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BOLETIM DO OBSERVATÓRIO ©TT® ©H MUSICA®

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA


DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS
uniUERsmnDE estbdurl do ie r r D

ANO II - FORTALEZA-CEARÃ - ABRI L / S E T E M B R O N9 06


PORQUE O HALLEY DECEPCIONOU

O cometa de Halley, em sua visita em 1910, deslum­


brou toda a Humanidade: como uma espada f 1amejante,foi vis^
to em todo o mundo, durante meses. Era natural que sua fa­
ma se espalhasse, suplantando mesmo a de cometas mais por­
tentosos, como os de 1811, 1843 e 1858.
Ao chegarmos ãs vésperas de nova visita, a imprensa
disparou suas baterias e, associada ãs modernas^ técnicas
de divulgaçao e "marketing", polarizou as atenções e conse
guiu vender uma falsa imagem do astro. Foram inúteis as gã
lavras de cautela dos astrônomos, os quais alertavam o pu­
blico, tentando desencorajar o otimismo reinante. 0 cometa
iria passar muito longe, do outro lado da órbita terrestre
e nao poderia oferecer o mesmo espetáculo de 1910.
Os desenhos que ilustram esta nota mostram como o co
meta se apresentou em 1910 e em 1985/86. Em 1910, o cometa
passou entre_a Terra e o Sol e sua enorme cauda praticamen
te varreu a Órbita da Terra. Em todo o mundo ele pôde se"r
visto sem auxTlio de instrumento, uma vez que brilhava in­
tensamente, cobrindo grande parte de um céu límpido, ainda
da atual poluição luminosa e industrial. Na visita atual,
ã medida que o cometa se aproximava do Sol, aumentando o
seu brilho, a Terra dele se afastava: o periélio do cometa
coincidiu com a Terra do outroJado de sua orbita. Nos mo­
mentos de maior esplendor, o astro estava do outro lado da
órbita, por detrás do Sol. Mesmo nas maiores proximidades,
o cometa esteve muj_
to longe - mai s de 60
milhões de quilôme­
tros, contra os 18
milhões de 1910 - e,
nas maiores proximi^
dades, sua cauda se
projetava na dire -
ção contrária ã Ter
ra.
4 5

Dentro das^previsoes dos astrônomos, o cometa foi 0 PLANETA SATURNO


visTvel sem o auxílio de instrumentos ópticos na primeira
quinzena de abril; infelizmente as condições climáticas não Conhecido desde a mais alta antiguidade, uma vez que
ajudaram os nordestinos. 0 litoral do Nordeste foi litera^ pode ser visto sem o auxTlio de instrumentos ópticos, o pla^
mente coberto de água durante todo o perTodo. Choveu tor­ neta Saturno é detentor do interesse coletivo desde os tem
rencialmente. Em cidades do interior do Ceará o cometa.foi pos_em que, com o nome de Assur, era divinizado pelos meso^
visto a olho nu, com caudas e tudo. potamios. Todos os povos antigos lhe prestaram homenagens:
No observatório Oto de Alencar foram feitos todos os gregos chamavam-no Chronos - de onde se originou a pala^
os preparativos para um bom programa de observaçao e regis vra cronologia - contagem do tempo, pois o velho Chronos
tro fotográfico do Halley. Telescópios, binóculos, etc. es era o Deus do Tempo e da Morte. Filho de Titéia ou Tellus
tiveram a postos. A verdade, porem i que foram feitas pou~ (a Terra), foi pai de Zeus, o Júpiter romano. Era represeji
quTssimas observações, pois o cometa sõ era visto, por pou tado como um velho, alado, tendo ãs mãos uma foice ou uma
cos instantes, em intervalos das copiosas chuvas. Toda "ã ampulheta. Os latinos, bem como outros povos antigos, con­
programaçao dedicada ao grande publico teve que ser suspeji sagravam-lhe o dia de Sábado, de onde se originam o Samedi
sa e apenas algumas observações foram registradas. francês, o Sábado português e espanhol, o Sabato italiano,
Nada obstante, nos observatórios Herschel-Einstein, o Saturday ingles^e o Samstag alemao.
de Cláudio Pamplona, Leal da Costa, de Rubens de Azevedo e 0 planeta ê chamado pelos amadores de Astronomia de
nas Estações Astronômicas Alfa e Beta do Colégio Christus, "A Maravilha dos Céus", ou "0 Planeta Fantasia", pela sua
algumas observações foram realizadas - inclusive fotogra - beleza e ineditismo, com os seus brilhantes anéis. A dis -
fias foram tomadas nos raros momentos em que o Halley deu táncia média de Saturno ao Sol é de 1 bilhão e 411 mil Km.
o ar de sua graça. Sua Órbita é percorrida em 29 anos 146 dias e 23 horas te_r
restres, a velocidade média de 9,64Km por segundo. í um pla^
neta gigantesco, com diâmetro equatorial de 121 mil Km.Seu
achatamento polar é bastante pronunciado, graças ã sua rá­
pida rotação axial feita em apenas 10 horas e 14 minutos.
A superfície
do planeta é desco­
nhecida, jazendo
oculta sob uma es­
pessa camada atmos­
férica onde se des­
tacam traços de me­
tano e amonTaco. A
densidade do plane­
ta ê mTnima; ele
tem a densidade da
cortiça e poderia
flutuar num mar se­
melhante aos terres
tres. 0 planeta de­
ve possuir um nú­
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MODELOS PARA 0 ENSINO DA A S T R O N O M I A
cleo sólido muito pequeno, de rochas metálicas contendo 10%
Precessão dos Equinócios
de sua massa total.
Observam-se na superfTcie de Saturno fenômenos at­ P r e c e s s ã o dos E g u i n ó c i o s é o d e s l o c a m e n t p do P o n t o Equi^
mosféricos de grande intensidade. Como Júpiter, suas zonas n o ci al (V) em s e n t i d o r e t r o g r a d o s o b r e a E c l T p t i c a . R e p r e s e n t a a
in te rs ecç ão entre a Ec lTp ti ca e o Equador. Esse d e s l o c a m e n t o o c o r ­
de latitudes várias apresentam turbulências particulares. re da s e g u i n t e m a n e i r a :
As calotas polares apresentam-se recobertas por faixas es­ 0 e i x o da T e r r a é i n c l i n a d o s o b r e o p l a n o da EclTptica
verdeadas. A zona temperada sul mostra-se com um cinza ama ( p l a n o do U n i v e r s o ) , c e r c a de 23 g r a u s e 27 m i n u t o s . Is so signif.i-
ca q u e o p l a n o do E q u a d o r C e l e s t e e s t á , t a m b é m , i n c l i n a d o de 2 3 0 27'.
relado. 0 Equador assume, quase sempre^ uma coloração quê" I m i t a n d o um p i ã o que p e r d e a v e l o c i d a d e , a T e r r a a p r e s e n t a um mo­
varia entre o branco e o creme. Formaçoes notáveis e mis te v i m e n t o do seu e i x o ao r e d o r dos p ó l o s da E c l T p t i c a em c e r c a de
riosas sao certas manchas brancas que aparecem vez por ou~ 25 8 0 0 an os. E s s e m o v i m e n t o foi d e s c o b e r t o p o r H i p a r c o , q u a n d o exji
m i n a v a a n t i g a s c a r t a s c e l e s t e s e l a b o r a d a s 72 a n o s a n t e s p o r Timo-
tra em sua superfTcie. c h a r i s ; v e r i f i c o u ele uma d i f e r e n ç a de 1 g r a u de a r c o - ou seja,
_0 que mais atiça a curiosidade do observador de Sa­ 50' de a r c o por ano. C o n c l u i u H i p a r c o q u e o P o n t o V e r n a l ( e q u i n o -
turno Ó o seu sistema de anéis - único em todo o Sistema c i a i ) , q u e i a o r i g e m d a s c o n t a g e n s c e l e s t e s ,_na o era fi xo, m o v e n ­
d o - s e ao l o n g o da E c l T p t i c a num s e n t i d o c o n t r á r i o a o do movimento
Solar. Muito embora tenham sido detectados aneis em Júpi - da T e r r a . V e r i f i c o u , a s s i m , um a t r a s o , ou D r e c e s s a o dos E q u i nó ci os .
ter, Urano e ate em Netuno, esses apêndices são quase in- Co mo c o n s e q ü ê n c i a d e s s e m o v i m e n t o , o e i x o do pó lo ou p ó l o c e l e s t e ,
a p o n t a para v á r i a s e s t r e l a s " p o l a r e s " d u r a n t e o grande ano de
visTveis. Os anéis de Saturno assombram pela nitidez e be­
25 8 0 0 anos .
leza. Imaginava-se que o planeta dispunha de três largos 0 m o d e l o nos m o s t r a os p r i n c i p a i s e l e m e n t o s do problema.
anéis; depois das fotografias obtidas por naves espaciais V e mo s aqui os p l a n o s do E q u a d o r e da E c l T p t i c a . A f a i x a z o d i a c a l ,
o n d e e s t ã o as c o n s t e l a ç õ e s z o d i a c a i s , c o r r e p a r a l e l a m e n t e ã E c l T p ­
automáticas, sabe-se hoje que os anéis (formados de mi­ tica. Um p o n t e i r o q u e p a r t e do C T r c u l o E q u a t o r i a l m o s t r a o Ponto
lhões de pequenos fragmentos satelitoides) se contem, es­ G a m a , q u e r e p r e s e n t a a i n t e r s e c ç ã o da E c l T p t i c a c o m o E q u a d o r . Des^
ses anéis, aos milhares. l o c a n d o - s e o p o n t e i r o no s e n t i d o da f l e c h a , v e m o s q u e el e se d i r i ­
ge ao s i g n o do A q u á r i o , p a s s a n d o , d e p o i s , pa ra o C a p r i c ó r n i o e a s ­
Com o auxTlio de um pequeno telescópio já podemos sim por d i a n t e , s e m p r e na d i r e ç ã o c o n t r á r i a ao m o v i m e n t o da T e rr a.
distinguir ã primeira vista,_três divisões dos anéis. Um 0 P o n t o G a m a se a t r a s a ( d o n d e o t e r m o p r e c e s s ã o ). Ao m e s m o t e m p o ,
anel mais escuro, situado_prõximo ao planeta, é chamado o p r o l o n g a m e n t o do e i x o t e r r e s t r e m o s t r a a v a r i a ç ã o da e s t r e l a "p^
lar". A t u a l m e n t e , a e s t r e l a q u e f i c a no p o l o N o r t e ê denominada
anel de crepe. Os dois anéis externos estao separados por ( i m p r o p r i a m e n t e ) P o l a r is: é a a l f a da Ur sa M e n o r , No ano 14 000, a
divisões estreitas e escuras, denominadas Cassini e Encke, e s t r e l a m a i s b r i l h a n t e p e r t o do p ó l o n o r t e c e l e s t e s e r á V e g a , a aj_
em homenagem aos astrônomos que primeiro as observaram. fa da Lira. Q u a n d o da c o n s t r u ç ã o da G r a n d e P i r â m i d e de Q u é o p s , a
e s t r e l a p o l a r era T h u b a n , al fa da c o n s t e l a ç ã o do D r a g a o .
Saturno possui uma enorme família de satélites, mui Em 25 8 0 0 a n o s , o P o n ­
tos deles batizados com nomes de Mitologia e da LegendaT to Ga ma p e r c o r r e to da a E c l T p t i -
tais como: Mimas, Encelado, Tétis, Dione, Réia, Titan, Hi- ca, e n q u a n t o o e i x o p o l a r c e l e s t e
d e s c r e v e no céu um g r a n d e c T r c u l o
périon, lapeto, Febe, Janus, aos quais se juntaram, com as qu e a p o n t a s u c e s s i v a m e n t e para v £
novas descobertas, mais de vinte. Desses satélites, o maior ri as e s t r e l a s " p o l a r e s " . D e n t r o de
Ó Titan, cujo tamanho supera o do planeta Mercúrio. a l g u m .tempo, as a t u a i s c o n s t e l a -
ç õ e s n ã o . m a i s c o i n c i d i r ã o com as
De acordo com as informações recebidas pelas naves c h a m a d a s " c a s a s " ou s i g n o s . Se rá
Voyager, a temperatura do topo das nuvens varia de - 187 a d e s f e i t a , por c o m p l e t o , to da a ba
181 °C, sendo as mais baixas temperaturas detectadas, para se da A s t r o l o g i a , a a r t e de a d i v T
nhar o fu tu ro pe los a s t r o s , a q u a T
doxalmente, na zona equatorial. A rotação exata do planeta" ê b a s e a d a num U n i v e r s o a b s o l u t a -
foi calculada em 1Oh 39m 26s. A magnetosfera de Saturno,em m e n t e e s t á t i c o , fora da r e a l i d a -
bora 1/3 menor que a de Júpiter, se estende, todavia, po? de.
0 modelo é de faci1
alguns milhões de quilômetros. c o n s t r u ç ã o e p o d e r á ser adaptado
e completado pelo professor in­
t e r e s s a d o em m a n u f a t u r a r seus pri)
pri os m o d e l o s .
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"NOITES PLANETÁRIAS" NA UECE LANÇADO NA UECE


0 LIVRO "OS COMETAS ATRAVÉS DOS TEMPOS"
A Universidade Estadual do Cearã, no propõsito de 1e
var ã comunidade informações relativas à Astronomia, vaT Na manhã do dia 29 de abril, no Núcleo de Audiovi -
abrir ao público o seu Observatório Oto de Alencar em de­ suai do Centro de Ciências e Tecnologia da UECE, no "Cam -
terminados dias da semana, promovendo demonstrações prati­ pus" do Itaperi, teve lugar o lançamento do livro em epT -
cas com telescópios e outros instrumentos. Assim é que a grafe e que tem como subtítulo Cronologia Cometãria,do pro^
partir ainda do mês em curso (maio), ja serão iniciadas as fessor Cláudio Benevides Pamplona, publicado através do Con
suas "Noites Planetárias". A primeira delas,intitulada UMA vinio UECE/BNB. A sessão foi^aberta pelo Magnífico Reitor
NOITE EM SATURNO^ Cláudio RÓgis de Lima Quixadá, o qual passou a palavra ao
Os telescópios focaHzarao o planeta anelado, atua2 prof. Rubens de Azevedo, prefaciador da obra e Diretor do
mente em excelentes condiçoes de observaçao, pela abertura Núcleo de Astronomia, o qual apresentou o livro e o autor.
total dos seus anéis. A demonstração sera precedida em uma Salientou a importância da publicaçao do livro, que inicia
palestra sobre Saturno, no Núcleo de Audiovisual do CCT. A uma série de trabalhos científicos realizados pela UECE. 0
palestra serã ilustrada com fotografias, pranchas, ilustra prof. Cláudio Pamplona é membro do corpo docente da Uni ver
çoes esquemãticas e diapositi vos. sidade, pertence ao "staff" do Observatório Oto de Alencar
Estão programadas outras Noites Planetárias que te­ e Ó astrônomo conhecido nacionalmente pelos seus trabalhos
rão lugar todos os meses, sempre apresentando um planeta. de alto valor.
Depois da noite de Saturno, teremos as noites de Marte e Em seguida, falou o Autor, agradecendo a colabora -
Júpi ter. ção da Universidade Estadual do Cearã e do Banco do Nordejj
A_Lua nao está fora da promoção, jã que Ó tida pe­ te (sob a direção do Ex-Senador Mauro Benevides). Represen
los astrônomos como um planeta irmao da Terra, com a qual tando o Dr. Maure Benevides, compareceu sua esposa Da. Re­
compoe um sistema binário de astros. Serão focalizados de­ gina Benevides.
talhes da superfície lunar, em comparaçao com fotografias 0 Reitor fez^ em seguida,
e desenhos. A identificação dos objetos sera feita em ma­ entusiasmada alocuçao, agradeceji CLAUDÍO PAMPLONA
pas especiais. do o trabalho de alto nível do
0 público de Fortaleza terá, assim, oportunidade de
observar as maravilhas do céu através do instrumental do
prof. Cláudio Pamplona, que ele­
va, assim, o nome da Universida­
OS COMETAS
Observatório. de, consubstanciado numa obra que
levará o nome da UECE aos mais
ATRAVÉS
CORRESPONDÊNCIA
Tem sido farta a correspondência recebida pelo Oto
distantes rincões brasileiros.
Exortou aos demais professores a
DOS TEMPOS
de Alencar. Na maioria dos casos, os missivistas tecem el() necessidade da elaboraçao _ de
gios ao nosso Boletim 42 Eridani e ã atuaçao da UECE no seu obras desse tipo, que formarao a
trabalho de divulgação da Astronomia. Neste mês, recebemos biblioteca científica da Univer­
cartas dos seguintes amigos do Observatório: sidade.
- Ferruccio Ginelli, de Cremona-Itália; - Joaquim Carlos Ao término da solenidade,
Freire da Silva, Observatório Liais, de Arcoverde-Pe; - Van o prof. Cláudio Pamplona passou
derlei Aparecido da Silva, de Varzea Paulista-SP; - Petrõ- a autografar o seu livro. 0 audití)
nio de Magalhães, do Mirante de Astrofísica Isaac Newton , rio esteve lotado, dado ointeres-
de MaceiÓ-AL; - Antonio Padilha Filho,do Rio de Janeiro-RJ; se despertado pelo 1ivro,lançado
- Dra. Raquel Mariano Bandeira de Mello, Diretora do Plane numa oportunidade em que o apare­
tãrio da Universidade de Santa Maria-RS; - Profa. DiacuT cimento do Cometa de Halley motivou o interesse pela astro
Elisabeth dos Santos, Universidade S.Francisco,Itatiba-SP. nomi a .
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AINDA E SEMPRE... A LUA
OPERAÇAO HALLEY EM FORTALEZA
Jean NICOLINI
0 Observatório C.hristus realizou uma serie de obser^ Observatórios do Capricórnio
vaçoes do Halley, com trabalhos de plotamento e fotogra­ (Campinas) e Americana (Sp)
fias, além de croquis realizados pelas várias equipes do
Observatório, sob a coordenação do Prof. Dermeval Carnei - __Publica o ZODÍACO, da SBAA, em seu número de feve­
ro, Diretor das Estações Astronômicas Alfa e Beta do con­ reiro último, informe auspicioso. Voltará a dar particular
ceituado Colégio. atençao ao nosso satélite, graças ã cooperaçao e supervi -
0 prof. Cláudio Pamplona e sua equipe realizou nada sao de Rubens de Azevedo, que, de longa data, tem-se desta
menos de cem observações do Halley; para isso teve que mu­ cado em trabalhos pertinentes ao mundo lunar. Especialista
dar o seu horário de dormir: observava ã noite e dormia d£ na área, a escolha nao poderia ser melhor.
rante o dia. £ ele um dos observadores mais exigentesede­ _Este retorno ã Lua é oportuno. Primeiro, porque nos^
dicados do Brasil, tendo a seu crédito observações de mui­ so satélite é o primeiro passo, o "primeiro degrau para o
tos cometas: Ikeya-Seki - 1965, Honda - 1968, Tago-Sato-Ko infinito", como já o dizia Rubens de Azevedo em seu notá -
saka - 1970, Bennett I- 1970, Bennett II - 1973/74, Ko- vel livro de mesmo nome. Em segundo lugar, porque parece
bayashi-Berger-Milton - 1975, Suzuki-Saigusa-Mori - 1975 , ser indispensável mostrar ã grande parte daqueles que se
West II - 1976', Mitchel 1-Jones-Gerber - 1977, D'Arrest viram atraTdos pelo recente evento cósmico, o retorno do
1976, Kohler - 1977, Bradfield VIII - 1980, Austin - 1982, cometa de Halley, que existem outros atrativos celestes a
Iras-Araki-Alcock - 1983, Crommelin - 1984, Macholz - 1985, justificar, ou mesmo gratificar a atraçao do céu estrelado
Giacobini-Zinner - 1985 e Boethin - 1986. No que concerne Nesse particular, a Lua, companheira celeste da Terra, es­
ao Halley, os trabalhos foram intensificados e, apesar das tá admiravelmente bem situada, pois é facilmente acessível
condiçoes adversas do tempo, os esforços da equipe do OAHE aos pequenos instrumentos.
foram.compensados pela maior quantidade de observações em De algum tempo para cá, ocasionado sem dúvida pelas
Fortãleza. 0 cometa foi observado, desenhado e fotografa - conquistas espaciais - missões "Apollo" e outras - a obser
do. A equipe foi composta de Cláudio_Pamplona, Jakson Bar­ vaçao lunar foi negligenciada, muito embora sua observaçao,
bosa e Iolanda Siqueira, do Observatório Caroline Herschel. quando levada a meticulosidade, mercê da utilização de ins
Juntaram-se aos observadja trumento de adequada abertura^ nos leve a boas surpresas ,
res, em alguns casos, Caj^ sobretudo quando associada a fotografia.
los Pamplona Neto, Silvio De nossa parte, embora nos ocupemos de outros assun
Cesar Rodrigues dos San­ tos, a Selenografia sempre nos atraiu e chegamos, mesmo, a
tos, Marcelo Fiuza e Mi- iniciar a elaboraçao de um "atlas fotográfico" de pequeno
riam Benevides Pamplona. porte destinado.ã divulgaçao e orientaçao dos estudos luna
Reproduzimos ao la^ res. Infelizmente nao há, ainda, em nosso paTs,_principal-
do um dos esboços realiza mente no setor editorial, interesse na pubiicaçaode livros
dos no OAHE, na noite de especializados. Isso não ocorre em outros paTses. A Bélgi­
2/3 de janeiro de 1986,ás ca nos presenteou, ha tempos, com o espetacular Atlas Lu­
22h lOm TU. Foi utilizado nar de Vincent Calatahyi. Mais recentemente, nosso partiaj
um refletor de 162mm e am lar amigo e correspondente de__há mais de trinta anos, Geo_r
pliaçoes até 120x. ge Viscardy, membro da Sociêté Astronomique de France e da
Société Monegasqued'Astronomie (Monte Cario), publicou seu
Atlas Guia Fotográfico da Lua. Para tanto, reuniu 60 mil
fotografias* selecionado umas 7 mil dentre as melhores,oj)
tidas através de seus ref].etores de 310 e 520mm de abertu­
ra. 0 resultado desse notável empreendimento foi um Atlas
12 13
magnífico: um álbum de 30X37cm, de 454 páginas, 220 foto -
grafias em diversas escalai, sob diversos ângulos de ilunri_ UM OBSERVAT0RIO t u r í s t i c o
naçao, grades de localizaçao, lista de todas as formaçoes EM FORTALEZA (NOSSA CAPA)
lunares oficiais, um notável capitulo de instruções técni­
cas sobre a fotografia lunar, uma lista de objetos notá- Fortaleza ultrapassa a faixa dos dois milhões de ha
veis a patrulhar, etc. bitantes, tornando-se a quinta cidade mais populosa do Bra
De nossa parte, apenas um notável. Qual nova fênix, sil. Foi Fortaleza_a primeira cidade a interessar-se pelos
a selenografia ressurge, jovem, fortalecida, fascinante. 0 estudos e divulgaçao da Astronomia e aqui surgiu em 1947,
trabalho de Giscardy e dos melhores comparando-se e ate mes^ a primeira sociedade de estudiosos, a Sociedade Brasileira
mo superando aquele realizado com instrumental mais sofis­ dos Amigos da Astronomia, que conta com grande número de
ticado, como o de Pic-du-Midi,o de Verkes, etc. observatórios de amador em atividade.
0 Atlas de Georges Viscardy nos mostra aspectos inu Dentro de breves dias contará nossa cidade com um
sitados da Lua, pois ele nao se limitou a fotografia pura observatório turístico, o 0BSERVATÕRI0 ZODlACO, instalado
e simples das regiões conhecidas_e "fáceis" das regiões cen em belíssimo local, no litoral, a 25Km do centro de Forta­
trais, atingindo, de forma impecável, regiões do limbo, on leza, nas dependenicias da C0FEC0 - Colônia de Ferias dos
de existem objetos de difícil captaçao, tais como Vlacq, Empregados da Coelce, Companhia de Eletricidade de Fortale
Rosenberger ou Hagecius, no quadrante SE, South,Babbage ou za. 0 observatório dispõe de cúpula de acrílico, giratória
Oenopides, no NW ou ainda Pythagoras, no extremo limbo Nojr e de um telescópio refrator de 80 X l^OOmm^ alem de binÕcu
te. Nesse e em muitos outros particulares, o Atlas-Guia Fjd los e outros equipamentos. 0 Observatório ê um belo conjun
tográfico da Lua de G.Viscardy ê um poderoso auxiliar, um to que mostra ao visitante um foguete de 15 metros de altu
guia seguro, inesgotável para todo aquele que desejar fa­ ra, ao qual se sobe num elevador panorâmico. Do foguete,
zer da Lua um campo de trabalho válido e racional. atinge-se o Observatório através de uma passarela coberta,
Muitas foram as tentativas brasileiras para a real2 que liga os_dois monumentos. Da passarela,o céu poderá ser
zação de um Atlas Lunar. De nossa parte, com o auxilio do visto através de binóculos.
nosso velho 300mm Cassegrain, da Estaçao Alfa do Capricór­ 0 Observatório foi, como era de esperar, uma conse­
nio, em S. Paulo, há cerca de 25 anos, conseguimos reunir qüência da visita do Cometa de Halley, que movimentou os
cerca de 400 negativos selecionados, enquanto outros cole­ funcionários da COELCE para a sua construção._0 alto espi­
gas da extinta Associaçao de Amadores de Astronomia de Sao rito publico da Diretoria da C0FEC0, que tem ã frente o Dr.
Paulo fariam sua parte. A coisa nao deu em nada. Mais re­ José Valdo, nao mediu esforços na construção dessa bela e
centemente, F.Ginelli, do observatório Giordano Bruno, em importante estaçao turística, onde a Astronomia será cul­
Fortaleza, vinha reunindo documentos verdadeiramente sensji tuada. A direção do Observatório foi entregue ao nosso com
cionais para a abertura óptica utilizada (6lmme320mm).Mas panheiro Augusto Penteado, Secretário da SBAA.
Ginelli encontra-se, atualmente, na Itália. Seu instrumen­
tal encontra-se agora a disposição da Sociedade Brasileira
dos Amigos da Astronomia, de Fortaleza, no_ observatório 0 HALLEY NO BRASIL - Fo
Christus, constituindo-se na Estaçao Astronômica Beta, teji tografia obtida por Re-
do a operá-lo elementos válidos. Vemos com simpatia a pos­ né Laporte,Oscar Matsuu
sibilidade da continuação do trabalho de Ginelli, sob a ra e Rodrigo Prates Cam
orientação de Rubens de Azevedo, o qual, alem de continuar pos, através do telesco
a parte fotográfica do Atlas Lunar Brasileiro programado, pio de 1,60 metro, do
já está realizando a cartografia necessária a identifica - Observatório Astrofísi­
co Brasi 1eiro. A foto foi
çao dos objetos registrados-
batida em 04/01/86, com
ra - ™ ^ 0SSn âP010 a e?sa realização - que acreditamos colo 11 min. de esposição. 0
co mundiaí ^ p0Slça0 favoravel no panorama astronÔmT Km da Terra, com uma cauda de 3 milhões de Km.
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"IN MEMORIAM"
JORGE POLMAN
Ele veio das altas latitudes da Holanda, que os ho­
landeses conquistaram do mar. Seguindo a mesma rota de
Georg Marcgrave, que viera com Nassau, aportou no Recife ,
onde, com o mesmo descortínio do grande batavo, plantou
estrelas.
Sacerdote de Cristo e de Urânia, plasmou a mente e
a alma dos jovens, ensinando-lhes o que era o Céu e como
ir para lã.
Foi Jorge Polman o recriador da Astronomia recifen-
se, através do Centro Estudantil de Astronomia,que ele ins^
talou no Colégio Sao Joao. Ali montou dois observatórios ,
construiu telescópios, ministrou cursos de Astronomia. Dejs
de 1972, o CEA teve projeção nacional.
Com paciência beneditina, levou milhares de jovens
ao caminho da Ciência, afastando-os das veredas do vício.
Em 1978, realizou no Recife um Encontro de Astronomia ao
qual compareceram astrônomos amadores e profissionais de
todo o Brasi1.
Em 1982, Polman participou da V Assembléia da Uni ao
Internacional de Amadores de Astronomia, realizada em Bru­
xelas, Bélgica, de onde voltou como representante da IUAA
para o Brasi1.
Nas férias, quando nao Ta ã Europa, adquirir mate -
rial de ensino - mapas, acessórios, livros, etc, viajava
pelo Brasil, visitando observatórios, associações e amado­
res isolados. Conheceu quase todos e a todos deu sua pala­
vra amiga de incentivo.
0 CEA era a menina dos seus olhos. Para ele vivia o
sacerdote/astrônomo.
E agora. Polman nos deixa. Aturdidos, os astrônomos
brasileiros sentiram a comoção de sua partida subita.
Como as estrel-s desaparecidas, porém, Polman contji_
nuarã: sua força e energia continuarão a vir do espaço on­
de se encontra e ele continuarã brilhando em nossos cora -
çoes.

Rubens de Azevedo

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