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Os Nefilins e a misteriosa origem dos

demônios
8 de março de 2015Admin
Por Hermes C. Fernandes
Uma das passagens mais controversas da Bíblia é Gênesis 6. Mas creio que ela nos
descortina um pouco mais o drama vivido por nossos primeiros pais. Vejamos o que ela
diz:

“Como os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra, e lhes nasceram filhas,


viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, e tomaram para si
mulheres de todas as que escolheram. Então disse o Senhor: Não permanecerá o meu
Espírito para sempre com o homem, pois este é mortal; os seus dias serão cento e vinte
anos. Havia naqueles dias gigantes na terra, e também depois, quando os filhos de Deus
conheceram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos. Estes foram valentes, os
homens de renome que houve na Antiguidade”. Gênesis 6:1-4
Repare que tal evento se deu logo no início da saga humana, quando os homens
começaram a se multiplicar. Portanto, não é algo que aconteceu muito depois da Queda.
O Livro dos Jubileus diz que os Anjos Guardiões vieram nos dias de Jared, cerca de
quinhentos anos depois da criação, com o objetivo de instruir aos homens.[1] Creio que
o fato do homem ter optado pela Árvore do Conhecimento do bem e do mal, deu tal
prerrogativa aos Anjos Guardiões.

Embora a morte já fosse uma realidade para os homens, Deus, por misericórdia,
mantinha neles o Seu Espírito, razão pela qual eram tão longevos.[2] Algo aconteceu
que fez com que Deus decidisse limitar a longevidade humana. O texto diz que “viu o
Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra, e que toda a imaginação
dos pensamentos de seu coração era má continuamente” (v.5). Permitir que o homem
fosse longevo naquela situação, seria quase tão grave quanto permitir que ele vivesse
eternamente no pecado. A raça humana precisava de um freio.[3] O que ocasionou
tamanha maldade? O contato da raça humana com anjos caídos.

A expressão “filhos de Deus”, traduzida do hebraico Bene ha-Elohim, é aplicada no


Velho Testamento exclusivamente a anjos. Como por exemplo, no Livro de Jó, quando
Deus lhe perguntou: “Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? (…)
quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus (bene
ha-Elohim) rejubilavam?” (Jó 38:4a,7). Os “filhos de Deus” que rejubilavam enquanto
assistiam à criação da terra eram os anjos. Muitas outras passagens reforçam essa ideia.
No verso 4 de Gênesis 6 eles são chamados de “gigantes”, que é traduzido do termo
hebraico Nefilim, que significa literalmente “os que caíram”. Esses anjos receberam a
autorização de Deus para conviver com a raça humana, com o objetivo de ensinar-lhe
todo tipo de ciência. Foi a Queda de primeiro casal que abriu espaço para a atuação
desses seres angelicais. Adão e Eva optaram pelo conhecimento do bem e do mal. Em
vez de confiar em Deus, preferiram dar ouvidos à serpente. O Diabo tornou-se o
príncipe deste mundo, e trouxe para cá toda a sua corte. [4]

O livro de Enoque, que durante muito tempo figurou entre os livros canônicos[5], e que
é citado nas Escrituras na Epístola de Judas, aborda esse contato entre a raça humana, e
raça angelical. De acordo com ele, aqueles anjos “escolheram cada um uma mulher, e se
aproximaram e coabitaram com elas; ensinaram-lhes a feitiçaria, os encantamentos, e as
propriedades das raízes e das árvores” (7:10). Esses anjos ensinaram aos homens “o
fabrico de espadas, facas, escudos, couraças” (8:1).

Por causa dessa corrupção, disse o Senhor: “Não permanecerá o meu Espírito para
sempre com o homem, pois este é mortal” (Gn.6:3a).

A raça humana foi expulsa do paraíso. Perdeu a comunhão com seu Criador. Preferiu o
conhecimento oculto, guardado pelos anjos guardiões, à vida eterna garantida pela
comunhão com a Árvore da Vida. Ela deixou de ser um ramo da Árvore da Vida, para
ser um ramo de uma árvore maligna.

A união entre homens e anjos gerou uma raça caída (Nefilim), que teria que ser
destruída pelo Dilúvio, mas cujos espíritos ainda perambulariam entre os humanos, até o
fim dos tempos. Esses espíritos, resultado da união entre duas raças distintas, tornaram-
se os demônios.

Enoque relata que “os gigantes (Nefilins), que são o preço do comércio do espírito e da
carne, serão chamados, na terra, de maus espíritos e sua morada será na terra (…) Os
espíritos dos gigantes serão como as nuvens que trazem à terra os flagelos de toda
espécie, a peste, a guerra, a fome, e o desgosto. Não beberão, nem comerão, invisíveis a
todos os olhos, insurgir-se-ão entre os homens e as mulheres, porque receberam nos dias
de destruição e massacre” (14:8a,9-10).

E quanto aos anjos que caíram? Enoque afirma que eram em número de duzentos (7:7).
E o que a Bíblia diz sobre o destino deles? Judas diz que “aos anjos que não guardaram
o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, ele os tem reservado em prisões
eternas, na escuridão, para o juízo do grande dia” (Jd.6). Judas diz que, a exemplo dos
moradores de Sodoma e Gomorra, esses anjos se prostituíram, indo “após outra carne”
(v.7). Pedro também relata o destino desses anjos: “Pois se Deus não poupou os anjos
que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão,
ficando reservados para o juízo” (2 Pe.2:4).

A convivência dos homens com esses seres provocou uma revolução no campo das
ciências. A raça humana deu um salto extraordinário, em um curtíssimo espaço de
tempo; fato que tem sido comprovado cientificamente. É desconcertante para os
cientistas céticos, admitirem não haver qualquer explicação plausível para o enorme
salto tecnológico dado pela humanidade há alguns poucos milênios. Grandes
descobertas arqueológicas, como os monumentos megalíticos[6] espalhados pelo mundo
afora, comprovam isso. Sem falar das pirâmides, não apenas no Egito, mas espalhadas
pelas Américas e pela Ásia.

Voltando ao texto de Gênesis 6, lemos que “havia naqueles dias Nefilins na terra, e
também depois, quando os anjos coabitaram com as filhas dos homens, as quais lhes
deram filhos”. A expressão “também depois” pode ser interpretada de duas maneiras
igualmente plausíveis. Pode-se entender que os Nefilins já conviviam com os humanos
antes que as filhas dos homens lhes dessem filhos. E também se pode inferir que houve
incursões angelicais posteriores ao Dilúvio. Isso explicaria o aparecimento de raças
gigantes na Terra ainda nos dias de Moisés, até os dias de Davi. Ambas as posições
podem estar certas. Embora os primeiros Nefilins que tomaram mulheres como esposas
tenham sido sentenciados por Deus a serem presos no Abismo, aguardando o dia do
Juízo, Satanás ainda contava com a terça parte dos anjos que tomaram parte de sua
rebelião. De acordo com Enoque, foram duzentos os anjos que tomaram para si
mulheres. Muito maior número de anjos Satanás teria ainda a seu dispor.

A prole maldita, fruto do casamento entre os anjos e as mulheres, foi condenada a viver
como espíritos malignos (demônios), a semente da serpente, que contenderia com a raça
humana, aguardando para ser pisada por Aquele que seria a “semente da mulher”.
Assim como pela “mulher” veio a descendência maldita dos anjos caídos, por uma
mulher viria o Filho de Deus para desfazer as obras do Diabo.

É bom frisarmos que nada disso aconteceu sem a permissão de Deus. Por trás de tudo
isso, havia um plano soberano, cujo objetivo seria revelar ao homem o poder da graça e
do amor de Deus.
Ao sentenciar à serpente, Deus declarou: “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre
a tua descendência e o seu descendente; este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar” (Gn.3:15). Os demônios, frutos da conjunção entre anjos caídos e mulheres,
são a descendência da serpente. Cristo é o descendente da mulher, que veio para
esmagar a cabeça da serpente, e destronar os seus descendentes.

Os espíritos malignos que hoje ainda se manifestam nos corpos dos homens, não são de
anjos caídos, como muitos imaginam. Até porque, não há na Bíblia qualquer menção a
um anjo que tenha incorporado em alguém. Os tais espíritos, que conhecemos como
demônios, são, na verdade, aqueles espíritos resultado da relação entre a raça humana e
a raça angelical. Eles são como parasitas, que encostam nas pessoas, para sugar-lhes as
energias, e utilizar-se delas para promover seus intentos destruidores. Estão a serviço de
Satanás, o Querubim rebelde.

É sensato supor que o propósito dos anjos caídos era o de poluir o sangue humano,
impedindo assim que a profecia se cumprisse, e o Descendente da mulher viesse destruí-
los.

Para acabar com a farra dos anjos, de seus filhos gigantes, e dos homens ímpios, Deus
enviou o Dilúvio. A decisão de Deus era destruir de sobre a face da terra o homem e
todos os seres vivos. Entretanto, Sua Palavra não poderia ser invalidada. E quanto ao
Descendente da Mulher? E quanto Àquele que esmagaria a cabeça da serpente? A
linhagem que o traria ao mundo tinha que ser preservada. Teria que ser uma linhagem
que não houvesse se contaminado com os anjos caídos.[7]

Foi em Noé que Deus achou o homem através do qual a linhagem humana seria
preservada. De acordo com o texto sagrado, Noé “achou graça aos olhos do Senhor”. O
fato é que ele era “homem justo e perfeito em suas gerações, e andava com Deus”,
enquanto que a terra inteira “estava corrompida diante de Deus, e cheia de violência”,
pois “todas as pessoas haviam corrompido o seu caminho sobre a terra” (Gn.6:8-9,11-
12). Ser “perfeito em suas gerações” equivale a ter sua genealogia intacta, sem a
presença da semente maligna.

O título predileto usado por Jesus para referir-Se a Si mesmo era “Filho do Homem”.
Esse título é extraído diretamente do Livro de Enoque, onde o encontramos com enorme
frequência. Ao declarar-Se Filho do Homem, Jesus estava ressaltando o fato de que Sua
humanidade é pura, e Seu sangue não havia sido contaminado pelos Nefilins [8]. Esta é
a razão pela qual as Escrituras dão tamanha importância à genealogia do Messias.
Embora Jesus seja 100% divino, em Sua humanidade Ele é 100% homem. Sua
humanidade é tão pura quanto a de Adão, daí Ele ser chamado de “o último Adão”.

Continuação em: Respondendo às objeções sobre a interferência angelical na raça


humana.
_______________________
[1] Livro dos Jubileus 4:15
[2] Um exemplo de longevidade é Matusalém que viveu 969 anos. O próprio Adão
viveu 930 anos!
[3] Mais tarde Deus estabeleceu que o homem deveria viver em média 70 anos.
[4] A terça parte dos anjos, que participaram da rebelião promovida pelo Querubim
Helel ben-shahar (Lúcifer).
[5] De acordo com Luther Link, «até o século IV, Enoque fazia parte do ainda mal
definido cânone»; «Familiar para os judeus e primeiros cristãos, Enoque foi um texto
sagrado autêntico para Judas, Clemente, Barnabé, Tertuliano e outros primeiros pais»
(embora Jerônimo e Orígenes fizessem ressalvas).
[6] Monumento megalíticos – Monumentos feitos com grandes pedras, que pesam
toneladas. Ainda é um mistério para a ciência, a maneira como tais pedras foram
transportadas. Um exemplo disso são as famosas estátuas da Ilha de Páscoa, que fica a
milhares de quilômetros do continente, no meio do Oceano Pacífico.
[7] É por ser oriundo de uma linhagem pura, que não fora poluída pela semente dos
Nefilins, que Jesus é chamado “Filho do Homem”.
[8] Uso Nefilins como plural de Nefilim, porém, o termo hebraico nefilim já está no
plural.

Fonte: http://www.hermesfernandes.com/2014/02/os-nefilins-e-misteriosa-origem-
dos.html

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