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A Queda do Intelecto

Por Renato Fernandes

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SUMÁRIO:

Prólogo: Pág.3
Capítulo 1: Pág.4
Capítulo 2: Pág.5
Capítulo 3: Pág.7
Capítulo 4: Pág.10
Capítulo 5: Pág.15
Capítulo 6: Pág.18
Capítulo 7: Pág.20
Epílogo: Pág.23

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• *Prólogo*

Com o passar dos séculos, tem se visto cada vez menos gênios
surgindo. E pode-se pensar que a culpa desse trágico
acontecimento se dá por conta do escasso conteúdo
remanescente a ser descoberto, já que os grandes gênios do
passado já teceram as mais variadas invenções e já deram as
melhores ideias para a sociedade. Ocasionando numa carência
de novos assuntos que se pode aprofundar e descobrir. Ainda
mais se tratando da moral, que já é discutida e debatida há
milênios (desde a Grécia Antiga).
Todavia, creio que essa carência tenha outros motivos, que
expliquem mais o porquê de tão poucos seres de alto intelecto
residirem hoje no nosso mundo. E essa causa é mais profunda e
obscura do que se parece, pois não se trata da falta de gênios,
mas do mal aproveitamento dos mesmos, não só pela sociedade,
mas também por eles mesmos.
Vou tratar nesse escrito sobre como a sociedade destrói os
gênios, os reprimindo e os alienando numa ideia de que eles são
iguais a maioria, a maioria obtusa e irracional que vaga por aí em
uma busca por satisfazer seus desejos e acumular o máximo de
renda que puder, visando o material, e não o intelectual.

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• *Capítulo 1 - O que seria um gênio?*

Antes de julgar o nosso estado atual, é preciso distinguir a


diferença entre os gênios e os homens comuns.
As causas que geram uma diferença tão brusca entre esses
dois tipos vai muito além de QI ou de capacidade de raciocínio
(por mais que auxiliem bastante no processo de surgimento de
um gênio), pois quando vemos os gênios do pretérito, como
Nietzsche, Schopenhauer, Descartes, Sócrates etc. O que os
diferencia do resto não é só o alto QI que todos esses têm, mas
também os pensamentos fora da caixa, os pensamentos para
além da construção feita pela sociedade. Pensamentos esses que
encontram um padrão quando vistos de forma ampla, um padrão
que vai contra a maioria, pensamentos que excedem a
capacidade humana, isso que os torna gênios. O intelecto
eminente acaba sendo fruto desse pensamento abrangente, fora
do esperado, uma perspectiva fora da bolha que a sociedade te
põe e impõe. Já que diz que se você sair dessa bolha imaginária,
você vai estar errado, nadando contra a correnteza que a
sociedade diz ser a certa (no fim não passa de uma correnteza
de ignorância, que afoga o potencial dos gênios).
Sobre esse ponto de vista inicial, a conclusão que chego é que
os gênios da antiguidade eram sem dúvidas mais corajosos do
que os de hoje, pois se libertavam da bolha mais facilmente. Só
que também é injusto culpar apenas o grau de coragem atual
sem julgar o porquê da coragem ter diminuído ao longo das
gerações, assunto que retratarei no próximo capítulo.

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• *Capítulo 2 - Alienação das recentes gerações*

As novas tecnologias, com certeza são as maiores culpadas da


alienação e da crescente forma de vida hedonista que se tem
aderido. Fazendo os jovens focarem nos prazeres, não no ato de
adquirir conhecimento. O que se é facilmente percebido quando
você olha o mundo em volta e observa o nível intelectual das
pessoas, que muitas vezes além de ignorantes, também são
cegas.
Claro que existem pessoas ignorantes num geral por conta da
falta de oportunidade, da pobreza, fatores que tornam válido a
alienação de um indivíduo, já que a sociedade não o deu os
instrumentos básicos para o começo da jornada, em outras
palavras, não deram a capacidade de pensamento para o filósofo
montar sua tese. Não são a esses indivíduos que eu me refiro,
pois não são culpa deles a ignorância que os move. Me refiro aos
ignorantes que mesmo tendo a condição e a informação à sua
vista, preferem ignorá-la, como se ignora uma pedra no
caminho.
A cegueira que controla esses indivíduos acaba sendo
patológica, e se espalha em uma velocidade absurda. Como um
parasita que alimenta sua sobriedade, seu raciocínio, sua lógica,
e te transforma em mais uma carcaça das bilhões já existentes.
Essa pandemia de ignorância teve origem com o surgimento
do século XXI, que trouxe uma das maiores invenções dos seres
humanos ao mundo, a tecnologia. Um recurso que era para nos
aprimorar intelectualmente, só nos tornou mais pobres de
mente, nos alienou num mundo virtual vazio e pérfido, onde as
mentiras são mais aclamadas que as verdades, e o supérfluo é
mais visto que o útil.

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Nesse retrocesso disfarçado de avanço, foi a virada de chave
para a total queda do intelecto, que ouso dizer que pela primeira
vez em séculos, foi a geração mais burra do que a sua
antecessora, o que por si só é patético, ainda mais considerando
a quantidade infinitamente maior de informação que agora é
oferecida.
O problema da Internet é que ela rapidamente deu atenção a
barbáries que até então eram conhecidas por uma minoria
ínfima, e pela pouca visibilidade ou era ignorada ou esquecida.
Todavia a Internet deu a esses pobres de mente o meio para se
comunicar livremente e disseminar seus ideais burros e podres
ao mundo (exemplos claros são os movimentos anti-vacina e o
terraplanismo, que no século XX mal se ouvia falar). Esses
movimentos se espalham como um fogo que se alastra pela
madeira, alienando almas inocentes e gastando o tempo da
sociedade com discussões que já foram resolvidas há séculos, já
que ainda hoje é preciso perder tempo rebatendo seres que mal
sabem pensar quiçá tecer um argumento coeso.
A quantidade de gênios pode ter diminuído com o passar dos
anos, mas não da maneira que pensamos. O que
verdadeiramente houve foi a ofuscação desses pelos ignorantes,
que são endeusados na atualidade pela maioria, deixando os
gênios e suas exímias ideias caírem no abismo do esquecimento.
Enquanto se gasta horas ouvindo uma espécie de sofistas que
começam a nem se darem o trabalho de aprender a persuadir,
pois só abrir a boca basta.

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• *Capítulo 3 - O Sistema mata os gênios*

O século XXI trouxe com ele uma característica bastante


presente na sociedade atual, o conceito de que todos são iguais.
Esse conceito faz sentido quando se trata de aspectos físicos da
matéria, como etnia, gênero ou classe, pois nada mais justo do
que tratar uma pessoa igual a você por dentro mas diferente por
fora. O que de fato quero tratar é a igualdade que a sociedade
impõe até mesmo nos aspectos intelectuais, o que menospreza
as grandes mentes e engrandece as pequenas.
Uma vez disseram-me que seria injusto que nas escolas
houvesse uma turma especial contendo apenas os alunos que
tirassem as melhores notas, pois isso desestimularia os alunos
que não fossem para essa turma, porque eles se sentiriam
inferiores e consequentemente se esforçariam menos nos
estudos. Mas esse argumento é burro, porque quando você
deduz que o estudante que não passasse para a sala especial
fosse desanimar com o estudo, você deduz que ele é raso, que
ele é burro. Já que as grandes mentes se empenhariam em
melhorar sua capacidade, ao ponto de passar para a sala especial
na próxima oportunidade.
Claro que esse exemplo não é o melhor, tendo em vista que o
sistema de ensino é quebrado e ilógico (retratarei isso mais a
frente), porém me deu a certeza de que a sociedade foi
construída para os obtusos, não para engrandecer os gênios e
estimular os ignorantes. Já que mesmo pessoas com capacidades
inferiores de raciocínio podem obter o mesmo nível de
conhecimento de um que contenha um alto intelecto, ela só
precisará se esforçar mais.

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No momento que a sociedade começa a dar ênfase em se
adequar aos ignorantes, é quando a sociedade de fato entra em
colapso, pois a ignorância vira sinônimo de banal e a inteligência
vira uma palavra que entrou em desuso.
O grande problema e o ponto de partida para a queda do
intelecto foi quando o homem percebeu que o preconceito e a
inferiorização ocasionada por diferentes características físicas
era uma injustiça com essas classes, já que nada de diferente
separa elas do que era visto como normal, do que características
meramente físicas. E isso é bom, pois nos tornamos conscientes
e começamos a seguir a lógica. A lógica de que não há nada de
distinto entre um africano e um europeu (só características
culturais, que é mais lógico ainda que se respeite e aceite, caso
não fira os direitos humanos) ou entre um pobre e um burguês,
e que todos esses merecem ser tratados da mesma maneira.
O grande problema se dá no após dessa consciência, que o
homem pegou essa ideia de igualdade com pessoas fisicamente
distintas e o enfiou em outros âmbitos, como no âmbito do
intelecto. Foi deduzido que se os homens devem ser tratados da
mesma maneira por conta de suas características físicas, logo o
mesmo deveria ser feito com características intelectuais. Mas
isso é um erro crasso, pois você agrupa os dois extremos
(inteligência e burrice) e os iguala, os tornando parte da mesma
coisa.
Depois dessa conclusão precipitada e errônea, a sociedade
passou a se formar em volta dessa falácia e começou a pôr o
gênio e o ignorante no mesmo pedestal. O que normalizou o
baixo conhecimento, o hedonismo.. Não se vê mais o mesmo
vigor em buscar conhecimento do jeito que era visto
antigamente, não se debate mais sobre questões filosóficas

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como Sócrates debatia com seus discípulos, num ato que era
mais instintivo do que consciente. Porque debater fazia parte
deles, e era uma necessidade incitar debates da mesma forma
que um vendedor precisa preencher o estoque para continuar a
vender.
As nossas primazias mudaram com o tempo, os livros foram
esquecidos para dar lugar a poços de ignorância, de tal forma o
gênio foi esquecido para dar lugar ao obtuso. Pois é indubitável
que na sociedade sempre houve mais ignorantes do que sábios,
só que nunca se tinha visto um endeusamento tão grande desses
ignorantes, que foram exaltados e corriqueiramente vistos como
exemplos a serem seguidos. Inibindo os pontos de vista lúcidos
do gênio (ou os de qualquer pessoa decente) e os substituindo
por perspectivas sem coesão e sem sentido algum, perspectivas
essas dadas pelos ignorantes.
Nosso sistema é moldado para os burros, e além disso, é
moldado para nos transformar em burros, para sugar todo o
potencial e inteligência dos gênios, ao ponto de transformá-los
em ignorantes quaisquer, sem nada que os destaque dos demais.
É confortável que os poderosos transformem os gênios em
obtusos, os tirando o pensamento próprio, a ideia de certo e
errado e até o senso. Já que o que eles querem são servos, e para
ser servo basta obedecê-los, e não pensar por si mesmo.

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• *Capítulo 4 - O sistema de ensino suga o potencial dos gênios,
e os destrói*

Vale ressaltar que o sistema de ensino no qual me refiro não


engloba os primeiros anos da escola, onde se aprende a ler,
escrever, matemática básica, história básica etc. Pois mesmo que
da creche até o ensino fundamental I tenham defeitos no
método de ensino, é a parte verdadeiramente essencial das
escolas, porque te ensinam o básico, e um ser humano
notoriamente precisa do básico para se desenvolver com os
próprios pés. Me refiro ao ensino fundamental II e ao ensino
médio (que ocorre em média dos 11 aos 17 anos). Que enchem sua
cabeça de assuntos nitidamente inúteis, já que tudo de útil foi
dado nos anos anteriores, anos realmente benéficos.
Pegam por exemplo a matemática básica, que de fato é útil
para se poder aditar, subtrair ou dividir sem grandes
dificuldades e te forçam a aprendê-la na sua forma mais
avançada, forma essa que só tem utilidade verossímil caso você
resolva exercer uma profissão que a envolva nos seus mais
complexos moldes (engenharia por exemplo). Para esses casos é
que a faculdade existe, para te aprofundar num tema e te tornar
apto a trabalhar na profissão de forma impecável.
Essa forçação de barra com conteúdos que só tem sentido
quando se quer verdadeiramente trabalhar com aquilo é ilógico.
Não sou contra aprender porcentagem, sou contra aprender
equação do segundo grau.
A escola está completamente entupida de conteúdos do
mesmo fito, fito puro e exclusivamente profissional, ou em casos
que você queira aprender sobre sem de fato exercer a profissão,
por curiosidade. Mas nem é preciso dizer que em nenhuma

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dessas duas possibilidades se torna viável aprender esses
conteúdos na escola, que teoricamente servem para nos
preparar para a sociedade, e no fim é o propósito que ela menos
cumpre.
Ao em vez de nos ensinar conteúdos valiosos e de extrema
importância para se viver, como filosofia, política, primeiros
socorros, como agir em situações de risco, bons costumes etc. O
sistema de ensino prefere pôr essas matérias em segundo plano
ou em plano nenhum, e dar primazia à pilhas de informações
sem utilidade nenhuma para a majoritária partes dos seres,
entupindo as mentes de conhecimentos que elas não
precisariam necessariamente ter, só caso interessasse.
Não focam em incitar a busca por conhecimento, focam em
forçar. Te enchem de conteúdo de forma atroz para com o
cérebro, porque além de te forçarem a ter informações inúteis,
ainda fazem isso de maneira estúpida, já que o estilo da escola
de ensinar é obsoleto e não ensina de fato, só te obriga a
decorar fragmentos da matéria e despejá-las no papel, de modo
que após fazer isso, tudo seja esquecido de forma quase que
imediata.
Quase nada que se é aprendido em anos de escola é levado
adiante para a vida, pois o conteúdo dado é supérfluo e ainda
ensinado de forma rasa, quase que artificialmente.
O cérebro humano quase nunca apreende uma informação
com sua devida profundidade quando ela é lhe forçada. Não se
vê o verdadeiro sentido de um livro quando não o lê, ou por
paixão, ou por necessidade (quando se sabe que a informação é
chata de adquirir mas importante para a vida ou para um
propósito). O mesmo para o conhecimento, não se aprende de
fato sobre se você não quer ou não necessita daquilo, a única

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coisa que você vai conseguir caso force seu cérebro contra a sua
própria natureza é desestimulá-lo a outros conhecimentos, pois
no momento que você é obrigado a adquirir um conhecimento
sem fins lógicos ou próprios, seu cérebro vai associar tal ato a
um processo negativo e instintivamente vai te repelir de exercer
processos similares nas próximas vezes.
Eis o Principal motivo para o ciclo de ignorância que está
sendo constituído nas atuais gerações, elas não veem sentido no
conhecimento porque o sentido que elas forçadamente
aprenderam é falso e deturpado. A escola age quase que contra a
inteligência, e induz os seres humanos ao caminho da
ignorância, da burrice. Os enchendo de um monte de nada e os
carecendo do real conhecimento (existem conhecimentos que
devem ser universais, que todos devem ter, esses também se
fundamentam no significado de "conhecimento real". Todavia o
sentido também se abrangeria à informações que o indivíduo
identifica como importantes, sem necessariamente ter
importância concreta no decorrer de sua vida. Esses dois tipos
de conhecimento se enquadrariam no conhecimento real.)
O sistema de ensino somado com as novas tecnologias são as
principais causas dessa pandemia de ignorância que vemos hoje.
No momento que a principal base para o adquirimento do
conhecimento é construída de tal modo que sua ação é inversa
ao proposto, vemos as novas gerações carecerem de
conhecimento, e pior, da sede pelo conhecimento. Já que a
escola tira essa sede com uma espécie de cerveja, que te dá uma
falsa sensação de saciedade, de forma que você não se alimente
de comidas de fato saudáveis, te vicia de modo que você seja
repelido à água e passe a se embebedar de cerveja
incessantemente, de tal modo que você esqueça da existência de

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alimentos e o da água, pois você as substituiu por um narcótico
que te envenena. Narcótico esse chamado de ignorância, que se
parece muito com uma cerveja, tão corrosiva e tão viciosa
quanto.
Já vi pessoas inteligentíssimas que afogam seu potencial com
equações que elas não pretendem usar futuramente e com
nomenclaturas que elas nem se importam. Não se trata de
curiosidade, se trata de obrigação. Elas se jogam nesse mundo
de nada que a sociedade faz parecer que é ouro e se intoxicam
disso. Se tornam doentes pois dão uma atenção demasiada
grande para algo tão pífio como os conteúdos escolares. Elas
não querem verdadeiramente aprender aqueles conteúdos, mas
elas continuam lá, perdendo horas de vida, horas de saúde
mental, para no fim esquecerem toda aquela pilha de
conhecimento, porque ela não é verdadeiramente útil para o
indivíduo em nenhum âmbito.
Perdem a oportunidade de usarem seu intelecto avançado
para utilidades maiores, para mudar o mundo (ou elas mesmas).
Ficam presas nessa prisão do sistema que parece articular tudo
eximiamente para te tornar burro, já que ao em vez de
induzirem o indivíduo a aprender o que é útil e transformador,
obrigam que o mesmo aprenda tudo o que é descartável e fútil, o
tornando alienado, e pior de tudo, um paquiderme.
Fizeram um sistema que para você passar em uma faculdade e
começar os estudos para se profissionalizar é necessário fazer
uma prova com a maioria dos assuntos dados na escola, te
forçando a apreender todo esse conhecimento para fazer a
prova e conseguir passar. Te fazendo perder anos da sua vida
estudando exclusivamente para uma prova, prova essa que por
mais que pareça fazer parte do conhecimento real, já que você

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precisa passar por ela para conquistar sua meta (a faculdade), ela
acaba não sendo, pois foi posta ali propositalmente e sem um
sentido de fato útil. Porque se um indivíduo quer ser psicólogo
ele não precisaria saber equações complexas da matemática ou
fórmulas. Tornando essa prova que abrange todas as matérias
escolares ilógica em vários sentidos, porque você não prova a
capacidade do indivíduo, só prova quanto conteúdo ele
consegue decorar para poder passar, um amontoado de
informação que não tem utilidade para a pessoa, se tornando
irracional que para ela iniciar os estudos para se profissionalizar
seja necessário tê-las. Só o fato da mesma prova com as mesmas
questões ter que ser feita por alguém que quer ser físico e
alguém que quer ser historiador já a torna estúpida e mal
estruturada. O que comprova a ineficácia do Estado em exercer
o lógico e o justo, e no mínimo me leva a ter suspeitas sobre as
intenções do Estado, que parece trabalhar em prol da burrice e
da injustiça.

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• *Capítulo 5 - O Estado é o principal contribuinte para o
aumento da ignorância*

Disse anteriormente que o indivíduo ignora a informação


mesmo a tendo em mãos (literalmente), e isso é inexoravelmente
verossímil. Mas agora quero tratar o que move esse processo
contínuo, a energia que move os seres à ignorância de modo
quase que instintivo. O Estado.
Por mais que o indivíduo por si só tenha culpa no processo, já
que é ele que se aliena por própria e espontânea vontade, é
preciso lembrar que o Estado é o alicerce de um povo, ele que é
o pilar que mantém o prédio em pé, no caso, mantém o povo em
pé. E se o pilar tende ao desabamento por conta das estruturas
frágeis e mal feitas, o resto do prédio vai seguir o mesmo
caminho.
O que quero dizer é que a sociedade é reflexo direto do
Estado que a conduz. Logo antes de culparmos o indivíduo,
temos que culpar o Sistema que o controla e o aliena, pois esse o
faz ser ignorante.
O Estado não se preocupa de fato com a educação, se
preocupa em tentar consertar um sistema enferrujado e
obsoleto, moldado para tornar as pessoas ignorantes (e
surpreendentemente nem consertar esse podre sistema
consegue fazer, de modo que ele pelo menos funcionasse para a
proposta tosca do mesmo).
Ninguém pensa numa reformulação brusca, num novo olhar
para a situação. Se preocupam meramente em convencer a
população que estão fazendo progresso, sendo que não estão.
Não entendem que um sistema lógico de ensino tornaria as
pessoas mais decentes, melhorando a sociedade como um todo.

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Não compreendem que forçar não é a solução, é preciso
estimular o indivíduo ao conhecimento, de forma que ele depois
da escola continue buscando-o. É claro que na infância é preciso
forçar o aprendizado, porque o indivíduo não tem senso algum
para discernir o que é essencial ou não, mas depois de um
tempo você precisa apresentar o assunto e explicar a
importância dele, de forma que a própria pessoa veja
essencialidade e busque saber sobre, nisso se abre horizontes
também para as paixões, que ela também poderá aprofundar
igual aos saberes universais.
O problema que vai fazer qualquer leitor achar minha ideia
utópica é o fato da nossa sociedade ter se acostumado com a
decadência, com a obsolescência ocasionada pelo ócio, ou nas
palavras de Bauman: uma Instituição Zumbi (Quando a
instituição social não se dissipa porém não cumpre mais a sua
função proposta inicialmente, quase como uma carcaça morta
do que um dia foi um órgão governamental ou o Estado inteiro).
Acostumamos com esse ócio de maneira tão natural como
uma planta realiza a fotossíntese. Normalizamos essa aberração
que virou o Estado, que podemos dizer se igualar a um cadáver
em decomposição. De forma que não haja nem sequer mudanças
decentes no sistema atual, quem dirá uma reformulação.
Percebo que há bons anos, os homens que chegam ao poder do
Estado querem cada vez menos melhorar a sociedade e mais
entrarem na cabeça do povo, de forma que se mantenham no
poder até quando der, criando uma Instituição Zumbi no total
sentido da palavra. Me lembram bem os sofistas, que aprendiam
técnicas de persuasão para ganhar os debates sem de fato terem
razão ou argumentos, de um modo que disseminassem suas
falácias e absurdidades de maneira que fosse crível aos

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alienados. Porém, hoje não se preocupam mais em nem sequer
persuadir, pois grande parte da população se tornou tão
ignorante que só prometer mil maravilhas já serve para
conseguir o apoio ávido dos mesmos, de um jeito que mesmo já
tendo visto muito desses homens cometerem barbáries estando
no poder, eles ainda recebem endeusamento e aclamação,
mesmo se sabendo que nenhuma água se transforma em vinho,
mesmo que fique séculos envelhecendo dentro de um barril.

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• *Capítulo 6 - Como curar a ignorância da sociedade atual*

Movidos pelo mesmo sistema retrógrado há décadas ou até


mesmo séculos, seria uma insanidade dizer que o processo para
a mudança vai ser rápido ou afirmar que de fato irá ocorrer. Já
que a tendência é que após os homens que estão no poder
fenecerem, o caminho normal é que os seus sucessores, seus
adoradores, venham assumir o poder no lugar, o que torna
preocupante pois equivale a um paradoxo, onde o ciclo da
ignorância se torna eterno e hegemônico. Isso se fortifica com a
presença das redes sociais, que abrem brechas para a entrada de
informações que vão emburrecer o indivíduo de forma
exponencial, e afastá-lo consequentemente do conhecimento,
do saber, aumentando o paradoxo supracitado. E é difícil uma
mudança, principalmente nas novas gerações, que fugindo da
visão deturpada do conhecimento dado nas escolas, recorrem ao
vício nos meios digitais, de modo que esqueçam seu entorno e
vivam numa eterna fantasia.
Infelizmente é muito complicado mostrar uma nova visão de
mundo a alguém que viveu desde a sua origem numa ilusão, já
que o cérebro na infância e na adolescência sente mais
intensamente que nos outros períodos da vida, por isso que
traumas normalmente são mediantes de acontecimentos
maléficos nos primeiros anos de vida, pois o cérebro por estar
no começo do desenvolvimento, absorve tudo com mais ímpeto
e irrealidade, fazendo simples acontecimentos ruins virarem
traumas até o fim da vida. Por conta dessa intensidade do jeito
de se viver nos primeiros anos, o autoritarismo da escola atinge
o indivíduo com tanta crueldade que o deixa cicatrizes
duradouras no cérebro, o afastando assim do prazer que é a

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busca pelo saber, destruindo o seu potencial e o alienando no
supérfluo (isso ocorre mais na adolescência do que na infância,
já que é quando a escola fica mais rígida e mais ilógica).
Causando ou a morte do gênio ou o adoecimento do mesmo,
que gasta seu potencial com saberes inúteis para ele em todos
os âmbitos, e o torna doente dele mesmo, porque ele foi
ensinado que para ter futuro e dar orgulho, o mesmo teria que
gastar todo o seu tempo com falso conhecimento e falsos
sentidos, ocasionando na sua exaustão e desgaste com o passar
dos anos. De modo que nos anos que ele se dedicava totalmente
aos estudos de conhecimentos inúteis (contrário do
conhecimento real) ele não absorvera quase nada de importante
para a sua vida intelectual, o tornando vazio dele mesmo, e
fazendo do seu colapso um triste fim da busca pelo
conhecimento, que nunca de fato começou.
Logo, os únicos meios de progredir para uma possível cura da
ignorância, é não se deixar alienar totalmente ao sistema
(mesmo que seja necessário segui-lo para ter um eventual futuro
próspero. Existe uma abissal distância entre se adequar ao
sistema por necessidade, de modo que você ainda lute contra
ele, e o de se jogar nele com toda a sua alma, como se ele tivesse
tanta importância e razão) e disseminar a problemática acerca
desse sistema obsoleto e frágil. Que não se preocupa em
instigar, mas sim em forçar, de modo que afaste os indivíduos do
conhecimento, que deveria ser considerado nosso meio para a
liberdade, para ir além do que é material. Portanto, só é visto
como perda de tempo.

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• *Capítulo 7 - Por que obter conhecimento?*

Se Schopenhauer diz que: "Quanto mais claro é o


conhecimento do homem, quanto mais inteligente ele é, mais
sofrimento ele tem. O homem que é dotado do gênio sofre mais
que todos.". E Nietzsche diz que: "Se optar pelo prazer do
conhecimento, prepare-se para sofrer". Por que deveríamos
buscar o conhecimento? Se ele nos causa tanta dor? Bom, as
respostas podem ser variadas dependendo das crenças de uma
pessoa, todavia, responderei me baseando nesse plano, o da vida
terrena, sem adentrar no mundo metafísico eterno.
O indivíduo ateu, que acredita que depois da morte virará
nada mais, nada menos, do que pó, é com certeza o que mais
quer uma resposta. Pois se ele depois da morte vai deixar de
existir, por que evoluir? Por que se importar com os outros e
com a ética? Basta aproveitar o prazer que a vida material
oferece até enfim vir a morrer. Por mais que seja válido pensar
assim, acredito que seja o caminho mais errôneo e mais vazio
que um ser humano possa seguir. Já que o grande problema
nessas indagações é a visão deturpada do conhecimento, como
algo apenas ruim e causa de sofrimento, o que não poderia ser
mais mentiroso.
O conhecimento liberta, e toda libertação necessita de dor no
processo. Quantos escravizados sofreram e morreram até que
enfim fossem libertos? Fossem ouvidos? Milhares, ou melhor,
milhões. Mas suponho que essa vontade de se libertar tenha sido
mais libertadora do que caso eles se mantivessem na submissão
da escravidão, sem se rebelar contra o sisema da época, e é esse
sentimento que precisamos mirar, o da libertação, não no final,
mas no processo.

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Libertar a si mesmo e, consequentemente, poder
futuramente, quem sabe, libertar por completo as próximas
gerações dessas atrocidades, já causa um sentimento de prazer
muito maior do que qualquer tipo de vida hedonista que se
possa viver. O entendimento que o conhecimento te dá pode ser
melhor do que qualquer Paraíso que venha a existir. Sentimos
dor nesse processo porque temos que lutar contra a sociedade
enquanto nos libertamos, a sociedade completamente adornada
pela ignorância, que te repreende por seguir esse caminho (a
sociedade seria como os prisioneiros na alegoria da caverna de
Platão, que te repreendem quando você diz existir uma verdade
além da caverna). Entretanto, mesmo lutando contra essa
correnteza, a recompensa é muito maior do que os martírios
ocasionados no processo, e essa recompensa pode ser
reivindicada ainda em vida, de modo que o indivíduo possa
terminar sua vida com um sentimento de satisfação. Mesmo com
a afirmação de Nietzsche de que a inteligência é um paradoxo,
pois quanto mais se sabe, mais afirma a imensidão de sua
ignorância. Já que o indivíduo no fim vai entender que é
impossível saber tudo. Mas ele também vai entender que até o
último suspiro, ele entendeu tudo que poderia entender. Aí se
encontra a beleza da vida.
Antes de pensarmos em vida após a morte, em eterno, temos
que pensar que a nossa vida é o nosso eterno, se algo vier
depois, será lucro. Obter conhecimento te liberta e te dá um
objetivo, que ocasiona num prazer muito maior do que a
superficialidade da matéria poderia sonhar em ocasionar. A vida
só vai ser nas palavras de Schopenhauer: "uma constante
oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir" se nos
basearmos na matéria. Porque o conhecimento não acaba, logo

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nunca o possuímos por completo. (Acabando com a oscilação
entre o querer e o possuir).
Nietzsche disse que: "o conhecimento é uma centelha entre
duas espadas". Gostaria, então, de parafrasear essa frase, com o
intuito de aumentar seu sentido:

"O conhecimento é uma centelha entre duas espadas, a melhor


centelha que se poderia presenciar".

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• *Epílogo*

Espero que eu possa ter aberto a mente de algum leitor, com o


fito de que ele rumine sobre e busque a sua própria verdade.
Para que antes do último suspiro possa se sentir liberto e
satisfeito com tudo que conquistou e sentiu. Fica abaixo um
poema para terminar a jornada desse livro de forma agradável e
saborosa:

*Orgulho*

Poderei me orgulhar, se no fim meu pó se eternizar


Não no mundo, mas em tudo que me propus a tentar
Que meu reflexo seja minha maior dádiva
Me lembre de tudo que me fez alcançar esse ponto final
Não de forma melancólica, mas sim com um orgulho triunfal
Uma sensação que nenhum prazer poderia dar
O sentimento de fechar os olhos e poder descansar
Sabendo que nada poderia ter sido melhor
Que tudo que eu pude alcançar, eu alcancei
Que todo espírito que eu poderia ter salvo, eu salvei
Que tudo que eu poderia saber, eu soube
Saber que no túmulo meu descanso poderá ser completo
Pois nenhuma algema atrapalhará o processo
Nenhuma dependência ao material poderá me prender ao mundo
Porque tudo que eu tenho, morreu comigo.

*FIM*

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