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1João 4
Após terminar o terceiro capítulo chamando a atenção ao fato de que o Espírito Santo
habita em nós e dá testemunho da nossa filiação para com Deus, o capítulo 4 começa com
uma importante advertência: nem todas as pessoas possuem o Espírito Santo, e é dever do fiel
julgar e “testar” qual seja o espírito que está em alguém. Novamente, o assunto que se retoma
aqui é o do gnosticismo e a divisão da igreja da época. Algumas pessoas se recusavam a
reconhecer que Jesus veio em forma física, isto é, em carne, como um ser humano de
verdade. Essas pessoas pregavam de acordo com essa compreensão e, João adverte a igreja,
chamando-os de falsos profetas (v.1). “Nisto conhecereis o Espírito de Deus: todo espírito
que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa que
Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já
ouvistes que há de vir, e eis que está já no mundo.” (v.2-3)
Apesar do fato de que devamos estar atentos para que não sejamos enganados, João
traz uma verdade extremamente reconfortante e consoladora: “Filhinhos, sois de Deus e já os
tendes vencido, porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo.” (v.4) Embora
o maligno se levante com enganos, o Espírito Santo é maior e mais poderosos do que esses
espíritos malignos; estamos seguros nEle, mas isso não tira de nós a responsabilidade de
estarmos atentos para o que se prega e o que se ensina, pois há pessoas mal-intencionadas que
adentram o meio cristão. Tais pessoas pertencem ao mundo e falam de acordo com o mundo,
e o mundo os ouve (v.5) “Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele
que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do
erro.” (v.6)
“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é
nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é
amor.” (v.7-8) Conhecer Deus implica em reconhecer a sua natureza amorosa; Deus é amor e,
se dissermos que conhecemos a Deus e a característica mais marcante aos nossos olhos não
for o amor, ainda há espaço para conhecê-lo melhor. Sim, ele é justo, santo, puro, poderoso e
bom; mas na “soma” de todos esses atributos (entre outros) Deus é amor! É pelo amor de
Deus que todos os demais atributos se balizam; a sabedoria está sujeita ao amor; o poder dele
está sujeito ao amor; a santidade e a justiça de Deus são uma expressão de amor; enfim, de
todas as formas, é o amor de Deus que prevalece. Foi por conta do amor que Ele “enviou seu
Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos.” (v.9) E conhecemos o amor, não no
fato de que nós o tenhamos amado, “mas em que ele nos amou e enviou seu Filho para
propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos
amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se nós amamos uns aos outros, Deus está
em nós, e em nós é perfeito o seu amor.” (v.10-12) Ou seja, é mediante ao santo e amoroso
exemplo dEle que nós balizamos a nossa vida; e, se amamos, mesmo que nunca o tenhamos
visto fisicamente, podemos ter a convicção de que ele está em nós.
João, então chama atenção ao fato de que temos o testemunho do Espírito Santo, bem
como da Palavra de Deus, por meio de seus apóstolos, de como essas coisas funcionam e
ocorrem nas nossas vidas; os apóstolos foram testemunhas oculares de que “o Pai enviou seu
Filho para Salvador do mundo.” E qualquer pessoa “que confessar que Jesus é o Filho de
Deus, Deus está nele e ele em Deus. E nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem.
Deus é amor e quem está em amor está em Deus, e Deus, nele.” (v.13-16)
Mediante a todos esses fatos, podemos ter convicção de que recebemos a mensagem
do Amor pregada por Cristo, e, se a recebemos e a praticamos, é porque o amamos de forma
completa (perfeita, em grego). “Nisto é perfeito o amor para conosco, para que no Dia do
Juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é [ou seja, como ele é], somos nós também neste
mundo [seguimos o modelo dele, e damos testemunho para o mundo]. No amor, não há
temor; antes, o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que
teme não é perfeito em amor. Nós o amamos porque ele nos amou primeiro.” Devemos
compreender que ele nos amou primeiro, pois, se não fosse assim, nós nunca teríamos tido a
iniciativa de irmos atrás dele; nós o amamos, porque ele nos amou primeiro; ele nos amou
primeiro porque ele mesmo é o amor! Conforme compreendemos a natureza amorosa do
nosso Deus, podemos nos achegar a ele com confiança, pois seremos movidos pelo amor a
ele, ao invés do temor. Por vezes encontramos pessoas que tem uma visão distorcida de Deus,
que as faz ter medo do Senhor; entretanto, nós que entendemos que ele nos amou, devemos
amá-lo, lançando fora o medo. Deus merece a nossa reverência (reverência e medo são
descritos pela mesma palavra no grego), mas não devemos ter medo dele; afinal de contas,
em Cristo, ele fez o impossível para garantir e assegurar a nossa salvação e plena comunhão
para com ele. Nesse sentido, ter medo de Deus é duvidar da sua boa vontade; de certa forma,
acaba sendo uma rejeição de sua oferta de comunhão e amizade, pois ele se propõe a amizade
e nós desconfiamos dele, se temos medo.
E como sabemos que o amamos? “Se alguém diz: Eu amo a Deus e aborrece a seu
irmão, é mentiroso. Pois quem não ama seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a
quem não viu? E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também seu
irmão.” (v.20-21) Ou seja, a medida que eu me dedico a vida de amor pelos irmãos, cresço na
convicção de que o meu amor por Deus também é sincero.
1João 5
“Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus; e todo aquele que ama
ao que o gerou também ama ao que dele é nascido. Nisto conhecemos que amamos os filhos
de Deus: quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. Porque este é o amor
de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados.”
(v.1-3) João traça uma dinâmica interessante aqui: como podemos dizer que amamos a Deus
se não amarmos os filhos de Deus? Algumas pessoas, por exemplo, se dizem cristãs e crentes,
mas não se vinculam a nenhuma igreja. A verdade é que, se somos nascidos de Deus, temos
amor e carinho pelo povo de Deus; a família de Deus é a nossa própria família; o Corpo de
Cristo, onde quer que esteja, é família. Será que é pesado esperar que tenhamos um bom
convívio com nossos irmãos? Não é isso mesmo o mínimo que podemos e devemos fazer?
“Os seus mandamentos não são pesados.” Se nós amamos aqueles que andam na verdade e na
luz, aqueles que guardam os mandamentos de Cristo, podemos ter certeza de que somos parte
desse povo escolhido também.
“Porque todo aquele que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que
vence o mundo: a nossa fé. Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o
Filho de Deus?” (v.4-5) A nossa vitória sobre o mundo consiste na fé, na confiança que
depositamos em Deus e em suas promessas; se cremos que Jesus é o Filho de Deus, estamos
seguros em seu amor e verdadeiramente o amamos.
"Este é aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por água, mas
por água e por sangue. E o Espírito é o que testifica, porque o Espírito é a verdade." (v.6) A
referência a água e ao sangue costuma ser entendida como referências ao batismo e a morte
de Jesus; o batismo marca o início do ministério público de Jesus, o momento em que ele
passa a se manifestar ao mundo; já sua morte, marca o fim do seu ministério. Nos próximos
versos, então, o apóstolo diz que a água, o sangue e o Espírito são testemunhas do Senhor
Jesus; o ministério e a vida de Cristo dão testemunho de sua missão e o próprio Espírito
Santo confirma esse fato: Cristo veio para nos salvar (v. 7-13).
Podemos compreender a salvação como a restauração do relacionamento entre o
homem e Deus, que foi perdido na desobediência de Adão. Tanto é verdade que, no início de
sua carta, João enfatiza a ideia de comunhão que, basicamente, significa amizade.”Estas
coisas vos escrevi, para que saibais que tendes a vida eterna e para que creiais no nome do
Filho de Deus. E esta é a confiança que temos nele: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a
sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que
alcançamos as petições que lhe fizemos.” (v. 13-15) Por meio da salvação, Deus nos
possibilita ter uma amizade profunda e verdadeira com ele. A profundidade é tamanha que
podemos, inclusive, pedir coisas ao Deus de todo o universo e ele nos ouve e nos atende.
No entanto, é importante que compreendamos que ele nos concede quando “pedimos
segundo a sua vontade", ou seja, quando pedimos algo “de acordo com a vontade dele”. Isso
não deveria nos desanimar; pelo contrário, sabemos que Deus é bom e, sendo amigos dele,
passamos a conhecer qual seja a boa vontade dele. Não pedimos simplesmente o que a nossa
vontade deturpada pelo pecado deseja, mas podemos pedir com confiança aquilo que, por
conta da nossa amizade com Deus, sabemos que é bom. Na oração do Pai Nosso, por
exemplo, somos ensinados a orar pela vinda do Reino de Deus e o cumprimento de sua
vontade sobre a Terra. Por meio da leitura da Palavra, aprendemos mais sobre a vontade de
Deus e, por meio da oração, pedimos aquilo que aprendemos por meio da Palavra, e, aos
poucos, somos transformados para desejar aquilo que
“Se alguém vir seu irmão cometer pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a
vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore.
Toda iniquidade é pecado, e há pecado que não é para morte.” (v. 16-17) João traz um
exemplo de qual é a vontade de Deus: que aqueles que estão no erro se convertam. Ele faz, no
entanto, uma distinção entre “pecado para morte” e “pecado que não é para a morte”; aqui a
distinção consiste em esclarecer que, algumas pessoas, pecam de maneira contínua e sem
arrependimento. Esses pecam “para a morte”, ou seja, de forma a serem levados pelo pecado
até a morte, e levando uma vida de pecado até morrerem. Mas há também aqueles que, por
vezes, se embaraçam com um pecado, e não desejam continuar nessa vida. João nos incentiva
a orar por estes; a estender a mão para aquele que, ainda que peca, deseja ser salvo.
O “pecado para a morte”, então, pode ser compreendido como aquele praticado por
alguém que, conhecendo a verdade, não se importa com as consequências. A pessoa não faz
questão do relacionamento com Deus, pois se contentou com o que o mundo oferece. Aquele
que ama o mundo e o que no mundo há, não tem amor por Deus, como João nos ensina nos
capítulos anteriores; e aquele que vive na prática do pecado, nunca nasceu de novo de
verdade. "Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando; mas o que de
Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca. Sabemos que somos de
Deus e que todo o mundo está no maligno." (v. 18-19) Ou seja, o maligno, isto é, o diabo, não
tem poder sobre nós; somos protegidos por Deus e pelo Espírito Santo. No entanto, o inimigo
tem poder total sobre o mundo e aqueles que não servem a Deus; evidentemente, isso não
exclui a soberania de Deus, mas o diabo tem todo tipo de força e influência sobre os
descrentes. Ainda assim, Deus é soberano e seus planos infalíveis prosperarão!
"E sabemos que já o Filho de Deus é vindo e nos deu entendimento para conhecermos o
que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o
verdadeiro Deus e a vida eterna. Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Amém!" (v. 20-21) O
capítulo e a carta se encerram com um lembrete e uma orientação muito importante: Cristo é
a verdade! Por ele nós fomos libertos dos enganos e do poder do pecado e do diabo!
Devemos manter os nossos olhos fixos no Senhor Jesus, fugindo dos ídolos! Ora, o ídolo não
é só uma estátua, mas tudo aquilo que toma o lugar de Deus em nosso coração e mente. O
nosso coração é propenso a criar ídolos; devemos ser cautelosos, guardando-nos do engano
que vem pela idolatria. Se nos deixarmos levar por ídolos, tiraremos os olhos de Cristo e,
sendo assim, incorreremos em erros, por não estarmos pautados na verdade que é Cristo.
Devemos vigiar (estar atentos) e orar (cultivar nosso relacionamento com o Senhor).
2João
Diferente da primeira carta, a segunda e a terceira carta não são universais, ou seja,
escrita para um grupo geral de pessoas, mas para pessoas específicas. Outra diferença é que
nessas cartas também há uma identificação de João com o título de ancião (presbítero ou
pastor), e uma saudação inicial. A saudação da segunda carta se encontra nos versos de 1 a 3.
“Muito me alegro por achar (encontrar) que alguns de teus filhos andam na verdade,
assim como temos recebido o mandamento do Pai.” (v. 4) Lembremos que João escreveu essa
carta num contexto em que muitas pessoas estavam abandonando a fé verdadeira, de forma
que foi um motivo de alegria saber que alguns dos filhos dessa senhora estavam
perseverantes e firmes na verdade.
João incentiva que esses irmãos continuem perseverantes naquilo que foram
ensinados, alertando-os contra os enganadores (v. 5-7), e na sequência, complementa: “Olhai
por vós mesmos, para que não percamos o que temos ganhado; antes, recebamos o inteiro
galardão. Todo aquele que prevarica e não persevera na doutrina de Cristo não tem a Deus;
quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem ter
convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque
quem o saúda tem parte nas suas más obras.” (v. 8-11)
Ele conclui essa pequena carta dizendo que, “Tendo muito que escrever-vos, não quis
fazê-lo com papel e tinta; mas espero ir ter convosco e falar de boca a boca [face a face], para
que o nosso gozo seja cumprido [nossa alegria seja completa]. Saúdam-te os filhos de tua
irmã, a eleita. Amém!” (v.12-13)
3João
A terceira e última carta começa com uma saudação que exalta a perseverança de
Gaio na verdade. João reconhece que vida espiritual de Gaio estava tão bem que chega a
dizer: “Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas e que tenhas saúde, assim como bem
vai a tua alma.” (v. 2) As pessoas davam testemunho da fidelidade de Gaio, que cuidava dos
irmãos e até mesmo dos desconhecidos (estranhos), conforme apontam os versos 3, e os
versos de 5 a 8. Pelo que João podia dizer: “Não tenho maior gozo [alegria] do que este: o de
ouvir que os meus filhos andam na verdade.” (v. 4) Ao que esse verso indica, João se sentia
na responsabilidade paternal para com Gaio, sendo que esse, possivelmente, foi apresentado
ao Evangelho inicialmente pelo próprio apóstolo João; há uma ideia de “filiação espiritual”,
de forma que João agia como um pai para Gaio, instruindo-o na verdade do Evangelho.
João esclarece, então, que tem escrito outras cartas às igrejas, mas que Diótrefes
estava recusando a recebê-los, pois buscava ser considerado o mais importante entre os
irmãos (v. 9). Diótrefes estava agindo muito mal e João estava preparado para repreendê-lo,
dizendo, “se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras
maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem
recebê-los, e os lança fora da igreja.” (v.10) Ele ainda orienta Gaio a não seguir o exemplo de
Diótrefes (v.11) e dá testemunho de que tem ouvido falar coisas boas a respeito de um irmão
chamado Demétrio (v. 12).
Como na segunda carta, João diz que tinha muito o que escrever, mas pretendia tratar
dos assuntos pessoalmente. A carta se conclui com uma saudação: “Paz seja contigo. Os
amigos te saúdam. Saúda os amigos pelos seus nomes.” (v.13-15)