Você está na página 1de 5

TEXTO: A VIDA NA SOCIEDADE DA VIGILÂNCIA - 2008

A PRIVACIDADE HOJE
AUTOR: STEFANO RODOTÁ
1 - SOBRE O AUTOR: Primeiramente ele foi autor de diversos livros e artigos ao longo da sua vida

- CARREIRA ACADÊMICA

STEFANO RODOTÁ, faleceu em 2017. Ele era italiano e foi um jurista e um político.

Tornou-se professor de Direito Civil na Universidade Sapienza de Roma, onde lhe foi conferido o
título de Emérito .

Além de ministrar palestras e seminários em diversas universidades dos Estados Unidos, Canadá,
Austrália, América Latina e Índia, foi pesquisador visitante no All Souls College em Oxford e na
Stanford Law School com bolsa.

Rodotà foi Presidente do Conselho Administrativo do Colégio Universitário Internacional de Torino e


também membro do comitê do Centro NEXA para Internet e Sociedade [1], um centro de pesquisa
fundado no Departamento de Controle e Engenharia de Computação da Universidade Politécnica de
Torino .
- CARREIRA POLÍTICA

Entre 1979 e 2005, foi parlamentar italiano, deputado europeu, membro do grupo europeu de ética,
ciência e novas tecnologias. Presidente da autoridade de proteção pessoal de dados da Itália e
presidente do Grupo de autoridades de proteção dos dados pessoais europeu.

foi eleito para o Parlamento da Esquerda Independente , filiado ao Partido Comunista Italiano (PCI)
tornando-se membro da Comissão de Assuntos Constitucionais . Foi reeleito em 1983 e eleito
presidente do grupo parlamentar da Esquerda Independente.

Foi eleito deputado ao Parlamento pela terceira vez em 1987 e tornou-se membro da primeira
Comissão Bicameral de reforma institucional. Em 1989 tornou-se Ministro-sombra da
Justiça no Gabinete-sombra criado pelo Partido Comunista Italiano liderado por Achille Occhetto

Em abril de 1992 regressou pela quarta vez ao Parlamento, foi eleito vice-presidente da Câmara dos
Deputados e reconfirmado como membro da nova Comissão Bicameral para as reformas
institucionais.

Após isso, ele decidiu sair da política e retornar a sua vida academia nas universidades.

2 – BREVE INTRODUÇÃO A CERCA DO LIVRO

A privacidade de dados é um tema cada vez mais atual, sobretudo em um mundo onde cada vez mais
nossos dados estão expostos a empresas e governos. Mas o que será que alguém tinha a dizer sobre
o assunto há pouco mais de dez anos? Para saber, basta ler o livro “A Vida na Sociedade da Vigilância
(Ed. Renovar, 2008, 381 páginas), de Stéfano Rodotá, que trata do tema da privacidade de dados de
forma muito qualificada.

O livro apresenta uma série de problemas concretos relacionados à privacidade de dados, muitos
deles ainda desconhecidos do grande público. E convoca a atenção do leitor para a solução dos
conflitos criados pelas novas tecnologias de então – muitas das quais fazem parte do nosso dia a dia –
sempre com respeito à dignidade da pessoa humana e da democracia.

Quando esteve no Brasil em 2003, em palestra conferida no Rio de Janeiro, o professor já afirmava
que “embora pareça excessivo e até perigoso dizer que ‘nós somos os nossos dados’, é contudo
verdade que nossa representação social é cada vez mais confiada a informações espalhadas numa
multiplicidade de bancos de dados, e aos ‘perfis’ assim construídos, às simulações que eles
permitem”. Nada mais atual.

A noção de “corpo eletrônico” aparece em vários dos seus textos e realça a necessidade de proteção
dos dados pessoais tanto contra a expansão do monitoramento estatal quanto contra o uso
indiscriminado de dados por empresas de diversos segmentos. O livro trata com detalhes dessa
questão à luz da privacidade de dados. E aborda sobretudo questões sobre bioética e o tratamento
de dados pessoais no contexto tecnológico.

APRESENTAÇÃO DO AUTOR E DA OBRA

Rodotá, sentiu que já estava tempo demais na política, e então decidiu retornar para a sua vida
acadêmica. Mas, no seu retorno ele pode perceber que com o passar do tempo muitas coisas haviam
mudado, e então ele decidiu iniciar o seu retorno voltado para a tutela de situações jurídicas
subjetivas extrapatrimoniais, os chamados direitos da pessoa humana, voltado especialmente para os
problemas decorrentes da nova tecnologia e suas repercussões no campo da biomedicina e
informática.

Então, em 1994 retornou as salas de aula com a matéria do seu novo curso “tecnologias e direitos”
que depois foi transformado em livro. Porém, os alunos consideraram essa matéria uma
extravagancia, pois eles não conseguiam identificar o conteúdo jurídico dentro dessa matéria. E,
então Rodotá, explica que pareciam questões que não tinham muito a ver com o direito, mas hoje
sabemos muito bem que os temas ligados a bioética e à informática são temas importantes para as
pesquisas dos juristas e também importantes para a nova visão da realidade e nos obriga a rever
categorias como o corpo e a pessoa que estavam fora da atenção dos juristas.

Este livro que estou apresentando é uma obra referente a essa segunda fase e é um livro que só
existe no Brasil.

Rodotá procurou nesse livro, trazer a lucidez na busca de soluções para os difíceis problemas criados
pelas novas tecnologias. Soluções que sejam respeitadoras da dignidade humana e da democracia.

Na parte I do livro, é composta por teoria e artigos.

NA PARTE II, já é mais expressiva na prática com discursos e relatórios apresentados como presidente
da autoridade de proteção de dados pessoais.

O autor faz 2 cortes temporais no inicio do livro:

PRIMEIRO: Refere-se ao corte que há entre a noção da privacidade do século XIX e a de hoje.

SEGUNDO: Refere-se a preocupação do autor com o desenvolvimento das ferramentas da tecnologia


da informação, em particular na internet que possibilita a coleta e o processamento de dados
pessoais em larga escala e que aumentam o risco de violação dos direitos da pessoa humana dia após
dia.
RODOTÁ, CHEGA AO CONCEITO DE PRIVACIDADE: Que é o direito de manter o controle sobre as
próprias informações e de determinar as modalidades de construção da própria esfera privada. Visto
dessa maneira, configura-se um direito a privacidade como um instrumento fundamental contra a
descriminação, a favor da igualdade e da liberdade. De fato, nas sociedades de informação, como são
as sociedades em que vivemos pode-se dizer que nós somos as nossas informações, pois elas nos
definem, nos classificam, nos etiquetam, portanto, ter como controlar a circulação das informações e
saber quem as usa significa adquirir um poder sobre si mesmo.

Então, rodotá menciona 2 noções de privacidade uma que está na carta dos direitos fundamentais da
união europeia e a outra que está no tratado que estabelece uma constituição para a Europa onde se
reconhece 2 direitos autônomos:

O DIREITO AO RESPEITO A VIDA PRIVADA E FAMILIAR, MANIFESTA-SE SOBRETUDO O MOMENTO


INDIVIDUALISTA E O PODER EXAURE-SE NA EXCLUSÃO DA INTERFERÊNCIA DE OUTREM. A TUTELA
PORTANTO É ESTÁTICA E NEGATIVA.

JÁ A PROTEÇÃO DOS DADOS PESSOAIS, AO COTRÁRIO FIXA REGRAS SOBRE A MODALIDADE DE


TRATAMENTO DOS DADOS E CONCRETIZA-SE EM PODERES DE INTERVENÇÃO; A TUTELA É DINÂMICA,
SEGUE OS DADOS EM SUA CIRCULAÇÃO.

RODOTÁ: diz que “MENOS PRIVACIDADE, MAIS SEGURANÇA”, é uma receita falsa. E o autor recorre
sempre a metáfora do homem de vidro, o que ele quer dizer com isso:

A IDEIA DO HOMEM DE VIDRO é totalitária porque ela se baseia na ideia de que o Estado tem que
conhecer tudo, até os aspectos mais íntimos da vida dos cidadãos, transformando em um suspeito
todos aqueles que quiserem guardar sua vida privada. E ai o autor traz o argumento de que “quem
não deve não teme”, o autor mostra que o emprego das tecnologias da informação coloca o cidadão
que não deve e não teme em uma situação de risco e descriminação.

O autor se mostra muito preocupado com essa vida na sociedade de vigilância, onde nós estamos
cada vez mais sendo observados e espionados.

Nas palavras do Garante: Assediados por computadores, espiados por olhos furtivos, filmados por
câmeras invisíveis. Os cidadãos da sociedade da informação correm o risco de parecer homens de
vidro: uma sociedade que a informática e a telemática estão tornando totalmente transparente.

E ai o autor traz alguns exemplos como o os chips inseridos na pele de fiscais mexicanos para ingresso
em centro de documentação e para rastreamento em casos de sequestro no brasil. O programa do
governo inglês para vigiar criminosos via satélite e controlar a sua localização. E, então o autor
afirma, que estamos assistindo uma progressiva extensão de controle social motivadas por razões de
segurança.

A digitalização das imagens e as técnicas de reconhecimento facial conseguem extrair o individuo de


um todo identifica-lo e segui-lo.

A união europeia vem buscado enfrentar estas questões com base no respeito à dignidade humana,
principio que hoje abre a sua carta de direitos fundamentais. A diretiva europeia determinou que
diversos países elaborassem princípios e regras para a proteção dos dados pessoais, restringindo a
atuação dos órgãos e entidades na coleta de dados privados impondo a cada país-membro a
instituição de uma autoridade central responsável pela fiscalização de suas disposições. Condicionou
ainda o ingresso no Acordo de Schengen – o que permite a livre circulação dos cidadãos no território
europeu – à existência da Lei nacional e ao efetivo funcionamento da autoridade. Então, temos a
razão de todos os países europeus contarem com uma comissão protetora dos dados pessoais.

O autor afirma que muitos princípios em matéria de proteção de dados pessoais já estão se
consolidando no ambiente europeu. Além do já mencionado princípio da dignidade humana,
aplicam-se à proteção dos dados pessoais os princípios da finalidade, pertinência, proporcionalidade,
simplificação, harmonização e necessidade.

O AUTOR CHAMA ATENÇÃO AO PRINCÍPIO DA NECESSIDADE: Ele diz que sua importância é oposta a
tendencia humana de utilizar sempre toda e qualquer inovação tecnológica disponível. Ainda sobre
esse principio, é preciso limitar a coleta de dados ao mínimo indispensável de modo a garantir a
maior liberdade possível.

E então, rodota da o exemplo dos regimes totalitários, onde a criminalidade é mais controlada, mas
em compensação o preço que se paga é ter a sua liberdade sacrificada.

Outra regra referente ao mesmo princípio é o fato de que a coleta não pode ser tomada como uma
rede jogada ao mar para pescar qualquer peixe, e sim as razões da coleta dos dados, quando se
tratarem de dados sensíveis devem ser objetivas e limitadas.

O autor traz outro exemplo que é o caso de TRURO, onde uma mulher foi assassinada e 790 homens
foram chamados para ceder a saliva para fazer o exame de DNA, para que fosse possível uma
comparação com uma amostra encontrada na cena do crime, ele lembra que esse programa era
voluntário, mas que iriam ter uma atenção particular voltada para os homens que não fossem ceder
o material genético.

E então, o princípios que tutelam a proteção de dados pessoais, aplicados ao caso de TRURO,
trouxeram algumas conclusões ao autor. A primeira é que a coleta de dados genéticos somente pode
ser considerada legitima em relação as pessoas sobre as quais pese alguma suspeita. Não são
admitidos testagens de massa.

A segunda é que as amostras legitimamente recolhidas devem ser conservadas por tempo
determinado e não podem servir para compor um avanço de dados que dique a disposição das
autoridades para realizar qualquer outra finalidade. Isso é particularmente desafiador nos Estados
Unidos, onde não hà normas gerias de proteção da privacidade e onde a luta contra o terrorismo tem
feito com que se conserve todo e qualquer dado pessoal que possa ser útil no futuro.

A TERCEIRA conclusão do autor refere-se ao perigo de atribuir valor absoluto a qualquer amostra
genética temor que paira sobre as consciências mais democráticas desde que na Inglaterra se propôs
para os crimes ainda não solucionados a incriminação genoma, ou seja, de qualquer traço genético
encontrado no local do crime.

ENTÃO RODOTA CONCLUI QUE A PRIVACIDADE HOJE É MAIS BEM TUTELADA NA EUROPA DO QUE
NOS EUA,

E afirma que espera que a escolha brasileira referente ao tema se aproxime mais da Europa.

3 – INTRODUÇÃO AOS LEITORES BRASILEIROS – A PROTEÇÃO DE DADOS COMO DIREITO


FUNDAMENTAL
Na carta de direitos fundamentais da comunidade europeia, é considerado um direito fundamental a
proteção de dados e a privacidade. Mas, ainda assim é cada vez mais difícil respeitar essa presunção
geral, uma vez que exigências de segurança interna e internacional e interesses de mercado estão
levando ao desaparecimento de garantias essenciais.

EX FILME INIMIGO DO ESTADO:

Você também pode gostar