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Elaine Pereira Andreatta

Adelson Florêncio de Barros


Dorotea Maria Leal Costa

PRODUÇÃO TEXTUAL,
ANÁLISE E COMPREENSÃO DE TEXTOS
GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS
José Melo de Oliveira | Governador

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS


Cleinaldo de Almeida Costa | Reitor
Mário Augusto Bessa de Figueiredo | Vice-Reitor

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Esta edição foi revisada conforme as regras do


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Todos os Direitos Reservados © Universidade do Estado do Amazonas.
Permitida a reprodução parcial desde que citada a fonte.

Andreatta, Elaine Pereira


Produção textual, análise e compreensão de textos / Elaine Pereira Andreatta, Adelson Florêncio de
A561p Barros, Dorotea Maria Leal Costa. – Manaus: UEA Edições, 2015.
2015 70p.: il.; 23 cm

Inclui referências bibliográficas

978-85-7883-355-8

1. Língua e linguagem. 2. Linguística. 3. Língua portuguesa 4. Análise de discurso 5. Interpretação


de texto. I. Barros, Adelson Florêncio II. Costa, Dorotea Maria Leal III. Título.

CDU 1997 – 81’42

UEA Edições
Av. Djalma Batista, 3578 - Flores | Manaus - AM - Brasil
Cep 69050-010 | (92) 3878.4463
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Pró-Reitor de Ensino de Graduação

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Pró-Reitora Adjunta de Interiorização

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Coordenador dos Cursos Especiais

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Coordenadora Geral do Curso de Licenciatura em Letras

Sebastião Reis
Subcoordenador do Curso de Licenciatura em Letras

Socorro Viana de Almeida


Neiva Maria Machado Soares
Supervisoras de Produção e Análise de Materiais Didáticos
SUMÁRIO

Unidade I – Noções de texto e textualidade

1.1 Língua e linguagem 7


1.2 Texto e discurso 8
1.2.1 Algumas concepções de texto 9
1.3 O que é textualidade? 11
1.3.1 Intencionalidade 11
1.3.2 Aceitabilidade 12
1.3.3 Situacionalidade 12
1.3.4 Informatividade 13
1.3.5 Intertextualidade 14
1.3.6 Coerência 14
1.3.7 Coesão 15
1.5 Atividades de Aprendizagem 24
1.6 Síntese 24
1.7 Aprofundando o conhecimento 24
1.8 Exercícios de aplicação 25
1.9 Questão para reflexão 27
1.10 Leitura indicada 28
1.11 Site indicado 28

Unidade II – Tipos e gêneros textuais


2.1 Gêneros textuais
2.1.1 Gêneros e tipologias na atualidade 29
2.2 Tipologia Textual 31
2.2.1 Tipologia textual narrativa 32
2.2.2 Tipologia textual descritiva 33
2.2.3 Tipologia textual dissertativa 33
2.4 Atividades de Aprendizagem 34
2.5 Síntese 35
2.6 Aprofundando o conhecimento 35
2.7 Exercícios de aplicação 35
2.8 Questão para reflexão 38
2.9 Leitura indicada 39
2.10 Sites indicados 39

Unidade III - Estrutura de um texto


3.1 Estruturação de períodos compostos 40
3.1.1 A Frase 40
3.1.2 As Relações lógico-semânticas entre orações por intermédio das conjunções 41
3.1.2.1 Conjunções cooordenadas 41
3.1.2.2 Conjunções subordinativas 42
3.1.3 Coordenação ou parataxe 46
3.1.4 Subordinação Ou hipotaxe 46
3.2 Estrutura interna e organização de parágrafos 49
3.2.1 Mecanismos de coesão 49
3.2.1.1 Coesão Referencial 49
3.2.1.2 Coesão Recorrencial 50
3.2.1.3 Coesão Sequencial 51
3.4 Pontuação 51
3.5 Concordância 53
3.6 Atividade de Aprendizagem 55
3.7 Síntese 55
3.8 Aprofundando o conhecimento 55
3.8.1 Exercício de aplicação 55
3.8.2 Questão para reflexão 56
3.8.3 Leitura indicada 57
3.8.4 Sites indicados 57

Unidade IV- Etapas de produção do texto escrito


4.1 A produção do texto escrito 58
4.1.2 Síntese 59
4.1.3 Aprofundando o conhecimento 59
4.1.4 Questão para reflexão 59
4.2 Exercícios de aplicação 60
4.3 Leitura indicada 60
4.4 Sites indicados 60
4.5Artigo de opinião 61
4.5.1 Texto para análise ilustrativa 62
4.6 Exercícios de aplicação 63
4.7 Atividade de Interpretação oral 63
4.8 Produção escrita 63
4.9 Retextualização do gênero 63
4.10 Síntese 64
4.11 Aprofundando o conhecimento 64
4.11.1 Questão para reflexão 64
4.11.2 Leitura indicada 64
4.11.3 Sites indicados 64
4.12 Gênero – resumo 64
4.12.1 Sumarização: Processo essencial para a produção de resumos 65
4.12.2 A influência dos objetivos na sumarização 66
4.12.3 A compreensão global do texto a ser resumido 66
4.13 Atividades de Aprendizagem 67
4.14 Síntese 67
4.15 Aprofundando o conhecimento 67
4.15.1 Questão para reflexão 67
4.15.2 Leitura indicada 67
4.15.3 Sites indicados 67
Referências 68
APRESENTAÇÃO

O cenário educacional nacional e regional tem apresentado grandes desafios, os quais motivam e mobilizam a
sociedade civil e acadêmica. Estudos e pesquisas têm sido realizados, com o objetivo de visando implementar políticas
educacionais orientadas por esse debate social e acadêmico, visando à melhoria da qualidade de ensino público e privado
no Brasil.
Nesse sentido, será oferecido o Curso de Licenciatura em Letras – Língua Portuguesa, na modalidade de Ensino
Presencial Mediado por Tecnologia (EPMT), de oferta especial aos 30 municípios do estado do Amazonas: Anori, Apuí,
Autazes, Barcelos, Barreirinha, Beruri, Boa Vista do Ramos, Borba, Careiro, Envira, Fonte Boa, Ipixuna, Iranduba, Itamarati,
Itapiranga, Japurá, Juruá, Jutaí, Lábrea, Manacapuru, Maraã, Nhamundá, Nova Olinda do Norte, Novo Aripuanã, Santo
Antônio do Içá, São Gabriel da Cachoeira, São Paulo de Olivença, São Sebastião do Uatumã, Tapauá e Urucará. A oferta
do curso é uma iniciativa de enfrentamento da necessidade crucial e urgente da formação de professores para a Educação
Básica, sobretudo para suprir a carência desses profissionais no interior desse Estado.
O Curso de Licenciatura em Letras toma como ponto inicial da formação dos futuros professores licenciados em
Letras – Língua Portuguesa a articulação criadora entre matriz curricular, necessidades regionais e mundiais e objetivos da
Universidade, a fim de que se possibilite aos acadêmicos o desenvolvimento de uma sólida fundamentação histórica que os
prepare metodologicamente para produzir/recriar ciências, segundo os focos de interesse de nossa região.
O material didático apresentado para disciplina Produção Textual I, intitulado Produção Textual, Análise e Compreensão
de Textos dos professores Elaine Pereira Andreatta, Adelson Florêncio de Barros e Dorotea Maria Leal Costa visa desenvolver
habilidades de escrita, ampliando a capacidade de empregar a língua em diversas situações formais de comunicação. Este é
o primeiro de uma série que atenderá aos princípios curriculares de cada uma das disciplinas ofertadas.
Esperamos que esta proposta se torne fecunda e que possa suscitar no acadêmico o gosto pelo prazeroso ato
de mergulhar nas letras e que contribua para o seu crescimento profissional, constituindo-se, notadamente, em uma
ferramenta representativa para o desenvolvimento de todos os indivíduos envolvidos.
Desejamos a todos votos de ótimos estudos e com intensa motivação para trilhar esse fascinante caminho da área
da linguagem.

6
I Noções de texto e textualidade
Unidade

Nesta primeira unidade da disciplina de Produção Textual I vamos trabalhar os conceitos de língua e linguagem,
texto, discurso, além dos aspectos da textualidade, observando o processo de comunicação.
Antes de chegarmos às noções de texto e textualidade, precisamos compreender as concepções de língua e
linguagem.

1.1 Língua e linguagem

Para começarmos passemos à leitura do anúncio:

Fonte:<https://finartpublicidade.wordpress.com/category/casos/page/2/>

Observe que o anúncio pressupõe um leitor específico, alguém que possa vir a contratar a gráfica e que se preocupa
com causas ambientais. O emissor do texto compreende que se esse leitor é um consumidor consciente, preferirá contratar
uma gráfica que desenvolva sua ação também de forma consciente.
Todas as informações que percebemos ao fazer a leitura do anúncio estão representadas nos elementos que o
constroem. São elementos que constituem a linguagem desse texto. Nesse caso, temos o uso de linguagem verbal e de
linguagem não verbal, esta última dada pela imagem de uma planta com uma sombra branca projetada lembrando um
papel; pelo jogo de cores: os pontos de luz dispostos como reflexos do sol; pela disposição das palavras dentro do texto,
constituindo uma diagramação com o uso das cores verde e marrom nas letras. Tudo isso retoma a proposta do anúncio,
já que essas cores remetem ao meio ambiente, produzindo o apelo ecológico pretendido.

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Dessa forma, é importante compreender o conceito de linguagem:

“A linguagem é pois um lugar de interação humana, de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentidos entre interlocutores,
em uma dada situação de comunicação e em um contexto sócio-histórico e ideológico” (TRAVAGLIA, 1996, p. 23).

São exemplos de diferentes linguagens, além da linguagem verbal em suas modalidades falada e escrita, a pintura,
a música, a dança, os sistemas gestuais, os quadrinhos, etc. A linguagem utilizada pelos seres humanos pressupõe
conhecimento de signos linguísticos, do domínio de uma língua. Além disso, a partir dessa concepção de linguagem, autor
e leitor assumem a condição de sujeitos ativos na construção social do conhecimento e, em especial, atores/construtores
sociais, o que é observado por Koch (2002).
Passemos a algumas concepções de língua:

“Língua é vista como um código,ou seja, como um conjunto de signos que se combinam segundo regras, e que é capaz de transmitir uma
mensagem, informações de um emissor a um receptor” (TRAVAGLIA,1996, p. 22).

A esse conceito, acrescentamos a noção de língua como atividade sociointerativa situada, a qual relaciona aspectos
históricos e discursivos:

A língua é um “conjunto de práticas sociais e cognitivas historicamente situadas”, uma vez que esse código é usado por interlocutores
(MARCUSCHI, 2008, p.61).

A concepção que aqui passamos a discutir contempla a língua em seu aspecto sistemático, mas passa a observá-la
em seu aspecto social, cognitivo e histórico. Assim, os sentidos produzidos pela língua são sempre pensados de forma
situada, como “fenômeno encorpado” (MARCUSCHI, 2008, p.60) e não como estrutura abstrata.
A língua se manifesta em seu funcionamento diário, ora em textos do cotidiano, ora em textos canônicos, uma vez
que o uso da língua acontece em eventos discursivos situados. É por isso que agora passaremos a discutir as concepções
de texto e de discurso.

1.2 Texto e discurso

O texto e o discurso podem ser conceitualmente diferenciados, mas, na prática, acontecem simultaneamente.
Vejamos isso através do poema concreto:

FREIRE, Marcelino. Era o dito. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002.

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Marcelino Freire, ao dialogar com o ditado popular produz um novo texto: o poema visual, que alia palavra à imagem.
Essa recriação provoca no leitor uma nova reflexão a respeito da justiça, ressignificando o ditado, pois, visualmente, somos
atraídos para a palavra “atrasa”, que permanece em nossa percepção ao lermos a frase toda.
O poema concreto de Marcelino Freire revela o conceito de texto. Todo texto, verbal ou não verbal, oral ou
escrito, pode ser tomado com um lugar de interação e de construção de sentido. No entanto, o processo comunicativo não
termina na produção do texto, na sua materialidade. O poema visual foi produzido por um sujeito social, que vive em um
determinado contexto histórico e tem um modo próprio de olhar o mundo. Esse olhar produz valores sociais e culturais
que ele compartilha com o grupo do qual faz parte. O mesmo vale para o leitor. A essa atitude comunicativa, carregada de
intencionalidade, e aos elementos que a envolvem, chamamos discurso. Assim,

• O discurso se concretiza nos textos.


• O texto é, portanto, o produto material do discurso.

Orlandi (1987) define discurso como efeito de sentido entre locutores, observando a linguagem em interação, o que implica considerá-la em
relação às suas condições de produção. Segundo Marcuschi (2008, p. 82), o discurso acontece no plano do dizer – enunciação – e o texto acontece
no plano da esquematização – a configuração.

Dessa forma, o que condiciona a atividade comunicativa é o gênero textual, que discutiremos com clareza na próxima
unidade. Entre o discurso e o texto está o gênero textual ou discursivo, visto como prática social e prática textual discursiva.
Marcuschi (2008) discute algumas concepções de texto, dentre elas, podemos destacar:

“O texto é o resultado de uma ação linguística cujas fronteiras são em geral definidas por seus vínculos com o mundo no qual ele surge
e funciona, é um conjunto de palavras, de sons, de imagens, enunciados, significações, contextos e na elaboração do ouvinte/leitor e do falante/
escritor” (MARCUSCHI, 2008, p. 71).

No entanto, para que um texto se constitua como texto, ele precisa apresentar alguns fatores, denominados fatores
de textualidade apresentados por Beaugrande e Dressler (1981 apud MARCUSCHI, 2008). Além das relações situacionais,
ele possui relações cotextuais. Para começarmos essa discussão, passemos à leitura do texto de Millôr Fernandes:

Brasil - descrição física e política

O Brasil é um país maior do que os menores e menor do que os maiores. É um país grande porque, medida sua extensão, verifica-se
que não é pequeno. Divide-se em três zonas climáticas absolutamente distintas: a primeira, a segunda e a terceira, sendo que a segunda fica
entre a primeira e a terceira. As montanhas são consideravelmente mais altas que as planícies, estando sempre acima do nível do mar. Há
muitas diferenças entre as várias regiões geográficas do país, mas a mais importante é a principal. Na agricultura faz-se exclusivamente o cultivo
de produtos vegetais, enquanto a pecuária especializou-se na criação de gado. A população é toda baseada no elemento humano, sendo que as
pessoas não nascidas no país são, sem exceção, estrangeiras. Na indústria fabricam-se produtos industriais, sobretudo iguais e semelhantes, sem
deixar-se de lado os diferentes. No campo da exploração dos minérios, o país tem uma posição só inferior aos que lhe estão acima, sendo, porém,
muito maior produtor do que todos os países que não atingiram o seu nível. Pode-se dizer que, excetuando seus concorrentes, é o único produtor
de minérios no mundo inteiro. Tão privilegiada é hoje a situação do país, que os cientistas procuram apenas descobrir o que não está descoberto,
deixando para a indústria tudo que já foi aprovado como industrializável, e para o comércio tudo o que é vendável. Na arte também não há
ciência, reservando-se esta atividade exclusivamente para os artistas. Quanto aos escritores, são recrutados geralmente entre os intelectuais. É,
enfim, o país do futuro, sendo que este se aproxima a cada dia que passa.
FERNANDES, Millôr. Lições de um ignorante. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

Nesta crônica, Millôr Fernandes produz humor a partir de um modo peculiar de escrita, o que se pode chamar de
discurso vazio ou discurso circular, que fala e não diz nada. Assim, a oração se completa repetindo a mesma informação
e, ao final da leitura, apesar de termos uma oração estruturada, não temos o conteúdo, o sentido, uma vez que há uma
circularidade de linguagem: lança-se a ideia, mas não se avança no raciocínio. É exatamente isso que produz o humor, e essa
é a intenção do autor. É a intencionalidade do autor em criar um texto cômico que garante sua textualidade.

1.2.1 Algumas concepções de texto

A seguir, leremos algumas definições de texto de autores que servem como referência para este estudo.

• “Na concepção interacional (dialógica) da língua, na qual os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais,
o texto passa a ser considerado o próprio lugar da interação e os interlocutores, como sujeitos ativos que – dialogicamente
- nele se constroem e são construídos” (KOCH, 2002, p.17).
• “Um texto é uma unidade de linguagem em uso, cumprindo uma função identificável num dado jogo de atuação
sociocomunicativa (COSTA VAL, 2006, p. 3).

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• “O texto é um evento comunicativo em que convergem ações linguísticas, sociais e cognitivas” (BEAUGRANDE,
1981 apud MARCUSCHI, 2008, p. 72).
• “O texto pode ser tido como um tecido estruturado, um entidade significativa, uma entidade de comunicação e
um artefato sócio-histórico” (MARCUSCHI, 2008, p. 72).
• Para Halliday e Hasan (1976, p.1-2), a palavra texto é usada para se referir a qualquer passagem (falada ou escrita)
de qualquer extensão que forma um todo unificado. Texto pode ser escrito, falado, prosa ou verso [...] é uma unidade de
linguagem em uso. Não é unidade gramatical, como a oração e a sentença [...] é uma unidade semântica, pois não é uma
um unidade de forma, mas de sentido.

Passemos a compreender as concepções de texto a partir do anúncio da Prefeitura de São Paulo:

Fonte:<http://www.clubedecriacao.com.br/novo/tesouro-cannes-2011/>.

O texto envolve uma atitude comunicativa e, portanto, implica a relação entre interlocutores: de um lado, o
anunciante com a intenção de comunicar algo, de outro, o leitor que pode produzir uma ação a partir daquilo que lê. Nesse
sentido, há uma unidade de linguagem em uso: a linguagem verbal e a linguagem não verbal, em um contexto determinado
para que essa campanha se realize através do enunciado: “Um animal de estimação pode mudar a sua vida. Adote um”. As
linguagens acionadas no texto, ao serem associadas, desempenham um papel importante para garantir que o texto cumpra

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sua finalidade. No anúncio lido, há um tecido estruturado em um jogo de atuação sociocomunicativa que se constrói pela
linguagem verbal e não verbal.

1.3 O que é textualidade?

Textualidade é o conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas uma sequência de frases.
Beaugrande e Dressler (1981 apud MARCUSCHI, 2008) apresentam 7 fatores responsáveis pela textualidade: intencionalidade,
aceitabilidade, situacionalidade, informatividade, intertextualidade (relacionam-se com os fatores pragmáticos envolvidos no
processo comunicativo), coesão e coerência (relacionam-se com o material conceitual e linguístico do texto). Tais fatores podem ser
assim esquematizados:

Quadro 1: Fatores de textualidade

(MARCUSCHI, 2008, p. 96)

Assim, conforme nos apresenta Marcuschi (2008), os três grandes pilares da textualidade são o autor, o texto e o
leitor, o que faz com que o texto seja compreendido como processo e produto. Em segundo lugar, é importante observar
dois lados para a compreensão desse texto pelo leitor: 1) aspectos cognitivos relacionados à cotextualidade – conhecimentos
linguísticas e regras envolvidas no sistema; 2) aspectos cognitivos relacionados ao contexto – conhecimento situacional,
cognitivo, enciclopédico, social e histórico.
A seguir, passamos a expor conceitualmente cada um desses aspectos, compreendendo-os em seu funcionamento.

1.3.1 Intencionalidade

A intencionalidade “refere-se aos diversos modos como os sujeitos usam os textos para perseguir e realizar suas
intenções comunicativas, mobilizando, para tanto, os recursos adequados à concretização dos objetivos visados” (KOCH,
2009, p. 42). A meta pode ser informar, ou impressionar, ou alarmar, ou convencer, ou pedir, ou ofender. E é ela que vai
orientar a construção do texto. A intencionalidade diz respeito ao valor ilocutório - valor de que se reveste um enunciado
(ameaça, promessa, ordem etc) - do discurso, elemento de maior importância no jogo de atuação comunicativa. Vejamos
o exemplo:

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Má notícia para quem gosta de escrever “sem comentário” toda vez que vê alguma coisa ruim no Facebook. O instituto Search publicou hoje um levantamento que
acaba com a motivação deste comentário. De acordo com a análise, ao escrever “sem comentário” o usuário já está, de fato, comentando.
Essa conduta deriva da frase “Só te digo uma coisa, nem te digo nada e falo mais, só falo isso”.
Na semana que vem os pesquisadores vão tentar descobrir se escrever “Nem falo nada” significa que a pessoa já falou efetivamente algo.

Fonte:<http://sensacionalista.uol.com.br/2015/03/23/100-dos-comentarios-que-se-dizem-sem-comentarios-ja-sao-comentarios>

O texto do Jornal O Sensacionalista, “um jornal isento de verdade”, apresenta uma intencionalidade obviamente
cômica. O jornal, por ser construído para produzir humor, apresenta uma notícia com dados inventados. No entanto,
como a produção de humor desse veículo se dá de forma irônica, partindo de uma realidade existente, a crítica se faz em
relação ao comportamento humano no uso das redes sociais. Assim, à intenção de produzir humor é atrelada a intenção
de produzir crítica aos usuários do facebook que registram esse tipo de comentário. Se não observarmos a intencionalidade
da notícia, corremos o risco de não a compreendermos, algo que acontece frequentemente na página do jornal no facebook,
em que muitos usuários realizam comentários indignados sobre algumas notícias veiculadas.

1.3.2 Aceitabilidade

Para Koch, “a aceitabilidade é a contraparte da intencionalidade. Refere-se à concordância do parceiro em entrar


no ‘jogo de atuação comunicativa’ e agir de acordo com as suas regras” (2009, p. 42). Vejamos os anúncios produzidos
pela cerveja Skol no Carnaval de 2015:

Fonte: <http://www.omisterplay.com/2015/02/o-sentido-errado-de-uma-propaganda.html>
Fonte: <http://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/2015/02/ambev-troca-diretor-de-marketing-em-meio-polemica-de-campanha-
da-skol.html>

O primeiro cartaz que vemos acima, com o slogan “Esqueci o ‘não’ em casa” gerou uma grande polêmica nas redes
sociais. O cartaz pertencia à campanha “Viva Redondo” e trazia outras frases como “Topo antes de saber a pergunta” e “Tô na sua,
mesmo sem saber qual é a sua”, espalhadas em pontos de ônibus. Vários internautas acusaram a campanha de irresponsável,
dizendo que elas traduzem uma ideia de que as mulheres estão disponíveis no Carnaval e que incentivariam o assédio. Após
uma série de reclamações, a empresa resolveu substituir a campanha “Viva Redondo” que ganhou o slogan “Neste carnaval,
respeite”. Os novos cartazes dizem “Não deu jogo? Tire o time de campo”, “Tomou bota? vai atrás do trio” e “Quando um não quer, o
outro vai dançar”.
Nesse sentido, a aceitabilidade, que é a ação do receptor em associar ao que está sendo lido alguma coerência
e interpretá-lo da forma que achar adequada, tem estreita relação com a intencionalidade. Não diz respeito apenas às
questões formais do texto, mas às questões de sentido. O leitor pode produzir o sentido que não o desejado pelo autor e
isso pode torná-lo não aceitável. No caso da campanha da Skol, não houve aceitabilidade uma vez que o texto, ao gerar
sentido ambíguo, não foi compreendido como seus autores pretendiam.

1.3.3 Situacionalidade

A situacionalidade “refere-se ao fato de relacionarmos o evento à situação (social, cultural, ambiente etc) em que
ele ocorre” (BEAUGRANDE, 1981 apud MARCUSCHI, 2008, p. 128). O contexto pode definir o sentido do discurso e,
normalmente, orienta tanto a produção quanto a recepção. É importante para o produtor saber com que conhecimentos do
recebedor ele pode contar e que, portanto, não precisa explicitar no seu discurso. Leia os textos a seguir para compreender
melhor este fator de textualidade:

12
Fonte: <https://www.facebook.com/oquequeremos>

Nesse sentido é que os textos acima, denominados memes, podem ser compreendidos, pois exploram um contexto
que é conhecido pelo produtor do texto e também pelo seu receptor. O primeiro meme apresenta o enunciado “Que
parem de nos confundir com dicionários” e aborda uma situação real vivenciada pelos estudantes de Letras, que são indagados
constantemente acerca da grafia das palavras e de seus significados. Da mesma forma, o segundo meme parte de uma situação
vivenciada por muitos de nós que nos deparamos com receitas médicas incompreensíveis pela caligrafia. É assim que o
humor se processa já que o produtor conta com o conhecimento do recebedor a partir dos contextos vivenciados. Nesses
dois textos, também percebemos uma crítica ao poder que vem de cada uma dessas profissões: ao médico é autorizada a
possibilidade de usar uma caligrafia incompreensível, ao professor de Letras, não é autorizado o não conhecimento das
palavras, tanto quanto à ortografia, como quanto ao seu significado.

1.3.4 Informatividade

A informatividade “diz respeito ao grau de expectativa ou falta de expectativa, de conhecimento ou desconhecimento


e mesmo incerteza do texto oferecido” (MARCUSCHI, 2008, p. 132). Conforme Bentes, a informatividade refere-se “ao
grau de previsibilidade das informações que estarão presentes no texto, se essas são esperadas ou não, se são previsíveis
ou não” (2001, p. 289). Além, disso, a autora também observa que “o arranjo das informações presentes no texto está
condicionado pelas intenções de seu locutor e como estas intenções são reguladas pelo contexto situacional mais amplo
de produção do texto” (2001, p. 290).

Fonte: <http://www.clubedecriacao.com.br/novo/carro-cannes-2011/>
Inscrição do anúncio: “São Paulo está embaixo d’água. A culpa não é da chuva. É de quem coloca lixo fora do lugar. Pense
nisso. Faça a coisa certa. Jogue o lixo no lixo.”

13
No anúncio produzido pela Prefeitura de São Paulo, o enunciado apresenta um grau previsível de informatividade,
uma vez que a maioria da população já compreende que São Paulo está embaixo d’água e que o lixo colocado fora do
lugar é um grande causador dessa problemática. No entanto, esse baixo grau de informatividade está presente para que as
intenções do produtor do texto sejam compreendidas pelo recebedor como forma de conscientização. Aliado a isso, temos
a situacionalidade, uma vez que o contexto vivenciado pelos leitores influencia para que a campanha funcione e a leitura
dele resulte em ação. É justamente a previsibilidade de informações dada pelo texto verbal que busca causar impacto e
conscientização pela linguagem não verbal: a cidade embaixo d’água, como uma placa de trânsito quase imersa, mostrando
a impossibilidade de trafegar, de transitar naturalmente.

1.3.5 Intertextualidade

Antunes (2009, p. 164) afirma que todo texto, na sua produção e na sua recepção, está ligado ao conhecimento que
os interlocutores têm acerca de outros textos previamente postos em circulação. Vejamos os exemplos:

Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos,Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou-se com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
(ANDRADE, 2013, p. 54)

Observamos que a leitura do primeiro texto fará mais sentido quando relacionarmos ao conteúdo do segundo. Para
aprofundar a análise, é necessário compreender as relações intertextuais com o poema “Quadrilha” de Carlos Drummond
de Andrade. Assim como no poema de Drummond, a postagem do Facebook aborda a dificuldade de encontrar um amor,
os desencontros de tantos. No entanto, diferente do desfecho do poema, o texto do Facebook faz uma crítica à dificuldade
de ser feliz no amor utilizando as redes sociais. Nesse sentido é que se justifica o uso de uma linguagem própria desse
suporte de comunicação.

1.3.6 Coerência

A coerência envolve não só aspectos lógicos e semânticos, mas também cognitivos, na medida em que depende
do partilhar de conhecimentos entre os interlocutores. Um discurso é aceito como coerente quando apresenta uma
configuração conceitual compatível com o conhecimento de mundo do recebedor. Para Beaugrande & Dressler (1981
apud MARCUSCHI, 2008, p. 121), a coerência relaciona-se à maneira com que “os conceitos e relações subjacentes ao
texto de superfície são mutuamente acessíveis e relevantes entre si, entrando numa configuração veiculadora de sentidos”.
Vejamos o exemplo, a seguir, usado por Irandé Antunes (2005, p. 174):

Subi a porta e fechei a escada.


Tirei minhas orações e recitei meus sapatos.
Desliguei a cama e deitei-me na luz
Tudo porque
Ele me deu um beijo de boa noite.
(Autor anônimo)

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Há sentido nesse texto? Como podemos atribuir coerência a ele? Certamente, o texto torna-se coerente quando
compreendemos que as ações realizadas derivam de um beijo de boa noite, algo que parece provocar o delírio daquele que
se pronuncia. Antunes (2005, p. 76) observa que “a coerência é uma propriedade que tem a ver com as possibilidades de o
texto funcionar como uma peça comunicativa, como meio de interação verbal”.
A coerência envolve não só aspectos lógicos e semânticos, mas também cognitivos, na medida em que depende
do partilhar de conhecimentos entre os interlocutores. Um discurso é aceito como coerente quando apresenta uma
configuração conceitual compatível com o conhecimento de mundo do recebedor. Vejamos o exemplo:

Fim de papo

Na milésima segunda noite,


Sherazade degolou o sultão.

SECCHIN, Antônio Carlos. Os cem menores contos brasileiros do século. Ateliê Editorial, 2004.

O miniconto acima necessita do conhecimento enciclopédico do seu leitor, uma vez que para compreender a pequena
história contada, é necessário compreender a intertextualidade estabelecida: o fato de que Sherazade é a personagem do
livro As mil e uma noites e que este miniconto parece dar continuidade à história a que se refere.
Em resumo, podemos dizer que vários recursos garantem a coerência do texto:

• a continuidade de sentido, caracterizada pela manutenção do assunto central e pelo desenvolvimento desse assunto
de modo progressivo e claro;
• a sequência lógica das ideias: das mais gerais às mais específicas ou o inverso;
• a manutenção da mesma pessoa verbal ao longo do texto;
• a adequação da variante linguística utilizada ao contexto da comunicação e ao gênero textual escolhido;
• a descrição espacial ordenada: dos dados mais próximos aos mais distantes ou o contrário;
• as indicações temporais, situando o assunto em relação a fatos anteriores ou posteriores;
• a adequação do título ao texto e as suas marcas linguísticas dadas pelo gênero.

1.3.7 Coesão

De acordo com Costa Val (2006, p.6), coesão é a manifestação linguística da coerência; advém da maneira como
os conceitos e relações subjacentes são expressos na superfície textual. Constrói-se através de mecanismos gramaticais
(pronomes, artigos, elipse, a concordância, as conjunções) e lexicais (reiteração, substituição e associação).
Koch (2010) classifica dois tipos de coesividade:
1) a coesão referencial: realizada por aspectos mais especificamente semânticos;
2) a coesão sequencial: realizada mais por elementos conectivos.

Halliday & Hasan (1976), ao definir coesão, apresentam-nos a metáfora do “laço” para mostrar que no texto cada
segmento precisa estar atado, preso, pelo menos a um outro. No entanto, é importante frisar que tais ligações não vão
acontecendo somente na superfície textual, ou, melhor dizendo, junto aos encadeamentos identificáveis na superfície,
acontecem outros no âmbito do sentido e das intenções pretendidas.
Por outro lado, sabe-se que a coesão não é nem necessária nem suficiente para garantir a textualidade. Disso
depende o gênero que está sendo produzido. Vejamos o exemplo:

Circuito fechado

Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete,
água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos,
gravata, paletó. Carteira, níquéis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras,
xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis,
telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis,
cigarro, fósforo. (RAMOS, 1978, p.21-22)

O trecho acima pode ser considerado um texto, mesmo que não apresente os mecanismos textuais para estabelecer
a coesão na superfície do texto. Os elementos de coesão não estão presentes, mas há sequência de substantivos justapostos
que levam a uma compreensão dos acontecimentos. Mesmo não apresentando a coesão, sabemos que se trata de um
conto que utiliza sequências narrativas e elementos peculiares como personagem, tempo, local e enredo. O que faz dessa
sequência de substantivos um texto é a coerência atribuída a ele pelo leitor, que aciona experiências dadas pelo contexto
para produzir sentidos.

15
Ainda é importante lembrar que, mesmo com a ausência de elementos de coerência, também é possível constituir
um texto quando o seu objetivo conseguir recuperar o seu aspecto de textualidade. Vejamos o exemplo a seguir:

Eu tinha lá em casa dez garrafas de cachaça, da boa. Mas minha mulher obrigou-me a jogá-las fora. Peguei a primeira garrafa,
bebi um copo e joguei o resto na pia. Peguei a segunda garrafa, bebi outro copo e joguei o resto na pia. Peguei a terceira garrafa bebi o
resto e joguei o copo na pia. Peguei a quarta garrafa, bebi na pia e joguei o resto no copo. Pequei o quinto copo, joguei a rolha na pia
e bebi a garrafa. Peguei a sexta pia, bebi a garrafa e joguei o copo no resto. A sétima garrafa eu peguei no resto e bebi a pia. Peguei no
copo, bebi no resto e joguei a pia na oitava garrafa. Joguei a nona pia no copo, peguei na garrafa e bebi o resto. No décimo copo, eu
peguei a garrafa no resto e me joguei na pia. (Autor desconhecido)
Fonte:<http://www.piadasnet.com/piada181bebados.htm>

A piada acima, mesmo apresentando alguns elementos coesivos, como as conjunções “mas” e “e”, bem como o
paralelismo sintático, fere algumas regras de coerência, pois quebra uma lógica semântica. Contudo, ao compreender o
propósito do texto – fazer humor – é impossível não admitir que temos uma sequência tipológica narrativa presente no
gênero piada ou anedota. O problema apresentado pelas relações semânticas é justificável porque temos um narrador
personagem não confiável por ter bebido e é exatamente isso que produz o humor.
As relações semânticas vão se estabelecendo nos textos a partir dos mecanismos coesivos que dão continuidade
de sentido, uma continuidade semântica que, segundo Irandé Antunes (2005), é expressa por relações de reiteração,
associação (coesão referencial) e relações de conexão (coesão sequencial). A autora distribui essas relações em um quadro,
o qual apresentamos abaixo:

Quadro 2: A coesão textual


Relações textuais Procedimentos (Campo 2) Recursos (Campo 3)
(Campo 1)
1.1.1 Paráfrase
1.1.2 Paralelismo
1.1 Repetição
1.1.3 Repetição - de unidades de léxico
propriamente dita - de unidades de gramática
Retomada por:
1.2.1 Substituição
A COESÃO DO TEXTO

- pronomes
1 Reiteração gramatical
- advérbios
retomada por:
1.2 Substituição 1.2.2 Substituição - sinônimos
lexical - hiperônimos
- caracterizadores situacionais
retomada por:
1.2.3 Elipse
- elipse
Seleção de pala- - por antônimos
2. Associação 2.1 Seleção lexical vras semantica- - por diferentes modos de relações de
mente próximas parte/todo
3.1 Estabelecimento de relações - preposições
sintático-semânticas entre Uso de diferentes - conjunções
3. Conexão
termos, períodos, parágrafos e conectores - advérbios
blocos supraparagráficos - e respectivas locuções

(ANTUNES, 2005, p. 51)

A seguir, discutiremos cada uma das relações textuais e seus procedimentos, bem como cada um dos seus respectivos
recursos:

1) A Reiteração

Segundo Antunes (2005, p. 52), “a reiteração é a relação pela qual os elementos dos textos vão de algum modo
sendo retomados, criando-se um movimento constante de volta aos segmentos prévios”. Segundo a autora, é isso que
assegura ao texto a continuidade de seu percurso. A reiteração apresenta dois procedimentos: repetição e a substituição,
sobre as quais passaremos a discorrer a seguir:

a) Repetição

A repetição, enquanto procedimento coesivo, inclui os seguintes recursos: a paráfrase, o paralelismo, a repetição
propriamente dita.

16
• A paráfrase

A paráfrase é um recurso que utilizamos sempre que “voltamos a dizer o que já foi dito antes, porém, com outras palavras,
como se quiséssemos traduzir o enunciado, ou explicá-lo melhor” (ANTUNES, 2005, p. 62). Esse recurso é recorrente em
textos explicativos, sejam eles orais ou escritos. Observe que as paráfrases são introduzidas por expressões como: em outras
palavras, em outros termos, isto é, quer dizer, ou seja, melhor dizendo, em resumo, em suma, em síntese, isso significa, o que quer dizer que.
Vejamos o uso da paráfrase nos trechos abaixo:

O que é suposto (como em filmes e livros de ficção científica como a “A Guerra dos Mundos”) é que as leis da evolução e a
sobrevivência do mais forte dita o comportamento de todos os seres inteligentes do Universo. Em outras palavras, mesmo criaturas
inteligentes não podem escapar dosseus instintos animais: onde há vida, o instinto assassino reina.
GLEISER, Marcelo. Conquistando o instinto assassino. Folha de São Paulo. 09/01/2011.

No exemplo, a expressão destacada - em outras palavras - explica o conteúdo do período, anterior. A paráfrase, que
tem início no segundo período do parágrafo, reformula com outras palavras o conteúdo do primeiro período, procurando
apresentar mais clareza, ser mais explícito.

• O paralelismo

O paralelismo está ligado “à coordenação de segmentos que apresentam valores sintáticos idênticos, o que nos
leva a prever que os elementos coordenados entre si apresentem a mesma estrutura gramatical” (ANTUNES, 2005, p. 64).
Vejamos os exemplos dados pela autora para compreender melhor esse conceito:

“É conveniente chegares cedo e trazeres o relatório pronto”.


“É conveniente que chegues a tempo e que tragas o relatório pronto”.

As duas frases apresentam segmentos coordenados entre si, com a mesma estrutura sintática, garantindo o
paralelismo. Se disséssemos “É conveniente chegares a tempo e que tragas o relatório pronto”, quebraríamos o paralelismo, quebrando
a harmonia dos enunciados, o que os torna menos aceitáveis do ponto de vista sintático e estilístico.
Também é comum usarmos estruturas paralelas no processo de adição, com expressões como: não só... mas também,
não apenas... mas ainda, tanto... quanto. Outro momento em que o paralelismo deve ser garantido é quando se quer indicar uma
série de elementos complementares de um mesmo termo. Vejamos isso no exemplo abaixo:

Fonte:<http://aescritanasentrelinhas.com.br/2011/02/21/interpretacao-de-tirinhas-calvin/>
Fonte: <http:\www.aescritanasentrelinhas.com.br>

Observe que no segundo quadrinho, Calvin constrói orações em sequência que complementam o mesmo termo e
que poderiam ser assim esquematizadas:

desenvolver as habilidades motoras para segurar um giz-de-cera


Imagine o trabalho que foi →
→ colocar sua ponta sobre o papel

imprimir-lhe movimentos conscientes e coordenados

Quanto ao paralelismo, podemos observar a construção de dois tipos: o sintático e o semântico:

• Paralelismo sintático

Para estabelecer o paralelismo sintático, duas orações coordenadas ou dois termos coordenados (ligados pelos

17
conectivos aditivos e alternativos) devem ter a mesma estrutura sintática. Exemplos:

► Falava-se da presença de conservadores no Senado e da ausência de inovação no Congresso.

da presença de conservadores no Senado


Falava-se →
→ e
da ausência de inovação no Congresso.

As duas orações coordenadas são informações vinculadas ao verbo falar (falava-se), isto é, completam o sentido
desse verbo. Ambas possuem a mesma estrutura sintática.

• Paralelismo semântico

Para constituir paralelismo semântico, duas orações coordenadas ou dois termos coordenados devem pertencer a
um mesmo campo semântico. Trata-se de coerência entre as informações veiculadas por esses elementos coordenados.
Exemplo:

“Fui submetido a duas cirurgias: uma em São Paulo, outra no Rio de Janeiro”
“Maria é muito bonita: tem cabelos negros, olhos azuis e nariz arrebitado”.

Agora, observemos os exemplos de falta de paralelismo:

Ele gosta de livros de ficção e de ovo mexido.

José vai fazer duas operações: uma em Brasília e outra no ouvido.


Não sei se caso ou se compro uma bicicleta.
“Marcela amou-me durante 15 meses e 11 contos de réis”. (Machado de Assis)

Nos exemplos, percebemos que há uma quebra semântica na construção dos elementos que constituem a oração.
No último exemplo, o uso é intencional, uma vez que se quer produzir ironia.

• A repetição propriamente dita

A repetição corresponde à ação de fazer reaparecer uma unidade já usada no texto: uma palavra ou frase inteira.
Normalmente, esse recurso é usado para marcar a ênfase que se pretende atribuir a um determinado segmento. Vejamos:

EXEMPLO 1:

Irene no Céu

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:


- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

BANDEIRA, Manuel. Estrela da Manhã, 1936.

EXEMPLO 2:

– “Eles estão atirando em nós”.A frase atravessa vídeos sobre o massacre dos professores, executado pela Polícia Militar do
Paraná, em 29 de abril. Professores desmaiam, professores passam mal com as bombas de gás lacrimogêneo, professores são feridos
por balas de borracha.
BRUM, Eliane. Humilhar e ignorar professor pode. Sufocar e ferir não. El País. 11/05/2015.

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O efeito enfático também se alcança quando repetimos uma palavra homônima homógrafa homófona – palavra
com sentidos diferentes, mas grafia e pronúncia iguais – explorando seus sentidos.

• Direito tem quem direito anda.


• O partido nunca esteve tão partido.
• Metade à vista e a outra metade a perder de vista.
• Cuide bem do seu maior bem.
In: ANTUNES, 2005, p. 73.

Nos exemplos, a palavra repetida é explorada em seu aspecto semântico pela sua possibilidade de mais de um
sentido a partir do contexto em que está inserida. Assim, não há problema de construção, mas uma repetição que intenciona
brincar com o significado das palavras.
Ainda é importante observar que em alguns textos a repetição passa a ter uma função relacionada à sua
intencionalidade, como no texto de Millôr Fernandes:

A senhora, uma dona de casa, estava na feira, no caminhão que vende “galinhas”. O vendedor ofereceu a ela uma “galinha”. Ela
olhou para a “galinha”, passou a mão embaixo das asas da “galinha”, apalpou o peito da “galinha”, alisou as coxas da “galinha”, depois
tornou a colocar a “galinha” na banca e disse para o vendedor “Não presta!” Aí o vendedor olhou para ela e disse: “Também, madame,
num exame assim nem a senhora passava”.
FERNANDES apud ANTUNES, 2005, p. 76.

A repetição da palavra “galinha” tem a intenção de provocar nos leitores a mesma sensação de desagrado que o
vendedor teve após o detalhado exame feito pela senhora. Assim, a repetição é um recurso utilizado propositalmente pelo
autor.

b) Substituição

Para produzirmos um texto lançamos mão de recursos de referenciação não só pela repetição, mas também pela
substituição. Na nossa língua temos diferentes recursos para substituir o termo já mencionado, evitando a repetição.
Vamos a eles:

• A substituição gramatical

Conforme Antunes (2005, p. 86), “os pronomes constituem uma classe particular de expressões referenciais, isto
é, de expressões pelas quais nos referimos às coisas e às pessoas”. Os pronomes funcionam no texto como ligação entre
diferentes segmentos, possibilitando reiteração e continuidade. Leia a tira da Mafalda para compreender melhor esse
mecanismo:

Fonte:<http://clubedamafalda.blogspot.com.br/2006_01_01_archive.html#.VWkg4NJViko>

No primeiro balão Mafalda usa o pronome pessoal “ela”, para referir-se à mãe. No segundo balão, a contração
“nela” também faz referência ao substantivo “mãe”.
No entanto, não só os pronomes pessoais servem para substituição. Também os pronomes demonstrativos,
possessivos, relativos e indefinidos podem cumprir este papel na construção de um texto. Além deles, podem realizar esta
tarefa os advérbios e os numerais. Observe outros exemplos:

• “O trabalho que eu fiz mereceu destaque”.


Pronome relativo, retomando o termo “trabalho” e ligando as orações.
• “Tenho dois objetivos: o primeiro é ingressar na universidade; o segundo, arrumar um bom emprego”.
Numerais que substituem os respectivos “objetivos”.

19
• “Moramos no Brasil. Aqui, as leis não são respeitadas como deveriam”.
Advérbio retomando o substantivo próprio “Brasil”.
• “Vi João do outro lado da rua. Chamei-o, disse-lhe o que pretendia. Ele acolheu minha ideia e ajudou-me”.
Pronomes que retomam o nome “João”.
• “O Brasil é um país onde o incentivo à cultura é primordial”.
Pronome relativo que retoma o substantivo “Brasil”.
• “Peço-lhe apenas isto: que não se perca”.
Pronome demonstrativo que anuncia o que será descrito na sequência.
• “Comprei um livro cujo título me atraiu”.
Pronome relativo que relacionar dois nomes: “livro” e “título”, referindo-se aos dois.
• “Aquela é a mulher sobre a qual eu falei”.
Pronome relativo que retoma o substantivo “mulher”.
•“Ontem, viajei para a Itália. Lá, conheci muitas pessoas”.
Advérbio que se refere ao substantivo “Itália”.

• A substituição lexical

Conforme Antunes (2005, p. 96), a substituição lexical “indica o uso de uma palavra pela outra que lhe seja
textualmente equivalente”. O que se deve observar é que, na construção de um texto, substituir uma palavra por outra não
significa apenas eliminar repetições, mas é um ato de interpretação, de análise, pela escolha lexical que se faz dos termos
utilizados e que produzem sentidos no texto.
Para utilizarmos este recurso, podemos usar sinônimos, hiperônimos1 e expressões descritivas, chamadas por
Antunes (2005) de caracterização situacional. Vejamos os exemplos:

Exemplo 1: SINÔNIMOS
“O combate à inflação, a luta pelo equilíbrio orçamentário, a batalha da moralização da coisa pública (...) estão sendo levados
a sério” (Diário de Pernambuco, 01/10/1969)

Exemplo 2: HIPERÔNIMOS
“Graças a Deus eu não experimentei a força e eficiência do air bag, pois nunca fui vítima de um acidente. Mas sou totalmente
a favor do equipamento. Jamais soube de casos em que pessoas que dirigiam um carro com esse dispositivo tiveram um ferimento
mais grave. (...)Na compra de um automóvel, o brasileiro deve levar em conta os diversos parâmetros de segurança, e não somente a
disponibilidade do air bag. Este último item, sozinho, não pode ser considerado o “salvador da pátria”. (Isto é, 1996)

Exemplo 3: CARACTERIZAÇÃO SITUACIONAL


“A sua ligação é muita importante para nós, não desligue.” Do outro lado da linha, vermelho de raiva e com ímpetos de entrar
pelo telefone para agredir a voz incorpórea, o consumidor – impotente – bufa e desiste. Sente-se um palhaço, sem picadeiro nem
aplausos. Repetida à exaustão e seguida de uma música que a ocasião torna insuportável, a mensagem gravada pode ser considerada
uma prova de pouco caso com o consumidor. Afinal, ela parece prever uma longa espera para quem está do outro lado da linha. A cena,
comum, indica que as facilidades tecnológicas e o atendimento preferencial apregoados aos quatro ventos pelas empresas fornecedoras
de produtos e serviços podem transformar-se num grandíssimo engodo. (Isto É, 7/02/2001, p.80)
In: ANTUNES, 2005.

Em todos os exemplos, a substituição lexical acontece de forma a guardar em si relação de sinonímia (Exemplo
1: combate, luta e batalha), apresentando o mesmo sentido; relação de hiperonímia (Exemplo 2: air bag, equipamento,
dispositivo, item) dentro dos limites da generalidade que tal relação admite e; relação de equivalência (Exemplo 3: mensagem
gravada e cena), dada por algum tipo de caracterização situacional, sendo possível identificar o referente.

• A retomada por elipse

A elipse é definida como uma omissão de um termo identificável através do contexto. De acordo com Antunes
(2005, p. 118), como “recurso coesivo, a elipse corresponde a uma estratégia de omitir um termo, uma expressão ou até
mesmo uma sequência maior já introduzida em outro segmento do texto”, mas recuperável pelo contexto. Vejamos o
exemplo:

“Setores de Inteligência e Segurança do governo e das Forças Armadas manifestam preocupação com a falta de tempo para a
elaboração da legislação. Há hoje seis projetos tratando do tema em análise na Câmara dos Deputados. O[projeto] mais antigo é de
1991, e o[projeto] mais recente foi apresentado em 2012.”.
Fonte: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrissima/100122-a-espera-dos-barbaros.shtml>.

No trecho do texto que serve como exemplo, a palavra “projeto” é omitida, mas facilmente identificada, uma vez
1
Hiperônimo é o nome que se dá na semântica ao termo cujo sentido inclui aquele (ou aqueles) de um ou de vários outros termos, chamados hipônimos.
Um hipônimo é uma palavra que carrega o significado específico de outra; por exemplo, mamão ou manga estão em relação de hiponímia relativamente
à fruta.

20
que aparece no período anterior.

2) A Associação

A associação acontece graças à ligação de sentido entre as diversas palavras presentes. Ao escrevermos um texto,
usamos “palavras de um mesmo campo semântico ou de campos semânticos afins” (ANTUNES, 2005, p. 53) que criam e
sinalizam as relações que se estabelecem no texto. Uma vez que um texto é marcado pela unidade temática, a proximidade
semântica é condição para as palavras usadas no texto. O procedimento usado na construção do texto para a associação
é a seleção lexical.
A música de Gilberto Gil deixa clara essa relação:
Pela Internet
Para abastecer
Criar meu web site Eu quero entrar na rede
Fazer minha home-page Promover um debate
Com quantos gigabytes Juntar via Internet
Se faz uma jangada Um grupo de tietes de Connecticut
Um barco que veleje Eu quero entrar na rede
Criar meu web site Promover um debate
Fazer minha home-page Juntar via Internet
Com quantos gigabytes Um grupo de tietes de Connecticut
Se faz uma jangada De Connecticut de acessar
Um barco que veleje O chefe da Mac Milícia de Milão
Que veleje nesse informar Um hacker mafioso acaba de soltar
Que aproveite a vazante da infomaré Um vírus para atacar os programas no
Que leve um oriki do meu velho orixá Japão
Ao porto de um disquete de um micro Eu quero entrar na rede para contatar
em Taipé Os lares do Nepal, os bares do Gabão
Um barco que veleje nesse infomar Que o chefe da polícia carioca avisa
Que aproveite a vazante da infomaré pelo celular
Que leve meu e-mail até Calcutá Que lá na praça Onze
Depois de um hot-link Tem um videopôquer para se jogar.
Num site de Helsinque GIL, Gilberto. Quanta: Waner, 1997.

É possível perceber na música uma unidade de sentido, mesmo que haja uma brincadeira de linguagem ao comparar
o ato de navegar original à navegação virtual. Isso se faz pela associação de palavras que pertencem a um mesmo campo
semântico, ou seja, palavras que possuem correspondência entre os significados, todas relacionadas pelo eixo temático da
música: a internet, em que se associam as palavras em negrito no texto acima. Ao mesmo tempo, a música constrói outro
eixo temático: o de viajar, velejar, atravessar o mundo navegando, em seu duplo sentido. Nesse eixo, aparecem palavras
associadas, as quais estão em itálico no texto.

3) A Conexão

A conexão, conforme Antunes (2005, p. 54), “corresponde ao tipo de relação semântica que acontece
especificamente =entre as orações e, por vezes, entre períodos, parágrafos ou blocos supraparagráficos”. São os conectores
que desempenham uma função muito importante para o estabelecimento de conexão e que garantem a coesão sequencial,
como é classificada por Koch (2010). A conexão sintático-semântica é o procedimento utilizado nesta relação textual.
Vejamos a tira da Mafalda para compreendermos este mecanismo:

Fonte: <https://cronicasurbanas.wordpress.com/tag/mafalda/>.

21
Na tira da Mafalda, as frases ditas pelo Manolito são conectadas pelas conjunções “se” e “mas”, estabelecendo
sentidos de condição e de oposição. A conexão sequencial se efetua por meio de conjunções, o que pode ser feito também
por locuções conjuntivas e preposicionais, bem como por alguns advérbios e locuções adverbiais. Nas conexões, as relações
semânticas vão sendo estabelecidas, estas são tidas como os valores semânticos que as conjunções expressam. Abaixo,
mostramos um quadro- síntese2 dos conectores e os sentidos que são produzidos por eles no texto:

Quadro 3: Conectores e seus valores semânticos

EXPRESSÕES CONECTIVAS: DO TIPO VALORES SEMÂNTICOS


ARGUMENTATIVO OU DO TIPO MARCADO-
RES/ORGANIZADORES TEXTUAIS
Em primeiro lugar, primeiramente, notadamente,
antes de mais nada, antes de tudo, acima de
Prioridade ou relevância
tudo, em particular, principalmente, sobretudo,
primordialmente, prioritariamente
Em cima, acima, abaixo, adiante, na base, mais acima,
Distribuição espacial
em um segundo nível etc.
Assim, desse modo, dessa forma, dessa maneira; isto
Confirmação, ilustração, justificação
é, quer dizer, a saber, por exemplo, pois, que
E, ainda, assim como, aliás, além disso, além do mais,
além de tudo, não só […] mas também, não apenas Acréscimo de um dado novo, de um argumento, adição, enumeração
[…] mas ainda, enfim, nem (para adição de segmen- de itens
tos negativos ou privativos)
Quanto a, em relação a, no que concerne a, a
Abertura ou mudança de tópico
propósito
Ou Alternância ou disjunção
Isto é, ou seja, quer dizer, por exemplo Exemplificação
Ou, ou melhor, ou antes, dito de outro modo, em
Reformulação, precisão, correção ou retificação do que foi dito antes
outras palavras, mais precisamente
De fato, na verdade, na realidade, com efeito,
Confirmação, admissão
efetivamente, afinal, com
Mas, porém, contudo, no entanto, entretanto, por ou-
tro lado, em compensação, enquanto que, ao passo Oposição, contraste, restrição
que
Mesmo, até, até mesmo, no máximo (situam no topo
da escala); ao menos, pelo menos, no mínimo (situam Gradação
no plano mais baixo da escala)
Porque, como, pois, porquanto, por causa de, em vir-
tude de, uma vez que, já que, em vista de, dado que, Causalidade
desde que, visto que, visto como
De modo que, de maneira que, de sorte que, por con-
seguinte, por isso, consequentemente, em consequ- Consequência
ência disso, daí, em decorrência disso, com isso
A fim de que, para que, com o propósito de, com a
pretensão de, com a intenção de, com o objetivo de, Finalidade
com a finalidade de, com o intuito de
Embora, conquanto, ainda que, apesar de que, ainda
assim, mesmo que, a despeito de, não obstante, se Concessão
bem que, por mais que
Logo, portanto, então, assim, em conclusão, desse
Conclusão
modo, dessa forma, enfim, com base em, posto isso
Como, tanto quanto, tanto como, mais que, menos
que, tal qual, tal como, do mesmo modo que, na Comparação
mesma medida em que
Provavelmente, talvez, quem sabe, será que Eventualidade

2
O quadro aqui exposto é um resumo das classificações estabelecidas por Antunes (2006, p.138 -140) e retirado de PAIVA, SILVA e COSTA. As relações
semânticas sinalizadas pela conexão nos textos dos Alunos do curso FIC – Nova Cruz. Disponível em: <http://www2.ifrn.edu.br/ocs/index.php/
congic/ix/paper/view/1208/78>. Acesso em 22/05/2015.

22
Conforme, segundo, consoante, de acordo com,
Aceitação, conformidade
como
Se, caso, a menos que, salvo se, exceto se, a não ser
Condicionalidade, formulação de hipóteses
que, contanto que, desde que, sem que
Por esta categoria pode-se indicar: tempo anterior
(antes que, primeiro que, desde que); tempo poste-
rior (depois, a seguir, pós, em seguida, daqui a pouco,
mais tarde, até que); tempo imediatamente posterior
(logo que, mal, apenas, nem bem); tempo simultâneo
(quando, enquanto, ao mesmo tempo em que, duran-
te o tempo em que); tempo proporcional (à medida
que, à proporção que, enquanto); tempo inicial (logo
que, assim que, desde que, desde quando, mal, ape-
nas); tempo terminal (até que, até quando); tempo Temporalidade
pontual (agora, hoje, agora que, hoje que, atualmente,
nesse momento); ações reiteradas (cada vez que, toda
vez que, sempre que); ações frequentes (às vezes, por
vezes, de vez em quando, com frequência, frequen-
temente, habitualmente, assiduamente, regularmente,
normalmente, sempre); ações raras (esporadicamen-
te, eventualmente, casualmente, por acaso); ações
pontuais (agora, já nesse instante); ações durativas
(enquanto, todo o dia, o mês inteiro, a tarde toda).

O quadro acima é muito importante para nossos estudos nesta disciplina, uma vez que mostra os conectores e os
sentidos produzidos por eles quando usados em um texto. Compreender isso significa instrumentalizarmo-nos para os
processos de leitura e de escrita, pois no ato de ler, necessitamos compreender a articulação das ideias que são mostradas
também por esses mecanismos, bem como poderemos nos utilizar deles para a produção dos nossos textos. Para finalizar,
vamos realizar a leitura do texto abaixo:

O afeto autoritário

Tenho defendido as novelas. Contra a opinião de muitos colegas da Universidade, sustento que elas têm papel
positivo na transmissão de certos ideais, em especial o da igualdade da mulher em relação ao homem e o da condenação
do preconceito de raça.
É claro que a TV é menos profunda ou pioneira que os grupos feministas ou de consciência indígena ou negra –
mas só ela pode levar uma ideia, um nome de livro, um comportamento a 50 ou 60 milhões de pessoas.
Mas, justamente porque defendo o que é positivo nas novelas, devo criticar o afeto autoritário que nelas se vê.
Penso no despotismo do patrão sobre os empregados, e da patroa sobre a doméstica negra. Um personagem como
Pedro (José Mayer) em Laços de família não respeita as pessoas – e no entanto é, globalmente falando, mais simpático que
antipático. A TV ainda tolera condutas que socialmente se tornaram inaceitáveis.
Uma novela precisa ter personagens de várias classes sociais. Se não tiver pobres, classe média e ricos, não atingirá
todos os públicos. E a comunicação entre essas classes se dá sobretudo pelo amor. Isso faz parte das regras do gênero e
não vou contestá-las aqui.
O problema, porém, é que no contato entre os ricos e os pobres desponta um autoritarismo que acabamos
aceitando, os espectadores, graças a um enredo que faz das personagens despóticas figuras agradáveis, humanas, quase
positivas.
Por que essa simpatia, ou tolerância, com os minidéspotas do dia a dia? Nossa sociedade nunca liquidou seu legado
autoritário. Quando se aboliu a escravidão, não houve um projeto de cidadania para os negros. Ao contrário, tudo servia
de pretexto para reprimi-los – por exemplo, a capoeira, os cultos afro-brasileiros, que eram caso de polícia.
Nosso knowhow de relações sociais ainda tem um quê da escravatura. Aceitamos muitas vezes que o elemento
descontraído, simpático, afetuoso venha junto com uma centelha de autoritarismo. Lembremos como Lima Duarte se
especializou em fazer clones de Sinhozinho Malta – o fazendeiro de Roque Santeiro (1985-86), que simbolizava todo o
entulho da ditadura militar sobrevivendo no regime civil.
Mesmo quando a TV valoriza a mulher perante o homem, seu limite de atuação é a sociedade de consumo. Nossa
televisão é muito mais consumista que as europeias. Quem tem vale mais do que aquele que não tem. E por isso o patrão
muitas vezes trata mal o empregado.
Isso é tão comum que às vezes nem se percebe. Sugestão: prestem atenção no modo como as pessoas são
servidas à mesa, nas novelas. Verifiquem se agradecem à empregada, se dizem por favor. É mais provável que lhe dirijam
alguma palavra atravessada – e que isso acabe passando, não digo como bom, mas como natural ou comum.

23
O Brasil vai melhorar do autoritarismo quando esse tipo de conduta não for mais aceito, quando não suscitar
mais sorriso, sequer amarelo, mas causar repulsa ou pelo menos estranheza. Quando não nos reconhecermos mais, ou
não reconhecermos mais nosso país, no recorte que trata os mais pobres como desprovidos de direitos, e até mesmo do
direito elementar de ouvir, sempre, por favor e obrigado.
Isso é pouco? Não acho. Há vários modos de ajustar contas com um passado detestável. Um deles é mexer nos
pequenos gestos, percebendo que nossos valores não são coisa muito abstrata, mas se exprimem em nosso modo de guiar
o carro ou de tratar a pessoa do lado. O mesmo vale para a TV – e, quando ela não agir bem, devemos cobrar isso dela.
Melhorar o país dá trabalho. Isso inclui reclamar pelo que achamos justo.

Renato Janine, 17 de dezembro de 2000.

Fonte: <http://www.renatojanine.pro.br/tv/afeto.html>

Assim, é possível dizer que, quando produzimos textos, combinamos uma série de recursos coesivos, sejam eles de
reiteração, associação ou conexão.

1.5 Atividades de Aprendizagem

Para retomar as concepções trabalhadas nesta unidade, preencha os quadros abaixo como forma de síntese:

QUADRO 1- CONCEITOS INICIAIS

CONCEITO
Língua
Linguagem
Texto
Discurso

QUADRO 2: FATORES DE TEXTUALIDADE

CONCEITO
Intencionalidade
Aceitabilidade
Situacionalidade
Informatividade
Intertextualidade

1.6 Síntese

Nesta unidade, trabalhamos com os aspectos de língua e linguagem, discurso e texto, observando os fatores de
textualidade – aceitabilidade, informatividade, intencionalidade, situacionalidade, intertextualidade, coesão e coerência -
bem como os diversos enfoques feitos por autores da área. É importante ver como, em cada aspecto, encontramos
complementos para orientar o que se entende por comunicar-se, por usar o discurso como instrumento de comunicação,
por produzir um texto que comunica em um determinado contexto com propósitos e variabilidade de recursos linguísticos.
Quanto aos dois últimos fatores de textualidade estudados, reforçamos a necessidade de compreendê-los no texto,
assim como utilizá-los no momento da produção textual como recursos que garantam a compreensão do texto pelos
leitores.

1.7 Aprofundando o conhecimento

Para aprofundar o conhecimento acerca do texto e sua textualidade na produção de sentidos, sugerimos a leitura
do livro de Ingedore Koch: Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.

24
1.8 Exercícios de aplicação

EXERCÍCIO 1

Os trechos a seguir foram retirados do livro Curso de redação, de Antônio Suárez Abreu, constando de uma seção de
exemplos de incoerência textual, que figuram como estratégia de humor em O melhor do besteirol, de Petrás (1995). Leia os
textos abaixo e explique a incoerência existente:

a. “É realmente apropriado que nos reunamos aqui hoje, para homenagear Abraham Lincoln, o homem que nasceu numa
cabana de troncos que ele construiu com suas próprias mãos” (Político, em um discurso, homenageando Lincoln).

b. “Damos cem por cento na primeira parte do jogo e, se isso não for suficiente, na segunda parte damos o resto” (Yogi
Berra, jogador norte-americano de beisebol, famoso por suas declarações esdrúxulas).

c. “Quando um grande número de pessoas não consegue encontrar trabalho, o resultado é o desemprego” (Calvin Coolidge,
presidente americano em 1931).

d. “[...] este Conselho resolve: a) que uma nova cadeia seja construída; b) que a nova cadeia seja construída com os materiais
da velha cadeia; c) que a velha cadeia seja usada até que a nova esteja pronta” (Resolução da Junta dosConselheiros, Canto,
Mississipi, 1800).

e. “Por que deveriam os irlandeses ficar de braços cruzados e mãos nos bolsos enquanto a Inglaterra pede ajuda?” (Sir
Thomas Myles, falando em um comício em Dublin, em 1902, sobre a guerra dos Boeres).

f. “Acho que os senhores pensam que, em nossa diretoria, metade dos diretores trabalha e a outra metade nada faz. Na
verdade, cavalheiros, acontece justamente o contrário” (Diretor de empresa, defendendo os membros de seu staff).

EXERCÍCIO 2:

Leia o texto abaixo e localize as palavras e expressões que funcionam como reiteração, associação ou conexão.
Depois, distribua-as no quadro abaixo, explicitando o que foi retomado ou os sentidos produzidos:

IMIGRAÇÃO ORGANIZADA É MAIS HUMANITÁRIA

Um país formado por imigrantes não pode negar receptividade humanitária para estrangeiros que buscam sobrevivência e vida
digna em seu território, mas para garantir uma acolhida eficaz é preciso de um mínimo de organização. A chegada crescente de haitianos
e africanos exige uma política de imigração clara e transparente, além de mobilização efetiva das autoridades para que a legislação seja
cumprida e para que os migrantes tenham oportunidades efetivas e não venham apenas engrossar o cinturão de miséria que cerca as
grandes cidades brasileiras.
Trata-se de um tema complexo, que não pode ser encarado com simplificações. Em primeiro lugar, é urgente acionar os
mecanismos diplomáticos internacionais e os organismos policiais para controlar o tráfico humano e a clandestinidade. Para tanto, o
ingresso de estrangeiros nas fronteiras brasileiras precisa ser efetivamente fiscalizado - evidentemente, sob a ótica de respeito aos direitos
humanos, mas também de combate ao crime.
Outras preocupações devem ser evitar que os estrangeiros sejam jogados de um lado para o outro e também fiscalizar as relações
trabalhistas para que não sejam explorados por empregadores inescrupulosos. Se as autoridades e lideranças da sociedade não agirem
logo, com organização e não com improvisos, poderá crescer o já latente sentimento de rejeição e xenofobia que começa a aflorar nas
redes sociais, num momento em que muitos brasileiros também se preocupam com o desemprego e com a deterioração das condições
de vida no país.
(Zero Hora, Editorial, 27 de maio de 2015)

Palavras ou expressões utilizadas


Reiteração
Conexão

EXERCÍCIO 3:

Observe o termo negritado e o sublinhado. Localize outras palavras ou recursos que os retomam, ao longo do
texto abaixo:

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1) Dona Benta, como todo e qualquer leitor competente, aliás, como todo e qualquer usuário competente da língua escrita
e oral, é poliglota, isto é, transita com facilidade do estilo clássico de Castilho para o estilo coloquial de sua plateia. Mas
tem plena consciência de que ambas as modalidades são diferentes, e que sua responsabilidade, como iniciadora de jovens
na prática da leitura, é levá-los até o classicismo de Castilho. (LAJOLO, Marisa. “Lobato, um Dom Quixote no caminho
da leitura”. São Paulo: Ática, 1993, p. 102-103)

B) A campeã do ENEM, uma escola do Piauí, demonstra na prática aquilo que os acadêmicos do mundo inteiro afirmam
há décadas: investir nos professores é condição necessária para o bom ensino. Resta às autoridades brasileiras disseminar
o exemplo vindo do Piauí e estendê-lo a outras escolas. (VEJA. São Paulo: 28 fev. 2007, p. 7)

C) A malária mata 3 milhões de pessoas por ano. Apesar disso, faz parte do rol das doenças negligenciadas, sobre as quais
não há pesquisas suficientes. A boa notícia é que a Fiocruz lançou um remédio contra a malária que requer menos tempo
de tratamento e provoca menos efeitos colaterais. (VEJA. São Paulo, 21 maio de 2008, p. 44)

D) Existem hoje no Brasil 21 milhões de pessoas que fazem uso regular internet. Dessas, 30% relatam pelo menos um caso
em que a rede lhes causou alguma espécie de prejuízo. (VEJA. São Paulo, 28 jun. de 2008, p. 104)

E) Entre as várias definições possíveis para a profissão de artista, existe uma que se aplica perfeitamente ao brasileiro Hélio Oiticica.
Singela, a analogia está nas cartilhas das escolas públicas italianas e diz que os verdadeiros gênios da arte são seres que
não andam, mas levitam, tendo, assim, uma visão excepcional do mundo (MORESCHI, Bruno. “A hora e a vez de Hélio
Oiticica”, em Bravo. São Paulo: maio 2009, p. 54).

F) Ao ser contratado por uma universidade americana, o professor tem um prazo de sete anos para mostrar a que veio. No
fim desse período, uma comissão avalia cada linha de seu histórico profissional [...]. (Revista Veja. São Paulo, 28 jun. 2008,
p. 162)

EXERCÍCIO 4:

O exercício que segue foi retirado do livro Leitura e Produção Textual: Gêneros textuais do argumentar e do expor, de
Köche, Boff e Marinello (2010), com algumas adaptações.
Preencha as lacunas dos dois próximos textos utilizando mecanismos de conexão de produzam os sentidos
solicitados nos parênteses:

TEXTO 1: CURIOSIDADES DO MUNDO ANIMAL


A zebra é branca com listras pretas ou preta com listras brancas?

_____________ (conformidade) os biólogos, as zebras são brancas com listras pretas, e não o contrário. A informação pode
ser confirmada observando-se a barriga da zebra de grevy (eqqusgrevy), que é toda branca, com as estreitas listras pretas cobrindo o
resto do corpo.
Os exemplares da espécie não são iguais. Cada indivíduo tem seu padrão diferente de listras, similares às digitais dos seres
humanos, às pintas das girafas ou às listras dos tigres.
As listras das zebras são excelentes para a camuflagem. ____________ (tempo) elas andam em grupo, o preto e o branco
dificultam a visão do seu principal predador, o leão. “___________ (tempo) percebem a presença do predador, elas correm em grupo
de um lado para o outro, fazendo com que o leão, que enxerga em preto e branco, não consiga determinar a sua posição exata. Ele não
sabe onde começa ou termina uma zebra. Normalmente ele acaba errando o bote ___________(causa) não identificar o animal que irá
atacar”, informa o biólogo Guilherme Domenichelli, da Fundação Parque Zoológico de São Paulo.
____________ (comparação) o cavalo, seu parente próximo, a zebra é muito ágil, o que lhe facilita a fuga do seu predador,
que precisa atacar direto em seu pescoço ____________(finalidade) imobilizá-la. No contato com outros animais ou pessoas, ao
contrário dos cavalos, elas são bem selvagens, podendo até morder ou dar coices, ____________ (oposição) a primeira reação é fugir
(“Curiosidades do mundo animal” Correio Riograndense, Caxias do Sul, 23 abr. 2008. Correio sabe-tudo, p. 15).

TEXTO 2: MORCEGOS VIVEM DE CABEÇA PARA BAIXO


Por que os morcegos ficam de cabeça para baixo?

Essa posição facilita a saída para o voo. Várias estruturas desses animais sofreram mudanças durante sua evolução, em um
período de cerca de 50 milhões de anos, ___________(finalidade) adquirissem o hábito de voar.

26
Os morcegos se desprendem do local onde estão, abrem as asas, planam e, ___________(tempo), batem as asas. ____________
(finalidade) esses animais possam ficar de cabeça para baixo por longos períodos, houve a rotação em 180 graus dos seus membros
inferiores: ___________(esclarecimento), as plantas dos pés desses animais se voltaram para frente.
A circulação do sangue ____________(inclusão) foi modificada. Artérias e veias têm válvulas que, ao serem contraídas, fazem
o sangue circular para cima, o que garante que todos os órgãos do corpo recebam oxigênio ____________ (inclusão) quando ele está
de cabeça para baixo.
____________(adição), os tendões permitem que os morcegos prendam-se firmemente pelas ganas dos pés a qualquer lugar.
Os morcegos podem ser encontrados pendurados de cabeça para baixo ____________(inclusão) quando estão mortos. A musculatura
e a força imposta pelos tendões permanecem mesmo após a morte. É ____________ (adição) nessa posição que os morcegos têm seus
filhotes (“Curiosidades do mundo animal”. Correio Riograndense, Caxias do Sul, 23 abr. 2008. Correio sabe-tudo, p. 15).

EXERCÍCIO 5:

O exercício que segue foi retirado do livro Leitura e Produção Textual: Gêneros textuais do argumentar e do expor, de
Köche, Boff e Marinello (2010).
Empregue o conector adequado, observando a relação de sentido.

a) A vida é um milagre, ___________viver é uma graça. (conclusão)


b) As rosas não falam, ___________exalam perfume. (oposição)
c) Desde pequeno eu leio, ___________ escrevo bem. (causa e consequência)
d) Terás sucesso na vida, ___________te esforçares. (condição)
e) Próspero é uma palavra proparoxítona, __________é acentuada. (conclusão)
f) Alimentar-se de forma incorreta causa problemas ___________ graves _____________ o vício do fumo. (comparação)
g) ___________Frei Galvão, é preciso ser forte, ter coragem, viver em união e confiar na Providência Divina. (conformidade)
h) ___________ estudas, ___________ não atingirás teus objetivos. (alternativos)
i) Ele entrou, tirou o casaco, sentou na cadeira ___________ pegou o livro. (adição)
j) Já era primavera ___________ voltou da viagem. (tempo)
k) Fiz tudo ___________melhorasse sua argumentação. (finalidade)
l) O elogio tem valor___________quando somos sinceros. (exclusão)
m) Todos os deputados estaduais estavam presentes, ___________ o Ministro da Educação. (inclusão)

EXERCÍCIO 6:

O exercício que segue foi retirado do livro Leitura e Produção Textual: Gêneros textuais do argumentar e do expor, de
Köche, Boff e Marinello (2010).
Articule as sentenças que seguem em um só parágrafo, empregando no mínimo dois operadores argumentativos.
Evite as repetições.

1- a) A mente move montanhas.


b) O indivíduo é um ímã.
c) O indivíduo atrai o que deseja.
d) Uma atitude otimista contribui para o sucesso pessoal.

2- a) O pensamento positivo funciona.


b) Você não vai enriquecer do dia para a noite.
c) Uma atitude positiva traz benefícios ao organismo.

3- a) A ciência, de um modo geral, desconfia das teorias sobre o pensamento positivo.


b) Faltam trabalhos acadêmicos que comprovem as teorias sobre o pensamento positivo.
c) Há muitos relatos de pessoas que afirmam ter obtido sucesso usando o poder do pensamento positivo.

1.9 Questão para reflexão

Reflita à luz das definições e teorias que estudamos sobre a citação:“Na concepção interacional (dialógica) da
língua, na qual os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, o texto passa a ser considerado o próprio lugar da
interação e os interlocutores, como sujeitos ativos que – dialogicamente - nele se constroem e são construídos” (KOCH,
2002, p.17).

27
1.10 Leitura indicada

Para complementar seu estudo, leia o capítulo “O que é um texto”, do livro O Texto e a Construção de Sentido, de
Ingedore Koch, da Editora Contexto, 2000.

1.11 Site indicado


<www.uff.br/mestcii/ines1.ht.>

28
II
Tipos e gêneros textuais
Unidade

Nesta unidade, vamos trabalhar com os gêneros e tipos textuais, com as modalidades discursivas, evidenciando suas
características e a necessidade dessa classificação. Esse estudo é importante para que haja uma comunicação mais efetiva,
além da compreensão acerca dos textos que circulam cotidianamente.
A seguir, diferenciamos e relacionamos gêneros e tipos, buscando a compreensão do seu funcionamento.

2.1 Gêneros textuais

Para começarmos a compreender o conceito de gêneros, vamos ler os textos que seguem:

Texto 1:

Fonte:<http://bichinhosdejardim.com>

Texto 2

- Eu não te amo mais.


- O quê? Fale mais alto, a ligação está horrível.
FURTADO, Jorge. Os cem menores contos brasileiros do século. Ateliê Editorial, 2004.

Texto 3:

Fonte:<http://forum.travian.com.br/showthread.php?t=31626>

29
Texto 4:

Fonte:<http://blog.crb6.org.br/artigos-materias-e-entrevistas/charge-o-fim-do-jornal-de-papel/>

Texto 5:

Chatear e encher
Um amigo meu me ensina a diferença entre “chatear” e “encher”.
Chatear é assim:
Você telefona para um escritório qualquer na cidade.
– Alô! Quer me chamar por favor o Valdemar?
– Aqui não tem nenhum Valdemar.
Daí a alguns minutos você liga de novo:
– O Valdemar, por obséquio.
– Cavalheiro, aqui não trabalha nenhum Valdemar.
– Mas não é do número tal?
– É, mas aqui não trabalha nenhum Valdemar.
Mais cinco minutos, você liga o mesmo número:
– Por favor, o Valdemar já chegou?
– Vê se te manca, palhaço. Já não lhe disse que o diabo desse Valdemar nunca trabalhou
aqui?
– Mas ele mesmo me disse que trabalhava aí.
– Não chateia.
Daí a dez minutos, liga de novo.
– Escute uma coisa! O Valdemar não deixou pelo menos um recado?
O outro desta vez esquece a presença da datilógrafa e diz coisas impublicáveis.
Até aqui é chatear. Para encher, espere passar mais dez minutos, faça nova ligação:
– Alô! Quem fala? Quem fala aqui é o Valdemar. Alguém telefonou para mim?

CAMPOS, Paulo Mendes. Para gostar de ler.Vol. 5. São Paulo: Ática, 1990.

Cada um dos textos que lemos apresentam estruturas, estilos e conteúdo temático específicos. Além disso, eles
atendem a necessidades comunicativas diferentes, inseridos em uma esfera de comunicação e com uma intencionalidade
comunicativa. Assim, quando interagimos com as pessoas por meio da linguagem, seja ela oral ou escrita, produzimos textos
específicos. Esses textos constituem os gêneros discursivos e foram historicamente criados para atender a determinadas
necessidades de interação verbal, uma vez que estão diretamente relacionados a diferentes situações sociais, pelo seu
caráter sócio-histórico.
Bakhtin (1997) propõe o termo gênero discursivo, afirmando que cada grupo social em sua época possui um
conjunto de formas de discurso que reflete e refrata a realidade ou o cotidiano em transformação. Para o autor, quaisquer
atividade humana está relacionada ao uso da língua.
Dessa forma, estudar a língua significa analisar as atividades dadas pelos enunciados que circulam social e
historicamente. Vejamos mais uma citação importante do autor:

“A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa
atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais
complexa”(BAKHTIN ,1997, p. 279).

Em linha similar de abordagem, Marcuschi (2008, p. 155) afirma que os gêneros textuais são “os textos que
encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições
funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais

30
e técnicas”. Na próxima seção, discutiremos a diferença entre gêneros e tipologias textuais.

2.1.1 Gêneros e tipologias na atualidade

Quanto à conceituação de textos, é importante observar ainda que existe uma diferenciação entre as definições
tipo textual e gênero textual, conforme observa Marcuschi (2003, p. 22). Os tipos textuais são construtos teóricos
definidos por propriedades linguísticas intrínsecas, enquanto os gêneros são realizações linguísticas concretas definidas
por propriedades sociocomunicativas. Além disso, o tipo constitui sequências linguísticas ou de enunciados no interior
dos gêneros e não são textos empíricos. Os gêneros, por sua vez, constituem textos empiricamente realizados cumprindo
funções em situações comunicativas. Abaixo, trazemos um quadro explicativo marcando a diferença entre gêneros e
tipos:

Quadro 4: Diferenças entre tipos de textos e gêneros textuais

TIPOS DE TEXTOS GÊNEROS TEXTUAIS


1- construtos teóricos definidos por 1- realizações linguísticas concretas definidas por propriedades sócio-comuni-
propriedades linguísticas intrínsecas cativas;
2- constituem sequênciais linguísti- 2- constituem textos empiricamente realizados cumprindo funções em situa-
cas ou sequênciais de enunciados no ções comunicativas;
interior dos gêneros e não são textos
empíricos;
3- sua nomeação abrange um con- 3- sua nomeação abrange um conjunto aberto e praticamente ilimitados de
junto limitado de categorias teóricas designações concretas determinadas pelo canal, estilo, conteúdo, composição
determinadas por aspectos lexicais, e função;
sintáticos, relações lógicas, tempo
verbal;
4- designações teóricas dos tipos: 4- exemplos de gêneros: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal,
narração, argumentação, descrição, romance, bilhete, aula expositiva, reunião de condomínio, horóscopo, receita
injunção e exposição. culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio, instruções de uso, outdoor,
inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea,
conferência, carta eletrônica, bate-papo virtual, aulas virtuais etc.
(MARCUSCHI, 2003, P. 23)

Marcuschi (2003), em seu texto “Gêneros Textuais, definições e funcionalidade”, esquematiza uma carta pessoal,
que contém várias sequências tipológicas em sua construção. Vejamos a seguir:

Quadro 5: Carta pessoal e tipologias textuais

Sequências Tipológicas Gênero Textual: carta pessoal


Descritiva Rio, 11/08/1991
Amiga A.P.
Injuntiva
Oi!
Para ser mais preciso estou no meu quarto, escrevendo na escrivaninha, com um Micro
Descritiva
System ligado na minha frente (bem alto, por sinal).
Está ligado na Manchete FM - ou rádio dos funks - eu adoro funk, principalmente com
passos marcados.
Aqui no Rio é o ritmo do momento... e você, gosta? Gosto também de house e dance
Expositiva
music, sou fascinado por discotecas!
Sempre vou à K.I,

Narrativa ontem mesmo (sexta-feira) eu fui e cheguei quase quatro horas da madrugada.
Dançar é muito bom, principalmente em uma discoteca legal. Aqui no condomínio onde
Expositiva moro têm muitos jovens, somos todos muito amigos e sempre vamos todos juntos. É
muito maneiro!

31
Narrativa C. foi três vezes à K. I,
Injuntiva pergunte só a ele como é!
Está tocando agora o “Melô da Mina Sensual”, super demais!
Expositiva
Aqui ouço também a Transamérica e RPC FM.
Injuntiva E você, quais rádios curte?
Demorei um tempão pra responder, espero sinceramente que você não esteja chateada
comigo. Eu me amarrei de verdade em vocês aí, do Recife, principalmente a galera da ET,
vocês são muito maneiros! Meu maior sonho é viajar, ficar um tempo por aí, conhecer
legal vocês todos, sairmos juntos... Só que não sei ao certo se vou realmente no início de
Expositiva
1992. Mas pode ser que dê, quem sabe! /........./
Não sei ao certo se vou ou não, mas fique certa que farei de tudo para conhecer vocês o
mais rápido possível. Posso te dizer uma coisa? Adoro muito vocês!

Agora, a minha rotina: as segundas, quartas e sextas-feiras trabalho de 8:00 às 17:00h,


em Botafogo. De lá vou para o T.; minha aula vai de 18;30 às 10:40h. Chego aqui em
casa quinze para meia-noite. E as terças e quintas fico 050 em F. só de 8:00 às 12:30h.
Narrativa Vou para o T.; às 13:30 começa o meu curso de Francês (vou me formar ano que vem) e
vai até 15:30h. 16:00h vou dar aula e fico até 17:30h. 17:40h às 18:30h faço natação (no
T. também) e até 22:40h tenho aula/....../ Ontem eu e Simone fizemos três meses de
namoro;
Injuntiva Você sabia que eu estava namorando?
Ela mora aqui mesmo no (nome do condomínio). A gente se gosta muito, às vezes eu
Expositiva acho que nunca vamos terminar, depois eu acho que o namoro não vai durar muito,
entende?
O problema é que ela é muito ciumenta, principalmente porque eu já fui afim da B., que
Argumentativa
mora aqui também. Nem posso falar com a garota que S. já fica com raiva.
Narrativa É acho que vou terminando ...
escreva! Faz um favor? Diga pra M., A. P. e C. que esperem, não demoro a escrever
Injuntiva Adoro vocês!
Um beijão!
Narrativa Do amigo P. P. 15:16h

Assim, nota-se a variedade de sequências tipológicas na carta pessoal, predominando narrações e exposições,
o que é algo comum para o gênero. É importante observar que as tipologias textuais apresentam traços linguísticos
predominantes, conforme mostraremos a seguir.

2.2 Tipologia Textual

Segundo Marcuschi (2008, p. 154), o tipo textual designa uma espécie de construção teórica definida pela natureza
linguística da sua composição, que são os aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas, estilo. O tipo
caracteriza-se muito mais como sequências linguísticas (sequências retóricas) do que como textos materializados, a rigor,
são modos textuais. São eles: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção.
Para compreender as sequências presentes dentro dos gêneros, observemos o quadro abaixo, de Werlich (1973
apud MARCUSCHI, 2003, p. 28).

Quadro 6: Tipos textuais segundo Werlich (1973)

BASE EXEMPLO TRAÇOS LINGUÍSTICOS


TEMÁTICA
“Sobre a mesa Este tipo de enunciado textual tem uma estrutura simples com um verbo estático
1- DESCRITIVA havia milhares de no presente ou imperfeito, um complemento e uma indicação circunstancial de
vidros.” lugar.
“Os passageiros Este tipo de enunciado textual tem um verbo de mudança no passado, um
aterrissaram em circunstancial de tempo e lugar. Por sua referência temporal e local, este
2- NARRATIVA
Nova York no enunciado é designado como enunciado indicativo de ação.
meio da noite.”

32
Em (a) temos uma base textual denominada de exposição sintética pelo
a) “ Uma parte processo da composição. Aparece um sujeito, um predicado (no presente)
do cérebro é e um complemento com um grupo nominal. Trata-se de um enunciado de
o córtex.” b) “ identificação de fenômenos. Em (b) temos uma base textual denominada de
3- EXPOSITIVA
O cérebro tem exposição analítica pelo processo de decomposição. Também é uma estrutura
10 milhões de com um sujeito, um verbo da família do verbo “ter” (ou verbos como: “contém”,
neurônios.” “consiste”, “compreende”) e um complemento que estabelece com o sujeito
uma relação parte-todo. Trata-se de um enunciado de ligação de fenômenos.
“A obsessão com Tem-se aqui uma forma verbal com o verbo ser no presente e um complemento
4- ARGUMEN- a durabilidade (que no caso é um adjetivo). Trata-se de um enunciado de atribuição de quali-
TATIVA nas Artes não é dade.
permanente.”
Vem representada por um verbo no imperativo. Estes são os enunciados
incitadores à ação. Estes textos podem sofrer certas modificações significativas
“pare!”, “seja
5- INJUNTIVA na forma e assumir por exemplo a configuração mais longa onde o imperativo
razoável!”
é substituído por um “deve”. Por exemplo; “Todos os brasileiros na idade de
18 anos do sexo masculino devem comparecer ao exercito para alistarem-se.”

Das tipologias textuais que observamos, três delas são muito recorrentes e ganharam seu espaço nas aulas de
Língua Portuguesa: a narração, a descrição e a dissertação. A seguir, passamos a compreender cada uma dessas tipologias,
com suas características específicas.

2.2.1 Tipologia textual narrativa

A narração se caracteriza por relatar situações, fatos e acontecimentos, ficcionais ou não ficcionais. Conforme
afirma Bronckart (1999), os gêneros textuais que apresentam predominância de sequências narrativas são sustentados por
um processo de intriga que consiste em selecionar e organizar os acontecimentos de modo a formar um todo, uma história
ou ação completa, com início, meio e fim.
Toda história narrada apresenta personagens, situados em um tempo e em um espaço, com esquema narrativo
que apresenta situação inicial, complicação, clímax e desfecho. Assim, os acontecimentos que são narrados apresentam
uma ordem cronológica e, para tanto, utilizam-se de verbos predominantemente empregados no pretérito, com narrador
observador ou narrador personagem. Vejamos o conto abaixo para compreendermos esses elementos:

Tragédia Brasileira

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade.


Conheceu Maria Elvira na Lapa – prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição
de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo o que ela
queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de
Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi
encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul.

BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 4. ed. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1993, p. 146-147

O conto apresenta personagens: Maria Elvira e Misael, moradores do Rio de Janeiro. O texto, após a sua apresentação inicial
apresenta uma complicação: o fato de a Maria Elvira, assim que se vê de boca bonita, arrumar namorado. A história se desenrola a partir
desse conflito dentro do espaço temporal de três anos até que Misael mata sua esposa. Esta última ação constitui o clímax e também o
desfecho.

2.2.2 Tipologia textual descritiva

A descrição consiste em expor características, qualidades, propriedades de pessoas, lugares, objetos, ambientes ou ainda ações.
As sequências descritivas estão presentes em vários gêneros textuais, como os romances, contos e novelas, assim como em textos
instrucionais.

33
Segundo Köche, Boff e Marinello (2010, p. 21), “a tipologia descritiva é construída de forma concreta e estática, sem progressão
temporal”. Assim, para essa tipologia, usam-se adjetivos, locuções adjetivas e advérbios, além da predominância dos verbos de estado,
no presente ou no pretérito imperfeito do indicativo. As autoras ainda afirmam que “a descrição sempre desempenha um papel em um
gênero específico: exemplificação, nos gêneros argumentativos; ambientação e apresentação de um personagem, nos gêneros narrativos”.
Abaixo, um exemplo de uso da tipologia textual descritiva:

Cabelos Compridos

- Coitada da Das Dores, tão boazinha...


Das Dores é isso, só isso – boazinha. Não possui outra qualidade. É feia, é desengraçada, é magérrima, não tem seios, nem cadeiras, nem
nenhuma rotundidade posterior; é pobre de bens e de espírito; é filha daquele Joaquim da Venda, ilhéu de burrice ebúrnea – isto é, dura
como o marfim. Moça que não tem por onde se lhe pegue fica sendo apenas isso – boazinha.
- Coitada da Das Dores, tão boazinha...
Só tem uma coisa a mais que as outras – cabelo. A fita da sua trança toca-lhe a barra da saia. Em compensação, suas ideias medem-se
por frações de milímetro, tão curtinhas são. Cabelos compridos, ideias curtas – já o dizia Schopenhauer.
A natureza pôs-lhe na cabeça um tabloide homeopático de inteligência, um grânulo de memória, uma pitada de raciocínio – e plantou
a cabeleira por cima. Essa mesquinhez por dentro. Por fora ornou-lhe a asa do nariz com um grão de ervilha, que ela modestamente
denomina verruga, arrebitou-lhes as ventas, rasgou-lhe boca de dimensões comprometedoras e deu-lhe uns pés...Nossa Senhora, que
pés! E tantas outras pirraças lhe fez que ao vê-la todos dizem comiserados:
- Coitada da Das Dores, tão boazinha...
LOBATO, Monteiro. Cabelos Compridos. In: Cidades Mortas. São Paulo: Brasiliense, 1995.

Das Dores, a personagem do texto vai sendo aos poucos descrita por suas características físicas e também
psicológicas: boazinha, feia, desengraçada, cabelos compridos, ideias curtas. Percebemos a presença do adjetivo, além de
verbos de estado como o verbo “ser” que se repete ao longo do texto.

2.2.3 Tipologia textual dissertativa

A tipologia textual dissertativa se constrói valendo-se de argumentação coerente e consistente para construir uma
opinião de modo progressivo. Para tanto, tecem-se explicações, apresentam-se justificativas, defende-se uma opinião,
avaliando fatos e ações em torno de um determinado tema.
Conforme nos mostram Köche, Boff e Marinello (2010, p. 22), “a tipologia dissertativa faz uso de operadores
argumentativos que possibilitam articular o texto com coesão e coerência”. Além disso, o tempo verbal mais usado é o
presente do indicativo, pois “aborda um assunto que faz parte do contexto comunicativo em que se situa o comunicador”.
Os gêneros da ordem do argumentar utilizam-se da tipologia textual dissertativa como base para sua construção, como o
artigo de opinião, o editorial, a carta argumentativa e a carta do leitor. Vejamos o exemplo abaixo para melhor compreensão:

SOBRE ZH
Parabenizo a iniciativa da RBS com a campanha “Crack, nem pensar”. É imprescindível o apoio da imprensa no combate às
drogas; uma excelente oportunidade de conscientizar a sociedade de que a educação é a melhor forma de prevenção nas famílias e
escolas, mostrando os efeitos fisiológicos, psicológicos e sociais dos entorpecentes. Assim, teremos um eficaz combate às drogas e à
violência. A.X.C. (Policial- Encantado)
(ZERO HORA, 03 de julho de 2009)

Por vezes, textos que normalmente apresentam tipologias que lhes são típicas, subvertem tal ordem. É o caso do
texto abaixo, que por ser uma tira, variação das histórias em quadrinhos, não apresenta uma sequência narrativa, mas uma
sequência argumentativa. Vejamos:

Fonte: <http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2013/12/guest-post-quase-tudo-sobre-minha-mae.html>

34
Assim, por mais que as sequências sejam comuns a alguns gêneros, devemos compreender que a nossa língua é
dinâmica e a criação de novos gêneros ou a transformação de gêneros já existentes acontece sempre que há necessidade de
estabelecer uma nova forma de comunicação entre interlocutores de um determinado contexto histórico e social.

2.4 Atividades de Aprendizagem

1) Conceitue gênero textual e tipologia, estabelecendo as principais diferenças entre eles.


2) Releia os cinco textos usados como exemplificação de gêneros textuais no início da Unidade 2 e avalie-os
conforme seu conteúdo temático, sua forma composicional, seu estilo de linguagem e sua função social/propósito,
relacionando-os por semelhanças e diferenças.

2.5 Síntese

Conforme vimos, os gêneros são histórico-sociais e não devem ser fechados em regras aprisionadas. As
possibilidades de utilizar os gêneros e as tipologias facilitam a leitura, direcionam a comunicação. Vimos também que as
tipologias designam uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos
lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas).

2.6 Aprofundando o conhecimento

Para aprofundar o conhecimento acerca dos conceitos trabalhados, sugerimos a leitura do texto de apresentação
do livro Multiletramento na escola, organizado por Roxane Rojo e Eduardo Moura (São Paulo, Editora Parábola, 2012)

2.7 Exercícios de aplicação

EXERCÍCIO 1:

Leia os fragmentos abaixo, observe os traços linguísticos presentes, classifique quanto ao gênero e tipologia textual
predominante. Justifique sua resposta:
1)
Gênero textual:______________________________________________________________________________
Tipo textual predominante:_____________________________________________________________________

“Vamos acabar com esta folga O negócio aconteceu num café. Tinha uma porção de sujeitos sentados nesse café, tomando
umas e outras. Havia brasileiros, portugueses, franceses, argelinos, alemães, o diabo. De repente, um alemão forte pra cachorro levantou
e gritou que não via homem pra ele ali dentro. Houve surpresa inicial, motivada pela provocação, e logo um turco, tão forte como o
alemão, levantou-se de lá e perguntou:
- Isso é comigo?
- Pode ser com você também - respondeu o alemão.” (Stanislaw Ponte Preta. In: Tia Zulmira e eu. Rio de Janeiro, Ed. do Autor,
1961, p.45).

2)
Gênero textual:______________________________________________________________________________
Tipo textual predominante:_____________________________________________________________________

“A casa tinha dois andares e uma boa chácara no fundo. O salão de visitas era no primeiro. Mobília antiga, um tanto mesclada;
ao centro, grande lustre de cristal coberto de filó amarelo. Três largas janelas de sacada, guarnecidas de cortinas brancas, davam para
a rua; do lado oposto, um enorme espelho de moldura dourada e gasta inclinava-se pomposamente sobre um sofá de molas” (Aluísio
Azevedo).

3)
Gênero textual:______________________________________________________________________________
Tipo textual predominante:_____________________________________________________________________

“O surrealismo, tal como eu o vejo, declara bastante o nosso não-conformismo absoluto para que não possa se tratar de
uma questão de traduzi-la ao processo do mundo real, como testemunho de quitação. Ele só saberia, ao contrário, justificar o estado
completo de distração da mulher, segundo Kant, a distração das “uvas”; segundo Pasteur, a distração dos veículos, segundo Curie, são,
sob este ponto de vista, bastante sintomáticas. Este mundo só se encontra muito relativamente na medida do pensamento e os incidentes
deste gênero são apenas episódios até aqui os mais marcantes de uma guerra de independência da qual tenho o orgulho de participar.
(Fragmento do trecho do Manifesto do Surrealismo de André Breton.)

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4)
Gênero textual:______________________________________________________________________________
Tipo textual predominante:_____________________________________________________________________

“Surrealismo. Movimento nas artes plásticas e na literatura que se originou na França e floresceu ao longo das
décadas de 20 e 30, caracterizando-se pela grande importância que conferia ao bizarro, ao incongruente e ao irracional.
Foi concebido como um caminho revolucionário de pensamento e da ação - mais um modo de vida que um conjunto de
atitudes estilísticas -, no que se assemelhava ao dadaísmo, seu principal modelo inspirador”. (CHILVERS, Ian. Dicionário
Oxford de arte. São Paulo: Martins Fontes, 1996.)

5)
Gênero textual:______________________________________________________________________________
Tipo textual predominante:_____________________________________________________________________

“Preparo da receita pão com tomate e presunto Pata Negra


Torre levemente as fatias de pão.
Passe o alho sobre cada uma das fatias, esfregando delicadamente.
Em seguida, corte os tomates ao meio e esfregue a polpa sobre as torradas.
Regue as fatias com o óleo de oliva extravirgem e disponha sobre elas as fatias de presunto Pata Negra.
Decore o prato com a couve e sirva.”

6)
Gênero textual:______________________________________________________________________________
Tipo textual predominante:_____________________________________________________________________

Fonte: <http://www.clubedecriacao.com.br/novo/golfinho-cannes-2011-9/>

36
7)
Gênero textual:__________________________________________
Tipo textual predominante:_________________________________

MAGRITTE, René. Os amantes.


8)
Gênero textual:__________________________________________
Tipo textual predominante:_________________________________

EXERCÍCIO 2:

Analise os textos lidos no exercício anterior, observando sua forma composicional e o propósito/função social de
cada um deles.

EXERCÍCIO 3:

ATIVIDADE DE LEITURA E ANÁLISE- Gêneros textuais e sequências tipológicas

Leia a resenha crítica do filme “Ela”, de Lelson Douglas, do site “Altamente ácido”, observe as cores e leia a
informação da legenda e marque algumas sequências tipológicas presentes na resenha, usando cores diferentes,
relacionando-as à legenda:

“Ela”

Simples, como se o título tivesse sido escrito à mão, Spike Jonze começa a nos contar uma das melhores histórias
já feitas para o cinema. “Ela” é um filme estadunidense de comédia dramática, ficção científica e romance de 2013 escrito,
dirigido e produzido por Jonze. O filme é estrelado por Joaquin Phoenix, Amy Adams, Rooney Mara, Olivia Wilde, e
Scarlett Johansson como a voz de Samantha.
Na primeira cena, Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), uma espécie de Charlie Brown de carne e osso, aparece
compondo uma linda declaração de amor que logo descobrimos ser apenas parte do seu trabalho. Twombly é funcionário
do Beautiful Handwritten Letters.com, um site que, como diz o nome, manda lindas cartas manuscritas para seus clientes

37
que desejam agraciar alguém. Dividindo o dia entre o tal ofício, partidas de vídeo-game e rápidos encontros com alguns
amigos, este melancólico protagonista tenta esquecer sua ex-esposa (Rooney Mara), com quem manteve uma longa relação,
até que conhece (instala?) Samantha: um sistema operacional pelo qual ele irá se apaixonar.
Ambientado numa Los Angeles futurista, Ela (Her) é um profundo estudo sobre as relações humanas, sobre as
transformações que sofremos pelo meio tecnológico e sobre o vazio que eventualmente pode vir nos abraçar por um
tempo. Fugindo completamente de uma estética recheada de neons ou telas holográficas, o visual adotado por aqui,
repleto de tons pastel, é bem inspirado naquela América dos anos 30 assolada pela grande depressão (detalhe que ajuda a
espelhar o interior dos personagens da trama). Porém, a (excelente) parte técnica de Ela se torna apenas um detalhe quando
colocada de frente com o grande atrativo do filme: o roteiro e toda a avalanche de pensamentos e sentimentos que ele pode
gerar em cada um de nós.
Apesar de trabalhar num local especializado em produzir cartas (simuladamente) escritas à mão, Theodore passa os
dias sem encostar os dedos em algum teclado. Seja enquanto se diverte com um jogo, procura por alguma música ou sala de
sexo on-line, o protagonista quase não encosta em algo ou alguém. Tudo é executado por comando de voz ou captação de
movimentos. Algo bem triste e diferente do que teve com a ex, que é mostrada num flashback como sendo de uma época
com bastante contato físico e muito brilho. (...)
E é neste buraco deixado pela antiga amada que o sujeito encontra espaço para Samantha (interpretada com
maestria pela lindíssima Scarlett Johansson, que nem precisa dar as caras para fazer um trabalho maravilhoso com sua voz
rouca), um produto que é vendido num comercial como uma espécie de milagre quase divino, que vem para “escutar”,
“entender” e “conhecer” a humanidade, e faz exatamente isto pelo protagonista.
Em um certo momento, a voz de Scarlett faz a seguinte pergunta para o personagem de Phoenix: “Como era ser
casado“? A resposta vem com calma: “Era emocionante […] Nós crescemos e mudamos juntos. Mas essa é a parte difícil.
Mudar sem assustar o outro“. Ora, já que a mudança é inevitável, seria o fim também inevitável a menos que alguém
deixasse de evoluir em algum ponto?
Sim, caro leitor, “Ela” te faz sair do cinema com muitos sentimentos e muitas perguntas na cachola, e é aí que mora
o genialismo da história criada pelo senhor Jonze. Dentro deste liquidificador de ideias você pode tirar um apanhado de
semelhanças com a própria realidade e vários pensamentos sobre porque somos desse jeito: seres imperfeitos e ao mesmo
tempo tão apaixonantes. Viciados por tecnologia, mas ainda cheios de amores por bilhetes feitos à mão. Se você é desses,
assista!

DOUGLAS, Kelson. (com adaptações).


Fonte: <http://altamenteacido.com.br/review/critica-ela/>.

LEGENDA

SEQUÊNCIA DO TIPO EXPOSITIVO: O tipo expositivo expõe o assunto, desenvolve-o informando o leitor.
SEQUÊNCIA DO TIPO NARRATIVO: Sequências como essa apresentam fatos situados no tempo e no
espaço.
SEQUÊNCIA DO TIPO DESCRITIVO: Esse tipo de sequência apresenta a enumeração de aspectos de seres,
coisas, paisagens, ações e personagens.
SEQUÊNCIA DO TIPO ARGUMENTATIVO: Sequências como essa apresentam a estratégia do
convencimento, buscando persuadir o leitor a partir de uma opinião dada.
SEQUÊNCIA DO TIPO INJUNTIVO: Em geral, esta sequência é composta de enunciados que dão ordens
de ação.

Analise as propriedades textuais do gênero RESENHA:


1. Linguagem utilizada:
2. Forma composicional:
3. Marcas linguísticas presentes nas sequências tipológicas:
4. Efeitos de sentido produzidos pelas marcas linguísticas encontradas:
5. Relações intertextuais estabelecidas:
6. Estrutura da resenha:
7. Opinião exposta pelo resenhista acerca do filme:

2.8 Questão para reflexão

Reflita sobre o que nos diz Bakhtin (1997, p. 259):

“Se os gêneros do discurso não existissem e se nós tivéssemos o seu domínio e se fosse preciso criá-los pela
primeira vez em cada processo de fala, se nos fosse preciso construir cada um de nossos enunciados, a troca verbal seria
quase impossível”.

38
2.9 Leitura indicada

Você deve aprofundar a questão dos gêneros e tipologias lendo o primeiro capítulo do seguinte livro:

BRANDÃO, Helena N. Gêneros e tipologias textuais. In: BRANDÃO, Helena N. (Org.). Gêneros de Discurso na Escola: mito,
conto, cordel, discurso político, divulgação científica.São Paulo: Cortez, 2002.

2.10 Sites indicados

www.ich.pucminas.br/posletras/06.pdf.

39
III Estrutura de um Texto
Unidade

Nesta unidade abordaremos acerca da estruturação de períodos compostos assim como da estrutura interna e da
organização de parágrafos.

3.1 Estruturação de Períodos Compostos

A esta altura, você já examinou atentamente as características do gênero textual que irá produzir, previu em detalhes
seu leitor-modelo e está pronto para escrever um texto adequado ao CONTEXTO. Isso já é meio caminho para uma
comunicação bem-sucedida, mas obviamente ainda não é tudo. Falta o principal: produzir um texto claro, atraente e capaz
de produzir efeitos de sentido desejados.
Para que isso aconteça, vai precisar de mais do que uma sequência de frases bem escritas. Seu texto deverá também
apresentar coesão, coerência e progressão temática, entre outros atributos. No entanto, não se pode negar que tudo
começa com frases bem escritas. E será exatamente por essa unidade mínima do texto – a frase – que iniciaremos nosso
estudo. Posteriormente, passaremos para o parágrafo.

3.1.1 A Frase

Iniciaremos este tópico relembrando três noções elementares: frase, oração e período.
Consoante Abreu (2003), a frase é a menor unidade do discurso capaz de transmitir uma mensagem. Já para
Guimarães (2012), frase é um enunciado dotado de sentido completo. Na fala, percebemos que é marcada por uma
entonação específica; já na escrita, é encerrada por ponto – final, de interrogação ou de exclamação – ou por reticências.
Vejamos alguns exemplos de frases nas charges:

Fonte: <http://amagiadashistoriasin- Fonte: <http://imagensface.com.br/


fantiss.blogspot.com.br/2013/01/as- desenhos-e-figuras/charges/6>
-charges-e-os-contos-de-fadas.html>

Frase verbal

Fonte: <www.glasbergen.com>

40
Percebe-se por esses exemplos que as frases podem ou não conter verbo. A frase que não contém verbo: “O lucro
recorde dos bancos” é chamada de FRASE NOMINAL.
As frases que contêm verbo são chamadas de PERÌODOS SIMPLES quando encerram um pensamento completo.
Cada segmento de um período organizado em torno de um verbo ou locução verbal chama-se ORAÇÃO. Um período
pode estar formado por uma única oração – nesse caso é chamado de período simples ou por duas ou mais orações – nesse
caso recebe o nome de período composto.
Observe:
a) Hoje eu vou contar a história de Ali Babá e os 40 ladrões.
Uma única locução verbal = uma única oração = período simples

b) Ah, mãe... eu não aguento mais esse papo de mensalão!


Um único verbo = uma única oração = período simples

c) Não pude fazer a tarefa, / porque meu computador pegou um vírus...


1ª oração 2ª oração

Dois verbos (ou locuções verbais) = duas orações = período composto


A figura abaixo resume os conceitos que explanamos.

3.1.2 As relações lógico-semânticas entre orações por intermédio das conjunções

A fim de que haja uma melhor compreensão do período bem como da conexão entre as orações que o constituem,
faremos uma breve revisão da noção de conjunção, mostrando exemplos de usos na construção de períodos compostos. A
título de exemplificação, elencaremos uma listagem dos tipos de relações interfrásicas possíveis entre orações na construção
de períodos, pois como afirma Emediato (2007), a operação lógico-semântica consiste em relacionar duas asserções sobre
o mundo, formando, em geral, um período composto. Os dois enunciados encontram-se em relação de interdependência
semântica. Há, pois, relações de sentidos entre as ideias evocadas pelas orações conectadas e essas relações são explicitadas
pelo tipo de conjunção que as liga. Torna-se lógica, uma vez que denota uma atividade de raciocínio do leitor, orientando
sua argumentação em uma certa direção. Por outro lado é semântica, porque explicita um sentido específico na relação
entre as duas orações conectadas, isto é, restringe o semantismo da relação interfrástica.

3.1.2.1 Conjunções coordenadas

Para Garcia (2004), as conjunções coordenativas relacionam ideias ou pensamentos com um grau de travamento
sintático. E dividem-se em:
a) aditivas ou copulativas – são conjunções de adição ou de aproximação. Principais conjunções: e, nem, bem como,
mas também. Exemplo:

41
Fonte: <blogmoscabranca.com.br>

b) adversativas: são responsáveis por relacionar pensamentos contrastantes. A conjunção mais conhecida é mas,
entretanto, há outras com valor adversativo que indicam uma concessão atenuada. A saber: porém, todavia, contudo,
entretanto, no entanto.

Fonte: <otaldoportugues.wordpress.com/2012/10/27/dicas-de-leitura/>

c) alternativas ou disjuntivas: são responsáveis por relacionar pensamentos que se excluem. As conjunções
alternativas são: ou (repetido ou não), ora… ora, nem, quer… quer, seja...seja.

d) conclusivas: as conjunções conclusivas têm a função de unir uma oração a outra com o objetivo de apresentar
uma conclusão ou consequência. São elas: pois (após o verbo), assim, então, logo, portanto, por isso.

Fonte: <otaldoportugues.wordpress.com/2012/10/27/dicas-de-leitura/>

e) explicativas: são as conjunções responsáveis por relacionar pensamentos em sequência justificativa, de tal modo
que a segunda frase explica a primeira. São elas: que, porque, pois (antes do verbo), porquanto.

42
Fonte: <http://framos.files.wordpress.com/2008/05/hagar.jpg>

3.1.2.2 Conjunções subordinativas

São aquelas que ligam duas orações, sendo uma delas dependente da outra. A oração dependente, introduzida pelas
conjunções subordinativas, recebe o nome de oração subordinada.
a) INTEGRANTES - indicam que a oração subordinada por elas introduzida completa ou integra o sentido da
principal. Introduzem orações que equivalem a substantivos. São principais: que, se.

Fonte: <matematicaeafins.zip.net>
b) ADVERBIAIS - indicam que a oração subordinada por elas introduzida exerce a função de adjunto adverbial da
principal. De acordo com a circunstância que expressam, classificam-se em:
1) CAUSAIS - introduzem uma oração que é causa da ocorrência da oração principal. São principais: porque, que,
como (= porque, no início da frase), pois que, visto que, uma vez que, porquanto, já que, desde que.

Fonte: <www.ibahia.com>

2) CONDICIONAIS – introduzem uma oração que indica a hipótese ou a condição para ocorrência da principal.
São principais: se, caso, contanto que, salvo se, a não ser que, desde que, a menos que, sem que.

43
3) CONCESSIVAS - introduzem uma oração que expressa ideia contrária à da principal, sem, no entanto, impedir
sua realização. São principais: embora, ainda que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por mais que, posto que,
conquanto, não obstante.

4) CONSECUTIVAS – introduzem uma oração que expressa a consequência da principal. São elas: de sorte que,
de modo que, sem que (= que não), de forma que, de jeito que, que (tendo como antecedente na oração principal uma
palavra como tal, tão, cada, tanto, tamanho).

5) CONFORMATIVAS - introduzem uma oração em que se exprime a conformidade de um fato com outro. São
principais: conforme, como (= conforme), segundo, consoante, de acordo com.

44
Fonte: <pt.slideshare.net>
6) COMPARATIVAS - introduzem uma oração que expressa ideia de comparação com referência à oração
principal. São elas: como, assim como, tal como, como se, (tão)... como, tanto como, tanto quanto, do que, quanto, tal,
qual, tal qual, que nem, que (combinado com menos ou mais).

Fonte: <www.ibahia.com>
7) FINAIS - introduzem uma oração que expressa a finalidade ou o objetivo com que se realiza a principal. São
elas: para que, a fim de que, que, porque (= para que), que.

Fonte: <http://www2.uol.com.br/niquel/>
8) PROPORCIONAIS - introduzem uma oração que expressa um fato relacionado proporcionalmente à ocorrência da
principal. São principais: à medida que, à proporção que, ao passo que, bem como as combinações quanto mais... (mais),
quanto menos... (menos), quanto menos... (mais),quanto menos... (menos).

45
9) TEMPORAIS - introduzem uma oração que acrescenta uma circunstância de tempo ao fato expresso na oração
principal. São principais: quando, enquanto, antes que, depois que, logo que, todas as vezes que, desde que, sempre que,
assim que, agora que, mal (= assim que).

(Skank, Sutilmente)

3.1.3 Coordenação ou parataxe

Para Garcia (2004), a coordenação é um paralelismo de funções ou valores sintáticos idênticos, as orações se dizem
da mesma natureza (ou categoria) e se ligam por meio de conectivos chamados conjunções coordenativas. É, em essência,
um processo de encadeamento de ideias. No período composto por coordenação temos:

ASSINDÉTICA

ADITIVA
Período Composto
por coordenação
ADVERSATIVA

ALTERNATIVA
SINDÉTICA

CONCLUSIVA

EXPLICATIVA

Todas as orações serão explicadas por intermédio dos exemplos que foram dados no item conjunção coordenada.

3.1.4 Subordinação ou hipotaxe

De acordo com Garcia (2004), na subordinação não há paralelismo, mas desigualdade de funções e de valores
sintáticos. É um processo de hierarquização, cujo enlace entre as orações é muito mais estreito do que a coordenação.
Divide-se em:
a) Adverbiais - são orações que exercem a função de adjunto adverbial do verbo da oração principal, tendo a mesma função
que um advérbio na estrutura frásica.
ORAÇÃO PRINCIPAL

CAUSAL
PERÍODO COMPOSTO
POR SUBORDINAÇÃO
COMPARATIVA

CONFORMATIVA
ORAÇÃO
SUBORDINADA
ADVERBIAL CONSECUTIVA

CONDICIONAL

CONCESSIVA

FINAL

PROPORCIONAL

TEMPORAL

46
Todas as orações serão explicadas por intermédio dos exemplos que foram dados no item 3.1.2.2.

b) Substantivas - São orações que exercem a mesma função que um substantivo, na estrutura sintática da frase,
divide-se:

ORAÇÃO PRINCIPAL

APOSITIVA
PERÍODO COMPOSTO
POR SUBORDINAÇÃO
COMPLETIVA
NOMINAL

PREDICATIVA
ORAÇÃO
SUBORDINADA
OBJETIVA
SUBSTANTIVA
DIRETA

OBJETIVA
INDIRETA

SUBJETIVA

- Oração subordinada substantiva SUBJETIVA: exerce a função de sujeito do verbo da oração principal.

Ninguém sabe se ela existiu ou se foi apenas mito. Mas o fato é que
a imagem da escrava Anastásia é cultuada por uma legião de fiéis.
No século XXI, o explorador francês Étiene Victor Arago desenhou
uma ex-princesa de origem banta com uma espécie de mordaça de
folha-de-flandes e uma corrente de ferro no pescoço. Dizia-se que
Anastácia fora torturada por ter lutado pela liberdade. Tendo se
recusado a cumprir ordens, havia sido brutalmente ferida. Tantos
castigos a teriam purificado.
Fonte: <http://kallafangsschool.blogspot.com.br/2013/07/oracoes-subordinadas-substantivas-e_14.html>

- Oração subordinada substantiva OBJETIVA DIRETA: exerce a função de objeto direto do verbo da oração
principal.

Percebo que o tempo já não passa


Você diz que não tem graça amar assim
Foi tudo tão bonito, mas voou pro infinito
Parecido com borboletas de um jardim
Agora você volta
E balança o que eu sentia por outro alguém
Dividido entre dois mundos
Sei que estou amando, mas ainda não sei quem

Fonte: <http://www.cifraclub.com.br/victor-leo/borboletas/>

- Oração subordinada substantiva OBJETIVA INDIRETA: exerce a função de objeto indireto do verbo da oração
principal, sendo iniciada por uma preposição.

47
- Oração subordinada substantiva COMPLETIVA NOMINAL: exerce a função de complemento nominal,
completando o sentido de um nome pertencente à oração principal. É iniciada por uma preposição.

Fonte: <professora-samara.blogspot.com.br/p/atividades.html>

- Oração subordinada substantiva PREDICATIVA: exerce a função de predicativo do sujeito do verbo da oração
principal.

Fonte: <jeantierry.blogspot.com>

- Oração subordinada substantiva APOSITIVA: exerce a função de aposto de qualquer termo da oração principal.

Fernanda tinha um grande sonho: QUE O DIA DO SEU CASAMENTO CHEGASSE.

c) Adjetivas - são orações que exercem a função de adjunto adnominal de um termo da oração principal, tendo a
mesma função que um adjetivo na estrutura frásica.
ORAÇÃO PRINCIPAL

PERÍODO COMPOSTO
POR SUBORDINAÇÃO

RESTRITIVA
ORAÇÃO
SUBORDINADA
ADJETIVA EXPLICATIVA

- Oração subordinada adjetiva RESTRITIVA: especifica o sentido do nome a que se refere, restringindo seu
significado a um ser único, definido por ele. Não existe marca de pausa, como vírgulas, entre este tipo de oração e a
oração principal. São indispensáveis para a compreensão da frase.

48
Os discentes do curso de Letras da UEA que produziam textos muito bem aceitaram o desafio de publicar um livro.

- Oração subordinada adjetiva EXPLICATIVA: acrescenta uma informação acessória, ampliando ou esclarecendo
um detalhe de um conceito que já se encontra definido. Aparece sempre separada por vírgulas e pode ser retirada da frase
sem que haja alteração do sentido.
Os discentes do curso de Letras da UEA, que produziam textos muito bem, aceitaram o desafio de publicar um
livro.
As orações subordinadas ora apresentadas são as chamadas desenvolvidas, ou seja, apresentam o verbo flexionado
ou no modo subjuntivo, ou no indicativo. No entanto, as orações subordinadas podem ser reduzidas, isto acontece quando
o verbo se apresenta flexionado em uma das seguintes formas nominais:

Chegando à UEA, logo (= Quando cheguei à


GERÚNDIO
escrevi um belo texto. UEA)

Meu grande desejo é (= que eu escreva bem)


FORMAS NOMINAIS INFINITIVO
escrever bem.

O aluno, já vestido
PARTICÍPIO para o baile, ficou (= que já estava vestido
frustrado por não para o baile)
poder sair.

Você percebeu que na forma reduzida as orações subordinadas não são ligadas por intermédio de conjunção à
oração principal.

3. 2 Estrutura interna e organização dos parágrafos

3.2.1 Mecanismos de coesão

Segundo Fávero (1997) os mecanismos de coesão são aqueles elementos linguísticos responsáveis pela estruturação
da sequência superficial do texto. Divide-se em:

3.2.1.1 Coesão referencial

Manifesta-se geralmente por meio de itens linguísticos que não podem ser interpretados semanticamente por si
mesmos, como pronomes pessoais, demonstrativos e relativos.
a) Substituição: ocorre quando um dado elemento linguístico é retomado ou precedido por um outro elemento.

No caso da retomada, tem-se a


anáfora.

Fonte: <http://www.minirecados.com/>

49
No caso da antecipação, tem-se
a catáfora.

Fonte: <http://www.minirecados.com/fotorecado-te-adoro-3875/>

b) Reiteração: é a repetição de expressões que têm a mesma referência no texto.


Repetição do mesmo item O fogo destruiu tudo. O edifício desmoronou. Do edifício, sobrou absolutamen-
lexical: ocorre quando a retomada te nada.
da informação se dá pela repetição
das mesmas expressões lexicais.
Sinonímia: ocorre quando a A segurança pública mostra-se ineficiente nas grandes cidades. A sociedade
repetição se dá pelo emprego de presencia uma realidade em que são cada vez mais frequentes os casos de
sinônimos. violência. Esse cenário requer maior atenção do Governo na tentativa de buscar
melhorias na qualidade de vida da população.
Hiperonímia/hiponímia: quando Um porco morreu devido a uma overdose de haxixe depois de ter comido
o primeiro elemento de uma grande quantidade de droga que seu proprietário escondeu em uma fazenda
sequência linguística mantém com em Vilagarciana de Carril, na Galícia, noroeste da Espanha”. (Folha de São Paulo,
um segundo uma relação todo/ 12/02/91).
parte, classe/elemento, tem-se um
hiperônimo. Quando o primeiro
elemento mantém com o segundo
uma relação parte/todo, elemento/
classe, tem-se o hipônimo.
Expressões nominais definidas: Comemora-se o sesquicentenário de Machado de Assis. As comemorações de-
ocorrem quando há retomadas vem ser discretas para que sejam dignas de nosso maior escritor. Seria ofensa à
de um mesmo referente por memória do Mestre qualquer comemoração que destoasse da sobriedade e do
meio de expressões de natureza recato que ele imprimiu a sua vida, já que o bruxo do Cosme Velho continua vivo
diversa, relacionadas com o nosso entre nós. (texto adaptado)
conhecimento de mundo.
Nomes genéricos: ocorrem quando Até que o mar, quebrando o mundo, anunciou de longe que trazia nas suas ondas
há reintegração do item lexical coisa nova, desconhecida, forma disforme que flutuava, e todos vieram à praia,
pela utilização de nomes genéricos, na espera... E ali ficaram, até que o mar, sem se apressar, trouxe a coisa, certa, e
como: pessoa, coisa, fato, gente, depositou na areia surpresa triste, um homem morto... (texto adaptado)
negócio, lugar, ideia, funcionando
como itens de referência anafórica.

3.2.1.2 Coesão recorrencial


A coesão recorrencial ocorre quando as retomadas de estruturas linguísticas visam à progressão do discurso.
Constitui um meio de articular a informação nova àquela já conhecida no contexto.

Retomada de termos: ocorre Pedro, pedreiro, pedreiro esperando


quando a repetição de um o trem que já vem, que já vem, que já
mesmo termo exerce uma vem, que já vem...
função determinada, de ênfase,
intensificação etc.
Paralelismo: ocorre quando Irene preta
os elementos linguísticos são Irene boa
reutilizados em enunciados com Irene sempre de bom humor (texto
sentidos diferentes. adaptado)

50
3.2.1.3 Coesão sequencial
A coesão sequencial tem a mesma função da coesão recorrencial: fazer progredir o texto, impulsionando o fluxo
informacional. Difere da recorrencial por não apresentar retomadas de itens, sentenças ou estruturas.

Correlação de tempos verbais: todo enunciado Ordenei que deixassem o apartamento em ordem.
deve satisfazer as condições conceptuais sobre Ordeno que deixem o apartamento em ordem.
localização temporal e ordenação relativa que são
características da referência da realidade.
Conexão das orações Exemplos dados no estudo das orações coordenadas e subordi-
nadas.
Conexão de enunciados em textos: por meio de
encadeamentos sucessivos e diferentes entre
dois ou mais períodos e entre parágrafos de um
texto. Os elementos formais responsáveis por
esse tipo de conexão são chamados operadores
argumentativos.
São operadores argumentativos: estão com o
propósito de, com a intenção de, pelo contrário,
em vez disso, em contrapartida, em suma, em
síntese, em conclusão, para resumir, para concluir
etc.

3.4 Pontuação

De acordo com Guimarães (2012), os sinais de pontuação são recursos gráficos próprios da linguagem escrita.
Embora não consigam reproduzir toda a riqueza melódica da linguagem oral, eles estruturam os textos e procuram
estabelecer as pausas e as entonações da fala. Basicamente, têm como finalidade:
• Assinalar as pausas e as inflexões de voz (entoação) na leitura;
• Separar palavras, expressões e orações que devem ser destacadas;
• Esclarecer o sentido da frase, afastando qualquer ambiguidade.

Veja a seguir os sinais de pontuação mais comuns, responsáveis por dar à escrita maior clareza e simplicidade.

VÍRGULA (,) - indica uma pausa


pequena, deixando a voz em
suspenso à espera da continuação do
período. Geralmente é usada para:
a) separar termos que possuem
mesma função sintática na oração;
b) isolar o vocativo;
c) isolar o aposto;
d) isolar termos antecipados, como
complemento ou adjunto;
e) separar expressões explicativas,
conjunções e conectivos: isto é, ou
seja, por exemplo, além disso, pois,
porém, mas, no entanto, assim, etc.
f) separar os nomes dos locais de
datas;
g) isolar orações adjetivas
explicativas. Fonte: <beneditosalazar.wordpress.com>

51
PONTOS:
a) FINAL (.)- É usado ao final de
frases para indicar uma pausa total,
bem como de abreviaturas.
b) INTERROGAÇÃO (?) – É usado
não só para formular perguntas
diretas, mas também para indicar
surpresa, expressar indignação ou
atitude de expectativa diante de uma
determinada situação.
c) EXCLAMAÇÃO (!) – Usa-se
depois de frases que expressem
sentimentos distintos, tais como:
entusiasmo, surpresa, súplica,
ordem, horror, espanto e depois de
vocativos e algumas interjeições.
PONTO E VÍRGULA (;) – Usa-se
para separar itens enumerados, bem
como separar um período que já se
encontra dividido por vírgulas.

DOIS-PONTOS (:) – Usa-se


quando vai fazer uma citação ou
introduzir uma fala, bem como se
quer indicar uma enumeração.

ASPAS (“ “) – Usado em citação


de alguém, bem como expressões
estrangeiras, neologismos, gírias.

Fonte: <professorfelipesoares.blogspot.com>

52
RETICÊNCIAS (...) -São usadas
para indicar supressão de um
trecho, interrupção ou dar ideia
de continuidade ao que se estava
falando.

Fonte: <pt.slideshare.net>
PARÊNTESES ( ) - São usados
quando se quer explicar melhor algo
que foi dito ou para fazer simples
indicações.

TRAVESSÃO – É usado para indi-


car a mudança de interlocutor em
um diálogo, separar orações interca-
ladas, desempenhando as funções da
vírgula e dos parênteses, bem como
colocar em evidência uma frase, ex-
pressão ou palavra.

3.5 Concordância

Para Guimarães (2012), o estudo da concordância representa um poderoso instrumento para se produzir textos de
acordo com as normas da variante padrão da língua. Concordar adequadamente o sujeito com o verbo ou o adjetivo com
o substantivo pode tornar o texto mais preciso, sem ambiguidades. Verificaremos por intermédio do mapa conceitual as
regras de concordância.

Fonte: <http://www.diegomacedo.com.br/wp-content/uploads/2012/07/Mapa-Mental-de-Portugu%C3%AAs-Concord%C3%A2ncia-Verbal-
Regra-Geral.jpg>

53
Fonte: <http://www.diegomacedo.com.br/wp-content/uploads/2012/07/Mapa-Mental-de-Portugu%C3%AAs-Concord%C3%A2ncia-Verbal-
Verbo-no-Singular.jpg>

Fonte: <http://www.diegomacedo.com.br/wp-content/uploads/2012/07/Mapa-Mental-de-Portugu%C3%AAs-Concord%C3%A2ncia-Verbal-
Casos-Especiais.jpg>

Fonte: <http://www.diegomacedo.com.br/wp-content/uploads/2012/07/Mapa-Mental-de-Portugu%C3%AAs-Concord%C3%A2ncia-Verbal-
Casos-Especiais.jpg>

54
Lembre-se de que tais regras de concordância são relevantes e conhecê-las contribuirá para uma produção do texto.
E, por meio dos textos produzidos por vocês serão exploradas as regras citadas.

3.6 Atividades de aprendizagem

Leia o texto abaixo e teça considerações acerca das conexões realizadas, da pontuação, do paralelismo,
assim como da concordância.

O vento balançou meu barco em alto mar


O medo me cercou e quis me afogar
Mas então eu clamei ao filho de Davi
Ele me escutou, por isso estou aqui
O vento ele acalmou, o medo repreendeu
Quando ele ordenou, o mar obedeceu
Não temo mais o mar, pois firme está minha fé
No meu barquinho está Jesus de Nazaré
Se o medo me cercar ou se o vento soprar
Seu nome eu clamarei, ele me guardará
Não temo mais o mar, pois firme está minha fé
No meu barquinho está Jesus de Nazaré
Se o medo me cercar, ou se o vento soprar
Seu nome eu clamarei, ele me socorrerá
Oh, aleluia, a palavra do senhor diz mil cairão ao teu lado
Dez mil a tua direita, mas tu não serás atingido!
Se o vento soprar contra a tua vida
Clame o nome de Jesus e ele te socorrerá!
Fonte: <http://letras.mus.br/giselli-cristina/1791433/>

3.7 Síntese

A compreensão e os estudos dos processos de construção de períodos contribuem para que se construam textos
claros, coesos e coerentes, sendo o ideal para produção de um parágrafo mesclar frases de diversas construções e extensões,
para que o texto se torne harmônico.
Afirma-se, também, que as sentenças complexas aparecem a partir de dois eixos: o tático e o lógico-semântico.
O eixo tático tem a ver com a relação de interdependência entre elementos (os quais podem ser palavras, sintagmas ou
cláusulas); compreende a parataxe (relação entre elementos de igual estatuto) e a hipotaxe (relação entre elementos de
diferente estatuto – o termo dominante e o seu dependente).
Não esqueça, ainda, de que a coerência dará sentido ao texto, estabelecido pelas pistas e sinalizações dadas ao leitor.
Por sua vez, a coesão é o conjunto formado por estas pistas e sinalizações. Os principais problemas de coesão e coerência
observados em textos são: ausência de mecanismos coesivos ou excesso, uso inadequado dos mecanismos de coesão, da
pontuação e da concordância, bem como inadequação de elementos coesivos para “esconder” a ausência de coerência.

3.8 Aprofundando o conhecimento

A arquitetura interna do texto, ao ser explorada, possibilita, ao leitor, estabelecer um percurso interpretativo do
texto, por intermédio da associação estabelecida com os sentidos indicativos que têm as palavras, bem como os sentidos
estruturais que articulam as relações entre as partes do texto.

3.8.1 Exercícios de aplicação

1) Leia o texto abaixo e responda às questões A e B.

Em Salvador, as gangues dos meninos de rua – que roubam e auxiliam traficantes para andar com roupa e tênis
da moda – sabem que esse guarda-roupa não combina com a imundície dos locais onde dormem, chamados mocós em
quase todo o país.
Contornam a dificuldade de banho nos chafarizes das praças ou se valem da boa vontade de grupos religiosos e
donos de lanchonetes que os deixam usar os chuveiros.
Limpos, fortes e bem vestidos, não passam, porém, por garotos de classe média, como pretendem. São traídos por
visíveis erupções de pele no rosto e nos braços, provocadas por constantes intoxicações. É esse o resultado da inalação da
cola de sapateiro, do consumo de drogas mais pesadas e da alimentação suspeita que obtêm nas ruas. ( Jornal O Estado de
São Paulo. Mar 1992. In: FARACO & MOURA. Linguagem nova. São Paulo: Ática. V. 8, p. 53).

55
A) Indique as expressões do texto a que se referem os seguintes mecanismos de coesão:

a) que (linha 01) b) esse guarda-roupa (linha 02)


c) onde (linha 02) d) os (os deixam/ linha 05)

B) Explicite o tipo de relação sintático-semântica que se estabelece no texto pelos seguintes itens linguísticos:

a) para (linha 01) b) porém (linha 06)

2) Leia o texto abaixo

O QUE É SER GENTE DIREITA?

Dificilmente alguém será aclamado direito por todos os seres humanos, pois cada um pensa de uma maneira e tem
uma concepção formada do que é certo ou errado.
A pessoa ser considerada direita pelos outros é muito relativo; por exemplo: se você roubasse algum bem de valor
e desse a seu pai, você poderia ser considerado um bom filho; todavia, perante a sociedade, essa pessoa seria um ladrão.
Gente direita é alguém que diante do seu modo de pensar, da sua maneira de agir, de sua criação, do lugar em que
habita, tem na sua consciência que aquilo que está fazendo é certo. (Texto adaptado)
Destaque do texto uma passagem em que a conjunção indique as relações lógico-semânticas de:

a) causa: b) condição
c) adição: d) oposição

3) Leia o texto antes de resolver as questões propostas.

PODERÍAMOS VIVER SEM CHUVA

À primeira vista, parece que a chuva devia cair sempre à noite, porque é precisamente quando mais benefícios traz
e menos prejudica nossos afazeres e divertimentos; mas quer ela caia em dias de festa ou de noite, enquanto dormimos
tranquilamente, a chuva é sempre necessária.
Seus efeitos consistem em penetrar na terra e ser absorvida pelas raízes das plantas, que dela necessitam para viver.
Se não houvesse chuva, a vida seria possível no mar. Nas regiões onde não há chuva, não há também vida, e noutras onde
a chuva escasseia ou só cai em certas estações do ano, as populações esperam-na e desejam-na, e até há costume de elevar
preces ao céu para que a envie em tempo próprio.
Devemos ver na chuva, por consequência, um agente que limpa e purifica o ar, alimenta a vida vegetal, da qual
depende a nossa e nos fornece a água de que necessitamos durante todo o ano, nas regiões onde chove bastante. (Texto
adaptado)

A) Indique a expressão a que se referem os seguintes itens linguísticos:

a) seus (linha 04) d) na (linha 07)


b) dela (linha 04) e) da qual (linha 10)
c) onde (linha 05)

B) Identifique as relações sintático-semânticas que se estabelecem no texto por meio dos seguintes conectivos.

a) porque (linha 01) d) para que (linha 07)


b) enquanto (linha 03) e) e (linha 10)
c) mas (linha 02)
C) Analise a concordância apresentada no texto, bem como pontuação.

3.8.2 Questão para reflexão

Considerando a discussão desenvolvida neste capítulo, bem como a importância de inserir gêneros mais diversos
na aula de língua portuguesa, já que estes ampliam as possibilidades de explorar não apenas a forma e função, como

56
também aspectos multimodais relevantes na construção de sentidos, cite outros gêneros que possibilitem abordagens nesta
perspectiva. Em seguida, selecione um desses gêneros e levante possibilidades de abordagem dos eixos de escrita e análise
linguística e visual (ou verbo-visual).

3.8.3 Leitura indicada

IRANDÉ, Antunes. Lutar com as palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

3.8.4 Sites indicados


http://www.ufjf.br/revistaveredas/files/2009/12/cap01.pdf

57
Etapas de produção do
IV
Unidade texto escrito

Nesta unidade abordaremos acerca dos conceitos, importância e etapas de planejamento e desenvolvimento do
gênero escrito – Artigo de opinião e Resumo.

4.1 A produção do texto escrito


A produção textual escrita envolve as importantes etapas do planejamento, da execução e da reescrita do texto. A
não compreensão do processo e do trabalho necessário à escrita poderá interferir na qualidade da produção dita final se
não houver: a) a consciência da estreita relação entre o planejamento, a execução, a revisão e a reescrita; b) clareza sobre
o que constitui cada etapa, bem como reflexão teórico-prática consistente sobre os papéis a serem desempenhados pelos
sujeitos professor e aluno em cada uma delas. Geraldi (1997) postula que é importante que o aluno perceba que tem o
que dizer, a quem dizer e como dizer numa dada situação comunicativa. Para o professor, é imprescindível conduzi-lo a
essa compreensão a partir de suas ações mediadoras, do planejamento à reescrita do texto, conscientizando-o de que ele
(aluno) é, em maior medida, o responsável pela produção do texto.

Ao planejar um texto é preciso levar em consideração as várias ações que antecedem à execução da escrita. Dentre
essas ações incluem-se:

a) as leituras e as reflexões prévias, com objetivo de favorecer a apropriação e o aprofundamento do conhecimento


temático;
b) a definição do projeto do discurso em razão de uma interlocução marcada, pois a interação só se efetiva entre
dois ou mais interlocutores;
c) a escolha de um gênero.

Ao planejar e encaminhar a atividade de produção textual, o professor, na condição de mediador do processo,


também deve considerar que entre a leitura, outras práticas reflexivas e a execução da escrita, haja um tempo, a fim de que
o estudante possa amadurecer seus conhecimentos e afastar-se da armadilha da prática escolar da reprodução textual ou
da execução de uma escrita que se desencadeia a partir de uma pré-leitura superficial, o que Sercundes (1997) chama de
escrita como consequência.
Naturalmente, ao escrever, dado ao planejamento que precede a atividade, o produtor do texto faz uso de seu
conhecimento genérico (temático, estilístico, composicional), considerando também o objetivo da interlocução, que se
marca e efetiva no e pelo texto que produz, bem como realiza indagações como:

a) É assim que se escreve? Dúvidas ortográficas;


b) Como posso dizer isso? Dúvidas quanto ao uso de regras.

No processo de revisão do texto do aluno, o professor pode recorrer a diferentes estratégias de correção textual,
conforme se apresentam nos trabalhos de Serafini (2004) e Ruiz (2010). Para a primeira autora, existem três estratégias
de correção textual das quais os professores podem se valer para fazer a correção dos textos dos alunos: a indicativa, a
resolutiva, e a classificatória. Ruiz acrescenta uma nova possibilidade em seu trabalho: a correção textual-interativa, ou
seja, os apontamentos são mais extensos que nos outros tipos de intervenção e muitas vezes se assemelham a uma carta.
A reescrita constitui uma importante etapa constitutiva do processo de produção que se dá a partir da etapa da
revisão, desencadeada pelo próprio olhar sobre o texto - olhar do aluno-produtor - ou a partir do olhar de outros. É na
reescrita do texto que o produtor adquire a consciência em ser interlocutor de si e de ter outros interlocutores, assim
como seu papel como autor. Consoante Conceição (2004, p. 324) “faz-se necessário que a prática de correção leve de
fato o produtor à reflexão sobre seu próprio discurso e sobre os possíveis efeitos de sentido que seu dizer produzirá no
interlocutor”.
Desta forma, o produtor do texto deve ser incentivado a reavaliar a própria produção. Assim, deverá ter o
entendimento de que a escrita é processo e o texto não é um produto acabado.
A autora defende ainda que uma reescrita que se efetiva a partir da consideração dos aspectos interacionais, “que
pressupõe ao professor uma postura mais distante do juiz, do avaliador e mais próxima do interlocutor que está disposto
a dialogar com o texto seu autor”.
Cabe ressaltar que os aspectos gramaticais devem levar em consideração a ortografia, a concordância, a regência,
entre outros elementos.
Serafini (1992) apresenta, acerca do processo de desenvolvimento das atividades de produção de textos, importantes
etapas para que a teoria se torne prática:

58
a. Plano – tempo disponível e negociação do assunto e gênero textual;
b. Produção de ideias – leituras dentro e fora da sala e da escola, a fim de que se façam as opções temáticas do
assunto;
c. Organização das informações – recortes de revistas, jornais e páginas virtuais, a fim de se elegerem aquelas que
se aproximam ou que permitam o embate e que poderão fazer parte da produção dos textos escritos; levantamento de
hipóteses; eleição da tese; discussão de pontos de vista; roteiro;
d. Produção do texto: dissertativo, narrativo, descritivo, ou seja, de acordo com a negociação a partir das exigências
da Universidade (redação de textos com características científicas nos trabalhos das diversas disciplinas do currículo) e
da ementa da disciplina (dissertação, narração, descrição e aqueles que se fizerem necessários para as outras disciplinas e
eventos, dos quais os alunos participam apresentando trabalhos);
e. Revisão – do conteúdo e da forma pelo autor;
f. Redação – aquela que se submete à leitura de outro leitor: o professor (interlocutor e par no processo);
g. Correção – feita pelo professor, como interlocutor, com vistas ao diálogo com o texto no que diz respeito ao
todo semântico e formal;
h. Devolução ao autor – leitura das anotações feitas pelo professor e diálogo sobre as dúvidas;
i. Intervenção do professor – exposição teórica do que lhe for solicitado pela correção e pelo diálogo com os
autores (nesse momento, sempre que lhe é exigido pelas circunstâncias, o professor analisa o texto com os alunos e
sistematiza questões pertinentes à clareza e à adequação das ideias, valendo-se, inclusive, da metalinguagem);
j. Organização negociada de uma planilha de avaliação;
k. Redação final (ou não dependendo do avanço do autor do texto);
l. Avaliação ancorada em princípios norteadores cujo enfoque é a Linguística Textual, basicamente.

4.1.1 Síntese

De acordo com as etapas do processo de produção do texto estudadas, podemos entender que o planejamento se
compõe inicialmente pela determinação do contexto da tarefa de escrever, etapa em que devem ser observados os objetivos,
assunto, gênero do discurso, público, nível de linguagem, grau de subjetividade, formato do texto. Na sequência, outro
aspecto importante é o acesso que o redator faz à sua memória ao buscar elementos da língua, características do gênero e
do tipo textual, necessários para aquela produção escrita e informações sobre o assunto ao qual vai escrever, consistindo
em um momento importante no processo de produção do texto escrito. Garcês (2001:7) afirma que “é pela convivência
com textos escritos de diversos gêneros que vamos incorporando às nossas habilidades um efetivo conhecimento da
escrita”.

4.1.2 Aprofundando o conhecimento

A dificuldade com a escrita é a consideração de que os produtores de textos precisam aprender Português,
entendendo que Português significa a microestrutura textual, ou seja, (acentuação, ortografia, concordância, regência, entre
outros aspectos da superfície gramatical do texto). Muitos produtores de texto vivem a ilusão de que o conhecimento de
tais aspectos pode conduzir à produção de um texto mais competente e que aprender a língua significa aprender a acentuar,
pontuar e escrever ortograficamente.

4.1.3 Questão para reflexão

• Fazer intervenções enquanto se produz um texto é correto? Ou é melhor o professor deixar os alunos terminarem
e revisar só ao fim do trabalho?
• Quais são as etapas essenciais da produção de texto?
• É válido que os próprios alunos revisem os textos dos colegas?

4.2 Exercícios de aplicação

Para se produzir um bom texto é necessário que o escritor tenha um prévio conhecimento do assunto que irá
abordar. Além disso, a clareza das ideias é fundamental ao entendimento do leitor. Com base nestes aspectos e nos demais
anteriormente estudados, construa um texto dissertativo a partir da temática: Qual a importância da língua portuguesa na
formação do indivíduo?

59
4.3 Leitura indicada

SANTOS, Carmi Ferraz; MENDONÇA, Marcia; CAVALCANTI, Marianne C.B. (Org.) Diversidade textual : os gêneros na
sala de aula. Belo Horizonte : Autêntica, 2007. Cap. I

4.4 Sites indicados

http://www.senallp.furg.br/index.php?option

4.5 Artigo de Opinião

O artigo de opinião consiste num gênero textual que constrói uma opinião a respeito de uma questão controversa.
Bräkling (2000) esclarece que esse gênero objetiva convencer o leitor com relação uma ideia, de modo a influenciar e
transformar seus valores por meio da argumentação a favor de uma posição e da refutação das afirmações por meio da
apresentação de dados consistentes. Assim, a tipologia textual de base do artigo de opinião é dissertativa.
Esse gênero, segundo o autor, pode abordar temais atuais de ordem social, econômica, política ou cultural relevantes
para os leitores. Segundo Rodrigues (2007), o artigo de opinião prioriza a análise dos acontecimentos sociais em si e a
posição do autor.
No artigo de opinião, de acordo com Bräkling (2000) evidenciam-se a dialogicidade e a alteridade no processo de
produção: o autor coloca-se no lugar do outro e justifica suas afirmações, a partir de possíveis questões ou conclusões
contrárias, suscitadas pelo leitor.
A finalidade comunicativa do gênero é analisar, avaliar e responder a uma questão por meio da argumentação. Cada
parágrafo contém habitualmente um argumento que dá suporte à conclusão geral. Vejamos alguns item importantes e que
devem ser levados em consideração:

a) Argumento de autoridade: uso de citação de autores renomados ou de autoridades no assunto, a fim de comprovar
uma ideia, uma tese ou um ponto de vista. Seu emprego torna o discurso mais consistente, pois outras vozes reforçam o
que o produtor do texto quer defender. Por exemplo, num artigo de opinião sobre a idade penal, pode-se trazer a voz de
um juiz ou de um promotor.
b) Argumentação de consenso: utilização de proposições evidentes por si mesmo ou universalmente aceitas como
verdade. Exemplo: é consenso afirmar que o Brasil precisa investir na educação, saúde e segurança.
c) Argumentos de provas concretas: apresentação de fatos, dados estatísticos, exemplo e ilustrações com o objetivo
de comprovar a veracidade do que se diz. Exemplifica-se: ao abordar o resultado positivo no Brasil com a implantação
da Lei Seca, é possível citar os números da redução de acidentes e mortes no trânsito para dar suporte à opinião do autor
favorável a essa lei.
d) Argumentação de competência linguística: emprego da linguagem adequada à situação de interlocução. A escolha
dos vocábulos, locuções e formas verbais, entre outros aspectos linguísticos, é essencial para a efetiva interação entre o
autor e o leitor.

Segundo Köche (2015), o artigo de opinião é escrito por jornalista colaborador do jornal, revista ou site. Geralmente,
o produtor é uma autoridade no assunto abordado ou pessoa reconhecida na sociedade.
Esse gênero é publicado em jornais e revistas impressas ou on-line, em seção destinada à emissão de opiniões. Sua
publicação pode ser diária, semanal, quinzenal ou mensal. O texto ocupa um espaço físico limitado, normalmente de meia
página, conforme o periódico.
O público-alvo a que o artigo de opinião se destina são pessoas quase sempre com um nível de escolaridade médio
ou superior. Na maioria das vezes, o leitor busca esse gênero com o objetivo de encontrar informações e formar uma
opinião sobre assuntos controversos.
O artigo de opinião pode estruturar-se em: situação-problema, discussão e solução-avaliação.

a) Situação-problema: coloca a questão a ser desenvolvida para guiar o leitor ao que virá nas demais partes do texto.
b) Discussão: expõe os argumentos e constrói a opinião a respeito da questão examinada. Segundo Guedes (2002),
o texto dissertativo apresenta provas a favor da posição assumida e provas para mostrar que a posição contrária está
equivocada. Nesta parte, o artigo de opinião vale-se de fatos concretos, dados e exemplos, com o uso de sequências
narrativas, descritivas e explicativas, entre outras, a fim de evitar abstrações.
c) Solução-avaliação: evidencia a resposta à questão proposta. Pode haver a reafirmação da posição assumida ou a
apreciação do assunto abordado.

O artigo de opinião utiliza uma linguagem acessível ao interlocutor a que se destina. Utiliza a primeira ou a terceira
pessoa do discurso como o propósito de debater o tema. Quanto aos tempos verbais, Bräkling (2000) constatou o emprego
no presente do indicativo ou do subjuntivo para apresentar a questão, os argumentos e os contra-argumentos e o uso do
pretérito para dar uma explicação ou expor dados.

60
Com objetivo de manter a coerência temática e a coesão, esse gênero textual pode valer-se de diversos recursos
linguísticos, como operadores argumentativos (mas, também, em vista disso, portanto, além disso, inclusive, entre outros) e
dêiticos (este, neste momento, ultimamente, recentemente, ontem, há alguns dias, antes de, de agora e diante, entre outros).
Apresentamos a seguir o texto “Livro Eletrônico”, retirado da revista VEJA, como proposta de análise.

4.5.1 Texto para análise ilustrativa

Livro Eletrônico

Este é um dos temas sobre os quais os jornalistas e leitores habituais mais nos interrogam. O livro vai acabar, as
editoras vão fechar, é a morte dos autores? Primeiro, os catastrofistas de plantão são em geral mal informados. Quando
surgiu o rádio, dizia-se, nesse mesmo tom, que ninguém mais iria conversar nas famílias. Vindo a televisão, estavam mortos
o teatro e o rádio. Chegando a Internet, tudo estava acabado, menos o isolamento, a alienação.
Nada mudou radicalmente dentro desse esquema: não se deixou de conversar (as pessoas nunca se comunicaram
tanto quanto na Internet), não se deixou de ir ao teatro (bons espetáculos atraem muita gente), ninguém parou de ir ao
cinema (a não ser por medo de sair à noite, pela insegurança que se alastra), enfim, cada novo invento acrescentou, não
tirou.
Li um diálogo interessante, dirigido por um jornalista, entre Umberto Eco e um roteirista francês, sobre o assunto.
Os dois são donos de imensas bibliotecas, de muitas dezenas de milhares de volumes. Portanto, são amantes de livro, vivem
com e para o livro.
Interessantes comentários: o registro escrito, seja em papel, pergaminho, nas antiquíssimas tabuinhas de argila,
é o mais sólido, é permanente. O e-book, o livro eletrônico, que tem suas vantagens como todo artefato moderno, tem
desvantagens claras de saída. Por exemplo, dependeremos de mais decodificadores, suportes, seja como for: já não
conseguimos ver os antigos vídeos de poucos anos atrás, a não ser que ainda tenhamos em casa aquele aparelho já
superado onde os enfiar. Logo os CDs serão esquecidos,os DVDs serão antiquados, e teremos de modificar, a cada nova
invenção, a nossa biblioteca eletrônica. Sem falar na saúde dos olhos, atacados pelo tipo de luminosidade, modo de leitura,
do texto na página de um e-book.
Outro assunto que me fascinou liga-se à bela palavra “palimpsesto”. Para quem não sabe, é a escrita sobre outra
escrita. Encontram-se, em bibliotecas monumentais como a do Congresso americano, raridades em forma de tabuinhas,
argila, pergaminho, couro, e mesmo papel, em que trechos ou palavras foram raspados e outros escritos em seu lugar, ou
simplesmente por cima. Revelados, abrem-nos facetas incríveis da antiga cultura, pessoas, modos de vida. São camadas de
civilização, que fascinam exércitos de cuidadores e estudiosos. No e-book teremos apenas o reles imediato. Prático, sim:
não definitivo nem profundo.
Naturalmente dirão que sou viciada no livro de papel: direi que, sim, o cheiro de livro, de biblioteca ou de livraria é
mágico para quem como eu foi criada nesse meio, ligada a esse instrumento de prazer, informação e crescimento pessoal,
de integração no mundo, sem fronteiras de espaço e tempo. Isso pode entediar a novíssima geração, para quem a tela do
computador é mais fascinante do que a lombada de um livro: e por que não? Tudo é legítimo e vale a pena, desde que não
corrompa nem emburreça nem empobreça demais.
Eu direi que as duas coisas podem e vão conviver, como rádio e família, televisão e teatro, Internet e outros meios
de comunicação. Tudo está aí para nos servir, se não formos incompetentes demais. O resto, as discussões sobre o fim
do livro e a morte das editoras, quem sabe dos escritores, me parece tolo, material de intermináveis diálogos e discussões
vazias, artigos sem fundamento, entrevistas sem grande interesse.
E se o livro eletrônico vencer, se conseguirmos afinal um meio permanente, que permita ler anos a fio em todos os
lugares do mundo, preservar com segurança, e transmitir velhíssimos recados ocultos, vamos continuar lendo, escrevendo,
editando. A forma importa pouco: importam o prazer, a comunicação, o estudo, a pesquisa, a aventura através do tempo,
do espaço, das culturas e das mentes, que a palavra desperta em quem sabe perceber ali uma janela, que se abre de par
em par, passando para o outro lado, e se entregando. Então já não rasteja, mas voa. Já não se encolhe, mas se desdobra, e
intensamente vive.

LUFT, Lya. Revista Veja; Edição 2182; 15 de setembro de 2010.

Segundo Köche (2015:107) o artigo eletrônico, de autoria de Lya Luft, questiona se os livros digitais poderão
substituir os impressos.
O artigo de opinião em estudo estrutura-se em situação-problema, discussão e solução-avaliação.
Na situação-problema (parágrafo 1), a escritora interroga se estamos ou não diante do fim do livro impresso, do
fechamento das editoras e da morte dos autores com o surgimento das novas tecnologias. Ela afirma que o tema causa
dúvida entre leitores e jornalistas, e cita os posicionamentos equivocados de algumas pessoas sobre o assunto.
Na discussão (parágrafos 2-6), Luft (2010:26) constrói sua opinião acerca da questão proposta. Argumenta que
nada mudou com o advento das novas tecnologias: as pessoas não deixaram de conversar, de ir ao teatro e ao cinema; ao
contrário, os novos inventos trouxeram benefícios.

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Progredindo no texto, a autora diz que o livro eletrônico tem suas vantagens, como todo produto moderno, e
ressalta algumas de suas desvantagens: a dependência de mais decodificaddores, a necessidade de substituir constantemente
os aparelhos e o prejuízo à saúde dos olhos. Compara também a durabilidade e permanência dos textos em papel e outros
materiais com o imediatismo do e-book.
Ainda na vertente da discussão, a autora enfatiza o prazer e a magia do livro impresso, mas destaca que ele pode
aborrecer a nova geração, já fascinada pela tela do computador. Diz que tanto o livro impresso quanto o e-book são válidos
desde que não prejudiquem o ser humano.
No que diz respeito à solução-problema (parágrafos 7-8), a escritora responde à questão proposta na situação-
problema (parágrafo 1): afirma que os livros impressos não vão deixar de existir e conviverão com os livros eletrônicos,
e as discussões em torno do fim das editoras e dos autores não têm fundamento. A autora afirma o que importa não é a
forma como o livro se apresenta, mas o seu conteúdo e os benefícios da leitura.
No texto da Lya Luft, a linguagem utilizada é acessível ao leitor. Emprega a primeira pessoa do discurso para
abordar o assunto (Li um diálogo interessante [...] – parágrafo 3), o que dá maior credibilidade ao texto.
No que diz respeito aos tempos verbais, predomina no texto o presente e o pretérito perfeito do indicativo. A
autora usa o presente ao discutir a questão (Este é um dos temas [...] – parágrafo 1), visto ser um assunto atual no momento
da publicação do artigo, e vale-se do pretérito perfeito quando se remete ao passado ou estabelece relação entre presente/
passado (Nada mudou radicalmente [...] – parágrafo 2).
Köche (2015) analisa ainda que a autora do texto analisado, para manter a temática e a coesão, utiliza recursos
linguísticos, como operadores argumentativos (quando, enfim, tanto quanto, portanto, ainda, e, como, se, então, mas...) e
dêiticos (este, isso...).
Desta forma, “Livro Eletrônico” é um artigo de opinião na medida em que discute um assunto de interesse dos
leitores em geral e responde a uma questão controversa: a possível substituição dos livros impressos pelos eletrônicos e
tem sua tipologia textual de base dissertativa.

4.6 Exercício de aplicação

A seguir apresentamos o texto “A vida após a morte”, retirado da revista Veja, como proposta de atividade prática.

A vida após a morte

Muitos cientistas, talvez a maioria, não acreditam em Deus. Muito menos na vida após a morte. Os argumentos
não são fáceis de contestar. Um professor de matemática me perguntou o que existia de mágico no número 2. “Por que
você não acredita que teremos três ou quatro vidas, cada uma num estágio superior?” O que faria sentido, disse ele, seriam
os números zero, 1 e infinito. Zero vida seria a morte; 1.a vida que temos; e infinitas vidas, justamente a visão hinduísta e
espírita.
Outro dia, um amigo biólogo me perguntou se eu gostaria de conviver bilhões de anos ao lado dos ectoplasmas
de macaco, camundongo, besouro e formiga, trilhões de trilhões de vidas após a morte. “Você vai passar a eternidade
perguntando: ‘É você, mamãe?’, até finalmente encontrá-la.” Não somos biologicamente tão superiores aos animais como
imaginávamos 2 000 anos atrás. “É uma arrogância humana“, continuou meu amigo biólogo, “achar que só nós merecemos
uma segunda vida.”
O cientista Carl Sagan adverte, como muitos outros, que vida só se tem uma e que devemos aproveitar ao máximo
a que temos.
“Carpe diem“, ensinava o ator Robin Williams, “curtam o sexo e o rock and roll.” Sociólogos e cientistas políticos
vão argumentar que o céu é um engenhoso truque das classes religiosas para manter as massas “bem-comportadas e
responsáveis“. Aonde eu quero chegar é que, dependendo de sua resposta a essa questão, seu comportamento em terra
será criticamente diferente. Resolver essa dúvida religiosa logo no início da vida adulta é mais importante do que se
imagina. Obviamente, essa questão tem inúmeros ângulos e dimensões mais completas do que este curto ponto de vista,
mas existe uma dimensão que poucos discutem, o que me preocupa. Eu, pessoalmente, acredito na vida após a morte.
Acredito que existem até provas científicas compatíveis com as escrituras religiosas. Seu DNA poderá ser eterno, ele
continuará “vivo” em nossa progênie, nos netos e bisnetos. “Nossa” vida continua; geração após geração, teremos infinitas
vidas, como pregam os espíritas e os hindus.
Mais interessante ainda, seus genes serão lentamente misturados, através do casamento de filhos e netos, com
praticamente os de todos os outros seres humanos da Terra. Seremos lentamente todos irmãos ou parentes, uma grande
irmandade, como rezam muitos textos místicos e religiosos. Por isso, precisamos ser mais solidários, fraternos uns com os
outros, e perdoar, como pregam todas as religiões. A pessoa que hoje você está ajudando ou perseguindo poderá vir a ser
o bisavô daquela moça que vai um dia se casar com seu bisneto.
Seremos todos um, católicos, anglicanos, protestantes, negros, árabes e judeus, sem guerras religiosas nem
conflitos raciais. É simplesmente uma questão de tempo. Por isso, temos de adotar um estilo de vida “bem-comportado e
responsável”, seguindo preceitos éticos e morais úteis às novas gerações.

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Não há dúvida de que precisaremos curtir mais o dia-a-dia, mas nunca à custa de nossos filhos, deixando um
planeta poluído, cheio de dívidas públicas e previdenciárias para eles pagarem. Estamos deixando um mundo pior para
nós mesmos, são nossos genes que viverão nesse futuro. Inferno nessa concepção é deixar filhos drogados, sem valores
morais, sem recursos, desempregados, sem uma profissão útil e social. Se não transmitirmos uma ética robusta a eles, nosso
DNA terá curta duração.
“Estar no céu” significa saber que seus filhos e netos serão bem-sucedidos, que serão dignos de seu sobrenome,
que carregarão seus genes com orgulho e veneração. Ninguém precisa ter medo da morte sabendo que seus genes serão
imortais. Assim fica claro qual é um dos principais objetivos na vida: criar filhos sadios, educá-los antes que alguém os
“eduque” e apoiá-los naquilo que for necessário. Por isso, as mulheres são psicologicamente mais bem resolvidas quanto a
seu papel no mundo do que os homens, com exceção das feministas.
Homens que têm mil outros objetivos nunca se realizam, procurando a imortalidade na academia ou matando-se
uns aos outros. Se você pretende ser imortal, cuide bem daqueles que continuarão a carregar seu DNA, com carinho, amor
e, principalmente, dedicação.

Revista Veja, Editora Abril, edição 2061, ano 41, nº 20, 21 de maio de 2008, página 18.

Considerando o texto acima responda as atividades propostas a seguir.

4.7 Atividade de interpretação oral

1. As hipóteses que você levantou a respeito da opinião do autor sobre o assunto “A vida após a morte” se
confirmam após a leitura? Comente.

a. Do que trata o texto?


b. Qual foi o possível motivo que levou a autor a discutir esse assunto?
c. O autor do texto “A vida a pós a morte”, descreve ou emite uma opinião?
d. Qual é o ponto de vista do autor acerca da existência de vida após a morte?
e. Por que ninguém precisa ter medo da morte na opinião do autor? Você concorda com ele? Por quê?
f. Qual é a postura do autor em relação ao assunto (irônico, crítico, incisivo, indiferente)? Justifique sua resposta.

2. O que significa estar no céu e estar no inferno para Kanitz? Preencha o quadro.

Estar no céu Estar no inferno

4.8 Produção escrita:

Qual é a sua opinião sobre a questão: existe vida após a morte? Produza um artigo de opinião, explicitando
seu ponto de vista. Pesquise sobre o assunto, a fim de obter mais informações. Lembre-se de empregar argumentos
consistentes para defender sua opinião e convencer o interlocutor.

4.9 Retextualização do gênero

Faça um resumo do artigo de opinião “A vida após a morte”, de Stephen Kanitz. Após, confronte o resumo que
você produziu com o de seu colega, a fim de verificar se está coerente com o texto original. Com base nisso, realize as
adequações necessárias em seu texto.

4.10 Síntese

O artigo de opinião é um gênero em que o autor expõe seu posicionamento diante de algum tema atual e de
interesse de muitos. É também considerado um texto dissertativo por apresentar argumentos sobre o assunto abordado,
portanto, o escritor além de expor seu ponto de vista, deve sustentá-lo através de informações coerentes e admissíveis.
Logo, as ideias defendidas nesse gênero são de total responsabilidade do autor, e, por este motivo, ele deve ter cuidado
com a veracidade dos elementos apresentados, além de assinar o texto no final. Uma característica muito peculiar deste
é a persuasão, que consiste na tentativa do emissor de convencer o destinatário, neste caso, o leitor, a adotar a opinião

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apresentada. Por este motivo, é comum presenciarmos descrições detalhadas, apelo emotivo, acusações, humor satírico,
ironia e fontes de informações precisas. Geralmente, é escrito em primeira pessoa por se tratar de um texto com marcas
pessoais, bem como indícios claros de subjetividade, podendo também estar em terceira pessoa.

4.11 Aprofundando o conhecimento

O artigo de opinião pode ser encontrado circulando no rádio, na TV, nos jornais, nas revistas, na internet, utilizando
temas polêmicos que exigem uma posição por parte dos leitores, espectadores e ouvintes. O produtor deste gênero
apresenta seu ponto de vista expondo ideias pessoais por meio da escrita, com intenções de convencer seus interlocutores.
Para convencer é preciso que ele apresente bons argumentos, sustentados por verdades e opiniões, porém, tais opiniões são
fáceis de serem contestadas, pelo fato de serem fundamentadas em impressões pessoais do produtor do texto. Por ser um
gênero textual eficiente nas aulas de Língua Portuguesa, promove a interação entre os indivíduos. Para que essa interação
ocorra de modo efetivo, é necessário um real conhecimento por parte do professor do gênero e da função do processo
argumentativo na organização do discurso, além de uma atitude altamente engajada com o seu fazer pedagógico. Esse
comprometimento é manifestado através da apresentação ao aluno de textos atuais e diversificados, oriundos de questões
polêmicas, que incitem o raciocínio, a curiosidade e o diálogo de forma a contribuir para a ampliação da visão de mundo
do estudante. Assim, é preciso aproximar os gêneros textuais da esfera do ambiente discursivo escolar, pois eles garantem
aprendizagem efetiva e ampliam a visão de mundo dos estudantes que não têm o hábito de escrever textos de uso social.
Isso concorre para responder às exigências da formação de alunos críticos, capazes de refletir, compreender e escrever
discursos, concordar e discordar, rever e transformar pontos de vista na manutenção dos processos de interlocução.

4.11.1 Questão para reflexão

Os artigos de opinião têm como objetivo facilitar a situação comunicativa em sala de aula, estimulando a criticidade
e a reflexão em todas as esferas da comunicação. De que maneira eles podem contribuir com sua formação?

4.11.2 Leitura indicada

SANTOS, Carmi Ferraz; MENDONÇA, Marcia; CAVALCANTI, Marianne C.B. (Org.) Diversidade textual : os gêneros na
sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. Cap. II

4.11.3 Sites indicados

http://opiniao.estadao.com.br/artigo-de-opiniao/

4.12 Gênero – Resumo

Nesta aula abordaremos sobre o conceito, processo de produção e sumarização do resumo.

Fazer um resumo significa apresentar o conteúdo de forma sintética, destacando as informações essenciais do
conteúdo de um livro, artigo, argumento de filme, peça teatral, etc. Em algumas ocasiões, a palavra sinopse é usada como
sinônimo de resumo.
A elaboração de um resumo exige análise e interpretação do conteúdo para que sejam transmitidas as ideias mais
importantes. Um resumo pode ser indicativo, informativo ou crítico (com opiniões críticas do autor).
A leitura e produção de textos técnicos e acadêmicos tem apresentado uma crescente dificuldade no processo
de sua construção, não apenas nos alunos de nível básico, mas até mesmo de mestrado e doutorado. Tal constatação se
dá quando o produtor do texto se defronta com a necessidade de produzir textos como resumos, resenha críticas, de
relatórios, de projetos de pesquisa e artigos científicos, dentre outros. Por ora, iremos tratar do resumo.

4.12.1 Sumarização: Processo essencial para a produção de resumos

De acordo com Machado (2004), esse item compõe um dos processos mentais essenciais para a produção de
resumos, o processo de sumarização, que sempre ocorre durante a leitura, mesmo não produzindo um resumo oral ou
escrito. Esse processo não é aleatório, mas guia-se por uma certa lógica, que buscaremos identificar nas atividades que
seguem abaixo.

1. No supermercado, Paulo encontrou Margarida, que estava usando um lindo vestido azul de bolinhas amarelas.
Sumarização: Paulo encontrou margarida.
Informações excluídas: circunstâncias que envolvem o fato (no supermercado), qualificações/descrições de personagens
(que estava usando um lindo vestido de bolinhas amarelas.

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2. Você deve fazer as atividades, pois, do contrário, não vai aprender e vai tirar nota baixa.
Sumarização: Você deve fazer as atividades.
Informações excluídas: justificativas para uma afirmação.

4.12.2 A influência dos objetivos na sumarização

Como já fora apresentado, podemos sumarizar diferentes tipos de informações, provenientes de fontes variadas
(acontecimentos, filme, livro, entre outros) e essa sumarização pode ser materializada em uma parte de um texto ou em
um texto inteiro, em um verdadeiro resumo.
A seguir apresentamos o texto “Os dois gatos correram até a entrada da casa”, traduzido e adaptado de J. Pitchert
& R. Anderson, como proposta de atividade prática.

Texto - Os dois garotos correram até a entrada da casa.

“Veja, eu disse a você que hoje era um bom dia para brincar aqui”, disse Eduardo. “Mamãe nunca está em casa
na quinta-feira”, ele acrescentou. Altos arbustos escondiam a entrada da casa; os meninos podiam correr no jardim
extremamente bem cuidado. “Eu não sabia que a sua casa era tão grande”, disse Marcos. “É, mas ela está mais bonita
agora, desde que meu pai mandou revestir com pedras essa parece lateral e colocou uma lareira”. Havia portas na frente
e atrás, e uma porta lateral que levava à garagem, que estava vazia, exceto pelas três bicicletas com marcha guardadas ali.
Eles entraram pela porta lateral; Eduardo explicou que ela ficava sempre aberta para suas irmãs mais novas entrarem e
saírem sem dificuldade.
Marcos queria ver a casa, então, Eduardo começou a mostrá-la pela sala de estar. Estava recém-pintada, como o
resto do primeiro andar. Eduardo ligou o som: o barulho preocupou Marcos. “Não se preocupe, a casa mais próxima está
a meio quilômetro daqui”, gritou Eduardo. Marcos se sentiu mais confortável ao observar que nenhuma casa podia ser
vista em qualquer direção além do enorme jardim.
A sala de jantar, com toda a porcelana, prata e cristais, não era lugar para brincar: os garotos foram para a cozinha
onde fizeram um lanche.
Eduardo disse que não era para usar o lavabo porque ele ficara úmido e mofado, uma vez que o encanamento
arrebentara.
“Aqui é onde meu pai guarda suas coleções de selos e moedas raras”, disse Eduardo enquanto eles davam uma
olhada no escritório. Além do escritório, havia três quartos no andar superior da casa.
Eduardo mostrou a Marcos o closet de sua mãe cheio de roupas e o cofre trancado onde havia joias. O quarto de
suas irmãs não era tão interessante exceto pela televisão com o Atari. Eduardo comentou que o melhor de tudo era que o
banheiro do corredor era seu desde que um outro foi construído no quarto de suas irmãs. Não era tão bonito como o de
seus pais, que estava revestido de mármore, mas para ele era a melhor coisa do mundo.
(Traduzido e adaptado de J. Pitchert & R. Anderson. “Taking Different Perspectives on a Atory”, Journal of
Psychology, 1977, 69, In: A. Kleiman. 1989. Texto e leitor, Pontes Editores, Campinas).

Trabalhando o texto:

Releia o texto, levantando as características mais importantes da casa descrita, como se você fosse passá-las para
três diferentes destinatários: para um possível comprador, para um assaltante, para seu professor.

Para um possível comprador da casa Para um assaltante Para seu professor


Casa grande e arborizada, jardim bem Arbusto escondem a entrada da Arbustos escondem a entrada da casa bem cuidado e
cuidado e grande parede revestida de casa grande, porta lateral fica grande e casa grande e isolada, parede lateral revestida
pedra e com lareira garagem com acesso sempre na garagem, 3 bicicletas de pedras e com lareira, portas na frente e atrás e porta
interno à casa, sala de estar recém- na garagem, casa isolada, lareira, lateral de acesso à garagem, sala de estar recém-pintada, 1
pintada, lavabo, casa isolada, escritório, porcelana, prata e cristais, andar recém-pintado, sala de jantar, cozinha, lavabo úmido
3 quartos (s suítes), 1 banheiro no coleções de selo e moedas raras, e mofado, encanamento do lavabo arrebentado, escritório,
corredor, banheiro da suíte principal muitas roupas; cofre com joias 3 quartos no andar superior (2 suítes), closet com cofre,
revestido de mármore, Closet. no Closet, televisão com Atari 1 banheiro no corredor e o banheiro da suíte principal é
num dos quartos, banheiro da revestido de mármore.
suíte principal revestido de
mármore.

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As descrições devem ser adequadas ao objetivo de cada destinatário. Para um possível comprador, ocultam-se os
problemas da casa e salientam-se as qualidades. Para o ladrão, mencionam-se as qualidades que lhe dão a ideia de uma
casa grande e cheia de riqueza, além de dicas para facilitar a entrada na casa. Para o professor, todas as informações são
importantes, inclusive aquelas que não entraram nas descrições anteriores (“encanamento arrebentado, lavabo úmido e
mofado”, por exemplo).

4.12.3 A compreensão global do texto a ser resumido

Começaremos por uma leitura e um estudo detalhado do texto para depois chegar a seu resumo.

Visualize o texto buscando identificar:

1. O gênero do texto;
2. O meio de circulação
3. O autor;
4. A data de publicação;
5. O tema.

Avalie você mesmo.

Seguindo a proposta de Machado (2014), releia seu resumo e avalie-o, levando em conta as questões da ficha de
avaliação que segue abaixo. Refaça-o a partir dessa avaliação. Utilize essa ficha toda vez que fizer um resumo.

1. O texto está adequado ao objetivo de um resumo acadêmico/escolar?


2. O texto está adequado ao(s) destinatário(s)?
3. O texto transmite a imagem que você quer passar de si mesmo? (a imagem de quem leu, compreendeu
adequadamente o texto original?)
4. Todas as informações que o autor do texto do texto original coloca como sendo as mais relevantes estão
expressas no seu resumo, principalmente a questão que está sendo discutida, a posição do autor e seus argumentos?
5. No início do resumo há uma indicação clara do título e do autor do texto resumido?
6. As relações entre as ideias do texto original estão claramente explicitadas por conectivos e verbos adequados?
7. Fica claro de quem são as ideias resumidas, mencionando-se o seu autor de diferentes formas?
8. O resumo pode ser compreendido em si mesmo por um leitor que não conhece o texto original?
9. A seleção lexical (vocabulário utilizado) está adequada ao gênero?
10. Não há problemas de pontuação, frases incompletas, erros gramaticais, ortográficos etc.?

4.13 Atividades de aprendizagem

Resuma os períodos abaixo ao mínimo, pensando que o seu destinatário é o seu professor e que ele vai avaliar a sua
compreensão das ideias globais desses trechos. Use o processo de sumarização já estudado.

Texto I

Com a evolução politica da humanidade, dois valores fundamentais consolidaram o ideal democrático: a liberdade
e a igualdade, valores que foram traduzidos como objetivos maiores dos seres humanos em todas as épocas. Mas os jovens
e as conquistas populares em direção a esses objetivos nem sempre de se desenvolveram de forma pacífica. Guerras,
destituições e enforcamentos de reis e monarcas, revoluções populares e golpes de estado marcaram a trajetória da
humanidade em sua busca de liberdade e igualdade.
Fonte: BRIGAGÃO, Clóvis; RODRIGUES, Gilberto M.A. Globalização a olho nu: o mundo conectado. São Paulo: Moderna, 19998.

Texto II

A cultura indígena é complexa, como a de qualquer outra sociedade. Seu grande diferencial, porém, que foge à regra
geral de todas as outras, é a não existência de desníveis econômicos.
Na sociedade indígena não existem também normas estabelecidas que confiram a alguém as prerrogativas de
mandante ou líder do núcleo populacional. Aquele que é chamado de cacique não tem privilégios de autoridade, tem
somente os de conselheiro. Não é um escolhido, é ligado, até quando possível, a uma linhagem lendária.
E quando essa condição desaparece, passa a responder como conselheiro da aldeia aquele que pelo número de
aparentados alcança essa posição mais respeitada (...).: VILLAS-BÔAS, O. A arte dos pajés. Impressões sobre o universo espiritual do índio
xinguano. São Paulo: Globo, 2000.

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Texto III

Na linguagem comum e mesmo culta, ética e moral são sinônimos. Assim dizemos: “Aqui há um problema ético”
ou “um problema moral”. Com isso emitimos um juízo de valor sobre alguma prática pessoal ou social, se boa, se má ou
duvidosa.
Mas aprofundando a questão, percebemos que ética e moral não são sinônimos. A ética é parte da filosofia.
Considera concepções de fundo, princípios e valores que orientam pessoas e sociedade. Uma pessoa é ética quando
orienta por princípios e convicções. Dizemos, então, que tem caráter e boa índole. A moral é parte da vida concreta. Trata
da pratica real das pessoas que se expressam por costumes, hábitos e valores aceitos. Uma pessoa é moral quando age
em conformidade com os costumes e valores estabelecidos que podem ser, eventualmente, questionados pela ética. Uma
pessoa pode ser moral (segue costumes) mas não necessariamente ética (obedece a princípios).
Fonte: <www.leonardoboff.com/site/vista/2003/jul04.htm, acessado em 08 de junho de 2015.>

4.14 Síntese

O resumo constitui um exercício que combina a capacidade de síntese e a objetividade, sendo ainda um texto que
apresenta as ideias ou fatos essenciais desenvolvidos num outro texto, expondo-os de um modo abreviado pela ordem
que surgem. É caracterizado ainda por condensar e apresentar um raciocínio objetivamente, escolher o essencial sem
nenhum comentário. É uma técnica que encara o texto como um todo, não é uma sequência de frases autônomas, mas,
pelo contrário, é um conjunto de ideias ordenadas, numa totalidade formal e significativa. Trata-se de um exercício de
inteligência, exigindo a redação de um novo texto, com base no texto-fonte. Para se escrever um bom resumo é preciso
compreender o texto que será resumido. Auxilia essa compreensão o conhecimento sobre o autor, sua posição ideológica,
seu posicionamento teórico etc. Também é preciso detectar as ideias que o autor coloca como sendo as mais relevantes,
buscando, sobretudo, quando se trata de gênero argumentativo (como artigos de jornal ou artigos científicos), identificar:
a questão que é discutida; posição (tese) que o autor rejeita; a posição (tese) que o autor sustenta; os argumentos que
sustentam ambas as posições e a conclusão final do autor.

4.15 Aprofundando o conhecimento

Texto: Discutindo sobre o conceito de resumo

A elaboração de resumo é uma das propostas didáticas mais frequentes do meio acadêmico, vários pesquisadores
têm se preocupado em redefinir esse gênero. Pensando o resumo como atividade didática no ensino superior, Costa
Val (1998) aborda características do gênero tais como configuração, tamanho e grau de explicitude, tratando-as como
dependentes do objetivo que o resumidor tem ao produzir textos desse gênero. A autora admite inclusive a técnica de
simplesmente copiar do texto-fonte as ideias principais quando se trata de produzir um registro de leitura para uso pessoal,
desde que o resumidor articule essas ideias em seu texto. Abordando ainda sobre o gênero, no interior da comunidade
acadêmica, as pesquisas de Matencio (2003) revelam que, para produzir nesse meio, é preciso estar inserido na prática
acadêmica, ou seja, não só ter se apropriado de conceitos e procedimentos em circulação nessa formação sócio-discursiva,
mas também de maneiras de referenciar e textualizar esses saberes. De acordo com essa autora, o resumo é um gênero que
pode ser encontrado sob diferentes formas nas práticas acadêmicas de acordo com a função que exercem, podendo ser
agrupados em duas categorias:
(1) resumos envolvidos no processo de elaboração de pesquisa que têm a função de mapear um campo de estudo,
integrando a discussão do estado da arte;
(2) resumos colocados geralmente antes de um texto científico (artigos, dissertações, teses), que têm a função de
apresentar e descrever o modo de realização do trabalho ao qual se refere – são os résumés ou abstracts.
De acordo com a autora, o primeiro tipo de resumo “implica um alto grau de subordinação” ao texto-fonte, já que
permite ao leitor recuperar as macroproposições desse. Já os résumés ou abstracts, contidos no segundo grupo, não se
preocupam em descrever a estrutura do texto-fonte, mas de enforcar o modo de realização do trabalho científico.

4.15.1 Questão para reflexão

Por que aprender a construir resumos e qual a necessidade, relevância e aplicabilidade desse gênero em sua vida
social, acadêmica, profissional e pessoal?

4.15.2 Leitura indicada

SANTOS, Carmi Ferraz; MENDONÇA, Marcia; CAVALCANTI, Marianne C.B. (Org.) Diversidade textual: os gêneros na
sala de aula. Belo Horizonte : Autêntica, 2007. Cap. V

4.15.3 Sites indicados

https://propostasredacao.wordpress.com/category/resumo/
67
REFERÊNCIAS

ABREU, António Suárez. Gramática mínima: para o domínio da língua padrão. Cotia: Ateliê Editorial, 2003.

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