Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
146 J. M. Dayet
apresentar, nossa pobre natureza humana saberá resistir? Lembremo-
nos do exemplo do apóstolo Simão Pedro: ele prometera tudo, e com
que fervor; e, diante das interrogações de uma serva, soçobra mise-
ravelmente.
O espírito está pronto para prometer, isto é, a alma, a vontade,
com seus entusiasmos fáceis; mas a carne, isto é, a natureza humana,
permanece tristemente frágil na presença de uma ocasião que a tenta.
Não pensamos que isso poderá nos arrastar para longe. Detemo-nos,
argumentamos; expomo-nos, assim, ao perigo, cultivamo-lo, brinca-
mos com ele, presumimos de modo imprudente sobre nossa força,
até que chega um momento em que a fraqueza da carne prevalece
contra essa força do espírito, e caímos gravemente.
Teria sido melhor, seguindo a recomendação de Nosso Senhor
(Mt 26, 41), cercar-se de vigilância, não cair na armadilha, e recorrer
à oração para ter a graça de resistir. Quantas vezes, talvez, apesar das
experiências do passado, ignoramos essa advertência do divino Mes-
tre, que nos alertava contra nossa fraqueza!
_______________
148 J. M. Dayet
“Não somente nas praias, ou nos locais de veraneio, mas por toda
parte, mesmo nas ruas das cidades e dos vilarejos, nos lugares priva-
dos e públicos, e amiúde quase nos templos consagrados a Deus, se
exibe uma indigna e inconveniente moda do vestuário... Em particu-
lar, as vestimentas femininas são às vezes tais que parecem favorecer
mais a impudicícia do que o pudor.
“Chegamos ao ponto em que tudo o que se passa ou se exibe na
vida privada ou em público, como depravação ou desonestidade, é
relatado impudentemente nos jornais, nas publicações e revistas de
todos os gêneros; enquanto nas incontáveis salas de cinema isso é
exposto aos olhos de todos sobre a tela; de modo que não somente a
fraca e displicente juventude, mas também a idade madura é profunda-
mente impressionada por esses espetáculos imorais, tão perniciosos para
os espíritos sãos. Que males decorrem deles, a que perigos expõem,
e ninguém se dá conta disso.”46
No século V, o papa São Leão Magno denunciava a corrupção
do mundo, num ponto em que se tornava como que necessário, dizia
ele, que mesmo os corações religiosos fossem manchados, senão por
sua lama, ao menos por sua poeira.47 Em nossos tempos, é sua lama
que se propaga sobre a sociedade cristã inteira; “de modo que, acres-
centava Montfort depois de ter citado esse texto, é uma espécie de
milagre quando uma pessoa permanece firme no meio dessa torrente
impetuosa sem ser arrastada, no meio desse mar revolto sem ser sub-
merso, no meio desse ar empestado sem sofrer dano” (n. 89). Ai de
mim! Que diria ele hoje, na presença dessa exposição de corrupção
que a voz de Roma estigmatizava acima? Entretanto, acrescenta ele
ainda, se for preciso um milagre, “é a Virgem unicamente fiel... que
o fará em favor daqueles e daquelas que a servem da maneira correta”
(n. 81), isto é, pela Consagração vivida para a qual nos preparamos.
150 J. M. Dayet
Ouçamos agora Montfort exaltar a fidelidade da Santíssima Virgem.
“Ela é a Virgem fiel que, por sua fidelidade a Deus, repara as perdas
que produziu Eva, a infiel, por sua infidelidade, e que obtém a fideli-
dade a Deus e a perseverança àqueles e àquelas que se apegam a ela. É
por isso que São João Damasceno a compara a uma âncora firme, que
os segura e os impede de naufragar no mar agitado deste mundo, onde
tantas pessoas perecem por não se prenderem a essa âncora firme.
Prendemos, diz ele, as almas à vossa esperança, como a uma âncora firme.50
“Foi a Maria que os santos que se salvaram mais se apegaram, e
apegaram os outros, a fim de perseverar na virtude. Felizes, pois, e
mil vezes felizes os cristãos que agora se apegam fielmente e intei-
ramente a ela como a uma âncora firme. Os esforços da tempes-
tade deste mundo não os farão submergir, nem perder seus tesouros
celestiais. Felizes aqueles e aquelas que entram nela como na arca de
Noé! As águas do dilúvio de pecados, que afogam tantas pessoas,
não os prejudicarão, pois aqueles que estão em mim para trabalhar em sua
salvação não pecarão, diz ela com a Sabedoria.51 Felizes os filhos infiéis
da desventurada Eva que se apegam à Mãe e Virgem fiel, que permanece
sempre fiel e jamais nega a si mesma,52 e que ama sempre os que a amam,53 não
somente com um amor afetivo, mas com um amor efetivo e eficaz,
impedindo-os, por uma grande abundância de graças, de recuar na
virtude ou de cair no caminho, perdendo a graça de seu Filho.
“Essa boa Mãe recebe sempre, por pura caridade, tudo o que lhe
é confiado em depósito; e, depois de o ter recebido uma vez na qua-
lidade de depositária, é obrigada por justiça, em virtude do contrato
de depósito, a guardá-lo para nós; assim como uma pessoa a quem eu
tivesse confiado mil escudos em depósito seria obrigada a guardá-los
para mim, de modo que se, por sua negligência, meus mil escudos
viessem a ser perdidos, ela seria justamente responsável por isso. Mas
não, jamais a fiel Maria deixará se perder, por sua negligência, o que
50 Serm. in Dormitione B. M. V.
51 Qui operantur in me non peccabunt. (Eclo 24, 30.)
52 Fidelis permanet, se ipsam negare non potest. Aplicação à Santa Virgem do
texto de São Paulo: 2Tim 2, 13.
53 Ego diligentes me diligo. (Prov 8, 17.)
LEITURAS
152 J. M. Dayet