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Maurício Rizzatti
Santa Maria, RS
2022
Maurício Rizzatti
Santa Maria, RS
2022
Contatos:
E-mail: geo.mauricio.rizzatti@gmail.com
Fone: (55) 99674-7516 e (55) 3223-9998
AGRADECIMENTOS
Keywords: Emergency Remote Learning. Literacy and Cartographic Literacy. Analog and
digital mapping. Multi(Geo)Modal School Cartography.
LISTA DE FIGURAS
3D Três dimensões
ACI Associação Cartográfica Internacional
AM/FM Mapeamento Automatizado e Gerenciamento Facilitado
APA Associação Americana de Psicologia
APP áreas de preservação permanente
ARP Aeronaves Remotamente Pilotadas
AVA Ambiente Virtual de Aprendizagem
BDG Banco de Dados Geográfico
BM Banco Mundial
BNCC Base Nacional Comum Curricular
CAC Cartografia Assistida por Computador
CEMGM Cartografia Escolar Multi(Geo)Modal
CAD Desenhos Assistidos por Computador
CADD Projetos Assistidos por Computador
CAM Mapeamento Assistido por Computador
CBERS China-Brazil Earth-Resources Satellite
CEP Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
COVID-19 novo Coronavírus
CPU Unidade Central de Processamento
DNOS Departamento Nacional de Obras de Saneamento
DoD Departamento de Defesa
EMEF Escola Municipal de Ensino Fundamental
ERE Ensino Remoto Emergencial
ESRI Environmental Systems Research Institute
EUA Estados Unidos da América
FMI Fundo Monetário Internacional
GLONASS Sistema de Navegação Global via Satélite
GNSS Sistema Global de Navegação por Satélite
GPS Sistema de Posicionamento Global
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
IM Inteligências Múltiplas
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
LANDSAT Land Satellite
MCD Memória de Curta Duração
MEO Medium Earth Orbits
MLD Memória de Longa Duração
MT Memória de Trabalho
NASA Agência Espacial Americana
NREM sem movimentos oculares
ONU Organização das Nações Unidas
PC computador pessoal
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNE Plano Nacional da Educação
QI Quociente de Inteligência
REM movimentos oculares rápidos
SAD-69 Datum Sul-Americano de 1969
SAI Sala de Aula Invertida
SF Superfície Física
SGR Sistemas Geodésicos de Referência
SGR-80 Sistema Geodésico de Referência de 1980
SIDRA Sistema IBGE de Recuperação Automática
SIG Sistema de Informação Geográfica
SIRGAS 2000 Sistema de Referência Geocêntrico para as Américas
SOE sala de orientação educacional
SPOT Satellite Pour l'Observation de la Terre
SR Sensoriamento Remoto
T/O Orbis Terrarum
TACA Termo de Assentimento para Crianças e Adolescentes
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TIC Tecnologias da Informação e Comunicação
TIROS 1 Television and Infrared Observational Satellite
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
UIGG União de Geodésia e Geofísica
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
WAIS Escala de Inteligência Wechsler para Adultos
WGS-84 Sistema Geodésico Mundial de 1984
WWW World Wide Web
LISTA DE ABREVIATURAS
cm centímetros
km² quilômetros quadrados
m metros
m/s metros por segundo
µm micrômetro
SUMÁRIO
1........................INTRODUÇÃO ............................................................................................ 31
1 INTRODUÇÃO
[...] houve uma constelação de grandes avanços tecnológicos, nas duas últimas
décadas do século XX, no que se refere a materiais avançados, fontes de energia,
aplicações da medicina, técnicas de produção (já existentes ou potenciais, tais como
a nanotecnologia) e tecnologia dos transportes, entre outros. Além disso, o processo
atual de transformação tecnológica expande-se exponencialmente em razão de sua
capacidade de criar uma interface entre campos tecnológicos mediante uma
linguagem digital comum na qual a informação é gerada, armazenada, recuperada,
processada e transmitida. (CASTELLS, 2002, p. 68).
Se a geografia é tida por muita gente como uma disciplina sem conexão e,
conseqüentemente, sem valor para a vida prática, pior é a opinião sobre a cartografia.
Mesmo extraindo as informações necessárias de alguns mapas de uso cotidiano, como
os rodoviários, os mapas sobre a previsão do tempo ou o mapa da cidade habitada, a
noção de que essas informações estão ligadas a uma área da ciência denominada
Cartografia é vaga. (PISSINATI; ARCHELA, 2007, p. 170).
Um dos exemplos mais célebre e dramáticos foi a execução, em 1965, 1966, 1967 e
sobretudo em 1972 de um plano de destruição sistemática da rede de diques que
protegem as planícies densamente povoadas do Vietnã do Norte: elas são atravessadas
por rios caudalosos, com terríveis cheias que escoam não por vales mas, ao contrário,
sobre elevações, terraços, que são formados por seus aluviões. Esses diques cuja
importância é, de fato, absolutamente vital, não poderiam ter sido objeto de
bombardeamento maciços, diretos e evidentes, pois a opinião pública internacional ali
teria visto a prova da perpetração de um genocídio. Seria preciso, portanto, atacar essa
rede de diques, de forma precisa e discreta, em certos locais essenciais para a proteção
de alguns 15 milhões de homens que vivem nessas pequenas planícies, cercadas por
montanhas. Era necessário que esses diques se rompessem nos lugares em que a
inundação teria as mais desastrosas consequências. (LACOSTE, 2016, p. 28).
A Geografia, portanto, não deve ser vista como uma disciplina simplória e
enciclopédica, mas como uma ciência responsável por formar cidadãos, auxiliando-os nas
análises e pensamentos dos diferentes fenômenos sociais e temáticas físico-naturais, que
ocorrem no espaço geográfico. Logo, é uma área de conhecimento de extrema importância, pois
permite compreender o espaço em que se vive, por meio da relação natureza e sociedade
(RIZZATTI, 2016).
Desse modo, a Geografia torna-se a disciplina escolar com mais destaque, no que se
refere ao desenvolvimento do pensamento espacial, central ao raciocínio geográfico. Para isso,
é possível a utilização de recursos digitais ou tecnológicos e suas linguagens como ferramentas
34
[...] é preciso ter claro que mesmo que os usuários de tecnologias cartográficas
utilizem-se de equipamentos para localização e navegação, eles ainda precisam de
uma sistematização e do aprofundamento do pensamento espacial para entender
efetivamente o espaço. Não basta apenas navegar pelo espaço, é preciso compreendê-
lo e isso só se faz mediado pelo ensino de Geografia e pela construção do raciocínio
geográfico (formal e escolar) que tem uma de suas bases assentadas no pensamento
espacial e na Cartografia Escolar. (BATISTA, 2019, p. 101-102).
A utilização de mapas no ambiente escolar ocorre com muita frequência, porém, grande
parte das vezes o professor trabalha com mapas prontos, ou seja, trata-se das representações
cartográficas que se encontram em livros, atlas ou impressas, que estão finalizados. Desse
modo, possuem título, legenda, coordenadas, orientação espacial e escala cartográfica, cabendo
ao estudante somente sua interpretação. Esse fato não contribui para desenvolver um aluno
mapeador, visto que desconhece o processo metodológico de confecção de mapas.
Simielli (1999) destaca que para desenvolver um aluno leitor, crítico de representações
cartográficas, devem ser abordadas noções referentes aos tipos de visões e imagens, alfabeto
cartográfico, proporção e escala, além da orientação espacial, colaborando para se tornar um
aluno alfabetizado cartograficamente. Conforme a mesma autora, existe uma outra vertente,
voltada aos anos finais do Ensino Fundamental, que torna o estudante um mapeador consciente.
Tal prática utiliza conhecimentos desenvolvidos durante a alfabetização cartográfica
(SIMIELLI, 1999) para, por exemplo, interpretar diferentes usos da terra em uma imagem de
satélite, representar cartograficamente e sistematizá-los em uma legenda. Cabe destacar que a
cópia de mapas prontos em livros ou atlas não colabora para promover o domínio da linguagem
e a compreensão das relações espaciais, que constituem habilidades e competências
desenvolvidas pelo letramento cartográfico.
Dessa maneira, percebe-se a importância de mapas construídos com base no cotidiano
ou no espaço vivido, pois o discente consegue visualizar elementos já conhecidos e escolher
diferentes signos, cores e texturas para representá-los adequadamente, tornando esse processo
menos abstrato. Além disso, salienta-se a relevância de realizar mapeamentos analógicos e
digitais, pois alguns alunos têm uma maior facilidade no manuseio de imagens impressas e lápis
de cor, enquanto outros apresentam um domínio digital.
Deve-se, então, propor atividades escolares centradas nos estudantes, baseadas em seu
espaço vivido, utilizando uma multiplicidade de linguagens, como mapas, imagens aéreas,
vídeos, gráficos, músicas, sons, entre outros, pois colaboram para aprenderem de diversas
maneiras (RIZZATTI, 2018). Nesse viés, apresenta-se a Teoria das Inteligências Múltiplas
(IM), proposta por Howard Gardner, em 1983, defendendo que os seres humanos possuem
diversas faculdades, uma mais desenvolvida que outra. Como consequência, a aprendizagem é
algo que ocorre de forma subjetiva, pois cada pessoa compreende e assimila fatos ou
informações à sua maneira (GARDNER, 1994).
Assim, Gardner (1994) defende que todos os seres humanos possuem faculdades (que
intitulou de IM), uma mais desenvolvidas do que outras, e que isso pode possibilitar que cada
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um deles tenha uma preferência e/ou facilidade em tais matérias ou determinadas áreas. Como
os estudantes constituem-se como sujeitos únicos, tendo em vista as suas experiências e seus
conhecimentos anteriores, as atividades pedagógicas devem buscar abarcar essa gama de IM,
fazendo com que, durante a realização de cada tarefa, ocorra a mobilização de cada ou múltiplas
Inteligências.
Então, o planejamento e desenvolvimento de atividades pedagógicas tem por objetivo a
assimilação e aprendizagem de determinada temática pelos estudantes. Dessa forma, de acordo
com LeFrançois (2016), o conceito de aprendizagem se refere a:
Os avanços das TIC, ocorridos principalmente do final do século XX até os dias atuais,
permitiram que a população, de um modo geral, obtivesse acesso aos recursos tecnológicos,
como celulares e microcomputadores. Esse fator colaborou para a disseminação de mapas
digitais, sobretudo, nos App. dos smartphones, dentre os quais se destacam o Google Maps,
Waze e Maps.me. Estes funcionam como modo de navegação, com uso de um sistema de
satélites artificiais1, como a constelação do Sistema de Posicionamento Global (GPS) ou do
Sistema de Navegação Global via Satélite (GLONASS), juntamente com um mapa base,
permitindo ao usuário o deslocamento no espaço. Além disso, ao solicitar um transporte
privado, como Uber e Garupa, por exemplo, a população está em contato com informações
espaciais, pois é possível escolher o destino por meio de um ponto no mapa. Além de localizar,
a Cartografia é utilizada para ilustrar a realidade social, econômica, histórica e cultural e se
entrelaça com a ciência geográfica. Historicamente, Cartografia e Geografia sempre andaram
juntas, desde os primórdios da existência humana na Terra.
Etimologicamente, a “A cartografia é uma palavra derivada do grego graphien,
significando escrita ou descrita, e do latim charta, com o significado de papel, mostra, portanto,
uma estreita ligação com a apresentação gráfica da informação, com sua descrição em papel”
(MENEZES; FERNANDES, 2013, p. 18).
Segundo Joly (2013, p. 7), “A cartografia é a arte de conceber, levantar, de redigir e de
divulgar os mapas”. Coloca ainda que o mapa é uma representação plana, simplificada e
convencional, do planeta ou parte dele, com uma relação de similaridade com determinada
escala (JOLY, 2013). Nesse contexto, o mapa é uma representação da superfície da terra sobre
um plano. Essa transposição de uma superfície irregular e curva para representação plana
envolve uma série de fatores técnicos. Por esse motivo, os mapas apresentam projeções
cartográficas das mais variadas propriedades, métodos, superfícies de projeções e ao tipo de
contato. A escolha de cada uma das variáveis tem como base a finalidade do mapa, isto é, do
seu propósito. Outra característica é ser uma representação em escala de redução, fato que o
documento cartográfico sempre será menor do que o tamanho real do objeto. Resumidamente,
a Cartografia trata de representar a superfície terrestre em duas dimensões (comprimento e
1
Segundo Tôslo, et al. (2014, p. 16), satélite artificial “[...] é um equipamento produzido por humanos, o qual
segue a órbita de um planeta ou corpo celeste. Esse satélite é posicionado no espaço, com auxílio de um foguete.
Existem diversos tipos de satélites artificiais em orbitas do planeta Terra equipados com diferentes tipos de
sensores e câmeras que registram informações da superfície terrestre. Há satélites com objetivos específicos, como
os destinados à comunicação e aos recursos naturais. Outros possuem somente aplicação militar e existem os
dedicados ao posicionamento espacial”.
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largura), sob uma determinada escala. Tem como produto uma série de documentos
cartográficos, isto é, globos, mapas e cartas.
Já para Oliveira (1993), ela é vista como uma ciência que trata da concepção, do estudo,
da produção e da utilização de mapas. O conceito de Cartografia, amplamente aceito, foi
proposto durante o XX Congresso Internacional de Cartografia, realizado em Londres, onde a
Associação Cartográfica Internacional (ACI), sendo o mesmo ratificado pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1966, conceituou
Cartografia como sendo um:
[...] porque se constitui num campo de atividade humana que requer desenvolvimento
de conceitos específicos, aplicação sistemática de operações de campo e de
laboratório, planejamento destas operações, metodologia de trabalho, aplicação de
técnicas e conhecimentos de outras ciências, tudo com vistas à obtenção de um
documento de caráter altamente técnico (o mapa), objetivando representar os aspectos
naturais e artificiais da superfície terrestre, de ouros astros ou mesmo do céu. Enfim,
a organização do espaço, seja ele terrestre ou não, é mostrada por meio de mapas, os
quais resultam de uma série de operações que fazem parte de um campo definido da
atividade humana: a Cartografia. (DUARTE, 2002, p. 15).
2
De acordo com IBGE (1999, p. 15), Geodésia é a “Ciência aplicada que estuda a forma, as dimensões e o campo
de gravidade da Terra”.
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No que se refere à arte, não podemos esquecer que a Cartografia se preocupa com a
representação de objetos e variáveis em seu produto, devendo respeitar aspectos estéticos que,
obrigatoriamente, devem ser agradáveis para a visão. Assim, há um enorme interesse com a
disposição de signos, cores, margens e traços, buscando sempre a clareza e a harmonia das
informações mapeadas. Nesse sentido, segundo Menezes e Fernandes (2013, p. 18), “[...] a arte
na Cartografia corresponde à habilidade do cartógrafo em sintetizar os vários ingredientes
envolvidos no processo de abstração, organizando-os em um todo que facilite a comunicação
de ideais”.
Conforme pode ser notado em cada um dos conceitos, o produto da Cartografia é um
mapa. Nesse sentido, existe uma aproximação entre as representações cartográficas e a
Geografia, pois os mapas retratam a realidade de uma determinada porção do espaço, ou seja,
“Os mapas, portanto, representariam a Geografia, tudo o que é geográfico. Tais construtos
seriam a própria Geografia, portanto, sinônimos” (MARTINELLI, 2014b, p. 7). Já Menezes e
Fernandes (2013 p. 14), comentam que a forte relação do mapa com a Geografia se dá pela
possibilidade da representação de “[...] fenômenos de ordem física quanto os de ordem social
sejam generalizados e apresentados em representações planas ou tridimensionais, impressas ou
virtuais”.
43
A história dos mapas é mais antiga que a própria história, isto se pensarmos na história
como documentação escrita sobre fatos passados. A confecção de mapas precede a
escrita. Isso pode ser concluído do fato comprovado, por muitos exploradores dos
vários povos primitivos que, embora êles não houvessem alcançado a fase da escrita,
desenvolveram a habilidade para traçar mapas. (RAISZ, 1969, p. 7).
44
Outro exemplo de mapa rudimentar é o das Ilhas Marshall (Figura 4), confeccionado
por uma tribo indígena da região, feito com fibras de palma e conchas, representando o
arquipélago situado ao nordeste da Austrália. Conforme Raisz (1969, p. 7), “A quadrícula
ortogonal representa o mar livre [...]; as linhas curvas indicam a frente das ondas próximas das
ilhas, e as ilhas mesmas, estão representadas por conchas”. Este mapa demonstra como o
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produto dos povos primitivos não era necessariamente simples, pois o conhecimento do local e
a maneira de representar é muito mais complexo que as cartas modernas (RAISZ, 1969).
Figura 4 – Reconstituição do mapa marinho das ilhas Marshall feito de fibras de palma e conchas.
Partindo da convicção de que cada sociedade tem ou teve sua própria forma de
perceber e de produzir imagens espaciais, chegamos a essa simples definição de mapa:
‘representação gráfica que facilita a compreensão espacial de objetos, conceitos,
condições, processos e fatos do mundo humano’. O motivo de uma definição tão
ampla é facultar sua aplicação a todas as culturas de todos os tempos, e não apenas às
da era moderna. (HARLEY, 1991, p. 7).
A base do sistema cartográfico atual é atribuída por todos aos gregos, que atingiram
uma cultura na Antiguidade, não igualada até o princípio do século XVI. Os gregos
admitiram a forma esférica da Terra, com seus Pólos, Equador e Trópicos,
desenvolveram nosso sistema de latitude e longitude3, desenharam as primeiras
projeções e calcularam o tamanho de nosso Planêta. (RAISZ, 1969, p. 11-13).
Os gregos, Pitágoras de Samos (540 a.C.), Aristóteles (384-322 a.C.) e seus seguidores,
apresentaram a teoria de que a Terra é esférica e especularam o valor de sua circunferência,
embora tenham sido suposições supostamente errôneas (STRAHLER, 1974). Além disso,
fizeram as primeiras suposições referente as zonas climáticas da Terra. Segundo Veloso Filho
(2010), um dos discípulos de Pitágoras:
3
A latitude se refere ao ângulo formado entre algum ponto na superfície terrestre com o Equador, que divide o
mundo em dois hemisférios: norte e sul. Pode, ainda, significar a distância entre o paralelo de origem (Equador)
com qualquer outro, variando de 0° a 90° (norte ou sul). Por sua vez, a longitude é a angulação de um local
específico na superfície com o Meridiano de Greenwich (atualmente), podendo ir de 0° a 180° leste ou oeste. Os
paralelos e meridianos determinam a latitude e a longitude, respectivamente, são linhas imaginárias que no
momento que se cruzam, localizam qualquer objeto por meio de uma coordenada geográfica (latitude e longitude).
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Alexandria. Ao ter acesso aos pergaminhos egípcios, descobriu que no dia do solstício de verão
do hemisfério norte (21 de junho), os raios solares iluminavam verticalmente, localizado na
cidade de Siena (Assuan), sem que houvesse sombra, demonstrando estar situada próximo ao
Trópico de Câncer. O que Eratóstenes precisou fazer foi verificar como os raios solares se
comportavam em Alexandria, isto é, se projetaria alguma sombra ou estaria a pino (zênite) igual
em Siena. Esse fenômeno, porém, não acontecia em Alexandria, projetando uma sombra com
cerca de 7,2° no chão (LIBAULT, 1975).
Esse fato levou Eratóstenes a crer que a Terra possuía um formato arredondado ou
esférico, pois, em uma cidade o Sol estava incidindo verticalmente, enquanto em outra, os
objetos projetavam sombra (Figura 6C). Se o formato do planeta fosse plano, o comportamento
dos raios solares seria idêntico a qualquer outra região do mundo (Figura 6D).
Figura 6 – Medição da circunferência da Terra por Eratóstenes (A e B), comportamento dos raios solares e
projeção de sombra com a Terra esférica (C) e com a Terra Plana (D).
Piores resultados foram obtidos na medida da Terra efetuada por Posidônio, um século
mais tarde. Êste utilizou a distância entre Rodes e Alexandria para calcular a
equivalência em graus, tomou a altura da estrêla Canopus. Suas determinações
possivelmente foram mais precisas do que as de Eratóstenes, porém não houve
compensação nos erros, e seu resultado para medida da circunferência máxima
terrestre, 18.000 milhas (29.000 km), é valor igual aproximadamente a ¾ do
verdadeiro. Enquanto 1° equivale a 700 estádios, conforme Eratóstenes, segundo
Posidônio, equivale a 500 somente. Este último valor foi aceito por Ptolomeu e
admitidos pelos geógrafos do século XV. Não é estranho que Colombo confundisse a
América com a Ásia, pois havia calculado para menos o tamanho da Terra; o fato de
se chamarem de Índios aos nativos americanos de determinadas regiões pode ser que
obedeça, em última análise, às medições errôneas de Posidônio. (RAISZ, 1969, p. 14).
Entre todos os gregos, o que mais se destaca é Cláudio Ptolomeu (90 a 168 d.C.), que
foi um astrônomo e matemático, apresentou uma enorme contribuição na área das ciências da
Terra e da Astronomia, com destaque para Geografia e Cartografia. Sua obra “Geographia”,
tida como base da Cartografia científica, foi escrita em oito volumes, acompanhada de um
mapa-múndi e 26 mapas detalhados. Não se sabe se o próprio Ptolomeu que os preparou, mas
eles datam dos tempos clássicos e constituem o primeiro Atlas Universal (RAISZ, 1969).
50
Figura 7 – Mapa de Ptolomeu do mundo conhecido com sistema de projeção e tipos de clima.
4
Segundo Brown (1951) apud Oliveira (1993, p. 39), “Ptolomeu, já no século II, imaginava a possibilidade da
construção de um globo, e em suas recomendações advertia: A linha equatorial deve ser graduada, e a numeração
precisa ser iniciada, não no Meridiano de Alexandria, mas no meridiano mais ocidental, que é (sic) aquele que
passa pelas ilhas Afortunadas, as quais se situam no Arquipélago do Cabo Verde. Daí em diante, trata-se apenas
de salpicar cada lugar do globo conforme a sua latitude e longitude, determinada previamente de acordo com um
estudo comparativo dos diários de viajantes, dos contos de carochinha e das histórias de marinheiros fanfarrões”.
51
Outra grande contribuição de Ptolomeu, para a Astronomia, foi a obra “Almagesto”, que
tratava a teoria matemática para corpos celestes, Sol, Lua, planetas e estrelas. Nesse trabalho,
defende a teoria Geocêntrica, apresentando a Terra como centro do Universo e os demais corpos
orbitando ao seu redor (MENEZES; FERNANDES, 2013).
Já a produção cartográfica do Império Romano se preocupava com a representação de
áreas fronteiriças e rotas de circulação, com detalhamento para os itinerários (estradas da
época). Como exemplo, temos a Tábua de Peutinger (Figura 8), a qual comprova a inquietação
dos romanos no sentido de demonstrar as regiões ocupadas e suas vias de circulação. Além
disso, produziram a Orbis Terrarum, tendo o Império Romano como centro.
igreja. Assim, a “Geographia” permaneceu desconhecida por vários séculos, mas serviu de base
para a Cartografia científica no Renascimento. Segundo Duarte (2002, p. 32), “Ptolomeu
representa ainda um dos marcos da Cartografia antiga, pois suas idéias influenciaram o mundo
ocidental por muitos séculos”. A Figura 9 apresenta um esquema de linha do tempo das
principais descobertas/invenções da Cartografia na antiguidade.
53
Do ponto de vista atual, a Idade Média é dividida em Alta Idade Média (do século V ao
século X) e Baixa Idade Média (do século X ao século XV). Esse período Medieval é conhecido
também como “Idade das Trevas” e “Noite de Mil Anos”, por ter durado praticamente mil anos
(476 a 1543 d.C.), bastante turbulentos pelos acontecimentos ocorridos no Velho Continente.
Dentre os fatos ocorridos, pode-se citar inúmeras invasões territoriais, guerras constantes,
formação de vários reinos independentes, consolidação do sistema feudal com a economia
baseada na agricultura, fusão da cultura romana com a germânica, teocentrismo e
enfraquecimento da cultura laica, e, principalmente, fortalecimento do cristianismo e
crescimento do poder interventivo da igreja católica, com exacerbação de poderes (XAVIER;
CHAGAS; REIS, 2017).
A conquista do Império Romano do Ocidente pelos germânicos significou a ascensão
do poder da Igreja. O extenso território romano foi divido em pequenos reinos, com autoridade
do papa, do Rei e dos Senhores Feudais e do trabalho da gleba serviçal, cuja única fonte de
renda era da produção de subsistência retirada da terra. Assim, a Alta Idade Média é marcada
pelo poder centralizado na Igreja Católica e do Rei (XAVIER; CHAGAS; REIS, 2017).
Nesse contexto, após a conquista dos germânicos, o Império Romano foi dividido em
três espaços culturais diferentes. Segundo Gaarder (2004, p. 191) “Na Europa ocidental,
formou-se uma cultura cristã de língua latina, cuja capital era Roma. Na Europa oriental, surgiu
um núcleo cristão de língua grega, cuja capital era Bizâncio”. Já no norte do continente africano
e no Oriente Médio, desenvolveu-se uma cultura muçulmana de língua árabe. Nesse período,
os árabes foram os responsáveis pela produção científica matemática, astronômica e na
medicina. Culturalmente falando, a conquista do Império Romano levou a um gradativo
declínio do conhecimento greco-romano e à formação da escola religiosa cristã.
Sobre a Cartografia na Idade Média, Duarte (2002) coloca que:
[...] foi das mais pobres, tendo-se um exemplo na obra denominada Topografia Cristã,
de autoria do frade Cosmas Indiocopleustes, editada pelos idos do ano 535, em que
este nega a existência de antípodas (lugar que seria diametralmente oposto a outro no
globo terrestre); nega também a ideia da esfericidade dos céus e da Terra. Para ele, a
Bíblia não podia admitir um mundo de face para baixo. Como poderia haver tamanha
insensatez, acreditando-se que houvesse homens com os pés para cima, lugares com
tudo dependurado ao contrário, árvores crescendo às avessas, ou então a chuva caindo
de baixo para cima? Tais ideias seriam contrárias aos ensinamentos cristãos, pois a
Teologia era a rainha das ciências e tudo que houvesse para ser dito já estaria
contemplado nas Sagradas Escrituras. (DUARTE, 2002, p. 33).
55
Figura 10 – Modelos de mapas T/O da Idade Média: a perfeição geométrica e a simplicidade e sua interpretação
(A e B), mapa T/O de Isidoro, o mais esquemático de todos os concebidos em seu tempo (C) e “o Mundo Inteiro
numa Folha de Trevo” (D) de Heinrich Bünting.
elaboração de mapas, à orientação espacial, a partir de Meca, que é o centro religioso do mundo
Islâmico.
Deste modo, o mundo muçulmano desenvolveu uma tradição da Antiguidade Clássica,
possuindo grandes dotes de conhecimento referente à Astronomia, Matemática e Geometria,
mas, também, tiveram hábeis geógrafos e cartógrafos. Seu preceito religioso, de visitar Meca,
favoreceu o conhecimento de muitos lugares. Ademais, conservaram a “Geographia” de
Ptolomeu, desaparecida no Ocidente, conseguindo exatidão e detalhamento, seguindo as
diretrizes traçadas pelos gregos (RAISZ, 1969).
Al-Idrisi (1100-1165 ou 1166) foi o nome que mais se destacou na Cartografia árabe,
elaborando um mapa-múndi gravado em prata, a pedido do Rei Roger II, da Sicília. O mapa
apresentava uma riqueza de detalhes de fronteiras e rotas para a época, sendo chamada de
Tábula Rogeriana (Figura 11), organizado em uma grosseira projeção retangular, e conforme
aponta Raisz (1969, p. 21) a Ásia contém bastante detalhes. Já “[...] os mares Cáspio e Aral
aparecem perfeitamente representados sem a deformação dos mapas antigos. Na configuração
da África observa-se a influência de Ptolomeu, mas já a China e África não estão unidas. O
mapa está orientado com o sul para cima [...]”.
Durante a Baixa Idade Média, principalmente nos séculos XI e XII, tem-se uma
crescente utilização da bússola. Rodgers (2013) aborda que:
Cientistas e historiadores não sabem quando os princípios por trás das bússolas
magnéticas foram descobertos. Os gregos antigos entendiam o magnetismo. Já há
2.000 anos, os cientistas chineses sabiam que esfregar uma barra de ferro (como uma
agulha) com um ímã natural, chamado de magnetita, magnetizaria temporariamente a
agulha para que ela apontasse para o norte e o sul. [...] Os historiadores acreditam que
a China pode ter sido a primeira civilização a desenvolver uma bússola magnética que
poderia ser usada para a navegação. Os cientistas chineses podem ter desenvolvido
bússolas de navegação já no século XI ou XII. Os europeus ocidentais logo seguiram
no final do século XII5. (RODGERS, 2013, p. 2-3, tradução nossa).
5
[Citação original] “Scientists and historians don’t know when the principles behind magnetic compasses were
discovered. Ancient Greeks understood magnetism. As early as 2,000 years ago, Chinese scientists may have
known that rubbing an iron bar (such as a needle) with a naturally occurring magnet, called a lodestone, would
temporarily magnetize the needle so that it would point north and south. Historians think China may have been the
first civilization to develop a magnetic compass that could be used for navigation. Chinese scientists may have
developed navigational compasses as early as the 11th or 12th century. Western Europeans soon followed at the
end of the 12th century”. (RODGERS, 2013, p. 2-3).
58
59
Figura 11 – Cópia moderna da Tábula Rogeriana (o grande mapa de Al-Idrisi), orientada com o sul no topo, finalizado em 1154.
[...] os supostos cientistas que governaram a Alta Idade Média caem gradualmente,
desaparecendo a base teológica, dogmática e quase não operacional da ciência, para
avançar para os primeiros estágios da pesquisa racional com uma base empírica e
prática eminente. A ciência não é mais um conhecimento abstrato e especulativo para
se tornar, gradualmente, um conhecimento demonstrável e operacional. [...] Ciência e
tecnologia, a partir desses momentos, estão intrinsecamente ligadas. A exploração
geográfica como a mais empírica de todas as formas de pesquisa e, portanto, como a
atividade que exigia um maior grau de tecnologia, seria, portanto, constituída na
ciência pela antonomásia do século XV7. (LIRA, 1992, p. 118, tradução nossa).
6
Segundo Friedmann (2009, p. 30), o azimute é definido pelo “[...] ângulo plano horizontal formando entre a
direção Norte e uma direção especificada. Esse ângulo é computado no sentido horário, a partir da direção Norte”.
7
[Citação original] “[...] van cayendo gradualmente los supuestos científicos que habían regido la Alta Edad
Media, desapareciendo la base teológica, dogmática e casi no operativa de la ciencia, para pasar a los primeros
estadios de investigación racional com una eminente base empírica y práctica. La ciencia va dejando de ser un
62
Figura 12 – Carta Portulana do Mar Mediterrâneo de 1569 (A) e Terra Brasilis, incluída no Atlas Miller, de 1519
(B).
saber abstracto y especulativo para convertirse, paulatimente, en um conocimiento demonstrable y operativo. [...]
Ciencia y tecnología irán, a partir de estos momentos, indisolublemente unidas. La exploración geográfica como
la más empírica de todas las formas de investigación, y por tanto como la actividad que requeria um mayor grado
de tecnologia, se constituiria, pues, en la ciência por antonomásia del siglo XV”. (LIRA, 1992, p. 118).
63
A passagem da Idade Média para a Idade Moderna foi marcada por mudanças no
continente europeu. O desenvolvimento das cidades e do comércio, a burguesia se tornando um
grupo social muito poderoso, enquanto a nobreza e o clero perderam a importância. Além disso,
a necessidade de maiores deslocamentos e invenções trouxeram novas formas de pensar o
mundo. Tem-se, então, o surgimento do Renascimento como oposição ao período das trevas ou
escuridão, como ficou conhecida a Idade Média.
Historicamente, embora os limites cronológicos estejam em discussão, a data aceita pela
maioria dos pesquisadores, a Idade Moderna se inicia com a tomada de Constantinopla pelos
turcos otomanos, em 29 de maio de 1453, até a Revolução Francesa, no dia 14 de julho de 1789.
Raisz (1969) diz que nunca, ao longo da história, evoluiu-se tanto a respeito da Terra, como nas
proximidades de 1500 e aponta três fatos que contribuíram para o renascimento da Cartografia
na Idade Moderna.
O primeiro, e já comentado, foi a tradução da “Geographia” de Ptolomeu para o latim,
no início do século XV. A importância da divulgação dessa obra, para os europeus, estava na
possibilidade para estudar o mundo a partir de informações sonegadas por séculos, por meio
dos mapas cristãos (CARVALHO; ARAUJO, 2008a). Destaca-se, que essa obra apresentava
uma grande contribuição, indicando a longitude e a latitude de várias localidades. Entretanto,
os mapas se tornaram desatualizados para o Século XV. Assim, as “Tábuas Modernas” foram
adicionadas às reedições da “Geographia”, com representações da Espanha, França e Itália,
tornando-se os primeiros mapas realizados na Idade Moderna.
O segundo fato que se destaca para o renascimento da Cartografia foi a invenção da
Imprensa e a Arte de Gravar, por Johannes Gutenberg (1398-1468). Até então, os mapas eram
confeccionados a mão, sendo muito trabalhoso e oneroso suas produções. Nesse sentido, “Com
a Imprensa e gravação, podia-se obter 1.000 cópias de uma só prancha e, em consequência, o
preço baixou a uma pequeníssima parte do que valiam antes” (RAISZ, 1969, p. 24).
Sobre a invenção da imprensa, Hartier (1994), coloca que:
A revolução do nosso presente é, com toda certeza, mais que a de Gutenberg. Ela não
modifica apenas a técnica de reprodução do texto, mas também as próprias estruturas
e formas do suporte que o comunica a seus leitores. O livro impresso tem sido, até
hoje, o herdeiro do manuscrito: quanto à organização em cadernos, à hierarquia dos
formatos, do libro do banco ao libellus; quanto, também, aos subsídios à leitura:
concordâncias, índices, sumários etc. (HARTIER, 1994, p. 187).
65
À medida que novas terras eram descobertas pelos europeus de que os membros da
delegação se desenvolviam é aperfeiçoavam, o conhecimento da Geografia do nosso
planeta, bem como uma forma de representar os mapas de então, completavam-se e
aperfeiçoavam-se também. [...] É sabido, contudo, que a maior parte das cartas
marítimas europeias do século XV foram, seguramente, influenciadas pelos
descobrimentos portugueses, ou mesmo baseadas em protótipos portugueses que
entretanto se perderam. O mais notável monumento do cartográfico produzido nesta
época é, porventura, o planisfério Anônimo de 1502, vulgarmente conhecido por
planisfério de o Cantinho [...], no qual estão registados todos os descobrimentos
europeus até à data, incluindo os resultados das explorações de Vasco da Gama, de
Pedro Álvares Cabral, e dos primeiros reconhecimentos realizados no oriente.
(GASPAR, 2015, p. 2).
Esta província Santa Cruz está situada naquela grande América, uma das quatro partes
do mundo. Dista o seu princípio dois graus da equinocial para a banda do Sul, e daí
se vai estendendo para o mesmo sul até quarenta e cinco graus. De maneira que parte
66
dela fica situada debaixo da Zona tórrida e parte debaixo da temperada. Está formada
esta Província á maneira de uma harpa, cuja costa pela banda do Norte corre do
Oriente ao Ocidente e está olhando diretamente à Equinocial; e pela do Sul confina
com outras Províncias da mesma América povoada e possuídas de povo gentílico,
com que ainda não temos comunicação. E pela do Oriente confina com o mar Oceano
Áfrico, e olha diretamente os Reinos de Congo e Angola até o Cabo de Boa Esperança,
que é o seu oposto. E pela do Ocidente confina com as altíssimas serras dos Andes e
fraldas do Peru, as quais são tão soberbas em cima da terra aqui se diz terem as aves
trabalho [...]. Destes e doutros extremos semelhantes carece esta Província Santa Cruz
porque com ser tão grande não tem Serras, ainda que muitas, nem desertos nem
alagadiços que com facilidade se não possam atravessar. Além disto, é esta Província
sem contradição a melhor pera a vida d.C. homem que cada uma das outras de
América, por ser comumente de bons ares e fertilíssima, e em grão maneira deleitosa
e aprazível à vista humana. (GÂNDAVO, 2004, p. 7-8).
Durante os séculos XIV e XV, a navegação das embarcações eram feitas pelo método
de rumo e estima. Conforme Oliveira (2017, p. 12), “[...] os navegadores usavam a bússola para
indicar o ângulo dos rumos traçados, estimavam as distâncias percorridas e traçavam os pontos
nas cartas, que eram projeções planas dos principais mares e enseadas que se era comum
navegar naquela época”. Todavia, esse modo era discrepante, pois o rumo adquirido pela
bússola, além da influência da declinação magnética, e as distâncias percorridas eram por
estimativas empíricas.
A partir da metade do século XV, a obtenção das latitudes dos locais visitados se tornou
possível pela observação da altura angular dos astros celestes. Assim, Reis (2002) apud Oliveira
(2017, p. 13):
(Nova aumentada descrição da Terra com correções), para o uso de navegação com meridianos
e paralelos retilíneos e perpendiculares, com propriedade conforme8.
Para manter a conformidade, foi necessário adotar um crescimento de cada grau de
latitude a partir do Equador, na mesma proporção que os graus de longitude são acrescidos pela
própria projeção (OLIVEIRA, 1993). Nesse sentido, ao comparar os paralelos da Projeção de
Mercator, observa-se que eles são mais espaçados à medida que se aproximam dos polos,
justamente para conservar o ângulo da representação. Consequentemente, a escala de um mapa
com Projeção de Mercator se modifica de um paralelo para o outro. Assim, podemos dizer que
esse tipo de mapa só apresenta uma escala constante no ponto de Tangência (Equador),
tendendo-se ao infinito conforme se distancia do local em questão, aumentando a deformação,
conforme exemplificado na Figura 14.
8
As projeções conformes possuem como característica central manter inalterada as grandezas dos ângulos. Busca-
se, também, manter a similitude entre as regiões representadas, ou seja, a forma das feições representadas no mapa
mante-se igual a superfície terrestre. Entretanto, para manter a similitude das formas, são alteradas as áreas
(DUARTE, 2002).
68
Figura 15 – Groelândia, a esquerda, tal como é representada na projeção de Mercator, e, na direita, a América do
Sul, um continente cerca de 8 vezes maior que a ilha ártica.
Essa comparação entre diferentes regiões nos mapas, faz a projeção de Mercator ser
bastante criticada nos dias de hoje por privilegiar a dimensão territorial de países de médias e
altas latitudes, principalmente os europeus, o que poderia justificar o sentido ideológico à
hegemonia econômica, política e territorial da região. Apesar disso, cabe destacar que é um
equívoco do usuário/leitor comparar projeções de diferentes propriedades, ou seja, concluir que
a projeção de Mercator está errada pelo fato da distorção de área existente. O que necessita ser
ressaltado é o objetivo de cada um dos mapas quanto a sua finalidade: é conservar o ângulo do
grid de coordenadas, a distância linear ou a área territorial. Assim, é recomendável evitar
comparações entre projeções cartográficas com propriedades diferentes (conformidade de
Mercator e equivalência9 de Peters, por exemplo), visto que cada uma delas foi desenvolvida
para cumprir determinada função.
Ainda sobre Mercator, sua projeção revoluciona a Cartografia Moderna pela
aplicabilidade na navegação com mapa e bússola. Segundo Oliveira (1993, p. 21), “Os
9
Segundo Duarte (2002, p. 98), a propriedade da equivalência, consiste em “Conservar a relação entre áreas da
superfície terrestre com as representadas no mapa. As projeções deste tipo mantem a proporção de tamanho entre
a superfície real e a do desenho [...]”.
69
navegadores daquele tempo lamentavam a falta de cartas exatas para a navegação”, sendo uma
motivação para Mercator, na concepção da projeção. Conforme já mencionado, os paralelos e
os meridianos são linhas perpendiculares, formando sempre ângulos retos. Nesse contexto,
Mercator contribuiu com a navegação marítima através da linha laxodromia10 na sua projeção,
em que, navegar de um ponto inicial para um destino qualquer, basta uni-los por uma linha reta,
o azimute será constante, permitindo uma navegação fixa com uma bússola. A Figura 16 ilustra
o comportamento da laxodromia na projeção de Mercator.
Figura 16 – Raciocínio de Mercator em propor numa projeção plana quadrada (pontilhado) as laxodromas retas
(linhas contínuas).
10
Segundo Libault (1975, p. 123), “utilizando uma carta em projeção de Mercator, tracemos uma linha reta de um
pôrto inicial até um pôrto final de navegação. É evidente que está reta cortará todos os meridianos sob um mesmo
ângulo y. Transportada para a esfera, esta linha desenvolverá uma curva transcendente, chamada de loxodromia”.
70
11
Uma toesa equivale a 1,949 metros.
12
Segundo Libault (1975, p. 86) “A primeira articulação de frações de linhas geodésicas medidas foi efetuada em
1617, numa região bem plana, por um cientista holandês Snellius [...]. A figura da poligonação era a mais simples
e a mais segura: o triângulo. Todas tentativas anteriores para medir o comprimento do arco geodésico na superfície
da Terra revelaram-se bastante duvidosas e de pouca precisão, de modo que a medição e a construção de um
triangulo, a partir de seus lados, não se faz sem uma probabilidade bem grande de erros. A ideia básica de Snellius
foi substituir a medida dos comprimentos pela dos ângulos; a operação é rápida e, mesmo aquela época, foi
suficientemente exata”.
71
Figura 17 – Triangulação no Canal da Mancha, com a rede de triângulos entre os meridianos de Greenwich e
Paris.
Desde o início do Renascimento, a influência da Igreja foi perdendo força, aos poucos,
no que tange ao conhecimento científico. Cabe ressaltar, que o formato da Terra, como sendo
planificada, foi cada vez menos aceita, principalmente pelas descobertas das Grandes
Navegações. Embora já se tivesse noção da esfericidade terrestre, desde a Grécia Antiga, com
estudos de Pitágoras e com o experimento de Eratóstenes, Isaac Newton (1643-1727),
astrônomo, físico e matemático, autor da obra “Principia: Princípios Matemáticos de Filosofia
Natural”, datado de 1687, foi pioneiro a detalhar a esfericidade terrestre, com achatamento nas
regiões polares. Nesse sentido, conforme Newton (2012):
[...] o diâmetro da terra no equador está para o diâmetro de pólo a pólo assim como
230 está para 229. E como o semidiâmetro médio da terra, de acordo com a medida
de Picard, é 19615800 pés de Paris, ou 3923,16 milhas (calculando 5000 pés por
milha), a terra será mais alta no equador do que nos pólos por 85472 pés, ou 17 1⁄10
milhas. E sua altura no equador será aproximadamente 19658600 pés e nos pólos
19573000 pés. (NEWTON, 2012, p. 216).
Terra, fazendo com que a terra seja mais alta no equador que nos polos, supondo que a matéria
seja uniformemente densa (NEWTON, 2012).
Seguindo o mesmo raciocínio de Newton, o astrônomo francês Jean Richer (1630-
1696), observou que, em Caiena, na Guiana Francesa, próximo à linha equatorial, um relógio
com um pêndulo de um metro atrasava cerca de dois minutos e meio por dia, quando comparado
as mesmas situações em Paris (FITZ, 2008a). Conforme Fitz (2008a), Richer, utilizando o
princípio gravitacional de Newton, conseguiu perceber:
Sabe-se que a Superfície Física13 (SF) terrestre é bastante irregular, com continentes,
mares, montanhas, depressões, dentre outras características topográficas. Essas irregularidades
podem ser vistas se comparar o ponto de maior altitude do planeta, o monte Everest, com
aproximadamente 8800 metros (m) de altitude, com a maior depressão, a Fossa das Marianas,
no Oceano Pacífico, com cerca de 11000 m de profundidade. Nesse contexto, pela
complexidade representacional da forma da Terra, foram criadas e utilizadas simplificações,
como o próprio elipsoide e o geoide, cada um deles possuindo sua finalidade de uso.
Outro termo para designar a forma da Terra é o geoide, que significa a própria forma do
Planeta. Segundo Menezes e Fernandes (2013),
13
Segundo Carvalho e Araújo (2008a, p. 3) “A superfície física terrestre é extremamente difícil de ser modelada
matematicamente, pois possui uma quantidade infinita de reentrâncias e saliências, que são as irregularidades do
relevo, e em função disso, com o conhecimento científico que temos atualmente, um modelo matemático que
expresse essa complexidade é totalmente inconcebível”.
74
14
Quando a superfície é elipsoidal, o sistema de coordenadas será geodésico, isto é, latitude e longitude. Se tratando
de uma superfície plana, sendo resultado de uma projeção cartográfica como a Universal Transversa de Mercator
(UTM), as coordenadas serão planas.
15
A abordagem referente aos sistemas geodésicos de referência é datada a partir do século XIX. Para fins didáticos,
resolveu explicá-los neste momento (Idade Moderna), aproveitando a contextualização sofre formas da Terra
(geoide e elipsoide). Sendo assim, foram detalhados os sistemas geodésicos clássicos e atuais, utilizados no Brasil
durante o século XX e XXI.
75
16
Segundo Menezes e Fernandes (2013, p. 76), “[...] pode se definir que esse topo de sistema geodésico de
referência define um elipsoide de revolução adequadamente adaptado à área e à sua orientação no espaço,
estabelecendo a origem para as coordenadas geodésicas referenciadas a esse elipsoide. Essa origem recebe nome
de datum horizontal”.
17
Plural de datum.
76
Figura 20 – Sistema Geodésicos de Referência de acordo com sua origem: Topocêntrico ou local (A),
Geocêntrico ou Global (B).
Nome Ano Semieixo maior (a) Semieixo menor (b) Achatamento (f)
Hayford (Córrego Alegre) 1909 6.378.388,000 m 6.356.911,646 m 1/297,000
SGR-67 (SAD-69) 1967 6.378.160,000 m 6.356.774,719 m 1/298,25
SGR-80 (WGS-84) 1980 6.378.137,000 m 6.356.752,314 m 1/298,257223563
SGR-80 (SIRGAS 2000) 2000 6.378.137,000 m 6.356.752,314 m 1/298,257222101
Entre 2005 e 2015 ocorreu uma adaptação para a implantação do SIRGAS 2000, como
SGR vigente no Brasil. Nesse período, permitiu-se o uso dele concomitantemente com os
sistemas antigos. A partir de 25 de fevereiro de 2015, esgotou-se o prazo de adaptação dado
pela resolução do IBGE n° 1/2005 para a implantação do SIRGAS 2000, tornando obrigatória
a utilização para todos os usuários no Brasil que lidam com informações espaciais.
Com base no que foi exposto, ressalta-se que a Geodésia e os SGR são de extrema
importância para a Cartografia, pois através da ciência geodésica se tem estudos referentes à
forma e dimensões da Terra, ou seja, é necessário possuir informações acerca de
posicionamento, com elipsoides, data e de gravimetria, para a Cartografia atuar com a
representação do espaço. Podemos, então, perceber que a Geodésia e a Cartografia possuem
uma relação intrínseca, pois os conceitos e produtos da primeira são fundamentais para realizar
a representação espacial por meio de produtos cartográficos.
A partir do Renascimento é perceptível o constante aprofundamento do conhecimento
científico, principalmente com uma gama de descobertas referentes às ciências astronômicas,
geodésicas e matemáticas, que servem como pilares para a estruturação e a fundamentação da
Cartografia na Modernidade.
78
Além disso, as embarcações eram perdidas por não saber o posicionamento em alto mar.
Isso levou uma série de potências navais – Espanha, Portugal e França – a oferecerem prémios
para a resolução do problema. Assim, as buscas por soluções para o problema iniciaram ainda
na Idade Moderna. Segundo Dash (2002), em 1675, construiu-se o Observatório Real de
18
Termo que se refere ao conflito ideológico de ordem militar, social, econômica, política e tecnológica
envolvendo os Estados Unidos da América, com sistema econômico capitalista e a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas, que possuía o socialismo como modelo econômico.
79
19
Segundo Dash (2002, p. 197), ‘’Em 1714, uma lei do parlamento ofereceu uma recompensa por um método que
conseguisse determinar a longitude no mar com relativa precisão. Uma Comissão da Longitude, composta de 22
membros, ou comentários, foi autorizada a examinar e julgar todas as propostas apresentadas e a recomendar a
concessão do prêmio, caso a invenção correspondência aos padrões da lei. A comissão era composta de oficiais da
Marinha, políticos e estudiosos”. O prêmio de 20.000 libras seria dado a quem resolvesse um dos maiores
problemas do século XVIII: como determinar a longitude em alto mar?
80
leste acrescido de 180° de longitude oeste) por 24 horas, resulta em fusos de 15° de longitude,
ou seja, a cada fuso há a variação de uma hora (quatro minutos por grau). Este princípio é
utilizado até hoje para a determinação de limites teóricos dos fusos horários. Nesse sentido, era
necessária a construção de um cronômetro ou relógio preciso para a medição do tempo em alto
mar. Sobre isso, Sobel (2000, p. 26), utiliza as palavras de Newton para descrever um relógio
para atingir tal fato: “Um método é o relógio marcar a hora com exatidão. Porém, devido ao
movimento do Navio, à Variação de Quente e Frio, Molhado e Seco e à diferença de Gravidade
em diferentes Latitudes, tal relógio ainda não foi inventado, E provavelmente, não o será”.
Entretanto, o joalheiro britânico John Harrison (1693-1776), em 1761, apresentou seu
primeiro protótipo de relógio marítimo à Comissão da Longitude, que acabaram por reprová-
lo, além de exigirem mais testagens. Por vários experimentos e testes, Harrison conseguiu
elaborar um cronometro (H4) com a confiabilidade necessária para a navegação. O primeiro
teste foi realizado a bordo do Deptford, com a saída do Porto de Portsmouth, Inglaterra, em 18
de novembro de 1761, com destino à Jamaica, no Caribe. A ideia seria pela determinação do
horário local no ponto de partida, com a aferição da hora pelo sol a pino (sol na sua altura
máxima), por uns quantos dias seguidos, para verificar a eficiência do relógio. O mesmo
procedimento se repetiria na Jamaica, a fim de saber a diferença horária entre a viagem.
Nesse contexto, conforme aponta Dash (2002), quando o Deptford atracou na Jamaica,
buscou-se, a todo modo, a realização da leitura da hora local. Todavia, com o tempo nublado e
que em 25 de janeiro de 1762, quando declarada a guerra contra a Espanha, tiveram que
embarcar para a Inglaterra no dia 28 de janeiro. Assim, aceitaram que a longitude da Jamaica –
a que aparecia nos mapas – “[...] o erro do relógio seria de cinco segundos. Um desempenho
triunfal, inacreditável mesmo” (DASH, 2002, p. 107).
O Prêmio da Longitude foi criado quando Harrison tinha 18 anos e lhe foi entregue, a
segunda parte do pagamento, aos 80 anos, somente três anos antes de falecer, devido à
Comissão da Longitude ficar solicitando testes e contraprovas. Atribuído a isso, a classe
econômica de Harrison, um plebeu sem instrução, de um lugar qualquer no norte do país,
acabou atrasando o reconhecimento a ele. Hoje, é reconhecido por inventar o “cronometro
marítimo”, permitindo as navegações de longas distâncias, desvendando o problema de
determinação da longitude.
Os conhecimentos e produtos cartográficos sempre foram aliados da Geografia por
permitir um conhecimento do território, suas características, semelhanças e diferenças. A
resolução do problema da longitude colaborou com a determinação absoluta da posição,
81
PRESSUPOSTOS SIGNIFICADO
Era fundamental que a Terra fosse conhecida para que fosse
a) o conhecimento efetivo da extensão real pensada de forma unitária em seu estudo. O conhecimento da
do planeta dimensão e da forma real dos continentes era a base para a ideia
de conjunto terrestre.
Os dados referentes aos pontos mais diversificados da superfície,
b) existência de um repositório de ou seja, a existência de um repositório de informações. Tal
informações condição colaborou para a formação de uma base empírica na
Geografia para a comparação com evidências.
Para o surgimento de uma Geografia unitária, residia o
aprimoramento das técnicas cartográficas, o instrumento por
c) aprimoramento das técnicas
excelência do geógrafo. Era necessário haver possibilidade de
cartográficas
representação dos fenômenos observados e da localização dos
territórios.
Uma primeira valorização do temário geográfico vai ocorrer na
discussão da Filosofia. As correntes filosóficas do século XVIII
vão propor explicações abrangentes do mundo; formulam
sistemas que buscam a compreensão de todos os fenômenos do
real. A finalidade geral de todas as escolas, neste período, será a
d) mudança filosófica e cientifica afirmação das possibilidades da razão humana explicar a
realidade. Esta postura progressista insere-se no movimento de
refutação dos resquícios da ordem feudal, pois esta se apoiava
numa explicação teológica do mundo. Propor a explicação
racional do mundo implicava deslegitimar a visão religiosa, logo,
a ordem social por ela legitimada.
O conhecimento geográfico alemão foi um fator decisivo para vencer a guerra, pelo
conhecimento cartográfico e geográfico do território. Keltie (1885) menciona a fala de Charles
Patrick Daly (1816-1899), que foi presidente da Sociedade Geográfica Americana (American
Geographical Society), a Guerra Franco-Prussiana foi:
[...] uma guerra travada tanto por mapas quanto por armas, e atribui o resultado a
movimentos militares hábeis, realizados por um exército familiarizado com todas as
características geográficas do país sobre o qual a guerra se movia. [...] nos ensina que,
83
se o destino de uma nação pode depender de uma batalha, uma batalha pode depender
de um conhecimento de Geografia20. (KELTIE, 1885, p. 473-474, tradução nossa).
O Sensoriamento Remoto (SR) pode ser definido como “[...] sendo a tecnologia que
permite a aquisição de informações sobre objetos sem contato físico entre eles” (NOVO, 2002,
p. 1). O conceito amplamente aceito é da Sociedade Americana de Fotogrametria e
Sensoriamento Remoto, como sendo “[...] a medição ou aquisição de informação de alguma
propriedade de um objeto ou fenômeno, por um dispositivo de registro que não esteja em
20
[Citação original] as a war fought as much by maps as by weapons, and attributes the result to skilful military
movements, performed by an army thoroughly acquainted with all the geographical features of the country over
which it war moved. [...] it teaches us that if the fate of a nation may depend upon a battle, a battle may depend on
a knowledge of geography (KELTIE, 1885, p. 473-474).
21
[Citação original] In no country has the progress of geographical education been greater than in France during
the last fourteen years (KELTIE, 1885, p. 449).
84
contato físico ou íntimo com o objeto ou fenômeno em estudo”. (COLWELL, 1983 apud
JENSEN, 2009, p. 3).
Existem conceituações mais detalhadas, focada no SR, adicionando mais qualificadores,
a fim de assegurar funções legitimas. Assim, de acordo com Jensen (2009),
A atmosfera absorve quase toda a energia eletromagnética emitida pela radiação solar,
cujo comprimento de onda é inferior a 0,3 µm, que inclui os raios gama, raios X e ultravioleta.
A maioria da radiação solar com comprimento de onda maior que 0,3 µm pode penetrar a
atmosfera e chegar à superfície terrestre. Assim, a maioria dos sensores são desenvolvidos para
registrar os sinais de energia eletromagnética refletida ou emitida no comprimento de onda do
85
Os sensores que medem a energia refletida da superfície são construídos na faixa de 0,4
a 3 µm, além dos que captam a energia na faixa dos 10 a 12 µm e são considerados passivos.
Na região de micro-onda, com comprimento de onda entre 0,4 mm e 0,4 m, incluem os sensores
passivos que medem a energia emitida pela superfície e os sensores ativos, que emitem uma
fonte artificial em uma determinada banda e medem sua intensidade de resposta (emitida e
refletida) (LIU, 2006).
Segundo Novo (2002), o “Manual de Sensoriamento Remoto” divide a história do SR
em dois principais períodos: de 1860 a 1960, o SR era baseado na utilização de fotografias
aéreas e, até os dias atuais, pela multiplicidade de sistemas sensores. Do mesmo modo, Liu
(2006), detalha o desenvolvimento da técnica de SR podendo ser dividido em dois momentos:
“[...] uma antes do lançamento do primeiro satélite, pelos Russos, em 04 de outubro de 1957,
em que a técnica de fotografia aérea era a única técnica e a outra, após essa data, em que os
diversos sensores satélites foram desenvolvidos com o rápido avanço do programa espacial”
(LIU, 2006, p. 31).
Um recurso que contribuiu para o aperfeiçoamento da Cartografia foi o surgimento das
imagens aéreas, que, até hoje, são uma ferramenta poderosa para retratar a terra com maior
precisão. De acordo com Marchetti e Garcia (1986, p. 13), “A palavra Fotogrametria, deriva de
três palavras de origem grega, tem o seguinte significado: luz, descrição e medidas”.
Segundo Wolf e Dewitt (2000, p. 1, tradução nossa), Fotogrametria pode ser definida,
conforme a Associação Americana de Fotogrametria e Sensoriamento Remoto como sendo
“[...] a arte, ciência e tecnologia de obter informações confiáveis sobre objetos físicos e o meio
86
Ele tinha a percepção de que a fotografia aérea poderia ter uma importante
contribuição no futuro, e em 23 de outubro de 1858, patenteou aquilo que chamamos
de levantamento aéreo – o mapeamento a partir de uma série de fotografias aéreas
sobrepostas. Ainda em outubro de 1858 ele subiu num balão cativo sobre Paris para
obter a primeira fotografia aérea. Nadar teve algumas dificuldades para registrar a
fotografia, pois o gás que escapava da boca do balão tirava a sensibilidade da emulsão
úmida da placa de vidro, mas finalmente ele teve êxito com uma fotografia sobre o
Val de Bievre nos arredores de Paris. (JENSEN, 2009, p. 68-69).
22
[Citação original] [...] the art, science, and technology of obtaining reliable information about physical objects
and the environment through processes of recording, measuring and interpreting photographic images and patterns
of recorded radiant electromagnetic energy and other phenomena (WOLF, DEWITT, 2000, p. 1).
87
A primeira utilização efetiva de fotografias aéreas como saber estratégico militar foi
durante a Guerra Civil dos EUA (1861-1865), quando o exército do norte tomou fotografias
das instalações de defesa do exército sulino, porém inexistia uma tecnologia para ampla
utilização (ANDERSON; RIBEIRO, 1982). Câmeras aéreas conduzidas por pipas também
foram utilizadas para a obtenção de fotografias. Segundo Jensen (2009, p. 71-72), “fotografias
aéreas de câmeras presas a pipas foram obtidas pela primeira vez pelo francês Arthur Batut. Em
1980 ele publicou o livro ‘a fotografia aérea por pipas’ em que propunha o uso da fotografia
aérea para o explorador, [...], o arqueólogo, [...] e o agrônomo, [...]”.
Em 1903, Julius Neubronner patenteou uma câmera atada ao peito de pombos correios,
conforme a Figura 22. As fotografias eram tiradas automaticamente a cada intervalo de 30
segundos. Além disso, foram realizados experimentos com planadores no final do século XIX
e início do século XX (JENSEN, 2009). A evolução dos produtos aerofotogramétricos começou
a se intensificar com a invenção do avião, pelos irmãos Wright (JENSEN, 2009) ou por Santos
Dumont (BARROS, 2006), no início do século XX. As câmeras acopladas nas aeronaves,
principalmente no contexto entre a Primeira e Segunda Guerra Mundial colaboraram para uma
produção massiva de mapas e conhecimento topográfico, sobretudo na Europa e América do
Norte. Nesse sentido, Wolf e Dewitt (2000), colocam que:
A invenção do avião pelos irmãos Wright em 1902 forneceu o grande impulso para o
surgimento da fotogrametria aérea moderna. Até então, quase todo o trabalho
fotogramétrico era, pela falta de um meio prático de obtenção de fotos aéreas, limitado
à fotografia terrestre. O avião foi usado pela primeira vez em 1913 para obter
fotografias para fins de mapeamento. Fotos aéreas foram usadas extensivamente
durante a Primeira Guerra Mundial, principalmente em reconhecimento. No período
entre a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial, a fotogrametria aérea
para mapeamento topográfico progrediu até o ponto de produção em massa de mapas.
Nesse período, muitas empresas privadas e agências governamentais na América do
Norte e na Europa se envolveram em trabalhos fotogramétricos. Durante a Segunda
Guerra Mundial, técnicas fotogramétricas foram usadas extensivamente para atender
à grande nova demanda por mapas. A interpretação de fotos aéreas também foi
empregada mais amplamente do que nunca em reconhecimento e inteligência. Desse
programa de mapeamento acelerado pela guerra, surgiram muitos novos
desenvolvimentos em instrumentos e técnicas23. (WOLF, DEWITT, 2000, p. 3,
tradução nossa).
23
[Citação original] “The invention of the airplane by the Wright brothers in 1902 provided the great impetus for
the emergence of modern aerial photogrammetry. Until that time, almost all photogrammetric work was, for the
lack of a practical means of obtaining aerial photos, limited to terrestrial photography. The airplane was first used
in 1913 for obtaining photographs for mapping purposes. Aerial photos were used extensively during World War
I, primarily in reconnaissance. In the period between World War I and World War II, aerial photogrammetry for
topographic mapping progressed to the point of mass production of maps. Within this period many private firms
and government agencies in North America and in Europe became engaged in photogrammetric work. During
World War II, photogrammetric techniques were used extensively to meet the great new demand for maps. Air
photo interpretation was also employed more widely than ever before in reconnaissance and intelligence. Out of
this war-accelerated mapping program came many new developments in instruments and techniques” (WOLF;
DEWITT, 2000, p. 3).
88
Figura 22 – Pombos como plataformas de imageamento aéreo (A) e fotografia aérea obtida por um pombo (B).
Figura 23 – Imagem aérea feita de um avião britânico mostra trincheiras cavadas na Frente Ocidental, em junho
de 1917.
Segunda Guerra Mundial, conforme as palavras do Chefe do Estado Maior do Exército Alemão,
o General Werner von Fritsch, em 1938, o qual afirmou que “A nação com a melhor tecnologia
de foto-reconhecimento vencerá a próxima guerra24” (ARONOFF, 2005 , p. 15, tradução
nossa). Segundo Liu (2006), o uso crescente de fotografias aéreas incentivou o aprimoramento
do SR. Durante a Segunda Guerra Mundial, “[...] as técnicas de fotografia aérea do
infravermelho termal e radar de microonda ativa foram desenvolvida” (LIU, 2006, p. 31), o que
colaborou para identificar tropas e veículos camuflados em campo de batalha.
Segundo Wolf e Dewitt (2000), os avanços na instrumentação e técnicas na
fotogrametria:
[...] continuaram em ritmo acelerado nos últimos 50 anos. Os muitos avanços [...] eles
permitiram que a fotogrametria se tornasse o método mais preciso e eficiente
disponível para compilar mapas e gerar informações topográficas. As melhorias
afetaram todos os aspectos da ciência e incorporam muitos novos desenvolvimentos,
como os de óptica, eletrônica, computadores e tecnologia de satélite 25. (WOLF;
DEWITT, 2000, p. 3, tradução nossa).
Em 1947, teve início a Guerra Fria que foi um conflito ideológico entre duas potencias
mundiais – os EUA e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) – perdurando até
1991, com a extinção da União Soviética. Nesse contexto, o mundo vivia uma disputa de ordem
militar, social, econômica, política e tecnológica, envolvendo os dois países, cuja finalidade era
demonstrar à população qual sistema econômico seria o mais adequado para ser implantado.
Em algumas situações, por mais delicadas que pudessem ser, como os mísseis em Cuba
apontados para território estadunidense, a guerra nunca veio as vias de fato.
Assim, ocorreram inúmeros avanços tecnológicos para demonstrar a supremacia dos
países envolvidos. Entre 1957 e 1975, ocorreu a corrida espacial, por uma questão de soberania
nacional e superioridade tecnológica, EUA e URSS disputaram o pioneirismo na exploração
espacial. O termo corrida espacial se refere ao pioneirismo buscado por ambos os países no
lançamento de satélites artificiais, voos espaciais suborbitários e orbitais e viagens tripuladas à
Lua.
O primeiro satélite lançado foi o Sputnik, lançado em 4 de outubro de 1957, pela União
Soviética, de uma base no Cazaquistão, durante a Guerra Fria. Outros quatro satélites da missão
24
[Citação original] A nation with the best photo-recognition technology will win in the next war (ARONOFF,
2005, p. 15).
25
[Citação original] [...] have continued at a rapid pace during the past 50 years. The many advancements [...] they
have enabled photogrammetry to become the most accurate and efficient method available for compiling maps
and generating topographic information. The improvements have affected all aspects of the science, and they
incorporate many new developments such as those in optics, electronics, computers and satellite technology
(WOLF; DEWITT, 2000, p. 3).
91
Sputnik foram lançados – Sputnik 2, 3, 4 e 5 – entre 1957 e 1960. Seis meses após o lançamento
do Sputnik 1, os soviéticos foram responsáveis por colocar o primeiro ser vivo no espaço sideral,
a cadela Laika, a bordo do Sputnik 2 (TÔSLO et al., 2014).
Os EUA lançaram o segundo satélite, chamado de Explorer 1, no dia 31 de janeiro de
1958. Como consequência dessa corrida espacial, os Estados Unidos criaram uma agência
espacial civil, a Agência Espacial Americana (NASA), responsável pela condução do programa
espacial do país. A primeira fotografia obtida por satélite deu-se pelo Explorer 6, da NASA, em
7 de agosto de 1959, porém, os sensores radiômetros falharam ao registrar os valores digitais
(LIU, 2006; TÔSLO et al., 2014).
O primeiro satélite destinado exclusivamente para fins meteorológicos foi o Television
and Infrared Observational Satellite (TIROS 1), lançado em 1 de abril de 1960, foi o vigésimo
segundo lançado pelos EUA. A primeira imagem que mostra o globo terrestre e os sistemas de
circulação atmosférica foi produzida pelo TIROS 1. Sua vida útil durou somente 79 dias, porém,
gerou 23 mil imagens (LIU, 2006).
Os satélites de monitoramento de recursos ambientais, tais como o da série Land
Satellite (LANDSAT) e o Satellite Pour l'Observation de la Terre (SPOT) são destinados a
monitorar recursos naturais do planeta. Desde 1972 foram lançados 8 satélites, mas o
LANDSAT 6 não foi lançado com sucesso. O SPOT 1 foi lançado em 22 de fevereiro de 1986,
e depois dele foram lançados o SPOT 2, 3, 4, 5 e 6. Segundo Liu (2006):
Como foi exposto até aqui, o homem sempre esteve interessado em saber o local que
estava, inicialmente restrito à vizinhança imediata de seu lar, ampliando, posteriormente, para
os locais comerciais, até o mundo inteiro, com as grandes navegações. Para a conquista de
novas fronteiras era necessário que o deslocamento das embarcações fosse seguro, exigindo
domínio sobre a arte de navegar, ou seja, saber ir de um local a outro e determinar a posição
geográfica, em terra ou no mar. O Sol, planetas e estrelas foram ótimas fontes de orientação,
porém, a habilidade do navegador e as condições climáticas poderiam significar a diferença
entre sucesso ou fracasso de uma expedição (MONICO, 2008). Sobre os instrumentos de
localização ou orientação, Monico (2008) coloca que o surgimento da bússola:
93
(Global Navigation Satellite System – Sistema Global de Navegação por Satélite), termo
concebido em 1991, durante a 10ª Conferência de Navegação Aérea, quando a Associação
Internacional de Aviação Civil reconheceu como fonte primaria para a navegação aérea do
século XXI como sendo o GNSS (MONICO, 2008).
A sociedade civil começou a utilizar o sistema GPS durante a década de 1980, para fins
de posicionamento geodésico, navegação, aviação e, posteriormente, servindo de apoio para
pesquisas e aplicações cada vez mais diversificadas (RAFFO, 2011). A concepção desse
sistema permite ao seu usuário, em qualquer lugar da superfície terrestre ou próximo a ela, tenha
a sua disposição pelo menos quatro satélites para o posicionamento em tempo real. Para
determinar o posicionamento, isto é, latitude, longitude e altitude, que está associado a um
elipsoide de revolução (WGS-84), é necessário possuir a distância entre o usuário (que está com
o receptor26 GNSS) e os satélites. Para isso, do ponto de vista geométrico, é possível obter
informações do posicionamento na Terra utilizando somente três satélites, ou seja, possuir a
distância do usuário a cada um dos satélites, desde que eles não pertençam ao mesmo plano.
Entretanto, o quarto satélite é fundamental para a correção da não-sincronia entre os relógios
presentes nos satélites e no receptor do usuário.
Nesse sentido, segundo Monico (2008):
Para o correto funcionamento do sistema GPS, ele está organizado em três segmentos:
o espacial, o de controle e o do usuário, conforme ilustrado na Figura 24. O segmento espacial
é composto por uma constelação de 24 satélites MEO (Medium Earth Orbits – Satélites em
Órbita Média) operacionais, distribuídos em seis planos orbitais, igualmente espaçados (Figura
25), com quatro satélites em cada plano, orbitando o planeta Terra em uma altitude de 20.200
km. Os planos orbitais são inclinados 55° em relação ao Equador e o período orbital é de cerca
de 12 horas siderais (MONICO, 2008). Além dos 24 satélites que configuram o mínimo para o
26
São equipamentos que convertem as ondas de rádio vindas dos satélites a fim de determinar a posição geográfica
(latitude, longitude e altitude) do usuário.
95
funcionamento do GPS, existem, também, quatro satélites reservas caso ocorra algum problema
ou manutenção de determinado satélite ativo. Essa configuração em órbitas faz com que exista
um recobrimento de, ao menos, quatro satélites em qualquer ponto do planeta.
Figura 26 – Recursos do “GPS Essentials”: painel de ferramentas (A), bússola (B), quantidade de satélites
visíveis e utilizados29 (C) e visualização em um mapa base (D).
A partir do exposto até aqui, pode-se afirmar que os dispositivos de comunicação móvel
colaboraram para a difusão da tecnologia do GPS. Além das aplicações já mencionadas, a
27
Em 01 de maio de 2000 foi desativado do sistema GPS o fator S/A (Selective Availability – Disponibilidade
Seletiva), que degradava, intencionalmente, os sinais públicos do GPS, por razoes de segurança. A partir dessa
data, a precisão dos levantamentos civis fora melhorada consideravelmente.
28
O GPS assistido (A-GPS) é um sistema que pode utilizar a rede de telefonia móvel ou redes Wi-Fi para calcular
as coordenadas da posição atual, quando os sinais de rádio advindos do segmento espacial estiverem fracos.
29
O círculo externo (representado pela cor vermelha), representa os satélites que estão próximos ao horizonte,
enquanto o círculo interno (azul), demonstra os satélites que estão 45° em relação ao horizonte.
98
No século XX, marcado por inúmeros conflitos entre países, não se pode negar os
avanços significativos para a ciência, de um modo geral. A evolução da Cartografia, com a
utilização de imagens aéreas e orbitais promoveram uma maior agilidade no mapeamento,
vinculado ao desenvolvimento e a utilização de receptores GNSS, ampliando a precisão dos
produtos cartográficos. No entanto, o desenvolvimento da informática foi fundamental para o
tratamento de imagens e levantamentos por GNSS.
Sobre a história do computador, Machado (2019) aborda que:
[...] tecnologia que possibilitou grandes avanços para a humanidade. Ela tem seu
início com a ideia remota do ábaco, em 2000 a.C., usado como instrumento de
realização de cálculos. Posteriormente, Leonardo da Vinci, em 1500, inventou a
primeira máquina que permitia a realização de operações matemáticas, além de outras
invenções no campo das tecnologias, ciência e arte. (MACHADO, 2019, p. 16).
Contudo, o modelo teórico de computador que conhecemos hoje, tem sua origem nas
pesquisas de Turing, utilizando algoritmos, nas quais simulavam um sistema operacional.
Turing iniciou os estudos com a ideia de poder exprimir a escrita e a leitura dos símbolos
binários, emitidos por uma máquina equipada com uma fita, estipulado para expressar as
operações matemáticas realizadas. Somente em 1946, com Von Neumann, desenvolveu-se a
arquitetura base dos computadores, ou seja, os softwares, dados e armazenamento (CURY;
CAPOBIANCO, 2011).
Em meados dos anos de 1970, desenvolveu-se um período histórico caracterizado pelo
maior aperfeiçoamento da tecnologia que já havia sido desenvolvida ao longo dos tempos. No
cenário em destaque, desponta a empresa Apple, fundada em 1976, pelo famoso Steve Jobs, e
a Microsoft, no mesmo ano, fundada por Bill Gates e Paul Allen (CURY, CAPOBIANCO,
2011). Essas empresas se dedicaram à produção e venda de computadores e softwares. Nesse
contexto, tem-se o início do mercado tecnológico, impulsionado pela fabricação de sistemas
operacionais, componentes eletrônicos, periféricos, programas para computadores, e-mail,
99
jogos e navegadores para internet. De acordo com Machado (2019, p. 20), “A década de 1980
é marcada pelo computador como a principal revolução tecnológica, propiciando o
desenvolvimento das telecomunicações por meio da conexão via internet”.
Nesse contexto, segundo Menezes e Fernandes (2013, p. 194), “Uma das áreas que
apresentou um profundo impacto com o desenvolvimento dos computadores, foi, sem dúvida,
a Cartografia”. Esse fato é nitidamente comprovado nas três últimas décadas pela criação e o
aperfeiçoamento dos equipamentos que viriam a permitir uma representação gráfica de
informações (MENEZES; FERNANDES, 2013).
Assim, com o surgimento dos sistemas de Desenhos Assistidos por Computador (CAD)
ou Projetos Assistidos por Computador (CADD), que utilizavam programas para a confecção
de desenhos em meios digitais, alavancou o desenvolvimento da Cartografia. Deste modo,
alguns termos começaram a surgir na década de 1980, designando esforços para o tratamento
computacional das informações, como Cartografia Automatizada30, Cartografia Apoiada por
Computador, Cartografia Assistida por Computador (CAC) ou Mapeamento Assistido por
Computador (CAM), além do Mapeamento Automatizado e Gerenciamento Facilitado
(AM/FM), que se baseiam na utilização da computação (hardware e software) para a geração
de mapas (FITZ, 2008a; MENEZES, FERNANDES, 2013). O Quadro 2 apresenta a
diferenciação destes sistemas aplicados à Cartografia.
De acordo com Teixeira e Gerardi (1986), a expressão Cartografia Assistida por
Computador (CAM) aparece como a nomenclatura mais correta para a utilização do
computador na Cartografia, já que sugere um uso criativo da máquina pelo técnico, permitindo
a criação de rotinas para auxiliá-lo em tarefas repetitivas que demandam tempo. Dentre os
principais aspectos que justificam a aplicação dos computadores são, segundo Teixeira e
Gerardi (1986):
30
Considera-se a Cartografia Automatizada um equívoco conceitual já que, a partir do momento que uma ação
humana passa a ser parte decisiva de um sistema, não se pode falar deste sistema como automático (TEIXEIRA,
GERARDI, 1986).
100
Posto isso, qualquer pessoa com software de Cartografia, bem como um hardware para
processamento gráfico, é capaz de gerar mapas com uma boa aparência. O que se vê, até hoje,
é a popularização da ciência cartográfica, em que mais e mais pessoas passam a trabalhar com
Cartografia, apoiada nos sistemas computacionais, porém, sem o embasamento cartográfico
necessário. Essa popularização é importante, pois muito foi desmitificando, permitindo uma
divulgação de mapas e outros documentos cartográficos, disseminando a informação geográfica
(MENEZES; FERNANDES, 2013).
O surgimento destes softwares voltados à Cartografia, atrelados à produção de
equipamentos para serem utilizados no ambiente cartográfico (mesas digitalizadoras, plotters
coloridos e scanners de grande formato), juntamente com a renovação do conhecimento para
adequar a tecnologia computacional aos conteúdos da ciência cartográfica, como a restituição
analítica, procedimentos de digitalização, scannerização, tratamento digital de imagens, entre
outros (MATIAS, 1996), deram origem a Cartografia Digital31.
Nos dias atuais, o que mais se utiliza para tratar informações espaciais é o conhecimento
como Sistema de Informação Geográfica (SIG), no inglês, Geographical Information System
(GIS). Leão Neto (1998) conclui que:
31
Segundo Menezes e Fernandes (2013, p. 194), “Pode-se, então, definir Cartografia digital, como a Cartografia
tratada e assistida por processos computacionais, através de hardware e software apropriados ou adaptados”.
101
Em um estudo sobre o conceito de SIG, Maguire (1991) apresenta onze autores para
defini-lo, porém, de acordo com o mesmo, o elevado número de conceitos e objetivos do SIG
se deve a heterogeneidade dos indivíduos e as organizações que utilizam suas aplicações.
Conforme Leão Neto (1998), tentar encontrar uma conceituação de SIG é uma tarefa difícil,
pois não é somente “[...] um conceito utilizado por um vasto e heterogéneo campo de áreas
disciplinares (planejamento regional e urbano, ambiente, agricultura, computação, geografia,
etc.), como também pela razão de existirem várias e diferentes formas para definir e classificar
objectos [...]” (LEÃO NETO, 1998, p. 7).
De acordo com Maguire (1991, p. 12, tradução nossa), “A relação entre o SIG e o
desenho assistido por computador, cartografia computacional, gerenciamento de banco de
dados e sistemas de informação de sensoriamento remoto são importantes para estabelecer uma
definição de SIG32”. Pretendendo-se chegar a uma definição geral de SIG, é importante
estabelecer a relação entre ele e os outros sistemas computacionais, como o CAD, a gestão de
base de dados e a detecção remota. Assim, é afirmado, muitas vezes, que os SIG são um
superconjunto de todos esses sistemas (LEÃO NETO, 1998), conforme exposto na Figura 27.
Se tratando os sistemas que vão compor o SIG, o CAD tem por objetivo desenhar objetos
em um ambiente gráfico que utiliza simbologia ou cores no processo de criação do desenho.
Todavia, não possui grande conexão com base de dados (LEÃO NETO, 1998). Já o Banco de
Dados Geográfico (BDG) é um conjunto de dados geográficos inter-relacionados e possui
procedimentos que permitem acesso a eles. O objetivo central desses bancos são viabilizar o
armazenamento e a recuperação eficiente dos dados. Entretanto, os BDG possuem capacidade
limitada para trabalhar com dados gráficos e realizar operações analíticas, o que é uma
qualidade dos SIG (MENEZES; FERNANDES, 2013).
32
[Citação original] “The relationship between GIS and computer-aided design, computer cartography, database
management and remote sensing information systems is important in establishing a definition of GIS”
(MAGUIRE, 1991, p. 12).
102
Assim, os SIG se destacam em relações aos sistemas mencionados, visto que reúnem as
capacidades que suprem as deficiências das outras, como a limitação geométrica dos BDG e a
sua interligação com produtos do SR (MENEZES; FERNANDES, 2013). Nesse contexto, de
acordo com Leão Neto (1998):
[...] os SIG têm um conjunto de características que não encontramos nos outros
sistemas (as suas capacidades para manipular uma grande quantidade de informação
espacial variada e associá-la a informação de carácter não espacial, pelo recurso a
métodos de análise específicos). Ou seja, estes sistemas conservam a descrição das
relações topológicas entre os elementos espaciais, o que lhes permite realizar funções
de análise espacial do tipo: proximidade, contiguidade, inclusão, etc. Assim, a
principal característica dos SIG parece ser a sua ênfase em operações analíticas sobre
dados com carácter espacial. (LEÃO NETO, 1998, p. 11-12).
Sobre a conceituação de SIG, Longley et al. (2013, p. 13) destacam que “[...] são
sistemas computacionais feitos para armazenar e processar informação geográfica. Eles são
ferramentas que melhoram a eficiência e efetividade do tratamento da informação de aspectos
e eventos geográficos”. Já Fitz (2008a) coloca que são sistemas computacionais que possuem
ferramentas para a coleta, o armazenamento, o processamento e a análise digital de dados
georreferenciados, visando à produção de informação espacial. O Quadro 3 apresenta algumas
definições de SIG existentes na literatura. Com base nos conceitos apresentados, é possível
103
observar que são bastante amplos e gerais, contemplando duas características fundamentais: a
manipulação e a análise de informações geográficas.
A história moderna dos SIG data do início da década de 1980, com a queda do preço
dos computadores potentes, se tornando mais acessível a população. Além disso, o
desenvolvimento da internet foi fundamental para a maioria dos aspectos dos SIG, visto que
trabalham integradamente, por meio da colaboração entre usuários e sites (LONGLEY et al.,
2013). Nesse sentido, a rede se configura como uma peça-chave para a anatomia destes
sistemas, conforme a Figura 28.
104
Para Burrough (1986), o software dos SIG, consistem, basicamente, por cinco
componentes: a entrada e verificação da informação; o armazenamento e gestão da informação;
a transformação dos dados; interação com o utilizador e a saída e apresentação dos resultados.
Menezes (2000) apresenta os componentes de um software mais detalhadamente, conforme
ilustrado na Figura 29.
Deste modo, é possível visualizar que a entrada de dados contempla arquivos das mais
variadas fontes, como mapas já confeccionados, tabelas alfanuméricas, dados coletados em
trabalhos de campo por meio de dispositivos GNSS, dados de outras bases digitais, como por
exemplo shapefiles33 de instituições oficiais ou, ainda, mapas de base digitais como do Google
Maps ou Satélite (https://www.google.com.br/maps/, acesso em: 15 jul. 2020), OpenStreetMap
(https://www.openstreetmap.org/, acesso em: 15 jul. 2020) e Bing Maps
(https://www.bing.com/maps, acesso em: 15 jul. 2020). Além disso, é possível adicionar
imagens advindas de sensores remotos, orbitais ou aerotransportados e, mais recentemente, com
as Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP), que permitem o usuário a realizar o seu próprio
levantamento.
Após a entrada destas informações no ambiente SIG, ocorre a conferência do sistema de
coordenadas (datum horizontal). Nesse sentido, tem-se a necessidade do usuário, no manuseio
do programa, recuperar e armazenar informações, além de manipular o sistema com uma série
de ferramentas, para cumprir o objetivo proposto. Por fim, tem-se a saída dos dados em formas
de mapas, quantificações de área, perímetro, distâncias, entre outros, além de produtos
estatísticos e fotogramétricos ou, ainda, arquivos que serão exportados para outros softwares
ou bases digitais.
Tratando-se da estrutura dos dados que são suportadas dentro do SIG, concebe-se a
existência de dois tipos de dados: os dados espaciais e os dados alfanuméricos. Os dados
espaciais são divididos em arquivos vetoriais e estruturas matriciais (raster). Segundo Fitz
(2008b, p. 53-54), “A estrutura vetorial (vector structure) é composta por três primitivas
gráficas (pontos, linhas e polígonos) e utiliza um sistema de coordenadas para a sua
representação”. Os pontos são materializados por um par de coordenadas (latitude e longitude),
enquanto as linhas necessitam de, no mínimo, dois pontos para sua construção, pois o início e
o fim são pontos (com coordenadas conhecidas). Por fim, o polígono ou área, necessita de, no
mínimo, três pontos para ser utilizado, desde que o primeiro e o último ponto sejam os mesmos.
A Figura 30 ilustra a representação vetorial.
Ressalta-se, portanto, que um objeto pode ser representado por ponto ou por polígono e
que a escolha do método de representação está diretamente relacionada com a escala
cartográfica do mapeamento. Por exemplo, para representar a área urbana de Santa Maria em
um mapa com todo o território nacional, o recomentado é uma implantação pontual, visto que
33
São utilizados para representar as mais variadas feições, como cidades, municípios, rodovias e rios, por meio de
pontos, linhas e polígonos, sendo proporcionalmente representados pela escala cartográfica. Os shapefiles são o
formato mais recorrente para arquivos vetoriais que são reconhecidos por SIG.
107
uma poligonal não será visível na escala do mapa em questão (pequena). No entanto, se fosse
um mapa da área urbana do município, que apresenta uma escala cartográfica grande quando
comparada ao mapa do Brasil, deverá possuir uma representação poligonal, com detalhamento
das ruas, rodovias e bairros que a compõe, ou seja, com um nível maior de detalhamento. Essa
comparação está ilustrada na Figura 31.
Figura 31 – Representação pontual (A) e poligonal (B) da área urbana de Santa Maria, em uma escala pequena e
o nível de detalhamento em escala grande (C).
RASTER VETORIAL
Traduzem imagens digitais matriciais geradas por Traduzem imagens vetorizadas, composta por pontos,
sensoriamento remoto e processos de escanerização. linhas e polígonos.
Execução de operações entre camadas ou layers de Execução de operações entre camadas ou layers de
mesma área e atributos distintos, é extremamente mesma área e atributos distintos, é bastante complexa
fácil é rápida. é demorada.
Vínculo com atributos alfanuméricos torna-se
Vínculo com atributos alfanuméricos é dificultado
facilitado, já que se dá através do ponto, linha ou
(pixel a pixel)
polígono registrado.
Resolução digital está vinculada diretamente a Resolução digital do mapa é limitada pela quantidade
quantidade de pixels da imagem, podendo requerer de vetores dispostos e de sua impressão,
processadores de grande capacidade e velocidade. proporcionando grande detalhamento.
Fronteira das imagens são descontínuas (efeito Fronteira das imagens são contínuas (feições
serrilhado). regulares).
Cálculo de distâncias e áreas se vinculam ao Cálculos de distância e áreas são, em geral,
desempenho do hardware simplificados, tornando o processo mais rápido.
[...]vários níveis, planos ou, ainda camadas de informações, conhecidos como layers.
Cada um destes níveis possui sua própria estrutura de dados. Essas formas de
representação permitem a utilização mais adequada daquelas camadas que interessam
ao usuário, facilitando a manipulação do conteúdo da plotagem ou impressão final.
(FITZ, 2008a, p. 100).
110
Nesse sentido, esse tipo de dado pode ser unido a uma representação vetorial, desde que
haja um atributo em comum com a tabela de dados e a camada vetorial em questão. Por
34
Finalização do mapa em um ambiente SIG se refere na adição de título, coordenadas, escala, legenda e
informações complementares.
111
Figura 33 – Representação vetorial poligonal dos municípios e planilha da população residente por municípios
do Rio Grande do Sul35.
35
O shapefile do Rio Grande do Sul por municípios foi adquirido no portal de mapas do IBGE
(https://portaldemapas.ibge.gov.br/portal.php#homepage, acesso em: 16 jul. 2020) e o dado populacional do Censo
Demográfico de 2010 está disponibilizado no SIDRA – Tabela 1378: População residente, por situação do
domicílio, sexo e idade, segundo a condição no domicílio e compartilhamento da responsabilidade pelo domicílio
(https://sidra.ibge.gov.br/tabela/1378, acesso em: 16 jul. 2020).
112
Figura 34 – Interface gráfica do QGIS: painel de camadas, visualização, tabela de atributos, coordenadas, escala
cartográfica e sistema de coordenadas.
36
A Cartografia Temática é discutida no próximo capítulo.
113
Figura 35 – Mapa da população residente por municípios no Rio Grande do Sul em 2010.
37
Em dezembro de 2019, algumas pessoas apresentaram pneumonia de origem desconhecida na cidade de Wuhan,
capital da província de Hubei, na China (GUAN et.al, 2020). Após algumas investigações, descobriu-se, então,
que se tratava de um novo Coronavírus, conhecido por causar infecções respiratórias agudas e graves (LI; LIN,
2013). Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS), observando sua rápida difusão pelo
mundo, acabou definindo a SARS-CoV-2 (Coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2) ou COVID-19
como uma pandemia (WHO, 2020).
38
Software desenvolvido pela empresa Google cuja função é apresentar um modelo tridimensional do globo
terrestre, resultado de mosaicagem de imagens de satélites e aéreas das mais variadas escalas, onde é possível
estimar área e distâncias, capturar coordenadas e criar pontos, linhas e polígonos.
114
mapeamentos, pela facilidade e agilidade associada a uma boa qualidade, além da possibilidade
de adicionar mapas base no ambiente SIG. Além disso, pode ser desenvolvida em contextos
educacionais, levando o aluno a uma melhor compreensão de um tipo de visão a qual não está
acostumado no dia a dia (visão vertical).
Figura 36 – Google Earth Pro: visualização do globo terrestre (A) e da área urbana de Santa Maria (B).
Termo que vem sendo empregado por diversos autores para denominar o conjunto de
tecnologias computacionais e os conhecimentos científicos que lhes são necessários
para realizar a aquisição, o tratamento e a produção de informações de forma
georreferenciada, congrega, portanto, o Sensoriamento Remoto, a Cartografia Digital,
o Sistema de Posicionamento Global (GPS) e o Sistema de Informações Geográficas
(SIG). (MATIAS, 1996, p. 64).
39
Alguns autores como Menezes e Fernandes (2013) apontam que a Cartografia possa ser dividida em: geral,
especial e temática. Segundo Duarte (1991, p. 133), “A questão toda gira em torno do fato de se saber o que seja
um ‘assunto especial’ ou um ‘tema’”.
40
Para este trabalho, adotou-se a divisão da Cartografia em Cartografia de Base (Sistemática ou Geral) e Temática.
118
pessoa denota algo, isto é, o indivíduo falará que o desenho se parece com determinada coisa,
de acordo com seu subjetivo e vivências, levando a inúmeras interpretações41.
Sobre isso, Martinelli (2016) diz que:
41
Por curiosidade, a Figura 38B foi criada se baseando no jogo Pinball, cujo objetivo é manipular duas palhetas
evitando que a bolinha caia no espaço da parte inferior do game.
121
claro ao escuro. Segundo Joly (2013, p. 14), “[...] é resultado de uma adição à cor pura ou cor
‘chapada’ de uma certa quantidade de branco que enfraquece a tonalidade”.
Por sua vez, a variável visual cor é a mais chamativa de todas, podem ser utilizadas as
cores puras do espectro eletromagnético ou por combinação de cores. Podem servir para
delimitar áreas distintas, com cores bem diferentes ou, ainda, representar ordem, com cores que
vão do claro ao escuro (degradê) ou vice-versa. Consequentemente, é aplicada para representar
relações de diversidade e ordem.
A terceira variável se refere a forma que os elementos são espacializados no mapa. Pode
ser um círculo, uma cruz, um triângulo ou uma estrela para representar diversidade (percepção
dissociativa) ou formas semelhantes para uma percepção associativa42 (≡). A variável
orientação está atrelada a rotação dos elementos, podendo dispor-se horizontal, vertical ou
obliquamente. Na ausência da cor (mapa em escala de cinza), ganha destaque para
representações zonais que representam diversidade. Por fim, a granulação se refere a aplicação
de texturas, variando de texturas finas a mais grosseiras, mas sem a modificação do tamanho e
cor. Normalmente é utilizada para representar ordem, como exemplificado no Quadro 6.
Os seis tipos de variáveis visuais são aplicados dependendo da finalidade do que se
pretende representar. Deste modo, algumas variáveis são mais utilizadas para representações
de diversidade (qualitativas), principalmente a cor e orientação, a variável visual tamanho para
a proporcionalidade (quantitativo) e para determinar uma ordem, o valor e granulação. Destaca-
se, que essas variáveis podem ser aplicadas a modos de implantações pontuais, lineares e zonais.
A Figura 38 ilustra a aplicação das variáveis visuais de acordo com os modos de implantação e
suas propriedades perceptivas.
42
Segundo Martinelli (2014a, p. 8-9), na percepção associativa (≡) “A visibilidade é constante: afastando-se da
vista, formas, granulações e cores de mesmo valor visual e orientações não somem, porém se confundem (forma,
granulação, série de cores de mesmo valor visual, orientação) ”.
122
Figura 38 – Aplicação das variáveis visuais em representações pontuais, lineares, poligonais e suas propriedades
perceptivas.
43
[Citação original] “[...] are avaliable at a nominal (qualitative) scale, we can symbolize them with the
differentiating visual variables. These variables include shape, hue (color), and orientation. All these visual
variables are useful in portraying point data” (ROBINSON et al., 1995, p. 480, grifos no original).
44
Dependendo da escala cartográfica do mapa, os temas mencionados podem ser implantados por polígonos.
124
Figura 39 – Mapa das instituições de ensino (estaduais, municipais e particulares) na área urbana de Santa Maria,
em 2018.
[...] a espessura do traço tem um significado simbólico, haja vista que sua largura, em
muitos mapas, são tem relação com a escala do documento. Isso acontece
principalmente com mapas em escalas pequenas, como por exemplo 1:1.000.000, em
que 1 milímetro da espessura do traço representaria 1 quilômetro na realidade.
(DUARTE, 2002, p. 185).
entre as demais classes do mapa, como, por exemplo, em um mapa de vegetação, as cores
utilizadas devem apresentar diversidade entre Cerrado, Caatinga e Pampa, pois são formações
vegetais distintas. Nesse sentido, Ramos (2005, p. 27) coloca que “Esse tipo de representação
é utilizado para fenômenos em escala de mensuração nominal (qualitativos), que não correm
seguindo limites preestabelecidos (como limites políticos-administrativos)”. Além disso,
variável visual orientação também pode ser aplicada para a distinção entre objetos em
representações qualitativas.
Pode-se dizer que os mapas corocromáticos qualitativos são um dos mais utilizados em
aulas de Geografia na Educação Básica, pois servem para uma ilustração inicial de determinada
temática, fazendo com que o aluno perceba a presença da variável em questão, assim como sua
extensão e localização. Utiliza-se a representação qualitativa poligonal para manifestação de
vegetações, biomas, domínios morfoclimáticos, climas, regionalizações, abrangência de fusos
horários, bacias hidrográficas, entre outros.
O Quadro 7 apresenta algumas aplicações das variáveis visuais para representações
qualitativas pontuais, lineares e poligonais. Nesse sentido, observa-se que a forma foi utilizada
para transcrever graficamente os diferentes tipos de minerais e sistema viário, demonstrando
que o ouro é diferente do ferro que, por sua vez, é diferente do alumínio, assim como a rodovia,
ferrovia e hidrovia são diferentes entre si na manifestação linear. A variável cor também poderia
ser aplicada, como utilizada para as formações vegetais, porém, sem que houvesse uma
transição de cores claras para escuras para não apresentar ordem.
Quadro 7 – Aplicação das variáveis visuais forma e cor para representações qualitativas pontuais, lineares e
poligonais.
Figura 40 – Mapa da hierarquia das rodovias (pistas duplas, em duplicação e simples) na área urbana de Santa
Maria (RS), em 2020.
Quadro 8 – Aplicação da variável visual valor para representações ordenadas pontuais, lineares e poligonais.
45
A Escala de mensuração ordinal “[...] atribui valores ou nomes para as amostras, mas gera um conjunto ordenado
de classes, baseado em critérios como tamanho (maior do que, menor do que), altura (1 = baixo, 2 = médio, 3 =
alto), etc.” (CÂMARA, MONTEIRO, 2001, p. 5).
46
[Citação original] “[...] when data are avaliable at an ordinal or higher measurement scale, we can symbolize
them with the ordering visual variables. These variables include size, value (color) and chroma (color)
(ROBINSON et al., 1995, p. 480, grifos no original).
129
Figura 41 – Mapa do número de residentes de 13 a 17 anos de idade por bairro na área urbana de Santa Maria
(RS), em 2010.
Sobre a implantação linear quantitativa, Robinson et al. (1995, p. 484, tradução nossa)
colocam que: “As principais variáveis visuais de tamanho e valor (cor) são usadas para
simbolizar os recursos recebidas como linhas47 [...]”. Todavia, essa discussão é realizada na
seção de mapas de fluxos.
Para a manifestação de dados quantitativos em unidades geográficas (áreas), o método
dos pontos de contagem ou densidade de pontos permite representar informações quantitativas
absolutas em áreas. Segundo Martinelli (2014a, p. 46), a contagem dos pontos é “[...] ideal para
a representação de fenômenos com um padrão de dispersão, como é o caso da população rural.
Considera-se um número de pontos iguais, distribuídos adequadamente na área de ocorrência –
proporcional à quantidade absoluta ser representada”. Para isso, cada ponto irá equivaler a um
dado unitário. Por exemplo, tratando-se do método de pontos de contagem e cada ponto
equivale a 10 habitantes (1 ponto = 10 habitantes), os distritos X, Y e Z possuem 50, 20 e 80,
47
[Citação original] “The primary visual variables of size and value (color) are used to symbolize features con-
ceived as lines”. (ROBINSON, 1995, p. 484).
130
respectivamente. Logo, na área do distrito X, será distribuído cinco pontos com posição
(latitude e longitude) aleatória, no distrito Y dois pontos e no distrito Z, oito pontos.
Contudo, o modo mais utilizado para a representação de informações quantitativas em
áreas é conhecido como método coroplético. Para Ramos (2005):
A palavra coroplética vem do grego choros (área) e pletos (valor). Nesse tipo de
representação, diferentes valores são atribuídos a unidades de área. Os valores da série
de dados a ser mapeada são submetidos a um processo de classificação e as classes
obtidas são representadas nos polígonos a elas associados. (RAMOS, 2005, p. 27,
grifos no original).
colorido, através das progressões de cores, é possível visualizar mais classes. Em consonância,
Nogueira (2009) recomenda a utilização de cinco a oito classes, pois elas são percebidas com
mais facilidade pelos leitores dos mapas. De certa maneira, não adianta aumentar o número de
classes na tentativa de fazer a representação exata do valor de cada polígono, pois o leitor não
é capaz de identificar a correta distinção (NOGUEIRA, 2009).
Como alternativa para não adoção arbitrária do número de classes, pode-se utilizar a
fórmula de Sturges48 ou pelo método do quíntuplo do logaritmo de n49 para estimar o número
de classes, onde “n” é o número de dados ou frequência (NOGUEIRA, 2009). Como exemplo,
aplicam-se essas fórmulas para determinar o número de classes de um mapa de densidade
demográfica (população relativa) dos bairros de Santa Maria, sabendo que a cidade possui 41
bairros50 (n = 41). Aplicando as fórmulas e considerando n = 41 (n° de bairros), temos que o
número de classes do mapa são 6,32 (≅ 6) e 8,06 (≅ 8), conforme Sturges e quíntuplo do
logaritmo, respectivamente.
O último ponto e não menos importante para a determinação de um mapa coroplético,
refere-se à determinação do intervalo entre as classes. Nos SIG existem uma gama de métodos
para serem utilizados, todavia é fundamental o conhecimento do usuário para a tomada de
decisão e ser crítico na escolha. Com maior frequência, os métodos que estão presentes são
intervalo igual (método da amplitude), método da contagem igual (quantis), quebras naturais
(Jenks) e por desvio padrão. O Quadro 9 apresenta alguns métodos de definição do intervalo de
classes.
Com isso, pode-se visualizar que cada método tem suas vantagens e limitações. Por isso,
é fundamental que o usuário conheça a área de estudo e as particularidades dos critérios para
cálculo dos intervalos. O Quadro 10 demonstra a classificação do intervalo de classes da
densidade demográfica (habitantes/km²) por bairros de Santa Maria e o número de bairros por
classe, enquanto a Figura 42 ilustra o comportamento da mesma variável por quatro métodos
diferentes.
48
N° de classes = 1 + (3,3 x log n).
49
N° de classes = (5 x log n).
50
De acordo com a Lei Complementar N° 102/2015, a área rural referente ao Passo das Tropas passou a ser urbano
com nome “Sem Denominação” (SANTA MARIA, 2015a), totalizando 42 bairros na área urbana de Santa Maria.
Porém, como não se possui dados referente a população, desconsiderou-se a área no exemplo.
132
Quadro 10 – Definição do intervalo de classes da densidade demográfica de acordo com diferentes métodos e
contagem do número de bairros (feições) por classe.
51
Refere-se a quantidade de bairros (feições) por classes do intervalo pelos diferentes métodos.
133
Figura 42 – Densidade demográfica (habitantes/km²) por bairros na área urbana de Santa Maria com quatro
métodos de intervalo de classes: intervalo igual (A), contagem igual – Quantil (B), quebras naturais – Jenks (C) e
quebras suaves (D).
No livro “How to lie with maps”, Monmonier (1991) aponta que o princípio cartográfico
envolve mentiras, visto que é uma representação em escala de redução, com todas as distorções
e generalizações causadas, além do que a projeção e a simbologia aplicada colaboram para que
haja um “mascaramento” dos elementos representados. Sobre a questão envolvendo o intervalo
de classes de mapas coropléticos, Monmonier (1991) ressalta que os softwares de mapeamento
podem:
52
[Citação original] “[...] unwittingly encourage laziness by presenting a map based upon a ‘default’ classification
scheme that might, for instance, divide the range of data values into five equal intervals. As marketing strategy,
the software developer uses such default specifications to make the product more attractive bv helping the first-
time or prospective user experience success. Too commonly, though, the naive or noncritical user accepts this
arbitrary display as the standard solution, not merely as a starting point, and ignores the invitation of the program's
pull-down menus to explore other approaches to data classification”. (MONMONIER, 1991, p. 40).
135
relativamente pequenas quando comparadas a certos bairros. No entanto, cabe destacar que a
realidade entre os bairros Salgado Filho e Bonfim é muito distinta. O Bonfim está localizado
na Região Administrativa Centro Urbana, caracterizado por ser um bairro residencial, com a
predominância de edifícios com pelo menos quatro pavimentos, o que é um padrão para a região
central da cidade (bairro Centro e circundantes). Nesse ponto, a verticalização é um fator que
ocasiona um aumento da densidade demográfica.
Entretanto, o bairro Salgado Filho, localizado na Região Administrativa Norte de Santa
Maria, apresenta, historicamente, problemas ligados a moradia53. Como coloca Spode (2020, p.
123) “A região Norte de Santa Maria, apresenta processos muito peculiares de pobreza e
privação social em algumas áreas, especialmente nos bairros Salgado Filho, Itararé, Campestre
do Menino Deus e Carolina”. No bairro Salgado Filho existem setores censitários que
apresentam 16 domicílios, na qual residem 5 ou mais moradores, número significativamente
elevado (SPODE, 2020). Assim, o bairro Salgado Filho apresenta uma população relativa
elevada, pela concentração do número de pessoas nas moradias, enquanto no Bonfim, pela
verticalização influenciada pelo mercado imobiliário.
53
Segundo Botega (2012), a primeira ocupação irregular de Santa Maria data de 1960, na vila Nossa Senhora do
Trabalho, no bairro Salgado Filho, situada nas proximidades da linha férrea.
136
Figura 43 – Mapa de densidade demográfica (habitantes/km²) por bairros na área Urbana de Santa Maria (RS),
em 2010.
Quadro 11 – Aplicação da variável visual tamanho e cor para representações quantitativas pontuais, lineares e
poligonais.
Martinelli (2014a) aborda que, para fenômenos que ocorrem em continuidade espacial,
como pluviosidade, temperatura e pressão atmosférica, indica-se o método isarítmico. Segundo
Fernandes (2013), um mapa isarítmico:
Isso posto, percebe-se que tem como princípio a ilustração de aspectos contínuos do
espaço geográfico. Por exemplo, para gerar mapas de pluviosidade ou temperatura com dados
pontuais de diversas estações meteorológicas, faz-se necessário adquirir a continuidade deles
nos locais que não haja dados (entre cada par de pontos). Assim, deve-se utilizar algoritmos de
interpolação dos dados, tornando a distribuição da variável contínua. Um modelo digital de
elevação, resultado da interpolação de pontos cotados e curvas de nível ou gerados por Radar,
também constituem um exemplo do método isarítmico. Neste contexto, Robinson, et al. (1995,
p. 505, tradução nossa) abordam que a utilização disso “[...] quando nosso foco está nos valores
de atributo em pontos de distribuição contínua, como elevação da terra56” e que a superfície da
Terra for mapeada “ [...] termos de planimetria, haverá uma infinidade de pontos, cada um dos
54
Normalmente utilizada em representações de fluxo (dinâmicas), com a utilização de linhas ou setas, variando a
espessura para demonstrar aumento da variável que representa.
55
A representação quantitativa poligonal (método coroplético) é apresentada por intervalo de classes.
56
[Citação original] “[...] use the isarithmic method is when our focus is on the attribute values at points of
continuous distribution, such as land elevation”. (ROBINSON et al., 1995, p. 505).
138
quais tem uma localização x e y57”, podendo ter um atributo adicional, como a elevação relativa
“z”.
Os mapas que buscam representar diferenças nas altitudes terrestres, são conhecidos
como hipsométricos. Esses mapas, normalmente, apresentam colorações em verde, em áreas de
menores altitudes, passando para o amarelo e vermelho; e o marrom em áreas mais elevadas
(NOGUEIRA, 2009). A Figura 44 ilustra um mapa com o método isarítmico para representar a
hipsometria da área urbana de Santa Maria.
57
[Citação original] “[...] terms of planimetry, there will be an infinity of points, each of which has an x,y, [...]”.
(ROBINSON et al., 1995, p. 505).
139
Figura 45 – Mapa da variação absoluta da população residente rural (2000/2010) de acordo com os distritos de
Santa Maria (RS).
do processo de mapeamento, pois um aluno que tem autonomia e conhecimento para escolher
a variável visual que melhor se adequa para representar uma variável específica, sem dúvidas,
não terá dificuldade na hora de “ler” qualquer outro produto de representação espacial e vinculá-
lo ao meio em que está inserido.
142
143
Figura 46 – Mapa de linhas intermunicipais rodoviárias em 27/07/2020, partindo de Santa Maria (RS) com destino aos municípios de sua região de influência.
Ao longo de sua história, a Cartografia sofreu uma série de modificações quanto a sua
concepção, área de abrangência, competência e evolução tecnológica. Somente observando as
transformações que ocorrem no conceito de Cartografia é possível compreender isso de forma
bem nítida. As primeiras definições a colocavam como sendo a ciência que representa a Terra,
além da inserção da arte presente em seus produtos. Durante as décadas de 1970 e 1980 são
apresentados outros elementos de criação e uso de mapas, definindo-a como teoria, técnica e
prática em duas esferas de interesse: a criação e a utilização de mapas (SIMIELLI, 2007).
Deste modo, segundo Simielli (2007) a Cartografia passou a se preocupar com o usuário,
com a eficiência do mapa como meio comunicativo e não somente com a elaboração do produto.
Segundo Matias (1996, p. 48), “O mapa passa a ser entendido como um meio de comunicação
cujo papel básico é a transmissão de conhecimento geográfico”. Com base nisso, discute-se a
comunicação cartográfica, com ênfase em concepções do cartógrafo e do usuário. Diante disso,
segundo MacEachren (2004):
[...] o alcance da cartografia foi expandido para abranger mais do que mapeamento.
Foi abordado como um processo de comunicação de informações espaciais com
entradas, transmissões e recepção de informações, e que, portanto, poderiam ser
analisadas como um sistema. Desse ponto de vista, os autores identificaram inúmeros
obstáculos ou filtros de informações que devem passar através da realidade através do
cartógrafo para o mapa e, em seguida, através do mapa para o usuário do mapa 58.
(MACEACHREN, 2004, p. 4-5, tradução nossa).
58
[Citação original] “[...] the purview of cartography expanded to encompass more than mapmaking. It was
approached as a process of communicating spatial information that had inputs, transmission, and reception of
information, and that therefore could be analyzed as a system. From this point of view, authors identified numerous
obstacles or filters that information must pass through on its route from reality through the cartographer to the
map, and then through the map to the map user”. (MACEACHREN, 2004, p. 4-5).
146
Os mapas são comunicações visuais de fenômenos espaciais que sempre informam algo,
todavia cabe ao usuário decodificar os signos que o compõem, com o intuito de compreender a
mensagem codificada. Segundo Pierce (2017, p. 46, grifos no original) “Um signo, ou
representamen, é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para alguém. Dirige-
se a alguém, isto é, cria, na mente da pessoa um signo equivalente, ou talvez um signo mais
desenvolvido. [...] O signo representa alguma coisa, seu objeto”. Sobre o signo, Simielli (2007)
aborda que possuem dois aspectos: o significante e o significado, sendo o primeiro constituinte
“[...] no aspecto concreto (material) do signo. Ele é audível e/ou legível. O significado é o
aspecto imaterial, conceitual do signo. O plano do significante é o da expressão e o plano do
significado é o do conteúdo” (SIMIELLI, 2007, p. 78).
A linguagem é composta por signos que representam algo para alguém, criando na
mente da pessoa algo equivalente ao aspecto de algum fenômeno (significado). Com a
148
linguagem cartográfica, especificamente, tem-se uma ligação com os conceitos de ícone, índice
e símbolo. Nesse sentido, de acordo com Pierce (2017):
O ícone não tem conexão dinâmica alguma com o objeto que representa;
simplesmente acontece que suas qualidades se assemelham as do objeto que
representa; simplesmente acontece que suas qualidades se assemelham às do objeto e
excitam sensações análogas na mente para qual é uma semelhança. Mas, na verdade,
não mantém conexão com elas. O índice está fisicamente conectado com o seu objeto;
formam, ambos, um para orgânico, porém a mente interpretante nada tem a ver com
essa conexão, exceto o fato de registrá-la, depois desse estabelecida no outro final o
símbolo está conectado à seu objeto por força da ideia da mente-que-usa-o-símbolo,
senha qual é essa conexão não existiria. (PIERCE, 2017, p. 75).
Figura 49 – Subdivisão dos signos comumente utilizados na Cartografia: ícone, índice e símbolo.
Ao se pensar no estatuto da linguagem dos mapas e no que tem sido considerado como
linguagem cartográfica, percebe-se que a ênfase do uso desta linguagem está no
campo da comunicação, ou seja, quando se fala de linguagem cartográfica remete-se
ao potencial comunicativo do mapa, às formas de apreensão dos códigos mobilizados
na elaboração e na utilização do mapa. Pouco em relação às estruturas de pensamento.
149
59
O minimapa ou radar é um mapa pequeno presente em um canto da tela, que auxilia o jogador a visualizar a
posição atual, companheiros de equipe, inimigos (quando avistado pelos companheiros), objetivos, veículos e
demais recursos que cada jogo oferece.
60
É um modo de jogo on-line que um grupo de jogadores pula de um objeto voador e aterrissam em determinado
local com nenhum ou pouco equipamento. No decorrer da partida, a área que os jogadores podem acessar vai
diminuindo em decorrência de um gás (ou algo do gênero) que se espalha pelo mapa. O objetivo principal é
explorar o cenário em busca de equipamentos melhores e ser o último sobrevivente (o vencedor).
150
Figura 50 – Minimapa do Call of Duty®: Warzone (A), Counter-Strike: Global Offensive (B) e Battlefield 4™
(C).
[...] é preciso ter claro que o simples uso dessas tecnologias para navegação espacial,
não pressupõem a compreensão do espaço, ou seja, o usuário interage com a
linguagem cartográfica e produz significações a partir dela, mas somente na vivência
escolar ele pode tornar a compreensão dessa linguagem mais coerente, articulada e
crítica frente ao entendimento de mundo, desenvolvendo efetivamente o pensamento
espacial e com o raciocínio geográfico. (BATISTA, 2019, p. 23).
Para tanto, o professor deve reconhecer a Cartografia como linguagem, pois conforme
Richter (2017, p. 288) tal fato “[...] contribui para modificar outra ação no processo de ensino-
aprendizagem, que se refere a trabalhar com a representação espacial como forma de expressão
151
Constantemente, as pessoas utilizam mapas para realizar suas atividades diárias, seja de
caráter profissional, pessoal ou, ainda, por lazer, como exemplificado com os jogos eletrônicos.
Diante disso, é fundamental o estudo da linguagem cartográfica desde os anos iniciais do Ensino
Fundamental, para que o aluno se adapte a representação gráfica, a qual será útil por toda sua
vida. Nessa fase de escolarização, é extremamente necessário que o mapa abarque o espaço em
que os alunos estão inseridos, principalmente utilizando ícones para sistematizar a legenda. A
utilização desse tipo de ilustração para crianças facilita a compreensão do significado, visto que
se assemelha com o objeto que busca representar.
Nesse sentido, a Cartografia deve ser contextualizada por meio do espaço vivido, para
que os estudantes observem os fenômenos no mundo real e sua transcrição gráfica através de
signos. Para Gomes (1996), o espaço vivido deve “[...] ser compreendido como um espaço de
vida, construído e representado pelos atores sociais que circulam neste espaço, mas, também,
vivido pelo geógrafo que, para interpretar, precisa penetrar completamente este ambiente”.
(GOMES, 1996, p. 319). Assim, o professor precisa utilizar mapas digitais, fotografias aéreas
e imagens de satélites para desenvolver uma noção espacial em seus alunos. A utilização de
geotecnologias, como o SIG, pode colaborar para uma compreensão do espaço vivido do
156
estudante. O entendimento do Lugar61 contribui para comparações entre outras regiões e/ou
escalas, permitido localizar, diferenciar e verificar a extensão e distribuições de fenômenos.
Para conseguir interpretar o mapa é necessário descobrir o significado dos signos que o
compõem. Contudo, por mais que a utilização de mapas na Educação Básica seja recorrente, os
alunos possuem contato com a representação cartográfica já elaborada, com título, escala,
orientação, escala e legenda já finalizados, aplicados, principalmente, para ilustrações do
docente ou trabalhos para colorir. A cópia de mapas em livros didáticos ou atlas não colaboram
para o desenvolvimento de um aluno crítico, visto que é um mero reprodutor e que os
fenômenos ou elementos espacializados estão distantes de sua realidade. Desse modo, o mapa
se torna uma representação abstrata, pois os estudantes não possuem conhecimento dos
procedimentos metodológicos para a construção do mesmo (RIZZATTI, 2018).
Para Simielli (1999, p. 107-108), a Cartografia deve ser vista como “[...] meio de
transmissão, de informação, deixando para trás a época em que se copiavam mapas, pela
simples razão de copiá-los, e não objetivando a análise das relações que ocorrem no espaço
geográfico”. É necessária a desmistificação da Cartografia como um mero “desenho”, pois é
um meio de comunicação por aspectos gráficos, por isso, o documento deve ser interpretado,
para que consiga passar sua mensagem. Deste modo, a escola deve promover a alfabetização
cartográfica, abordando a aprendizagem pelo mapa, compreendendo os signos, orientação,
projeção e escala. Assim, a alfabetização cartográfica diz respeito ao entendimento dos ícones,
índices ou simbologia, para permitir a leitura e compreensão dos mapas, ou seja, trata-se do
processo de alfabetização do estudante para possibilitar o entendimento de documentos
cartográficos. Contudo, se não for desenvolvida no ambiente escolar, a “formação do cidadão
fica incompleta, por não saber usar nem dominar a linguagem cartográfica” (ALMEIDA, 2001,
p. 18).
Sobre isso, Richter (2017) aborda que a:
61
O Lugar como categoria de análise da Geografia se dá pela valorização das relações afetivas e pertencimento
desenvolvidos no decorrer da vida. De acordo com Relph (1979, p. 156), o lugar “[...] significa muito mais que o
sentido geográfico de localização. Não se refere a objetos e atributos das localizações, mas a tipos de experiências
e envolvimento com o mundo, a necessidade de raízes e segurança”.
157
O fator principal para uma pessoa conseguir “ler” um mapa é decodificar signos, cores,
texturas, orientações e granulações que estão presentes para representar sua temática. A legenda
é composta por três elementos básicos, a saber, os pontos, linhas e polígonos, que sistematizam
62
Para visualizar a imagem em três dimensões é necessário um óculos anáglifo. Ele pode ser construído
manualmente, utilizando um molde (disponível em:
https://1drv.ms/b/s!AucppA9xcKi6szPB7GpxHcA05FBy?e=4fKQtj, acesso em: 19 nov. 2021) e papel celofane
vermelho e azul.
160
o alfabeto cartográfico. O ponto não representa dimensão, somente localiza algum fenômeno
por meio de coordenadas geográficas. Já a linha, formada por, pelo menos, dois pontos, é
unidimensional, pois representa fenômenos com extensões lineares, como o sistema viário, rede
de drenagem e fluxos. O polígono, por sua vez, é caracterizado por ser bidimensional, ou seja,
representa algum fenômeno por meio de largura e comprimento, demarcando, assim, uma área.
É formado por, no mínimo, três pontos, desde que o primeiro seja igual ao último, fator que
resulta em uma área fechada.
Dessa maneira, o alfabeto cartográfico pode ser compreendido com a utilização da
legenda, que explica toda a simbologia e cores adotadas na representação cartográfica. Sobre
isso, Passini (2012) diz que:
[...] os símbolos utilizados no mapa devem ser vistos em dois planos: o significado
(conteúdo) e o significante (forma) e, dessa maneira, traduzir os significantes,
ligando-os a seus significados, é o que chamados de legenda. Esse processo de dar
significado aos significantes denomina decodificação. (PASSINI, 2012, p. 120).
Outra noção que deve ser abordada em sala de aula para desenvolver um aluno
alfabetizado cartograficamente, refere-se à lateralidade e orientação espacial. Nesse sentido,
para uma pessoa conseguir se localizar no espaço é necessário que tenha um domínio de seu
próprio corpo, conseguindo identificar a esquerda, direita, frente, atrás, acima e abaixo. Sobre
isso, Castrogiovanni (2014, p. 28) coloca que: “Para que uma criança se oriente no espaço, é
necessário que se oriente no seu próprio corpo. [...]. A lateralidade consiste na representação
dos hemisférios corporais e a sua consequente projeção”. Logo, essas direções são particulares,
visto que variam de acordo com o posicionamento de cada indivíduo, mas os pontos cardeais e
colaterais não se modificam caso a pessoa se vire para o lado oposto de sua posição original.
Consequentemente, os pontos cardeais servem para situar a localização de lugares, fenômenos
e objetos. Segundo Castrogiovanni (2014), a rosa dos ventos fornece as direções para a
determinação dos pontos cardeais e colaterais, que é o meio para se orientar em representações
cartográficas, de um modo geral.
O elemento que compõe o mapa com maior nível de compreensão é, sem dúvidas, a
escala, por necessitar, principalmente, de conhecimentos matemáticos. É determinada pela
razão entre a dimensão linear de uma representação gráfica e sua correspondência na superfície
terrestre. Para Joly (2013, p. 17, grifos no original), “A escala de um mapa é a relação constante
que existe entre as distâncias lineares medidas sobre o mapa e as distâncias lineares
correspondentes, medidas sobre o terreno”.
161
Naquele Império, a Arte da Cartografia alcançou tal perfeição que o mapa de uma
única província ocupava uma cidade inteira, e o mapa do Império uma província
inteira. Com o tempo, estes mapas desmedidos não bastaram e os colégios de
cartógrafos levantaram um mapa do Império que tinha o tamanho do Império e
coincidia com ele ponto por ponto. Menos dedicadas ao estudo da cartografia, as
gerações seguintes decidiram que esse dilatado mapa era inútil e não sem impiedade
entregaram-no às inclemências do sol e dos invernos. Nos desertos do oeste perduram
despedaçadas ruínas do mapa habitadas por animais e por mendigos. (BORGES,
1999, p. 247).
63
Tratando-se da natureza das representações, as escalas são classificadas em ampliação, natural e redução
(PINHEIRO; CRIVELARO, 2014).
162
distância real (D). Já a distância gráfica é adquirida ao medir, com uma régua, a distância gráfica
na folha A4. Durante as atividades práticas com os estudantes foi ilustrado essa
contextualização usando a quadra da escola. Os procedimentos foram explanados no Capítulo
6.
O desenvolvimento de noções referentes à visão oblíqua e à visão vertical, a imagem
tridimensional e a imagem bidimensional, o alfabeto cartográfico (ponto, linha e área), a
construção da noção de legenda, a proporção e a escala, a lateralidade, referências e orientação
espacial colaboram para a alfabetização cartográfica (SIMIELLI, 1999). “O desenvolvimento
dessas noções contribui para a desmistificação da cartografia como propositora de mapas
prontos e acabados no ensino fundamental e médio” (SIMIELLI, 1999, p. 77).
Dambros (2014) destaca que a alfabetização cartográfica é:
64
O termo letramento através do campo da Educação e da Ciência Linguística é “Etimologicamente, a palavra
literacy vem do latim littera (letra), com o sufixo –cy, que denota qualidade, condição, estado, fato de ser (como,
por exemplo, em innocency, a qualidade ou condição de ser inocente). No Webster’s Dictionarry, literacy tem a
acepção de ‘the condition of being literate’, a condição de ser literate, e literate é definido como ‘educated;
especially able to read and write’, educado, especialmente, capaz de ler e escrever. Ou seja: literate é o estado ou
condição que assume aquele que aprende a ler e escrever. Implícita nesse conceito está a ideia de que a escrita traz
consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que
seja introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la”. (SOARES, 1999, p. 17).
163
65
Segundo Queiroz (2007, p. 107) “as cores complementares apresentam uma combinação contrastante, uma vez
que são formadas pelas que se posicionam em lados opostos do círculo. A utilização das cores complementares
torna essa variável visual altamente seletiva, permitindo, neste sentido, transcrever relações de diversidade entre
os objetos”.
166
Há uma tradição, no Brasil, que confunde o currículo com um documento formal, muitas
vezes atrelado por uma lista de conteúdos e procedimentos que devem ser executados em
determinado tempo (GIROTTO, 2017). O estudo do conceito do currículo foi e continua sendo
alvo de diversas pesquisas no Brasil, principalmente quando se tem por premissa que ele não é
algo estático, mas a representação dos movimentos pelos quais uma sociedade passa (FANTIN;
TAUSCHECK, 2005).
De acordo com Silva (1999, p. 14), “[...] a questão central que serve de pano de fundo
para qualquer teoria de currículo é a de saber qual conhecimento deve ser ensinado. De uma
forma mais sintética a questão central é: o que?”. Desse modo, deve-se ter em mente que o
currículo é resultado de uma seleção de um universo mais amplo de conhecimentos. Desse
modo, as teorias dos currículos buscam justificar por que “esses conhecimentos” e não
“aqueles” devem ser selecionados para o tipo de pessoa que se considera ideal. Em geral, as
teorias tradicionais buscam responder à questão “o que” deve ser trabalhado e “como” é a
melhor forma de transmiti-lo (SILVA, 1999).
De outro lado, as teorias críticas e pós-críticas a questão central é através do “por quê?”.
Busca, então, questionar o porquê desse conhecimento e não o outro, tirando os véus do
conhecimento selecionado e de sua subjetividade ou identidade subjacente, comprometido pelo
desocultamento das relações de poder (ORTIZ; FREITAS, 2016). O Quadro 12 resume as
grandes categorias de currículo de acordo com os conceitos que elas enfatizam.
TEORIAS DO CURRÍCULO
Teorias Tradicionais Teorias Críticas Teorias Pós-críticas
• Ideologia;
• Ensino; • Identidade, alteridade,
• Reprodução Cultural e Social;
• Aprendizagem; diferença;
• Poder;
• Avaliação; • Subjetividade;
• Classe Social;
• Metodologia; • Significação e discurso;
• Capitalismo;
• Didática; • Saber-poder;
• Relações Sociais de Produção;
• Organização; • Representação;
• Conscientização;
• Planejamento; • Gênero, raça, etnia,
• Emancipação e libertação;
• Eficiência; e sexualidade; e
• Currículo oculto; e
• Objetivos. • Multiculturalismo.
• Resistência.
66
[Citação original] “Technical training, education and pre-investment assistance, whether undertaken by
international organizations or by individual Governments, should be regarded as an important factor in the
economic delevopment of under-develop countries [...]” (ONU, 1960, p. 9).
170
Os PCN, então, devem ser compreendidos como uma ação direta do Estado sob uma
perspectiva neoliberal, fundamentados pela ideia de educação “vendida” para suprir a
competitividade do mercado. Assim, o currículo é adaptado para preparação dos estudantes para
desempenhar mão de obra para empresas nacionais ou internacionais. Sobre isso, Silva (1995)
destaca que:
67
[Nome original] World-Class Education in Brazil: The Next Agenda.
172
2015, sendo que o prazo era o final do ano. Todavia, mesmo se estendendo as consultas até
março de 2016, o currículo Nacional foi produzido em apenas um ano e três meses. Qual a
intencionalidade disso?
Destarte, a BNCC é uma normativa que rege os elementos essenciais a serem
desenvolvidos para todos os estudantes da Educação Básica no país. Trata-se, então, de uma
referência nacional para a formulação dos currículos, contribuindo para o alinhamento de outras
políticas e ações para a formação de professores, avaliações e elaboração dos conteúdos
educacionais (BRASIL, 2018). A proposta foi aprovada em 2018, provocando uma imensa
discussão e contestações por professores, profissionais da escola e pesquisadores, sobre alguns
pontos modificados, como a inserção de um eixo base com disciplinas optativas, de acordo com
o interesse do estudante e foco em uma educação tecnicista, visando o mercado de trabalho.
Apesar da BNCC ser um instrumento normativo com algumas lacunas em sua estrutura,
a proposta para a Cartografia Escolar dentro da Geografia e, especialmente, o desenvolvimento
do raciocínio espacial, percebe-se contemplado e, nesse sentido, faz-se algumas considerações
reflexivas ligando o documento com as possibilidades de práticas de ensino do professor.
Segundo a BNCC, para realizar a leitura do mundo que vivem, os estudantes precisam ser
estimulados a pensar espacialmente, desenvolvendo o raciocínio geográfico. O pensamento
espacial colabora para o desenvolvimento intelectual, integrando conhecimentos geográficos,
matemáticos, literários e artísticos, buscando a resolução de problemas que envolvem a
mudança de escala, direção, distância, efeitos de proximidade e vizinhança, além de tendência
à centralização e dispersão (BRASIL, 2018).
Para Girotto (2015):
apontam que os mapas e representações espaciais foram muito importantes para a Geografia,
tornando-se símbolo desta área do conhecimento. “Na BNCC, os elementos cartográficos estão
apontados como formas essenciais e indispensáveis à educação geográfica ampliando, assim, a
necessidade de se desenvolver metodologias de ensino capazes de contribuir com a inserção
desses elementos na disciplina escolar” (BATISTA; BECKER, 2019, p. 54).
Assim, a unidade “formas de representação e pensamento espacial” se refere a
compreensão de uma visão não habitual a do cotidiano, a decodificação de signos para o
entendimento da mensagem que o mapa traz consigo, além do estudo dos elementos que os
compõem serem noções abarcadas pela Cartografia Escolar. Segundo a normativa, espera-se
que os alunos do Ensino Fundamental:
Pode-se verificar que a BNCC defende o domínio na leitura e elaboração de mapas, indo
ao encontro com os dois eixos propostos por Simielli (1999): aluno leitor crítico e mapeador
consciente, que são ligadas à Cartografia Escolar por meio de práticas espaciais. Isso também
pode ser visualizado nas competências específicas da Geografia para o Ensino Fundamental
(Figura 56), com atenção ao quarto item, que se refere ao pensamento espacial.
Conforme já mencionado, a Geografia é desenvolvida nos anos iniciais (1° ao 5° ano) e
anos finais (6° ao 9° ano) do Ensino Fundamental. Os conhecimentos cartográficos que
auxiliam na interpretação de representações gráficas aumentam sua complexidade,
principalmente nos anos finais, para que os alunos consigam aplicar os princípios do raciocínio
geográfico nas múltiplas escalas de análise.
Nesse sentido, sobre os conhecimentos cartográficos nos anos iniciais e finais, a BNCC
aborda que:
OBJETOS DE
ANO HABILIDADES
CONHECIMENTO
A) Criar mapas mentais e desenhos com base em itinerários, contos
literários, histórias inventadas e brincadeiras;
B) Elaborar e utilizar mapas simples para localizar elementos do local
1° Pontos de referência de vivência, considerando referenciais espaciais (frente e atrás,
esquerda e direita, em cima e embaixo, dentro e fora) e tendo o corpo
como referência.
A) Identificar e elaborar diferentes formas de representação (desenhos,
mapas mentais, maquetes) para representar componentes da paisagem
dos lugares de vivência;
B) Identificar objetos e lugares de vivência (escola e moradia) em
Localização, orientação e imagens aéreas e mapas (visão vertical) e fotografias (visão oblíqua);
2°
representação espacial C) Aplicar princípios de localização e posição de objetos (referenciais
espaciais, como frente e atrás, esquerda e direita, em cima e embaixo,
dentro e fora) por meio de representações espaciais da sala de aula e da
escola.
A) Identificar e interpretar imagens bidimensionais e tridimensionais
Representações em diferentes tipos de representação cartográfica;
3°
cartográficas B) Reconhecer e elaborar legendas com símbolos de diversos tipos de
representações, em diferentes escalas cartográficas.
A) Utilizar as direções cardeais na localização de componentes físicos
Sistema de orientação
e humanos nas paisagens rurais e urbanas.
4°
Elementos constitutivos dos A) Comparar tipos variados de mapas, identificando suas
mapas características, elaboradores, finalidades, diferenças e semelhanças.
A) Analisar transformações de paisagens nas cidades, comparando
Mapas e imagens de satélite sequências de fotografias, fotografias aéreas e imagens de satélite de
5° épocas diferentes.
Representação das cidades e A) Estabelecer conexões e hierarquias entre diferentes cidades,
do espaço urbano utilizando mapas temáticos e representações gráficas.
Outro ponto relevante é que nessa etapa os estudantes estão sendo alfabetizados,
consequentemente, encontram dificuldade na escrita, leitura e cálculos básicos. Comparando
isso com algumas habilidades que devem ser abordadas no 3° ano, como “Reconhecer e
elaborar legendas com símbolos de diversos tipos de representações em diferentes escalas
cartográficas” (BRASIL, 2018, p. 375), ressalta-se o elevado nível de complexidade dessa ação,
não compatível com o nível de desenvolvimento intelectual dos alunos. As dificuldades
envolvendo a escala cartográfica ocorrem do Ensino Fundamental ao Superior, pela dificuldade
178
OBJETOS DE
ANO HABILIDADES
CONHECIMENTO
A) Medir distâncias na superfície pelas escalas gráficas e numéricas dos
Fenômenos naturais e mapas;
6° sociais representados de B) Elaborar modelos tridimensionais, blocos-diagramas e perfis
diferentes maneiras topográficos e de vegetação, visando à representação de elementos e
estruturas da superfície terrestre.
A) Interpretar e elaborar mapas temáticos e históricos, inclusive
utilizando tecnologias digitais, com informações demográficas e
econômicas do Brasil (cartogramas), identificando padrões espaciais,
7° Mapas temáticos do Brasil regionalizações e analogias espaciais;
B) Elaborar e interpretar gráficos de barras, gráficos de setores e
histogramas, com base em dados socioeconômicos das regiões
brasileiras.
A) Elaborar mapas ou outras formas de representação cartográfica para
analisar as redes e as dinâmicas urbanas e rurais, ordenamento
Cartografia: anamorfose, territorial, contextos culturais, modo de vida e usos e ocupação de solos
8° croquis e mapas temáticos da África e América;
da América e África B) Interpretar cartogramas, mapas esquemáticos (croquis) e
anamorfoses geográficas, com informações geográficas acerca da
África e América.
A) Elaborar e interpretar gráficos de barras e de setores, mapas
temáticos e esquemáticos (croquis) e anamorfoses geográficas para
Leitura e elaboração de
analisar, sintetizar e apresentar dados e informações sobre diversidades,
mapas temáticos, croquis e
diferenças e desigualdades sociopolíticas e geopolíticas mundiais;
9° outras formas de
B) Comparar e classificar diferentes regiões do mundo com base em
representação para analisar
informações populacionais, econômicas e socioambientais
informações geográficas
representadas em mapas temáticos e com diferentes projeções
cartográficas.
superfície terrestre. Destaca-se, que essas atividades são viáveis com a mediação do professor,
porém, na elaboração de perfis, por exemplo, exige uma demanda de material (cartas ou mapas
topográficos, papel milimetrado e/ou vegetal), interpretação da topografia terrestre por curvas
de nível e domínio na elaboração de gráficos, o que acaba dificultado essas atividades.
Desde o 7° ano, de um modo geral, trata-se da elaboração de mapas e gráficos, além de
suas interpretações e correlações entre os diversos fenômenos mapeados, buscando atrelar os
princípios do raciocínio geográfico. Nesse sentido, os alunos fazem uso de mapas temáticos,
que contam com signos, cores, texturas e significados, em diversas escalas de análise. Ressalta-
se, então, a importância da alfabetização cartográfica para a decodificação dos mapas, para que
atuem como um meio de comunicação através de representações gráficas e desenvolvam o
entendimento espacial dos estudantes, porém, sem perder de vista as dificuldades que são
enfrentadas no ambiente escolar e a maturidade cognitiva dos estudantes.
A partir do exposto, quando se relaciona teorias do currículo e a BNCC, visualiza-se
que ela se baseia em concepções neoliberais que defendem a organização curricular para a
formação que busca o mercado de trabalho, como uma ferramenta para o desenvolvimento
econômico avaliada, somente, por índices quantitativos e testes padronizados. Dessa forma, a
BNCC se encaixa na teoria tradicional do currículo, pois são levantadas as habilidades
necessárias para ingresso no mercado de trabalho e, posteriormente, a criação de um rol de
conteúdos que abordem essas necessidades, associados aos instrumentos de aferição da
aprendizagem. Isso, é claramente visualizado na normativa como um todo, especialmente no
Ensino Médio, com uma formação itinerante em “técnica e profissional”68.
De modo geral, a BNCC é uma norma para a padronização dos elementos essenciais à
aprendizagem dos cidadãos brasileiros na Educação Básica. Embora a orientação curricular
apresente muitas críticas, como, por exemplo, a não adequação da complexidade do conteúdo
para idade e capacidade de abstração dos alunos, além de não apresentar uma sequência lógica
coerente em alguns momentos, ela é obrigatória e rege as habilidades que devem ser enfatizadas
no Ensino Fundamental e Médio. Todavia, destaca-se que a Cartografia é bastante contemplada
em todos os anos do Ensino Fundamental, sobretudo no que tange a elaboração e interpretação
de documentos cartográficos a partir do 6º ano.
Outro ponto importante é o destaque dado às mudanças ocasionadas pelas tecnologias
da informação e comunicação na vida das pessoas, preparando os estudantes para profissões
que ainda não foram criadas, abordando conhecimentos referentes ao pensamento
68
Optou-se por não discutir a BNCC do Ensino Médio em virtude de os sujeitos da pesquisa serem do Ensino
Fundamental.
180
É muito difícil aceitar que apenas o atual momento em que vivemos possa ser
chamado de ‘era tecnológica’. Na verdade, desde o início da civilização, todas as eras
correspondem ao predomínio de um determinado tipo de tecnologia. Todas as eras
foram, portanto, cada uma à sua maneira, ‘eras tecnológicas’. Assim tivemos a Idade
da Pedra, do Bronze ... até chegarmos ao momento tecnológico atual. (KESNKI, 2010,
p. 19-20).
Assim, os povos do período Paleolítico (há cerca de 2,5 milhões de anos) começaram a
produzir seus primeiros artefatos com pedra lascada, galhos e ossos, diferenciando-se de outras
181
espécies pela capacidade de pensamento e mão de obra criadora. O ser humano primitivo,
bastante frágil perante as condições naturais (chuva e frio) e aos animais, necessita desenvolver
ferramentas para conseguir sobreviver. Logo, os objetos mencionados compõem a tecnologia
disponível para a época, quando os povos empregam o conhecimento de como organizar pedras,
galhos e ossos acessíveis a fim de produzir um objeto, bem como saber utilizá-los, tem-se a
aplicação sua técnica. Gardner e Davis (2013) abordam que ferramentas e máquinas são
tecnologias no sentido tradicional, tipicamente construída em madeira, metal, plástico ou outros
materiais disponíveis. Sob este enfoque,
Com o surgimento da dominação do fogo das antigas civilizações pelo atrito de lascas
de madeira ou pedras, o controle inicial do fogo foi essencial para o desenvolvimento da
civilização humana até os dias de hoje. Sua aplicabilidade está desde o preparo de alimentos,
como aquecimento do ambiente onde moravam, na produção de cerâmica e na fundição de
minérios (cobre, estanho, bronze e ferro) durante a Idade dos Metais, aumentando a eficiência
das ferramentas. Nesse sentido, o fogo surge como uma novidade (tecnologia) e é utilizado nas
mais diversas finalidades, por meio da técnica.
A partir do exposto, “A evolução social do homem confunde-se com as tecnologias
desenvolvidas e empregadas em cada época. Diferentes épocas da história da humanidade são
historicamente reconhecidas, pelo avanço tecnológico correspondente” (KENSKI, 2010, p. 20).
A evolução tecnológica altera comportamentos dos grupos sociais que estão em contato com
ela, transformando seu modo de pensar, agir, sentir e de produzir conhecimentos. Existem
outros tipos de tecnologias que vão além de meros equipamentos. Nesse sentido, a comunicação
oral, gráfica e digital (computadores), são construções internalizadas na memória das pessoas,
criadas pelo homem para avançar no tempo e aprender mais. Estão diretamente articuladas à
69
[Citação original] “Externally invented technologies have been with us for many thousands of years, and they
are equally a part of human development. [...] Many of our greatest human achievements are due to technologies
devised by humans—think of clocks, the spinning wheel, the steam engine, rocket ships. Many of our most
frightening achievements are also due to technologies devised by human beings—think of bows and arrows,rifles,
nuclear weapons, rocket ships (again), or, most recently, the drones with which battles in remote sites are
increasingly being waged”. (GARDNER; DAVIS, 2013, p. 15-16).
182
tecnologia de comunicação e informação que, através de seus suportes (rádio, jornal, televisão,
computadores, etc.), realizam o acesso ou a veiculação da informação em todo o mundo
(KENSKI, 2010).
Gardner e Davis (2013) ressaltam sobre os avanços dos meios de comunicação, os quais
foram rápidos, liderados e:
[...] estimulado pelo Vale do Silício, no norte da Califórnia, ecoou nos círculos
concêntricos em torno de outras grandes cidades da América do Norte, Europa, Leste
da Ásia e Israel, o mundo entrou - às vezes invisível, ora cerimonial, ora
dramaticamente - na Era Digital. Os computadores de mainframe foram seguidos - e
frequentemente substituídos - por computadores de mesa cada vez menores e
poderosos; e estes, por sua vez, passaram a ser substituídos por laptops, tablets,
assistentes pessoais, smartphones e outros dispositivos portáteis. Os computadores de
mainframe eram volumosos e desajeitados. Os dispositivos mais novos tinham mais
potência e portabilidade e operavam muito mais rapidamente. A hegemonia das
principais redes de transmissão foi interrompida, pois a TV a cabo inaugurou uma
proliferação de novos canais, muitos fortemente dependentes das tecnologias digitais.
Talvez o mais importante seja que os vários dispositivos digitais não eram mais
entidades independentes e não comunicantes. Cada vez mais, dispositivos únicos
podiam desempenhar muitas funções e eram capazes de se comunicar70. (GARDNER;
DAVIS, 2013, p. 49-50, grifos e tradução nossa).
70
[Citação original] “Led and spurred by Silicon Valley in northern California, echoed in the concentric circles
around other large cities in North America, Europe, East Asia, and Israel, the world entered—sometimes invisibly,
sometimes ceremonially, sometimes dramatically—the Digital Age. Mainframe computers were followed—and
oft-times replaced—by increasingly small and powerful desktop computers; and these in turn, came to be
supplanted by laptops, tablets, personal assistants, smartphones, and other handheld devices. Mainframe computers
were bulky and clunky. The newer devices had more power and portability, and they operated much more speedily.
The hegemony of the major broadcast networks was broken, as cable TV ushered in a proliferation of new
channels, many heavily dependent on digital technologies. Perhaps most important, the various digital devices
were no longer independent, non-communicating entities. Increasingly, single devices could carry out many
functions, and such devices were able to communicate with one another” (GARDNER; DAVIS, 2013, p. 49-50).
71
Unidade de cálculo aritmético e lógico localizada em um pequeno chip eletrônico (LÉVY, 2010).
183
72
World Wide Web (WWW) é um serviço de informação que funciona sobre a internet em uma estrutura baseada
em documentos interligados (hipertextos).
184
73
[Citação original] “We live in an era when individuals can study, or attempt to acquire a skill, when they want
to, at a pace of their own selection, alone or with others, with or without badges or other forms of certification—
no two persons have to be educated or to educate themselves in a single mandated way. One-size-fits-all curricula
186
and pedagogy deserve to be anachronistic, if not indictable offenses. The possibility of entering and mastering
important topics and skills in multiple ways is also enabled by the digital media. There are now many ways—
involving many media and varying in degrees of proactivity—in which to learn to play chess or the piano, to speak
French or read Chinese characters, or to gain knowledge of economics, statistics, history, or philosophy”.
(GARDNER; DAVIS, 2013, p. 174).
74
O termo refere-se a atual geração de jovens que nasceram após a disponibilidade de informações rápidas e
acessíveis na rede (PRENSKY, 2001). Podem ser denominados como “Homo Zappiens” (VEEN; VRAKKING,
2009), “geração Millennial”, Neomillennial”, “geração Y, “geração digital”, ou, ainda, “Geração App”
(GARDNER; DAVIS, 2013).
187
75
Vale destacar a profunda desigualdade social existente no Brasil, ressaltada em tempos de pandemia, em que
grande parte das pessoas não têm acesso aos recursos tecnológicos e/ou internet. Logo, mesmo nascendo em um
período mergulhado em recursos tecnológicos, os indivíduos que não possuem acesso também são “nativos
digitais”?
188
76
De acordo com Gardner e Davis (2013), os jovens que crescem em nosso tempo estão imersos em aplicativos.
Eles passam a pensar no mundo como sendo um conjunto de aplicativos, de ver suas vidas como uma série de
aplicativos ordenados. Tudo que os seres humanos quiserem podem ser fornecidos pelos aplicativos. Se o
aplicativo desejado não existir, ele deverá ser criado imediatamente por alguém. De fato, na época atual, pode-se
designar os jovens como uma geração que utiliza massivamente aplicativos (Geração App).
189
77
[Nome original] Classifying K-12 Blended Learning.
190
Esse método tem quatro submodelos de implantação: rotação por estações, laboratório
rotacional, Sala de Aula Invertida (SAI) e rotação individual. O Quadro 16 apresenta a definição
de cada um desses submodelos rotacionais.
(Continua)
SUBMODELO DEFINIÇÃO ILUSTRAÇÃO
A rotação inclui, em pelo menos
uma estação, para aprendizado on-
line. Outras estações podem incluir
atividades como aulas em pequenos
grupos ou em turmas completas,
projetos em grupo, tutoria individual
e tarefas. Algumas implementações
envolvem a turma inteira, alternando
entre as atividades juntos, enquanto
Rotação por outros dividem em pequenos grupos
estações ou individualmente.
78
[Citação original] “[…] a program in which within a given course or subject (e.g., math), students rotate on a
fixed schedule or at the teacher’s discretion between learning modalities, at least one of which is online learning.
Other modalities might include activities such as small-group or full-class instruction, group projects, individual
tutoring, and pencil-andpaper assignments”. (STAKER; HORN, 2012, p. 8).
191
(Conclusão)
Pelo menos uma das salas é um
laboratório de aprendizado
predominantemente on-line, enquanto
a(s) sala(s) de aula abrigam outras
modalidades de aprendizagem.
[...] os alunos dividem seu tempo entre frequentar aulas presenciais e aprender
remotamente usando a entrega on-line de conteúdo e instruções. Muitos programas
virtuais começaram com escolas on-line em período integral e depois desenvolveram
programas combinados para proporcionar aos alunos experiências escolares
concretas. O modelo virtual enriquecido difere da sala de aula invertida porque nos
neles os alunos raramente frequentam a sala de aula todos os dias da semana 79.
(STAKER; HORN, 2012, p. 15, tradução nossa).
79
[Citação original] “[...] students divide their time between attending a brick-and-mortar campus and learning
remotely using online delivery of content and instruction. Many EnrichedVirtual programs began as full-time
online schools and then developed blended programs to provide students with brick-and-mortar school
experiences. The Enriched-Virtual model differs from the Flipped Classroom because in Enriched-Virtual
programs, students seldom attend the brick-and-mortar campus every weekday” (STAKER; HORN, 2012, p. 15).
193
torna-se relevante no intuito de colocar o aluno como participante ativo no processo de ensino-
aprendizagem, em que o papel central passa do professor para o estudante.
Conforme apresentado por Valente (2018):
A inversão da sala de aula ocasiona uma série de mudanças, dentre as quais, segundo
Bergmann e Sams (2017), auxilia os alunos com diferentes habilidades a se superarem, cria
condições para que os estudantes pausem e rebobinem o professor, intensifica a interação aluno-
professor e aluno-aluno, possibilita que os professores reconheçam melhor os seus alunos e
muda o gerenciamento em sala de aula. Sobre esse último ponto, Bergmann e Sams (2017)
colocam que alguns alunos raramente prestavam a atenção na aula e que eram fonte de distração
para o restante da turma. Com a SAI, muitos problemas de gerenciamento desapareceram e os
alunos que precisavam de público para suas encenações não encontravam mais plateia. “Como
o tempo de aula era usado basicamente para que os alunos executassem atividades práticas ou
trabalhassem em pequenos grupos, os colegas que em geral eram fatores de dispersão passaram
a ser ignorados”. (BERGMANN; SAMS, 2017, p. 26).
Consequentemente, para desenvolver a SAI é necessário elaborar recursos, como vídeos
ou podcast para os alunos assistirem em casa, como contraponto da aula expositiva tradicional.
Nesse caso, a atividade de casa passa a ser uma preparação para o encontro presencial, onde o
aluno adquire conhecimentos prévios sobre determinada temática, com o material
disponibilizado para o professor ou pesquisando na internet. Nesse momento, o professor pode
lançar questionamentos para os alunos responderem os pontos chaves apresentados no material.
No próximo momento, face a face, os minutos iniciais da aula servem como tira dúvidas,
debates e discussões referentes ao recurso pesquisado, assistido ou escutado em casa. O restante
da aula serve para os alunos realizarem uma atividade prática sobre a temática que está sendo
contextualizada.
Sobre os encontros presenciais, com base em Schneider et al. (2013):
[...] são dedicados às ações de criar e avaliar, que são habilidades superiores de
pensamento. Estas seriam o foco dos encontros entre professores e alunos, deixando
as habilidades básicas para atividades orientadas de estudo individuais, a serem
realizadas autonomamente pelos alunos. Os vídeos gravados pelos professores e o
194
material didático de apoio (livros, anotações, sites, etc.) são, segundo os autores, os
auxiliares do aluno neste processo. (SCHNEIDER et al., 2013, p. 74).
Nesse sentido, Bergmann (2018, p. 22, grifos no original) destaca que o “Dever de casa
invertido, as tarefas transformam o tempo de aula em tempo de aprendizagem, envolvimento e
significado. A aprendizagem invertida torna o dever de casa mais significativo ao dar mais
finalidade e envolvimento ao tempo em sala de aula”. A aplicação de jogos para verificação se
os discentes estão realizando o dever de casa invertido também é bem-vinda como feedback ao
docente.
Dessa forma, de acordo com o relatório “Guia de Campo da Sala de Aula Invertida80”,
ela “[...] é uma forma de aprendizado combinado, um termo que se refere a qualquer forma de
educação que combine instruções presenciais com atividades mediadas por computador81”
(FLIPPED CLASSROOM FIELD GUIDE, 2014, p. 4). Assim sendo, a prioridade da SAI é o
aprendizado do aluno, pois além de proporcionar uma diversidade de recursos, remete a uma
aprendizagem autodirigida, possibilitando, ainda, um “ganho” no tempo de aula presencial para
realizações de práticas que colaboram para a assimilação do conhecimento.
Moran (2013) destaca a importância da flexibilização na relação presencial-digital de
forma progressiva, criando a cultura do digital, oportunizando professores e alunos a aprender
em ambientes virtuais e integrando atividades presenciais e a distância, de forma mais
inteligente. Segundo o autor: “Tudo o que é informação pode ser disponibilizado no ambiente
virtual, reservando, assim, os momentos presenciais para aprofundamento, debate,
contextualização, remissão de dúvidas e elaboração de sínteses”. (MORAN, 2013, p. 61).
Entretanto, no contexto atual da COVID-19, no dia 1° de abril de 2020, o Estado do Rio
Grande do Sul reiterou a declaração de calamidade pública para fins de prevenção e
enfrentamento à pandemia (RIO GRANDE DO SUL, 2020). Assim, algumas atividades foram
suspensas, dentre elas o comércio (com exceção de serviços essenciais), proibição excepcional
de reuniões, eventos e cultos, suspensão de aulas, cursos e treinamentos em quaisquer níveis de
ensino, medidas mais restritivas para o uso do transporte de passageiros, entre outras, com o
intuito de diminuir o contato social e a proliferação do vírus (RIO GRANDE DO SUL, 2020).
Destaca-se, que as medidas, com o passar do tempo, se tornam cada vez menos restritivas, de
acordo com as regiões do Modelo de Distanciamento Controlado do Estado.
80
[Nome original] Portal Flipped Classroom Field Guide.
81
[Citação original] “[…] are a form of of blended learning, a term that refers to any form of education that
combines face-to-face instruction with computer-mediated activities” (FLIPPED CLASSROOM FIELD GUIDE,
2014, p. 4).
195
Além disso, a resolução destaca que o ERE não é definido apenas como uma
substituição das aulas presenciais, mas, sim, pelo uso de estratégias mediadas ou por tecnologias
digitais de informação e comunicação, que busquem, sobretudo, atingir os objetivos de
aprendizagem previstos na BNCC, no Referencial Curricular Gaúcho e no Documento
Orientador Curricular de Santa Maria, de forma interdisciplinar e contextualizada (SANTA
MARIA, 2020).
Dessa maneira, os estudantes que possuem acesso às tecnologias de informação e
comunicação estão recebendo materiais on-line, no Google Sala de Aula, enquanto aos que são
privados a esses recursos, são disponibilizados materiais impressos, levados para os alunos ou
buscado pelos pais, na escola. Nesse contexto, os professores estão utilizando ferramentas de
vídeo chamadas, como Google Meet, para contatar os alunos, dar instruções, tirar dúvidas e
realizar uma aula virtual ao vivo.
Nesse cenário, aulas com conteúdos expositivos não são muito atrativas, visto que se
torna bastante cansativo, pois os alunos precisam ficar assistindo em um dispositivo digital, em
certo tempo. Ainda assim, ressalta-se a importância da SAI nesse contexto, onde o professor
pode fornecer materiais, vídeos, textos e podcasts aos discentes, deixando os encontros virtuais
ao vivo para tirar dúvidas, promover debates ou atividades práticas, colocando o estudante no
centro do processo, atuando, assim, como mediador das experiências.
Segundo Moran (2013), a internet é um meio para encontrar respostas e problemas, pois
é possível encontrar o que se busca, mas, também, o que não se deseja. A facilidade traz uma
multiplicidade de fontes diferentes, com diferentes graus de confiabilidade, com visões de
mundo contraditórias. O objetivo é aproveitar o potencial da rede, equilibrando a rapidez e a
quantidade de informações para análise, decantação e reflexão (MORAN, 2013). Nesse sentido:
196
Assim, verifica-se que a postura do professor deve passar de um papel central, que
fornece respostas prontas ao aluno, para que assuma o papel ativo e participante e não mais
passivo e repetidor (MASETTO, 2013). A partir desse contexto, o professor se torna um
mediador pedagógico, pois seu comportamento coloca-o:
Aliado a isso, o estudo de Bulhões (2008) apresenta aspectos positivos do uso das TIC
por docentes e estudantes, e conclui que elas se fazem presentes nas aulas e na medição
pedagógica, porque contribuem de forma positiva para o aprendizado, além de facilitar o
trabalho docente. Em vista disso, o docente deve incentivar a participação e o envolvimento do
aluno, o intercâmbio e o diálogo entre os participantes, a utilização de técnicas e máquinas para
visualizar problemas e sua solução, discutir o processo, documentar a experiência, analisá-la e
criticá-la (MASSETTO, 2013). “Sem dúvidas essas técnicas podem midiatizar
pedagogicamente a aprendizagem” (MASSETTO, 2013).
Conforme já comentado, destaca-se a multiplicidade dos sistemas midiáticos, ou seja, o
mesmo conteúdo pode ser encontrado dos mais diversos temas, como texto, vídeos, áudios,
entre outros. Assim, em 1994, no colóquio do grupo de pesquisadores de Nova Londres, em
especial Bill Cope e Mary Kalantzis, publicaram um manifesto intitulado “Uma pedagogia dos
multiletramentos – desenhando os futuros sociais”. Na obra mencionada é ressaltada a
importância da escola no sentido de tomar como sua responsabilidade os novos letramentos
emergentes na sociedade contemporânea, principalmente com o advento das TIC e com toda a
diversidade cultural de um mundo globalizado presente em sala de aula (COPE; KALANTZIS,
2009; ROJO, 2013).
Um dos maiores desafios para a alfabetização é o aumento da multimodalidade.
Tradicionalmente, a alfabetização se limita a forma escrita da linguagem. Contudo, os recursos
multimídias são utilizados com maior frequência, principalmente difundidos pela internet.
197
82
[Citação original] “written-linguistic modes of meaning interface with oral,visual,audio,gestural,tactile,and
spatial patterns of meaning. This means that we need to extend the range of literacy pedagogy so that it does not
unduly privilege alphabetical representations.Supplementing these, the Multiliteracies approach suggests bringing
multimodal texts,and particularly those typical of the new,digital media,into the curriculum and classroom.This
makes literacy pedagogy all the more relevant and engaging for its manifest connections with today\'s
communications milieu. It also provides a powerful foundation for synesthesia,or learning that merges
from mode switching,moving backwards and forwards between representations in text, image, sound, gesture,
object, and space”. (COPE; KALANTZIS, 2015, p. 3).
83
[Citação original] “[...] text and images are increasingly coming together creating multimodal texts”.
(MARTINEC; SALWAY, 2005, p. 337).
198
usuários que recebem a informação também irão produzi-la, visto que estão em um mundo
conectado.
No contexto atual de utilização de mapas digitais, Gardner e Davis (2013) falam que:
Nos últimos anos, muitos de nós temos em nossas mãos ou em nossos veículos um
dispositivo que nos informa sobre nossa posição precisa no espaço, nos direciona
dessa posição para o local desejado e, se por algum motivo nos desviarmos da rota
preferida, ajusta suas direções de acordo. Para todos os fins práticos, esses sistemas
de GPS são aplicativos que removem a incerteza de nossa jornada. Na verdade, você
pode optar por usar seu smartphone como sistema de navegação acessando o Google
Maps. Esses aplicativos não apenas nos fornecem mapas extremamente detalhados de
locais; baseando-se em nossas preferências conhecidas e inferidas e nas opiniões de
outros usuários, eles nos informam sobre as opções a cada passo do caminho, como
restaurantes, cafés ou pontos de interesse próximos. Podemos dizer que esses
aplicativos permitem uma navegação sem erros, mesmo quando eles procuram
satisfazer todas as nossas possíveis necessidades e desejos no caminho84.
(GARDNER; DAVIS, 2013, p. 8-9, tradução nossa).
Pode-se, então, perceber que em um aplicativo que traça rotas da posição atual do
usuário até um destino determinado é utilizado muito mais informações do que somente um
mapa base. Existe, também, a questão envolvendo a orientação espacial e distâncias, as
mensagens textuais e gráficas (nome ou signo para pontos de referência), além de sons. Deste
modo, os mapas digitais possuem uma tendência a serem multimodais, desde que apresentem
aspectos e formas diversas, comunicando algo por meio de fala (som), escrita, leitura, texto e
imagem.
Os livros didáticos apresentam uma série de ilustrações com figuras, gráficos, charges,
mapas ou todas atuando de maneira simultânea em forma de infográficos, mobilizando apenas
a visão, pois é impresso. Deste modo, verifica-se a existência da multimodalidade no
desenvolvimento gráfico do livro. É importante que o aluno possua uma educação gráfica, que
ao observar a imagem, consiga associar aos conceitos estudados, significando seu uso naquele
momento.
As modalidades de escrita e leitura, impulsionadas pelos recursos tecnológicos no
aspecto da cibercultura, adquirem, além do multiletramentos, uma visão multimodal,
principalmente pelo avanço dos recursos de multimídia e hipertextos.
84
[Citação original] “In recent years, many of us have in our hands or in our vehicles a device that informs us of
our precise position in space, directs us from that position to our desired location, and, if for any reason we deviate
from the preferred route, adjusts its directions accordingly. For all practical purposes, such GPS systems are apps
that remove uncertainty from our journey. Indeed, you might decide to use your smartphone as a navigation system
by calling up Google Maps. Such apps not only give us extremely detailed maps of locations; drawing on our
known and inferred preferences and the reviews of other users, they inform us about options every step of the way,
such as nearby restaurants, cafés, or points of interest. We can say that these apps allow error-free navigation even
as they seek to satisfy all of our possible needs and desires en route.” (GARDNER; DAVIS, p. 8-9).
199
85
[Citação original] “Most texts in the history of psychology credit Francis Galton (1822–1911) and Alfred Binet
(1857–1911) as the first to develop theories of intelligence as well as instruments for its measurement. However,
credit should probably go to the Victorian polymath Herbert Spencer (1820–1903) as the first to develop a
substantive theory of intelligence (Guilford 1967) and one which implied––at least for Spencer––individual, racial,
and species differences in intelligence. (GREENWOOD, 2015, p. 123).
201
está relacionada ao tamanho do cérebro (GREENWOOD, 2015). Assim como Charles Darwin
(1809–1882), Spencer confiava na continuidade psicológica entre humanos e outros animais:
capacidade psicológica dos seres humanos e outros animais, diferem em grau, mas não em tipo
de fundamento. Enquanto para Charles Darwin (1809 – 1882), isso apenas significava que
capacidades complexas e distintamente humanas, como raciocínio e linguagem, poderiam ser
atribuídas a animais superiores de forma pelo menos insipiente. Já Spencer, sustentou que
humanos e outros animais apenas se diferem na complexidade de seus processos associativos,
logo, as capacidades complexas de humanos, como raciocínio e linguagem são meramente
elaborações dos processos associativos básicos, comuns a todos os animais (GREENWOOD,
2015).
Também utilizando os princípios da Teoria da Evolução proposta por seu meio-primo,
a contribuição de Francis Galton para a concepção de inteligência é concluir sua
hereditariedade. De acordo com Brody (2000), no livro Hereditary Genius (1869), Galton
destaca que:
Em seu livro, Galton selecionou alguns profissionais mais relevantes da época, dentre
eles escritores, artistas, juízes, militares e matemáticos. Assim, explorou as árvores
genealógicas de cada um e descobriu que muitos parentes também eram pessoas com elevado
grau de instrução e que possuíam profissões da alta sociedade. Para Galton (1869, p. 6, tradução
nossa) “Os argumentos pelos quais me esforço para provar que gênio é hereditário, consiste em
mostrar quão grande é o número de casos em que homens que são mais ou menos ilustres têm
parentes eminentes87”. Gardner (1998, p. 56) ressalta que é uma situação muito “[...] mais
provável que os pais eminentes tivessem filhos eminentes, numa oposição a sobrinhos distantes
[...]. Uma vez que parentes mais próximos tendiam mais a se tornar muito conhecidos [...]”.
86
[Citação original] “[...] genius is a normally distributed and heritable characteristic of humans. Galton believed
in racial hierarchies. He argued that the ancient Greeks were as superior to his English contemporaries in their
capacity for genius as his contemporaries were superior to Africans and their American descendants”. (BRODY,
2000, p. 16).
87
[Citação original] “THE arguments by which I endeavour to prove that genius is hereditary, consist in showing
how large is the number of instances in which men who are more or less illustrious have eminent kinsfolk.”
(GALTON, 1869, p. 6).
202
No mesmo período em que Galton utilizava testes psicofísicos para estudar as diferenças
de inteligência entre os indivíduos, o psicólogo francês Alfred Binet considerava a
compreensão, o julgamento, o raciocínio e a invenção como noções da inteligência. Até o século
XIX, majoritariamente, a grande porção das crianças que frequentavam as escolas eram de
família tradicional. Entretanto, com a difusão da educação em massa, as instituições passaram
a educar um grupo mais amplo, com uma maior heterogeneidade, com pouquíssima ou
nenhuma instrução antes de entrar na instituição de ensino (GARDNER, 1998).
Em 1905, Alfred Binet e sua assistente de pesquisa Theodore Simon (1873-1961),
elaboraram um teste para medir a inteligência das crianças. Os testes foram projetados para
garantir que a maioria das crianças, em qualquer idade, testassem como meio de avaliar o “nível
mental”. Diferentemente dos testes de Galton, os testes de Binet-Simon foram baseados em
medidas diretas de habilidades intelectuais, como compreensão, resolução de problemas e
raciocínio lógico e analógico (todas as formas de julgamento para uma pessoa “ser inteligente”).
(GREENWOOD, 2015). O objetivo do estudo, nas palavras de Binet e Simon (1916, p. 412,
tradução nossa): “[...] é poder medir a capacidade intelectual de uma criança que é trazida até
nós para saber se é normal ou retardada88”.
Os procedimentos pareciam uma testagem em quatro aspectos. O primeiro, testa,
principalmente, as funções mentais complexas, como o vocabulário e a compreensão (por
exemplo, o que você deve fazer quando está com sono?). O segundo aspecto avalia os diferentes
tipos de habilidades. O terceiro aspecto se refere à possibilidade de ser administrado sem
equipamento especial de laboratório. Por fim, no quarto aspecto, os itens foram agrupados de
acordo com a dificuldade. Binet e Simon acreditavam que as crianças que eram retardadas,
geralmente, apresentavam um nível comparável ao das crianças normais mais jovens (BRODY,
2000).
O resultado do trabalho, delineou a “Escala de Mensuração de Inteligência de Binet-
Simon”, referindo-se a um padrão que a maioria das crianças, com idade entre três e doze anos,
conseguiu resolver. As perguntas de seus testes eram em níveis graduais de dificuldade para
crianças de diferentes idades. O Quadro 17 ilustra a série de testes, de acordo com as idades em
que a maioria das crianças é bem-sucedida. O estudo teve como conclusão a existência de:
88
[Citação original] “[...] is to be able to measure the intellectual capacity of a child who is brought to us in order
to know whether he is normal or retarded”. (BINET; SIMON, 1916, p. 412).
203
de sua idade; e o desempenho desses testes certamente não requer mais de trinta
minutos que devem ser interrompidos por dez minutos de descanso 89 [...]. (BINET;
SIMON, 1916, p. 421, tradução nossa).
89
[Citação original] “[...] an instrument which allows us to measure the intellectual development of young children
whose age is included between three and twelve years. This method appears to us practical, convenient and rapid.
If one wishes to know summarily" whether a child has the intelligence of his age, or if he is advanced or retarded,
it suffices to have him take the tests of his age; and the performance of these tests certainly does not require more
than thirty minutes which should be interrupted by ten minutes [...]”. (BINET; SIMON, 1916, p. 421).
204
Essa demanda por um sistema de testes apresenta um problema científico tão difícil
que é perfeitamente evidente que psiquiatras e educadores não podem resolvê-lo como
uma questão paralela de seu trabalho profissional, mas que a própria psicologia terá
que realizar a tarefa. É interessante, neste contexto, observar como a psicologia atacou
205
Sobre a Escala de Binet-Simon, Stern (1914) observa que são do tipo alternativo, ou
seja, que o desempenho não pode ser graduado, somente pontuado como certo ou errado. Ao
responder incorretamente, conta-se para menos, expressamente pelo nível da resposta. Admite-
se, também, que é muito difícil decidir “para mais ou para menos” em certos casos. A única
maneira de fazer isso é praticar por muito tempo e observar uniformemente os critérios
escolhidos para a decisão (STERN, 1914).
De acordo com Stern (1914), os testes individuais têm valores muito desiguais. Muitos
são por méritos excepcionais, como na descrição de figuras e perguntas que valorizam a
inteligência. Destaca-se, o mérito da existência de testes cuja solução não dependa apenas da
fala, como o arranjo ordenado de pesos, comparações estéticas e o reconhecimento de figuras.
Demasiadamente, aceita-se o controle da expressão verbal como inteligência, uma inferência
frequentemente falsa. No entanto, outros testes, como identificar moedas e recitar os dias da
semana, são puramente memórias mecânicas, devendo ser substituídas por outras, no futuro.
(STERN, 1914).
Para propor o Quociente Mental, Stern utilizou a Escala de Binet-Simon para determinar
a idade mental. Conforme Stern (1914), Binet verifica até que faixa etária os testes são passados
sem falhas (era permitido, pelo menos, uma única falha a cada idade, porque tal falha pode ser
90
[Citação original] “This demand for a system of tests presents such an exceedingly difficult scientific problem
that it is perfectly evident that alienists and educators can not solve it as a side issue of their professional work, but
that psychology itself will have to undertake the task. It is interesting in this connection to note how psychology
attacked the problem along two very different lines. I feel that it is important to consider them separately in what
follows. Neither of these two lines of effort should be regarded as the only correct one; each method has its
advantages and its disadvantages, and, what is particularly important, each has its special aim for which it is fitted.
The method of age-gradation of Binet and Simon permits of a rough gradation of intelligence for the whole range
of development of the child; it is for use in a comparable manner with children of different ages, of different
nationality and cultural level, with normal and with feeble-minded children of all grades. The method of rank
correlation, on the other hand, is limited thus far to a comparison of the members of a small homogeneous group,
but renders it possible to test the gradation of intelligence within this group with a precision that the Binet method
can not approximate. A considerable amount of material is already available for the first of these methods, and we
shall have to deal with it at some length for that reason. With the second method, on the contrary, our discussion
will center upon the outlook for its future development”. (STERN, 1914, p. 26).
206
um lapso momentâneo de atenção), esse nível de idade é tomado como base. (STERN, 1914).
Por exemplo, se uma criança de 8 anos consegue resolver ou responder as atividades previstas
para 10 anos, deve-se considerar que a idade mental dela seja 10 anos (8 + 2). Em vista disso,
se a diferença fosse positiva, considerava-se um avanço mental absoluto, se negativo, um
retardo mental absoluto (STERN, 1914). Segundo Stern (1914, p. 38, tradução nossa) isso: “[...]
tem o significado de uma designação de idade: indica que a inteligência da criança testada é
equivalente à inteligência média das crianças da idade declarada. Assim, chegamos ao conceito
de idade mental91 [...]”.
Sem dúvida, o mais significativo é a relação da idade mental com a idade cronológica
real do sujeito, pois, como já foi dito, um certo nível mental vai normalmente com uma certa
idade, de modo que a relação da idade mental com a cronológica indica a quantidade de
discrepância entre a inteligência presente e a exigida (no sentido de uma norma a ser esperada)
e, dessa forma, fornece uma expressão para o grau de dote intelectual da criança (STERN,
1914).
Segundo Stern (1914), para determinar o quociente mental:
91
[Citação original] “[...] the significance of an age-designation: it indicates that the intelligence of the child tested
is equivalent to the average intelligence of the children of the age stated. We thus arrive at the concept of mental
age [...]” (STERN, 1914, p. 38).
92
[Citação original] “The formula is, then: mental quotient = mental age ÷ chronological age. With children who
are just at their normal level, the value is 1, with those who are advanced, the value is greater than unity, with those
mentally retarded, a proper fraction. The more pronounced the feeble-mindedness, the smaller the value of the
fraction. Another and last concept that 'mental age' supplies is that of mental arrest. This applies only to feeble-
minded individuals and means a mental age that is not exceeded, despite increase of chronological age. (STERN,
1914, p. 42).
207
O Exame Alpha consistia em oito testes, com um tempo aproximado de aplicação entre
40 e 50 minutos, podendo ser aplicado a um grupo de até 500 pessoas. Os examinados recebiam
o formulário do teste e um lápis. As respostam eram tabuladas com base nas respostas dos
examinados (geralmente envolvia a escrita de números, sublinhar, riscar ou escolher a resposta
correta). O Teste 3 do Exame Alpha pode ser visualizado na Figura 59, onde os soldados
tiveram 1 minuto e meio para responder esse teste (WASSERMAN, 2012).
93
[Citação original] “When the United States entered World War I, Yerkes, as president of the American
Psychological Association, initiated efforts to aid in the war effort. The primary result was the development and
use by a group of psychometricians under Yerkes’s leadership of the army alpha and beta intelligence tests; these
were given to 1.75 million recruits and helped establish psychology as an important discipline”. (KAZDIN, 2000,
p. 295).
208
Conforme Wassermann (2012), o Exame Beta era composto de sete testes, tipicamente
caracterizados pela predominância não verbal, com algumas instruções verbais breves, como,
por exemplo, “corrija!”, em casos de imagens incompletas. Eram admitidos a grupos de até 60
pessoas, sendo concluído em, aproximadamente, 50 a 60 minutos. Exigia um quadro negro com
giz, apagador, cortina e gráfico (e um rolo para mostrar 27 figuras em painéis). A Figura 60
ilustra a tarefa 6 do Exame Beta.
Conforme Yerkes (1921) apud Wasserman (2012) uma parte do Exame Beta de
conclusão de imagens do Exército tinha como instrução: Este aqui é o Teste 6. Veja! Um monte
de imagens. O aplicador aponta para uma amostra separada na frente da sala e diz aos
examinados: “Conserte”. A demonstração é repetida com outro item da amostra. Em seguida,
o examinador aponta para os desenhos e diz: “Corrija todos eles”. Ao final, o aplicador fala:
“Continue. Se apresse!”. Ao final de três minutos, o examinador diz: “Pare!” (YERKES, 1921
apud WASSERMAN, 2012).
Os relatórios de classificações de inteligências, com base em testes, eram feitos em 24
horas e inseridos nos registros do Exército e cartões de qualificação que eram entregues aos
comandantes e oficiais. Os exames individuais como Escala de Ponto de Yerkes-Bridges,
Escala de Inteligência de Stanford-Binet ou a Escala de Desempenho do Exército eram
reservados como verificações de resultados problemáticos de exames em grupo.
(WASSERMAN, 2012).
Esse score atribuído com base em respostas corretas e em menor tempo foi muito
utilizado em fins educacionais. Sobre isso, Gardner (1994, p. 3) diz que esses testes
influenciavam “[...] a maneira como seus professores pensarão sobre ela e estabelecendo sua
elegibilidade para determinados privilégios”.
Nesse sentido, Devonis (2016) destaca que:
Mas focar apenas em nosso próprio passado recente nos Estados Unidos obscurece o
fato de que é um problema cultural persistente em todo o mundo decidir quem deve
ser educado, quem deve ser denominado "educado", quem deve ter acesso à educação
e como alcançar uma educação pode ser determinada. Os testes de inteligência de
1910 foram apenas os últimos em uma tradição secular de exames escolares. Os
afortunados o suficiente para receber mais do que o mínimo de exposição à
escolaridade antes de 1910 - e para a maior parte do mundo, havia muito poucos que
se encaixavam nessa descrição - foram submetidos a exames estritos e rigorosos para
determinar quem lideraria, quem seguiria, e quem seria posto de lado 94. (DEVONIS,
2016, p. 179, tradução nossa).
94
[Citação original] “But focusing only on our own recent past in the United States obscures the fact that it is a
persistent cultural problem worldwide to decide who should be educated, who should be termed ‘educated’, who
should have access to education, and how the achievement of an education can be determined. The intelligence
tests of 1910 were just the latest in a centuries-old tradition of school examinations. Those fortunate enough to
receive any more than minimal exposure to schooling before 1910 — and for most of the world, there were very
210
few that fit that description — were subject to strict and rigorous examinations to determine who would lead, who
would follow, and who would be cast aside”. (DEVONIS, 2016, p. 179).
211
Para definir o valor do corte de cada intervalo, Wechsler (1939) destaca que:
95
[Citação original] “[...] aggregate or global capacity of the individual to act purposefully, to think rationally and
to deal effectively with his environment. It is aggregate or global because it is composed of elements or abilities
which, though not entirely independent, are qualitatively differentiable”. (WECHSLER, 1939, p. 7).
96
[Citação original] “The classification proposed is that each intelligence level have a class interval embracing a
range of IQ's falling at ameasured distance from the mean, these distances being expressed asmultiples of standard
deviations (actually, P.E.'s). Thus, a mental defec-tive is a person whose IQ falls three or more P.E.'s below the
mean. Interms of percentile ranking he falls approximately among the lowest 2.2per cent of the total population.
Similarly, a person of borderline defec-tive intelligence is an individual who attains an IQ that falls between
adeviation of —3 P.E. and —2 P.E. from the mean or, in terms of percentile rank, a position anywhere from circa
the lowest 3rd to circa the lowest 10thpercentile. And so with the other categories. The choice of limiting pointsis
only in part arbitrary. In the case of mental defectives, for example,there are available various estimates of the
213
Cabe destacar, que o WAIS foi revisado em 1981 (WAIS-R) e em 1997 (WAIS-III).
Encontra-se em sua quarta edição WAIS-IV e é o teste de QI mais utilizado do mundo97. As
críticas apresentadas por Wechsler na escala para adultos de Binet, a edição atual do teste
(WAIS-IV) incorpora uma pontuação geral, com algumas tarefas cronometradas. Embora a
escala tenha sido revisada, conta, ainda, com conceitos originais de Wechsler e que se tornaram
padrões para testes psicológicos, como o conceito de escala de pontos e escala de desempenho
(KAUFMAN; LICHTENBERGER, 2006).
Conforme Viana e Nascimento (1999, p. 100), “O histórico dos testes de inteligência
revela, contudo, que, antes de se definir um conceito de inteligência, a inteligência já estava
sendo medida: o conceito veio num momento posterior. Deste modo, houve uma maior
preocupação metodológica do que conceitual”.
Uma das primeiras abordagens para o estudo da inteligência foi a Psicometria, que “[...]
enfatiza o desempenho intelectual e os fatores gerais ou específicos que a compõem. Ela
presume que a inteligência é uma habilidade inata, fixa, abstrata e gera, cujo grau de intensidade
[...] pode ser medido através do desempenho em testes”. (ROAZZI; SOUZA, 2002, p. 32). A
partir da contestação de correlações bastante elevadas em diversas aptidões, como a memória,
raciocínio matemático e percepção visual. Os resultados obtidos demonstram, estatisticamente
falando, que todas as habilidades específicas estão diretas ou indiretamente associada a um
“fator geral” ou “fator g”. (ROAZZI; SOUZA, 2002).
A existência do fator g foi proposta pelo psicólogo inglês Charles Spearman (1863 –
1945), no início do século XX. Ele observou que o desempenho escolar das crianças era
correlacionadas e concluiu que isso refletia uma capacidade geral, que influenciava, de certa
maneira, todos os tipos de testes mentais (THOMSON, 1916). Segundo Roazzi e Souza (2002),
até a metade da década de 1960, a utilização e a aplicação dos testes de inteligência não eram
questionadas, pelo contrário, eram vistos como uma das maiores descobertas da Psicologia. Os
psicólogos seriam os detentores de instrumentos que permitiam o acesso aos “segredos da
mente humana”, colocando-os em uma posição privilegiada na sociedade. Tais instrumentos
probable incidence of mentaldeficiency in this country based on different modes of evaluation. Theseestimates,
though varying greatly among themselves, give a mean figurewhich is not far from about 2.5 per cent of the total
population. It thereforeseemed reasonable to define the mental defective groups as those individuals who attain
IQ's falling at a distance of —3 or more P.E.'s from the mean. This distance, as already noted, is equivalent to
about 2.2 per cent of thetotal area of the normal curve. For the intermediate categories, such asborderline and dull-
normal intelligence, as well as those of average, high-average, superior and very superior, it was decided to use
the interveningintegral multiples of the probable error”. (WECHSLER, 1939, p. 40).
97
Atualmente, no Brasil, utiliza-se o WAIS-III ao invés do IV pela necessidade de estudos para validação com a
população local, pois não é possível utilizá-lo sem que haja uma adequação.
214
lógica mental procura organizar as operações lógicas mais básicas da inteligência humana,
descrevendo os processos mentais observados (ROAZZI; SOUZA, 2000).
Nesse contexto, Howard Gardner, psicólogo cognitivo estadunidense, coloca que o
interesse no fator g é principalmente daqueles que sondam a inteligência acadêmica e que
estudam as correlações entre os resultados de testagens (GARDNER, 2001), característicos da
abordagem Psicométrica. Para ele:
Gardner e Walters (1995, p. 20) falam que, em uma visão tradicional, “[...] a inteligência
é definida operacionalmente como a capacidade de responder a itens em testes de inteligência”.
Por exemplo, de acordo com Gardner (1994), uma menina passa uma hora com um examinador,
que lhe faz uma série de perguntas que investigam seu cabedal de informações (quem descobriu
a América?), seu vocabulário (o que significa absurdo?), suas habilidades aritméticas (a 10
centavos cada, quanto custarão três balas?), sua capacidade de lembrar uma série de números
(5, 1, 7, 4, 2, 3, 8), ou, ainda, solicitar para que resolva um labirinto ou quebra-cabeça. Algum
tempo depois, o examinador faz uma categorização das respostas e chega em um número único
– o Quociente de Inteligência (QI) da menina. (GARDNER, 1994).
Após a Primeira Guerra Mundial, os testes de inteligência se difundiram pelo mundo,
causando euforia à população em geral, pela possibilidade de saberem o quão eram inteligentes.
Desse modo, tem-se um anúncio de como os testes de QI eram comercializados na época:
Você precisa de um teste individual que forneça rapidamente uma estimativa estável e
confiável de inteligência em quatro ou cinco minutos por formulário? Que tenha três
formulários? Que não dependa da produção verbal ou de instrumentação subjetiva? Que
possa ser usado com pessoas com grave deficiência física (inclusive paralisia), se elas
puderem sinalizar sim ou não? Que avalie crianças de dois anos de idade e adultos com
a mesma curta série de itens e o mesmo formato? Tudo isso por apenas $16.00.
(GARDNER, 1994, X; GARDNER, 1995, p. 12).
atribuindo uma numeração após o encerramento do teste, sem que ocorresse a resolução de
tarefas ou problemas das mais diversas áreas do conhecimento.
Sobre isso, Gardner (1994, p. X) diz que se sente “[...] igualmente suspeitoso de
alegações de testagem de inteligência (seja de que tipos forem) através de medições de tempo
ou de ondas cerebrais. É bem possível que estas medidas estejam em correlações com os QIs –
mais um motivo, a meu ver, para colocar os QIs em dúvida”.
Por exemplo, ao considerar um músico, veremos sua incrível facilidade para a percepção
de sons, diferenciação entre ritmo, tom, melodia e frequência, aliada à capacidade de tocar um
ou mais instrumentos, enquanto um dançarino utiliza seu corpo de maneira habilidosa para seus
propósitos de expressões. Além disso, um biólogo consegue classificar as diferentes espécies
de animais e vegetais. Talvez, esses três exemplos em um teste teriam um QI intermediário,
visto que não ocorre a avaliação de conhecimentos musicais, corporais e naturalistas, que são
áreas do músico, dançarino e biólogo, respectivamente, mas, sim, lógico-matemáticos e
linguísticos. Entretanto, é notável a existência de diferentes competências intelectuais.
Acerca disso, Gardner (1994) afirma que “Grande parte das informações investigadas
em teste de inteligência refletem o conhecimento adquirido pela vivência num determinado
meio social e educacional”, porém, raramente “avaliam a habilidade de assimilar informações
novas ou resolver problemas novos”. (GARDNER, 1994, p. 14).
Dentro do contexto discutido, Gardner apresenta, em 1983, a Teoria das IM no livro
“Estruturas da Mente: a Teoria das Inteligências Múltiplas”, pelo fato de não concordar que a
inteligência geral (fator g) obtida pela correlação de variáveis obtidas em testes, seja capaz de
dar conta de todos os conhecimentos do intelecto humano, sendo associada, principalmente, a
capacidade de dar respostas sucintas e de modo rápido (GARDNER, 1994; GARDNER, 1995).
Assim, Gardner (1994) defende a ideia de que existe uma série de evidências de diversas
competências intelectuais humanas relativamente autônomas, o que ele chama de inteligências
humanas ou IM.
Esse critério tem como objetivo avaliar o comportamento de cada inteligência, de acordo
com algum dano ou impacto em local específico do cérebro, ou seja, verificar se a aplicação de
alguma espécie de dano, como um derrame ou Acidente Vascular Cerebral, por exemplo, é
capaz de afetar parcialmente ou totalmente uma inteligência. Assim, Gardner (1994) afirma
que “Na medida em que uma faculdade particular pode ser destruída ou poupada em
isolamento, em decorrência de dano cerebral, sua relativa autonomia de outras faculdades
humanas parece provável”. (GARDNER, 1994, p. 48).
Como exemplo, um indivíduo que tenha uma excelente compreensão espacial receber
um impacto considerável no lado direito do seu cérebro, podendo perder essa capacidade de se
localizar, além de afetar as inteligências musicais e naturalista, pelo fato de se localizarem no
mesmo hemisfério. Dessa maneira, observa-se a relevância no estudo das operações de
isolamento por dano no cérebro e suas consequências.
Esse sinal se refere a análise envolvendo indivíduos que conseguem cumprir algo
complexo em determinada área do conhecimento e nas demais apresenta, na maioria das vezes,
um desempenho pífio. Nos sujeitos prodígios, encontra-se um grande conhecimento em uma
ou em algumas áreas do conhecimento humano, enquanto os idiots savants (em português,
idiota sábio), autistas ou indivíduos excepcionais alcançam o resultado de um experimento ou
cálculo complexo em poucos minutos, todavia, não conseguem explicar os procedimentos
utilizados para realizar tal tarefa, demonstrando a excepcionalidade em uma área (RIZZATTI,
2018).
98
Segundo Mesquita (2007, p. 1), “o termo idiots savants surgiu em 1985 e caracteriza certos indivíduos que não
obstante suas debilidades cognitivas apresentam raras bolsas de brilho na resolução de determinadas tarefas. [...].
O autismo, como problemática neurológica, social e comportamental parece estar bastante associada a indivíduos
com essas características, mas os idiots savants surgem também associados a debilidades mentais na ausência de
características autistas. Estes indivíduos são capazes da execução de tarefas extremamente complexas com
aparente facilidade tais como cálculos de datas em calendários. Contudo, permanecem ainda com dúvidas acerca
dos métodos utilizados na sua resolução”.
219
[...] estar ligada a fatores genéticos, ou [...] a regiões neutrais específicas, a alegação
de uma inteligência específica é melhorada. Ao mesmo tempo, a ausência seletiva de
uma habilidade intelectual – na medida que pode caracterizar crianças autistas ou
jovens com incapacitações de aprendizagem – pode ser uma confirmação por negação
de uma determinada inteligência. (GARDNER, 1994, p. 48).
Desta forma, esse estudo se evidencia como fundamental para auxiliar na compreensão
das operações centrais, localizando o substrato neural e comprovando que os centros são
separados. A resistência à detecção de operações centrais é um indicativo de que algo está
faltando: pode-se estar à frente de uma mistura que exige decomposição de suas inteligências
constituintes. (GARDNER, 1994).
De modo geral, as pessoas não demonstram sua inteligência em estado neutro, mas
ocupando cargos e funções importantes na sua sociedade. Para tal, necessita-se de um longo
processo de desenvolvimento, com a realização de atividades ou problemas que abordem a
função que buscam desempenhar, por meio de treinamento (estudo e estímulos) (RIZZATTI,
2018).
Nesse sentido, Gardner (1994) aborda:
Uma inteligência específica torna-se plausível na medida em que possa localizar seus
antecedentes evolutivos, incluindo suas capacidades, como o canto dos pássaros ou uma
organização social primata. Períodos de crescimento rápido, na pré-história humana, mutações
que podem ter conferido vantagens especiais a certa população são proveitosas para um estudo
de múltiplas inteligências. (GARDNER, 1994).
Howard Gardner aborda que os indivíduos possuem uma variedade de aptidões, como,
por exemplo, algumas pessoas apresentam uma grande facilidade para cálculos matemáticos e
outras têm um domínio corporal, executando movimentos precisos em uma prática esportiva.
Por mais que tenham facilidades nessas áreas, naturalmente terão dificuldades em outras. Dessa
maneira, propôs, em uma primeira abordagem, baseada em seus critérios, que os seres humanos
apresentam sete inteligências, a saber: 1) Inteligência Linguística; 2) Inteligência Musical; 3)
Inteligência Lógico-Matemática; 4) Inteligência Espacial; 5) Inteligência Corporal-Cinestésica;
6) Inteligências Pessoais: Intrapessoal e Interpessoal. Em 1996, Gardner altera sua lista de
inteligências, passando a considerar a existência de uma Inteligência Naturalista. Neste
momento, as inteligências citadas são apresentadas, suas características, como criar estímulos
para motivação e desenvolvimento nas aulas de Geografia.
Gardner (1994) aponta quatro aspectos do conhecimento linguístico que provaram ser
de notável importância para a sociedade. O primeiro se refere ao aspecto retórico da linguagem,
223
O governo português resolvera então povoar o Rio Grande de São Pedro, a fim de
facilitar as comunicações entre a Laguna e Sacramento, bem como para garantir a
posse deste último estabelecimento. Laguna, pois, ficou sendo ponto de partida das
muitas levas de homens que entraram nos disputados campos do extremo sul, para
abrir caminho até o rio da Prata, de onde retornavam com novas da Colônia. E
naqueles vinte últimos anos muitos lagunistas e vicentistas se haviam fixado em vários
pontos do continente, estabelecendo invernadas e currais que mais tarde se
transformavam em estancias. Contava-se até que quase todos eles já tinham
conseguido cartas de sesmaria. E o fato de os portugueses haverem fundado em 1737
um presidio militar no Rio Grande indicava que estavam decididos a tomar posse
definitiva do Rio Grande de São Pedro. (VERÍSSIMO, 2013, p. 37).
Nesse trecho, pode-se abordar a questão da disputa entre portugueses e espanhóis entre
a Colônia de Sacramento (Uruguai) e o Sete Povos das Missões, a relação envolvendo entre
esses dois pontos estratégicos e os tratados de Tordesilhas (1494), o de Madrid (1750) e o de
Santo Ildefonso (1777).
225
Quadro 18 – Regiões Literárias do Brasil Meridional e temáticas geográficas apresentadas nas obras.
ESTADO REGIÕES
TEMÁTICA OBRA
LITERÁRIAS
Índios Guaranis
Bandeirantes O Tempo e o Vento
Missões Jesuíticas*
Aparecimento do gado (Erico Verissimo)
Tratados territoriais
Contos Gauchescos
(João Simões Lopes Neto)
O Tempo e o Vento
Aspectos naturais
(Erico Verissimo)
Cultura gaúcha
Campanha Gaúcha
Revolução Farroupilha
Um Quarto de Légua em Quadro
Definição das fronteiras
(Luiz Antonio de Assis Brasil)
Rio Grande
do Sul Os Varões Assinalados
(Tabajara Ruas)
A Ferro e Fogo
(Warren Dean)
Videiras de Cristal
(Luiz Antônio de Assis Brasil)
Verde Vale
Tropeiros (Urda Alice Klueger)
Santa
Vale do Itajaí Imigrantes
Catarina
Princípios da Industrialização No Tempo das Tangerinas
(Urda Alice Klueger)
Formação regional
Terra Vermelha
Paraná Norte do Paraná Solos
(Domingos Pellegrini)
Transformações no espaço
* Não considerada uma região geográfica pelo atlas, mas fundamental para a ocupação do território.
Fonte: adaptação de IBGE (2006).
226
Segundo Smole (2016), para Gardner considerar a competência musical como uma
inteligência consolidada, ele observou o papel da música desde os povos primitivos, com
diferentes épocas e culturas, desde o desenvolvimento infantil e se convenceu que a habilidade
musical representa uma manifestação da inteligência. Armstrong (2001) aborda que as
habilidades de quem possui a Inteligência Musical desenvolvida envolve a capacidade de
percepção, discriminação, transformação e aptidão em se expressar por formas musicais.
Assim, tem sensibilidade ao ritmo, tom e melodia em uma peça musical (ARMSTRONG,
2001), enquanto Antunes (2012) diz que as habilidades se referem na observação e
identificação, além de relatar, produzir e combinar elementos ou fatos, relacionando-se mais
intensamente com a inteligência Lógico-Matemática e com a Corporal-Cinestésica
(ANTUNES, 2012).
Tratando-se das inteligências que as pessoas podem possuir, a Musical é a mais
perceptível ou destacada delas. Quando criança, a destreza de tocar algum (uns) instrumento (s)
ou o canto é aflorado, mesmo sem estímulos (treinamento). Assim, as crianças detentoras desse
conhecimento musical são tidas como detentoras, popularmente falando, de um dom ou talento
(RIZZATTI, 2018). Gardner (2001, p. 57) diz que “[...] a inteligência musical tem uma estrutura
quase paralela à da inteligência linguística, e não faz sentido científica nem logicamente chamar
uma de inteligência (a linguística) e a outra (em geral a musical) de talento”.
Sobre os conhecimentos musicais precoces, Gardner (1994) apresenta que:
Podemos captar alguma noção da gama e das fontes dos talentos musicais precoces
ao escutarmos uma audição musical hipotética na qual os intérpretes são três crianças
pré-escolares. A primeira criança interpreta uma suíte de Bach para violino solo com
precisão técnica e considerável sentimento. A segunda canta uma ária completa de
uma ópera de Mozart após ouvi-la apenas uma única vez. A terceira criança senta-se
ao piano e toca um minueto simples que ela mesma compôs. Três performances
realizadas por três prodígios musicais. Mas será que todos chegaram a este apogeu do
talento musical pelas mesmas vias? Não necessariamente. A primeira criança poderia
ser um jovem japonês que participou desde os dois anos de idade no programa Suzuki
de Educação de Talentos e, como milhares de seus iguais, já domina os fundamentos
básicos de um instrumento de cordas ao chegar à idade escolar. A segunda criança,
poderia ser uma vítima de autismo, um jovem que mal é capaz de se comunicar com
qualquer pessoa e que é gravemente perturbado em várias esferas afetivas e
cognitivas; ainda assim é capaz de repetir perfeitamente qualquer peça que escute. O
terceiro poderia ser uma criança criada numa família musical que começou a tirar de
ouvido melodias por conta própria – um regresso aos precoces jovens Mozart,
Mendelssohn ou Saint-Saens. (GARDNER, 1994, p. 78).
apresentar uma incrível capacidade para replicar algo que acabou de escutar, mas enfrenta
problemas na hora de explicar como realizou a tarefa de maneira tão hábil, ou ainda, a uma
pessoa criada em uma família de músicos, onde o processo biológico atrelado ao contexto em
que se está inserido colabora para tal performance.
Para a percepção e produção da música, ocorrem atividades cerebrais em determinadas
regiões do cérebro. Sobre isso, Gardner e Walters (1995, p. 22) destacam que “Estas áreas são
estão caracteristicamente localizadas no hemisfério direito, embora a capacidade musical não
esteja claramente ‘localizada’ em uma área tão especifica como a linguagem”. Embora a
susceptibilidade da capacidade musical ao dano cerebral dependa do nível de treinamento,
existe a evidência de incapacidade patológica de produzir, reproduzir ou perceber sons
(GARDNER; WALTERS, 1995).
A Inteligência Musical pode ser identificável pela destreza ou aptidão de compor e
executar padrões musicais com harmonia, mas, também, por escutá-los e discerni-los. É
predominante em músicos, maestros, compositores e críticos de música, como por exemplo
Caetano Veloso, Milton Nascimento, Alceu Valença, Heitor Villa-Lobos, entre outros.
No ambiente escolar, a música pode se tornar um excelente aliado no processo de
ensino-aprendizagem, ajudando no desenvolvimento intelectual e possibilitando a identificação
de elementos sobre algumas temáticas e inter-relações. De acordo com a BNCC, os recursos
sonoros devem estar presentes desde a educação infantil, pela utilização de: “[...] diferentes
fontes sonoras disponíveis no ambiente em brincadeiras cantadas, canções, músicas e melodias”
(BRASIL, 2018, p. 48). As produções musicais podem ser utilizadas para a obtenção de
informações, comparações e interpretações de paisagens para a construção de conhecimentos
sobre o espaço geográfico (BRASIL, 1998).
A compreensão da letra da música permite uma assimilação acerca da realidade histórica
ou da região de onde a mesma foi composta, permitindo a interpretação de diferentes paisagens
naturais e culturais, além da possibilidade de atribuir uma localização espacial ao cenário
montado pela música. Assim, percebe-se a relação entre a Inteligência Musical e Espacial.
Como exemplo, segue um fragmento da música “Fotografia 3x4”, composta por Antonio Carlos
Belchior, gravada em 1976:
Eu me lembro muito bem do dia que eu cheguei/ Jovem que desce do Norte pra cidade
grande/ Os pés cansados e feridos de andar légua tirana/ De lágrimas nos olhos de ler
o Pessoa/ E de ver o verde da cana. Em cada esquina que eu passava um guarda me
parava/ Pedia os meus documentos e depois sorria/ Examinando o 3x4 da fotografia/
E estranhando o nome do lugar de onde eu vinha. Pois o que pesa no Norte, pela lei
da gravidade/ Disso Newton já sabia: cai no Sul, grande cidade/ São Paulo violento,
corre o Rio que me engana/ Copacabana, Zona Norte e os cabarés da Lapa onde eu
228
morei. Esses casos de família e de dinheiro eu nunca entendi bem/ O sol não é tão
bonito pra quem vem do norte e vai viver na rua/ A noite fria me ensinou a amar mais
o meu dia/ E pela dor eu descobri o poder da alegria/ E a certeza de que tenho coisas
novas/ Coisas novas pra dizer. (BELCHIOR, 1976, s/p).
de interesse. Em uma representação tridimensional, como um globo, por exemplo, esse fato é
mais facilmente perceptível, pois a angulação máxima entre o Equador e os polos são 90°,
enquanto do meridiano de Greenwich até seu antimeridiano totalizam 180°. Não obstante, ao
visualizar os paralelos e meridianos em um mapa, trata-se de uma abstração, pois as linhas
imaginárias são apresentam nenhuma relação com ângulos, o que pode levantar uma questão
dos alunos: “por que são expressas em graus e não em m ou km?”.
Da mesma maneira, para o manuseio de uma bússola de orientação é recomendável que
o usuário tenha conhecimento sobre ângulos, visto que a direção é expressa pelo ângulo
formado pelo Norte (magnético) e o local de destino que se deseja ir. Deste modo, a noção dos
quadrantes matemáticos é fundamental. Além disso, os fusos horários também são algumas
aplicações matemáticas na ciência geográfica (RIZZATTI, 2018).
Por outro lado, as informações quantitativas sobre unidades da federação, municípios e
bairros, por exemplo, podem ser agrupadas em tabelas e sistematizados em gráficos. Sobre isso,
a BNCC (2018, p. 297) destaca que se devem realizar pesquisas: “[...] envolvendo variáveis
categóricas e numéricas, organizar dados coletados por meio de tabelas, gráficos de colunas,
pictóricos e de linhas, com e sem uso de tecnologias digitais, [...]”, fato que colabora para uma
visualização gráfica da informação. Além disso, esses dados podem ser espacializados em
mapas coropléticos, que demonstram a distribuição espacial da variável, podendo ser analisada
pelos princípios de localização, extensão, proximidade, ordem, diferenciação, entre outros. Isto
posto, percebe-se como a Inteligência Lógico-Matemática e Espacial podem ser motivadas em
sala de aula.
[...] são importantes para a nossa orientação em várias localidades, desde aposentos
até oceanos. Elas são invocadas para o reconhecimento de objetos e cenas, tanto
quanto estes são encontrados em seus ambientes originais como quando alguma
circunstância da apresentação original foi alterada. E eles também são utilizados
quando trabalhamos com representações gráficas – visões bidimensionais ou
tridimensionais de cenas do mundo real – bem como outros símbolos como mapas,
diagramas ou figuras geométricas. (GARDNER, 1994, p. 136).
plásticos também possuem uma Inteligência Espacial desenvolvida, pois possuem uma visão
memorável do mundo cotidiano.
Alguns indivíduos, em determinadas culturas, possuem um elevado conhecimento
espacial, como Gardner (1994) apresenta que o povo puluwat, das Ilhas Carolinas nos Mares
do Sul:
[...] a habilidade altamente desenvolvida é a da navegação, numa habilidade
encontrada numa minoria de indivíduos que têm permissão para dirigir canoas. Dentro
desta bem-treinada população ocorre um florescimento de habilidades que encheu de
espanto navegadores treinados no ocidente. A chave para a navegação puluwat pode
ser encontrada na organização das estrelas do céu. Para navegar entre as muitas ilhas
de sua vizinhança , os puluwat devem recordar os pontos ou direções onde
determinadas estrelas nascem e se põe no horizonte. Este conhecimento é
primeiramente memorizado mecanicamente, mas então torna-se assimilado à intuição
do navegador quando ele despende muitos meses viajando para lá e para cá. Enfim, o
conhecimento deve ser integrado com uma variedade de fatores inclusive a
localização do sol; Vou sentimento que se experimenta ao passar sobre as ondas
alteração das ondas com mudanças de trajetória vento e tempo; habilidades em direção
e manejo das velas; capacidade de detectar bancos de areia há muitas braças abaixo
por súbitas mudanças na cor da água; e a aparência das ondas na superfície.
(GARDNER, 1994, p. 157).
Além disso, deve-se levar em consideração que o pensamento espacial possui uma
concepção cognitiva, pois se refere a um conjunto de habilidades para o entendimento do espaço
e operações mentais. Trata-se da inter-relação de três elementos: conceitos espaciais, formas de
representação e processos de raciocínio (NRC, 2006). Deste modo, a importância da Cartografia
Escolar é destacada por apresentar, principalmente, as formas de representação e alguns
conceitos espaciais. Entender o comportamento dos processos cognitivos permite a elaboração
de atividades estimulantes do pensar espacialmente.
A linguagem cartográfica aliada aos conceitos geográficos, como a relação natureza e
sociedade, as categorias de análise, as dimensões sociais, econômicas e políticas permitem um
desenvolvimento do raciocínio geográfico pela compreensão espacial, abordando princípios de
diferenciação, distribuição, extensão, localização, conexão, entre outros, nas representações
cartográficas. Nesse contexto, a Cartografia Escolar permite a contextualização de noções que
colaboram para promover a alfabetização cartográfica, conforme já apresentado no capítulo
anterior. Além disso, atividades que auxiliem a imaginação de um espaço abstrato, como em
uma história ou música, colaboram para a noção de espacialidade dos estudantes. Como já
mencionado na Inteligência Musical, a aplicação de músicas desde os anos iniciais, permite
uma ampliação da compreensão da letra e entendimento do corpo, motivando a Inteligência
Corporal-Cinestésica, conforme o fragmento de música abaixo:
Perna direita, perna esquerda [...]. Vamos caminhar/ Para frente e para trás/ Nós vamos
brincar [...]. Prum lado, pro outro/ Direita, esquerda/Vamos lá/ Prum lado, pro outro/
Pra lá e pra cá [...]. Braço direito, braço esquerdo/ Pra movimentar/ Para cima e para
baixo/ Nós vamos brincar [...]. (BEZERRA, 1999, s/p).
99
[Citação original] “Pensamiento espacial y pensamiento geográfico no son sinónimos sino conceptos
complementarios, uno más ligado a procesos cognitivos relacionados con la inteligencia espacial y el otro mucho
más vinculado con la propia disciplina geográfica. El primero de ellos ha adquirido recientemente una gran
difusión a través de libros y artículos debido a dos razones: la irrupción de las nuevas tecnologías para la
información geográfica y la mayor atención hacia postulados sobre el aprendizaje que inciden en la
interdisciplinariedad, especialmente la teoría de inteligencias múltiples de Gardner. [...] La diferencia entre ambos
conceptos es de tradición escolar: el pensamiento espacial constituye un eje central del currículo estadounidense
mientras que el pensamiento geográfico constituye un concepto central del debate en la educación geográfica
britânica”. (MIGUEL GONZÁLES, 2015, p. 7-8).
235
demonstra como a lateralidade pode ser abordada na Educação Infantil e Anos Iniciais,
motivando a Inteligência Espacial, Musical, Linguística e Corporal-Cinestésica.
Gardner (1994) destaca que uma das características principais dessa Inteligência está na
capacidade da utilização do próprio corpo com modos altamente diferenciados para propósitos
expressivos, assim como no uso de objetos (GARDNER, 1994; RIZZATTI, 2018). As pessoas
que possuem essa Inteligência mais desenvolvida apresentam um grande controle corporal e
manuseio de objetos, como uma raquete ou taco, por exemplo, para a resolução de um problema
ou objetivo.
Sobre isso, Antunes (2012) apresenta a seguinte passagem:
O jogo de futebol encontra-se em seus instantes decisivos. A bola vem para a área,
cruzada da esquerda para a direita em direção ao atacante que está de costas para as
traves. Os zagueiros tentam desviá-la, mas, rapidamente, o atacante joga o corpo para
o ar e toca o pé direito na bola, dando uma “bicicleta” e impulsionando a bola para o
arco às suas costas, surpreendendo os adversários. O público “explode” em
entusiasmo e, em certos aspectos, a jogada e, consequentemente, o gol resolveram um
problema crucial, e sua mobilidade corporal constitui o fator essencial do sucesso. O
gol e, portanto, a solução do problema não ocorreu apenas por fatores de ordem
cognitiva; o atacante “sabia” que uma bicicleta, isto é, uma cambalhota que alcançasse
a bola, poderia atirá-la à meta, mas isso, certamente, milhares de espectadores também
sabiam. A solução de seu problema, portanto, não decorreu somente do conhecimento
de uma solução desejável, mas da operacionalização prática deste conhecimento por
meio de uma movimentação corpórea expressiva. (ANTUNES, 2012, p. 49).
Ao propor a Teoria das IM, Gardner agrupou duas competências intelectuais humanas
que dizem respeito ao conhecimento sobre si e a relação com as demais pessoas. Assim, as
Inteligências Pessoais são subdivididas em Intrapessoal e Interpessoal.
Em sua forma mais primitiva, [...] equivale a pouco mais do que a capacidade de
distinguir um sentimento de prazer de um de dor e, com base nesta discriminação
tornar-se mais envolvido ou retrair-se de uma situação. Em seu nível mais avançado,
o conhecimento intrapessoal permite que detectemos e simbolizemos conjunto de
sentimentos altamente complexos e diferenciados. (GARDNER, 1994, p. 185).
A Inteligência Naturalista não consta como uma das IM nas obras “Estruturas da Mente:
a Teoria das Inteligências Múltiplas”, publicada em 1983 (GARDNER, 1994), e “Inteligências
Múltiplas – a Teoria na prática”, de 1993 (GARDNER, 1995). Em 1996, Gardner realizou a
primeira modificação em sua lista de Inteligências, passando a considerar os conhecimentos
naturalistas como uma inteligência consolidada.
Segundo Antunes (2012), a revelação, no Brasil, nasceu em uma entrevista realizada por
Maísa Lacerda Nazario, para o Jornal da Tarde, em 1996. Nas palavras de Gardner, conforme
apresentado por Antunes (2012, p. 61): “Eu, agora, na verdade, falo sobre oito tipos de
inteligência. A oitava inteligência tem a ver com o mundo natural: ser capaz de entender
diferenças entre diversos tipos de plantas e de animais. Todos nós as temos em nosso cérebro”.
No livro “Inteligência: um conceito reformulado” (GARDNER, 2001), o pesquisador
apesenta novamente a definição e critérios para as IM, além de apresentá-las resumidamente.
239
[...] a inteligência do naturalista é tão arraigada como as outras inteligências. Há, para
começar, as capacidades essenciais para reconhecer exemplos como membros de um
grupo (mais formalmente, de uma espécie); para distinguir entre os membros de uma
espécie; para reconhecer a existência de outras espécies próximas; e para mapear as
relações, formal ou informalmente, entre as várias espécies. Evidentemente a
importância de uma inteligência naturalista está bem comprovada na história
evolucionária, onde a sobrevivência de um organismo depende de sua habilidade de
distinguir entre espécies semelhantes, evitando algumas (predadoras) e investigando
outras (para 41 servir de presa ou brinquedo). A capacidade do naturalista se apresenta
não só nos primatas evolucionariamente próximos dos seres humanos; as aves também
podem discernir as diferenças entre espécies de plantas e animais (inclusive diferenças
que não existam em seu ambiente esperado, “normal”) e até reconhecer as formas
humanas numa fotografia. (GARDNER, 2001, p. 65-66).
Gardner (2001) compara o fato de algumas crianças demonstram desde cedo interesse
pelo mundo natural, com capacidades especializadas para identificar ou distinguir alguns fatos.
A biografia de muitos biólogos apresenta, desde a infância, o fascínio precoce por plantas e
animais para identificar e classificar esses seres, como Darwin, que é um exemplo pontual para
essa lógica. Os físicos e cientistas sociais, por exemplo, não tem o mesmo padrão de
comportamento, pois predominam exercícios com eletricidade, sistemas mecânicos ou
químicos para os primeiros, enquanto para os profissionais da área humana sobressaem
atividades verbais ou interação com as pessoas (GARDNER, 2001).
Enquanto algumas pessoas apresentam um talento para o reconhecimento do padrão
naturalista, outros possuem dificuldade ou deficiência. Os com maiores dificuldades envolvem
os indivíduos com lesões cerebrais, que perderam a capacidade de identificação de objetos
vivos, mas conseguem nomear objetos inanimados (GARDNER, 2001). Ao analisar a
codificação por um sistema simbólico, destaca-se a existência de sistemas linguísticos e
taxonômicos para cada cultura, com o objetivo de classificação de plantas e animais, como
pinturas rupestres e danças, nas quais se identifica o mundo natural (GARDNER, 2001).
Desse modo, “[...] a inteligência naturalista claramente merece ser acrescentada à lista
das setes inteligências originais” (GARDNER, 2001, p. 69). As características de quem a possui
apresenta sensibilidade para classificação e diferenciação de espécies de fauna e flora e apego
ao meio ambiente. Os profissionais que fazem uso da mesma de uma maneira mais incisiva são
biólogos, botânicos e naturalistas. Antunes (2012) destaca que se localiza no hemisfério direito
240
A proposta da Teoria das IM, em 1983, por Howard Gardner, revolucionou a Psicologia
Cognitiva ao contrapor a ideia de que os seres humanos possuíam uma faculdade geral, como
já apresentado, adquirido por meio de correlações entre as respostas e tempo que certos
agrupamentos de pessoas levaram para responder uma bateria de exercícios.
De acordo com Eid e Maestri (2016), as IM são uma teoria modular da mente,
mostrando-se produtiva na Pedagogia, para o desenvolvimento de programas e materiais
curriculares para aproveitamento da aprendizagem. Observa-se o sucesso da teoria ao fato que
o Ministério da Educação (MEC) desenvolveu um livro intitulado “Múltiplas Inteligências na
prática escolar” (SMOLE, 1999), para adaptar a prática escolar pelo viés das IM. A mencionada
obra defende que:
Desse modo, nota-se a importância dada a teoria no contexto escolar, com documentos
e trabalhos que recomendam o pensamento da sua utilização nas práticas e bases teóricas das
escolas, tendo em vista que os alunos possuem diferentes habilidades, as quais os fazem pensar
e compreender de diversas maneiras. Nesse sentido, Gardner (1995, p. 16) apresenta que se
deve ter em mente que “[...] nem todas as pessoas têm os mesmos interesses e habilidades; [...],
ninguém pode aprender tudo o que há para ser aprendido”.
Para isso, deve-se ter uma escola centrada no aluno, a qual utilize uma multiplicidade
de recursos, como atividades verbais e não verbais, teatros, músicas, diagramas, tarefas
242
analógicas e mediadas por recursos tecnológicos, podendo ocorrer atividades entre várias áreas
do conhecimento. Essas variedades de ferramentas colaboram para os estudantes aprenderem
de várias maneiras, pois alguns terão uma Inteligência Logico-Matemática mais predominante,
enquanto outros a Naturalista. Com base nisso, Gardner (2013) sugere meios para o
desenvolvimento dos alunos baseadas em seu subjetivo, cada um à sua maneira, utilizando as
IM para a proposição de atividades. Nas palavras de Gardner (2013) se tem dois meios para
uma escola centrada no estudante:
Deve-se destacar, que a teoria das IM não é um instrumento educacional, mas pode ser
utilizado para perceber os diferentes conjuntos de valores que são expostos nas recomendações
curriculares. Sobre esse ponto, Gardner, Kornhaber e Chen (2018, p. 127, tradução nossa)
dizem que: “Embora existam várias razões para a adoção da teoria e várias abordagens para
colocá-la em prática, é justo dizer que, em todo o mundo, os educadores veem a teoria como
uma forma de envolver uma ampla gama de alunos e enriquecer suas oportunidades de
aprendizagem101”. Em todo o mundo, de certo modo, também é verdade a possibilidade de os
educadores de escolas públicas se basearem na teoria e por influência de políticas educacionais
curriculares (GARDNER; KORNHABER; CHEN, 2018).
Dessa maneira, os profissionais da educação, entre professores, pesquisadores e aqueles
que estabelecem políticas educacionais devem reconhecer que a aprendizagem ocorre de
maneiras distintas sendo necessário uma abordagem multifatorial. Por exemplo, ao apresentar
um vídeo para uma turma específica, tal fato pode despertar uma curiosidade no aluno, fazendo
100
[Citação original] “1) Individualize your teaching as much as possible. Instead of “one size fits all,” learn as
much as you can about each student, and teach each person in ways that they find comfortable and learn effectively.
Of course this is easier to accomplish with smaller classes. But ‘apps’ make it possible to individualize for
everyone. 2) Pluralize your teaching. Teach important materials in several ways, not just one (e.g. through stories,
works of art, diagrams, role play). In this way you can reach students who learn in different ways. Also, by
presenting materials in various ways, you convey what it means to understand something well. If you can only
teach in one way, your own understanding is likely to be thin”. (GARDNER, 2013, s/p).
101
[Citação original] “While there are varied reasons for the theory’s adoption, and varied approaches to putting
the theory into practice, it is fair to say that across the globe, educators see the theory as a way of engaging a wide
range of students and enriching their learning opportunities”. (GARDNER; KORNHABER; CHEN, 2018, p. 127).
243
Quadro 19 – Teoria das Inteligências Múltiplas propostas por Howard Gardner: descrição, relações com as
demais e seus agentes motivadores.
AGENTES
INTELIGÊNCIA DESCRIÇÃO RELAÇÃO
MOTIVADORES
Capacidade de processar Relaciona-se com todas as ➔ Pais
rapidamente mensagens demais, principalmente, ➔ Avós
Linguística
linguísticas, de ordenar palavras e com a lógico-matemática e ➔ Professores
dar sentido lúcido às mensagens. cinestésica corporal. ➔ Amigos
Facilidade para o cálculo e para Inteligência linguística,
Lógico- percepção da geometria espacial. espacial, cinestésica ➔ Pais
Matemática Facilidade em resolução de corporal e, principalmente, ➔ Professores
palavras cruzadas e charadas. a musical.
Capacidade de perceber formas e
➔ Pais
objetos quando apresentados em
Com todas as demais, ➔ Professores
ângulos não usuais, percepção do
principalmente a linguística, ➔ Alfabetizadores
Espacial mundo com precisão; recriação de
musical e cinestésica linguísticos
aspectos da experiência visual e
corporal. ➔ Alfabetizadores
de perceber as direções no espaço
cartográficos
concreto e abstrato.
Facilidade para identificar sons ➔ Pais
diferentes, sua intensidade e Mais intensamente com a ➔ Avós
Musical direcionalidade. Percebe a lógico-matemática e ➔ Professores
distinção entre tom, melodia, cinestésica corporal. devidamente
ritmo, timbre e frequência. sensibilizados
Capacidade de usar o próprio
corpo de maneira diferenciada e ➔ Instrutores de
hábil para propósitos expressivos. dança e
Principalmente com as
Corporal- Capacidade de trabalhar com esportes
inteligências linguística e
Cinestésica objetos, tanto os que envolvem ➔ Pais
espacial.
motricidade específica, quanto os ➔ Professores
que exploram o uso integral do
corpo.
Atração pelo mundo natural e
sensibilização em relação a ele, Com todas as demais,
➔ Avós
capacidade da identificação especialmente com a
Naturalista ➔ Pais
natural e a capacidade de êxtase inteligência linguística,
➔ Professores
diante da paisagem humanizada musical e espacial.
ou não.
Capacidade de perceber e
compreender outras pessoas,
Interpessoal descobrir forças que motivam e
sentir grande empatia pelo outro As inteligências pessoais
➔ Pais
indivíduo. interagem e relacionam-se
➔ Psicólogos
com todas as demais,
Capacidade de autoestima, ➔ Professores
particularmente com a
automotivação, de formação de devidamente
linguística, naturalista e a
um modelo coerente e verídico de treinados
Intrapessoal cinestésica corporal.
si mesmo e do uso desse modelo
para operacionalizar a construção
da felicidade pessoal e social.
A partir do Quadro 19, percebe-se que todas as inteligências podem ser motivadas pelo
professor, tornando-se um elemento central. A aplicação da metodologia de SAI, permite ao
estudante ter acesso aos materiais ou ferramentas, para que o conteúdo seja previamente visto.
Na aula presencial, o docente pode pensar em atividades individuais ou em grupos que
colaborem para desenvolver raciocínios fundamentais para os alunos, utilizando uma
multiplicidade de recursos, deixando a aula mais contextualizada, fato que pode aumentar o
interesse e despertar a curiosidade dos alunos. Isso colabora para mobilizar as IM e fazer com
que os estudantes aprendam de diferentes maneiras.
Contudo, deve-se ter conhecimento de como os estímulos ou motivações são
processados no cérebro e qual a relação entre aprendizagem e memória, quais são os processos
realizados pelo cérebro para “aprendê-la” e de qual maneira isso é armazenada (para lembrar
desse conhecimento em determinado momento). Esses pontos são fundamentais para qualquer
educador entender e (re)pensar o seu processo de ensino-aprendizagem pelo viés da
Neurociência, que é a temática discutida na sequência.
O homem deve saber que de nenhum outro lugar, mas apenas do encéfalo, vem a
alegria, o prazer, o riso e a diversão, o pensar, o luto, o desalento e a lamentação. E
por isso, de uma maneira especial, nós adquirimos sabedoria e conhecimento e
enxergamos e ouvimos e sabemos o que é justo e injusto, o que é bom e o que é ruim,
o que é doce e o que é insípido [...]. E pelo mesmo órgão nos tornamos loucos e
delirantes, e medos e terrores nos assombram [...]. Todas essas coisas nós temos de
suportar do encéfalo quando não está sadio [...]. Nesse sentido, opino que é o encéfalo
quem exerce o maior poder sobre o homem. (HIPÓCRATES, Séc. IV a.C. apud
BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017, p. 4)
102
O encéfalo compreende o cérebro propriamente dito (o prosencéfalo), o mesencéfalo, o cerebelo e o tronco
encefálico, isto é, tudo o que fica abrigado na caixa craniana (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017).
246
outras células por meio do axônio, que é um prolongamento único (COSENZA; GUERRA,
2011). A Figura 62 ilustra a estrutura de um neurônio.
Sobre isso, Izquierdo (2018) destaca que os neurônios têm prolongamentos que
estabelecem redes, comunicando-se um com os outros. Essas ampliações emitem informações
em forma de sinais elétricos para outros neurônios por meio dos axônios. Já os prolongamentos
sobre os quais os axônios colocam essa informação se chamam dendritos, que são responsáveis
por receberem estímulos (IZQUIERDO, 2018).
Dessa maneira, Kandel et al. (2014) destacam que:
O encéfalo humano é uma rede de mais de 100 milhões de células nervosas individuais
interconectadas em sistemas – circuitos neurais – que constroem a percepção do
247
[...] a formação de novas ligações sinápticas entre as células no sistema nervoso que
vai permitindo o aparecimento de novas capacidades funcionais. A criança nasce com
um cérebro de mais ou menos 400g que, ao final do primeiro ano de vida, terá́
duplicado, pesando cerca de 800g. Considerando-se que não ocorre formação de
novas células nervosas nesse período, praticamente todo o crescimento é devido à
formação de novas ligações [...]. (CONSENZA; GUERRA, 2011, p. 33).
248
específico, ser evocado. Izquierdo (2018, p. 1) conceitua memória como “[...] aquisição,
formação, conservação e evocação de informações”, e que a aquisição é chamada de
aprendizagem ou aprendizado: só se “grava” o que foi aprendido (IZQUIERDO, 2018).
A Literatura destaca estudos envolvendo memória de curta duração e longa duração,
desde o século XIX (KANDEL et al., 2014), porém existem algumas classificações recentes,
considerando o tempo de armazenamento e a natureza. Lent (2010) propõe uma classificação
da memória utilizando o tempo de armazenamento (curto prazo e longo prazo) e a natureza da
memória (explicita, implícita e de trabalho). Izquierdo (2018) ressalta que as memórias podem
ser categorizadas de acordo com sua função (trabalho), de acordo com seu conteúdo (explicita
ou implícita) ou pelo tempo de duração (curta duração, longa duração e remotas). Já Krebs,
Weinberg e Akesson (2013), agrupam os tipos de memória de acordo com o tempo de duração,
conforme exposto na Figura 64.
Figura 64 – Diferentes tipos de memória de acordo com o tempo de duração 103 (trabalho, curto e longo prazo), e
de acordo com o conteúdo (declarativa e não declarativa).
103
A conceituação referente a memória de trabalho e de curta duração não é consenso entre os neurocientistas. De
acordo com Krebs, Weinberg e Akesson (2013), a memória de curto prazo ou de trabalho são sinônimos, enquanto
Baddeley e Hitch (1974) apud Eysenck e Keane (2017) destacam que o termo curto prazo foi substituído por
memória de trabalho. Já Izquierdo (2018), aborda como sendo dois tipos diferentes, ou seja, a memória de trabalho
tem uma função especifica de dar continuidade a alguma tarefa, podendo durar segundos ou minutos, enquanto a
curta duração pode durar de uma a seis horas até que a memória de longa duração se consolide (IZQUIERDO,
2018). Nesse trabalho, utilizou-se a classificação proposta por Izquierdo de acordo com a função, conteúdo e tempo
de duração (IZQUIERDO, 2018).
251
ligada a tarefa que os indivíduos desempenham no dia a dia, como guardar um número
telefônico (mentalmente) pelo tempo necessário para serem discados ou, ainda, para dar sentido
para uma conversação.
Segundo Krebs, Weinberg e Akesson (2015):
Alguns autores como Bear, Connors e Paradiso (2017), Eysenck e Keane (2017)
defendem a ideia de que depois de passarem pela MT, fatos e eventos são armazenados na MCP
e que, posteriormente, um subconjunto dessa informação converte em MLG por meio do
processo da consolidação da memória, segundo a Figura 65(A). Já Izquierdo (2018), ressalta
que existem uma série de experimentos que publicou em 1998 e 1999, demonstrando a
supressão da MCD sem reduzir a MLD e que existem síndromes neurológicas e situações que
ocasionam falhas seletivas na MCD sem nenhum comprometimento na MLD, conforme a
Figura 65(B). Nesse sentido, “[...] a MCD obedece a um sistema separado e paralelo ao da
MLD; seu papel é manter a memória ‘viva’ enquanto a MLD está sendo formada”
(IZQUIERDO, 2018, p. 54).
Figura 65 – Diferença entre o tempo de duração das memórias: MCD como uma fase inicial da MLD (A) e MCD
e MLD como sistemas separados e paralelos (B).
Tratando-se dos tipos de memória, de acordo com o seu conteúdo, a MLD pode ser
classificada em declarativa (explícita) e não declarativa (implícita). As memórias que registram
fatos, eventos ou conhecimentos são conceituadas como declarativas, porque os seres humanos
podem declarar que existem e descrever como foi adquirida (IZQUIERDO, 2018). Se
subdividem em dois tipos: a memória episódica, que contém a informação acerca da própria
vida na qual se assiste ou participa, como em relatos autobiográficos. Por outro lado, tem-se a
memória semântica, que se refere à informação do ambiente que é possível lembrar, mas sem
253
Tarefas motoras que adquirimos, bem como reflexos e associações emocionais que
estabelecemos, funcionam perfeitamente sem a necessidade de percepção consciente.
Como diz o dito popular, ninguém esquece como andar de bicicleta. Você pode até
não se lembrar explicitamente do primeiro dia em que conseguiu andar sozinho em
um veículo de duas rodas (a parte declarativa da memória), mas seu encéfalo lembrará
do que fazer quando você estiver sentado em um deles (o componente da memória
que determinamos “procedural”). A memória não declarativa é também
frequentemente chamada de memória implícita, pois resulta diretamente da
experiência e a memória declarativa é frequentemente chamada de memória explicita,
pois resulta de um esforço mais consciente. (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017,
p. 825, grifos no original).
dirigir um automóvel e o ato de tocar um instrumento (o ato de aprender uma partitura é uma
memória declarativa episódica, porém, a execução no instrumento se torna procedural).
O outro tipo de memória explícita é a adquirida e evocada por meio de “dicas” (priming).
Para Izquierdo (2018) muitos autores consideram a memória evocada por meio de “dicas”
(partes de uma imagem, primeiras palavras de uma poesia, odores e sons) como distinta das
memórias mencionadas. O priming é muito utilizado por atores, professores, músicos e
cantores, e, sem perceber, pela população humana e animal (IZQUIERDO, 2018).
Segundo Neto et al. (2011, p. 36), “O sistema de representação perceptiva, priming, age
dentro de um sistema perceptual de palavras e objetos. Refere-se à resposta frente a um estímulo
ou à habilidade de identificá-lo, a partir do resultado da exposição prévia deste estímulo”. Por
exemplo, ao esquecer a letra de uma música, a lembrança pode ser evocada pelo ato de escutar
a melodia ou ouvir as primeiras palavras dela.
Já o condicionamento não associativo apresenta uma modificação na resposta
comportamental, que ocorre ao longo do tempo como retorno a somente um estímulo, podendo
ocorrer de em dois tipos: a aprendizagem por habituação e sensitização (BEAR; CONNORS;
PARADISO, 2017). Sobre a habituação, Izquierdo (2018) destaca que “[...] é claramente um
tipo de aprendizado e de memória não associativo: resulta da simples repetição de um estímulo,
sem associá-lo a qualquer outro”. Sobre a habituação Amthor (2017) fala que as respostas
neurais diminuem com o tempo pela:
Desta forma, a aprendizagem não associativa por habituação se refere a uma diminuição
da resposta neural com base a um único estímulo. Você, por exemplo, ao ler esse texto, alguns
carros podem estar passando na rua próxima de sua casa e a televisão estar ligada, porém, esses
barulhos devem ser despercebidos, pois está habituado a esses estímulos.
Como oposição à habituação, a sensibilização ou sensitização se configura como o
segundo tipo de aprendizagem não associativo. Para Faria e Mourão Júnior (2017, p. 102), “Se
com a habituação passamos a ignorar estímulos irrelevantes, com a sensibilização, aprendemos
a ficar mais atentos a estímulos nocivos”. Por exemplo, ao andar por uma rua bem iluminada a
noite e acontece um apagão. Você ouve barulho das pessoas, embora normalmente isso não
perturbe, agora você se apavora. Faróis de carros aparecem e a pessoa procura um local para se
255
abrigar. O estímulo sensorial forte (apagão) causou a sensibilização, uma forma de aprendizado
que intensifica a resposta para todos os estímulos, até mesmo aqueles com pouca ou nenhuma
reação (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017).
Muitas memórias são adquiridas por meio de uma associação de um estímulo com outro
ou por uma resposta. O comportamento se altera pela formação de associações entre diferentes
eventos, diferenciando-se, assim, do aprendizado não associativo. Existem dois tipos de
aprendizagem associativo: o condicionamento clássico e o condicionamento operante ou
instrumental. O condicionamento clássico foi observado, pela primeira vez, no início do século
XX, por Ivan Pavlov (1849-1936), caracterizado em cães, envolve a associação entre um
estímulo que evoque a resposta mensurável e um segundo estímulo que, normalmente, não
evoca a resposta (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017; CAMMAROTA; BEVILAQUA;
IZQUIERDO, 2018).
Conforme apresentado por Cammarota, Bevilaqua e Izquierdo (2018), Pavlov
estabeleceu que, durante o aprendizado associativo, se um novo estímulo for pareado com outro
“biologicamente significativo” (doloroso ou prazeroso) que produz uma resposta (fuga ou
salivação), a resposta emitida anteriormente a apresentação do primeiro é modificada, ficando
condicionada ao pareamento.
Segundo Bear, Connors e Paradiso (2017), nos experimentos de Pavlov, o primeiro
estímulo é o que evoca uma resposta, sem que haja uma necessidade de treinamento para a
determinação dela. Assim, Pavlov apresentava comida para um cão e a resposta ocorre por meio
da salivação (estímulo incondicionado), conforme ilustrado na Figura 66(A). O segundo tipo
de estímulo é o que normalmente não provoca resposta (estímulo condicionado), pois requer
treino para futuramente responder de alguma maneira. Para isso, um sinal sonoro era emitido
por uma campainha e não provocava nenhuma resposta (Figura 66B). O treinamento consistia
em parear repetidamente a comida e a campainha (Figura 66C). Após muitas apresentações, a
comida foi retirada e o animal salivava apenas com a apresentação do som (Figura 66D). Dessa
forma, o cão aprendeu uma associação da campainha (estímulo condicionado) com a
apresentação do alimento (estímulo incondicionado). A resposta obtida pela apreensão do
estímulo condicionado é chamada de resposta condicionada (BEAR; CONNORS; PARADISO,
2017).
Nesse contexto, Silva (2017, p. 24) destaca que Pavlov concluiu “[...] que algumas
respostas comportamentais eram reflexos incondicionados, salivar quando via a comida (não
aprendidos) e outros são reflexos condicionados (aprendidos), através de situações agradáveis
ou desagradáveis”. Assim, um estímulo neutro em concomitância com um estímulo
256
Figura 66 – Experimento de Pavlov: apresentação do alimento – estímulo incondicionado (A), toque de uma
campainha – estímulo condicionado/neutro (B), treinamento para parear o alimento e o som (C) e salivação
como resposta condicionada (D).
De modo geral, a diferença entre a aprendizagem clássica proposta por Pavlov para a
operante de Skinner se dá pela primeira ser resposta a um estímulo externo, enquanto a segunda
se trata de um hábito individual que busca a obtenção ou omissão de algo. Segundo Faria e
Mourão Júnior (2017), o experimento de Skinner consistiu em colocar um rato em uma caixa
com uma alavanca que, quando era pressionada por “acaso” pela exploração do rato naquele
local, ele recebia comida. Com o tempo, o rato repetirá esse movimento sempre que estiver com
fome, pois será alimentado.
Skinner (2003) aborda que só se pode saber quando um estímulo reforça somente depois
que ele altera o comportamento do alvo, aumentando a frequência de sua ocorrência. Quando
ocorre um acréscimo de estímulo para que a probabilidade do evento seja mais recorrente, trata-
se do reforço positivo, enquanto o reforço negativo envolve a retirada do estímulo, reduzindo
as chances de ocorrência do mesmo (SKINNER, 2003).
A partir do exposto, percebe-se que um novo conhecimento ocorre pela sinapse entre
células nervosas e é armazenado pelos diferentes tipos de memória. Torna-se fundamental,
então, compreender como ocorre consolidação da MLD e quais os meios que facilitam ou
dificultam esse procedimento. Desta forma, as temáticas ou informações contextualizadas em
sala de aula, devem utilizar alguns artifícios, como a repetição ou o grau de relevância para o
aluno. O próximo assunto se refere a esses pontos levantados, que podem atuar como
facilitadores do processo de ensino-aprendizagem, pelo viés da Neurociência.
Para Lombroso (2004), para a formação de MLD é necessário ocorrer uma modificação
estrutural e funcional nos neurônios. Assim, as sinapses alteram conforme o aprendizado
ocorre, formando novas sinapses, enquanto outras se fortalecem ou são interrompidas. Esse
fenômeno é determinado de plasticidade sináptica. Para as modificações estruturais da sinapse
solicitadas para que o aprendizado ocorra, é necessário uma série de eventos intracelulares.
Quando os sinais chegam em uma célula nervosa (pós-sináptico), a liberação do
neurotransmissor ativa as vias de sinalização intracelular da célula pós-sináptica, determinando
a produção de novas proteínas usadas nas modificações sinápticas (LOMBROSO, 2004).
A consolidação da memória é o processo que determina algumas experiências, e, são
selecionadas para o armazenamento da MLD. O encéfalo se carrega que algumas experiências
sejam salvas enquanto outras sejam perdidas (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017). Para
258
que a memória não seja perdida, isso requer que a informação seja suficientemente importante
e que seja ensaiada (repassando ou repetindo-a), ou tão saliente que seja impossível parar de
pensar nela (AMTHOR, 2017).
Conforme Cosenza e Guerra (2011, p. 73), a consolidação da memória “[...] ocorre
durante o sono, os períodos de descanso ajudam a fixar o que foi aprendido e preparam o cérebro
para novas associações. Sabemos também que intervalos curtos de estudo são mais eficientes
do que um grande mutirão ou esforço prolongado”. Além disso, recomenda-se estudar em
períodos menores, visto que é mais fácil manter a atenção e desenvolver a repetição. Assim
sendo, se são necessárias seis horas para estudo, é melhor desenvolver em três momentos de
duas horas do que dois com três horas de duração, especialmente se ocorrem períodos de sono
nos intervalos (COSENZA; GUERRA, 2011).
Na prática, os indivíduos dormem porque sentem sono, assim como se come pelo fato
de ter fome, entretanto, a função do sono não é somente aliviar a sonolência. Intuitivamente,
pensa-se no sono como restaurador, mas não se tem certeza do que é restaurado. Além da função
reparatória, tem sido proposta a consolidação e triagem da memória e a recalibração de redes
neurais (KANDEL et al., 2014). A compreensão moderna sobre o sono se originou com os
primeiros registros da atividade elétrica cerebral, conhecida por eletroencefalografia. Dessa
maneira, foi possível distinguir duas fases alternantes do sono: uma sem movimentos oculares
(NREM) e outra com movimentos oculares rápidos (REM), em que cada qual possui um
mecanismo neural único e indicadores comportamentais e eletrofisiológicos distintos (TUFIK;
ANDERSEN; PINTO JR., 2018).
Segundo Amthor (2017), as fases iniciais do sono consistem na transição da vigília para
o sono profundo pelo NREM, que contém as fases N1, N2, N3 e N4. Os estágios do NREM
ocorrem em ordem ascendente ou descendente, podendo ocorrer transições de N2 para REM.
A Figura 72 demonstra as fases do sono em uma noite típica. Observa-se que o sono REM está
mais próximo da vigília. Normalmente, a pessoa desde o N1 para o N2 e assim por diante,
embora nem sempre alcance o N4 no primeiro ciclo104. A pessoa oscila pelas fases do sono
NREM até REM, com cerca de 90 minutos depois de dormir e desce novamente. Mais tarde, as
fases estão cada vez mais rasas, não alcançando a N3 e N4, porém, o sono REM aumenta
progressivamente. Ocasionalmente, podem haver transições de NREM e REM para a vigília,
que não está demonstrado no Hipnograma (Figura 67) (AMTHOR, 2017).
104
Segundo Tufik, Andersen e Pinto Jr. (2018, p. 276), “O período que compreende o início do sono até́ o primeiro
estágio REM constitui um ciclo de sono”.
259
Figura 67 – Hipnograma das fases do ciclo vigília-sono em seres humanos em uma noite.
Cientistas supõem que níveis altos de acetilcolina em sono REM mantenham o fluxo
de informações do neocórtex para o hipocampo, enquanto baixos níveis de
acetilcolina no sono de baixa ondulação105 permitem a transferência de informações
do hipocampo de volta para o neocórtex, como parte de consolidação da memória.
(AMTHOR, 2017, p. 192-193).
105
Sono de baixa ondulação se refere aos estágios 3 e 4 do sono NREM (AMTHOR, 2017).
261
horas. Segundo Finkel (2018, p. 42), em pesquisas realizadas pela neurocientista Gina Poe, “[...]
dormir logo após um evento importante, antes que, ao menos em parte, a experiência seja
processada, cria condições favoráveis para que o ocorrido seja convertido em memória de longo
prazo”.
Para Bear, Connors e Paradiso (2017), a necessidade normal do sono pode variar entre
os adultos de 5 a 10 horas por noite, todavia, a duração média é de 7,5 horas, enquanto em,
aproximadamente, 68% dos adultos jovens do estudo, está entre 6,5 a 8,5 horas de sono. Entre
a pré-adolescência e adolescência, a necessidade do sono não diminui, mas o ritmo circadiano
(período de 24 horas) torna difícil os adolescentes dormirem cedo, quando a noite chega. O
ingresso ao Ensino Médio e com as aulas pelo turno da manhã, “[...] muitos estudantes estão
cronicamente privados do sono, uma condição nada saudável. Muito pouco sono pode reduzir
o bem-estar físico e emocional e a cognição” (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017, p. 662).
“A privação do sono provoca diversas alterações cognitivas e comportamentais,
hormonais e neuroquímicas, além de reduzir a longevidade” (TUFIK; ANDERSEN; PINTO
JR., 2018, p. 278). Segundo os mesmos autores, ao submeter voluntários a períodos variáveis
de 24 a 40 horas de privação do sono e testando seus desempenhos em tarefas de atenção,
apresentaram um desempenho degradado, pela redução do número de respostas emitidas e o
aumento do tempo para reação ao estímulo e, consequentemente, apresentaram, também, mais
erros de detecção do estímulo-alvo (TUFIK; ANDERSEN; PINTO JR., 2018), demonstrando
o prejuízo que a privação do sono desempenha ao organismo. Sobre isso, Kandel et al. (2014,
p. 1006) apresentam que a “Privação de sono REM resulta em ‘sono REM rebote’, em que a
perda é compensada por um sono REM excessivo durante o sono na noite seguinte. Essa
regulação sugere que o sono REM e o sono em geral desempenhem uma ou mais funções
críticas”.
Um exemplo dos efeitos causados pela privação do sono, pode ser observado no
experimento de Randy Gardner, na época, um estudante do Ensino Médio e com um audacioso
plano para o projeto de ciências da escola, em 1964. Sua meta era entrar no Livro dos Recordes
(Guinness World Records), buscando se tornar o indivíduo que ficou mais tempo seguido na
vigília (acordado) sem uso de medicamentos. Bear, Connors e Paradiso (2017) detalham o
experimento:
Em 28 de dezembro, ele acordou às 6 horas da manhã para iniciar seu projeto. Quando
terminou, 11 dias (264 horas) após, ele havia quebrado o recorde mundial para período
continuamente acordado. [...]. A experiência não foi agradável. Após 2 dias sem
dormir, Randy ficou irritável, nauseado, teve problemas de memória e não podia
assistir à televisão. Pelo quarto dia, ele teve delírios moderados e uma fadiga
262
opressiva. Pelo sétimo dia, teve tremores, sua fala era inarticulada [...].
Ocasionalmente, ele estava paranoide ou alucinado. [...]. Quando finalmente foi para
cama, ele dormiu direto por quase 15 horas e, após, manteve-se acordado por 23 horas
para esperar o anoitecer e dormiu por mais 10,5 horas. Após o primeiro sono, a maioria
de seus sintomas havia desaparecido e, uma semana depois, ele já estava dormindo e
comportando-se normalmente. (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017, p. 664).
Por volta das 3 horas da manhã, o organismo começa a ser estimulado pelo hormônio
cortisol, conhecido por ser responsável pelo estresse. As células sensoriais da visão são
estimuladas pelos primeiros raios de luz do dia, diminuindo a produção de melatonina na
glândula pineal (SCHULZ, 2015), conforme ilustrado na Figura 68. Assim, o cortisol começa
a aumentar o seu nível no organismo pelo reconhecimento da retina dos primeiros raios solares,
enquanto na sua ausência, a partir do anoitecer, começa a produção de melatonina, que atua
como um desacelerador do organismo, preparando o corpo para dormir.
263
Figura 69 – Quantidade de luz azul em dispositivos e formas de iluminação e o tempo de atraso do sono.
106
[Citação original] “Inadequate sleep hygiene is an insomnia associated with daily living activities that are
inconsistent with the maintenance of sleep and daytime alertness. For example, intake of caffeinated beverages
very close to bedtime produces insomnia due to the stimulating properties of caffeine and so does nicotine. Alcohol
close to bedtime interferes with sleep maintenance by causing awakenings during the major sleep period. These
constitute poor sleep hygiene. Setting aside relaxation or “down time” prior to going to bed facilitates sleep;
therefore, it is an element of good sleep hygiene” (ATTARIAN, 2010, p. 183).
265
Assim, deve-se compreender a existência de múltiplos fatores que podem colaborar para
o aluno estar fisicamente no espaço da sala de aula, porém seus pensamentos estão em outros
266
O aluno motivado, com certo nível de alerta ou pelo fato de o professor despertar sua
curiosidade, por meio da utilização de exemplos sobre o espaço vivido ou conhecido, algo
aplicado no cotidiano ou uso de algum recurso tecnológico, coopera para despertar a atenção
do discente, realizando um processamento consciente das informações. Todavia, torna-se
relevante compreender o tempo que os alunos conseguem ficar prestando atenção na fala e
explicações do docente. Conforme McKeachie (1986), Davis (1993) e Wankat (2002)
apresentam que os alunos mantem, em média, a atenção na aula durante aproximadamente 10
a 15 minutos e, posteriormente, tendem a diminuir. Já para Khan (2013) os alunos possuem
uma concentração máxima de 10 a 18 minutos no início da aula e, independentemente da
competência do professor ou da matéria, havia um lapso, os jovens “desligavam”. A atenção
voltava, em períodos cada vez menores, caindo para 3 ou 4 minutos perto do final da aula
(KHAN, 2013).
O professor precisa, portanto, aproveitar-se do momento em que o aluno está com sua
atenção máxima, visto que a atenção consciente, aliada aos processos neuronais inconscientes,
podem provocar o reforço ou criação de novas conexões entre as células nervosas, promovendo
267
a aprendizagem. Isso deve ser levado em consideração na criação de recursos para implementar
a SAI, como podcast e vídeos, necessitando-se ter cerca de 15 minutos de duração, pois os
estudantes estarão com atenção máxima na ferramenta. Já no encontro presencial, deve-se
utilizar o momento inicial para revisão e/ou aprofundamento do tema e propor alguma atividade
individual ou em grupo.
Algumas tarefas em grupo promovem uma discussão entre os integrantes por
conhecimento prévio, experiências pessoais ou pesquisas desenvolvidas. Nesse ponto, destaca-
se o aprendizado associativo, um dos tipos de memória não declarativas, podendo acontecer
caso um novo estímulo seja interligado com outra aprendizagem já consolidada que produzirá
uma resposta, podendo fortalecer conexões entre células nervosas existentes ou a criação de
outras.
Sobre isso, Sousa e Salgado (2015) apresentam que:
5 METODOLOGIA
Conforme Lakatos e Marconi (2003, p. 87), devem ser consideradas três etapas
fundamentais para qualquer aplicação da indução:
De acordo com Prodanov e Freitas (2013, p. 28), “[...] essa generalização não acontece
mediante escolhas a priori das respostas, visto que devem ser repetidas, geralmente com base
na experimentação”. Deste modo, a indução se baseia em um fenômeno, uma realidade
concreta, para chegar a uma lei por meio da observação e da experimentação, visando investigar
a relação existente entre dois fenômenos para chegar a uma generalização (PRODANOV,
FREITAS, 2013).
Um exemplo bastante clássico da utilização da indução, são os trabalhos realizados com
amostras populacionais, visto que os dados obtidos por meio de entrevistas ou questionários
são tratados e, posteriormente, ocorre uma generalização para o universo populacional de
mesma espécie. Nesse sentido, o presente trabalho apresenta como sujeitos da pesquisa duas
turmas de uma Escola de Ensino Fundamental do município de Santa Maria. O procedimento
de coleta de dados foi realizado por meio de questionários online, com perguntas abertas107 e
fechadas, para obter, em um primeiro momento, a caracterização dos participantes de pesquisa,
com questões e/ou preferências pessoais.
Também foram aplicados questionários para avaliar o conhecimento prévio e posterior
dos estudantes, referentes às temáticas contextualizadas no decorrer da pesquisa. Assim, é
possível verificar a eficácia da atividade aplicada ao corpo discente da escola e apresentar uma
conclusão com base nos resultados coletados (lei por meio da observação e experimentação) do
estudo de caso.
Tratando sobre a abordagem de uma pesquisa científica, a pesquisa qualitativa se
preocupa com um aprofundamento da compreensão de um grupo social ou de uma organização
(SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009). Desta maneira, os pesquisadores que baseiam suas pesquisas
107
De acordo com Lakatos e Marconi (2003, p. 204), um questionário com perguntas abertas “são as que permitem
o informante responder livremente, usando linguagem própria e emitir opiniões. Possibilita investigações mais
profundas e precisas; apresenta alguns inconvenientes: dificulta a resposta ao próprio informante, que deverá
redigi-la, o processo de tabulação, o tratamento estatístico e a interpretação”.
272
na abordagem qualitativa “[...] buscam explicar o porquê das coisas, exprimindo o que convém
ser feito, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se submetem à prova de
fatos, pois os dados analisados são não-métricos [...]” (SILVEIRA, CÓRDOVA, 2009 p. 32).
Sendo assim, a pesquisa qualitativa não se preocupa com a exposição dos resultados por meio
de dados numéricos, mas com a compreensão da realidade de determinado grupo de interesse.
Por outro lado, a pesquisa quantitativa tem por objetivo apresentar resultados numéricos, pela
mensuração de descobertas ou variáveis encontradas no trabalho. Segundo Fonseca (2002):
108
A proposta de tese foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da Universidade
Federal de Santa Maria e foi aprovado sob o CAAE n° 27500919.6.0000.5346. O Anexo A apresenta a autorização
da instituição de ensino para a realização da pesquisa. O Apêndice A apresenta o Termo de Confidencialidade
(TC) referente a identificação dos participantes da pesquisa, assinado pelo orientador da tese, segundo as
orientações do CEP/UFSM.
275
Figura 73 – Mapa de Localização da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vicente Farencena, Santa Maria,
Rio Grande do Sul, Brasil.
Desta forma, os estudantes que se encaixarem em alguns dos itens acima, participaram
das atividades de aplicação, porém, não foram quantificados nos resultados desse trabalho.
A partir do exposto, os sujeitos da pesquisa foram duas turmas de 7° ano (71 e 72) da
EMEF Vicente Farencena, dado que possuem conhecimentos ligados ao espaço vivido e à
Matemática, desenvolvidos em anos anteriores do Ensino Fundamental.
Em uma das atividades que foram executadas com os sujeitos da pesquisa, tem-se a
contextualização da escala cartográfica, sendo necessária a abordagem por meio das unidades
de medidas (transformações de unidades) e frações, que são apresentadas no 6° e 7° anos,
juntamente com a introdução das figuras geométricas, como o triângulo-retângulo, quadrado e
retângulo, dando enfoque para área e perímetro (SANTA MARIA, 2019).
A turma 71 possui 27 alunos matriculados no ano de 2021, enquanto a turma 72 é
composta por 25 estudantes. Considerando os critérios de exclusão da pesquisa, o universo de
estudantes são 13 para a turma 71 e 14 para a turma 72. Desta forma, essa totalidade aceitou
participar da pesquisa nos TACA, TCLE e questionário de identificação (Apêndice D),
respondeu os questionários propostos e retirou o Kit de Aplicação.
109
Disponível no Apêndice B.
110
Disponível no Apêndice C.
277
Tratando-se da idade dos estudantes da turma 71, quatro (30,77%) tem 12 anos de idade,
oito estudantes (61,54%) tem 13 anos e somente um discente (7,69%) tem 14 anos. A turma 72,
por sua vez, dois estudantes (14,29%) têm 12 anos, 11 discentes (78,57%) tem 13 anos e
somente um (7,14%) apresenta 14 anos, conforme apresentado na Figura 76. Destaca-se, sobre
a reprovação em algum dos anos iniciais e/ou finais do Ensino Fundamental, que somente dois
estudantes (7,40%), ambos com 14 anos (um de cada turma), reprovaram nos anos finais,
enquanto os demais (92,60%) ainda não repetiram o ano escolar.
Sobre a organização familiar dos estudantes da turma 71, dois estudantes (15,38%)
falaram que residem somente com um adulto111, seis (46,15%) disseram morar com dois adultos
e cinco alunos (38,47%) moram com três adultos. Na turma 72, cinco alunos (35,71%) moram
com dois adultos, seis estudantes (42,86%) com três adultos e três (21,43%) com quatro adultos.
A Figura 77 exibe a mencionada proporção. Cabe ressaltar que, em relação ao número de
crianças que fazem parte do grupo familiar da turma 71, 11 (84,62%) falaram que há apenas
uma criança residindo com eles, enquanto dois (15,38%) disseram haver duas crianças na
família. Sobre a turma 72, todos os discentes falaram que a família é composta somente por
uma criança.
111
Considerou-se adultas as pessoas com 15 anos ou mais.
279
Figura 77 – Número de adultos (acima de 15 anos) nas famílias dos sujeitos de pesquisa.
112
Nessa questão era permitido a marcação de mais de uma opção de resposta.
282
diversão e entretenimento, cinco (35,71%) para pesquisas e/ou temas de seu interesse e dois
(14,29%) para trabalho.
Figura 81 – Nuvem de palavras para a finalidade do uso das mídias da turma 71.
Figura 82 – Nuvem de palavras para a finalidade do uso das mídias da turma 72.
Quanto ao principal turno de estudo utilizado pelos estudantes, tem-se que na turma 71,
cinco (38,46%) afirmaram estudar no turno da manhã, enquanto oito (61,54%) disseram estudar
à noite. Na turma 72, três (21,43%) falaram preferir estudar pela manhã, quatro (28,57%) à
tarde, cinco (35,71%) à noite e dois (14,29%) pela manhã e à noite. A Figura 83 ilustra a
porcentagem citada.
A partir da breve caracterização realizada, percebe-se que grande parte dos estudantes
residem no bairro da escola ou próximo, como o bairro São João e Cerrito, ainda não reprovou,
e que possuem conhecimento sobre a realidade do bairro, como pontos de referência e principais
vias. Além disso, ressalta-se que todos os alunos possuem acesso às tecnologias para
acompanhar as atividades síncronas e assíncronas da aplicação. Os estudantes que apresentaram
alguma dificuldade no manuseio dos recursos, conforme constatado pelo questionário de
identificação, solicitam ajuda para os pais ou responsáveis e professores, quando necessário.
283
Figura 83 – Turno predominante para a realização das atividades escolares dos sujeitos da pesquisa.
113
Edmodo é uma plataforma global de educação gratuita mediante cadastro, que ajuda a conectar professores,
alunos e pais ou responsáveis de modo online, permitindo o compartilhamento de materiais multimidia,
apresentações, sites de interesse, entre outros. Além disso, conta com um sistema de troca de mensagens entre os
participantes e possibilita aplicação de testes ou resolução de exercícios variados, por exemplo, de múltipla
escolha, correspondência, verdadeiro ou falso, resposta com frases e preenchimento de lacunas com palavras. Sua
interface é baseada no Facebook, permitindo curtidas e comentários em publicações. O Edmodo pode ser
executado diretamente em qualquer navegador ou pelo App para Android, iOS ou Windows Phone.
114
Cabe destacar que somente a oficina pedagógica conta com metodologias distintas. As atividades práticas
relacionadas ao mapeamento serão elaboradas por ambas as turmas de uma mesma maneira.
115
Utilizou-se o software OBS Studio, versão 27.0.1, livre e de código aberto para a gravação dos vídeos e o Movie
Studio Platinum 15, Copyright © 2018 MAGIX Software GmbH, que está licenciado para:
geo.mauricio.rizzatti@gmail.com.
286
imagens do Google Earth Pro e geradas imagens anáglifo, criadas com o StereoPhoto Maker116,
para a visualização do relevo em três dimensões. Além disso, utilizou-se ferramentas do
software QGIS para gerar produtos cartográficos e receptores GNSS para abordar a orientação
espacial e latitude e longitude. Destaca-se que todas as variáveis desenvolvidas buscam
caracterizar o espaço vivido dos estudantes, isto é, o bairro Camobi e a área urbana de Santa
Maria. Dessa maneira, ressalta-se a importância da oficina pedagógica no desenvolvimento de
noções que colaboram para um aluno leitor crítico de representações cartográficas.
A orientação espacial foi abordada, inicialmente, através da utilização de elementos
naturais, como o Sol, a Lua e o Cruzeiro do Sul, e por instrumentos, como a bússola e o GPS.
Os pontos cardeais e colaterais explicados, foram transpostos para o Google Earth Pro, no qual
se explanou uma série de questionamentos sobre a orientação entre diversos objetos, além de
uma explanação sobre coordenadas geográficas.
Para exemplificar a variável do alfabeto e a estruturação da legenda, foi criado, durante
a oficina pedagógica, um mapa de uso e ocupação da terra do bairro Camobi, utilizando o
alfabeto cartográfico para a representação dos elementos do bairro. Para isso, usou-se uma
imagem aérea do bairro, adquirida no Google Earth Pro, e demonstrou-se aos sujeitos da
pesquisa o que pode ser representado no formato pontual, linear e poligonal naquela imagem,
usando, assim, cores e índices para cada tipo de usos e sistematizando-os em uma legenda.
Destacou-se, também, a diferença entre as representações qualitativas, quantitativas, ordenadas
e dinâmicas.
A ilustração dos tipos de visões se deu por meio de fotografias para exemplificar a
visualização do espaço no cotidiano (visão horizontal/frontal), e imagens, do Google Earth Pro,
para uma visão da escola em uma perspectiva aérea (vertical). Além disso, foi utilizado uma
ARP, com voo realizado nas proximidades da escola, o que gerou um vídeo da visualização da
visão oblíqua e vertical da escola, além de fotografias de cada uma das visões. Também foi
utilizado duas gravações do jogo Microsoft Flight Simulator, com perspectivas oblíquas e
verticais de alguns pontos de referência da área urbana de Santa Maria. Como o jogo permite a
contextualização de conteúdos geográficos e cartográficos, trata-se de uma (Geo)Tecnologia.
Com o objetivo de demonstrar o conceito e a importância da escala em documentos
cartográficos, foi realizada, previamente, a oficina pedagógica, as medidas da quadra da escola
e após, sistematizou-se os cálculos e transformações de unidades para descobrir a escala da
116
StereoPhoto Maker é um programa livre e tem a funcionalidade de editar imagens e poder alinhar
automaticamente centenas de imagens e permite gerar um anáglifo para visualização de imagens em terceira
dimensão (3D).
287
representação da quadra, em uma folha A4. Depois de calculada a escala, foi realizada uma
demonstração de sua aplicação, isto é, uma aferição da distância através de um barbante.
Para a diferenciação das imagens bidimensionais e tridimensionais, foram
confeccionadas imagens com o StereoPhoto Maker, que permite a visualização de imagens em
três dimensões, com a utilização de óculos117. Segundo Rizzatti (2018) para gerar uma imagem
anáglifo no software:
117
Para confeccionar imagens anáglifo no StereoPhoto Maker, consulte Rizzatti; Batista (2021) e acesse o vídeo
tutorial: https://www.youtube.com/watch?v=WcEVBbbG-RA (acesso em: 16 nov. 2021).
288
118
O jogo foi desenvolvido no EscapeFactory (https://escapefactory.me/#/ acesso em: 16 nov. 2021), que permite
criar, compartilhar e publicar jogos educativos.
289
O método para locação de objetos adotado foi “uma direção e distância”, que é o mais
concreto para a compreensão dos alunos. Seu funcionamento consiste em coletar o azimute119
do objeto que se deseja localizar no mapa em relação à base (ou ao ponto de origem) e,
posteriormente, adquirir a distância entre os pontos por meio de uma fita métrica. Para locar o
arbusto da Figura 85A, que possui como base a árvore de maior porte, deve-se fazer os seguintes
procedimentos: a) ao utilizar uma bússola de mapeador120, é necessário adquirir a direção entre
a estação base (ou ponto de início) e o objeto que se deseja localizar – o arbusto; b) deve-se
registrar o azimute de 61° (Figura 85B) no limbo móvel da bússola e, em seguida, posicionar
de forma que os meridianos da bússola fiquem na mesma posição dos meridianos do mapa; c)
o próximo passo é medir a distância entre a árvore e o arbusto (Figura 85C), relacionando o
resultado adquirido com a escala do mapa (para uma representação em escala). Com a distância
e orientação, o objeto é locado no mapa (Figura 85D).
Figura 85 – Locação de ponto por meio do método “uma direção e distância”: ilustração do objeto a ser mapeado
(A), coleta da direção - azimute (B), medição de distância (C) e representação final (D).
119
O ângulo horizontal é formado entre a direção norte-sul (meridiano que passa pelo ponto) e um alinhamento,
tendo como origem o Norte (geográfico ou magnético) e variável entre 0° a 360°, no sentido horário (TULER;
SARAIVA, 2014).
120
A bússola utilizada nesse trabalho foi a Silva Expedition 54 (Type 4/54).
290
Salienta-se que os alunos não confeccionaram o mapa da escola pelo viés da Cartografia
de Ecoesporte, porém, foi gravada e disponibilizada uma atividade no Youtube com os
princípios apresentados. Essa atividade aborda a marcação de quatro pontos (A, B, C e D) na
quadra da escola, a fim de formar um quadrado com 10 metros de lado (Figura 86). No vídeo,
destacou-se o azimute entre os pontos, sua distância, como representar o quadrado em escala
de 1:1.000 e 1:100, além de conceitos matemáticos de perímetro e área. O quadro 20 descreve
a prática de Ecoesporte, as variáveis cartográficas desenvolvidas, bem como as inteligências
motivadas.
Quadro 20 – Descrição das atividades desenvolvidas com a prática de Ecoesporte: variáveis cartográficas
abordadas e inteligências mobilizadas.
VARIÁVEIS INTELIGÊNCIAS
DESCRIÇÃO
DESENVOLVIDAS MOBILIZADAS
1°) Compreender o que são os
pontos cardeais/colaterais e seus
respectivos azimutes, utilizando
uma bússola;
2°) Aplicar os conceitos de Espacial;
Orientação Espacial;
orientação (pontos cardeais e Lógico-Matemática;
Escala e Proporção;
colaterais) em um quadrado com Naturalista;
Alfabeto Cartográfico;
10 m de lado; Cinestésica-Corporal;
Tipos de Visões;
3°) Analisar a distância, o Intrapessoal;
Coordenadas Geográficas
perímetro e a área entre os Verbal.
pontos;
4°) Representar a figura
(quadrado) em dois croquis de
escala 1:100 e 1:1.000.
Para iniciar a elaboração do mapa base da Escola Vicente Farencena, foi disponibilizado
aos estudantes um ortomosaico121 impresso, de tamanho A4, gerado a partir de um plano de
voo, com uma área de interesse abarcando a escola (aproximadamente 100 m de lado). Não foi
viável a realização de um voo para abranger uma área maior, com a escola no centro do
imageamento, em virtude da proximidade com o Aeroporto e ALA 4 (antiga Base Aérea de
Santa Maria).
O plano de voo foi configurado com o aplicativo DJI Pilot, que permite realizar ajustes
referentes à área do voo, altitude e número de fotografias para cobrir a área de interesse. No
App., realizou-se a seguinte configuração: voo com 40 m de altura, velocidade de 5 m/s, 60%
de recobrimento longitudinal e lateral e curso de angulação de 0° (deslocamento norte-sul).
Conforme ilustrado na Figura 87, para cobrir a área da escola Vicente Farencena, o voo teve
duração de 2 minutos e 16 segundos, com distância de 572 m, totalizando 31 fotos e
apresentando uma resolução espacial de, aproximadamente, 1,7 cm. A ARP utilizada para o
imageamento foi o Inspire 1, da empresa chinesa DJI. O Software Agisoft Metashape, versão
121
Segundo Horus Aeronaves – Drone Mapping Solutions (s/d, p. 13), o ortomosaico: “[...] é obtido a partir de
imagens retificadas de maneira ortogonal, ou seja, todas as feições apresentadas numa ortofoto representam com
fidelidade as formas, tamanhos e distâncias da área correspondente. O produto gerado tem todas as características
geométricas de uma carta”.
292
1.6.4122, (antigo PhotoScan), foi utilizado para tratamento das imagens adquiridas por
aerolevantamento, a fim de gerar o ortomosaico.
Figura 87 – Configuração e informação referente ao plano de voo para imageamento da Escola Vicente
Farencena.
122
Utilizou-se a função completa do software, com licença teste de 30 dias.
293
Quadro 21 – Descrição das atividades desenvolvidas com a prática da confecção do mapa base da escola:
variáveis cartográficas abordadas e inteligências mobilizadas.
VARIÁVEIS INTELIGÊNCIAS
DESCRIÇÃO
DESENVOLVIDAS MOBILIZADAS
1°) Confeccionar, manualmente,
um mapa, a partir de um
ortomosaico e papel vegetal,
além de identificar algumas
feições predeterminadas;
2°) Sistematizá-los em uma
Orientação Espacial; Espacial;
legenda;
Escala Cartográfica; Lógico-Matemática;
3°) Propor um título, orientação
Alfabeto Cartográfico; Cinestésica-Corporal;
espacial e legenda;
Sistematização da Legenda; Verbal;
4°) Inferir, através de
Imagem Bidimensional. Intrapessoal.
comparação, a orientação de um
ponto comparado a outro; e
5°) Mensurar a distância
aproximada dos muros da
escola, utilizando a escala
gráfica.
123
Para mais informações sobre como organizar a base de dados para elaborar um mapa no QGIS com estudantes
da Educação Básica, acesse o vídeo tutorial: https://youtu.be/cy3Mib0EJTA (acesso em: 31 nov. 2021).
124
O Georreferenciamento designa o procedimento da transformação de um conjunto de dados de imagem em um
sistema de referência espacial, com suas coordenadas conhecidas (LANG; BLASCHKE, 2009).
125
São utilizados para representar as mais variadas feições, como cidades, municípios, rodovias e rios, por meio
de pontos, linhas e polígonos, sendo proporcionalmente representados pela escala cartográfica. Os shapefiles é o
formato mais recorrente para arquivos vetoriais que são reconhecidos pelo SIG.
294
fonte. As ruas e rodovias foram disponibilizadas aos estudantes, pois o processo de vetorização
demanda tempo.
Após a conclusão do mapa, foram elucidadas as paisagens naturais e artificiais presentes
nele, relacionando a Cartografia e IM. Assim, apresentou-se aos estudantes um som referente a
um ambiente natural, buscando ilustrar a água corrente, sons de animais, vento soprando contra
a vegetação, e outro referente ao ambiente citadino, com buzinas, construções e sirenes. Isso
foi retomado durante a aplicação do questionário posterior (Apêndice G). Cabe destacar que os
materiais, como imagens de satélite e papel vegetal, além das imagens georreferenciadas e dos
softwares utilizados, estavam presentes no Kit de aplicação, conforme já mencionado. Para a
instalação dos programas, foram gravados vídeos tutoriais, disponibilizados na plataforma
Edmodo.
A presente atividade mobiliza uma gama de inteligências, devido a multiplicidade de
linguagens aplicadas na interpretação de um mapa. Aliado a isso, o fato de escutar e perceber
as melodias, para então retratar a ideia central que elas representam, por meio de desenhos, leva
ao uso da Inteligência Musical, Interpessoal e Cinestésica-Corporal. Ademais, para propor uma
localização do desenho no mapa, é necessária a utilização de conhecimentos cartográficos, o
que é relacionado diretamente com a Inteligência Espacial (RIZZATTI, 2018).
Além disso, a elaboração e utilização de mapas de uso e ocupação da terra, em ambientes
escolares, permite a mobilização da Inteligência Naturalista, através da observação da falta de
mata ciliar adequada nas proximidades dos córregos ou sangas, o que demonstra o descuido dos
seres humanos com o meio natural, resultando em conflitos com leis ambientais vigentes, em
problemas de drenagem, como o assoreamento e o lixo, além de outras discussões. O Quadro
22 apresenta um resumo das atividades quem foram desenvolvidas na confecção desse mapa, e
as variáveis cartográficas contextualizadas e as inteligências mobilizadas.
295
Quadro 22 – Descrição das atividades desenvolvidas com a prática da confecção do mapa de uso da terra do
bairro: variáveis cartográficas abordadas e inteligências mobilizadas.
VARIÁVEIS INTELIGÊNCIAS
DESCRIÇÃO
DESENVOLVIDAS MOBILIZADAS
1°) Representar as diferentes
tipologias de uso da terra: área
urbanizada, vegetação arbórea e
campestre; lavoura e solo
exposto;
Espacial;
2°) Perceber a paisagem de
Alfabeto Cartográfico; Naturalista;
acordo com os sons e relacionar
Imagem Bidimensional; Musical;
com a legenda do mapa de uso e
Interpretação de imagens; Intrapessoal;
ocupação da terra; e
Tipos de Visões; Verbal;
3°) No questionário posterior,
Tipos de Paisagens. Cinestésica-Corporal.
realizou-se uma atividade
envolvendo som, desenho,
paisagem e localização no mapa
em questão, colaborando para a
mobilização de uma série de
inteligências.
5.5.4 Confecção do mapa das variáveis sociodemográficas da área urbana de Santa Maria
por bairros (analógico e digital - Philcarto)
Figura 88 – Exemplificação dos moldes das legendas com o intervalo de classe de cada tema da tabela das
variáveis sociodemográficas de Santa Maria.
Essa atividade tem como objetivo central representar a principal vantagem que o mapa
leva em relação à tabela e ao gráfico, ou seja, a espacialização de determinado tema, permitindo
demonstrar se existe uma concentração ou não da variável, o que não é viável quando a
informação é apresentada nos outros meios, como por uma tabela. Tendo em mente que cada
um dos alunos aprende de modo próprio, de acordo com sua maneira e seu tempo, o mapa foi
297
Quadro 23 – Descrição das atividades desenvolvidas com a prática da confecção do mapa das variáveis
sociodemográficas de Santa Maria: variáveis cartográficas abordadas e inteligências mobilizadas.
VARIÁVEIS INTELIGÊNCIAS
DESCRIÇÃO
DESENVOLVIDAS MOBILIZADAS
1°) Escolher uma variável
presente na tabela de dados
disponibilizadas; Alfabeto Cartográfico; Espacial;
2°) Representar a variável Uso de tabelas; Intrapessoal;
escolhida em um mapa base por Espacialização de variáveis Interpessoal;
meio da variável visual cor e quantitativas; Cinestésica-Corporal;
intervalo de classes (mapa Estruturação da Legenda; Verbal.
manual); e Interpretação do mapa.
3°) Elaborar o mapa no
Philcarto.
Organização: (O AUTOR, 2022).
Ressalta-se que os mapas digitais (QGIS e Philcarto) foram desenvolvidos na parte final
da aplicação das atividades, quando alguns alunos haviam aderido ao Ensino Híbrido. Desta
forma, estes alunos realizaram os mapeamentos digitais no laboratório de informática da escola,
enquanto que, para os demais, que permaneceram em ERE, criou-se vídeos tutoriais com o
passo a passo para a realização dos mapeamentos em casa.
126
Philcarto é um software livre, desenvolvido por Philippe Waniez, permite produzir mapas de Cartografia
Temática, com uma série de metodologias representacionais, como a densidade de pontos, círculos proporcionais,
corocromáticos e coropléticos, além de análises estatísticas e correlações espaciais.
127
Desenvolveu-se um vídeo tutorial com o intuito de demonstrar o passo a passo para a organização dos dados
para mapeamento no Philcarto. Serve, principalmente, para capacitar professores da Educação Básica que desejam
utilizar dados do IBGE em suas aulas. Para mais informações, acesse: https://youtu.be/S89muiaGqG0 (acesso em:
31 nov. 2021).
298
Quadro 24 – Questionários aplicados aos sujeitos da pesquisa: momento de aplicação, modo como foi
organizado e local de aplicação.
MOMENTO DA ORGANIZAÇÃO E
QUESTIONÁRIO
APLICAÇÃO LOCAL DE APLICAÇÃO
Organizado no Google
Após a concordância dos Formulários e disponibilizado
Identificação
TACA e TCLE no Google Classroom das
turmas
Prévio Anterior a oficina pedagógica
Após as práticas de
Posterior Organizado e disponibilizado
mapeamento
no Edmodo
Cerca de 2 meses após o
Memória de Longa Duração
encerramento da aplicação
Um dia depois da primeira
Sono e Aprendizagem
atividade da oficina
Completo Organizado no Google
pedagógica
Formulários e disponibilizado
Um dia após aos encontros da
no Edmodo e Classroom das
Sono e Aprendizagem oficina pedagógica e a cada
turmas
Simplificado atividade prática
desenvolvida
128
Não foi aplicado o mesmo procedimento para as atividades do cotidiano, tendo em vista que não é possível a
realização de correlação estatística em dados qualitativos.
129
Versão Microsoft 365 Family licenciado para Maurício Rizzatti.
130
Os softwares utilizados para o tratamento estatístico estão licenciados a Luís Felipe Dias Lopes.
300
ENSINO REMOTO
DATAS131 SAI REMOTA (72)
EMERGENCIAL (71)
30/04 a 30/05/2021 Preenchimento do TACA e TCLE.
02/06 a 06/06/2021 Preenchimento do questionário de identificação.
07/06/2021 Receber o login e senha do Edmodo e acessar a plataforma.
23/06/2021 Responder o questionário prévio.
Vídeos para assistir assincronamente*:
a) História da Cartografia e Cartografia
Oficina Pedagógica Síncrona I: Temática;
07/07/2021 História da Cartografia e b) Tipos de imagem e de visão e
Cartografia Temática coordenadas geográficas;
c) Alfabeto cartográfico, estruturação
da legenda e orientação espacial.
Oficina Pedagógica Síncrona II:
Vídeos para assistir assincronamente*:
Tipos de imagem, visão,
d) Escala Cartográfica;
11/08/2021 alfabeto cartográfico,
e) Sensoriamento Remoto e
estruturação da legenda e
Aplicações.
coordenadas geográficas
Oficina Pedagógica Síncrona III:
Orientação espacial, Escala
1°/09/2021 Jogo “Elementos Cartográficos”
cartográfica e Sensoriamento
Remoto.
Mapa das Variáveis Sociodemográficas de Santa Maria e Uso da Terra do
02/09/2021
Bairro Camobi (Manuais)
Mapa da Escola (Manual com uso do Ortomosaico)
131
O tempo de duração dos encontros foram realizados ora em períodos de 50 minutos, ora em períodos de 1 hora
e 30 minutos, totalizando 10 aulas.
132
Os estudantes que aderiram ao Ensino Híbrido realizaram esse mapeamento no laboratório de informática da
escola, em 04/10/2021, juntamente com o mapa de uso e ocupação da terra do bairro Camobi.
302
Figura 89 – Exemplo do e-mail enviado para os estudantes contendo as instruções de acesso ao Edmodo.
A oficina pedagógica para a turma 71 deu-se em três momentos, conforme o Quadro 25.
Em 07 de junho de 2021, abordou-se como a Cartografia se faz presente em atividades do
cotidiano, a história da Cartografia e a Cartografia Temática. Ressalta-se que no dia 08 de junho
de 2021, no dia seguinte à primeira atividade da oficina pedagógica, os estudantes responderam
ao questionário do sono e aprendizagem (completo), conforme explicado nos procedimentos
metodológicos. No segundo encontro, em 11 de agosto de 2021, falou-se sobre os tipos de
imagem, visão, alfabeto cartográfico, estruturação da legenda e Coordenadas Geográficas. O
encerramento da oficina pedagógica ocorreu em 1° de setembro de 2021, com os conteúdos
orientação espacial, escala cartográfica e SR. Cabe destacar que a turma caracterizada
acompanhou via ERE, isto é, todas as atividades ocorreram de maneira síncrona no Google
303
Meet. Um dia depois dos dois últimos encontros, assim como nos mapeamentos, os estudantes
responderam ao questionário de sono e aprendizagem (simplificado).
Para a turma 72, disponibilizou-se os vídeos133, na plataforma Edmodo, com as
temáticas desenvolvidas nas datas especificas, de acordo com o Quadro 26. A metodologia
aplicada consistiu em atividades assíncronas (somente na oficina pedagógica). Desta forma, os
estudantes poderiam assistir aos vídeos disponibilizados no turno e horário que bem
entendessem, sendo que no dia posterior à visualização, tinham a responsabilidade de responder
o questionário de sono e aprendizagem (completo para o dia 07 de julho e simplificado para 11
de agosto de 2021). Observando-se o Quadro 26, percebe-se que os vídeos foram assistidos em
uma quantidade igual ou maior do que o número de participantes, com exceção da temática de
SR e suas aplicações. Embora seja possível concluir essa informação, deve-se ter cuidado que
determinado aluno pode ter aberto o mesmo vídeo três vezes, contabilizando três visualizações,
por exemplo, ou um familiar assistiu para conhecer a atividade.
N° DE
DATA TEMÁTICA LINK
VISUALIZAÇÕES
História da Cartografia
https://youtu.be/J9Y6ZYnJ81U 15
e Cartografia Temática
Tipos de imagem e de
07/07/2021 visão e coordenadas https://youtu.be/-dcVRx8s0RM 17
geográficas
Alfabeto cartográfico,
estruturação da legenda e https://youtu.be/qEVxqZIVVHs 14
orientação espacial
Escala cartográfica https://youtu.be/rWEst0jsuLw 18
11/08/2021 Sensoriamento Remoto e
https://youtu.be/M1YQ-_DTq9U 13
aplicações
133
Destaca-se que os vídeos foram gravados para possuírem aproximadamente 20 minutos, em virtude do tempo
de atenção dos seres humanos. Por outro lado, a turma 71, em Ensino Remoto com aulas expositivas síncronas, o
tempo de duração da aula foram de 50 minutos, fato que permitiu um maior aprofundamento e discussão com os
estudantes.
304
decisão nas atividades práticas, formando assim, um mapeador consciente, pois não basta
somente ler uma representação cartográfica, deve-se ter em mente quais métodos são
recomendáveis empregar para representar determinada variável.
A partir do exposto, resolveu-se aprofundar os principais temas abordados durante cada
encontro da oficina pedagógica. Para fazer os estudantes interagirem e perceberem que a
Cartografia está presente em situações do cotidiano, mostrou-se a Figura 90 e indagou-se o que
aquelas imagens apresentam em comum, e se eles fazem ou já fizeram uso daquelas
ferramentas.
Figura 90 – Slide para interação dos estudantes: o que existe em comum nessas imagens?
A participação dos discentes foi bastante efetiva, vários disseram que o termo em
comum nas figuras seriam os mapas, já outros afirmaram que se tratava de um GPS e de um
aplicativo de transporte. Quando questionados se somente aplicativos possuem mapas, ou se
existe alguma outra atividade que eles realizam no cotidiano e que também apresentam esse
método de representação, não houve resposta por parte dos estudantes. Todavia, ao apresentar
a Figura 91, obteve-se as seguintes respostas: “eu jogo FreeFire”, “eu conheço aquele mapa”
e “os jogos possuem mapas”. Assim, percebe-se que a Cartografia está presente nos momentos
de lazer dos estudantes, isto é, nos jogos eletrônicos.
305
134
Segundo Rizzatti; Becker e Cassol (2021, p. 244), o Battle Royale “É um modo de jogo on-line que um grupo
de jogadores pulam de um objeto voador e aterrissam em determinado local com nenhum ou pouco equipamento.
No decorrer da partida, a área que os jogadores podem acessar vai diminuindo em decorrência de um gás (ou algo
do gênero) que se espalha pelo mapa. O objetivo principal é explorar o cenário em busca de equipamentos melhores
e ser o último sobrevivente (o vencedor)”.
306
Figura 92 – Exemplificação de legendas e variáveis visuais aplicadas de acordo com o método de representação
utilizado.
diferenciação entre visão horizontal ou frontal, oblíqua, e vertical ou aérea, fornece para a
interpretação de documentos cartográficos e, também, para as práticas de mapeamento. Assim,
deve-se demonstrar para os estudantes as diferenças entre a visão do cotidiano, isto é,
horizontal, e sua característica de um ponto cego, como os fundos da escola na Figura 93(A), e
a transposição para uma perspectiva aérea, utilizada nos mapeamentos, conforme a Figura
93(C). A Figura 93 demonstra a EMEF Vicente Farencena com os três pontos de vista.
Além das imagens, fez-se uso de um vídeo gravado pela ARP, após a tomada das figuras
para a construção do ortomosaico. O vídeo está disponível na apresentação da oficina
pedagógica e, também, no link: https://youtu.be/OfituoAIyz0 (acesso em: 17 nov. 2021). Foram
utilizados vídeos do jogo Microsoft Flight Simulator, para ilustrar, novamente, os tipos de
visão. O primeiro foi realizado um voo em uma porção da área urbana de Santa Maria,
disponível em: https://youtu.be/GDqmg5RVMAk (acesso em: 17 nov. 2021), identificando
alguns pontos de referência, a escola e tipos de visão (Figura 94).
308
Figura 93 – Tipos de visão da EMEF Vicente Farencena: horizontal ou frontal (A), oblíqua (B) e vertical ou
aérea (C).
Figura 94 – Tipos de visão da EMEF Vicente Farencena no Microsoft Flight Simulator: perspectiva aérea (A) e
oblíqua (B).
consequência uma maior área de imageamento, logo, ao aumentar a área que pode ser mapeada,
ocorre uma diminuição na escala cartográfica, exposto na Figura 95.
Figura 95 – Altitude do voo influenciando na escala cartográfica da imagem: escala maior e drone em altitude
menor (A) e escala menor com drone em uma altitude maior (B).
mas mapas, imagens, vídeos e áudios, por exemplo, fato que pode promover uma (re)conexão
neural com um conhecimento anterior do estudante, o que proporciona a aprendizagem.
Sobre as imagens bidimensionais e tridimensionais, para que o estudante consiga
perceber a profundidade, que é a principal característica da terceira dimensão, e diferenciar
ambas as imagens, fez-se uso dos óculos disponibilizados no Kit de Aplicação. Solicitou-se aos
discentes para pegarem os óculos, visualizassem o slide e comentassem o que estava ocorrendo,
além de dizer qual parte era mais alta ou baixa em cada uma das imagens presentes na
apresentação. Aproveitou-se a qualidade das imagens anáglifos e contextualizou-se conceitos
pertinentes a hidrografia.
Nesse contexto, exibiu-se algumas imagens anáglifos de Santa Maria e, utilizando cartas
topográficas no fundo (Figura 96), explicou-se conceitos de divisores de água, talvegue, rede
de drenagem e mata ciliar. Os estudantes da turma 71 puderam visualizar a imagem em 3D
durante a aula síncrona, enquanto os da 72 foram instruídos a pausarem o vídeo, além de
possuírem três imagens anáglifo impressas no Kit.
Assim, de acordo com a Figura 96, é possível identificar as regiões mais elevadas, como
o morro da Antena, área do Parque Natural Municipal dos Morros, o morro Cechella, e o morro
do Platô, que circundam a barragem do Departamento Nacional de Obras de Saneamento
(DNOS). Os mencionados elementos atuam como divisores de água, sobretudo da bacia
hidrográfica do arroio Cadena, a qual drena suas águas para o sul da área urbana, e a bacia
hidrográfica do rio Vacacaí-Mirim (na barragem do DNOS), para o leste/sudeste. Ao perceber
a tridimensionalidade das imagens, pode-se concluir que os rios sempre estão ocupando a
porção mais baixa do terreno, e as vertentes, que convergem para seu leito, drenam as águas
que escoam na superfície.
Para exemplificar e mostrar diferentes representações de altitude, empregou-se uma
imagem anáglifo de uma porção do arroio Cancela (Figura 97A) e de um perfil topográfico
transversal a drenagem (Figura 97B), a fim de elucidar o comportamento da vertente, divisor
de água e talvegue. A partir dessa contextualização local, de como ocorre a separação entre as
bacias, pôde-se ampliar um pouco mais a escala geográfica e trabalhar com bacias estaduais e
nacionais, por exemplo, visto que o estudante passa a compreender como ocorre a delimitação
entre elas por meio da topografia. A abordagem de uso de imagens anáglifos, para a
compreensão de elementos de hidrografia, já foi discutida por Rizzatti (2018) e Batista (2019).
312
Figura 96 – Imagens anáglifo da região Norte de Santa Maria: imagem de satélite (A) e carta topográfica (B).
Figura 97 – Porção da bacia hidrográfica do arroio Cancela: imagem anáglifo (A) e perfil topográfico transversal
(B).
eles concluíssem que os pontos têm uma posição absoluta e que podem localizar qualquer objeto
por meio dessa metodologia.
A partir disso, foram inseridos alguns pontos na imagem para que os estudantes
fornecessem a sua localização e, posteriormente, a representação linear, que necessita de pelo
menos dois pontos, sendo que o início e o fim da linha possuem coordenadas conhecidas e, por
fim, uma representação poligonal, com no mínimo três pontos, desde que o primeiro seja igual
ao último. Demonstrou-se aos alunos quando se deve utilizar pontos, linhas e polígonos,
ressaltando, sobretudo, o uso entre ponto e polígono e qual a relação desses modos de
implantação com a escala cartográfica. Nas atividades práticas, realizadas após a oficina
pedagógica, foi realizada a confecção de um mapa da escola (usando o ortomosaico) e de um
mapa de uso e ocupação da terra, em que os estudantes marcaram a escola em formato poligonal
e pontual, respectivamente. Ao final dessa contextualização, revisou-se os conceitos de linhas
imaginárias, paralelos e meridianos, latitude e longitude, e atribuiu-se os valores em graus para
os pontos anteriormente identificados por números e letras.
Juntamente com o alfabeto cartográfico, apresentou-se a importância de todos os signos,
cores, tonalidade, valores, hachuras, entre outros, estarem sistematizados e organizados em uma
legenda, para facilitar a leitura do documento. Explanou-se a subdivisão dos signos utilizados
na Cartografia, a saber: ícone, índice e símbolo, conforme já apresentado nesse trabalho. Na
sequência, abordou-se a temática orientação espacial por meios naturais e equipamentos, e
realizou-se uma orientação entre alguns pontos de referência do bairro Camobi (Figura 98),
além de uma breve explanação sobre o funcionamento da bússola. Salienta-se que as atividades
realizadas até o momento abordaram conceitos capazes de promover um ensino que forme
alunos alfabetizados cartograficamente. Através das atividades práticas realizadas
posteriormente, possibilitou-se ao estudante compreender a metodologia empregada na
confecção de mapas e na tomada de decisões, possibilitando um mapeador consciente. A partir
do exposto, podemos concluir que as atividades apresentadas até agora são motivadoras,
principalmente, da Inteligência Espacial.
De outra forma, ao contextualizar a temática envolvendo a escala cartográfica, tem-se a
mobilização da Inteligência Lógico-matemática, por meio de princípios matemáticos e de
proporção que são aplicados, além da Espacial. Para trabalhar esse tema, fez-se uso de três
cubos de papel com tamanhos diferentes, inspirados em um cubo mágico, com a finalidade de
mostrar o tipo da escala, isto é, escala de ampliação, natural e redução (Figura 99). Assim, pode-
se concluir que os produtos cartográficos sempre apresentarão uma escala de redução, pois suas
dimensões são menores do que a área que está sendo mapeada.
315
Figura 98 – Rosa dos ventos posicionada sobre os pontos de interesse para facilitar a orientação espacial dos
estudantes.
Figura 99 – Tipo de escalas para a representação do cubo mágico: natural – mesmo tamanho do objeto (A),
ampliação – maior que o objeto original (B) e de redução – menor que o objeto original (C).
Figura 100 – Escala grande e pequena: dimensão da área mapeada, informação e denominador.
um dos sons. Assim, os discentes precisaram compreender a ideia de que o som estava
indicando o reflexo de elementos da paisagem, e para tanto, propor uma possível localização,
como o “som 2”, que pode ser espacializado nas ruas da área edificada, por exemplo. Logo,
mobilizaram a Inteligência Musical, no sentido de compreender o áudio, e a Inteligência
Espacial, para interpretar o mapa, utilizando, assim, recursos multimodais.
Figura 101 – Procedimentos para realização do mapa de uso da terra: imagem base (A), vetorização das ruas e
drenagem (B), delimitação da vegetação e da área edificada (C e D) e mapa finalizado para oficina pedagógica
(E).
135
Ferramenta de geoprocessamento que permite gerar polígonos com base em distâncias definidas utilizando
camada pontual, linear ou poligonal. É bastante utilizado para gerar áreas de APP de nascentes (buffer de 50
metros) e da calha da rede de drenagem, cuja distância depende da largura do rio.
320
Figura 102 – Relação entre largura do rio e da APP em curso de água natural, desde a borda da calha do leito
regular.
Figura 103 – Estimação da largura da drenagem (A), delimitação da APP por buffer de 30 metros (B) e áreas em
conflito136 - sem vegetação (C).
136
Como o objetivo dessa atividade foi somente para fins de ilustração pedagógica, não foram consideradas se
fazem parte como áreas consolidadas. Sobre isso, segundo o Código Florestal, áreas consolidadas são porções
“[...] com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades
agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de pousio” (BRASIL, 2012, s/p).
321
Assim, percebe-se a importância da mata ciliar para a preservação das margens, controle
do assoreamento e proteção para que resíduos sólidos não atinjam diretamente o leito do rio. A
Figura 104 apresenta o mencionado curso hídrico, seu processo de erosão e ação tomada para
o controle da perda física do solo, em menos de um ano.
Figura 104 – Sanga Lagoão do Ouro na Avenida Roraima, sua mata ciliar e erosão.
Dessa forma, essas atividades promovem uma supressão da vegetação nas regiões
periféricas da Floresta, pressionando-a cada vez mais, como demonstrado pela área demarcada
no Arco do deflorestamento da Amazônia, cujas “[...] áreas de floresta mais suscetíveis ao
desmatamento são as de transição entre o cerrado e a floresta, localizadas principalmente no sul
de Rondônia, leste e centro-oeste de Mato Grosso” (DOMINGUES; BERMANN, 2012, p. 12-
13) e pelo desmatamento promovido em torno das estradas.
Nesse contexto, percebe-se a importância da compreensão da temática do
deflorestamento, e que elementos estudados pela Geografia Física e Humana são interligados.
O entendimento espacial, com uso de imagens de satélite, pode servir de introdução nas aulas
para a contextualização de assuntos e levantar o debate de como os produtos do SR são
produzidos e utilizados, demonstrando que a falta de confiabilidade ou suspeita das informações
geradas devem ser vistas com desconfiança.
Além disso, demonstrou-se o SR aplicado ao monitoramento de desastres ambientais,
como em Mariana (Minas Gerais), com o rompimento da barragem de rejeitos de mineração,
em 05 de novembro de 2015. Diversos conceitos podem ser abordados dentro desta discussão,
desde como são encontrados os elementos químicos nas rochas, o processo de lavra, os rejeitos
e as barragens; até o transporte para indústrias de base ou exportação do minério. As questões
ambientais e econômicas, os royalties, também podem ser discutidas. As explicações da
utilização do SR para essa finalidade, podem ser encontradas em Rizzatti (2018) e Rizzatti;
Cassol e Becker (2020).
323
137
Versão para jogadores que usam o navegador. Organizou-se uma versão específica para dispositivos móveis,
embora sejam as mesmas questões, o jogo é menos dinâmico, onde o player só deve responder as questões para
desbloquear os cadeados. Para a versão mobile, acesse: https://escapefactory.me/#/play?code=we80dr (acesso em:
19 nov. 2021).
324
Figura 105 – Elementos Cartográficos: mensagem inicial e instruções do jogo (A), layout do jogo (B), exemplo
de questão (C) e mensagem final (D).
Figura 106 – Ranking com o nome dos jogadores, tempo e pontuação disponível na plataforma do
“EscapeFactory”138.
Para o desenvolvimento das atividades práticas, isto é, os mapeamentos por parte dos
sujeitos da pesquisa, a retirada do Kit de Aplicação se fazia fundamental, pois todos os recursos
necessários estavam disponibilizados nele. Para a elaboração do mapa das variáveis
sociodemográficas, solicitou-se aos estudantes separarem do Kit o mapa base de Santa Maria
138
Cabe destacar que os estudantes jogaram mais de uma vez. Assim, por conhecerem as questões com feedback
imediato, ou seja, é informado o acerto ou erro, a partir da segunda tentativa, acabavam obtendo uma pontuação
alta.
326
por bairros (Figura 107), organizado em uma folha A4, a tabela das variáveis por bairro (Figura
108) e o molde das legendas que contêm os intervalos de classe (Figura 109) para cada uma das
variáveis disponibilizadas. Destaca-se que em abas as turmas, as instruções para a elaboração
dos mapas foram realizadas de maneiras síncrona, na plataforma Google Meet, com os
procedimentos explicados e dúvidas acerca de representações das variáveis sendo sanadas no
mesmo momento.
Figura 108 – Exemplificação para alguns bairros para a tabela de dados sociodemográficos de Santa Maria
disponível no Kit de Aplicação.
Figura 109 – Molde das legendas contendo o intervalo de classe de cada variável disponibilizada.
Figura 110 – Mapa da população jovem (%) por bairros da área urbana de Santa Maria, elaborado pela estudante
7 (turma 71).
Figura 111 – Mapa da população residente por bairros da área urbana de Santa Maria, elaborado pela estudante
14 (turma 72).
Sobre a breve interpretação do mapa, a estudante 7, disse: “dá para notar que os bairros
que tem mais crianças são os mais distantes do centro”. De fato, observando a espacialização
dos dados do censo de 2010, com intervalo de classes proposto por Jenks, percebe-se que a
grande maioria dos bairros periféricos ou circundantes da Região Administrativa Centro-
Urbano139, abarcam, principalmente, a primeira e segunda maiores classes da variável. Já a
estudante 14, da turma 72, afirmou que “o mapa ajuda a visualizar os bairros com mais
habitantes, principalmente os da região Oeste, depois do Camobi e Centro”. Percebe-se,
portanto, que os estudantes estão conseguindo interpretar os documentos elaborados, sobretudo
ao fazerem uso da legenda. Cabe destacar que o conhecimento sobre Santa Maria é relevante
para atividades com esse princípio, especialmente saber as características dos bairros.
No mapa das variáveis sociodemográficas, os sujeitos da pesquisa trabalharam com uma
representação poligonal (os bairros) e com a variável visual cor, utilização de tabelas,
espacialização de dados quantitativos e estruturação da legenda. As Inteligências mobilizadas
dizem respeito à Espacial, Cinestésica-Corporal (utilização do corpo para manuseio do lápis),
139
A Região Administrativa Centro-Urbano é formado pelos seguintes bairros: Bonfim, Centro, Nonoai, Nossa
Senhora de Lourdes, Nossa Senhora Medianeira e Nossa Senhora do Rosário (SANTA MARIA, 2018).
330
Verbal e Interpessoal, para interação com os professores e colegas, além da Intrapessoal, que
se refere à breve explicação do documento cartográfico em forma de texto. Em certos
momentos, existem diversas Inteligências atuando simultaneamente, embora a noção espacial
seja abordada impreterivelmente, pois trata-se de uma atividade cartográfica.
O segundo mapa, que foi iniciado durante a aula síncrona, foi o de uso e ocupação da
terra do bairro Camobi. Para isso, os estudantes pegaram a imagem de satélite do bairro (Figura
112) e papel vegetal, disponíveis no Kit. Nesse momento, lembrou-se da oficina pedagógica,
sobretudo sobre as aplicações do SR para fins de mapeamento, desde como identificar os usos
até como representá-los. Dessa forma, caso optassem por utilizar a variável visual cor, deveriam
ter em mente que os usos precisam ser diferenciados, pois se refere de uma representação
qualitativa, isto é, não é recomendado a utilização de um degradê de cores. Assim, sugeriu-se
o posicionamento do papel vegetal e a proposição de uma orientação espacial da imagem, ou
seja, a criação de uma rosa dos ventos para orientá-la. Cabe destacar que a escala e a legenda
já estão esboçadas na imagem, porém caso fosse uma aula presencial, poder-se-ia calcular a
escala e elencar os elementos que devem compor a legenda. Como a atividade foi desenvolvida
na modalidade de ERE, optou-se por apresentar os mencionados elementos na imagem de
satélite.
Figura 112 – Imagem de satélite usada como base para o mapa de uso da terra do bairro Camobi.
Figura 113 – Mapa de uso e ocupação da Terra do bairro Camobi elaborado pelo estudante 12 (turma 71).
Figura 114 – Mapa de uso e ocupação da Terra do bairro Camobi elaborado pela estudante 16 (turma 72).
Dos mapas elaborados pelos estudantes, esse apresenta o maior nível de detalhamento,
pois a escola foi reduzida poucas vezes (escala cartográfica de 1:250). Por isso, praticamente
todos os elementos foram solicitados para serem representados, a saber: pátio, portão,
vegetação, pracinha, quadra, corredor, salas de aula e horta são implantados poligonalmente,
com exceção do portão. Como trata-se de uma representação qualitativa, novamente, ressaltou-
se a questão da diferenciação das classes do mapa para os estudantes. Então, os discentes
ficaram responsáveis por identificar os usos propostos, organizá-los em uma legenda e propor
um nome para o mapa. As Figuras 116 e 117 exemplificam os mapas gerados pelos estudantes.
Figura 115 – Ortomosaico da EMEF Vicente Farencena usado como base para o mapa de uso e ocupação da
terra.
Figura 116 – Mapa de uso da terra da escola elaborado pela estudante 6 (turma 71).
Figura 117 – Mapa de uso da terra da escola elaborado pela estudante 16 (turma 72).
140
A apresentação elaborada para a atividade dos princípios do mapeamento com bússola, encontra-se disponível
no Apêndice M.
336
Figura 118 – Dimensão a ser representado o quadrado com escala de 1:100 (A) e 1:1000 (B).
141
Segundo Saraiva (2011, p. 10): “Um triângulo tem um ângulo recto se e só se a área do quadrado no lado oposto
a esse ângulo for igual à soma das áreas dos quadrados dos outros lados”.
337
Figura 119 – Posicionamento do segmento B-C: distância de 10 metros e azimute de 90° (leste).
Figura 120 – Representação do quadrado em escala por parte da estudante 6 (turma 71).
Figura 121 – Representação do quadrado em escala por parte da estudante 16 (turma 72).
Quadro 27 – Vídeos elaborados para os mapeamentos digitais dos alunos em Ensino Remoto.
Figura 122 – Processo de confecção do mapa das variáveis sociodemográficas de Santa Maria no Philcarto.
O Philcarto possui seu próprio layout de finalização, enquanto o mapa do QGIS foi
finalizado no novo compositor de impressão. As Figuras 124 e 125 demonstram os mapas das
variáveis sociodemográficos elaborado por estudantes da turma 71 e 72, respectivamente,
enquanto as Figuras 126 e 127 exemplificam a prática do mapa de uso da terra no QGIS.
343
Figura 124 – Mapa da população não alfabetizada (%) por bairro de Santa Maria elaborado pelo estudante 13
(turma 71).
Figura 125 - Mapa dos domicílios com renda de 2 ou mais salários mínimos (%) por bairro de Santa Maria
elaborado pela estudante 24 (turma 72).
Figura 126 – Mapa de uso e ocupação da terra do bairro Camobi confeccionado pela estudante 7 (turma 71).
Figura 127 – Mapa de uso e ocupação da terra do bairro Camobi confeccionado pela estudante 22 (turma 72).
Este capítulo tem por objetivo apresentar o levantamento de informações realizadas por
meio de questionários. Como já exposto, aplicou-se três questionários referentes à avaliação
dos conteúdos, isto é, o prévio (antes da oficina pedagógica), o posterior (após os mapeamentos)
e o de MLD (cerca de dois meses após o posterior). Além disso, os sujeitos da pesquisa
responderam algumas vezes um questionário com a função de caracterizar as atividades
desenvolvidas no cotidiano. Ressalta-se que os estudantes, em nenhum momento, foram
avisados sobre a aplicação de cada questionário, ou seja, não conseguiram estudar para
respondê-los, além de fazê-lo individualmente e sem consulta a materiais.
142
O questionário para testar a evocação da MLD dos estudantes é caracterizado por apresentar somente questões
com conteúdos desenvolvidos, ou seja, as perguntas com caráter opinativo e subjetivo não estão presentes nele.
143
Todas as transcrições de questionamentos abertos foram realizadas fielmente ao escrito pelos discentes.
347
estudante 12 comentou: “Eu acho que eu gostaria de saber um pouco mais do município em que
eu moro, mesmo já sabendo bastante, gostaria de saber mais. O que mais me chamou atenção
foi o uso de programas para nos orientar no presencial, eu gostei de redesenhar os mapas e
pintá-los, acho que não tem alguma coisa que eu tenha gostado”.
Na turma 72, sobre o mesmo questionamento, tem-se a resposta da estudante 14:
“Estudar sobre SM e Camobi ajuda a me localizar e também ajuda mais sobre o nosso
município. Os bairros de Santa Maria eu n sabia que tinha tanto bairro assim. Eu gostei mais
de pintar os bairros e o que eu menos gostei foi ter que passar os desenhos para o papel vegetal.”
Já o estudante 22 disse: “Eu achei legal o projeto, o que mais chamou minha atenção foi os
óculos e o que eu gostei foi aquele mapa que nós escolhíamos o tema e fazíamos e o mais chato
foi o do passar o mapa para papel vegetal”.
A próxima questão refere-se à associação da Geografia em algum recurso, ferramenta
tecnológica ou App. que se faça uso no cotidiano. Em relação à turma 71, sete discentes
(53,85%) afirmaram conseguir ver a presença em alguma ferramenta, cinco (38,46%) disseram
não conseguir e um (7,69%) não entendeu o questionamento. No questionário posterior, nove
discentes (69,23%) conseguiram perceber a Geografia e quatro (30,77%) não deram uma
resposta negativa a essa questão. Tratando-se do mesmo questionamento, na turma 72,
previamente, nove estudantes (64,29%) disseram conseguir perceber a presença da Geografia
em algum destes recursos e cinco (35,71%) não conseguiram. Já no posterior, 10 (71,43%)
declararam conseguir, três (21,43%) afirmaram não perceber e um (7,14%) não respondeu. As
respostas dos estudantes podem ser visualizadas graficamente na Figura 128.
Sobre a explicação da mesma questão, no questionário posterior da turma 71, os
estudantes 5 e 13 responderam, respectivamente: “Sim, o Google Earth e o Google maps” e”
Eu consigo visualizar em Apps como o Waze”. Já os estudantes 22 e 26, da turma 72,
apresentaram as seguintes opiniões sobre a visualização da Geografia em recursos, ferramentas
ou App., na devida ordem: “Sim, a Geografia está presente em vários app como o google maps,
waze e em jogos” e “Sim, os mapas da Geografia estão por toda parte, até nos jogos”. Percebe-
se que as respostas dos discentes enfatizam a presença dos mapas na utilização de GPS, ou seja,
eles percebem que os mapas fazem parte da ciência geográfica e que há presença da Cartografia
nos jogos eletrônicos.
349
Figura 128 – Resposta para a questão sobre visualização da Geografia em recursos e App.: turma 71 (A) e turma
72 (B).
144
Trata-se de uma questão exclusiva do questionário da MLD para verificar um possível reforço na memória dos
estudantes.
351
Sobre a representação qualitativa (Figura 39), na turma 71, ocorreu uma inversão no
número dos estudantes na assimilação do conceito, visto que cinco estudantes (38,46%)
apresentaram o tipo de mapa correto no questionário prévio, passando para oito (61,54%) no
posterior. No questionário sobre MLD, o número de discentes que assimilaram corretamente o
mapa com o seu método de representação caiu para sete (53,85%). Embora tenha decrescido
em relação ao segundo questionário, o número de discentes com a assimilação do conteúdo
cresceu desde que a atividade foi iniciada, conforme pode ser visualizado na Figura 129.
Já na turma 72, quatro (28,57%) compreenderam o conceito corretamente no
questionário prévio, enquanto 10 (71,43%) não tinham a questão assimilada. Posteriormente,
nove (64,29%) apresentaram o conceito assimilado e cinco (35,71%) não foram capazes de
relacionar o mapa com o método de representação. No questionário de MLD, as respostas
assimiladas foram realizadas por seis alunos (42,86%) e oito (57,14%) não conseguiram
caracterizar o mapa e seu respectivo método adequadamente.
No que diz respeito ao mapa da hierarquia das rodovias (Figura 40), cinco estudantes
(38,46%) da turma 71 apresentaram o conceito assimilado no questionário prévio, dizendo que
se trata do método ordenado de representação, sete (53,85%) não compreenderam a questão e
um (7,69%) não respondeu. Posteriormente, a assimilação do método, ao observar o produto
cartográfico, foi alcançada por oito estudantes (61,54%), passando para nove (69,23%),
conforme a Figura 130. Percebe-se que o número de discentes com a assimilação do método
aumentou do primeiro ao terceiro questionário.
Na turma 72, quanto à análise dos questionários prévio e posterior, houve uma inversão
na proporção de estudantes que assimilaram ou não o conceito. Assim, quatro estudantes
(28,57%) tiveram o conceito assimilado no questionário preliminar, passando para 10 (71,43%),
assim como, obviamente, o não assimilado passou de 10 (71,43%), no primeiro, para quatro
estudantes (28,57%), no segundo. Todavia, no terceiro, somente cinco (35,71%) associaram o
mapa ao método, corretamente, e nove (64,29%) não assimilaram o conceito, ou seja, não
conseguiram desenvolver uma MLD. A Figura 130 ilustra graficamente o comportamento
explicado.
352
Figura 129 – Respostas para a questão sobre método de representação qualitativa: turma 71 (A) e turma 72 (B).
Figura 130 – Respostas para a questão sobre método de representação ordenada: turma 71 (A) e turma 72 (B).
Sobre o mapa do número de residentes de 13 a 17 anos de idade por bairro (Figura 41),
cinco estudantes (38,46%) tinham o conceito assimilado, informando tratar-se de um mapa
quantitativo, segundo a Figura 131, sete (53,85%) não alcançaram o objetivo e um (7,69%) não
respondeu. Levando em consideração o questionário posterior, a compreensão sobre o método
de representação quantitativo foi alcançada por 10 estudantes (76,92%) e quatro (23,08%) não
a conseguiram, passando para 11 (69,23%) que a assimilaram e três (23,08%) que não
conseguiram resolver a questão corretamente, no questionário de longa duração.
Na turma 72, preliminarmente, cinco discentes (35,71%) obtiveram um resultado
positivo, passando para 10 (71,43%) no segundo e caindo para oito (57,14%) no terceiro
questionário. Por sua vez, a proporção de estudantes que não assimilados o conceito caiu de
nove (64,29%), no primeiro questionário, para quatro (28,57%) no segundo, aumentando para
cinco (35,71%) no último.
Percebe-se que os estudantes da turma 71 apresentaram um crescimento na compreensão
do método quantitativo. Nesse sentido, na turma 72 houve um aumento de respostas
satisfatórias entre o primeiro e segundo questionário e uma diminuição dos estudantes com
assimilação entre o questionário posterior e o de MLD.
Já no mapa das linhas intermunicipais rodoviárias (Figura 46), em 27 de julho de 2020,
que partiam de Santa Maria com destino aos municípios da região de influência, na turma 71,
cinco estudantes (38,46%) disseram se tratar de uma representação dinâmica (Figura 132), sete
(53,85%) não apresentaram o conceito assimilado e um (7,69%) não respondeu.
Posteriormente, oito (61,54%) demonstraram ter o conceito construído e cinco (38,46%) não o
compreenderam. O mesmo quantitativo do segundo questionário foi verificado no da MLD.
Quanto aos discentes da turma 72, sete discentes (50,00%) apresentam uma
compreensão do método, passando para 11 alunos (78,57%) no questionário posterior. No
terceiro questionário, houve a mesma quantificação apresentado no primeiro, isto é, sete
discentes (50,00%) tiveram o conceito assimilado e sete (50,00%) não o compreenderam. A
Figura 132 apresenta a quantificação gráfica dos dados. Portanto, o número de alunos que
conseguiram associar corretamente o mapa e o método aumentaram do primeiro ao segundo
questionário, porém no questionário de longa duração, obteve-se o mesmo aproveitamento do
questionário preliminar.
355
Figura 131 – Respostas para a questão sobre método de representação quantitativa: turma 71 (A) e turma 72 (B).
Figura 132 – Respostas para a questão sobre método de representação dinâmica: turma 71 (A) e turma 72 (B).
Figura 133 – Mapa do bairro Camobi, com pontos de referência, disponibilizado nos questionários.
145
Considerou-se parcialmente assimilado o estudante que elencou somente dois elementos.
359
Figura 134 – Respostas para a questão referente a elementos do mapa: turma 71 (A) e turma 72 (B).
146
Considerou-se assimilados os estudantes que associaram corretamente os elementos e seu modo de implantação,
parcialmente os que fizeram somente uma associação correta e não assimilado para os que responderam
incorretamente.
361
Figura 135 – Respostas para a questão referente ao alfabeto cartográfico: turma 71 (A) e turma 72 (B).
147
Para essa questão, considerou-se que os conteúdos foram assimilados pelos estudantes que realizaram a
orientação de quatro ou mais pontos corretamente, parcialmente assimilado de dois a três e, não assimilado, igual
ou menor que um exercício resolvido com êxito.
363
Figura 137 – Respostas para a questão referente orientação espacial: turma 71 (A) e turma 72 (B).
Figura 138 – Exemplo de orientação contrária realizada pelo estudante 9 da turma 71.
148
Considerou-se como conceito assimilado os estudantes que forneceram todas as distâncias entre os pontos
corretamente; parcialmente os que realizaram somente uma associação adequadamente e não assimilado os que
resolveram o exercício incorretamente, isto é, sem nenhum acerto.
366
sobre uso da escala para estimação de distâncias, um (7,69%) resolveu parcialmente o exercício
e dois (15,38%) não o assimilaram, conforme a Figura 139.
Figura 139 – Respostas para a questão referente ao uso da escala gráfica: turma 71 (A) e turma 72 (B).
Figura 140 – Respostas para a questão referente aos tipos de imagem: turma 71 (A) e turma 72 (B).
Figura 141 – Imagem de satélite da Universidade Federal de Santa Maria disponibilizada na questão sobre
paisagens.
Figura 142 – Desenhos apresentados pela estudante 1 (A) e estudante 5 (B) realizados através da percepção dos
sons – turma 71.
Figura 143 – Desenhos apresentados pelo estudante 17 (A) e estudante 24 (B) realizados através da percepção
dos sons – turma 72.
149
No primeiro questionário, atribuiu-se parcialmente assimilado a não justificativa da escolha. No questionário
posterior, considerou-se parcialmente assimilado o estudante que realizou a identificação das paisagens
predominantes invertida, embora a proposta de localização dos desenhos tenha sido feita corretamente ou vice-
versa.
372
Figura 144 – Respostas para a questão referente aos tipos paisagem: turma 71 (A) e turma 72 (B).
Sobre a compreensão dos estudantes acerca dos tipos de visão, apresentou-se uma
imagem realizada com drone (Figura 93C), e questionou-se se era possível enxergar aquela
visão ao se deslocar a pé até a escola. Primeiramente, seis estudantes (46,15%) da turma 71
disseram não ser possível, ou seja, apresentaram o conceito assimilado, seis (46,15%)
responderam ser possível ter aquela visão, de forma vertical, ao se deslocar até o colégio (não
assimilado) e um (7,70%) não respondeu. Posteriormente, 11 discentes (84,61%) disseram não
ser possível, isto é, obtiveram assimilação da temática e dois (15,38%) não a assimilaram. No
questionário de longa duração, 12 (92,31%) tinham o conceito assimilado e um (6,69%) não
compreendeu a temática, conforme exemplificado na Figura 145.
Na turma 72, 10 estudantes (71,43%) apresentaram a conceituação assimilada no
questionário prévio, passando para 13 (92,86%) no segundo e 12 (85,71%) no terceiro. Já a
proporção de alunos com os tipos de visão não assimilados caiu de quatro (30,77%), no primeiro
questionário, para um (7,14%), no segundo e aumentou para dois (14,29%) no último. A
quantificação para a mencionada turma encontra-se também na Figura 145.
Por fim, indagou-se qual o mapa que cada estudante preferiria elaborar (prévio) e qual
gostaram mais (posterior). As respostas de ambas as turmas foram semelhantes. Nesse sentido,
tratando-se da turma 71, seis discentes (46,15%) disseram preferir elaborar um mapa manual,
seis (46,15%) afirmaram a preferência pelo digital e um discente (7,70%) não respondeu. No
questionário aplicado após o desenvolvimento das atividades, o número de estudantes que
preferiram o mapa manual e digital se manteve o mesmo, isto é, seis estudantes (45,16%) para
cada tipo de mapa e um discente (7,70%) afirmou preferir ambos os modos de elaboração.
Previamente, na turma 72, cinco estudantes (35,71%) disseram preferir o mapa manual,
oito (57,14%) o mapa digital e um (7,14%) não respondeu. Posteriormente, sete alunos (50%)
preferiram o manual e outros sete (50%) gostaram mais do digital. A representação gráfica da
quantificação descrita está disponível na Figura 146.
374
Figura 145 – Respostas para a questão referente aos tipos de visão: turma 71 (A) e turma 72 (B).
Figura 146 – Respostas para a questão referente ao mapa preferido (analógico ou digital): turma 71 (A) e turma
72 (B).
Como tratava-se de uma questão aberta, pôde-se trazer a opinião de alguns discentes
sobre o mapa preferido. Conforme a estudante 8 (turma 71): “Prefiro elaborar um mapa
analógico, pois gosto de desenhar e pintar mapas”, enquanto a estudante 6 (turma 71) disse que
prefere o mapa digital, “[...] pois apesar de eu ter bastante material de desenho eu não tenho
muito espaço para trabalhar na minha mesa. Como contribuição da turma 72, a estudante 14
ressalta que “[...] a mão por que no digital tem que saber mexer e eu não sou muito boa nisso”,
enquanto o estudante 26 diz ter gostado “[...] de elaborar o mapa no computador porque é mais
fácil de pintar”.
Portanto, percebe-se a divisão entre as escolhas dos mapas preferidos pelos estudantes,
fato extremamente importante em uma sala de aula, pois demonstra que os estudantes aprendem
de diferentes maneiras e por diversas motivações e/ou afinidades. Assim, quanto mais rico em
recursos e ferramentas for o ambiente, maior será a chance da aprendizagem significativa.
Algumas características foram observadas a partir do comportamento em relação às
respostas dos questionários. Por exemplo, no que diz respeito aos métodos de representação
(qualitativo, quantitativo, ordenado e dinâmico), grande parte dos estudantes da turma 71
apresentaram uma MLD, o que não se observou apenas no método qualitativo. Destaca-se que
a oficina pedagógica com a turma ocorreu de maneira síncrona, com a participação ativa dos
estudantes, o que pode contribuir para este resultado. Sobre a identificação dos elementos dos
mapas, as atividades de mapeamento colaboraram para sua construção e domínio conceitual,
pois ambas as turmas apresentaram uma consolidação do conhecimento no terceiro
questionário.
Sobre a escala cartográfica, abordada na oficina pedagógica, nos questionários prévio,
posterior e de longa duração, e também no mapa do uso da terra e nos princípios da Cartografia
de Ecoesporte, permitiu-se que os alunos percebessem uma repetição do seu conceito e
aplicabilidade, atrelado ao uso do barbante disponibilizado no Kit de Aplicação para auxiliar a
mensuração de distâncias, permitindo a estimação de distâncias em cada uma das atividades.
Percebe-se que a reapresentação da temática, utilizando vários modos, exemplos e aplicações,
é um instrumento que favorece o processo de ensino-aprendizagem.
Em relação à identificação da paisagem, utilizando recursos multimodais e mobilizando
as IM, verificou-se o maior número de estudantes com a assimilação do conceito a longo prazo,
comparado com a contextualização realizada anteriormente, na qual deveriam interpretar uma
imagem de satélite. Portanto, essa multiplicidade de recursos (Geo)Tecnológicos são muito
bem-vindos às práticas pedagógicas, pois torna possível a compreensão da Geografia que
realmente acontece no cotidiano dos estudantes.
377
150
Optou-se por atribuir notas aos questionários a fim de selecionar os estudantes para a abordagem qualitativa e
por se tratar de uma informação importante para a estatística. Também, fez-se uso da nota para selecionar três
estudantes de cada turma que tiveram um aproveitamento maior, menor e com pouca variação dos acertos entre o
questionário posterior e no da MLD. Somente foram utilizadas questões referentes a temáticas cartográficas e
geográficas, excluindo as opinativas e subjetivas. Realizou-se uma regra de três para padronizar a nota com peso
10, tendo em vista que o questionário prévio possuía 12 questões e os outros dois, 13 indagações.
378
em dois dias, permaneceu conectado de 30 minutos a uma hora antes de dormir. Por sua vez, a
estudante 6 estudou em três dias, assistiu TV e leu em outras duas ocasiões. Apresentou 12
horas de sono ou mais em quatro dos cinco questionários.
Quadro 28 – Atividades do cotidiano dos discentes com melhor aproveitamento na turma 71.
Já o estudante 11, um dos que já haviam reprovado em algum ano escolar, utilizou
equipamentos eletrônicos em todas as oportunidades151, além de dormir utilizando o dispositivo
em uma delas, o utilizou por mais de uma hora em outra, e por menos de duas outras em uma
terceira ocasião. Tratando-se das horas de sono, ele dormiu por até quatro horas em duas datas
e de quatro a seis em uma outra.
Obviamente não se pode afirmar que o estudante não aprendeu durante a oficina, tendo
em vista que as atividades de seu cotidiano, como a utilização de equipamentos eletrônicos e o
baixo tempo de duração de seu sono, tenham prejudicado o processo de ensino-aprendizagem.
Além disso, não se sabe sobre a motivação do estudante acerca da temática trabalhada, se ela
desperta sua curiosidade e lhe interessa. Porém, percebeu-se que a quantidade do sono e uso de
telas com brilho azul podem exercer alguma influência, como discutido durante a
fundamentação teórica no que tange as contribuições das Neurociências.
Quadro 29 – Atividades do cotidiano dos discentes com menor aproveitamento na turma 71.
151
Embora a alternativa sobre a atividade do turno da noite seja “brincou ou jogou”, pode-se afirmar que o
estudante 11 jogou, em virtude de suas respostas nos questionários e de sua participação durante as aulas.
380
Tratando-se dos discentes que apresentaram pouca variação entre o segundo e terceiro
questionário, o Quadro 30 demonstra as atividades do cotidiano da estudante 2 (13 anos de
idade e feminino), da estudante 7 (13 anos e feminino) e do estudante 10 (12 anos e masculino),
todos residentes no bairro Camobi.
Percebeu-se a utilização de dispositivos com brilho azul durante a atividade do turno da
noite, sobretudo das estudantes 2 e 7, embora nenhuma tenha ultrapassado 20 minutos de
utilização antes de dormir. As horas de sono foram de pelo menos seis horas para ambas as
discentes, assim como para o estudante 10, embora ele tenha dormido em duas oportunidades
e assistido TV em outra.
Quadro 30 – Atividades do cotidiano dos discentes com pouca variação do aproveitamento na turma 71.
Na turma 72, os estudantes com melhores aproveitamento foram a 16 (13 anos de idade
e feminino), a 19 (13 anos e feminino) e o 21 (13 anos e masculino). As duas primeiras moram
em Camobi, enquanto o último reside no bairro São José. As atividades do cotidiano e as notas
dos questionários prévio, posterior e de longa duração podem ser visualizadas no Quadro 31.
381
Quadro 31 – Atividades do cotidiano dos discentes com melhor aproveitamento na turma 72.
Quadro 32 – Atividades do cotidiano dos discentes com menor aproveitamento na turma 72.
O estudante 20 caracterizou-se pelo uso de meios que contam com brilho azul em duas
oportunidades, dormiu os utilizando e com tempo superior a uma hora de uso em duas
oportunidades, além ter dormido até quatro horas em uma data. O estudante 23 apresentou a
mesma quantidade de usos do estudante 20 e dormiu usando durante uma das vezes, embora o
383
tempo de sono tenha sido dentro do recomendado em todos os dias analisados. Já a estudante
24, usou dispositivos eletrônicos em três de cinco noites, fazendo uso antes de dormir por mais
de uma hora em três delas e, dormiu por até quatro horas no último questionário.
Por fim, os estudantes da turma 71 que apresentaram uma pequena variação da nota
entre o questionário posterior e de longa duração, foram a 15 (12 anos e feminino), o 18 (13
anos e masculino) e a 25 (13 anos e feminino), todos residentes no bairro Camobi, conforme o
Quadro 33. A primeira acessou suas redes sociais em três oportunidades e fez uso do dispositivo
até uma hora antes de dormir. A duração do sono sempre foi maior do que seis horas. O segundo
utilizou dispositivos com brilho azul em quatro momentos e dormiu o tempo recomendado
também quatro vezes, com exceção de uma data em que utilizou a tecnologia por mais de uma
hora antes de dormir. Por fim, a terceira não fez usos de dispositivos eletrônicos, não
ultrapassou a utilização em 10 minutos antes de dormir e o tempo de duração do sono foi
superior a seis horas.
Percebeu-se que as atividades dos alunos, sobretudo pela classe social de suas famílias,
se caracterizam pelo uso recorrente de dispositivos tecnológicos em atividades do cotidiano.
Também, os que apresentaram as menores notas na turma 71 tiveram o uso prolongado antes
de dormir e o tempo de sono foi breve.
Além disso, ambos os estudantes que já haviam reprovado, um em cada turma, estavam
na descrição entre os piores aproveitamentos com utilização prolongada de ferramentas com
brilho azul durante suas atividades. Embora não se possa afirmar que essa excessiva utilização
no turno da noite seja responsável pelo desempenho nos questionários, é necessário, ainda,
levantar pontos motivacionais, curiosidades, preferencias, dificuldades de aprendizagem,
ambiente familiar que está inserido, entre outros fatores que são determinantes para o processo
de ensino-aprendizado.
384
Quadro 33 – Atividades do cotidiano dos discentes com pouca variação no aproveitamento na turma 72.
Por mais que alguns estudantes com menor desempenho nos questionários tenham
apresentado uma menor duração do sono, percebeu-se que todos os participantes da pesquisa
fazem uso de aparelhos eletrônicos que emitem brilho azul. Isso, a longo prazo, pode provocar
distúrbios no sono, tendo em vista que as atividades realizadas são estendidas até tarde da noite,
desregulando o horário natural do sono, o que promove consequências como acordar cansado
no outro dia, e dificultar o processamento da memória (TUFIK; ANDERSEN; PINTO JR.,
2018).
Referindo-se à correlação quantitativa152 entre as notas dos questionários prévio,
posterior e de longa duração, além da diferença entre a nota obtida entre os dois últimos, a
Tabela 3 apresenta o coeficiente de correlação de Pearson, enquanto a Figura 147 destaca a
representação gráfica entre os coeficientes de correlação da tabela.
152
Para a abordagem estatística, considerando que o universo da pesquisa é reduzido, resolveu-se agrupar as
turmas.
385
Tabela 3 – Coeficiente de correlação de Pearson para os questionários prévio, posterior e de longa duração.
são tão elevados (entre 0,45 e 0,6), o que indica uma correlação moderada. Dessa forma, a
correlação moderada positiva destaca que aproximadamente metade dos estudantes que tiraram
uma boa nota no questionário posterior irão repetir esse feito no de longa duração. A única
correlação negativa encontrada foi na variável MLD – posterior com o questionário posterior,
o que implica que notas maiores em um, implicam em notas menores no outro.
Ao nível de significância (𝛼) de 0,05, rejeita-se H0 em todas as hipóteses153, pois p-
valor ≤ 𝛼, exceto na situação MLD – posterior. Isso indica que, estatisticamente, a correlação
é significativa entre todos os questionários, ou seja, há correlação entre um questionário e outro.
A partir disso, pode-se dizer que quem tira nota maior em um questionário, tende a também
tirar notas maiores no outro e vice-versa.
Também é possível analisar a representação gráfica dos coeficientes da Tabela 3,
apresentada anteriormente (Figura 147). Verifica-se a inclinação positiva para todas as
variáveis, exceto para a variável MLD – posterior com a variável posterior. Percebe-se, ainda,
a falta de inclinação da variável MLD – posterior com a variável prévio, visto que foi o único
cruzamento que resultou em um valor não significativo para a correlação em toda a análise.
Cabe destacar que a relação entre o questionário posterior e o da MLD apresentou uma
correlação de 0,5802 e uma significância de 0,002. A Figura 148 destaca graficamente o
comportamento entre as duas variáveis. De acordo com a ilustração, percebe-se que a linha é
inclinada positivamente, ou seja, quanto maior a nota no questionário posterior, maior a nota
esperada no questionário de longa duração. Abaixo da linha vermelha, as notas do questionário
de longa duração foram menores do que as do questionário posterior. Acima da linha, o inverso
pode ser analisado, com notas maiores para o questionário de longa duração e menores no
questionário posterior. Pontos muito próximos da linha indicam uma diferença muito pequena
entre as notas nos dois questionários, que seriam os pontos que se aproximam da estimação pela
equação de regressão na parte superior da Figura 148. Como exemplo, pode-se pegar qualquer
valor muito próximo da linha, sabendo que esse comportamento é verificável com pouco erro,
já a estimação de quaisquer valores longe da linha fica com um erro muito elevado.
153
Teste de hipótese: H0 (hipótese nula): 𝛼 = 0, enquanto que H1 (hipótese alternativa): 𝛼 ≠ 0.
387
Figura 148 – Diagrama de dispersão entre as notas obtidas pelos estudantes no questionário posterior e no de
longa duração.
A correlação estatística moderada positiva indica que, por mais que possa ser realizada
uma associação entre as duas variáveis isso não é necessariamente uma verdade absoluta, pois
os dados tratam de seres humanos dotados de subjetividade, ou seja, os estudantes que
obtiveram um bom aproveitamento no questionário posterior, devem manter o mesmo padrão
para o de longa duração. Contudo, isso deve ser analisado com cuidado, pois não é possível
aplicar essa regra para toda a amostra. Existem algumas exceções em que os pontos estão
distantes da linha vermelha (outliers), como pode se observar o ponto 11 (o número ao redor
do ponto no gráfico se refere ao estudante), assim como o 24, o 4, o 1 e o 5.
O estudante 11, que já foi mencionado no Quadro 29 (atividades do cotidiano dos
discentes com menor aproveitamento na turma 71), apresentou um desempenho intermediário
no questionário posterior (5,38) e seu rendimento caiu no de longa duração (2,46). Cabe
destacar que ele já reprovou em um ano escolar, utilizou aparelhos eletrônicos de brilho azul
em todas as datas analisadas no questionário do sono, além de fazer uso destes por mais de uma
388
hora antes de dormir em três das cinco oportunidades observadas. Tal contextualização foi
discutida na fundamentação teórica, sobretudo ao caracterizar que quanto maior for o brilho
azul da tela eletrônica, mais provável será o bloqueio na produção de melatonina, fato que leva
o corpo a demorar um período maior para começar a entrar em estado sono. A longo prazo, isso
pode desregular o ciclo vigília-sono e trazer impactos para a aprendizagem. Por sua vez, a
estudante 24, também mencionada no quadro de menores rendimentos da turma 72 (Quadro
32), obteve 7,81 no questionário posterior, passando para 4,77 no da MLD. Sobre suas
atividades, assistiu TV e acessou as redes sociais em três oportunidades, além de utilizar estes
recursos por mais de uma hora antes de dormir em três momentos. Na questão do sono, dormiu
por até quatro horas em uma data.
A nota da estudante 4 passou de 4,46, no posterior, para 6,77, no de longa duração,
embora também esteja presente no quadro de menores aproveitamentos, assim como o
estudante 11. Sobre as tarefas do cotidiano, ela utilizou dispositivos eletrônicos em três
oportunidades, entretanto, não fez uso antes de dormir em três ocasiões e usou por até 10
minutos em outras duas. Em todos os momentos analisados, dormiu por mais de seis horas.
Já os estudantes 1 e o 5, mencionados no quadro da turma 71 com melhores
desempenhos, aumentaram suas notas de 7,38 para 9,54 e 8,46 para 9,69, respectivamente. A
primeira acessou a internet e redes sociais em todas as análises, embora nunca tenha
ultrapassado 30 minutos de uso antes de dormir. O sono foi de seis a oito horas em três
momentos e de oito a 12 horas em dois. O segundo assistiu TV em quatro oportunidades e
utilizou o dispositivo por até uma hora antes de dormir em duas, todavia, seu tempo de sono
sempre foi de seis a oito horas.
Portanto, percebe-se que os estudantes 11 e 24, caracterizados por apresentarem um pior
desempenho, tiveram um tempo excessivo de utilização, por mais de uma hora, de aparelhos
com brilho azul, além de exibirem uma pequena duração de sono, principalmente de até quatro
horas, em algumas datas e isso pode impactar o processo de aprendizagem, conforme já
discutido. Já os estudantes 4, 1 e 5, conseguiram melhorar o aproveitamento, com as
características de pouco ou nenhum uso de dispositivos eletrônicos antes de dormir, atrelado a
uma duração de sono de pelo menos seis horas.
Assim, com os dados apresentados nesse trabalho, percebeu-se que os estudantes que
não estavam situados próximo da linha de tendência do gráfico de dispersão (Figura 148), ou
seja, os outliers, tiveram alguma relação com o tempo de uso das tecnologias antes de dormir
e/ou o tempo de duração do sono. Conforme apresentado na fundamentação teórica, o brilho
azul se configura como uma luz artificial e acaba atrasando a produção de melatonina, hormônio
389
remoto [...]”. Nessa perspectiva, os estudantes do século XXI estão em constante contato com
recursos multimodais, pois o meio virtual é algo extremamente dinâmico, o que faz com que
ora usem textos verbais, ora imagens, ora áudios.
Também é importante levar em consideração que cada turma apresenta, de uma mesma
ou de diferente escola, particularidades, isto é, os alunos que a compõem possuem um contexto
social, econômico e cultural heterogêneos. Assim, uma informação pode ser relevante e ter
algum sentido para um, enquanto para outro pode não ter nenhuma relação. Dessa forma,
percebe-se que os estudantes não aprendem de maneira igual, pois seus conhecimentos
anteriores e o ambiente que estão inseridos influenciam totalmente na aprendizagem.
Gardner (1994) apresentou uma gama de faculdades humanas, às quais chamou de
Teoria das IM, observando diversas populações e realizando uma série de procedimentos, que
chamou de critérios. Para ele, considera-se uma Inteligência quando ela se enquadra
razoavelmente em oito critérios, conforme já apresentado nesse trabalho. Tratando-se das
Inteligências, conforme Gardner destaca em vários estudos (GARDNER, 1995, 1996, 1998,
2001, 2010), existem duas que são supervalorizadas na escola e pelos testes de inteligência: a
Linguística e a Lógico-Matemática. Porém, existem as Inteligências Musical, a Espacial, a
Corporal-Cinestésica (uso do corpo ou de partes dele para resolução de problemas), a Pessoal
(Interpessoal e Intrapessoal) e a Naturalista.
Com a divulgação da Teoria, Gardner pretendia uma discussão e (re)volução na área da
Psicologia, no que tange aos conhecimentos sobre Inteligência, sobretudo porque “[...] invadia
um território até então pertencente a um determinado tipo de psicólogo. (Nunca subestime a
reação quando pisar nos calcanhares de um grupo que acha que sabe tudo.)” (GARDNER, 2010,
p. 18). Porém, o que se percebe nos dias atuais é a grande aplicabilidade e difusão de sua Teoria
para fins educacionais.
No livro “Estruturas da Mente”, no qual apresentou a Teoria das IM ao mundo, Gardner
detalha sua experiência profissional em pacientes com dano cerebral e em estudos com crianças,
além de descrever minuciosamente os testes realizados com cada inteligência candidata e
caracterizá-las como IM (GARNDER, 1994). Apesar disso, em nenhum momento, nas mais de
330 páginas, ele destaca a utilização explícita de sua proposta na Educação.
No entanto, na obra “Inteligências Múltiplas ao Redor do Mundo”, de 2010, Gardner
aborda que:
Quando apresentei a teoria das IM, minha expectativa era de que fosse lida, analisada
e criticada principalmente por psicólogos, mas ela despertou um interesse maior nos
educadores (além de pais e do público em geral). Esse lócus de interesse me fascinou
392
Desta forma, Gardner começou a pensar na aplicabilidade de sua Teoria para fins
educacionais e pedagógicos, precisando desconstruir alguns mal-entendidos por
autocompreensão, pois não havia explicado essa abordagem em sua obra principal. Sobre isso,
alertou os educadores sobre os devidos pontos:
• Uma inteligência não é o mesmo que um sistema sensorial. Não existe inteligência
“visual” ou “auditiva”.
• Uma inteligência não é um estilo de aprendizagem. Os estilos são modos como os
indivíduos tacitamente abordam uma ampla gama de tarefas. Uma inteligência é uma
capacidade computacional cuja forca varia entre indivíduos.
• Uma inteligência não é o mesmo que um domínio ou uma disciplina. Um domínio
ou uma disciplina é um construto social. Refere-se a uma profissão, uma disciplina
acadêmica, um passatempo, um jogo ou uma atividade que é valorizada em uma
sociedade e apresenta níveis de especialização. A habilidade em um domínio pode ser
realizada usando diferentes combinações de inteligências. Ser hábil em uma
determinada inteligência não informa em que domínios ela será́ aplicada.
• As pessoas não nascem com uma determinada quantidade de inteligência, que
serviria como uma espécie de limite. Cada um de nós tem potenciais dentro do
espectro de inteligência. Os limites de realização desses potenciais dependem da
motivação, da qualidade do ensino, dos recursos disponíveis e assim por diante.
• Um indivíduo não deveria ser descrito, a não ser em linguagem informal, por
exemplo, como uma pessoa “espacial” ou “musical”, ou, ainda, como uma pessoa que
não tem “inteligência interpessoal”. Todos possuímos todo o espectro de inteligências,
e as qualidades intelectuais mudam com a experiência, com a prática ou de outras
formas.
• Não existem escolas de IM nem Gardner oficiais. Muitos princípios, objetivos e
métodos são coerentes com as principais afirmações da teoria das IM. (GARDNER,
2010, p. 20-21).
aqui suas IM. A grande maioria dos testes procuram caracterizar a gama de IM por perguntas
de preferências e gostos e não realmente avaliar as habilidades de cada uma.
Em um ambiente escolar, recomenda-se não se desenvolver esses testes com os
estudantes, pois sempre haverá uma área de destaque e uma contrária (menor proporção), o que
pode ser utilizado como deboche por parte dos colegas (realização de bullying e comparações
irrelevantes). Assim, um aluno poderia ser rotulado como sendo um indivíduo musical, tendo
em vista a aplicação de testes de gostos particulares. As inteligências podem e devem ser
apresentadas aos estudantes, pois, com o autoconhecimento, eles têm uma ideia de suas
facilidades e dificuldades.
No contexto apresentado, Gardner (2001) destaca que:
Já pensei ser possível criar um conjunto de testes de cada inteligência – uma versão
inteligentemente justa, com certeza – e então simplesmente determinar a correlação
entre a pontuação dos vários testes. Agora creio que isso só poderia ser feito se alguém
desenvolvesse diversas avaliações para cada inteligência, e depois garantisse que as
pessoas estavam se sentindo confortáveis ao lidar com os materiais e métodos usados
em cada uma delas. Assim, como sugeri, a inteligência espacial poderia ser testada
pela observação de uma pessoa executando atividades como navegar por um território
desconhecido, xadrez, interpretar plantas e lembrar da disposição de objetos num
cômodo desocupado há pouco tempo. Se esse tipo de avaliação fosse desenvolvido,
as descobertas teriam interesse científico [...]. No entanto, um dos motivos pelos quais
deixei de criar esses testes é porque eles podem levar a novas formas de rotulação e
estigmatização. Como enfatizo, as inteligências devem ser mobilizadas para ajudar as
pessoas a aprenderem conteúdos importantes, e não usadas como uma maneira de
categorizar o próximo. Para usar a linguagem de um dos meus críticos, não quero
inspirar a criação de um novo conjunto de “perdedores”. (GARDNER, 2001, p. 123).
Após duas décadas estudando as aplicações pedagógicas da Teoria das IM, Gardner
destaca dois pontos fundamentais. O primeiro refere que os educadores que assumirem a Teoria
em suas práticas precisam levar em consideração que os indivíduos são diferentes e devem, ao
máximo, promover estímulos para atingir a criança de maneira ideal, principalmente com o
advento dos computadores em sala de aula (GARDNER, 2010). O Segundo ponto tem como
características que:
[...] qualquer ideia, disciplina ou conceito importante deve ser ensinado de várias
formas, as quais devem, através de argumentos, ativar diferentes inteligências ou
combinações de inteligências. Essa abordagem rende dois enormes dividendos: uma
pluralidade de abordagens garante que o professor (ou o material didático) atinja mais
crianças; além disso, sinaliza aos alunos qual é o significado de ter uma compreensão
profunda e equilibrada de um tópico. Só os que conseguem pensar em um tópico de
várias formas têm uma compreensão minuciosa desse tópico; aqueles cujo
entendimento se limita a uma única visão têm uma compreensão frágil. (GARDNER,
2010, p. 21).
emocional e suas necessidades. Cabe ao professor utilizar uma multiplicidade de recursos, com
pluralidade de abordagens, durante suas aulas, especialmente materiais multimodais, abarcando
textos verbais, mapas, imagens, filmes, músicas, entre outros. Essa variedade é muito bem-
vinda, pois pode relacionar-se com o conhecimento prévio ou com alguma temática de interesse
do estudante, principalmente com o já utilizado por ele em atividade do cotidiano.
Compete ao docente compreender o funcionamento do cérebro humano, no sentido de
buscar conhecer o seu comportamento, procurando inserir elementos que colaborem para uma
aprendizagem efetiva dos discentes, possuindo noções sobre atenção, estímulos, memória e
sono, ou seja, os professores precisam ter conhecimento dos princípios da Neurociências.
Conforme já discutido e apresentado nesse trabalho, a aprendizagem é a:
O cérebro humano está em constante evolução e tem por objetivo detectar estímulos que
sejam fundamentais para a sobrevivência dos seres, isto é, está permanentemente preparado
para aprendê-los e melhor desempenhar tarefas relacionadas (COSENZA; GUERRA, 2011).
Nesse contexto, pode-se afirmar que o cérebro possui uma “[...] motivação intrínseca para
aprender, mas só está disposto a fazê-lo para aquilo que reconheça como significante. Portanto,
a maneira primordial de capturar a atenção é apresentar o conteúdo a ser estudado de maneira
que os alunos o reconheçam como importante” (COSENZA; GUERRA, 2011, p. 48).
Tratando-se da evocação de um conteúdo por meio das memórias, muitas delas são
formadas por meio de uma ligação de um estímulo com outro ou por uma resposta. Essa
associação, proposta por Hebb, destaca que as sinapses são fortalecidas quando algum estímulo
estabelece conexão entre o neurônio pré e pós-sináptico (LENT, 2018). Nessa perspectiva,
Devido a ocorrência de um estímulo externo, que pode partir do próprio professor, por
exemplo, promove-se, assim, a ativação de um grupo de neurônios. O princípio Hebbiano
395
reforça as conexões recíprocas entre neurônios que estão ativos ao mesmo tempo. Após o
aprendizado e com a ocorrência de um estímulo externo parcial (semelhante ao anterior), as
células do grupamento levam à ativação da representação completa, fazendo com que o
indivíduo reconheça a temática desenvolvida (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017).
Levando em consideração esse princípio, os conteúdos escolares e disciplinas devem
ser interligados, buscando a interdependência entre as temáticas dentro da mesma disciplina ou
entre matérias diferentes (interdisciplinaridade), pois o aluno consegue apreender utilizando as
conexões neurais que dispararam ao mesmo tempo, além de facilitar o entendimento em caso
de conhecimento prévio do estudante, através do novo estímulo, abarcando o tema já
compreendido.
Qualquer professor gostaria que os conteúdos de suas aulas se tornassem MLD. Para
isso, existem algumas técnicas que podem ser realizadas e que podem atuar como facilitadoras
do processo de ensino-aprendizagem. Sobre isso:
Quantas vezes mais se repetir essa atividade, o quanto mais ligações ou “ganchos”
forem estabelecidos com informações disponíveis no cérebro, melhor será́ , pois o
registro vai se fixar de forma mais permanente. [...] A elaboração pode ser feita de
forma simples ou complexa, ou seja, ela pode envolver diferentes níveis de
processamento. Podemos simplesmente decorar uma nova informação, mas o registro
se tornará mais forte se procurarmos criar ativamente vínculos e relações daquele novo
396
Embora o processo de repetição por parte do docente seja uma técnica que melhora o
número de informações para os estudantes, fato que pode levar a uma fortificação da memória,
deve-se ter a concepção de que isso pode promover uma aula entediante, caso seja realizado
sempre do mesmo modo. A utilização de recursos e materiais multimodais pode ser uma saída,
principalmente ao aplicar-se tecnologias e mídias do dia a dia dos estudantes, empregando
ferramentas analógicas e digitais.
Gardner (2010), conforme já mencionado, destaca que a pluralidade de abordagens
possibilita aos estudantes, que conseguem compreender a explicação desde o início,
desenvolver um entendimento profundo, ou seja, a compreensão do todo e suas interrelações,
enquanto outros podem apresentar uma visão fragmentada. Ao repetir sempre da mesma forma
e abordagem, talvez os estudantes aprendam de maneira fracionada.
Um dos principais fatores que pode atuar como facilitador do processo de aprendizagem
se refere à atenção dada durante determinados estímulos. Conforme já mencionado, o tempo
aproximado de atenção mantida por seres humanos é de 15 minutos (MCKEACHIE, 1986;
DAVIS, 1993; WANKAT, 2002; KHAN, 2013). Todavia, os discentes estão, na maioria das
vezes, inseridos nas escolas em um turno completo, composto de quatro ou cinco períodos, o
que totaliza cerca de 4 horas. Se todos os docentes realizarem aulas expositivas, o aluno se
encontrará bastante cansado próximo ao final da manhã, da tarde ou da noite.
A partir desse contexto, o estudante como depósito de conteúdo é algo que necessita ser
(re)pensado, tendo em vista o tempo que conseguem se manter concentrados. Uma alternativa
pode ser a implantação de metodologias ativas de aprendizagem, como a SAI. Ela tem como
princípio de que a teoria seja estudada em casa e que as aulas físicas (presenciais) sejam
utilizadas para discussões, resolução de problemas e atividades práticas.
Assim, os estudantes passam a possuir um conhecimento prévio sobre a temática e
podem participar mais efetivamente das aulas, expondo suas opiniões. O docente, ao explicar e
realizar relações entre o material disponibilizado e outro conteúdo da disciplina, pode promover
uma (re)conexão neural com base na repetição e tornar a aula mais dinâmica. Cabe destacar que
a pandemia da COVID-19 forçou os professores a utilizarem as mídias, em virtude do ERE
397
implantado. De certa maneira, ocorreu uma capacitação docente154 sobre o uso de ferramentas
tecnológicas, o que pode promover uma maior facilidade de aplicação da SAI em um contexto
pós-pandêmico e na disponibilização de material em salas de aulas virtuais, como o Edmodo.
Além disso, os tópicos ensinados em sala de aula precisam fazer sentido para que o
processo de ensino-aprendizagem e a posterior memorização ocorra. A palavra memorização,
aqui aplicada, não se refere no sentido de serem decorados pelos discentes, mas, sim, lembrados
e evocados por determinado contexto e/ou relações. Muitas pessoas apresentam aversão ou não
conseguem caracterizar o que a Geografia estuda, devido ao modo como era (e ainda é) ensinada
na escola, sob uma perspectiva clássica. É obvia a importância do conhecimento de conceitos
e palavras técnicas da ciência geográfica, porém, elencar o nome da rede de drenagem de
determinada bacia hidrográfica, ou as capitais, é algo meio incoerente.
Dessa forma, cabe aos professores (re)pensarem suas práticas pedagógicas,
considerando os princípios da Neurociência, buscando adotar em suas aulas pontos facilitadores
para que a aprendizagem se torne MLD e que possa ser lembrada quando necessário, utilizando
recursos multimodais com atividades pensadas para mobilizar as IM. A noção dos princípios
de Neurociências por partes dos professores, pesquisadores e profissionais que estabelecem
políticas públicas, no que tange à aprendizagem, é fundamental, pois
154
Embora tenha ocorrido um aumento das TIC em sala de aula, tendo em vista a capacitação docente na pandemia,
alguns as utilizam para como subsídio para aulas expositivas. Então, utilizar esse conhecimento para implantar
uma metodologia ativa, como a SAI, é uma opção do docente, varia de acordo com suas concepções metodológicas
e com suas habilidades para além do ERE.
398
155
Pode ser traduzido como "jogabilidade". Se refere a um vídeo gravado (ou em live) na qual demonstra uma(s)
pessoa(s) jogando determinado game.
399
Dessa forma, os estudantes possuem suas inteligências porque isso caracteriza eles
como indivíduos independentes. Inteligências são uma parte preponderante do sujeito e de sua
capacidade de apreender. Logo, os diferentes estímulos e informações são percebidos de
maneira desigual, pois cada indivíduo apresenta características próprias de curiosidade, atenção
e afeto, elementos importantes para a aprendizagem, mas também relacionadas com visões e/ou
influências da sociedade.
400
[...] colaborar para fundamentar práticas pedagógicas que já se realizam com sucesso
e sugerir ideias para intervenções, demonstrando que as estratégias pedagógicas que
respeitam a forma como o cérebro funciona tendem a ser as mais eficientes. Os
avanços das neurociências possibilitam uma abordagem mais científica do processo
ensino-aprendizagem, fundamentada na compreensão dos processos cognitivos
envolvidos. (COSENZA; GUERRA, 2011, p. 143).
A Multimodalidade, por sua vez, fornece o aporte para que os recursos e práticas
pedagógicas sejam realizadas através de vários modos e aspectos, especialmente pela
comunicação em diversas formas, como texto, fala, imagens, sons e mapas, uma vez que
diferentes estímulos fazem os estudantes aprenderem de maneiras diferentes.
Assim, a intersecção entre Cartografia Escolar e Neurociências promove o “Estímulo
Cartográfico”, no sentido de desenvolver os conteúdos da Cartografia de maneira
contextualizada, isto é, que faça sentido e tenha aplicabilidade em atividades do cotidiano. O
objetivo é analisar como a Cartografia e/ou Geografia se faz presente nas tarefas, nos
compromissos e nos afazeres dos estudantes, para que percebam a sua aplicabilidade. Devido
ao caráter de novidade e também pelos conhecimentos prévios, que os aproximam do conteúdo,
como os mapas dos jogos eletrônicos, utilizados para a motivação, por exemplo, aumentando a
participação e, consequentemente, a atenção dos discentes.
Na interação entre Cartografia Escolar e Multimodalidade, tem-se a “Cartografia
Escolar Multimodal”. Sua abordagem está atrelada a utilização de múltiplos recursos a fim de
promover diferentes estímulos. Ao se trabalhar determinado conteúdo, o professor seleciona,
402
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
estudado em casa e a tarefa realizada em sala de aula. Cabe destacar a importância de repetir
(com diversas abordagens e meios), para criar (re)conexões neurais.
Assim sendo, esse trabalho apresentou uma discussão referente à aplicação de princípios
de Neurociências e da Multimodalidade na Cartografia Escolar e, como isso, permite a
contextualização de abordagens pertinentes à Geografia no Ensino Fundamental. Assim, essa
multiplicidade de recursos e modos de apresentação é fundamental para o processo de ensino-
aprendizagem, pois possibilita que os discentes aprendam de diferentes maneiras, com base em
suas particularidades, experiências anteriores e em sua gama de IM.
Destaca-se a importância de uma mesma temática ser contextualizada de dois ou mais
modos, como na elaboração do mapa das variáveis sociodemográficas, pois isto que fez com
que eles percebessem a metodologia da construção e suas diferenças, mesmo que o mapa e a
informação espacializada sejam iguais. Quanto mais abordagens forem realizadas pelo docente,
motivando as IM, mais facilidades o estudante terá quando for analisar determinada situação,
visto que a multimodalidade, através da variabilidade de recursos, faz com que ele esteja
constantemente sendo exposto a estímulos, sendo que algum deles poderá fazer sentido ou ter
uma certa relação com alguma experiência antiga.
Reitera-se que essa Tese apresenta um caráter inovador, desde a relação entre as áreas
de conhecimentos que foram realizadas, como, também, por sua aplicação em ERE com
atividades práticas de mapeamento. Mesmo com todas as dificuldades impostas pela Pandemia,
o trabalho não se restringiu a uma abordagem teórica e soluções teórico-metodológicas foram
construídas. No futuro, caso tenha-se a necessidade de uma implantação de aulas remotas,
pode-se utilizá-la como subsídio para práticas pedagógicas em sala de aula. Percebe-se que a
pandemia da COVID-19 impactou o andamento e conclusão de Trabalhos de Conclusão de
Curso, Dissertações e Teses, porém a aplicação desse presente trabalho foi totalmente superada
mediante a utilização das TIC e Ensino Remoto. O trabalho traz uma articulação entre o ensino
presencial, o híbrido e o remoto, podendo ser utilizado em diferentes contextos de ensino-
aprendizagem e colaborando com docentes e discentes nas múltiplas possibilidades de ensinar
e aprender Geografia.
Sugere-se que, a sequência de atividades aqui apresentadas, ou pelo menos parte delas,
seja desenvolvido em sala de aula, sobretudo durante o processo de alfabetização e letramento
cartográfico dos estudantes no Ensino Básico, além de ser difundida e conhecida por
professores, pesquisadores e aqueles que concebem políticas educacionais, tendo em vista a
perspectiva que o presente trabalho discutiu.
408
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.....................................................................................
Assinatura do pesquisador responsável
431
Nós, Maurício Rizzatti (Doutorando em Geografia UFSM), Prof. Dr. Roberto Cassol
(Orientador da pesquisa) e Profª. Drª. Elsbeth Léia Spode Becker (Coorientadora da pesquisa),
viemos por meio desse convidá-lo a participar como voluntário da pesquisa “Cartografia
Escolar, Inteligências Múltiplas e Neurociências no Ensino Fundamental: a Mediação
(Geo)Tecnológica e Multimodal no Ensino de Geografia”.
Esta pesquisa pretende desenvolver temáticas geográficas e cartográficas utilizando
recursos tecnológicos, como programas de mapeamentos e jogos digitais e aplicativos de
smartphones nas aulas de Geografia, enfatizando a sua importância na Cartografia Escolar e
desenvolvendo atividades com viés da Teoria das Inteligências Múltiplas para o ensino de
Geografia da contemporaneidade. Acreditamos que ela seja importante porque pode colaborar
com a avaliação das metodologias de ensino desenvolvidas na presente pesquisa, bem como
para com o ensino de Geografia. Para sua realização será feito o seguinte procedimento:
apresentação da proposta aos estudantes da escola de Ensino Fundamental e disponibilização
dos termos de Assentimento e Consentimento Livre e Esclarecido para os estudantes e pais ou
responsáveis, para autorizarem ou não a participação na pesquisa.
Posteriormente, os alunos que aceitaram participar da pesquisa irão responder um
questionário (online) de identificação pessoal, familiar e atividades desenvolvidas no dia a dia.
O nome dos estudantes será utilizado somente para fins de identificação e controle dos
pesquisadores, com anonimato total na publicação dos resultados da pesquisa. Após,
desenvolverá sequências didáticas mediadas por recursos tecnológicos, de caráter teórico e
prático, mediados por tecnologias da informação e comunicação (Ensino Remoto). Após o
desenvolvimento das atividades, será aplicado novamente um questionário (online) para
verificar o conhecimento adquirido durante a oficina. Cerca de seis meses após a aplicação da
atividade, os participantes precisam responder novamente um questionário (online) para avaliar
o conhecimento adquirido e evocado pela memória de longa duração, com a mesma temática
abarcada nos demais.
Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM: Av. Roraima, 1000 - 97105-900 - Santa Maria - RS -
2º andar do prédio da Reitoria. Telefone: (55) 3220-9362 - E-mail: cep.ufsm@gmail.com.
432
*Obrigatório
2. Após ler todas as informações acima, entendi que a pesquisa visa desenvolver e
testar metodologias de mediação tecnológica para o ensino de Geografia, que enfatizam
a construção da noção espacial dos estudantes envolvidos, fornecendo subsídios às
práticas cartográficas no ensino de Geografia no Ensino Fundamental. Também
compreendi que fazer parte dessa pesquisa significa que vou participar de uma atividade
didática, tecer relatos sobre o uso de (geo)tecnologias e responder questionários para
avaliar a proposta de pesquisa realizada pelos pesquisadores. Dessa maneira,*
4. O responsável pelo estudante deve enviar um arquivo ou foto com uma declaração.
O termo deve ser assinado e pode ser a punho (a mão). Por exemplo: Eu, nome completo,
responsável pelo(a) aluno(a) nome completo, estou ciente e o autorizo a participar da
pesquisa apresentada nesse termo. *
Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM: Av. Roraima, 1000 - 97105-900 - Santa Maria - RS -
2º andar do prédio da Reitoria. Telefone: (55) 3220-9362 - E-mail: cep.ufsm@gmail.com.
434
Nós, Maurício Rizzatti (Doutorando em Geografia UFSM), Prof. Dr. Roberto Cassol
(Orientador da pesquisa) e Profª. Drª. Elsbeth Léia Spode Becker (Coorientadora da pesquisa),
viemos por meio desse convidá-lo a participar como voluntário(a) da pesquisa “Cartografia
Escolar, Inteligências Múltiplas e Neurociências no Ensino Fundamental: a Mediação
(Geo)Tecnológica e Multimodal no Ensino de Geografia”.
Esta pesquisa pretende estudar a contribuição da Teoria das Inteligências Múltiplas a
partir do uso de (geo)tecnologias na construção de conhecimentos geográficos e cartográficos
em escolas de Ensino Fundamental. Acreditamos que ela seja importante porque pode colaborar
com a avaliação das metodologias de ensino desenvolvidas na presente pesquisa, bem como
para com o ensino de Geografia. Para sua realização será feito o seguinte: apresentação da
proposta aos estudantes da escola de Ensino Fundamental e disponibilização dos termos de
Assentimento e Consentimento Livre e Esclarecido. Após a concordância dos estudantes e pais
ou responsáveis, ocorrerá a aplicação de um questionário de identificação (online), referente a
dados pessoais, familiares e atividades desenvolvidas no cotidiano. O nome dos estudantes não
será divulgado na pesquisa e servem somente para fins de controle dos pesquisadores.
Posteriormente, ocorrerá a aplicação de um questionário (online) para verificar o
conhecimento prévio dos alunos em algumas temáticas específicas da disciplina de Geografia.
Após, desenvolverá sequências didáticas mediadas por recursos tecnológicos (por Ensino
Remoto) de caráter teórico e prático, buscando a realização de mapas analógicos e digitais.
Após o desenvolvimento das atividades, será aplicado novamente um questionário (online) para
verificar o conhecimento adquirido durante a oficina. Cerca de seis meses após a aplicação da
atividade, os participantes precisam responder novamente um questionário (online) para avaliar
o conhecimento adquirido e evocado pela memória de longa duração. Sua participação constará
de participar e avaliar as metodologias de ensino de Cartografia Escolar para o ensino de
Geografia propostas pelos pesquisadores e responder questionários.
435
O estudo apresenta riscos mínimos, inerentes à vida diária. Portanto, não pretende causar
danos físico, mental, espiritual ou social aos participantes, tendo em vista que a proposta
consiste em uma atividade de cunho pedagógico a ser realizada em ambiente escolar, mediado
por recursos tecnológicos (Ensino Remoto). Caso algum participante se sentir desconfortável
com o teor das perguntas, questionários semiestruturados e relatos, a sua participação na
pesquisa será imediatamente interrompida. Esperamos que os benefícios advindos da pesquisa
são para colaborar de forma gratuita e interativa com o processo de ensino-aprendizagem dos
alunos em um tema trabalhado em sala de aula (Cartografia Escolar), na disciplina de Geografia
no Ensino Fundamental.
Durante todo o período da pesquisa você terá a possibilidade de tirar qualquer dúvida
ou pedir qualquer outro esclarecimento. Para isso, entre em contato com algum dos
pesquisadores ou com o Comitê de Ética em Pesquisa. Você tem garantida a possibilidade de
não aceitar participar ou de retirar sua permissão a qualquer momento, sem nenhum tipo de
prejuízo pela sua decisão.
As informações desta pesquisa serão confidenciais e poderão divulgadas, apenas, em
eventos ou publicações, sem a identificação dos voluntários, a não ser entre os responsáveis
pelo estudo, sendo assegurado o sigilo sobre sua participação. Também poderão ser utilizada
imagens das atividades realizadas.
Os gastos necessários para a sua participação na pesquisa serão assumidos pelos
pesquisadores, ou seja, não acarretará custos para os participantes (será gratuito). Fica, também,
garantida indenização em casos de danos comprovadamente decorrentes da participação na
pesquisa.
*Obrigatório
2. Após ler todas as informações acima, entendi que a pesquisa visa desenvolver e
testar metodologias de mediação tecnológica para o ensino de Geografia, que enfatizam
a construção da noção espacial dos estudantes envolvidos, fornecendo subsídios às
Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM: Av. Roraima, 1000 - 97105-900 - Santa Maria - RS -
2º andar do prédio da Reitoria. Telefone: (55) 3220-9362 - E-mail: cep.ufsm@gmail.com.
436
Nós, Maurício Rizzatti (Doutorando em Geografia UFSM), Prof. Dr. Roberto Cassol
(Orientador da pesquisa) e Profª. Drª. Elsbeth Léia Spode Becker (Coorientadora da pesquisa),
vimos por meio deste convidá-los a participar como voluntário(a) da pesquisa “Cartografia
Escolar, Inteligências Múltiplas e Neurociência no Ensino Fundamental: a Mediação
(Geo)Tecnológica e Multimodal no Ensino de Geografia”.
Esta pesquisa pretende estudar/identificar a contribuição da Teoria das Inteligências
Múltiplas a partir do uso de (geo)tecnologias na construção de conhecimentos geográficos e
cartográficos em escola de Ensino Fundamental. Acreditamos que ela seja importante porque
pode colaborar com a avaliação das metodologias de ensino desenvolvidas na presente
pesquisa, bem como para com o ensino de Geografia. Para sua realização será feito o seguinte:
apresentação da proposta aos estudantes da escola de Ensino Fundamental e disponibilização
dos termos de Assentimento e Consentimento. Após a concordância dos estudantes e pais ou
responsáveis, ocorrerá a aplicação de um questionário de identificação (online), referente a
dados pessoais, familiares e atividades desenvolvidas no cotidiano. O nome dos estudantes não
será divulgado na pesquisa e servem somente para fins de controle dos pesquisadores.
Posteriormente, ocorrerá a aplicação de um questionário (online) para verificar o conhecimento
prévio dos alunos em algumas temáticas específicas da disciplina de Geografia. Após,
desenvolverá sequências didáticas mediadas por recursos tecnológicos (por Ensino Remoto) de
caráter teórico e prático, buscando a realização de mapas analógicos e digitais. Após o
desenvolvimento das atividades, será aplicado novamente um questionário (online) para
verificar o conhecimento adquirido durante a oficina. Cerca de seis meses após a aplicação da
atividade, os participantes precisam responder novamente um questionário (online) para avaliar
o conhecimento adquirido e evocado pela memória de longa duração. Sua participação constará
de participar e avaliar as metodologias de ensino de Cartografia Escolar para o ensino de
Geografia propostas pelos pesquisadores e responder questionários.
Esse questionário visa a identificação dos participantes da pesquisa como forma de
orientar a organização das atividades que serão desenvolvidas. Ressaltamos que todas as
informações aqui apresentadas serão confidenciais e utilizadas apenas para fins do trabalho aqui
realizado.
*Obrigatório
Sim
Não
Dados de Identificação
2. Nome Completo:* __________________________________________________
3. Turma:*
71 – Escola Vicente Farencena
4. Você já reprovou em algum ano escolar?* (Você pode marcar mais de uma opção).
Nunca reprovei
5. E-mail:* ___________________________________________________________
6. Número de telefone para contato - (DDD) + Número:* ______________________
7. Quantos anos de idade você completou ou completará em 2020?* _____________
8. Gênero:*
Feminino
Masculino
Outro
Agro-Industrial
Boi Morto
Bonfim
Camobi
Carolina
Caturrita
Centro
Cerrito
Divina Providência
Duque de Caxias
Itararé
Juscelino Kubitschek
439
Km 3
Lorenzi
Menino Jesus
Noal
Nonoai
Passo d'Areia
Patronato
Pé-de-Plátano
Renascença
Salgado Filho
São João
São José
Tancredo Neves
Tomazetti
Uglione
Urlândia
Outro: ________________________________________________
Caracterização Familiar
440
5 ou mais
5 ou mais
Não
Sim, avós
Sim, irmãos
Sim, amigos
Outro: ________________________________________________
de 1 a 2 salários mínimos
de 2 a 3 salários mínimos
Não sei
Não
15. Com que frequência você tem acesso as Tecnologias (Smartphone, computador,
tablet, TV, Videogame, entre outras)?*
Nunca
Raramente
Às vezes
Frequentemente
Sempre
16. Quais das tecnologias abaixo você tem acesso em sua residência? (Você pode
marcar mais de uma opção).*
Smartphone
Computador ou Notebook
Tablet
TV
Videogame (console)
Outro: ________________________________________________
Android
iOS
442
Windows Phone
Symbian OS
MeeGo
RIM
Outro: ________________________________________________
Windows
Linux ou derivados
Mac OS
Outro: ________________________________________________
19. Seu Computador ou Notebook tem entrada para leitura de CD/DVD (se você
possuir)?
20. Você tem alguma dificuldade de manuseio das tecnologias que possui?*
Sim
Não
Outro: ________________________________________________
Diversão e entretenimento
Outro: ________________________________________________
Computador ou Notebook
Smartphone ou Tablet
Outro: ________________________________________________
Manhã
Tarde
Noite
Outro: __________________________________________________
25. Quais atividades complementares você realiza? (Você pode marcar mais de uma
opção).*
Realiza leitura
Ouve rádio
Outro: __________________________________________________
Lê
Estuda
Brinca
444
Outro: __________________________________________________
Download: https://1drv.ms/p/s!AucppA9xcKi65nvzAMDVUq4hJBa8?e=d1DAYc
Para uma correta execução, abra o link no Google Chrome. Se realizar o download, utilize
uma versão igual ou superior do Microsoft Office 2010. É possível realizar a visualização
online diretamente pelo link.
458
ITENS:
156
O Kit foi disponibilizado fisicamente (impresso). Os produtos aqui apresentados estão obedecendo as normas
de margens do Manual de Dissertações e Teses, lançada em dezembro de 2021, da Universidade Federal de Santa
Maria.
459
460
461
462
463
464
465
466
467
468
Nós, Maurício Rizzatti (Doutorando em Geografia UFSM), Prof. Dr. Roberto Cassol
(Orientador da pesquisa) e Profª. Drª. Elsbeth Léia Spode Becker (Coorientadora da pesquisa),
apresentamos esse questionário como parte da pesquisa “Cartografia Escolar, Inteligências
Múltiplas e Neurociências no Ensino Fundamental: a Mediação (Geo)Tecnológica e
Multimodal no Ensino de Geografia”.
*Obrigatório
Identificação
2. Turma?*
71
72
3. O que você fez durante o turno da tarde do dia anterior? (Escolha a atividade de maior
duração).*
Dormiu
Estudou
Brincou ou jogou
Ajudou em casa
Navegou na internet
Outro: ________________________________________________
497
4. O que você fez durante o turno da noite (até às 23:30) anterior? (Escolha a atividade de
maior duração).*
Dormiu
Estudou
Brincou ou jogou
Ajudou em casa
Navegou na internet
Outro: ________________________________________________
Não utilizei
Menos de 2 horas
De 2 a 5 horas
De 5 a 10 horas
Mais de 10 horas
Não utilizei
Adormeço utilizando
Até 10 min
10 min a 20 min
498
20 min a 30 min
30 min a 1 hora
Mais de 1 hora
8. Com qual finalidade você utilizou este equipamento antes de dormir? (Escolha a
atividade de maior duração).*
Não utilizei
Redes sociais
Estudar
Jogar
Outro: ___________________________________________________
Manhã
Tarde
Noite
Madrugada
10. Quantas horas de sono você tem em média durante os dias de semana?*
Até 4 horas
De 4 a 6 horas
De 6 a 8 horas
De 8 a 12 horas
Mais de 12 horas
Sempre
Às vezes
12. Qual turno você dormiu por mais tempo no fim de semana?*
Manhã
Tarde
Noite
Madrugada
13. Quantas horas de sono você tem em média durante os dias de semana?*
Até 4 horas
De 4 a 6 horas
De 6 a 8 horas
De 8 a 12 horas
Mais de 12 horas
Não dormi
Até 4 horas
De 4 a 6 horas
De 6 a 8 horas
De 8 a 12 horas
Mais de 12 horas
Não dormi
Muito pouca
Pouca
Suficiente
Ótima
500
Não dormi
Péssima
Regular
Suficiente
Ótima
Nós, Maurício Rizzatti (Doutorando em Geografia UFSM), Prof. Dr. Roberto Cassol
(Orientador da pesquisa) e Profª. Drª. Elsbeth Léia Spode Becker (Coorientadora da pesquisa),
apresentamos esse questionário como parte da pesquisa “Cartografia Escolar, Inteligências
Múltiplas e Neurociências no Ensino Fundamental: a Mediação (Geo)Tecnológica e
Multimodal no Ensino de Geografia”.
*Obrigatório
Identificação
2. Turma?*
71
72
3. O que você fez durante o turno da tarde do dia anterior? (Escolha a atividade de maior
duração).*
Dormiu
Estudou
Brincou ou jogou
Ajudou em casa
Navegou na internet
Outro: ______________________________________________________
4. O que você fez durante o turno da noite (até às 23:30) anterior? (Escolha a atividade de
maior duração).*
Dormiu
502
Estudou
Brincou ou jogou
Ajudou em casa
Navegou na internet
Outro: ______________________________________________________
Não utilizei
Menos de 2 horas
De 2 a 5 horas
De 5 a 10 horas
Mais de 10 horas
Não utilizei
Adormeço utilizando
Até 10 min
10 min a 20 min
20 min a 30 min
30 min a 1 hora
Mais de 1 hora
503
8. Com qual finalidade você utilizou este equipamento antes de dormir? (Escolha a
atividade de maior duração).*
Não utilizei
Redes sociais
Estudar
Jogar
Outro: ___________________________________________________
Não dormi
Até 4 horas
De 4 a 6 horas
De 6 a 8 horas
De 8 a 12 horas
Mais de 12 horas
Não dormi
Muito pouca
Pouca
Suficiente
Ótima
Não dormi
Péssima
Regular
Suficiente
504
Ótima
Download: https://1drv.ms/p/s!AucppA9xcKi65wCiLuudrdJeiHot?e=SfqtNT
Para uma correta execução, abra o link no Google Chrome. Se realizar o download, utilize
uma versão igual ou superior do Microsoft Office 2010. É possível realizar a visualização
online diretamente pelo link.
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