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Autora: Dulcinéa Nogueira da Costa


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Autora: Dulcinéa Nogueira da Costa

Obra baseada em sua monografia para o bacharelado em teologia com concentração em


missiologia.

Publicação: IDE (Instituto de Desenvolvimento Estratégico)


www.idemundi.com
ide@idemundi.com
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1. O PROBLEMA

O missionário não é um homem alheio a seu tempo, que vive um fanatismo monástico, longe da
sociedade, como os monges, pelo contrário, vive dentro de um mundo que o afeta o tempo todo, mas
que também é afetado por ele, o que na verdade é o seu objetivo: afetar o mundo. E este mundo que o
missionário vive hoje é o mundo globalizado, que tem por característica essencial a velocidade da
informação.
Hoje, pode-se saber no Brasil o que acontece em qualquer lugar do mundo em tempo real, isto
devido aos avançados meios de comunicação disponíveis nesta era, como a internet.
Há algum tempo, a informação sobre algum acontecimento, em um país da Ásia, como Cingapura
- fosse na área política, econômica, sociológica ou religiosa - levava algum tempo para ser veiculada e,
desse modo, afetar outros países como o Brasil na América do Sul, por exemplo. Hoje, esta informação
é difundida em tempo real.
Pode-se dizer que nesta era, há uma liberdade de acesso à informação para aqueles que podem e
sabem utilizar o recurso da internet, como disse Paul Hierbet:
“O movimento em direção à informação como recurso essencial e a
democratização dessa informação através da internet dão poder aos que têm acesso ao
mundo dos computadores...1”
O missionário vive dentro desse contexto, podendo ter diversas informações sobre a cultura, a
sociedade, a política, a língua e a religião do campo em que vai trabalhar, mesmo antes de chegar lá. Já
no campo de trabalho, através de um e-mail ou conversas on-line, por exemplo, pode contatar a base
enviadora e lhes informar sobre as necessidades e dificuldades por que estiver passando, mantendo
assim, um contato mais próximo.
Séculos atrás, o único meio de o missionário informar e ser informado era através de carta, que
levava meses para chegar a seu destino e algumas vezes nem chegava, devido à fácil possibilidade de
se extraviar pelo caminho. Mais tarde, com a invenção do telefone, a comunicação melhorou um pouco

1
PRICE, D. E. org. Que Será dos que Nunca Ouviram? São Paulo: Vida Nova, 2000. P 98
4

mais, no entanto, o acesso e a utilização desse recurso não se apresentava com facilidade. Hoje, com a
globalização a possibilidade de a comunicação ser feita em tempo real é bem mais acessível, como
disse Patrick Johnstone:
“No mundo atual é difícil imaginar como eram difíceis a comunicação e a
provisão de suprimentos. Missionários na China tinham que esperar um ano para
receber uma resposta a uma carta enviada à Europa, e os missionários da Sociedade
Missionária de Londres entre os mongóis buríates da Sibéria, na década de 1830,
tinham que esperar mais ainda.2”
Para quem sabe o que é e-mail e até mesmo sedex, fica realmente difícil esperar um ano por uma
carta resposta e até mesmo imaginar isto. Esta velocidade de informação pode gerar o problema da
necessidade do imediatismo, o que é prejudicial para o caráter do missionário, mas também pode
produzir uma assistência melhor as necessidades do obreiro, o que é altamente abençoador.
Portanto, a partir desta relação entre a comunicação globalizada e o missionário - um fenômeno
impossível de ser desconsiderado – é que surge a grande questão que precisa ser refletida neste tempo:
“Até que ponto a comunicação globalizada influencia na formação do perfil do missionário?”
Esta obra não tem o intuito de esgotar este assunto, mas visa sim trazer a luz esta reflexão.

2. GLOBALIZAÇÃO

Comentar a respeito da comunicação globalizada é, com certeza, uma questão desafiadora, pois
se trata de um tema contemporâneo, sobre o qual conceitos, ideologias e práticas ainda estão sendo
discutidos e desenvolvidos, ou seja, em processo de formação. Contudo, é possível tirar algumas
conclusões e saber como essa comunicação tem influenciado o mundo atual e a formação do perfil do
missionário, pois este recebe influências do meio em que vive.

2.1 Definição
A globalização é uma realidade que atinge a todas as camadas da sociedade, e uma das
principais características dessa era, se não a principal, é a velocidade com que as informações são
veiculadas. As notícias se propagam quase que instantaneamente e os meios de transporte são
muito mais rápidos hoje, do que em algumas décadas atrás. A era global faz com que a ação de

2
JOHNSTONE, P. A Igreja é Maior do que Você Pensa: A tarefa inacabada da evangelização
mundial. Camanducaia: Missão Horizontes, 1998. P 107
5

um governo, instituição ou empresa em qualquer lugar do mundo afete em tempo real todo o
mundo, como disse Gilberto Cotrim:
“No mundo globalizado, as decisões de um governo ou empresa influentes
podem provocar efeitos em regiões distantes do lugar onde foram tomadas. Assim,
o emprego de um trabalhador numa indústria automobilística instalada no Brasil
pode deixar de existir se a matriz da empresa – situada, por exemplo, na
Alemanha – decidir que é mais conveniente fechar a fábrica aqui para instalá-la
em outro país, reduzir o número de funcionários ou substituir parcela da mão-de-
obra por equipamentos eletrônicos sofisticados, objetivando ampliar lucros.3”
É interessante dizer que este fenômeno faz com que o planeta pareça pequeno devido à
facilidade e a rapidez com que povos de diferentes lugares se comunicam e interagem uns com os
outros. A respeito disto, David Botelho, disse:
“A globalização é o crescimento da interdependência de todos os povos e
países da superfície da Terra. Alguns falam em ‘aldeia global’, pois parece que o
planeta está ficando menor e todos se conhecem através dos meios de
comunicação.4”
A partir disto pode-se dizer que a globalização é um fenômeno contemporâneo, através do
qual o mundo encontra-se cada vez mais interligado por redes de informação e comunicação.

2.2 Influência
A globalização é um processo de amplas dimensões sociais e atinge a indivíduos,
instituições, governos, empresas e comunidades em todo o mundo. Por ser um fenômeno atual e
por estar tomando forma, acredita-se que muitos de seus efeitos ainda não foram avaliados de
maneira suficiente, entretanto, já afetam o modo de vida de populações inteiras.
As redes de informação e comunicação pelas quais o mundo encontra-se cada vez mais
interligado foram possibilitadas pelo grande avanço tecnológico que tem sido desenvolvido,
causando a interdependência entre os povos.
Todo esse processo tem influenciado de forma relevante o trabalho missionário. Os
recursos que a comunicação globalizada proporciona, têm colaborado para que o missionário
conheça o campo e, desta forma, possa alistar estratégias e meios a fim de alcançar o povo que

3
COTRIM, G. História Global: Brasil e Geral. volume único. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. P 531
4
BOTELHO, D. Revolution Teen: Adolescentes com Propósitos. 2 ed. Camanducaia: Missão
Horizontes, 2005. P 55
6

recebeu o chamado para trabalhar. Através da internet ou outros meios de comunicação,


conhecendo todo o contexto social, cultural, político, econômico e etno-lingüístico, ele pode criar
ou desenvolver métodos que se adaptem melhor à necessidade urgente de cada povo tais como
planos para alcançar crianças e adolescentes: creches, escolinhas de futebol, de música e arte,
educação escolar; cuidados higiênicos e médicos; projetos que alcancem meninos de rua;
prevenção e recuperação dos que sofreram abusos sexuais ou outros de qualquer natureza;
trabalhos para alcançar adultos, como: cursos diversos, recuperação para aqueles que sofreram
algum tipo de dano físico e moral, etc.
Os recursos disponibilizados pela comunicação globalizada também ajudam os cristãos a
conhecerem a realidade dos povos em todo o mundo e em conseqüência, as necessidades por que
passam através de imagens, notícias e reportagens, vídeos, depoimentos e relatos do missionário
direto do campo. Sendo em tempo real, causam grande impacto.
Desse modo, alguns se sentem desafiados e motivados a cumprirem a ordem de Cristo de
fazer discípulos de todas as nações, como registrado em Mateus 28:18-20:
“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada
no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os
em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as
coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a
consumação do século.”

3. PARALELO ENTRE MISSIONÁRIO DE ONTEM E DE HOJE

Como se tem visto, o fenômeno da comunicação globalizada e os acelerados avanços


tecnológicos que a promovem têm contribuído acentuadamente para que haja transformações na
realização do trabalho missionário.
Hoje, os recursos disponíveis no preparo dos missionários e na comunicação que precisa haver
apresentam grandes diferenças em relação a eras anteriores.

3.1 Diferenças no Preparo


Desde o tempo da igreja primitiva, Deus tem derramado profundo avivamento sobre grupos
e indivíduos, e centenas de crentes apaixonados por Jesus avançam proclamando o evangelho de
7

Cristo, tendo somente a Ele como foco. Desafiados, respondem com obediência ao chamado que
lhes fora feito.
No avivamento do século XVIII, um cristão, cujo nome não se sabe, requeria como recurso
apenas um par de sandálias usadas para ir até o distante Alasca e espalhar o evangelho de Cristo
àquele povo5. Esse episódio é fruto do sonho do líder morávio, Conde Nikolaus Zinzendorf.
O Conde Zinzendorf desafiou aquele homem a ir até ao Alasca e, sem medir esforço, o
varão aceitou o desafio, mesmo sem saber o que ele poderia encontrar naquele lugar tão distante,
pois ia sem conhecer nada daquele povo. Ele não conhecia previamente a cultura deles, nem o
modo de vida ou a língua, os hábitos alimentares, nem mesmo a religião.
Esse homem nunca mais fora visto por Conde Zinzendorf, pois partira para jamais voltar.
Hoje, no entanto, sabe-se que mais de 50% de todos os esquimós da terra são cristãos e isto é,
reconhecidamente, devido ao trabalho missionário desse anônimo.
Séculos se passaram e a história deste homem chega a parecer utopia para alguns, pois hoje,
o obreiro que se sente desafiado a proclamar o evangelho de Cristo a um determinado povo, em
determinado lugar, tem meios de treinamento diversos disponíveis.
Ele pode buscar preparo e formação transcultural e conhecer de antemão a cultura, os
costumes, a língua, a religião e até os hábitos alimentares do povo. Em alguns treinamentos, os
candidatos são até mesmo submetidos a situações simuladas a fim de identificarem-se melhor
com a realidade na qual vão trabalhar.

3.2 Diferenças nos Recursos


Quando se fala em obra missionária, muitas vezes, a imagem que vem à cabeça é de alguns
missionários do passado enfrentando constantes dificuldades e faltas de recursos e, mesmo assim,
mantendo como foco o prazer em obedecer ao Senhor.
Hoje, além de ter acesso a muito mais informação e preparo técnico, o missionário pode
contar com avançadas tecnologias e amparo de uma junta ou agência missionária especializada.
Tem em mãos computador, note book, GPS e vários outros recursos para ajudá-lo no trabalho a
ser realizado.
Em meados do século XIX, David Livingstone desenvolveu partes do mapa do centro sul
da África até então desconhecidas. Renomado missionário e médico escocês desbravou a África
com suas viagens missionárias, realizando também grandes explorações. Se Livingstone teve que

5
LIDÓRIO, R. Missões: O Desafio Continua. Belo Horizonte: Betânia, 2003. P 92-93
8

fazer o próprio mapa para realização de suas viagens missionárias, muitos missionários hoje estão
lançando mão do GPS, um equipamento moderno que dá o mapa eletrônico de qualquer região
em que esteja.
Allan Maberly, em seu livro Deus Chegou ao Tibete, conta uma história vivida no século
XVIII. Não é apenas mais uma história, trata-se de uma saga emocionante e dramática, uma
experiência real de coragem e dedicação vivida por uma equipe singular de tradutores, que no
curso de noventa anos passou por diversos perigos e testemunhou milagres até levar a palavra de
Deus ao povo do Tibete.
Ronaldo Lidório, ao falar de sua experiência como tradutor da Bíblia para a língua
Konkomba, mostrou como os recursos e tecnologias disponibilizados pela globalização realmente
facilitaram o trabalho missionário de tradução bíblica. Ele disse:
“Outro dia juntei todo o material utilizado na tradução, desde a tradução
primária até a retro-tradução, passando pelas cinco correções gerais. São pilhas
e pilhas de papéis, centenas de e-mails trocados com consultores, inúmeras cartas
em português, inglês e Konkomba, e mais de trinta livros de consulta utilizados. O
resultado cabe na palma da mão, em apenas um CD. Isso é incrível!6”

3.3 Diferenças na Comunicação


Grandes avanços na área da comunicação foram alcançados no mundo contemporâneo. No
passado, muitas coisas deixaram de acontecer devido ao difícil acesso às notícias sobre a situação
do lugar em que o missionário estava vivendo. Hoje, a realidade é bem conhecida.
A internet tem sido apontada nos últimos anos como um poderoso avanço nessa área, já que
as informações vão e vem em tempo recorde de um lugar para outro. Traz facilidade ao
missionário que tem a possibilidade de contatar sua agência ou igreja, alertando sobre as
dificuldades e necessidades por que passa, chegando a sanar os problemas com maior rapidez e
eficiência.
No livro, “Meu coração nas mãos de Deus”, Sharon James fala de Adoniram Judson, ainda
aluno e se apresentando à Associação Geral de Pastores Congregacionais, em Bradford para
trabalhar toda a vida no campo missionário em 28 de junho de 1810, mesmo dia em que

6
LIDÓRIO, R. Com a Mão no Arado: Pensando a vida, cumprindo a missão. Belo Horizonte: Betânia,
2006. P 13
9

conheceu Ann e foi cativado por ela. E apenas um mês depois, Adoniram escreveu ao pai de Ann,
pedindo-a em namoro. Esta pode ser a carta mais extraordinária escrita a um possível sogro:
“Agora, tenho de lhe perguntar se o senhor pode consentir em separar-se de
sua filha no início da primavera, para nunca mais vê-la neste mundo; se o senhor
pode consentir que ela vá para uma terra pagã e sujeite-se às durezas e
sofrimentos de uma vida missionária; se pode consentir que ela se exponha aos
perigos do oceano, à influência fatal do clima do sul da Índia, a todo tipo de
necessidade e aflição, à degradação, insultos, perseguição e, talvez, até a uma
morte violenta. O senhor pode consentir tudo isto por amor Àquele que deixou seu
lar celestial e morreu por ela e pelo senhor; por amor das almas perdidas e
imortais; por amor de Sião e da glória de Deus? O senhor pode consentir tudo
isso, na esperança de logo se reencontrar com sua filha no mundo da glória,
trajando uma coroa de justiça, abrilhantada pelas aclamações de louvor dos
pagãos salvos, livres da dor e desespero eterno, através do trabalho de Ann?7”
Pode-se perceber pelo conteúdo da carta que nessa época, quando o missionário ia para um
campo distante, ele e todos os que conheciam o trabalho sabiam que não voltaria; até mesmo as
muitas cartas que eram escritas e enviadas, quando não extraviavam, demoravam muito para
chegar ao destino. Hoje, o missionário recebe e pode enviar informações de muitos lugares do
mundo, comunicando-se com facilidade e sem espera. O mundo dos dias atuais não conhece o
significado da espera longa e solitária.

4. PERFIL DO MISSIONÁRIO

O principal desafio que o missionário tem enfrentado hoje é o de conhecer e saber utilizar toda a
tecnologia global a fim de que o trabalho no campo se desenvolva melhor. Se o ser humano é capaz de
desenvolver recursos cada vez mais avançados é porque Deus lhe deu a inteligência e, desse modo,
quer que essas técnicas sejam utilizadas para o crescimento da obra que deixou para seus servos
realizarem. Outro desafio é não deixar que tudo isto se torne maior do que o caráter que Cristo prega
em uma vida intima com Deus. Como disse Ronaldo Lidório:
“Vejo três grandes perigos na presente missiologia brasileira: 1- De os resultados
substituírem o caráter no perfil do obreiro; 2- De a capacidade humana substituir a
7
JAMES, S. Meu Coração nas Mãos de Deus: A vida de Ann Judson, na Birmânia. São José dos
Campos: Editora Fiel, 2004. P 30
10

dependência de Deus; 3- De as estratégias eficazes substituírem o compromisso com a


Palavra no crescimento da igreja e expansão da obra missionária.8”
Sobre isto, tem-se o exemplo dos missionários do passado que não possuíam todos esses
recursos, mas eram bem sucedidos e abençoados por se deixarem ser usados por Deus, como
Adoniram Judsom, missionário pioneiro na Birmânia, que viveu entre 1788-1850. Esse servo teve sua
vida dedicada a seguir a Cristo com obediência. A grande paixão que sentia pelos perdidos da
Birmânia o levava a não focar e nem se preocupar consigo mesmo; a não medir dificuldades para
alcançar os birmaneses; alcançá-los para Cristo era o que lhe dava esperanças, pois desejava, durante
sua vida, ver uma igreja com cem birmaneses salvos e a Bíblia impressa na língua desse país. No ano
de sua morte, havia sessenta e três igrejas e mais de sete mil batizados, sendo os trabalhos dirigidos por
cento e sessenta e três missionários, pastores e auxiliares.
Pode-se notar através disso, que de fato é Deus quem faz a obra e o mais importante caráter do
obreiro é a dependência de Deus. Os missionários do passado usaram todos os recursos de suas épocas,
os missionários de hoje devem utilizar todos os recursos a que têm acesso na era atual, porém
colocando-os juntamente com suas vidas na total dependência de Deus, a exemplo dos missionários de
antes.
A partir dessas considerações forma-se o perfil do missionário da era global, aquele que se vale
de todos os recursos de seu tempo, colocando-os aos pés do Senhor. Esse obreiro não permite que o
bombardeio de informações da mídia desvie o seu foco e tire seu objetivo, por isso, sempre se auto-
avalia com o propósito de manter-se obediente e de perseverar numa vida intima com Deus.
Mediante as vantagens que o missionário tem encontrado, deve-se ter cuidado para não se deixar
contaminar e ser levado apenas pelos resultados visíveis, que o exaltem, mas manter-se com o coração
fiel e exaltando aquele que é digno, o próprio Deus. Seria nulo o conhecimento missiológico e
tecnológico em um homem desprovido do caráter de Cristo, por que a habilidade é bem menos
importante do que o caráter.
O missionário precisa saber que renunciar, consagrar a vida a Deus e sofrer pela expansão do
Reino são coisas que sempre serão essenciais. Missões demandam muita oração e dependência de
Deus. Em entrevista, Lidório destaca:

8
LIDÓRIO, R. Com a Mão no Arado: Pensando a vida, cumprindo a missão. Belo Horizonte: Betânia,
2006. P 40
11

“Missão é comando de Deus e o mecanismo para executá-la é a sua palavra.


Toda tentativa de reduzi-la à capacidade humana e a modismos passageiros resultou em
erros e proselitismo vazio.9”
A Igreja local é de grande influência no que se refere à formação do perfil do missionário.
Ela é fundamental no preparo, na formação, e na construção de seu caráter. É no convívio da
igreja que surgem oportunidades de aprendizado e crescimento, desde que as diretrizes bíblicas
sejam seguidas e testemunhadas no modo de ser, de servir e louvar ao Senhor, pois o missionário
levará para o campo as vivências que fizeram parte de sua formação cristã e do preparo para o
trabalho.Barbara H. Burns e Jonas Machado dizem:
“Que a igreja local é instrumento no ensino e na formação de: atitudes sobre
Deus, atitudes sobre a mensagem do evangelho, atitudes sobre a palavra de Deus,
atitudes sobre a própria igreja e as pessoas.10”
Outro exemplo de entrega total a Deus é relatado por Ronaldo Lidório em um Congresso de
Missões. Ele conta que o Sr. João, um cristão de hoje, mas que representa bem o missionário do
passado, que sem recursos, fora grandemente usado por Deus.
Lidório11, em uma missão ao interior do Amazonas, onde havia três tribos indígenas que não
conheciam o Evangelho, munido das coordenadas, mapas, jps e uma idéia de onde estavam as três
etnias sem presença missionária, contratou um indígena caçador para ser seu guia, e levá-lo a essas
tribos, em uma voadeira. No quarto dia de viagem encontraram a primeira etnia, que foram os
Kambebas. Ele estava apreensivo, pois não sabia se seriam bem recebidos, ou não. Quando entraram
viram um grupo de indígenas limpado o local para alguma coisa. Utilizando o guia como intérprete
perguntou o que estavam fazendo. Disseram eles que estavam limpando o lugar para o culto à noite.
Ronaldo ficou admirado, pois estavam a mais de seis dias de viagem.
Continuou a conversa e ficou sabendo que aquelas três tribos, os seus alvos, já haviam sido
alcançadas por um senhor chamado João que morava em um flutuante mais abaixo. Curioso, Ronaldo
foi ao encontro do missionário. Viu que era um pescador muito simples, tão simples quanto o flutuante
em que morava, em cujo interior havia quatro redes ruídas, uma cadeira quebrada e uma panela.
Sentado no chão, o Sr. João lia a Bíblia com muita dificuldade. Ronaldo Lidório apresentou-se e teve
grande surpresa ao ouvir: “Maria! Venha depressa e traga as crianças porque chegou em nossa, hoje,
9
LIDÓRIO, R. O gigante precisa acordar. Revista Eclésia. São Paulo: ABEC, n. 104, Agosto de 2004.
P 44
10
BURNS, B. H. , MACHADO, J. O papel da igreja local no preparo missionário. Revista
CAPACITANDO para Missões Transculturais. São Paulo: APMB, n. 11, janeiro 2002. 23-34
11
História contada em palestra no IV Congresso Brasileiro de Missões.
12

um missionário de verdade.” O “missionário de verdade” sentiu que aquele momento era especial, pois
Deus o havia reservado para ele, que com todos os aparatos e recursos estava ali coberto por oração das
igrejas e encontra um homem simples, comum, sem recurso algum, apaixonado pelo Senhor Jesus; sem
treinamento, praticou missões, deixando tudo para trás e as maravilhas de Deus como herança para seus
filhos e aquelas tribos. Um exemplo de obediência e fidelidade ao Senhor, um modelo de caráter e
compromisso cristão que deve ser seguido.

5. CONCLUSÃO

A proclamação do evangelho começa no coração de Deus, passa pela igreja, que tem a força do
Espírito Santo e usa os servos do Senhor para levar o Evangelho de Jesus aonde precisa chegar.
Hoje, diferentemente do que fora no passado, esses servos possuem recursos, estão em contato
com a modernidade, com os recursos tecnológicos avançados de comunicação e locomoção. Tudo isso
deve ser utilizado e de forma eficiente para que o trabalho do missionário seja eficaz. Todas as
instituições e projetos mundiais já se valem desses avanços; aquele que vai cumprir a ordenança do
Senhor Jesus precisa estar atualizado, ser capaz de usar para espalhar a verdadeira paz, o verdadeiro
amor as técnicas que muitas vezes são utilizadas na guerra.
Não há dúvidas de que os problemas existem, que os perigos surgem e que são perigos munidos,
também, de todo esse desenvolvimento a que tem acesso o missionário atual. Mas a diferença está no
caráter dos servos que vão fazer missões onde é necessário, onde pessoas ainda não conhecem as
maravilhas desse Senhor. Eles precisam ter, acima de tudo, o coração no coração de Deus. É necessário
estar atento, pois nenhum conhecimento acadêmico ou tecnológico é mais importante do que uma vida
transformada e um caráter ilibado; nada é tão fundamental quanto uma vida de obediência e total
dependência de Deus.
Desse modo, apesar do avanço tecnológico e das facilidades que a comunicação globalizada
oferece, o perfil do missionário atual ainda tem como característica essencial e indispensável a
consagração e o amor que os homens do passado dedicavam a Deus.

BIBLIOGRAFIA
13

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Portas Abertas, 2002
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Missão Horizontes, 1998
JOHNSTONE, P. , MANDRYK, J. Intercessão Mundial: Edição século XXI. Camanducaia: Missão Horizontes, 2003
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LIDÓRIO, R. Com a Mão no Arado: Pensando a vida, cumprindo a missão. Belo Horizonte: Betânia, 2006
LIDÓRIO, R. Missões: O Desafio Continua. Belo Horizonte: Betânia, 2003.
MABERLY, A. Deus Chegou ao Tibete: O relato épico dos homens que levaram a Bíblia ao Tibete, a terra proibida.
Camanducaia: Missão Horizontes, 2006
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OLSON, B. Por Esta Cruz te Matarei. São Paulo: Editora Vida, 1979
PRICE, D. E. org. Que Será dos que Nunca Ouviram? São Paulo: Vida Nova, 2000
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STEFANO, M. O gigante precisa acordar. Revista Eclésia. São Paulo: ABEC, n. 104, Agosto de 2004. 38-48
- STEFANO, M. Os caminhos do ide. Revista Eclésia. São Paulo: ABEC, n. 104, Agosto de 2004. 56-65

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