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1João 1

Pela providência de Deus, algumas cartas do apóstolo João foram preservadas e


integradas ao texto bíblico. No texto do Novo Testamento, vocês encontrarão, portanto, os
seguintes títulos: João, que é o Evangelho segundo o relato desse apóstolo; além da primeira,
segunda e terceira carta ou epístola de João, conforme ficaram conhecidas, que se descrevem
1João, 2João, 3João. Ou seja, os títulos com número na frente se referem às cartas, enquanto
o Evangelho só possui o nome do apóstolo em seu título de identificação.
Nas bíblias mais tradicionais, tal qual a que adotamos, o início dessa primeira epístola
é escrito de uma maneira não muito usual para os nossos dias: “O que era desde o princípio, o
que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da
Palavra da vida” (v. 1) Esse “O que” pode ser substituído por “Aquele que”, de forma que a
leitura se torna muito mais fácil: “Aquele que era desde o princípio, aquele que vimos com os
nossos olhos, aquele que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram: a Palavra da vida
[isto é, Jesus Cristo]”.
No verso 2 encontramos um parêntese explicativo: “(porque a vida foi manifestada, e
nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai e nos
foi manifestada)”, novamente, é uma forma de enfatizar a pessoa de Cristo, sua importância e
divindade. Cristo é a Palavra de Deus, a Palavra de Deus é Cristo; ele não somente veio e
pregou uma mensagem, mas ele mesmo ERA e É a mensagem. Ele é a Vida Eterna, Ele é a
Palavra da Vida.
Verso 3: “O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais
comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo.” Aqui e
em todo esse trecho inicial, João está chamando atenção dos ouvintes ao fato de que ele é
uma testemunha ocular de Cristo; ele está falando de uma mensagem e de uma pessoa que ele
mesmo conheceu pessoalmente e recebeu pessoalmente; eles tocaram no corpo de Jesus.
Jesus não era uma ideia distante para ele, mas um amigo próximo e íntimo, uma pessoa a
quem João não somente viu e ouviu, mas uma pessoa com quem ele viveu e conviveu. A
materialidade do corpo também é uma questão importante aqui, pois algumas pessoas diziam
que Jesus não poderia ter vindo em carne; como se ele fosse simplesmente uma espécie de
espírito ou “fantasma”, uma projeção imaterial, porque acreditavam que a matéria é, por si só,
maligna.
Essa crença equivocada ficou conhecida como gnosticismo. Pessoas que acreditavam,
entre outras coisas, numa dualidade em que a matéria física é intrinsecamente maligna e a
“alma” ou “espírito” é que são a parte boa; essa visão foi amplamente combatida pelos
apóstolos e não condiz com o ensino das escrituras. Deus, após criar todo o mundo conforme
o relato de Gênesis, olhou para sua Criação quer MATERIAL ou IMATERIAL “e viu Deus
tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom.” (Gênesis 1:31)
Dessa forma, podemos começar a entender o porquê de a ideia gnóstica de uma
dualidade estar equivocada; uma coisa não é maligna simplesmente por ser material, nem
tampouco é boa por ser espiritual; as coisas são boas quando estão de acordo com a boa
vontade, os planos e propósitos de Deus; são malignas quando, pelo pecado, se desviam do
propósito divino. Assim, uma pessoa que se submete ao Senhor, usa seu corpo físico para
aquilo que é bom; mas um espírito rebelde, que peca contra o Senhor, mesmo não tendo
forma física se faz maligno. As coisas são boas se vivem conforme a verdade, e são más se
vivem conforme a mentira; são boas, se vivem/andam na luz e na justiça, mas são más se
levam suas vidas nas trevas e na injustiça. Esses temas serão recorrentes ao longo dessa carta.
“Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra.” (v.3) É um verso
que significa, na linguagem atual, “para que vossa alegria seja completa”. Há algum debate,
acerca desse verso, se a escrita correta seria “para que nossa alegria seja completa” ou “para
que a vossa alegria seja completa”, no grego, como no português, a diferença se dá apenas
por uma letra. Seja qual for a versão correta de escrita, uma coisa é certa: onde Jesus é
pregado e ensinado de maneira fiel, há comunhão entre os irmãos e alegria!
Versos 5-6: “E esta é a mensagem que dele ouvimos e vos anunciamos: que Deus é
luz, e não há nele treva nenhuma.” Deus é perfeitamente bom, santo e justo; nele não há
qualquer tipo de maldade, impureza ou injustiça. (6) “Se dissermos que temos comunhão com
ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade.” A ideia de comunhão é “ter
algo em comum”, ou “viver em comunidade/comum acordo”, ou, simplesmente, “ter amizade
com”; se dissermos que somos amigos de Deus e vivermos na prática constante e reiterada de
pecados, cometendo erros sem qualquer preocupação ou intenção de fazer o que é certo, sem
qualquer sinal de arrependimento, nós não podemos estar certos na nossa fala de sermos
amigos dele. Seria como o lobo tentando dizer que é amigo das ovelhas; ele com certeza
gosta de tê-las por perto, mas amizade não descreve bem a relação.
Ainda no verso 6 João faz uma advertência importante: “Se dissermos que temos
comunhão com ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade.” Existe
uma dinâmica muito evidente entre “praticar a verdade e andar na luz”, como o verso 7
também vai esclarecer; além do contrário ter implicações verdadeiras: mentir é andar em
trevas, e andar em trevas é mentir. Cristo veio para proclamar uma nova realidade, um novo
estilo de vida segundo a Graça; pela Graça, andamos na luz; se crermos nos ensinos de Cristo
e os colocarmos em prática, andaremos na luz e teremos comunhão com ele. Verdadeiramente
poderemos chamá-lo de amigo. Note-se que, quando isso não ocorre (quando não vivemos na
luz), não é ele que rejeita a nossa amizade, mas nós é que rejeitamos a dele; isto é, não é ele
que não tem interesse em se relacionar conosco, pelo contrário, ele evidentemente quer pois
enviou Jesus, mas, se não o ouvimos, não cremos nele; se não cremos, não podemos dizer que
somos amigos dele, pois amigos confiam um no outro. Se quisermos ser amigos de Deus,
precisamos aprender a confiar nele. “Se andarmos na luz, como ele na luz está, temos
comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo
pecado.” (7)
A ideia do verso 7 é de uma santificação progressiva: à medida que nos entregamos
ao Senhor, vivendo conforme a Palavra dele (“andando na luz”), somos limpos do pecado e
transformados. Não devemos compreender aqui que a salvação se dá em vista de nossos
esforços ou ações, somos salvos pela graça, mediante a fé; no entanto, essa fé, na prática, nos
leva a obedecer a Cristo e sua Palavra. Conforme fazemos isso, por consequência, nossa vida
passa a ser colocada em ordem; a Palavra entra em nossos corações e passamos a ser cheios
do próprio Cristo. Desta forma, o pecado que habita em nós (como ensina Paulo em Romanos
7:17), passa a ser diluído e enfraquecido, pois, ao obedecermos a Cristo, não damos ouvido
ao pecado e às urgências da nossa natureza carnal. Desta forma, o pecado ainda faz parte da
nossa natureza, temporariamente (até que Cristo se manifeste plenamente, vide 1João 3:1-6),
mas ele já não tem controle sobre nós. Sim, ele ainda pode nos tentar, mas somos
capacitados, por Cristo, a resistir.
Novamente ressalto: ao obedecermos a Cristo, não damos ouvidos ao pecado, e então
ele é enfraquecido. Como o processo de mudança de hábitos, também a nossa vida espiritual
é aprimorada mediante a adoção de hábitos santos; não que esses hábitos, por si só, possam
nos salvar ou nos purificar, mas, pela fé em Cristo, obedecendo a Ele, somos transformados.
Não porque haja em nós algum mérito em ler a bíblia ou orar, por exemplo, mas, quando
entendemos que essas disciplinas foram ordenadas pelo Senhor, cremos que obedecendo a ele
seremos beneficiados – e certamente seremos, pois ele é fiel. Desta forma, somos salvos pela
graça e mediante a fé, e também somos purificados pela graça, mediante a fé, que nos leva à
obediência de Cristo.
“Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade
em nós.” (v.8) O primeiro passo para a mudança que Deus proporciona em nossas vidas é
reconhecer a nossa condição de pecadores; há pecado em nós. Isso não significa que vivemos
constantemente em pecado (não depois de convertidos), conforme o próprio apóstolo João
tratará mais a frente em sua carta (1João 3:4-6). Quem é nascido de Deus não vive na prática
do pecado, mas ainda assim carrega consigo uma natureza pecaminosa; quanto mais ainda
aqueles que nunca sequer conheceram o Senhor; esses, sim, vivem em pecado.
Mas o ponto desse verso é apontar para a nossa fragilidade: somos pecadores por
natureza, incapazes de nos salvar por nós mesmos. Precisamos reconhecer essa verdade no
início da nossa caminhada cristã e muitas vezes ao longo de nossas vidas: não importa o
quanto venhamos a melhorar e o quanto venhamos a ter vitória sobre o pecado, se deixarmos
de confiar no Senhor, sucumbiremos ao próprio pecado que habita em nós. É pela Graça de
Deus que somos salvos e em confiança nele. O verso seguinte expressa um ato de confiança:
“Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos
purificar de toda injustiça.” (v.9) Em contraponto, o verso seguinte nos alerta: “Se dissermos
que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.” (v.10) Não há como
receber a Palavra de Deus e os benefícios da sua Graça sem reconhecer a miséria da nossa
condição.
1João 2 – Parte 1
“Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém pecar,
temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E ele é a propiciação pelos nossos
pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.” (v. 1-2) O uso da
expressão filhinhos, além do carinho, demonstra que o apóstolo se dirige a pessoas que são
“novas” na fé; essa hipótese se corrobora pelo uso das expressões “filhinhos, pais e jovens”
nos versos 12-14. Ou seja, João faz um alerta importante: reconhecer que há pecado em nós
(conforme ele ensina no final do capítulo anterior e Paulo ensina em Romanos 7), não implica
em que possamos viver no pecado. Pelo contrário, esse reconhecimento é um passo
importante na direção de viver em santidade. É porque sabemos que há pecado em nós, que
redobramos o nosso cuidado para não nos deixar levar pelas tentações.
Mas, não somente isso, o apóstolo também faz questão de ensinar que, por vezes, faz
parte da experiência cristã cair em algum pecado. Em outras palavras, podemos entender da
seguinte maneira: “Vejam, filhinhos, eu estou escrevendo essas coisas para que vocês fujam
do pecado; não é uma desculpa para que vivam nele! Mas, se porventura, vocês vierem a
cometer algum pecado, não se desesperem; ao invés disso, entreguem essa causa ao
Advogado: Jesus Cristo, o justo. Ele mesmo se encarregará de defender a nossa causa diante
do Pai.”
Que advogado nós temos! Em outras palavras, se nos vemos numa situação
embaraçosa na qual agimos mal, por qualquer razão ou circunstância que seja, nosso papel é
contar para o advogado, aquela pessoa de confiança que pode nos ajudar. Nosso perdão não
depende de nós, mas da aptidão do advogado que é incapaz de falhar. “Ele é a propiciação
pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.” A
tática desse advogado é, no mínimo ousada, ele reconhece a nossa culpa – afinal de contas,
somos culpados –, e essa é a intervenção que ele faz ao Juiz, o Pai: “Escute, Meritíssimo, essa
pessoa é realmente culpada, mas, quero lhe propor uma coisa: aplique a mim a pena que você
aplicaria a ela. Deixa-a livre, e me condene no lugar.”
Dizer que Cristo é a propiciação para os pecados é dizer que ele é o valor que paga a
dívida que temos para com Deus; nós somos incapazes de pagar a dívida ou sofrer a pena de
forma satisfatória, mas ele consegue pagar. Não só consegue, como se dispõe a isso. Ele
intercede por nós, aceitando a pena no nosso lugar.
“Mas será que isso se aplica para mim também?”, talvez você pense. Bem, o apóstolo
esclarece que Cristo não é simplesmente a propiciação do pecado de alguns, mas de todo o
mundo: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também
pelos de todo o mundo.” Não devemos pensar que o poder de Cristo de perdoar pecados
cessou ao longo dos anos. “Talvez ele tenha perdoado alguns, de fato, mas, será que a essa
altura ele já não se cansou? Ele pode ter perdoado algumas pessoas virtuosas, mas acho que
isso não se aplica a mim. Dois mil anos depois? Quantas pessoas ele vem perdoando desde
então? Já não tem mais como ele pagar ainda outra dívida.” Algo assim já passou pela sua
cabeça? Talvez o seguinte tenha passado: “Ele já me perdoou por esse pecado e, novamente,
eu cometi o mesmo erro. Já não tem como ele me defender dessa vez.”
Entenda uma coisa, caro(a) leitor(a), Cristo é tão rico em misericórdia e amor, e o
valor dele, enquanto pessoa, é tão elevado, que nem mesmo todos os pecados do mundo são
capazes de empobrecê-lo. Isso não significa que todos serão automaticamente perdoados,
mas, se todas as pessoas desde Adão tivessem se voltado para Cristo em busca de perdão,
todas teriam encontrado perdão em Cristo. Ele não se cansa de fazer o bem àqueles que
clamam por sua ajuda. Portanto, qualquer que seja a sua situação, tenha essa confiança: Jesus
Cristo, o Justo Advogado, tem como solucionar a sua causa, basta que você confie o seu
processo a ele. Entregue para Ele o seu pecado, deixe que ele se encarregará de falar com o
Juiz. Mas, ao mesmo tempo, não se esqueça do início desse capítulo “Estas coisas vos
escrevo para que NÃO PEQUEIS”. Faço das palavras do apóstolo as minhas palavras: diante
dessas verdades tão sublimes, evitem o pecado com todas as suas forças; dediquem-se a fugir
do mal e do pecado. Mas, se porventura, algum de vocês vier a falhar nessa luta, não ceda à
armadilha do desespero; não se entregue ao desespero, mas a Jesus.
A questão, então, passa a ser: você conhece Jesus? “E nisto sabemos que o
conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos. Aquele que diz: ‘Eu o conheço’ e não
guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade. Mas qualquer que
guarda a sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto
conhecemos que estamos nele. Aquele que diz que está nele também deve andar como ele
andou.” (v.3-6) Esses versos foram escritos dentro de um contexto próprio de sua época, mas
trazem uma reflexão muito importante para os nossos dias!
Hoje em dia é praticamente impossível encontrar alguém que não tenha ouvido falar
de Jesus. Entretanto, ouvir falar de Jesus é diferente de conhecê-lo. Conhecer implica na ideia
de intimidade, e a intimidade com Cristo se desenvolve por meio da prática de seus
ensinamentos. Se dissermos que o conhecemos, mas não agimos de acordo com o que ele
ensina, estamos perdendo o nosso tempo. É o mesmo que ir para a escola e estar desatento;
não é o ir para a escola que “embute” em nós o conhecimento, mas é a atenção ao ensino. Da
mesma forma, dizer que conhece Jesus sem agir conforme o seu ensino, simplesmente não
vale de nada, nem nos levará a lugar algum; o apóstolo diz que os que agem assim são
mentirosos.
Mas, se ouvimos o seu ensino e o praticamos, “o amor de Deus está em nós
verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos nele. Aquele que diz que está
nele também deve andar como ele andou.” Há um progresso de amadurecimento do amor;
novamente, devemos entender, não que Deus possa nos amar mais, mas nós podemos amá-lo
mais. Deus já nos amou, e não é o amor DELE que precisa ser aperfeiçoado, mas o NOSSO
AMOR POR ELE é que precisa amadurecer. Se amarmos a Cristo, obedeceremos
(“guardaremos” / “estaremos atentos”) aos seus mandamentos. Amar implica em crer e
obedecer; e evidentemente só podemos amar aquilo que conhecemos. No entanto, se não
conhecemos, não amamos, nem cremos e nem obedecemos. Mas se o conhecemos, estamos
nele, e se estamos nele, devemos andar como ele andou: em obediência, confiança e amor
para com Deus.
A ideia de amar a Deus e amar o próximo é recorrente ao longo dessa epístola escrita
por João. “Irmãos, não vos escrevo mandamento novo, mas o mandamento antigo, que desde
o princípio tivestes. Este mandamento antigo é a palavra que desde o princípio ouvistes.
Outra vez vos escrevo um mandamento novo, que é verdadeiro nele e em vós; porque vão
passando as trevas, e já a verdadeira luz alumia.” (v.7-8) É o jeito de João dizer: “Entendam
que isso que estamos ensinando não é uma coisa nova” Deus sempre foi o mesmo e, se
olharmos o Velho Testamento, veremos que esses ensinos já estavam presentes nele de
alguma forma. No entanto, João acrescenta “Mas, de certa forma, é sim, uma coisa nova,
porque as trevas já vão passando e a verdadeira luz está iluminando.” Com isso, devemos
entender: na vinda de Cristo, aquilo que outrora passaria despercebido no Velho Testamento,
agora se fez extremamente mais claro mediante à vinda de Cristo. Deus é o mesmo ontem,
hoje e eternamente; o Deus do Velho Testamento é o mesmo do Novo Testamento.
E se verdadeiramente fomos iluminados por Cristo, a Luz que veio ao mundo, isso
traz consequências práticas para a nossa vida. “Aquele que diz que está na luz e aborrece
[odeia/despreza] a seu irmão até agora está em trevas. Aquele que ama a seu irmão está na
luz, e nele não há escândalo [motivo de tropeço/ofensa]. Mas aquele que aborrece a seu irmão
está em trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe cegaram
os olhos.” (v.9-11) Se recebemos o Cristo e a sua mensagem, vivemos na luz, e, se vivemos
na luz, nos pautamos na Lei do Amor que ele ensinou; esse mandamento “novo e antigo”,
mas que agora, iluminados, podemos entender.
A ideia de amor e desprezo desenvolvida aqui pode ser mais bem compreendida por
“Está em trevas aquele que vive desprezando seu irmão”, e “Está na luz aquele que vive
amando os irmãos”. Amar e desprezar aqui são verbos de natureza contínua; amar uma vez
não nos qualifica, bem como desprezar uma vez não desqualifica. Claro que isso não é
desculpa para desprezar as pessoas, mas, se por vezes, em fraqueza, desprezamos alguém,
voltamos ao início do capítulo: procuremos o advogado e peçamos o perdão de Deus. Digo
isso para que ninguém se desespere, pois todos nós, em algum momento, já “não fomos com
a cara de alguém”. O problema consiste, no entanto, numa conduta reiterada e constante; a
nossa vida na luz é confirmada pelo nosso amor constante que flui de nós para os nossos
próximos, mas a vida nas trevas se confirma quando uma pessoa é cheia de ódio e desprezo
pelos outros.
João, nessa passagem também faz mais um esclarecimento importante: não é porque
Jesus veio como a luz do mundo que “automaticamente” nós passamos das trevas para a luz.
Como dito anteriormente, o nosso relacionamento com Deus deve ser exercitado a fim de que
tenhamos intimidade com ele. Por essa razão, muitos que se dizem cristãos, na verdade,
nunca receberam a luz de Cristo. Embora ele tenha vindo para nos iluminar, essa luz é
bloqueada por muitos que se recusam a recebê-lo como Senhor em sua vida. Dizer que o
conhecemos não é o bastante, devemos verdadeiramente conhecê-lo, de forma íntima e
pessoal, a fim de que possamos ser verdadeiramente iluminados e viver na luz.
Outra coisa que devemos ter em mente é que podemos entender pelo contexto da carta
que a igreja estava passando por momentos difíceis nesse período. Algumas pessoas haviam
se separado da igreja e agora se voltava contra ela. João abordará isso ainda nesse mesmo
capítulo mais adiante. Mas de maneira prévia: essas pessoas passaram a desprezar os irmãos e
a negar os ensinos e mandamentos de Cristo. Se tornaram contrárias à fé, de forma que João
esclarece que aqueles que estão na fé, estão na luz. Aqueles que desprezam os irmãos, e
abraçam uma vida longe de Deus, isto é, contrária aos ensinamentos de Cristo, não podem
dizer que foram iluminadas por ele. Nesse sentido, a carta de João serve como estímulo para
que os irmãos permanecessem fiéis e não se deixassem levar pelo engano que já tinha afetado
a tantos.
“Filhinhos, escrevo-vos porque, pelo seu nome, vos são perdoados os pecados. Pais,
escrevo-vos, porque conhecestes aquele que é desde o princípio. Jovens, escrevo-vos, porque
vencestes o maligno. Eu vos escrevi, filhos, porque conhecestes o Pai. Eu vos escrevi, pais,
porque já conhecestes aquele que é desde o princípio. Eu vos escrevi, jovens, porque sois
fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno.” (v. 12-14) Nesse trecho, o
apóstolo aborda três estágios de maturidade cristã; os filhinhos são aqueles novos na fé; eles
ainda não têm muito conhecimento ou experiência no âmbito da vida cristã, mas já possuem
alguma noção da paternidade de Deus e que, pelo nome de Cristo, os seus pecados foram
perdoados. Já os pais, são aqueles que já tem uma experiência mais bem consolidada; eles
conhecem, em primeira mão, o que é a vida com Deus; aliás, a ideia de serem pais implicam
que eles têm filhos na fé; eles já possuem uma experiência tão bem consolidada que foram
capazes de passar a sua fé adiante e são responsáveis por outros, a saber, os filhos. Por fim, os
jovens estariam numa condição intermediária; são mais amadurecidos que os filhinhos, mas
ainda não estão no nível de serem chamados de pais; todavia, João afirma que eles são fortes!
Os jovens receberam a Palavra de Deus, a Palavra da Verdade, e, por ela (visto que ela
está/permanece neles), eles já venceram o maligno e seus enganos.
1João 2 – Parte 2
Em continuidade, João faz uma advertência importante: “Não ameis o mundo, nem o
que no mundo há.” Por quê? Pois, “Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.”
(v.15) O nosso coração (afetos) é preenchido ou por Deus ou pelo mundo; se amarmos o
mundo, não “sobrará espaço” para amarmos a Deus; se amarmos a Deus, por outro lado, não
amaremos o mundo. Fato é que não há espaço para os dois; a bem da verdade, Deus sente
ciúmes (Tiago 4:4-6), ele não está disposto a dividir nossa atenção, ele nos quer inteiramente
para Ele. Ou damos a Ele todo o nosso amor, ou, essencialmente, não o amamos.
Note-se que João faz essa advertência logo após se dirigir aos “filhinhos, jovens e
pais”; não há razão para pensarmos que qualquer um de nós, independentemente do nosso
tempo de caminhada com Cristo, esteja imune a ser tentado pelos “encantos” do mundo. A
advertência de João, nesse sentido, se esclarece pela seguinte explicação: “Porque tudo o que
há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não
é do Pai, mas do mundo.” (v.16) Todas essas coisas, a saber, a concupiscência da carne (os
desejos pelos prazeres carnais), a concupiscência dos olhos (o desejo que temos a partir
daquilo que vemos) e a soberba da vida (o orgulho por nossas realizações, status, fama,
dinheiro etc.) são coisas que realmente atrativas. Não que elas sejam boas, mas elas parecem
boas; elas chamam a nossa atenção e, se não nos guiarmos pela eternidade, nos deixaremos
levar por ela.
Como assim? “E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a
vontade de Deus permanece para sempre.” (v.17) Todas essas coisas, ainda que possam nos
atrair, são passageiras; o nosso foco não deve ser nas coisas que vemos aqui e agora, ou nos
prazeres que essa vida pode nos proporcionar, mas sim na vida eterna com Deus (2 Coríntios
4:16). Aqui há um “segredo”, irmãos, que precisamos entender: o nosso amor para com Deus
deve ser frequentemente cultivado. Se não nos guiarmos pelo nosso relacionamento para com
Ele, constantemente refletindo sobre suas promessas em Cristo, a vida perfeita e imaculada
dele, entre tantas maravilhas que aprendemos por meio da Palavra, estaremos fadados a ser
laçados pelos encantos do mundo. O nosso amor cresce progressivamente no sentido daquilo
que contemplamos: se olharmos para o mundo e seus deleites, o nosso amor será dele e para
ele; se olharmos para Deus, para Cristo e suas promessas, o nosso amor será deles e para eles
(2Coríntios 3:18). Contudo, como João nos alerta: “o mundo passa, e a sua concupiscência;
mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.” Se amarmos o mundo,
seremos destruídos com o mundo; se amarmos ao Senhor, reinaremos com Ele para sempre.
Logo na sequência, João faz um importante aviso sobre o anticristo e os anticristos.
“Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se
têm feito anticristos; por onde conhecemos que é já a última hora. Saíram de nós, mas não
eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se
manifestasse que não são todos de nós.” (v.18-19)
Como mencionado anteriormente, João escreve essa epístola num contexto em que
muitas pessoas estavam abandonando a fé; era um momento de intrigas, dissensões. Ao tocar
nessa questão, ele está tratando diretamente do assunto: “Eles saíram do nosso meio.” Agora,
existe uma questão ainda maior por trás dessa primeira: João alerta os irmãos acerca do
anticristo; essa figura desperta muita curiosidade e até medo entre muitas pessoas. Afinal de
contas o que é o anticristo? Quem ele é? O que ele faz?
A palavra “anticristo” traz consigo dois sentidos importantes de se ter em mente: 1)
aquele que se opõe a Cristo; 2) aquele se coloca no lugar de Cristo. A vinda do anticristo é
uma marca clara e evidente do final dos tempos. “Filhinhos, é já a última hora; e, como
ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos; por onde
conhecemos que é já a última hora.” Como devemos entender essa questão? De forma
simplificada, o anticristo é alguém que nega os ensinos do Senhor; ele se opõe à verdade, e é
mentiroso. Nesse sentido, João vai dizer que muitos têm se feito anticristo, ou seja, quando
alguém adota uma postura semelhante a essa, de desprezo total às coisas de Deus, está, na
prática, se alinhando a um modo de viver, agir e pensar que são característicos do anticristo.
É possível dizer que estão dominados pelo espírito do anticristo, no sentido em que suas
mentes passam a ser governadas pelo engano e pelo erro, ao invés da Palavra de Deus, que é
a Verdade.
Mas, esse é apenas um dos dois significados; o outro, como mencionado, é o de se
colocar no lugar de Cristo; o anticristo, por essência, é um mentiroso e um usurpador; ele
engana as pessoas, e busca, por meio do seu engano, se colocar numa posição de adoração
que seria devida somente ao próprio Cristo. Em termos simples, é como se ele dissesse o
seguinte: “Esse tal de Jesus não é o Cristo, ele não é o Salvador, mas eu sou, creiam em mim,
confiem em mim, e eu vou dar descanso a todos vocês; vou garantir que vocês tenham paz e
que não sofram nenhum tipo de dano; tudo o que eu preciso é que vocês se entreguem a
mim!”
Desta forma, caem por terra aquelas teorias da conspiração de que a marca da besta
será um chip, ou uma vacina, ou um aparelho; toda a ideia relacionada ao anticristo diz
respeito a uma pessoa que, em dado momento, tomará tamanho controle sobre o mundo que
exigirá adoração como se fosse um deus. Não estamos falando de algo que possa ser feito por
acaso; ninguém cai de joelhos e ora o Pai Nosso, por exemplo, “sem querer”; ou ainda, abre a
boca e “acidentalmente” canta vários hinos. Não, você CONSCIENTEMENTE escolhe fazer
essas coisas como forma de adoração ao Senhor. Com o anticristo, quando ele surgir, não será
diferente. Portanto, não temam qualquer avanço tecnológico ou qualquer coisa do tipo;
quando o anticristo se manifestar, ele vai deixar bem claro a adoração que ele quer. Ele não
estará interessado em corações divididos ou “seguidores displicentes”, ele quer tomar a glória
de Deus, como se ele mesmo fosse um deus, e, para tanto, ele vai exigir a plena adoração.
Faço questão de esclarecer esse assunto, pois muitos vivem amedrontados. Mas o fato
é que Deus não deixa que nenhum dos seus se perca. Nem mesmo na época em que João
escreveu sua carta, quando pessoas estavam se afastando da fé, nem mesmo nesse cenário
Deus estava de alguma forma “perdendo” alguém. “Saíram de nós, mas não eram de nós;
porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são
todos de nós.” (v.19)
João tinha a plena convicção de que mesmo aqueles que estavam saindo, só faziam
isso porque, de fato, nunca pertenceram ao Senhor. Nenhum fiel verdadeiro do Senhor poderá
ser enganado pelas artimanhas do diabo ou do anticristo. O Espírito Santo que recebemos do
Senhor se encarrega de constantemente nos lembrar das promessas que recebemos de Deus;
“Portanto, o que desde o princípio ouvistes permaneça em vós. Se em vós permanecer o que
desde o princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai. E esta é a promessa que
ele nos fez: a vida eterna. Estas coisas vos escrevi acerca dos que vos enganam. E a unção
que vós recebestes dele fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas,
como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos
ensinou, assim nele permanecereis.” (v.24-27)
“E agora, filhinhos, permanecei nele [em Cristo], para que, quando ele se manifestar
[quando ele voltar], tenhamos confiança e não sejamos confundidos por ele na sua vinda. Se
sabeis que ele é justo, sabeis que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele.” (v.28-29)
O “praticar a justiça” é sinônimo de “andar na luz”, “guardar os mandamentos”,
“andar em amor”. Essas características dão testemunho do nosso novo nascimento em Cristo.
Se somos dele, nada nos tirará das mãos dele! Mas, é nossa responsabilidade andar em
fidelidade para com ele, não flertando com o mundo e com o pecado.
1João 3
“Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de
Deus.” (v.1) UAU! Que privilégio! E que demonstração de amor! Deus não se envergonha de
nós; nós mesmos, por vezes, sentimo-nos envergonhados acerca de nós mesmos, mas Deus
não! Ele nos apresenta a todos como nada menos que seus filhos! “Por isso, o mundo não nos
conhece [compreende/entende], porque não conhece a ele.” (v.1)
João vai esclarecer que, embora JÁ SEJAMOS Filhos de Deus, ainda resta acontecer
uma transformação em nós: quando virmos o Senhor Jesus, na sua volta, seremos
transformados e teremos um corpo e uma nova natureza semelhante à dele; e isso se dará num
piscar de olhos! E qualquer pessoa que tem essa esperança nele, busca viver uma vida de
purificação, Cristo, nosso modelo, é puro. Por outro lado, há pessoas que praticam o pecado;
pessoas que vivem pecando, isto é, constantemente entregues ao pecado. João esclarece que o
pecado e iniquidade são a mesma coisa; essencialmente, a iniquidade é a quebra da Lei de
Cristo e, sendo assim, aquele que vive pecando, vive quebrando a Lei de Cristo e não guarda
os seus mandamentos. Também está claro, conforme abordado anteriormente, que se alguém
não guarda os mandamentos do Senhor, é porque não ama, de fato, o Senhor. (v.2-6)
Amar o Senhor e desejar sua vinda, faz com que estejamos inclinados a viver em
retidão e pureza; mas, se vivermos entregues ao pecado, isso é um indício de que nunca o
conhecemos de verdade. É importante frisar o caráter contínuo da ação de pecar, pois, em
algumas bíblias, como a Almeida Revista e Corrigida (2ª Edição) que é adotada pela CCB,
encontramos a seguinte leitura nos versos 6 e 9, respectivamente: “Qualquer que permanece
nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu.” e “Qualquer que é nascido de
Deus não peca; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de
Deus.” Essa é uma leitura antiga, pois, a versão adotada pela Congregação deixou de passar
por correções desde os anos 1960. Uma tradução mais adequada do texto grego nesse ponto
traduz-se da seguinte maneira: “Qualquer que permanece nele não vive pecando; qualquer
que vive pecando não o viu nem o conheceu.” e “Qualquer que é nascido de Deus não vive na
prática do pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode viver pecando, porque é
nascido de Deus.”
O próprio apóstolo João fala sobre como temos pecado no capítulo 1 e nos incentiva a
fugir do pecado no início do capítulo 2, de forma que, se aquela leitura estivesse correta, o
texto seria contraditório. Aqueles que são nascidos de Deus, podem, sim, pecar; a habilidade
para o pecado ainda está em nós, pois há pecado em nós. No entanto, não somos capazes de
viver no pecado, pois o Espírito Santo nos constrange com a verdade, convencendo-nos de
que estamos errados se adotamos esse estilo de vida. Nesse sentido, podemos afirmar que as
pessoas que conhecem a Deus são incapazes de viver pecando, embora possam,
eventualmente, se ver embaraçadas com algum pecado.
Por isso, não devemos olhar o ato isolado de uma pessoa, mas tomar por parâmetro
uma porção de sua vida; talvez nós mesmos possamos nos deparar com fases de tristes falhas,
em que mais erramos do que acertamos; mas, e no longo prazo? Temos melhorado? O
processo de santificação não se aborta mediante alguns erros, mas é comprovado pelo
interesse contínuo em praticar a justiça: “Filhinhos, ninguém vos engane. Quem pratica
justiça é justo, assim como ele é justo. Quem pratica o pecado é do diabo, porque o diabo
vive pecando desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as
obras do diabo.” (v.7-8)
A ideia de que “o Filho de Deus se manifestou para desfazer as obras do diabo”, é
muito interessante. Desde o princípio o diabo se concentrou em fazer o homem duvidar de
Deus, levando-o, assim, ao erro. Desta forma, presos no erro, somos servos do pecado; mas,
vindo Cristo, ele traz clareza sobre a nossa vida (pense no tema da luz que vem sendo
desenvolvido nesta carta). Cristo é o responsável por desfazer os enganos propagados pelo
diabo; embora não só isso, mas, toda e qualquer obra que tenha sido de alguma forma
proporcionada pelo diabo, encontra seu desembaraço em Cristo; a medida que nos deleitamos
em Cristo e depositamos nele e em sua obra a nossa confiança, que a nossa própria vida passa
a se desembaraçar. A vida em amor pelos nosso irmão é um indício de que recebemos a
mensagem de Cristo, pois o ódio pelos irmãos é fruto de um engano do maligno. “Nisto são
manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: qualquer que não pratica a justiça e não
ama a seu irmão não é de Deus.” (v.10)
A mensagem do amor, no entanto, é antiga; e a atuação do diabo para nos tirar de foco
dela também é: “Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio: que nos amemos
uns aos outros. Não como Caim, que era do maligno e matou a seu irmão. E por que causa o
matou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas.” (v.11-12) Enquanto
algumas pessoas se deixam guiar pela Lei de Cristo, a saber, o Amor, outras se deixam levar
pelo engano do diabo ao pecado. Além do mais, cumpre-se ressaltar que o exercício de uma
vida virtuosa, seguindo os passos de justiça, não se dá sem obstáculos. A Palavra nos ensina
que Caim matou Abel PORQUE as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas. Ao
fazermos o que é correto, indiretamente denunciamos o erro dos que andam em maldade;
aqueles que não estão dispostos a se corrigir mediante o auxílio do Senhor, passam a nos ter
como inimigos e alvos. Abel morreu porque era bom, e seu irmão, não; Caim matou Abel,
porque era mais fácil para aquele que fazia o que era certo, do que corrigir sua própria vida.
Abel, agindo bem, mostrava a injustiça de seu irmão; Caim, então, perturbado com a
realidade, prefere tirar o seu irmão de cena.
O mundo replica esse comportamento para conosco; ele nos aborrece, isso é, nos
odeia e nos despreza (v.13). Quando amamos os irmãos, temos evidências de que o Senhor
agiu em nós, e que já “passamos da morte para a vida” (v.14). Fomos verdadeiramente
vivificados. Mas, quanto aos que odeiam as outras pessoas, esses nunca conheceram ao
Senhor, pois se deixam levar por intenções homicidas. Todo aquele que despreza o outro,
odiando-o, está seguindo os passos de Caim; essencialmente, ele é um homicida em
potencial. “E vós sabeis que nenhum homicida tem permanente nele a vida eterna.” (v.15)
João esclarece, então, que esse amor do qual ele está falando não é “qualquer tipo de
amor”; pelo contrário, nós temos um exemplo MUITO CLARO em Cristo. “Conhecemos o
amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. Quem,
pois, tiver bens do mundo e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar o seu coração, como
estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por
obra e em verdade.” (v.16-18) Ou seja, o amor em questão não é simplesmente um sentimento
vago de “se sentir bem a respeito de alguém”, mas é, ALÉM DISSO, uma decisão que nos
move a entregar a nossa própria vida em prol do outro; e, se estamos dispostos a entregar
nossa vida, entregar os nossos bens não é difícil. Se dissermos que amamos os irmãos e, ao
vermos alguém necessitado, nosso coração se fechar, como se pensássemos “Como vou
ajudar essa pessoa? Pode ser que se eu ajudar eu tenha falta no futuro. Preciso me preocupar
primeiro comigo.”, ainda não entendemos o amor.
O Amor Cristão é o amor da entrega: como Cristo se entregou, nós nos entregamos.
Em Cristo, todas as nossas necessidades são supridas, quer fisicamente ou espiritualmente;
ele prometeu nunca nos deixar nem nos desamparar. É por essa convicção de fé que podemos
ajudar os nossos irmãos de maneira irrestrita. Não devemos nos preocupar com o nosso
futuro, pois Deus mesmo é a nossa providência. Se dissermos que amamos, mostremos com
boas obras que amamos; Deus há de nos suprir nas nossas necessidades.
Abraçar de maneira radical esse estilo de vida de amor doador nos faz compreender
que “somos da verdade e diante dele asseguraremos nosso coração; sabendo que, se o nosso
coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração e conhece todas as coisas.”
(v19-20) Muitos fazem uma leitura errada dessa passagem, no seguinte sentido: “Se o nosso
coração nos condena, maior é Deus que nos condena.” Você já leu dessa maneira? A Palavra
de Deus, no entanto, no adverte que “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e
perverso; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para
dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações.” (Jeremias
17:9-10)
O que João está ensinando é que, mesmo quando vivemos corretamente segundo as
verdades do Evangelho, ainda assim pode pairar sobre nós um sentimento de condenação.
“Eu poderia ter feito mais; não devo ser verdadeiramente salvo.” “Talvez eu não seja salvo,
afinal de constas, acabei me envolvendo com esse pecado novamente.” O que João está nos
ensinando ao longo dessa carta é que nós temos evidências acerca do agir de Deus sobre a
nossa vida e podemos confiar nelas; não à toa ele diz que devemos “assegurar o nosso
coração”. Nós somos passíveis de errar, com certeza, mas agora, pela Graça, somos capazes
de agir corretamente, andar em justiça e amor. Desta forma, não devemos nos desesperar
quando nos sentimos acusados pelo nosso próprio coração, afinal de contas, ele é enganoso.
Nossa compreensão acerca da nossa salvação deriva da Palavra de Deus e dos dados da
realidade: a Palavra diz que se eu confessar os meus pecados, Ele é fiel e justo para me
perdoar os pecados e me purificar de toda injustiça (1João 1:9); se eu pequei e confessei a ele,
eu DEVO acreditar que estou perdoado. A Palavra também ensina que, se eu amo os irmãos e
pratico a justiça, é porque eu sou nascido dele; e esse amor se comprova pelo exemplo de
Cristo. Eu me entrego pelos meus irmãos? Sim, eu uso o meu tempo, meu conhecimento,
meus dons e capacidades visando o melhor para os meus irmãos no Senhor. Logo, posso e
DEVO ter a convicção de que sou nascido de Deus.
Isso vale para você também, caro(a) leitor(a): não deixe que seu coração te leve a
negar a sua fé. Se o seu coração te condena em alguma coisa, maior é Deus do que o seu
coração, e ele entende todas as coisas. Ele é maior do que o seu coração e, diferente do seu
coração, ele não está apressado a te condenar, mas a te salvar! Se você pecou, confesse a Ele
o seu pecado e confie que ele te perdoa! Deixe de lado, portanto, as obras de injustiça e
pratique a justiça! Seu coração não tem a palavra final sobre a sua vida, mas, sim, o Senhor!
“Amados, se o nosso coração não nos condena, temos confiança para com Deus; e
qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos, porque guardamos os seus
mandamentos e fazemos o que é agradável à sua vista.” (v.21-22) Ou seja, uma vez que
conseguimos aplacar as dúvidas do nosso coração, fortalecendo-nos na fé, temos plena
confiança e abertura para com Deus, a fim de pedirmos qualquer coisa que precisemos e ele
nos atenderá; a ideia aqui é justamente que, nesse processo de salvação, santificação e
amadurecimento, podemos pedir qualquer coisa que precisarmos e ele nos dará. Precisamos
de mais paciência? Peçamos ao Senhor. Precisamos de maior capacidade de doação?
Peçamos ao Senhor. O que quer que seja que venhamos a ter de necessidade, não deve ser
usado de desculpa para não fazer a vontade de Deus, pelo contrário, que tal coisa se torne um
motivo de oração e de maior devoção ao Senhor. Peçamos com confiança, pois ele quer ver o
nosso progresso (até mais do que nós mesmos). “E o seu mandamento é este: que creiamos
no nome de seu Filho Jesus Cristo e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento.
E aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele. E nisto conhecemos que ele
está em nós: pelo Espírito que nos tem dado.” (v.23-24) “O mesmo Espírito testifica
[confirma] com o nosso espírito que somos filhos de Deus.” (Romanos 8:16)

1João 4
Após terminar o terceiro capítulo chamando a atenção ao fato de que o Espírito Santo
habita em nós e dá testemunho da nossa filiação para com Deus, o capítulo 4 começa com
uma importante advertência: nem todas as pessoas possuem o Espírito Santo, e é dever do fiel
julgar e “testar” qual seja o espírito que está em alguém. Novamente, o assunto que se retoma
aqui é o do gnosticismo e a divisão da igreja da época. Algumas pessoas se recusavam a
reconhecer que Jesus veio em forma física, isto é, em carne, como um ser humano de
verdade. Essas pessoas pregavam de acordo com essa compreensão e, João adverte a igreja,
chamando-os de falsos profetas (v.1). “Nisto conhecereis o Espírito de Deus: todo espírito
que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa que
Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já
ouvistes que há de vir, e eis que está já no mundo.” (v.2-3)
Apesar do fato de que devamos estar atentos para que não sejamos enganados, João
traz uma verdade extremamente reconfortante e consoladora: “Filhinhos, sois de Deus e já os
tendes vencido, porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo.” (v.4) Embora
o maligno se levante com enganos, o Espírito Santo é maior e mais poderosos do que esses
espíritos malignos; estamos seguros nEle, mas isso não tira de nós a responsabilidade de
estarmos atentos para o que se prega e o que se ensina, pois há pessoas mal-intencionadas que
adentram o meio cristão. Tais pessoas pertencem ao mundo e falam de acordo com o mundo,
e o mundo os ouve (v.5) “Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele
que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do
erro.” (v.6)
“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é
nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é
amor.” (v.7-8) Conhecer Deus implica em reconhecer a sua natureza amorosa; Deus é amor e,
se dissermos que conhecemos a Deus e a característica mais marcante aos nossos olhos não
for o amor, ainda há espaço para conhecê-lo melhor. Sim, ele é justo, santo, puro, poderoso e
bom; mas na “soma” de todos esses atributos (entre outros) Deus é amor! É pelo amor de
Deus que todos os demais atributos se balizam; a sabedoria está sujeita ao amor; o poder dele
está sujeito ao amor; a santidade e a justiça de Deus são uma expressão de amor; enfim, de
todas as formas, é o amor de Deus que prevalece. Foi por conta do amor que Ele “enviou seu
Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos.” (v.9) E conhecemos o amor, não no
fato de que nós o tenhamos amado, “mas em que ele nos amou e enviou seu Filho para
propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos
amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se nós amamos uns aos outros, Deus está
em nós, e em nós é perfeito o seu amor.” (v.10-12) Ou seja, é mediante ao santo e amoroso
exemplo dEle que nós balizamos a nossa vida; e, se amamos, mesmo que nunca o tenhamos
visto fisicamente, podemos ter a convicção de que ele está em nós.
João, então chama atenção ao fato de que temos o testemunho do Espírito Santo, bem
como da Palavra de Deus, por meio de seus apóstolos, de como essas coisas funcionam e
ocorrem nas nossas vidas; os apóstolos foram testemunhas oculares de que “o Pai enviou seu
Filho para Salvador do mundo.” E qualquer pessoa “que confessar que Jesus é o Filho de
Deus, Deus está nele e ele em Deus. E nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem.
Deus é amor e quem está em amor está em Deus, e Deus, nele.” (v.13-16)
Mediante a todos esses fatos, podemos ter convicção de que recebemos a mensagem
do Amor pregada por Cristo, e, se a recebemos e a praticamos, é porque o amamos de forma
completa (perfeita, em grego). “Nisto é perfeito o amor para conosco, para que no Dia do
Juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é [ou seja, como ele é], somos nós também neste
mundo [seguimos o modelo dele, e damos testemunho para o mundo]. No amor, não há
temor; antes, o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que
teme não é perfeito em amor. Nós o amamos porque ele nos amou primeiro.” Devemos
compreender que ele nos amou primeiro, pois, se não fosse assim, nós nunca teríamos tido a
iniciativa de irmos atrás dele; nós o amamos, porque ele nos amou primeiro; ele nos amou
primeiro porque ele mesmo é o amor! Conforme compreendemos a natureza amorosa do
nosso Deus, podemos nos achegar a ele com confiança, pois seremos movidos pelo amor a
ele, ao invés do temor. Por vezes encontramos pessoas que tem uma visão distorcida de Deus,
que as faz ter medo do Senhor; entretanto, nós que entendemos que ele nos amou, devemos
amá-lo, lançando fora o medo. Deus merece a nossa reverência (reverência e medo são
descritos pela mesma palavra no grego), mas não devemos ter medo dele; afinal de contas,
em Cristo, ele fez o impossível para garantir e assegurar a nossa salvação e plena comunhão
para com ele. Nesse sentido, ter medo de Deus é duvidar da sua boa vontade; de certa forma,
acaba sendo uma rejeição de sua oferta de comunhão e amizade, pois ele se propõe a amizade
e nós desconfiamos dele, se temos medo.
E como sabemos que o amamos? “Se alguém diz: Eu amo a Deus e aborrece a seu
irmão, é mentiroso. Pois quem não ama seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a
quem não viu? E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também seu
irmão.” (v.20-21) Ou seja, a medida que eu me dedico a vida de amor pelos irmãos, cresço na
convicção de que o meu amor por Deus também é sincero.
1João 5
“Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus; e todo aquele que ama
ao que o gerou também ama ao que dele é nascido. Nisto conhecemos que amamos os filhos
de Deus: quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. Porque este é o amor
de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados.”
(v.1-3) João traça uma dinâmica interessante aqui: como podemos dizer que amamos a Deus
se não amarmos os filhos de Deus? Algumas pessoas, por exemplo, se dizem cristãs e crentes,
mas não se vinculam a nenhuma igreja. A verdade é que, se somos nascidos de Deus, temos
amor e carinho pelo povo de Deus; a família de Deus é a nossa própria família; o Corpo de
Cristo, onde quer que esteja, é família. Será que é pesado esperar que tenhamos um bom
convívio com nossos irmãos? Não é isso mesmo o mínimo que podemos e devemos fazer?
“Os seus mandamentos não são pesados.” Se nós amamos aqueles que andam na verdade e na
luz, aqueles que guardam os mandamentos de Cristo, podemos ter certeza de que somos parte
desse povo escolhido também.
“Porque todo aquele que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que
vence o mundo: a nossa fé. Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o
Filho de Deus?” (v.4-5) A nossa vitória sobre o mundo consiste na fé, na confiança que
depositamos em Deus e em suas promessas; se cremos que Jesus é o Filho de Deus, estamos
seguros em seu amor e verdadeiramente o amamos.
"Este é aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por água, mas
por água e por sangue. E o Espírito é o que testifica, porque o Espírito é a verdade." (v.6) A
referência a água e ao sangue costuma ser entendida como referências ao batismo e a morte
de Jesus; o batismo marca o início do ministério público de Jesus, o momento em que ele
passa a se manifestar ao mundo; já sua morte, marca o fim do seu ministério. Nos próximos
versos, então, o apóstolo diz que a água, o sangue e o Espírito são testemunhas do Senhor
Jesus; o ministério e a vida de Cristo dão testemunho de sua missão e o próprio Espírito
Santo confirma esse fato: Cristo veio para nos salvar (v. 7-13).
Podemos compreender a salvação como a restauração do relacionamento entre o
homem e Deus, que foi perdido na desobediência de Adão. Tanto é verdade que, no início de
sua carta, João enfatiza a ideia de comunhão que, basicamente, significa amizade.”Estas
coisas vos escrevi, para que saibais que tendes a vida eterna e para que creiais no nome do
Filho de Deus. E esta é a confiança que temos nele: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a
sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que
alcançamos as petições que lhe fizemos.” (v. 13-15) Por meio da salvação, Deus nos
possibilita ter uma amizade profunda e verdadeira com ele. A profundidade é tamanha que
podemos, inclusive, pedir coisas ao Deus de todo o universo e ele nos ouve e nos atende.
No entanto, é importante que compreendamos que ele nos concede quando “pedimos
segundo a sua vontade", ou seja, quando pedimos algo “de acordo com a vontade dele”. Isso
não deveria nos desanimar; pelo contrário, sabemos que Deus é bom e, sendo amigos dele,
passamos a conhecer qual seja a boa vontade dele. Não pedimos simplesmente o que a nossa
vontade deturpada pelo pecado deseja, mas podemos pedir com confiança aquilo que, por
conta da nossa amizade com Deus, sabemos que é bom. Na oração do Pai Nosso, por
exemplo, somos ensinados a orar pela vinda do Reino de Deus e o cumprimento de sua
vontade sobre a Terra. Por meio da leitura da Palavra, aprendemos mais sobre a vontade de
Deus e, por meio da oração, pedimos aquilo que aprendemos por meio da Palavra, e, aos
poucos, somos transformados para desejar aquilo que
“Se alguém vir seu irmão cometer pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a
vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore.
Toda iniquidade é pecado, e há pecado que não é para morte.” (v. 16-17) João traz um
exemplo de qual é a vontade de Deus: que aqueles que estão no erro se convertam. Ele faz, no
entanto, uma distinção entre “pecado para morte” e “pecado que não é para a morte”; aqui a
distinção consiste em esclarecer que, algumas pessoas, pecam de maneira contínua e sem
arrependimento. Esses pecam “para a morte”, ou seja, de forma a serem levados pelo pecado
até a morte, e levando uma vida de pecado até morrerem. Mas há também aqueles que, por
vezes, se embaraçam com um pecado, e não desejam continuar nessa vida. João nos incentiva
a orar por estes; a estender a mão para aquele que, ainda que peca, deseja ser salvo.
O “pecado para a morte”, então, pode ser compreendido como aquele praticado por
alguém que, conhecendo a verdade, não se importa com as consequências. A pessoa não faz
questão do relacionamento com Deus, pois se contentou com o que o mundo oferece. Aquele
que ama o mundo e o que no mundo há, não tem amor por Deus, como João nos ensina nos
capítulos anteriores; e aquele que vive na prática do pecado, nunca nasceu de novo de
verdade. "Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando; mas o que de
Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca. Sabemos que somos de
Deus e que todo o mundo está no maligno." (v. 18-19) Ou seja, o maligno, isto é, o diabo, não
tem poder sobre nós; somos protegidos por Deus e pelo Espírito Santo. No entanto, o inimigo
tem poder total sobre o mundo e aqueles que não servem a Deus; evidentemente, isso não
exclui a soberania de Deus, mas o diabo tem todo tipo de força e influência sobre os
descrentes. Ainda assim, Deus é soberano e seus planos infalíveis prosperarão!
"E sabemos que já o Filho de Deus é vindo e nos deu entendimento para conhecermos o
que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o
verdadeiro Deus e a vida eterna. Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Amém!" (v. 20-21) O
capítulo e a carta se encerram com um lembrete e uma orientação muito importante: Cristo é
a verdade! Por ele nós fomos libertos dos enganos e do poder do pecado e do diabo!
Devemos manter os nossos olhos fixos no Senhor Jesus, fugindo dos ídolos! Ora, o ídolo não
é só uma estátua, mas tudo aquilo que toma o lugar de Deus em nosso coração e mente. O
nosso coração é propenso a criar ídolos; devemos ser cautelosos, guardando-nos do engano
que vem pela idolatria. Se nos deixarmos levar por ídolos, tiraremos os olhos de Cristo e,
sendo assim, incorreremos em erros, por não estarmos pautados na verdade que é Cristo.
Devemos vigiar (estar atentos) e orar (cultivar nosso relacionamento com o Senhor).
2João
Diferente da primeira carta, a segunda e a terceira carta não são universais, ou seja,
escrita para um grupo geral de pessoas, mas para pessoas específicas. Outra diferença é que
nessas cartas também há uma identificação de João com o título de ancião (presbítero ou
pastor), e uma saudação inicial. A saudação da segunda carta se encontra nos versos de 1 a 3.
“Muito me alegro por achar (encontrar) que alguns de teus filhos andam na verdade,
assim como temos recebido o mandamento do Pai.” (v. 4) Lembremos que João escreveu essa
carta num contexto em que muitas pessoas estavam abandonando a fé verdadeira, de forma
que foi um motivo de alegria saber que alguns dos filhos dessa senhora estavam
perseverantes e firmes na verdade.
João incentiva que esses irmãos continuem perseverantes naquilo que foram
ensinados, alertando-os contra os enganadores (v. 5-7), e na sequência, complementa: “Olhai
por vós mesmos, para que não percamos o que temos ganhado; antes, recebamos o inteiro
galardão. Todo aquele que prevarica e não persevera na doutrina de Cristo não tem a Deus;
quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto o Pai como o Filho. Se alguém vem ter
convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque
quem o saúda tem parte nas suas más obras.” (v. 8-11)
Ele conclui essa pequena carta dizendo que, “Tendo muito que escrever-vos, não quis
fazê-lo com papel e tinta; mas espero ir ter convosco e falar de boca a boca [face a face], para
que o nosso gozo seja cumprido [nossa alegria seja completa]. Saúdam-te os filhos de tua
irmã, a eleita. Amém!” (v.12-13)

3João
A terceira e última carta começa com uma saudação que exalta a perseverança de
Gaio na verdade. João reconhece que vida espiritual de Gaio estava tão bem que chega a
dizer: “Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas e que tenhas saúde, assim como bem
vai a tua alma.” (v. 2) As pessoas davam testemunho da fidelidade de Gaio, que cuidava dos
irmãos e até mesmo dos desconhecidos (estranhos), conforme apontam os versos 3, e os
versos de 5 a 8. Pelo que João podia dizer: “Não tenho maior gozo [alegria] do que este: o de
ouvir que os meus filhos andam na verdade.” (v. 4) Ao que esse verso indica, João se sentia
na responsabilidade paternal para com Gaio, sendo que esse, possivelmente, foi apresentado
ao Evangelho inicialmente pelo próprio apóstolo João; há uma ideia de “filiação espiritual”,
de forma que João agia como um pai para Gaio, instruindo-o na verdade do Evangelho.
João esclarece, então, que tem escrito outras cartas às igrejas, mas que Diótrefes
estava recusando a recebê-los, pois buscava ser considerado o mais importante entre os
irmãos (v. 9). Diótrefes estava agindo muito mal e João estava preparado para repreendê-lo,
dizendo, “se eu for, trarei à memória as obras que ele faz, proferindo contra nós palavras
maliciosas; e, não contente com isto, não recebe os irmãos, e impede os que querem
recebê-los, e os lança fora da igreja.” (v.10) Ele ainda orienta Gaio a não seguir o exemplo de
Diótrefes (v.11) e dá testemunho de que tem ouvido falar coisas boas a respeito de um irmão
chamado Demétrio (v. 12).
Como na segunda carta, João diz que tinha muito o que escrever, mas pretendia tratar
dos assuntos pessoalmente. A carta se conclui com uma saudação: “Paz seja contigo. Os
amigos te saúdam. Saúda os amigos pelos seus nomes.” (v.13-15)

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