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Capítulo 1

Capítulo 1 – Introdução: Grandezas Físicas,


Representação Vetorial e Sistemas de Unidades
1.1 - Introdução

A Física é uma das ciências mais fundamentais, a qual tenta compreender os fenômenos básicos
de todo o Universo. Sendo assim, ela é usada por cientistas de diversas áreas, como a Química e as
Engenharias. A Física está alicerçada em experimentos, sendo, portanto, uma ciência experimental e
que necessita de medidas.
Deste modo, medir grandezas é essencial em Física. Grandezas essas que são as mais variadas
possíveis, como o comprimento, a massa, o tempo, a pressão, a velocidade, a corrente elétrica, a
temperatura,entre tantas outras.
Qualquer número utilizado para representar quantitativamente um determinado fenômeno físico
é considerado uma grandeza física. Para medirmos uma grandeza física precisamos compará-la
com um padrão e também estabelecer unidades para esta comparação. A comparação com o padrão
é sempre necessária e tal padrão define o que chamamos de unidade da grandeza medida. Como
exemplo temos o metro como unidade de distância e o o quilograma é a unidade de massa. O
padrão deve corresponder exatamente a 1 (uma) unidade da grandeza. Existem diversas maneiras de
se definir uma unidade de medida e o seu padrão, mas o importante é ter em mente que deverá
haver uma concordância com os cientistas de diversas partes do planeta. Discutiremos mais sobre
isso na seção seguinte.
Devido ao fato de existirem muitas grandezas físicas, fica extremamente difícil a organização de
todas elas, mas como nem todas são independentes, definimos algumas grandezas como sendo
grandezas fundamentais, e seus padrões como sendo padrões fundamentais. Como exemplo
temos a grandeza velocidade, que você irá estudar nos capítulos seguintes. A grandeza velocidade
não é uma grandeza fundamental, pois ela é definida em termos de duas grandezas fundamentais,
que são o comprimento e o tempo (e os seus padrões fundamentais), as quais estudaremos neste
capítulo. Extremo cuidado deve ser tomado na definição dos padrões fundamentais, pois os mesmos
devem ser devidamente acessíveis e, acima de tudo, invariáveis. Essas exigências são
importantíssimas na ciência, onde o fator precisão é fundamental.

1.2 – O Sistema Internacional de Unidades

O sistema métrico foi estabelecido no ano de 1791 através da Academia de Ciências de França.
Porém de lá para cá muita coisa mudou, e os padrões passaram a ser definidos de novas maneiras,
todas elas visando a precisão e a invariabilidade. Em 1971, na 14º Conferência Geral sobre Pesos e
Medidas, foram estabelecidas as bases do atual Sistema Internacional de Unidades, abreviado por SI
(do francês Système International). A tabela 1.1 apresenta as unidades de medida para três
grandezas fundamentais, de um total de sete, as quais serão muito utilizadas nos capítulos seguintes.
Diversas unidades físicas são derivadas das unidades fundamentais, como no caso da velocidade,
descrita na seção anterior.
Capítulo 1
Grandeza Unidade de Símbolo da
fundamental medida unidade
Comprimento metro m
Massa quilograma kg
Tempo segundo s

Tabela 1.1 – Algumas grandezas fundamentais do SI e suas respectivas unidades.

Em muitas situações as grandezas físicas resultam em números extremamente grandes, ou então


extremamente pequenos. Nestes casos convém utilizar a notação científica, a qual usa potências de
10 em sua representação, como nos exemplos abaixo:

1.240.000.000 m = 1,24.109 m

0,000127 kg = 1,27.10-4 kg

Muitas vezes é comum o emprego de prefixos quando trabalhamos com medidas grandes ou
pequenas demais. A tabela 1.2 apresenta os principais prefixos utilizados.

Fator de Prefixo Símbolo do


conversão prefixo
1024 yotta Y
1021 zetta Z
1018 exa E
1015 peta P
1012 tera T
109 giga G
106 mega M
103 quilo k
102 hecto h
101 deca da
10-1 deci d
10-2 centi c
10-3 mili m
10-6 micro µ
10-9 nano n
10-12 pico p
10-15 femto f
10-18 atto a
10-21 zepto z
10-24 yocto y
Tabela 1.2 – Prefixos utilizados na representação de resultados numéricos.

Cada prefixo representa uma potência de 10. Adicionar um prefixo ao lado de uma unidade do SI
tem o mesmo efeito de multiplicar pelo respectivo fator associado a este prefixo, como representado
na tabela 1.2 e expresso nos exemplos abaixo:
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2,6.10 gramas = 2,6 quilogramas = 2,6 kg

2,27.10-9 segundos = 2,27 nanosegundos = 2,27 ns

1.3 – Conversão de Unidades

Em muitas situações é preciso converter uma determinada unidade para outra de uma mesma
grandeza física. As unidades podem ser tratadas algebricamente, de modo que podem se cancelar
umas com as outras. Para efetuarmos uma conversão de unidade necessitamos de um fator de
conversão, que na realidade é um fator igual a 1 (um) e cujo numerador e denominador possuem
unidades diferentes, mas que no final fornece a unidade desejada. Como exemplo, vamos fazer a
conversão de 5 minutos para segundos. Neste caso temos

 60 s 
5 min = (5 min)(1) = (5 min)  = 300 s
 1 min 

Deste modo fica fácil fazer qualquer conversão desejada. As unidades não desejadas sempre se
cancelarão, restando apenas a unidade desejada.

Exemplo resolvido 1.1


Um automóvel desenvolveu de Florianópolis a Porto Alegre uma velocidade média de 95 km/h.
Determine em metros por segundo o valor desta velocidade média.
Resolução:
Fazendo a conversão de modo similar ao esquema empregado acima, encontramos
 km  1000m  h 
95km / h = (95km / h)(1) =  95    = 26,39m / s .
 h  3600 s  km 
Note que o termo

 1000 m  h 
  
 3600s  km 

equivale a 1, e que os termos km e h se cancelam, restando apenas as unidades desejadas, ou seja,


metro por segundo (m/s). Assim sendo, uma velocidade de 95 km/h equivale a 26,39 m/s.

Exemplo resolvido 1.2

Um determinado intervalo de tempo de vida de uma partícula subatômica numa reação nuclear é
de aproximadamente 0,23.10-10s. Expresse esse intervalo de tempo em nanosegundos.
Resolução:

Consultando a tabela 1.2, vemos que 1 nanosegundo (1 ns) equivale a 10-9s. Logo,
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0,23.10 −10 s = 0,23.10 −1.10 −9 s = 0,23.10 −1 ns = 0,023ns = 2,3.10 −2 ns

Portanto, o referido intervalo de tempo corresponde a 2,3.10-2ns.

1.4 – Padrões de Comprimento, Massa e Tempo

Veremos agora como são definidos os padrões de três grandezas fundamentais do SI.

COMPRIMENTO

A base do sistema métrico estabelecido em 1791 era o metro, definido na época como sendo um
décimo de milionésimo da distância do pólo norte ao equador. De lá para cá muitas alterações foram
ocorrendo na definição do metro padrão. Em outubro de 1983 o metro foi redefinido como sendo a
distância atravessada pela luz no vácuo durante o tempo de 1/299792458 de segundo. Esta definição
decorre do estabelecimento da velocidade luz no vácuo como sendo justamente 299.792.458 metros
por segundo. Portanto, o metro foi definido de modo a estar de acordo com a velocidade da luz no
vácuo. A tabela 1.3 apresenta exemplos de alguns comprimentos característicos aproximados.

Medida Comprimento (metros)


Distância da Terra até a galáxia 2.1022
mais próxima (Andrômeda)
Distância até Plutão 6.1012
Raio médio da Terra 6,4.106
Altitude do Monte Everest 9.103
Comprimento de um mosquito 5.10-3
Diâmetro do átomo de hidrogênio 1.10-10
Raio do próton 1.10-15

Tabela 1.3 – Alguns comprimentos característicos aproximados.

MASSA

A unidade de massa no SI é o quilograma, definido como sendo a massa de um cilindro feito de


uma liga de platina-irídio específica. Este cilindro é mantido no Bureau Internacional de Pesos e
Medidas em Sèvres, próximo a Paris, na França. Muitas cópias precisas deste cilindro foram feitas
e distribuídas para laboratórios de padronização em vários países, para servirem de aferição de
outras massas. A tabela 1.4 apresenta alguns exemplos aproximados de massas conhecidas.

Objeto Massa (quilogramas)


Universo conhecido 1.1053
Sol 2.1030
Terra 6.1024
Ser humano 7.101
Próton 2.10-27
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-31
Elétron 9.10

Tabela 1.4 – Exemplos aproximados de massas conhecidas.

TEMPO

Do ano de 1889 até o ano de 1967 o padrão de tempo era definido em termos de uma
determinada fração do dia solar médio. Um dia solar é definido como sendo o intervalo entre duas
aparições sucessivas do Sol no ponto mais alto que ele alcança no céu. Porém, no ano de 1967 a
unidade básica de tempo sofreu uma redefinição com o auxílio de modernos e precisos relógios
atômicos. Estes relógios utilizam a freqüência característica exibida pelo átomo de césio-133.
Sendo assim, o segundo é definido atualmente como 9.192.631.770 vezes o período de oscilação da
radiação do átomo de césio-133. A tabela 1.5 apresenta alguns exemplos aproximados de intervalos
de tempo característicos.

Medida Intervalo de tempo


(segundos)
Idade do Universo 5.1017
Idade da Terra 1,3.1017
Expectativa média de vida do ser humano 2.109
Um ano 3,2.107
Tempo entre batidas do coração humano 8.10-1
Duração de uma colisão nuclear 1.10-22

Tabela 1.5 – Exemplos aproximados de intervalos de tempo característicos.

1.5 – Vetores e Escalares

As grandezas físicas que estudaremos podem ser classificadas como escalares ou vetoriais. Uma
grandeza escalar é uma grandeza que é completamente especificada por um número positivo ou
negativo, seguido da sua unidade apropriada. Por outro lado, uma grandeza vetorial deve ser
representada por um vetor, o qual possui um módulo, uma direção e um sentido. Grandezas
vetoriais são, portanto, aquelas que possuem um módulo, uma direção e um sentido. O módulo
especifica a quantidade ou tamanho, enquanto que a direção e o sentido indicam a orientação
espacial do referido vetor. Como exemplos de grandezas vetoriais podemos citar o deslocamento, a
velocidade, a aceleração e a força.
Muitas grandezas físicas não necessitam de uma representação vetorial. Como exemplo de tais
grandezas escalares podemos citar o tempo, a massa, a temperatura, a pressão, entre outras. Tais
grandezas ficam completamente especificadas somente por um número (positivo ou negativo)
seguido de uma unidade de medida.
Imagine que você faça um vôo de Porto Alegre para Recife. Para efetuar o referido vôo, o avião
deve se deslocar do sul para o norte, ou seja, a velocidade de deslocamentio do avião deve ser
especificada não somente pelo valor numérico (módulo), mas também por uma direção e sentido.
Ou seja, para especificarmos completamente a velocidade da aeronave, precisamos fornecer o
módulo a direção e o sentido do vôo, caso contrário, como saber para onde você estará indo a partir
de Porto Alegre fornecendo apenas um número (módulo)?
Neste capítulo estudaremos as propriedades e as regras básicas de operações entre vetores, as
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quais serão muito úteis nos estudos posteriores. Começaremos nosso estudo de vetores com uma
grandeza vetorial bastante simples, que é o deslocamento. O deslocamento, ou mudança de
posição, é uma grandeza vetorial, sendo então representada por um vetor. O vetor que representa o
deslocamento é chamado de vetor deslocamento. Imagine uma partícula que sofra um
deslocamento de A até B, como descrito na figura 1.1(a). Sendo assim, representaremos seu
deslocamento por uma seta que aponta de A para B.

Figura 1.1 – (a) Partícula deslocando-se de A para B. (b) Um determinado vetor pode ser transladado sem que
seu valor seja alterado. (c) O vetor deslocamento nada informa sobre a trajetória que a partícula seguiu para ir
de A até B, como as duas possíveis trajetórias marcadas por I e II.

A seta representada na figura 1.1(a) é uma representação gráfica do vetor deslocamento. Um


determinado vetor pode ser transladado sem que seu valor seja alterado, desde que o seu módulo,
sua direção e seu sentido permaneçam os mesmos, como ilustra a figura 1.1(b). O vetor
deslocamento nada informa sobre a trajetória que a partícula seguiu para ir de A até B. Na figura
1.1(c) vemos duas possíveis trajetórias de A até B, marcadas por I e II, as quais são totalmente
diferentes. Porém, em ambos os casos, o vetor deslocamento é o mesmo para ambas as trajetórias.
Podemos dizer então, que o vetor deslocamento não representa o movimento propriamente dito,
mas sim o resultado deste movimento.

1.6 – Soma Geométrica de Vetores

As propriedades vetoriais que veremos a seguir valem para quaisquer vetores, independentemente
da grandeza física que eles representem. Imagine que uma partícula se mova de A para B e depois
de B para C, como ilustra a figura 1.2(a). Assim sendo, vamos representar estes dois deslocamentos
por dois vetores deslocamento sucessivos AB e BC. Note na figura 1.2(a) que o deslocamento não
descreve a trajetória real executada pela partícula. O deslocamento resultante é um único vetor que
vai de A até C. Note também na figura 1.2(a) que o vetor resultante, que pode ser pensado como a
soma dos dois deslocamentos parciais (de A para B e depois de B para C) não é uma simples soma
algébrica usual.
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Figura 1.2 – (a) Partícula se movendo de A para B e depois de B para C, cujos deslocamentos estão representados
por dois vetores deslocamento sucessivos AB e BC. Note que o deslocamento não descreve a trajetória real
executada pela partícula e que o vetor resultante não é uma simples soma algébrica usual entre os vetores
envolvidos. (b) Notação vetorial para os vetores deslocamento AB e BC e para o vetor resultante.

A figura 1.2(b) apresenta uma mudança na representação dos vetores, a qual será utilizada não
somente no restante deste capítulo, mas também nos estudos que se seguirão em Física, por ser uma
representação mais usual de grandezas vetoriais. Utilizaremos daqui para a frente uma seta sobre
r
um caracter para representar uma grandeza vetorial como em S . Por outro lado, se quisermos
r
representar somente o módulo do vetor S , utilizaremos o caracter sem a seta em cima, como em S.
Convém esclarecer que alguns autores preferem representar um vetor por um caracter em negrito,
ao invés de uma seta sobre o referido caracter. A equação vetorial que representa a relação entre os
três vetores da figura 1.2(b) pode ser escrita como
r r r
S = A+ B . (1.1)
r r r
A eq. (1.1) nos diz que o vetor S é a soma dos vetores A e B . Porém, devemos tomar cuidado
com o símbolo “+” de soma, na eq. (1.1), pois ele tem significado diferente daquele usado em
álgebra usual, já que ele envolve grandezas que possuem módulo, direção e sentido. A figura 1.2(b)
nos sugere um procedimento de soma geométrica entre vetores. Este procedimento consta de você
r r
colocar o vetor A no papel com o seu ângulo verdadeiro e a seguir colocar no papel o vetor B com
r
o seu respectivo ângulo, ambos na mesma escala, porém de modo que a cauda do vetor B fique na
r r r
ponta do vetor A . Consequentemente, o vetor soma S será o vetor que liga a cauda do vetor A até
r
a ponta do vetor B .
Uma soma de vetores é comutativa, ou seja, a ordem é irrelevante, de modo que
r r r r
A+ B = B + A. (1.2)

A figura 1.3 ilustra a propriedade comutativa da soma vetorial.


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Figura 1.3 – Ilustração da propriedade comutativa da soma vetorial, como descrito pela eq. (1.2).

Outro aspecto importante diz respeito à propriedade associativa da soma de vetores, ou seja,
quando existem mais do que dois vetores envolvidos na soma, podemos agrupá-los em qualquer
ordem ao somá-los. Podemos representar a propriedade associativa na forma

r r r r r r
( A + B) + C = A + ( B + C ) , (1.3)

a qual está representada pela figura 1.4.

Figura 1.4 – Ilustração da propriedade associativa da soma vetorial, como descrito pela eq. (1.3).
r r r
Somar um vetor - A tem o mesmo efeito de subtrairmos Ar . Ou seja, um vetor - A tem o mesmo
módulo, mesma direção, porém sentido contrário ao vetor A , como ilustra a figura 1.5. Podemos
então dizer que
r r
A + (− A) = 0 . (1.4)

r r
Figura 1.5 – Os vetores A e - A possuem o mesmo módulo e a mesma direção, porém os sentidos são contrários.
r r r
Deste modo, podemos definir a diferença D entre dois vetores quaisquer A e B como sendo
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r r r r r
D = B − A = B + (− A) , (1.5)
r r
ou seja, fazemos a diferença entre os vetores somando o vetor - A ao vetor B . Da mesma forma que
fazemos na álgebra usual, podemos também reescrever a eq. (1.5) na forma
r r r r r r
D + A = B ou B = D + A .

Note que, embora no começo desta seção tenhamos dito que as propriedades vetoriais estudadas
valem para quaisquer vetores, independentemente da grandeza física que eles representem,
fisicamente não faz nenhum sentido você somar vetores que representem grandezas físicas
diferentes. Isto seria o mesmo que, por exemplo, você querer somar uma velocidade de 80km/h com
um deslocamento de 10km, o que não faz nenhum sentido!

Exemplo resolvido 1.3

Um viajante percorreu uma distância de 2 km do norte para o sul, e a seguir mais 6 km de oeste
para leste como indica a figura 1.6.
(a) Determine a distância do seu ponto de partida até o ponto final de chegada e calcule o ângulo
α entre o deslocamento inicial e o deslocamento resultante.
r
(b) Determine o módulo, a direção e o sentido do deslocamento resultante, descrito pelo vetor R
na figura 1.6.

r
Figura 1.6 – Trajetória descrita pelo viajante e o vetor do deslocamentio resultante, denotado por R .

Resolução:

(a) A distância do ponto de largada até o ponto de chegada pode ser obtida utilizando-se o
triângulo retângulo descrito na figura 1.6, onde a hipotenusa é a referida distância a ser obtida.
Logo,

(2km) 2 + (6km) 2 = 6,32km .

O ângulo α pode ser calculado pela função tangente, e deste modo encontramos que

6km
tan α = ,
2km

logo, α = 71,57º.

(b) O módulo do vetor deslocamento resultante já foi calculado no item (a), ou seja, 6,32 km. A
r
direção e o sentido do vetor deslocamento R é de 71,57º do sul para o leste. Você também pode
expressar a direção e o sentido utilizando outra referência de direção, ou seja, como
90º – 71,57º = 18,43º, a direção e o sentido também podem ser expressos como sendo de 18,43º do
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leste para o sul. Ambas as respostas estão corretas.

1.7 – Componentes de um Vetor e Vetores Unitários

O método geométrico da soma de vetores que estudamos na seção 1.6 nem sempre é o
procedimento mais adequado e também o mais prático, principalmente em situações que envolvam
muita precisão e também as três dimensões do espaço. Estudaremos agora uma técnica bem mais
sofisticada, a qual envolve álgebra e um sistema cartesiano de coordenadas. Trabalharemos com um
sistema de coordenadas retangulares de modo que os eixos x e y sejam traçados no plano da página
e que o eixo z aponte para fora do plano da página, numa direção perpendicular a este plano. Ambos
os eixos têm uma origem comum, porém, vamos nos deter somente a uma representação
bidimensional, de modo que o eixo z será ignorado neste nosso estudo inicial. A técnica que
estudaremos é conhecida como o método das componentes.
A componente de um vetor nada mais é do que a projeção deste vetor sobre um dos eixos do
r
sistema de coordenadas. A figura 1.7(a) apresenta as componentes Fx e Fy de um vetor F qualquer.
Fx é a componente na direção x enquanto que Fy é a componente na direção y. A projeção de um
determinado vetor ao longo de um eixo pode ser obtida traçando-se linhas perpendiculares que
partem das extremidades do vetor (a ponta e a cauda) até o eixo considerado para fazer a projeção,
como ilustra a figura 1.7(a).

Figura 1.7 – (a) Decomposição de um vetor em suas componentes ortogonais. (b) As componentes de um vetor
formam os catetos de um triângulo retângulo onde o próprio vetor é a hipotenusa deste triângulo.

A projeção de um vetor no eixo x origina a sua componente x, enquanto que a projeção de um


vetor no eixo y origina a sua componente y. Este procedimento de determinar as componentes de
r
um vetor é chamado de decomposição do vetor em componentes. Se o vetor F fosse invertido na
r
figura 1.7(a), as suas componentes também o seriam. Caso o vetor F fosse transladado, de modo
que não fosse alterado a sua direção e sentido, as suas componentes não sofreriam nenhuma
alteração. Geralmente um vetor possui três componentes, porém, no nosso caso estamos
desconsiderando, por questão de simplicidade, o eixo z, de modo que a componente Fz seja nula na
figura 1.7(a).
A figura 1.7(b) mostra que as componentes de um vetor formam os catetos de um triângulo
retângulo, onde o próprio vetor é a hipotenusa deste triângulo. Assim sendo, podemos obter
Capítulo 1
r
geometricamente as componentes do vetor F a partir do triângulo retângulo, de modo que

Fx = F cos θ (1.6a)

Fy = Fsenθ , (1.6b)
r
onde θ é o ângulo formado pelo vetor F com o sentido positivo do eixo x, e F é o módulo do vetor
r r
F . Podemos também proceder o caminho inverso, e “reconstruir” o vetor F apartir de suas
componentes. Para isso basta colocarmos as componentes da ponta até a cauda, e então
completamos o triângulo retângulo com a hipotenusa, que é o vetor que desejamos obter.
r
Se conhecemos as componentes x e y de um determinado vetor F , podemos expressá-lo em
termos da notação módulo-ângulo (F e θ) usando as equações

F = Fx2 + Fy2 (1.7)

Fy
tan θ = . (1.8)
Fx

Se a situação envolver as três dimensões precisaremos de dois ângulos e das três componentes Fx,
Fy e Fz para expressarmos o vetor na notação módulo-ângulo.

Exemplo resolvido 1.4

Um helicóptero parte de um heliporto na direção nordeste, como indicado na figura 1.8. O


helicóptero percorre uma distância de 400 km nesta direção, num ângulo de 31º com a direção norte,
como indicado na figura 1.8. Determine em quais distâncias ao norte e a leste o referido helicóptero
se encontra quando estiver percorrido os 400 km.

Figura 1.8 – Ilustração da trajetória de vôo do helicóptero descrito no problema resolvido 1.4. O ponto H se
refere ao ponto no qual o helicóptero se encontra após ter percorrido 400km em direção nordeste.
Capítulo 1

Resolução:

O problema fornece o módulo do vetor deslocamento (400 km), e também a direção e o sentido
do mesmo através do ângulo de 31º. Para acharmos as distâncias ao norte e a leste nas quais o
referido helicóptero se encontra quando estiver percorrido os 400 km, quando ele se encontra no
ponto H, basta calcular as componentes deste vetor nas direções x e y, as quais chamaremos de Hx e
Hy, respectivamente para leste e norte, como indica a figura 1.8. Basta prestar atenção no ângulo
dado para a escolha das funções seno e cosseno adequadas ao cálculo de Hx e Hy. Assim, temos
Hx
sen 31º = → H x = 400km.sen31º = 206,02km
400km
e
Hy
cos 31º = → H y = 400km. cos 31º = 342,87 km .
400km

Assim, o helicóptero se encontra a 206,02 km ao leste e a 342,87 km para o norte do heliporto,


após percorrer 400 km para nordeste.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: Note que neste problema você utilizou as mesmas relações
expressas nas eqs. (1.6a) e (1.6b), porém, com a função seno para o cálculo na direção x e a função
cosseno para a direção y. Se você tivesse escolhido o ângulo de 90º – 31º = 59º com a direção x, na
figura 1.8, você utilizaria este ângulo e também a função seno para a componente y e a função
cosseno para a direção x. Logo, a escolha da função seno ou cosseno para o cálculo da componene
de um vetor na direção x, por exemplo, depende de que ângulo estamos utilizando. O que sempre
prevalece são as definições de seno e cosseno, ou seja, seno envolve cateto oposto e hipotenusa,
enquanto que a função cosseno envolve o cateto adjacente e hipotenusa.

Exemplo resolvido 1.5

r
(a) Determine as componentes do vetor P na figura 1.9(a), sendo o seu módulo igual a 2,00 m e
com β = 47º.
r
(b) Determine as componentes do vetor T na figura 1.9(b), sendo o seu módulo igual a 3,50 m e
com γ = 40º.

r r
Figura 1.9 – Vetores (a) P e (b) T conforme descritos, respectivamente, nos itens (a) e (b) do problema
resolvido 1.5.
Capítulo 1

Resolução:

(a) Procedendo a decomposição de componentes do vetor, tal como ilustrado na figura 1.7(a), e
r
utilizando as eqs. (1.6a) e (1.6b), temos as componentes do vetor P , as quais resultam em

Px
cosβ = cos47 º = → Px = 2,00m. cos 47 º = 1,36m
2,00m
e
Py
senβ = sen47º = → Py = 2,00m.sen47º = 1,46m .
2,00m

(b) Na figura 1.9(b) vemos que o eixo x não está na horizontal, assim como o eixo y também não
está na vertical. Porém os mesmos são ortogonais, de modo que podemos usar as relações seno e
cosseno sem nenhum problema. Note que, se quisermos utilizar o ângulo γ dado no problema,
r
devemos empregar a função cos γ para a componente y do vetor T e a função sen γ para a
r r
componente x do vetor T . Assim as componentes do vetor T valem

Tx
senγ = sen40º = → Tx = 3,50m.sen 40º = 2,25m
3,50m
e
Ty
cosγ = cos40º = → Ty = 3,50m. cos 40º = 2,68m .
3,50m

Em diversas situações muitas grandezas vetoriais são expressas em termos dos vetores unitários.
Um vetor unitário é um vetor que não possui dimensão, não possui unidade e tem módulo
exatamente igual a 1, sendo usado para especificar uma direção particular. Um vetor unitário torna-
se bastante prático para descrever uma determinada direção e sentido no espaço. Utilizaremos os
vetores unitários para apontar o sentido positivo dos eixos x, y e z, os quais são respectivamente
chamados de iˆ , ĵ e k̂ . Note que para um vetor unitário utilizamos o “chapéu” acima dos
caracteres i, j e k e não uma seta, como na notação dos demais vetores.
Os vetores unitários iˆ , ĵ e k̂ são vetores mutuamente perpendiculares, como mostra a figura
1.10. O sistema mostrado na figura 1.10 é também chamado de sistema de coordenadas
dextrogiro, com os vetores unitários iˆ , ĵ e k̂ definindo as direções e os sentidos.
Capítulo 1
Figura 1.10 – Representação dos vetores unitários iˆ , ĵ e k̂ , com as respectivas direções e sentidos.

r
Podemos utilizar os vetores unitários para representar outros vetores, como o vetor F da figura
r
1.7. Neste caso, em termos dos vetores unitários, expressamos o vetor F como
r
F = Fx iˆ + Fy ˆj . (1.9)

r
Neste caso as grandezas Fx iˆ e Fy ˆj são vetores e são chamadas de componentes vetoriais de F .
r
As grandezas Fx e Fy são chamadas de componentes escalares de F .

1.8 – Soma de Vetores Componente a Componente

Além da soma geométrica de vetores, que você estudou na seção 1.6, é possível somar vetores
componente a componente, ou seja, através da soma dos componentes eixo a eixo. Imaginemos a
seguinte equação para uma soma vetorial:

r r r
S = A+ B , (1.10)
r r r
a qual nos diz que o vetor S é igual a A + B . Deste modo podemos dizer que cada uma das
r r r
componentes de S deverá ser igual as componentes de A + B , ou seja,

S x = Ax + Bx , (1.11)

S y = Ay + B y e (1.12)

S z = Az + Bz . (1.13)

Assim sendo, para somarmos vetores devemos decompor os mesmos em suas componentes
escalares, combiná-las de acordo com o eixo (x, y ou z), combinar as respectivas componentets
r
obtidas e recompor o vetor resultante, que no caso acima é o vetor S . Para a subtração de vetores
vale a mesma lógica empregada acima, o que se justifica pelo fato de uma subtração poder ser
escrita como uma soma, como mostramos através da eq. (1.5) na seção 1.6. Após a recomposição do
r
vetor S , o mesmo pode ser escrito em termos dos vetores unitários como
r
S = S x iˆ + S y ˆj + S z kˆ . (1.14)

Exemplo resolvido 1.6


Capítulo 1
r r r
A figura 1.11 mostra três vetores, A , B e C , com os valores das respectivas componentes nos
r r r r
eixos x e y. Determine o vetor soma S = A + B + C e represente-o graficamente.

r r r
Figura 1.11 – Representação dos vetores A , B e C , com os valores das suas componentes nos eixos x e y.

Resolução:

Observando a figura 1.11, podemos extrair as componentes de cada um dos três vetores em
questão, ou seja,
r
A = (7,8m)iˆ − (2m) ˆj ,

r
B = (4,4m)iˆ + (3,1m) ˆj e
r
C = (−2,4m)iˆ + (4,6m) ˆj .

Fazendo a soma componente a componente, encontramos

S x = Ax + Bx + C x = 7,8m + 4,4m − 2,4m = 9,8m


e
S y = Ay + B y + C y = −2m + 3,1m + 4,6m = 5,7 m
.
r r r r
Deste modo, o vetor soma S = A + B + C , em termos da notação de vetores unitários, é dado por
r
S = (9,8m)iˆ + (5,7 m) ˆj .
r
Podemos também representar o vetor S através da notação módulo-ângulo discutida na seção
1.7, na qual expressamos o vetor em termos do seu módulo e de sua direção e sentido por
r
S
intermédio de um ângulo conhecido. Assim sendo, o módulo do vetor pode ser calculado usando
o raciocício empregado na discussão da figura 1.7 com o auxílio das eqs. (1.7) e (1.8). Temos então
que

S = S x2 + S y2 = (9,8m) 2 + (5,7 m) 2 = 11,34m


e
Capítulo 1
Sy  5,7 m 
tan θ = → θ = arctan   = 30,18º
Sx  9,8m  .

Note que este ângulo é medido em relação ao eixo x, já que utilizamos um raciocínio de acordo
com a eq. (1.8) e a figura 1.7. Procure se certificar disto!
A representação gráfica é apresentada na figura 1.12.

r
Figura 1.12 – Representação do vetor S .

Exemplo resolvido 1.7


r r
Determine o módulo do deslocamento 3 A − B dos seguintes vetores deslocamento:
r r
A = (4iˆ + 2 ˆj − 2kˆ)m e B = (1iˆ + 3 ˆj − 3kˆ)m .

Resolução:
r r r
Fazendo R = 3 A − B , então temos que
r
R = 3(4iˆ + 2 ˆj − 2kˆ)m − (1iˆ + 3 ˆj − 3kˆ)m
r
R = [(12 − 1)iˆ + (6 − 3) ˆj + (−6 + 3)kˆ]m
r
R = (11iˆ + 3 ˆj − 3kˆ)m .
r
O módulo de R , denotado por R, é dado pela eq. (1.7), porém com 3 componentes. Assim
sendo,

R = R x2 + R y2 + R z2 = (11m) 2 + (3m) 2 + (−3m) 2 = 11,79m .

1.9 – Multiplicação de Vetores


Capítulo 1

São três as possibilidade de multiplicação de vetores:

− Multiplicação de um vetor por um escalar;


− Multiplicação de um vetor por um outro vetor → produto escalar ou produto vetorial.

MULTIPLICAÇÃO DE UM VETOR POR UM ESCALAR


r
A multiplicação de um vetor F por um escalar e resultará sempre num novo vetor. O módulo do
r
vetor resultante será o produto do módulo do vetor F , F, multiplicado pelo valor absoluto do
r
escalar e. A direção do vetor resultante será a mesma do vetor F , porém o seu sentido será o
r r
mesmo de F se o escalar e for positivo, e contrário ao do vetor F se o escalar e for negativo.

MULTIPLICAÇÃO DE UM VETOR POR UM OUTRO VETOR

A multiplicação de um vetor por um outro vetor pode se dar de duas maneiras, produzindo dois
resultados distintos. Uma das maneiras irá produzir um escalar, que é o chamado produto escalar,
enquanto que a outra maneira irá resultar em um outro vetor, que é o chamado produto vetorial.
Estudaremos agora cada uma das duas maneiras.

Produto escalar
r r
O produto escalar de dois vetores quaisquer A e B , tal como ilustrados na figura 1.13(a), pode
r r r r
ser escrito como A ⋅ B , resultando numa grandeza escalar. O produto escalar A ⋅ B pode ser definido
como
r r
A ⋅ B = AB cos α , (1.15)
r r
onde A é o módulo do vetor A , B é o módulo do vetor B , e o ângulo α é o ângulo entre as direções
r r
A e B.

Figura 1.13 – (a) Representação do produto escalar de dois vetores, de acordo com a eq. (1.15). (b) Ambos os
r
vetores possuem componentes ao longo da direção positiva do outro vetor, ou seja, o vetor
r r A possui uma
componente Acosα na direção positiva do vetor B , enquanto que o rvetor B possui uma componente Bcosα na
direção positiva do vetor A .
Capítulo 1
r r
Note na figura 1.13(a) que existem dois ângulos entre os vetores A e B , ou seja, o ângulo α e o
ângulo 360º - α. Como os seus cossenos são iguais, tanto faz a escolha de um ou outro ângulo para
utilizar a eq. (1.15). Da eq. (1.15) vemos que existem apenas escalares no lado direito, ou seja, o
r r
produto escalar A ⋅ B de dois vetores resulta numa grandeza escalar. O valor desta grandeza escalar
pode ser um número positivo, negativo ou nulo. Podemos também dizer que o produto escalar de
dois vetores é dado pela multiplicação do módulo de um vetor pela componente do outro vetor na
direção positiva do primeiro vetor, como ilustra a figura 1.13(b). Note na figura 1.13(b) que ambos
r
os vetores possuem componentes ao longo da direção positiva do outro vetor, ou seja, o vetor A
r r
possui uma componente Acosα na direção positiva do vetor B , enquanto que o vetor B possui uma
r
componente Bcosα na direção positiva do vetor A .
Da eq. (1.15) vemos que se o ângulo entre os dois vetores for 0º, o produto escalar entre eles será
máximo, enquanto que se α = 90º o produto escalar de ambos será nulo.
A lei comutativa também pode ser aplicada no caso de um produto escalar, ou seja,
r r r r
A⋅ B = B ⋅ A . (1.16)
r r
Se a notação estiver expressa em termos dos vetores unitários, o produto escalar A ⋅ B de dois
vetores resulta em
r r
A ⋅ B = ( A x iˆ + Ay ˆj + Az kˆ) ⋅ ( B x iˆ + B y ˆj + B z kˆ) ,

o que facilmente pode ser mostrado (tente você fazer em casa como exercício) ser igual a
r r
A ⋅ B = Ax B x + A y B y + Az B z . (1.17)

Exemplo resolvido 1.8


r r r r
A partir da figura 1.14, calcule o produto escalar E ⋅ F , sendo o módulos dos vetores E e F
respectivamente iguais a 5 e 6.

r r
Figura 1.14 – Vetores E e F , com módulos respectivamente iguais a 5 e 6.

Resolução:
Capítulo 1
r r
Analisando a figura 1.14, vemos que o ângulo entre os vetores E e F é igual a
120° - 62° = 58°.
Aplicando a eq. (1.15), com α = 58°, encontramos

r r
E ⋅ F = EF cos α = (5).(6). cos 58° = 15,90.
r r
Neste exercício você também poderia encontrar o produto escalar entre E e F decompondo
ambos os vetores e empregando a eq. (1.17), o que conduziria ao mesmo resultado encontrado
acima. O exemplo resolvido 1.9 utiliza a eq. (1.17) num procedimento similar.

Exemplo resolvido 1.9

Determine o ângulo entre os seguintes vetores:


r r
A = 3iˆ + 4 ˆj + 2kˆ e B = −3iˆ + 3 ˆj − 2kˆ .

Resolução:

Como temos as componentes dos vetores, vamos calcular o produto escalar de ambos com a
combinação das eqs. (1.15) e (1.17), ou seja
r r
A ⋅ B = AB cos α = A x B x + A y B y + A z B z .

Assim, nosso objetivo é encontrar o ângulo α na eq. acima. Logo,

Ax B x + Ay B y + Az B z = (3)(−3) + (4)(3) + (2)(−2) = −1 ,

A= Ax2 + Ay2 + Az2 = (3) 2 + (4) 2 + (2) 2 = 5,39 e

B = B x2 + B y2 + B z2 = (−3) 2 + (3) 2 + (−2) 2 = 4,69 .

Deste modo, o ângulo α entre os vetores resulta em

Ax B x + Ay B y + Az B z −1
cos α = = ,
AB 5,39.4,69
portanto,

α = 92,27° .
Capítulo 1
Produto vetorial
r r r r
O produto vetorial de dois vetores quaisquer A e B pode ser escrito como A × B , resultando
numa grandeza vetorial, ao contrário do produto escalar estudado anteriormente. Logo, o produto
r r r
vetorial A × B resulta num terceiro vetor C , cujo módulo pode ser definido como

C = ABsenα , (1.18)
r r
onde α é o menor ângulo entre os dois vetores A e B . O produto vetorial também é chamado de
r r r
produto cruz, devido à notação A × B . Assim sendo, o produto vetorial de dois vetores quaisquer A
r r
e B , o qual resulta num terceiro vetor C , pode ser escrito como
r r r
C = A× B . (1.19)
r r
Da eq. (1.18), vemos que se A e B foram vetores paralelos (α = 0º) ou antiparalelos
r r r r
(α = 180º), teremos A × B = 0. Da mesma equação vemos que o módulo C = A × B será máximo
r r
quando os vetores A e B foram perpendiculares entre si, ou seja, quando α = 90º.
r r r
O vetor C , resultante do produto A × B , é um vetor perpendicular ao plano formado pelos
r r
vetores A e B , como ilustra a figura 1.15(a).

Figura 1.15 – Procedimento prático para se determinar a direção e o sentido do vetor resultante no produto
r r r r
vetorial (a) A × B e (b) B × A .

A figura 1.15(a) também ilustra um procedimento prático para se determinar a direção e o


r
sentido do vetor resultante C , que é conhecido como regra da mão direita. Note que é necessário
tal procedimento uma vez que existem dois sentidos possíveis para uma direção ortogonal a um
r r
plano, no nosso caso aqui formado pelos vetores A e B . O procedimento do uso da regra da mão
r r
direita consiste em dispor os vetores A e B de modo a fazer com que coincidam as suas caudas,
r
porém sem que mudem as suas orientações. A seguir faça com que o vetor A sofra um giro
r r r
(rotação) em torno de um eixo ortogonal ao plano formado pelos vetores A e B até que o vetor A
r
se sobreponha ao vetor B , sendo que este giro deverá ser feito no menor ângulo possível entre os
r r
vetores A e B . Assim sendo, você deve simplesmente colocar a sua mão direita em torno deste
r r
eixo ortogonal, de modo tal que os seus dedos possam girar o vetor A em direção ao vetor B no
menor ângulo possível, e o seu polegar direito esticado irá apontar na direção e no sentido do vetor
Capítulo 1
r
resultante C , como ilustra a figura 1.15(a).
A ordem do produto vetorial é importante, de modo que
r r r r
A× B ≠ B × A , (1.20)
r r r
como ilustra a figura 1.15(b), na qual temos o produto vetorial D = B × A . Note nas figuras 1.15(a)
e 1.15(b) que temos
r r r r
A × B = −( B × A) , (1.21)
r r
de modo que C = − D , ou seja, o produto vetorial não é comutativo. Procure analisar com a regra
da mão direita as figuras 1.15(a) e 1.15(b) para se familiarizar com esta regra.
O produto vetorial, em termos da notação de vetores unitários, pode ser escrito como
r r
A × B = ( Ax iˆ + Ay ˆj + Az kˆ) × ( Bx iˆ + B y ˆj + Bz kˆ) , (1.22)
r
o qual poderá ser expandido com base na lei distributiva, ou seja, com cada componente do vetor A
r
sendo multiplicada vetorialmente por cada uma das componentes do vetor B . Como exemplo, em
uma das partes da expansão do produto da eq. (1.22) temos que

Ay ˆj × B y ˆj = Ay B y ( ˆj × ˆj ) = 0 ,

já que ˆj × ˆj = 0 , visto que ambos os vetores são paralelos, logo α = 0° na eq. (1.18). É possível
facilmente mostrar que o produto vetorial descrito na eq. (1.22) irá resultar, após a expansão dos
termos, em
r r
A × B = ( Ay Bz − B y Az )iˆ + ( Az Bx − Bz Ax ) ˆj + ( Ax B y − Bx Ay )kˆ . (1.23)

Como exercício, demonstre a eq. (1.23). O produto vetorial também pode ser representado
utilizando-se um determinante. O produto vetorial também pode ser representado por um
r r
determinante. Assim sendo, o produto A × B pode ser expresso como

iˆ ˆj kˆ
r r
A × B = Ax Ay Az . (1.24)
Bx By Bz

Você poderá também calcular o produto vetorial da eq. (1.22) usando o determinante da eq. (1.24) e
chegar no mesmo resultado dado pela eq. (1.23).

Exemplo resolvido 1.10

Dados os seguintes vetores


r
A = 2iˆ − 3 ˆj e
r
B = −3iˆ + 2kˆ ,
Capítulo 1
r r r
determine o vetor R = A × B .

Resolução:

Montando a operação, teremos


r r r
R = A × B = (2iˆ − 3 ˆj ) × (−3iˆ + 2kˆ) .
Como os vetores estão expressos na notação de vetores unitários, podemos neste caso utilizar a
propriedade distributiva dada pela eq. (1.23). Neste caso,

r
R = [(−3)(2) − 0]iˆ + [0 − (2)(2)] ˆj + [0 − (−3)(−3)]kˆ = −6iˆ − 4 ˆj − 9kˆ
r r r
Logo, o vetor R = A × B é dado por
r
R = −6iˆ − 4 ˆj − 9kˆ .

Exemplo resolvido 1.11

r r
Na figura 1.16 o vetor C tem módulo igual a 8 unidades e está localizado no eixo x. O vetor D
tem módulo igual a 5 unidades e se localiza no plano xy, formando um ângulo de 25° com o eixo x,
r r
como ilustra a figura 1.16. Calcule o produto C × D .

r r r
Figura 1.16 – Ilustração dos vetores C e D do exemplo resolvido 1.11 e o vetor E resultante do produto
r r
C×D .

Resolução:

r r
Podemos calcular o produto C × D de duas maneiras: utilizando a eq. (1.18) e a regra da mão
direita para determinar a direção e o sentido do vetor resultante, ou então determinar o vetor
resultante através do uso da eq. (1.23), como fizemos no exemplo resolvido 1.10. Utilizaremos a
Capítulo 1
primeira maneira neste exercício, deixando claro que ambas conduzem ao mesmo resultado.

r r
Da eq. (1.18) temos que o módulo do produto C × D , denotado por E, é dado por

E = C.Dsenβ ,

com β = 25°. Logo,


E = C.Dsenβ = 8.5sen 25° = 16,90 .
r r r r r
A direção de E = C × D é o eixo z, já que os vetores C e D se localizam nos eixos do plano xy.
r
O sentido de E é dado pela regra da mão direita, a qual resulta que o referido vetor aponta na
direção positiva do eixo z, conforme indica a figura 1.16. Veja como esta regra é aplicada. Note
r
também que o módulo do vetor E na figura 1.16 é claramente maior que os demais vetores, o que
está de acordo com o resultado encontrado no cálculo feito acima.

1.10 – Exercícios - Lista 1

1 – Um protótipo de veículo automotor com propulsão a jato desenvolveu uma velocidade de


1200km/h. Converta esse resultado para m/s. Resposta: 333,33m/s.

2 – Foi encontrado em uma mina de diamante uma enorme pedra com um volume de 20,4cm3.
Expresse seu volume em m3. Resposta: 20,4.10-6m3.

3 – Algumas pessoas têm o costume de expressar a altura de animais de criação em “mãos”. Por que
este procedimento não deve ser utilizado?

4 – Converta as seguintes grandezas, de acordo com o indicado:

a) 6.10-4m (em mm);


b) 8.10-5s (em µs);
c) 97.102g (em kg).

Resposta: (a) 0,6mm, (b) 80µs e (c) 9,7kg.

5 – Uma lata de refrigerante expressa no seu rótulo um volume de 0,350 litros.. Converta este valor
para centímetros cúbicos, sabendo que 1 litro = 1000cm3. Resposta: 350cm3.

6 – A massa específica do ouro é de 19,3g/cm3. Converta este valor para kg/m3.


Resposta: 19,3.103kg/m3.

7 – O jato Concorde, atualmente fora de operação, ainda é o avião comercial mais rápido até hoje
fabricado, podendo viajar a 1400mi/h. Sabendo que 1 milha = 1609,34m, converta este valor de
velocidade para (a) m/s e (b) km/h. Resposta: (a) 625,86m/s e (b) 2253,08km/h.
r r
8 – Determine a soma dos dois vetores A e B , ambos pertencentes ao plano xy e que possuem as
Capítulo 1
seguintes componentes:
r
A = 3iˆ + 4 ˆj e
r
B = 6iˆ − 3 ˆj .

Resposta: 9iˆ + 1 ˆj .

9 – Um objeto em movimento sofre 3 deslocamentos consecutivamente, dados por:


r
D1 = (2iˆ + 3 ˆj − 2kˆ)m ,
r
D2 = (1,8iˆ − 1,5 ˆj + 3kˆ)m e
r
D3 = (−1,5iˆ − 1 ˆj + 2,5kˆ)m .

Ache (a) as componentes do deslocamento total e (b) o seu respectivo módulo. Resposta: (a)
2,3iˆm , 0,5 ĵm , 3,5k̂m e (b) 4,22m.

10 – Um escoteiro faz uma caminhada numa floresta com o auxílio de uma bússola em duas etapas,
denominadas A e B. Inicialmente (etapa A) ele caminha 17km exatamente entre a direção sul e leste,
depois descansa e a seguir retoma a caminhada (etapa B) fazendo 32km para o norte numa direção
que faz 50° com o leste.
(a) Determine as componentes de cada um dos dois deslocamentos realizados, imaginando que o
seu sistema de coordenadas esteja com o eixo y na direção sul para norte e o eixo x na direção oeste
para leste. Resposta: Ax = 12,02km, Ay = -12,02km, Bx = 20,57km e By = 24,51km
(b) Obtenha as componentes do deslocamento total realizado pelo escoteiro. Resposta: 32,59iˆkm
e 12,49 ĵkm .

11 – Uma pessoa patinando numa pista de gelo realiza uma trajetória circular que possui um raio de
3m. Determine (a) o módulo do deslocamento quando a pessoa percorre metade do circulo, (b) a
respectiva distância percorrida neste caso e (c) o módulo do deslocamento supondo uma volta
completa na referida trajetória circular. Resposta: (a) 6m, (b) 9,42m e (c) 0.

12 – Um determinado vetor possui uma componente x igual a -12 unidades e uma componente y
com 37 unidades. Determine o módulo e a direção deste vetor. Resposta: 38,9 unidades e 107,97°
medidos a partir do sentido positivo do eixo x.

13 – Uma pessoa realiza uma caminhada seguindo as trajetórias descritas na figura 1.17. Determine
o vetor deslocamento total realizado por esta pessoa. O sistema de eixos coordenados xy na figura
1.17 serve de referência. Resposta: (24,74iˆ − 170 ˆj )m ou módulo de 171,79m e ângulo de 278,28°
a partir do sentido positivo do eixo x.
Capítulo 1

Figura 1.17 – Ilustração das trajetórias referentes ao problema 13. O sistema de eixos coordenados xy serve
apenas de referência.

r
14 – Um vetor D possui componentes nas direções x e y respectivamente iguais a -6,92cm e
r
12,78cm. Um outro vetor E tem componentes nas direções x e y respectivamente iguais a 11,1cm e
r r r r
-7,5cm. Sendo D − 2 E + 4 F = 0 , calcule o vetor F . Resposta: (7,28iˆ − 6,95 ˆj )cm .
r r r
15 – A figura 1.18 ilustra três vetores deslocamento, onde os módulos dos vetores D , E e F
valem respectivamente 17cm, 36cm e 27cm. Determine (a) o vetor deslocamento resultante em
termos dos vetores unitários, (b) o módulo e (c) a direção deste vetor. Resposta: (a)
(45,52iˆ + 24,39 ˆj )cm , (b) 51,64cm e (c) 28,18° com o eixo x.

Figura 1.18 – Ilustração dos três vetores deslocamento descritos no problema 15.

16 – Determine o módulo, a direção e o sentido dos seguintes vetores representados pelas suas
componentes:
(a) Cx = 4,32cm e Cy = -3,45cm
(b) Dx = -5,25cm e Dy = 2,27cm

Resposta: (a) 5,53cm e 321,39° e (b) 5,72cm e 156,62°.

17 – Escreva em termos da notação de vetores unitários o vetor indicado na figura 1.19, cujo
r
módulo vale 2,7cm. Resposta: A = (1,14iˆ + 2,45 ˆj )cm .
Capítulo 1

Figura 1.19 – Ilustração do vetor descrito no problema 17, com o seu respectivo ângulo em relação ao eixo x.

r r
18 – Para os vetores A e B indicados na figura 1.20, cujos módulos valem, respectivamente, 30cm
r r
e 48cm, determine o produto escalar A ⋅ B . Resposta: -150,52cm2.

r r
Figura 1.20 – Vetores A e B descritos no problema 18, com seus respectivos ângulos.

r r
19 – Dados os vetores A e B representados na figura 1.21, cujos módulos valem, respectivamente,
r r r r
20cm e 30cm, determine o módulo, a direção e o sentido do produto vetorial (a) A × B e (b) B × A .
Resposta: (a) 424,26cm2 e direção e sentido para dentro da página (-z) e (b) 424,26cm2 e e direção
e sentido para fora da página (+z).

r r
Figura 1.21 – Vetores A e B descritos no problema 19.

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