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História da democracia representativa no Brasil

Chapter · July 2018

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Fernando Filgueiras
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INTRODUÇÃO
À TEORIA
DEMOCRÁTICA
Conceitos, histórias,
instituições e questões
transversais

book_introducao_a_teoria_democratica.indb 1 24/04/2018 14:35


Universidade Federal de Minas Gerais
Reitora: Sandra Regina Goulart Almeida
Vice-Reitor: Alessandro Fernandes Moreira

Editora UFMG
Diretor: Flavio de Lemos Carsalade
Vice-Diretora: Camila Figueiredo

Conselho Editorial
Flavio de Lemos Carsalade (presidente)
Camila Figueiredo
Eduardo de Campos Valadares
Élder Antônio Sousa Paiva
Fausto Borém
Lira Córdova
Maria Cristina Soares de Gouvêa

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Ricardo Fabrino Mendonça
Eleonora Schettini Martins Cunha
(Organizadores)

INTRODUÇÃO
À TEORIA
DEMOCRÁTICA
Conceitos, histórias,
instituições e questões
transversais

BELO HORIZONTE | EDITORA UFMG | 2018

book_introducao_a_teoria_democratica.indb 3 24/04/2018 14:35


Direitos autorais Anne Caroline Silva
Coordenação de textos Lira Córdova
Preparação de textos Maria do Carmo Leite Ribeiro
Revisão de textos Daniela Menezes, Felipe Magalhães e
Izabela Barreto
Projeto gráfico Fernando Freitas, a partir de Paulo Schmidt
Formatação e montagem de capa Fernando Freitas
Produção gráfica Warren Marilac

© 2018, Os organizadores
© 2018, Editora UFMG

Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido


por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.

I61
Introdução à teoria democrática : conceitos, histórias, instituições e questões
transversais / Ricardo Fabrino Mendonça, Eleonora Schettini Martins Cunha (organizadores).
– Belo Horizonte : Editora UFMG, 2018.

.... p. : il. : (Didática).


ISBN: 978-85-423-0244-8

1. Democracia. 2. Ciência política. 3. Estado. 4. Federalismo.


5. Política social. I. Mendonça, Ricardo Fabrino. II. Cunha, Eleonora Schettini Martins,
1960–. III. Série.

CDD: 321.8
CDU: 321.7

Elaborada pela Biblioteca Professor Antônio Luiz Paixão – FAFICH/UFMG

Editora UFMG
Av. Antônio Carlos, 6.627 – CAD II / Bloco III
Campus Pampulha – 31270-901 – Belo Horizonte/MG
Tel: + 55 31 3409-4650 – Fax: + 55 31 3409-4768
www.editoraufmg.com.br – editora@ufmg.br

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CAPÍTULO 4

HISTÓRIA DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA NO BRASIL

Fernando de Barros Filgueiras

A democracia no Brasil foi sempre


um lamentável mal-entendido.
Sérgio Buarque de Hollanda, Raízes do Brasil, 1936.

Duas ordens de questões organizam e caracterizam um regime democrático: 1)


a presença de instituições que derivam sua autoridade para decidir e implemen-
tar políticas para o bem comum de um processo de representação política; 2) e
a presença de formatos institucionais que permitam a participação da cidadania
nas escolhas das políticas para o bem comum.

Partindo dessas duas ordens de questões, podemos caracterizar a história da


democracia no Brasil como um processo de avanços e retrocessos da representa-
ção, da participação e da cultura política nos diferentes momentos da experiência
política brasileira. O que se pretende nas linhas seguintes é narrar esse processo,
reconstruindo a trajetória das instituições e da cultura democrática no Brasil,
com foco nos elementos da representação política e dos direitos políticos. Recon-
tar essa trajetória significa mobilizar os elementos conceituais fundamentais da
teoria democrática para narrar o processo de construção e solidificação da demo-
cracia no Brasil. Se a epígrafe escolhida para este texto aponta que a democracia
sempre foi um mal-entendido no Brasil, uma vez que essa história deveria ser
narrada pelos elementos da ausência de liberdade, de representação e de parti-
cipação, argumentamos que, hoje, essa epígrafe pode ser negada, tendo em vista
algumas transformações da história recente brasileira.

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72 INTRODUÇÃO À TEORIA DEMOCRÁTICA

1. Brasil Império (1822-1889)

A escravidão, uma vida social marcada pelo predomínio rural e a presença


de fortes oligarquias nas estruturas de poder não permitem dizer que o Império
no Brasil teria um arranjo institucional democrático. Uma sociedade fortemente
desigual, sem que o princípio da isonomia existisse, não habilitava a afirmar que a
democracia, enquanto regime político, pudesse se estabelecer no Brasil.1 Contudo,
um arremedo de democratização já se fazia presente na organização do Estado,
visto que a Constituição de 1824 apresentava elementos fundamentais de repre-
sentação política, bem como um sistema de separação dos Poderes.

O artigo 3o da Constituição de 1824 definia o Império como “monarchico, here-


ditario, constitucional, e representativo”. Importante observar que no caso da
representação política ela seria realizada pela figura do imperador e da Assem-
bleia Geral, tendo em vista os interesses da nação. Uma vez que se constituía
como governo representativo, era fundamental que se estabelecesse um sistema
de autorização, ou seja, um sistema em que a autoridade política do representante
fosse derivada da soberania popular. Se a autoridade do imperador era definida
pelo caráter hereditário do trono, para a Assembleia Nacional, o sistema de auto-
rização dependeria de eleições.

As eleições para a Assembleia Nacional se davam de forma indireta, tendo


em vista uma eleição de dois graus em que se distinguiam votantes e eleitores.
Em primeiro lugar, havia um processo nas paróquias da Igreja Católica,2 em que
o votante escolhia os nomes das pessoas que deveriam votar. O votante, nesse
momento, era o conjunto dos cidadãos que fazia jus aos direitos políticos, ou
seja, os homens livres e proprietários privados. Eram os eleitores, escolhidos
pelos votantes, que elegiam os deputados e os senadores da Assembleia Nacional
(KINZO, 1980, p. 51). De acordo com a Constituição de 1824, estavam qualificados
para participar dos pleitos eleitorais os cidadãos do sexo masculino maiores de 25
anos ou os maiores de 21 anos, desde que fossem casados, bacharéis, clérigos de
ordens sacras ou oficiais militares. Além desses critérios, o votante deveria atin-
gir uma renda líquida anual de 100 mil réis. No caso dos eleitores, eles deveriam
atender além dos critérios de sexo e idade, a renda anual líquida de 200 mil réis.

Quanto aos direitos políticos, portanto, a participação eleitoral era bastante desi-
gual, em função da adoção desse modelo censitário, isto é, baseado na exigência de
certo nível de renda, para exercício do direito de voto. Mulheres, escravos e pessoas
com renda menor que 100 mil réis, que eram a grande maioria da sociedade, eram
excluídos do processo de construção da representação política. Esse modelo de
eleição indireta foi reformado apenas em 1881, com a Lei Saraiva, que instituiu a

1 Isonomia é o princípio segundo o qual os cidadãos são iguais perante a lei, independentemente da posição
de prestígio social ou riqueza do indivíduo. Como tal, é um princípio fundamental da democracia.
2 Uma vez que a religião católica era oficial do Império brasileiro, os párocos tinham o status de servidores
públicos. Além disso, uma vez que o processo eleitoral presumia imparcialidade para se chegar à verdade
eleitoral, estabeleceu-se que as eleições ocorreriam dentro das paróquias, tendo em vista a autoridade da
Igreja.

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CAPÍTULO 4
HISTÓRIA DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA NO BRASIL 73

eleição direta. Passaram a ser portadores de direitos políticos os brasileiros do sexo


masculino, maiores de 21 anos, mesmo analfabetos, que tivessem renda líquida
anual superior a 200 mil réis. A Lei Saraiva também criou o título de eleitor, habi-
litando os eleitores a participar de todas as eleições nacionais (KINZO, 1980, p. 53).

Na lógica dessa lei, os escravos não poderiam ser eleitores pelos simples fato
de serem escravos. As mulheres seriam suscetíveis ao domínio masculino e não
poderiam exercer o direito de voto livremente. Por fim, justificava-se o critério
de renda especulando-se que essa divisão permitiria que os eleitores não fossem
submetidos ao domínio de alguém. A exclusão dos direitos políticos era, pois,
baseada na tese da capacidade do eleitor de fazer as suas escolhas.

Além da exclusão, o processo eleitoral era suscetível a todo tipo de fraude


e corrupção. A designação de deputados e senadores era controlada nas mesas
eleitorais, em que os votantes, mesmo que dispusessem de renda superior a 100
mil réis, sucumbiam ao controle da política paroquial. As qualificações (especial-
mente a de renda) muitas vezes eram falseadas, e os cabalistas frequentemente
determinavam o resultado dos pleitos. O cabalista era o responsável por incluir os
nomes dos eleitores nas listas e estavam a serviço do mandonismo local (CARVA-
LHO, 1997). Também eram feitas eleições a “bico de pena”. Quando as paróquias
estavam esvaziadas ou os votantes não compareciam, os cabalistas preenchiam
as cédulas e falsificavam as assinaturas dos votantes. Havia, ainda, a presença do
“fósforo”, que votava em nome de falecidos ou de pessoas que não compareciam
ao pleito eleitoral.

Tendo em vista que as fraudes eleitorais eram praticadas em todas as paró-


quias, isso resultava em uma cadeia de corrupção que atravessava toda a estrutura
do sistema político. No fim das contas, “ninguém conseguia ser eleito contra a
vontade do governo ou de seus agentes locais, o que significava em outras pala-
vras que quem de fato elegia os representantes era o governo, vale dizer, o Poder
Moderador, que nomeava os gabinetes ministeriais” (KINZO, 1980, p. 74). O impe-
rador controlava as eleições e, por sua vez, a autoridade da Assembleia Nacional, à
medida que estabelecia um sistema de clientelismo e trocas com os mandões locais.

A resultante desse processo de exclusão, corrupção e fraudes eleitorais foi a


constituição de um sistema político elitista, marcado por letrados, magistrados,
padres e soldados que se alojavam na estrutura do Estado brasileiro para compor
um sistema de dominação extremamente excludente e escravocrata (CARVALHO,
2003). Além disso, possibilitava a constituição de uma cultura política patriarcal,
em que os cidadãos se encontravam em uma posição excludente e dependente do
mandonismo local. Essa situação de dependência do cidadão em relação à autori-
dade política resultava em uma cultura política apática na desconexão entre socie-
dade e Estado, tendo em vista as profundas desigualdades sociais (LEAL, 1997).

Eleições e participação política eram conceitos mobilizados apenas para o


discurso político e ideológico, sem que disso resultasse um processo de inclusão
e ampliação da cidadania mais efetivo. O Império brasileiro, contudo, não passou
incólume à instabilidade e a um processo lento de mudança social. A Abolição da

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74 INTRODUÇÃO À TEORIA DEMOCRÁTICA

Escravatura (1888) e a crescente denúncia das fraudes eleitorais e da corrupção


praticada no interior do sistema político possibilitaram um processo de mudança
e um crescente clamor pela República. Esta nascia como a terapêutica para os
males do Império.

2. República Velha (1889-1930)

Os primeiros anos da República Velha foram marcados por forte instabilidade


e pela disputa em torno da representação política. Este debate a respeito da repre-
sentação marcou o processo constituinte de 1891. Liberais como Rui Barbosa e
Assis Brasil terminaram por se tornar preponderantes no que tange ao processo
de participação política e de representação. A Constituição de 1891 estabeleceu
o federalismo e um sistema presidencialista, em que a autoridade do chefe de
Estado, antes a cargo do imperador, caberia a um presidente eleito pela maioria
absoluta dos votos por um sistema de sufrágio direto.

No que tange à universalidade do sufrágio, foi mantido um sistema de exclu-


são dos direitos políticos. A Constituição de 1891 assegurava, em seu artigo 70,
que “[s]ão eleitores os cidadãos maiores de 21 anos, que se alistarem na forma
da lei” (Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, 1891). Ao mesmo
tempo, excluía, em seu primeiro parágrafo, os mendigos, os analfabetos, as praças
de pré, excetuados os alunos de escolas militares de ensino superior, os religio-
sos de ordens monásticas, companhias, congregações ou comunidades de qual-
quer denominação, sujeitas a voto de obediência, regra ou estatuto que importe
a renúncia de liberdade individual. Assim, mantiveram-se, na República Velha,
padrões semelhantes ao do Império relativos à exclusão dos direitos de cidadania.

A Constituição de 1891, por influência do pensamento positivista, também esta-


beleceu que o Estado brasileiro seria laico. Isso implicou modificações no sistema
eleitoral. O Regulamento Alvim de 1890 estabeleceu que a mesa eleitoral, encarre-
gada de receber e apurar os votos, bem como lavrar as atas, deveria ser formada
pelo presidente da Câmara municipal, dois vereadores e dois eleitores. A Lei no
35/1892 alterou essa questão, deixando às Câmaras Municipais a tarefa de escolher
a composição das mesas eleitorais. Só com a Lei Rosa e Silva, de 1904, as mesas
eleitorais deixaram de ser organizadas pelas Câmaras e passaram a ser compe-
tência das autoridades judiciárias. Nesse ato, também se instituiu o voto secreto.

Apesar de tentativas de modificações no sistema eleitoral, o sistema de controle


das eleições por parte do mandonismo local continuou intacto. Houve a inclu-
são de um novo fator de fraude e corrupção: o uso da violência contra os elei-
tores. Mesmo que tenham havido inovações na legislação eleitoral, a prática do
voto de cabresto e dos quartéis tornou-se corriqueira nos processos eleitorais.
A violência contra os eleitores era decorrência de um sistema de exclusão dos
direitos e de desigualdades presentes na estrutura social brasileira (LEAL, 1997).

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CAPÍTULO 4
HISTÓRIA DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA NO BRASIL 75

O voto de cabresto era uma prática de acordo com a qual as elites estabeleciam
controle político por meio do abuso de autoridade, utilização da máquina pública
e compra de votos. Especialmente no que tange ao abuso de autoridade, capangas
e demais cupinchas dos coronéis coagiam os eleitores a escolherem seus candida-
tos. Muitas vezes, a coação era exercida com uso da própria força policial presente
nos municípios. A figura do coronel, nesse sentido, fazia-se presente no âmbito do
poder local, controlando o exercício do voto pelo uso abusivo do poder. A patente
de coronel era estabelecida pelo poder dos governadores, no âmbito da Guarda
Nacional, e dava ao mandão local o poder de controlar a força policial.

Como resultado desse arranjo institucional, a dominação era exercida por


uma oligarquia que se revezava no poder, tendo em vista um sistema de compro-
misso informal e assegurado pelo largo uso da corrupção eleitoral, do nepotismo
e do empreguismo (LEAL, 1997). O compromisso oligárquico é expressão de uma
conjugação do tradicional e do moderno, uma vez que possibilitou a moderni-
zação via autonomia dos estados, como São Paulo e Minas Gerais, que seriam
dotados de uma economia em expansão, sem romper com práticas tradicionais
(LESSA, 2001, p. 21). As eleições baseadas em fraude, violência e corrupção manti-
nham um sistema de exclusão da cidadania e refluxo dos direitos políticos. Além
disso, representavam um sistema de construção do poder em torno de compro-
missos políticos estabelecidos entre o domínio local e a autoridade central do
Estado, tornando a fraude, a corrupção e a violência elementos fundamentais
para a conexão do governo central com o domínio local, e vice-versa. Esse arranjo
institucional não permitia florescer uma cultura democrática.

Gradativamente, surgiriam críticas ao sistema do coronelismo e ao sistema


político brasileiro. De acordo com Oliveira Vianna, o sistema político da República
Velha seria baseado em um “idealismo utópico” dos liberais, em que, dadas as
características da cultura e da política brasileiras, não era possível constituir uma
democracia e um sistema representativo real e efetivo. Ele apontava um clamor
realista para a organização do sistema político brasileiro (VIANNA, 1987). Seria
necessário um Estado autoritário, que sobrepusesse sua autoridade aos mandonis-
mos locais e que permitisse constituir um sistema representativo autêntico para
a nação. Com esse argumento em vista, os anos de 1930 representam, na história
política do Brasil, um período de fortes transformações, tanto na dimensão da
sociedade, quanto na dimensão do sistema político.

3. A Revolução de 1930 e o Estado Autoritário de 1937

Apesar de todas as críticas ao sistema republicano criado em 1889, o Brasil,


a partir dos anos de 1930, entrou em uma rota de transformações da estrutura
social. Um processo crescente de urbanização e industrialização modificava
gradativamente a estrutura da sociedade. Esse início do processo de modernização

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76 INTRODUÇÃO À TEORIA DEMOCRÁTICA

alteraria a cultura política, introduzindo no Brasil o problema das classes sociais e


um papel renovado do Estado e dos direitos na construção da cidadania.

Tendo em vista o já mencionado fortalecimento do pensamento político auto-


ritário sobre a falácia democrática no Brasil, ganhou força na elite política a pers-
pectiva segundo a qual o Estado autoritário seria necessário. Os anos seguintes a
1930 representaram avanços e descontinuidades no plano institucional do Estado.
Devido à fragmentação do poder e aos interesses emergentes por parte de grupos
até então subalternos, assiste-se a uma escalada do autoritarismo como solução
para o conflito. Visto ser heterogênea, a base social sobre a qual se assentou, mais
tarde, o Estado Novo, precisou ser controlada por um poder centralizador, capaz
de assegurar a existência de uma ordem.

Pode-se dizer que depois de 1930 qualquer arremedo de democracia no Brasil


foi destituído, tanto no plano das instituições quanto no plano da cultura. A partir
da ascensão de Getúlio Vargas, medidas centralizadoras foram executadas, como
a dissolução do poder dos legislativos federal, estaduais e municipais, além da
nomeação de interventores nas províncias. O Código de Interventores de 1931
diminuiu a autonomia política e econômica das províncias, fazendo com que elas
fossem obrigadas a pedir autorização do governo federal para contrair emprés-
timos. As medidas centralizadoras, entretanto, encontraram forte oposição por
parte dos setores mais modernos da política brasileira, resultando no levante mili-
tar de 1932 em São Paulo, visando à constitucionalização do país. Como conse-
quência, tem-se a reabertura do Congresso e a (re)constitucionalização do país a
partir de 1934.

O debate constituinte que se seguiu à Revolução de 1930 foi marcado por forte
instabilidade institucional. A Revolução Constitucionalista de 1932, que repre-
sentou uma experiência de guerra civil no Brasil, levou a uma defesa do governo
representativo e da legalidade. A Constituição de 1934 trouxe algumas inovações
nessa matéria. O artigo 2° afirmava o princípio da soberania popular, ao postu-
lar que “todos os poderes emanam do povo e em nome dele são exercidos”. A
Constituição de 1934 delegou às autoridades judiciais o controle das eleições e
criou a Justiça Eleitoral, a quem caberia assegurar a imparcialidade e a legalidade
dos pleitos. Ela também instituiu o voto obrigatório para os maiores de 18 anos
e o voto feminino, com a limitação de que as mulheres deveriam exercer uma
função pública remunerada. A referida Constituição manteve a restrição ao voto
dos mendigos, dos analfabetos e de alguns setores militares.

Apesar dos avanços institucionais no que tange à representação política, eles


não foram suficientes para conter o avanço autoritário. A aprovação da Lei de
Segurança Nacional, em 1935, introduziu o conceito de subversão da ordem, esta-
beleceu controle sobre a propaganda política e definiu os crimes contra a ordem
social e política. A primeira Lei de Segurança Nacional fortaleceu o autoritarismo
e encontrou legitimação principalmente no estamento militar. O crescente prota-
gonismo dos militares, desde o tenentismo de 1922, fortaleceu uma perspectiva

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CAPÍTULO 4
HISTÓRIA DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA NO BRASIL 77

autoritária, calcada em um realismo nacionalista dirigido para a crescente auto-


nomia do Poder Executivo.

O clima político era de instabilidade e insegurança, e a aprovação da Lei de


Segurança Nacional levou à reação de setores da sociedade, especialmente na
Aliança Nacional Libertadora, que teve em Luís Carlos Prestes seu principal líder.
O resultado foi a extensão da violência política no Brasil, com a repressão violenta
do movimento. A derrota do levante da Aliança Nacional Libertadora contra a
ordem vigente possibilitou a adoção de uma justificativa ideológica para o uso
da violência, uma vez que a repressão era contra a escalada comunista no plano
internacional. Ou seja, viabilizou-se a identificação do inimigo externo (o comu-
nismo) e do inimigo interno (os grupos subversivos), demandando a unidade e a
afirmação, inclusive no plano jurídico, dos valores nacionais.

Durante o ano de 1936, o Congresso aprovou todas as medidas solicitadas pelo


Executivo, tendo em vista a justificativa de ameaça da ordem, decretando o estado
de sítio por 60 dias e assegurando ao governo o uso extensivo da força contra
rebeldes. O Estado criou, em 1936, órgãos específicos para a repressão, formando
a Comissão Nacional de Repressão ao Comunismo e o Tribunal de Segurança
Nacional. Ademais, Vargas deu à polícia da capital federal maior poder para repri-
mir atividades tidas como contrárias à ordem. A prisão de Olga Benário e a sua
posterior extradição para a Alemanha nazista ilustram as ações desse período.3
Tendo em vista a ampliação da institucionalização dos meios de violência física
em 1936 e a justificativa ideológica de repressão ao comunismo, o cerco militar
ao Congresso em 1937 e a elaboração de uma nova Carta Constitucional por Fran-
cisco Campos, nesse mesmo ano, deram ensejo ao Estado Novo que, ao melhor
estilo autoritário, surgiu de um golpe sem grandes mobilizações. A centralização
proporcionada pelo Estado Novo modificou os mecanismos de representação das
classes junto ao Estado. Caberia a este criar a síntese dos interesses da nação atra-
vés da representação corporativa, mediando interesses diversos e promovendo a
industrialização do país dentro da ordem. Nesse contexto, a Constituição de 1937
extinguiu os partidos políticos no Brasil.

Restava, por outro lado, construir mecanismos de identificação das camadas


populares com o regime. Com efeito, o Estado Novo buscou formar uma opinião
pública favorável à nova ordem, manipulando símbolos e discursos sedutores
em torno do tema do trabalho.4 Instituiu-se, assim, uma política trabalhista que
incluiu, na forma de direitos, os trabalhadores industriais mediante represen-
tação funcional dada pelos sindicatos. Enquanto forma de movimento social, a
representação funcional dos sindicatos apenas poderia ocorrer uma vez que eles

3 Olga Benário foi uma militante comunista alemã, de origem judia, que se estabeleceu no Brasil. Foi companheira
de Luís Carlos Prestes e militou no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Foi extraditada para a Alemanha
nazista, onde foi mandada para um campo de concentração em Lichtenburg e mais tarde transferida para
o campo de concentração em Ravensbrück, onde foi submetida a trabalho escravo e experiências médicas.
Morreu no campo de extermínio em Bernburg, em 1942.
4 A política trabalhista de Vargas excluiu o campesinato da ordem política, visando não romper com o domínio
oligárquico sobre a terra e as formas de trabalho no campo. A esse respeito, conferir Werneck Vianna (1999).

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78 INTRODUÇÃO À TEORIA DEMOCRÁTICA

fossem legalizados, ou seja, incluídos na ordem autoritária pela Consolidação das


Leis Trabalhistas (CLT).

Além disso, adotaram-se medidas repressoras sobre a imprensa e reformas na


política educacional. Ainda no que tange à manipulação de símbolos para a cria-
ção de uma identidade nacional, o Estado Novo criou, em 1939, o Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP), que atuou como censor das áreas de comunicação e
cultura, controlando e conformando ideologicamente as massas urbanas, porém,
sem mobilizá-las.

O Estado Novo consolidou os objetivos da Revolução de 1930 e do pensamento


autoritário, promovendo a integração nacional por meio de violência discrimi-
nada contra setores da sociedade que se opunham ao regime. Ele propiciou, desse
modo, uma modernização conservadora do país, fomentando a industrialização
sem o rompimento dos modelos de dominação existentes na sociedade (WERNECK
VIANNA, 1999, p. 175).

Todavia, o regime foi se distendendo, uma vez que o aparelhamento institu-


cional manteve uma atuação dúbia em relação aos militares. Isso porque o Brasil
entrou na Segunda Guerra Mundial para combater forças repressoras ligadas a
uma ideologia fascista ou nazista, ao mesmo tempo que mantinha, internamente,
uma atuação repressora e violenta. Essa atuação dúbia propiciou um contexto que
levou à posterior democratização do Brasil. Em fevereiro de 1945, Getúlio Vargas
baixou o Ato Adicional à Carta de 1937, convocando eleições gerais, decretando o
novo Código Eleitoral, possibilitando a conformação de novos partidos políticos e
a emergência da democracia. No interregno dos anos de 1945 e de 1964, o Brasil
assistira a um declínio provisório dos mecanismos institucionais de violência
física e simbólica.

4. A República Reordenada – A Constituição de 1946

A nova ordem institucional do Estado brasileiro, iniciada em 1945, resgatou


as liberdades civis, revogando o estado de emergência decretado em 1937. A
Constituição de 1946 optou por um modelo liberal-democrático, recuperando a
centralidade dos partidos, embora mantivesse, em muitos pontos, a representação
funcional derivada do modelo corporativo instaurado em 1937. Tal Constituição
restituiu o regime representativo, a soberania popular e a Federação, manteve o
voto obrigatório e o voto feminino, sem a obrigatoriedade de exercício de função
pública remunerada. Por outro lado, manteve a restrição ao voto dos analfabetos
e dos praças de pré.

O interregno democrático iniciado em 1945 procurava conter a violência polí-


tica e possibilitar a institucionalização da governabilidade em um contexto de
diferenças resultantes da modernização da sociedade brasileira, com o surgimento
da atuação política das classes sociais, da urbanização e da industrialização.

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CAPÍTULO 4
HISTÓRIA DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA NO BRASIL 79

Entretanto, os mecanismos institucionais criados pela Constituição de 1946 não


foram suficientes para controlar o conflito entre os diferentes setores da socie-
dade, que aspiravam a tomar o poder e a controlar a ordem em vista de uma
legalidade que carecia de estabilidade. O interregno democrático representa, na
história brasileira, um período de grande instabilidade política, uma vez que a
organização das classes em partidos serviu para fermentar ainda mais os debates
nos planos ideológico e econômico.

O Estado democrático de 1946 assistiu a uma sucessão de tentativas de golpe


por parte dos militares do Clube Militar e da Escola Superior de Guerra, sendo
o principal deles o golpe contra a eleição de Juscelino Kubitscheck em 1954.
Enquanto setores das Forças Armadas – Aeronáutica e Marinha – denunciavam a
eleição de Kubitscheck como uma “mentira democrática”,5 o ministro da Guerra,
general Lott, mobilizou tropas do Exército no Rio de Janeiro, ocupando prédios
públicos e estações de rádio e jornais para assegurar a posse do presidente eleito.
O “golpe preventivo” pretendia ser uma intervenção militar que impedisse a poli-
tização das Forças Armadas e garantisse a continuidade da ordem institucional
(GUIMARÃES, 2001, p. 169). O suicídio de Getulio Vargas e a presença dos militares
na cena política fomentaram a instabilidade e a incerteza, apontando elementos
que já davam conta das dificuldades de institucionalização da representação polí-
tica devido a uma cultura política autoritária em curso.

A continuidade do governo Kubitscheck apenas foi possível com o relativo


sucesso do Programa de Metas, que fomentou o desenvolvimento econômico e
a industrialização do país, arrefecendo, temporariamente, o conflito social. No
plano partidário, a aliança entre Partido Social Democrático (PSD) e Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) garantiu maioria no Congresso e importante entrada
do governo na burocracia civil e nos sindicatos, limitando, desse modo, as greves e
o potencial de conflito. De outro lado, o sucesso do “golpe preventivo” possibilitou
que os militares apoiassem a continuidade da ordem democrática. Restavam, na
oposição, os setores mais conservadores da classe média, representada pela União
Democrática Nacional (UDN), sob a liderança de Carlos Lacerda.

A sucessão do presidente Kubitscheck foi marcada pela emergência de peque-


nos partidos à arena política, como o Partido Trabalhista Nacional (PTN) e o
Partido Social Progressita (PSP), cristalizando formas populistas e conservadoras,
que defendiam a moralização dos costumes políticos e denunciavam a corrupção
em relação ao grupo getulista do PTB. Jânio Quadros, do PTN, vence as eleições
presidenciais com 48% dos votos, e João Goulart, da dissidência sindical do PTB, é
eleito vice-presidente. Sem uma base política de apoio, o governo Jânio Quadros
encontrou forte oposição do PSD e do PTB, que tinham maioria no Congresso,
além de Carlos Lacerda. Na busca por ampliar seu poder, Jânio renunciou à presi-
dência, resultando em um desastre político sem precedentes.6

5 Termo referente ao discurso fúnebre proclamado pelo coronel Bizarria Mamede, por ocasião da morte do
presidente do Clube Militar, general Canrobert Pereira da Costa (FAUSTO, 2001, p. 421).
6 Até hoje, não há consenso entre os historiadores sobre o episódio da renúncia de Jânio, uma vez que não há
fontes históricas coesas que atestem o fato.

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80 INTRODUÇÃO À TEORIA DEMOCRÁTICA

Surge um novo dilema sucessório, uma vez que João Goulart visitava a China
comunista, propiciando o protesto da UDN e o descontentamento dos setores mais
conservadores da sociedade brasileira, da Igreja e das Forças Armadas. A continui-
dade do regime apenas foi possível com uma solução de compromisso entre as forças
partidárias no Congresso, fazendo com que o Brasil passasse de uma organização
presidencialista para uma organização parlamentarista, reduzindo os poderes do
novo presidente da República. Com a adoção de um governo parlamentarista, o presi-
dente da República dependeria mais do Congresso para governar.

O governo João Goulart foi marcado por fortes mobilizações e pressões sociais,
advindas dos setores conservadores e dos novos movimentos sociais que entra-
ram na arena política. Mesmo que ainda se mantivessem traços do coronelismo e
elementos arcaicos de organização política, a modernização da sociedade brasi-
leira permitiu a inovação da representação política pela maior participação de
movimentos da sociedade, tais como sindicatos, movimentos campesinos, o movi-
mento estudantil e a classe média (FAUSTO, 2001, p. 447).

Nesse contexto, o governo Goulart tentou aprovar as reformas de base, dando


primazia ao movimento operário através da representação consolidada no PTB.
As reformas de base procuravam transformar a estrutura do Estado e promover
a modernização da sociedade por meio de mudanças no sistema educacional,
fiscal, político e agrário. O objetivo era mudar dispositivos constitucionais essen-
ciais, propiciando a reforma agrária, a reforma urbana, e a extensão de direitos
políticos a setores até então marginalizados: os analfabetos e os inferiores das
forças militares.

As reformas de base e o poder do movimento operário serviram para fermen-


tar o conflito entre as classes sociais representadas nos partidos políticos, uma vez
que ganharam ímpeto as invasões de terra e a sindicalização rural por parte das
Ligas Camponesas. No plano partidário, Goulart encontrava oposição dentro do
PTB, que reclamava de suas vacilações nas reformas sociais, além da forte oposi-
ção por parte da UDN, que reforçava um discurso conservador. No contexto de
forte instabilidade política, acirrada pelo confronto entre os partidos no âmbito
do Congresso e do governo, aumentava o apelo a mecanismos de violência. Entre
as Forças Armadas, por exemplo, cresciam os movimentos de conspiração contra
João Goulart, propiciando uma “intervenção defensiva” contra os “excessos”
governamentais.

A crise de 1964, antes de qualquer coisa, foi, assim, uma crise política e insti-
tucional do regime democrático inaugurado em 1945. O acirramento do conflito
entre os partidos políticos, representantes das classes sociais, e o esvaecimento
dos mecanismos democráticos de resolução de conflitos promoveram um contexto
de desordem latente, rompendo com o compromisso instaurado em 1945 pelas
elites políticas (SANTOS, 1986, p. 97). As ocupações no campo e a posição dos
setores conservadores e operários do mundo urbano promoveram um contexto
social em que não seria possível a estabilidade por via democrática. A via autori-
tária passa a ser vista como a única capaz de promover a ordem social, cabendo

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CAPÍTULO 4
HISTÓRIA DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA NO BRASIL 81

às Forças Armadas liderar esse processo em face dos princípios da paz social,
do respeito à hierarquia e do controle ao comunismo. Em 31 de março de 1964,
foi desferido o golpe derradeiro na legalidade democrática, vindo a público o
golpe de Estado patrocinado pela elite militar e pela elite conservadora, mobi-
lizando tropas sediadas em Juiz de Fora, Minas Gerais, para tomar as ruas do
Rio de Janeiro. A manutenção da democracia não encontrou nenhum esforço de
preservação por parte das elites.

5. A Ditadura de 1964 e o Refluxo Democrático

O período da ditadura inaugurada em 1964 representa um momento de ruptura


da democracia, apesar da roupagem de governo representativo. Importante
observar nesse ponto que a democracia não é apenas a existência de um sistema
representativo. Com o comando militar assumindo o poder, com o ideal de livrar
o Brasil da corrupção e do comunismo, o novo regime começou a modificar as
instituições do país via decreto, fomentando mecanismos de violência com a justi-
ficativa de instaurar a ordem social. É por meio dos Atos Institucionais (AIs) que
os militares organizaram a repressão a movimentos de esquerda, especialmente
contra as Ligas Camponesas, contra o movimento estudantil e contra o movimento
sindical. O Ato Institucional 1 não revogou a Constituição de 1946, mantendo seus
institutos jurídicos (com mudanças substanciais) e o funcionamento do Congresso
Nacional. Além disso, o AI-1 convocou eleições indiretas no Congresso Nacional,
saindo vitorioso, então, o presidente Humberto Castelo Branco, general de alto
prestígio dentro da corporação.

O AI-1 organizou o uso da violência no Brasil sob o regime autoritário, cassando


mandatos nos diferentes níveis da federação e instalando os Inquéritos Policial-
-Militares (IPMs), que imputavam responsabilidade criminal contra os sujeitos
que praticavam crimes contra o Estado, contra o patrimônio e contra a ordem
social e política. As Forças Armadas, desse modo, ganharam poderes excepcionais,
desencadeando perseguições contra todos os inimigos do regime, institucionali-
zando a prática de tortura e de prisão indiscriminada. Em um primeiro momento,
os principais inimigos foram as Ligas Camponesas, mas também os sindicatos e
as federações de trabalhadores. Além do IPM, o AI-1 criou o Serviço Nacional de
Informações (SNI), órgão que seria responsável pelo controle da informação –
instaurando o medo como mecanismo legitimador do regime – e pela coleta de
dados a respeito das organizações que atentariam contra a ordem e a segurança
nacional.

O AI-1 deu poderes excepcionais às Forças Armadas, mas teria sua vigência
até janeiro de 1966, quando, em tese, as forças militares devolveriam o poder
aos civis. Porém, por uma manobra política dos setores mais conservadores da
instituição militar, o presidente Castelo Branco decretou o AI-2, que reforçou

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82 INTRODUÇÃO À TEORIA DEMOCRÁTICA

os poderes do presidente, que passaria a poder baixar atos adicionais aos atos
institucionais. A principal novidade do AI-2 era a indeterminação do conceito de
segurança nacional, propiciando uma ampliação indiscriminada de sua prática
e a extinção dos partidos políticos existentes, criando um sistema bipartidário
artificial, dividido entre a Aliança Renovadora Nacional (Arena) e o Movimento
Democrático Brasileiro (MDB). O governo Castelo Branco promoveu amplas alte-
rações no plano institucional do Estado, fazendo aprovar, em 1967, uma nova
Constituição.

A Constituição de 1967 manteve a designação do Brasil como um governo


representativo. Contudo, sofreria uma mudança conceitual já operada no Estado
Novo. Os militares se arvoraram como representantes da nação e buscavam sua
legitimidade e autoridade em um processo de sobrepujamento das diferenças e
dos interesses em nome de um interesse nacional. O texto constitucional manteve
os direitos políticos, especialmente o de voto a ambos os sexos, para maiores de
18 anos, excluídos os analfabetos e os que não se exprimissem na língua nacional.
Os direitos políticos também eram vedados aos condenados criminalmente, o que
servia para restringir os direitos da oposição via Inquéritos Policiais-Militares e a
perseguição à esquerda. Na prática, não havia direitos políticos, porquanto as elei-
ções para o Congresso Nacional eram controladas de cima pela autoridade militar.

No mesmo ano de 1967, passado o primeiro impacto da repressão, a oposição,


articulada pelos movimentos de esquerda, voltou a se organizar. As modificações
promovidas no âmbito institucional pelo regime autoritário não foram suficientes
para criar uma ordem social pacífica. Iniciaram-se novas mobilizações contra a
ordem instaurada pelos militares com as greves de Contagem e de Osasco, além
de mobilização do movimento estudantil. De outro lado, grupos radicais fomen-
taram a luta armada, especialmente a Aliança de Libertação Nacional (ALN), lide-
rada por Carlos Marighella, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e a
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), ligada a militares de esquerda, insatis-
feitos com o regime, entre eles, Carlos Lamarca.
A escalada da luta armada por parte de movimentos revolucionários proporcio-
nou que grupos mais conservadores dentro da instituição militar realizassem uma
“revolução dentro da revolução”, instituindo o AI-5, que fechou o Congresso Nacional,
deu poderes para que o Executivo interviesse nos estados e nos municípios, cassou
mandatos e suspendeu os direitos políticos e as liberdades civis. Ademais, pelo AI-5,
ficou suspenso o habeas corpus aos acusados de crime contra a segurança nacional
e infrações contra a ordem econômica e social. Ou seja, suspendia-se qualquer arre-
medo de democracia, instaurando-se, de fato, o estado de exceção.

A partir do AI-5, o comando militar pôde organizar os órgãos de vigilância e


de repressão a partir do SNI, do Departamento de Operações e Informações (DOI)
e do Centro de Operações de Defesa Interna (CODI). As instituições responsáveis
pela repressão institucionalizada, tendo em vista o problema da segurança nacio-
nal, responderam às pressões e às revoltas praticadas pelos setores da esquerda

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CAPÍTULO 4
HISTÓRIA DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA NO BRASIL 83

radical, criando medidas formais de violência física e simbólica. A característica


central das práticas de violência por parte do Estado autoritário brasileiro foi a
multiplicação de institutos jurídicos formais, que legalizariam a violência política
como um meio legítimo para garantir a segurança nacional. Primeiro, pelo AI-13,
cria-se a pena de banimento do território nacional, expulsando do Brasil aqueles
considerados como agentes perturbadores da ordem. Em seguida, o AI-14 insti-
tuiu a pena de morte, que, do ponto de vista material, nunca foi aplicada, mas
serviu para inocentar militares no âmbito dos Tribunais Militares, justificando as
execuções sumárias e as torturas, as quais eram apresentadas como tentativas de
controlar movimentos radicais (FAUSTO, 2001, p. 481).

A tortura foi o mecanismo a partir do qual a repressão desmantelou as orga-


nizações da luta armada de esquerda, fazendo com que o regime do Estado auto-
ritário se fizesse reproduzir mediante a combinação de propaganda e medo,
contando, ainda, com o sucesso momentâneo do “milagre brasileiro” no plano da
economia. Em essência, a prática de tortura nunca foi oficializada pelo regime,
mas ganhava formas institucionais quando mecanismos jurídicos foram criados
pelos Atos Institucionais para justificar sua prática. Por outro lado, a repressão
fomentou a luta armada dos movimentos de esquerda. Pelo menos até 1971, a luta
armada conseguiu criar focos de resistência à repressão utilizando-se de seques-
tros de autoridades e assaltos a bancos para se financiarem. Convém citar, ainda,
a guerrilha do Araguaia, organizada pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB)
– o qual vivia na ilegalidade –, que criou um foco de resistência bastante eficaz.
Apenas em 1975, os militares puderam reprimir eficazmente a guerrilha, trans-
formando a área do Bico do Papagaio, no Pará, em zona de segurança nacional.

A partir de 1974, iniciou-se a distensão dos mecanismos de violência. O fracasso


do “milagre brasileiro” acompanhado da emergência de novos movimentos sociais
impediu a continuidade do Estado autoritário brasileiro. Por não haver uma corres-
pondência do regime com dominação de classe (FAUSTO, 2001, p. 513), uma vez que
o regime colocava-se acima das classes, o fracasso do “milagre” propiciou a reestru-
turação da oposição oficial ao regime no âmbito do MDB e no âmbito de instituições
representativas da sociedade civil, como a OAB e as Igrejas, introduzindo uma propa-
ganda de oposição a par da propaganda oficial. Com o crescimento eleitoral do MDB
na eleição para o Senado de 1974, a base de apoio do regime começa a ruir. Mesmo
tentativas de manutenção do regime, como a Lei Falcão, que não permitia críticas ao
regime e aos militares no horário eleitoral, obrigando os candidatos a apenas lerem
os seus currículos, não foram capazes de impedir o gradativo enfraquecimento do
regime militar. Sustentado apenas no medo fomentado pela tortura, o regime militar
não tardaria a dissolver-se, ensejando uma transição para a democracia controlada
pela própria instituição militar (O’DONNELL, 1986, p. 123).

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84 INTRODUÇÃO À TEORIA DEMOCRÁTICA

6. A Nova República, o Processo de


(Re)Democratização e a Emergência da Justiça Social

A distensão do regime autoritário por conta da crise econômica do petróleo


em 1979, acompanhada de um movimento contestatório por dentro e por fora da
corporação militar, implicaram um processo de mudança gradativa. A passagem
do regime autoritário para uma nova ordem democrática não ocorreu por ruptu-
ras institucionais. A transição para a democracia foi vista por parte de algumas
lideranças militares como algo inevitável, à medida que o problema institucio-
nal decorrente da queda da legitimidade do regime se aprofundava. A partir do
governo Geisel, iniciou-se um processo de liberalização do regime político, criando
uma transição “lenta, gradual e contínua” para a devolução do poder aos civis.
Geisel iniciou o processo de abertura, apesar da oposição da linha dura, que utili-
zou a violência para permanecer no poder, como atestam o episódio da bomba
contra o escritório da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em São Paulo e o da
bomba no Riocentro, no Rio de Janeiro. A vitória do partido da oposição (MDB)
nas eleições para a Câmara dos Deputados e para o Senado de 1974 assentou a
necessidade de mudanças frente à crescente mobilização da sociedade contra os
excessos autoritários (CARDOSO, 1975).

Na contramão da abertura, o Pacote de Abril de 1977 promoveu alterações


constitucionais que visavam assegurar aos militares a maioria do Congresso. Vale
citar, aqui, a alteração na composição do Senado, prevendo-se que metade dos
senadores seria eleita indiretamente pelo Colégio Eleitoral, que era controlado
pelo governo. O resultado é que um terço dos senadores praticamente foi indicado
pelo presidente, criando a figura dos “senadores biônicos”. Além disso, o Pacote
de Abril aumentou o mandato do presidente de cinco para seis anos.

Diante disso, a mobilização da sociedade civil no Brasil foi crescente. A maior


mobilização dos movimentos sociais, com as greves no ABC paulista, a ampliação
da carestia em função da crise econômica no início dos anos de 1980 e a insatis-
fação dentro de setores do próprio estamento militar, desencadeou o processo de
transição para a democracia. Percebendo a sua fraqueza política, o então presi-
dente João Figueiredo jurou ter a “mão estendida em conciliação”, possibilitando
que o poder fosse devolvido a uma ordem civil e que a democracia pudesse ser
reconstruída. O movimento das Diretas Já, em 1983 e 1984, promoveu amplas
mobilizações e discursos políticos em favor das eleições diretas. Mesmo que o
movimento tenha sido frustrado pela rejeição da emenda constitucional proposta
pelo deputado Dante de Oliveira, a eleição indireta de Tancredo Neves no Colégio
Eleitoral em 1985 terminou com o regime de exceção, criando as bases para o
retorno à democracia.

À Assembleia Constituinte coube o papel de redigir uma nova Constituição,


tendo ela sido instalada pelo Congresso em fevereiro de 1987 e formada pelos
representantes eleitos nas eleições gerais de 1986. Embora houvesse quem defen-
desse que deveria haver uma eleição para compor um corpo de constituintes,

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CAPÍTULO 4
HISTÓRIA DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA NO BRASIL 85

venceu a tese de que o Congresso poderia acumular tal função. Os trabalhos da


Assembleia Constituinte contaram com diversas comissões temáticas, incorpo-
rando a participação da sociedade civil em diversos temas. A forte participação
dos movimentos sociais e um ânimo democrático renovado permitiram restabe-
lecer uma ordem constitucional democrática.

A Constituição, promulgada em 2 de outubro de 1988, coroou o processo da


transição para a democracia, assegurando a institucionalização da representação
política. A representação passou a ser realizada no contexto de um sistema multi-
partidário, com eleições proporcionais. Também renovou o processo do federa-
lismo ao aprofundar a descentralização das políticas públicas. Universalizaram-se
os direitos políticos, assegurando o direito de voto aos analfabetos e estenderam-
-se os direitos fundamentais com o claro objetivo de proporcionar a igualdade e
a participação dos cidadãos na ordem democrática.

A Carta Magna de 1988 possibilitou a estabilidade política e a consolidação da


governabilidade no Brasil, reduzindo os conflitos à arena institucional e assegu-
rando que governos tenham condições de levar seus projetos de políticas públi-
cas a termo e que as oposições possam exercer uma função controladora. Além
disso, a Constituição possibilitou a alternância do poder e a introdução de novos
temas na agenda democrática, os quais englobam desde as melhorias no apare-
lho de gestão do Estado até a concretização de direitos de minorias. Ao assegu-
rar condições de governabilidade, a Constituição de 1988 possibilitou introduzir
novas temáticas de políticas públicas e uma atuação mais incisiva da sociedade
civil junto ao Estado, fomentando novos instrumentos de representação e parti-
cipação política.

A universalização dos direitos políticos não ficou restrita à inclusão dos analfa-
betos. A modernização política no Brasil proporcionou a incorporação de elemen-
tos críticos à representação política, a qual é realizada por instituições como os
partidos e pela institucionalização de elementos inovadores de participação, que
ampliaram a densidade da vida democrática no Brasil (AVRITZER, 2002). A criação
de novos formatos de participação política possibilitou que a sociedade civil se
tornasse presente no cenário político-institucional. Esses espaços implicaram novas
modalidades de representação política que não são derivadas do processo eleitoral,
mas de um processo de defesa dos interesses de setores ou grupos da sociedade.
Tais formatos institucionais de participação política permitem a inclusão de grupos
minoritários na cena política, tendo em vista uma demanda clara de direitos e
justiça social. Exemplos desses novos formatos participativos seriam os conselhos
de políticas públicas, que agregam a participação da sociedade de forma muitas
vezes paritária com o governo no processo de decisão e controle das políticas públi-
cas; as audiências públicas no âmbito das instituições formais como o Congresso e
o Judiciário; os orçamentos participativos e as conferências de políticas públicas.

Do ponto de vista da sociedade brasileira, foi sendo promovida uma cultura


política que adere ao regime democrático, mas desconfia das suas instituições e as
critica (MOISÉS, 2010). As inovações democráticas têm proporcionado uma gradativa

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86 INTRODUÇÃO À TEORIA DEMOCRÁTICA

inclusão de atores sociais, antes excluídos, no jogo político. Da mesma forma, amplia-
ram-se as demandas por justiça social, carregando uma semântica de participação
mais efetiva e deliberada. Nota-se, assim, a adesão da sociedade ao regime da demo-
cracia, apesar da crítica às instituições representativas tradicionais, como os partidos,
o Congresso e o governo. A crescente mobilização da sociedade civil, a inclusão de
novos atores na cena política e a renovação e reforma das instituições possibilitaram
constituir uma cultura e uma institucionalização política genuinamente democrática,
mesmo que ainda persistam elementos de ambivalência em relação a uma cultura
política autoritária.

O regime democrático, hoje, permite a alternância no poder, a liberdade de


imprensa e de expressão, o direito de votar e de ser votado e formas alternativas
de participação política, tendo em vista uma ordem constitucional sólida e em
permanente transformação. No entanto, desafios ainda permanecem, como o da
corrupção que invade o sistema político e a burocracia do Estado, as desigualda-
des sociais e regionais, o processo caótico de urbanização, os problemas ambien-
tais, as desigualdades de gênero e uma educação pública de má qualidade. Se há,
contudo, uma luz no fim do túnel, esta certamente será a democracia, que deixou
de ser um mal-entendido para ser um processo autêntico de construção de uma
ordem política em que a liberdade e a igualdade possam se encontrar para, entre-
laçadas, assegurar condições de desenvolvimento e justiça.

Do que falamos aqui…

Temporalidade Características relacionadas à construção


da democracia no Brasil.

Brasil Império • Sistema de representação política pautada pelo imperador,


(1822-1889) cuja autoridade era pela hereditariedade.
• Contexto marcado por forte desigualdade e não isonomia
das instituições.
• Votantes separados de eleitores, sendo as eleições indiretas.
• Quem tinha direito de voto: sexo masculino, maior de 21 ou
25 anos, casado, bacharel, clérigos ou militares. Permitido o
voto para quem tinha renda maior que 100 mil réis e eleitores
com renda acima de 200 mil réis.

República Velha • Medidas de liberalização da participação política.


(1889-1930) • Estabelecimento do federalismo, presidencialismo e laicidade
do Estado pela Constituição de 1891.
• Voto limitado pelo sexo e pelo analfabetismo.
• Expansão do sufrágio para pessoas com mais de 21 anos.
Exceto: mendigos, analfabetos e comunidades religiosas.
• Instituição do voto secreto.

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CAPÍTULO 4
HISTÓRIA DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA NO BRASIL 87

Revolução de 1930 • Crescente transformação da sociedade brasileira pela urba-


e Golpe de 1937 nização e industrialização.
• Centralização política e autoritarismo como solução de con-
flitos sociais.
• Constituição de 1934: instituição do voto obrigatório para
cidadãos acima de 18 anos, inclusão das mulheres que exer-
ciam cargos públicos, exclusão de mendigos e analfabetos.
• 1936: Dissolução das legislaturas (federais, estaduais e mu-
nicipais) e criação de órgãos de repressão.
• Legitimidade do autoritarismo no estamento militar e utili-
zação de artifícios simbólicos em favor do regime.

República • Constituição de 1946 marcada pela crise entre classes sociais


reordenada (1946) e pela restituição do governo representativo.
• Severas tentativas de golpe pelos militares.
• Relevância de partidos e aumento de suas quantidades.
• Aumento do uso de mecanismos de violência e a negação de
institucionalizar o conflito.

Ditadura de 1964 • Instauração de uma ordem autoritária, com suspensão dos


direitos políticos, da liberdade de impressa e da legalidade
dos partidos políticos.
• Atos Institucionais (AIs) em favor da segurança e ordem
nacional, instaurando forte repressão sobre setores da so-
ciedade civil.
• Uso da violência física e simbólica na manutenção do regime.

Nova República e • Fim da ditadura por pactos de transição.


processo de • Liberalização do regime.
redemocratização • Fase de maior efervescência da sociedade civil, como sin-
dicatos e movimentos sociais, marcada por demandas de
participação política.
• Constituição de 1988 universaliza os direitos políticos e au-
menta a descentralização federativa.

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88 INTRODUÇÃO À TEORIA DEMOCRÁTICA

Para pensar…
1. O que foi o Poder Moderador no Império e quais suas consequências?
2. Qual foi o papel do coronelismo durante o período da República Velha?
3. Quais transformações políticas e institucionais a Revolução de 30 possibilitou no
Brasil?
4. Quais fatores justificam a afirmação de que o Estado Novo propiciou uma moderni-
zação conservadora no país?
5. Quais fatores influenciaram a instabilidade política de 1964, que culminou no golpe
militar?
6. Quais foram os principais Atos Institucionais durante a Ditadura Militar e as principais
medidas adotadas através deles?
7. A redemocratização, consagrada pela promulgação da Constituição em 1988, permi-
tiu a concretização de várias inovações democráticas. Quais foram essas inovações?
8. O autor conclui que, apesar da conquista democrática do último período, alguns
desafios permanecem no contexto democrático. Você seria capaz de pensar outros
desafios, além daqueles citados pelo autor? Quais seriam as consequências desses
desafios para a consolidação dos objetivos da democracia?

Referências

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CAPÍTULO 4
HISTÓRIA DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA NO BRASIL 89

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