente proporcional à dv (v1-v2) e inversamente proporcional a dy, ficando:

τ α dv ; τ α 1/dy ; Com isso, τ α dv/dy


τ = k.dv/dy, onde dv/dy é o gradiente de velocidade (s-1)

Substituindo K por μ (coeficiente de viscosidade dinâmico) (pronuncia-se


Miu), resulta:
τ = μ.dv/dy (4.1)
A unidade do coeficiente de viscosidade dinâmico μ apresentada na
Tabela 2.5 é obtida isolando-se este termo na equação (4.1):
μ = τ.dy/dv (4.2)
Sabendo-se que, no Sistema Internacional de unidades (SI), [τ] = N/m2;
[dy] = m; [dv] = m/s.
[μ] = (N/m2).(m)/(m/s)
[μ] = Ns/m2 (4.3)

Também, o coeficiente de viscosidade dinâmico μ pode ser expresso por


Kg/ms (no SI), pois, de acordo com a 2ª. Lei de Newton:
F(N) = m(kg).a(m/s2)
N = kg.m/s2 (4.4)

Substituindo a equação (5.4) em (5.3), resulta:


[μ] = (kg.m/s2).(s/m2)
[μ] = kg/ms (4.5)

4.1 Coeficiente de Viscosidade Cinemática υ

Através do coeficiente de viscosidade cinemática υ (pronuncia-se


Upsilon) é possível determinar a variação que a massa de um fluido em um
volume qualquer exerce sobre a viscosidade deste fluido. Com isso, o
coeficiente de viscosidade cinemática υ corresponde à razão entre o
coeficiente de viscosidade dinâmica μ do fluido e sua massa específica ρ,
onde:
υ = μ/ρ (4.6)
A unidade do coeficiente de viscosidade cinemático, no SI, é m2/s.
É importante salientar que este parâmetro faz parte do número
adimensional de Reynolds (Rey), muito importante na hidrodinâmica.
4.1.1 Variação da viscosidade com a temperatura

O estudo da variação da viscosidade de um fluido com a temperatura


está diretamente relacionado à intensidade de coesão entre as moléculas do
fluido. Imagine um fluido 1, dentro de um recipiente qualquer, submetido a uma
temperatura T1 = 20oC (temperatura ambiente). Nesta situação existirá uma
coesão 1 entre as moléculas, conforme mostrado na Figura 4.2a.
Com o aumento da temperatura T1 para T2, as moléculas do fluido
sofrerão maior agitação, proporcionando a diminuição da coesão (Figura 4.2b),
agora chamada de coesão 2, a qual é menor que a coesão 1. Com isso,
observa-se que o aumento da temperatura diminui a viscosidade do fluido
(Figura 4.2b).

Figura 4.2 – Variação da coesão molecular com o aumento da temperatura

Visto que, na área de hidráulica agrícola, o único fluido de interesse é a


água para irrigação, a Tabela 4.1 mostra a variação dos coeficientes de
viscosidade dinâmico μ e cinemático υ da água em função da temperatura.
Várias referências bibliográficas na área de mecânica dos fluidos, possuem
gráficos e tabelas que informam as variações dos coeficientes de viscosidade
dinâmico μ e cinemático υ, de vários fluidos, em função da temperatura. A
Tabela 4.2 mostra a variação dos coeficientes de viscosidade dinâmico μ e
cinemático υ do ar com a temperatura.
Tabela 4.1 – Variação dos coeficientes de viscosidade dinâmico μ e cinemático υ da
água com a temperatura, com pressão constante (Bastos, F.A.-1983)

Coeficiente de viscosidade
Temperatura Dinâmico Cinemático
oC
μ (N.s/m2) υ (m2/s)
(*10-3) (*10-6)
0 1,794 1,794
4 1,568 1,568
5 1,519 1,519
10 1,310 1,310
15 1,145 1,146
20 1,009 1,011
30 0,800 0,803
40 0,653 0,659
50 0,549 0,556
60 0,470 0,478
70 0,407 0,416
80 0,357 0,367
90 0,317 0,328
100 0,284 0,296

Tabela 4.2 – Variação dos coeficientes de viscosidade dinâmico μ e cinemático υ do ar


com a temperatura, com pressão constante (Bastos, F.A. - 1983)
Coeficiente de viscosidade
Temperatura Dinâmico Cinemático
oC
μ(N.s/m2) υ(m2/s)
(*10-5) (*10-6)
0 1,70694 132
15 1,80504 147
20 1,81485 150
40 1,90314 169
60 2,00124 188
80 2,08953 209
100 2,15820 230

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