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COLÉGIO SÃO JOSÉ

DA DIVINA PROVIDÊNCIA

CENA RURAL

Muito branca, numa eminência do terreno que se alongava para o rio, a igrejinha palpitava
de flâmulas e bandeirolas multicores, com a larga porta central quase oculta por um grande arco de
bambus entretecido de palmas e folhagens. Todo o caminho, descendo da casa da fazenda até a
várzea, e daí subindo, quase em espiral, a contornar o outeiro, para o adro da capela, estava coberto
de areia clara do rio e juncado de fôlhas e flôres silvestres. Os sinos trinavam desde o' alvorecer,
alvissareiros e felizes, como se tivessem a noção de que se apossavam de uma terra nova, virgem
até ali daquelas vibrações. E ainda nessa manhã chegavam sertanejos, por água e por terra. Os
primeiros desciam o rio em canoas, a remo ou a varejão, em geral criaturas amarelentas,
esgrouviadas e magras, tiritantes de sezões. Dos últimos - uns a pé, outros a cavalo. Quando eram
famílias, o marido se repimpava no matungo desferrado, com uma criança à frente dos arreios, outra
à garupa, e a mulher trotava a pé, à retaguarda, equilibrando uma trouxa à cabeça e sustendo ao colo
o filho pequeno. Sob as árvores, à pequena distância da igreja, iam-se largando os cavalos arreados
que, ao retroarem as primeiras bombas e morteiros, se assustavam, aos pinchos e corcovos,
rebentando as rédeas, esfuziando pelos pastos em galopes desvairados, perseguidos logo pelos
matutos em aliança, a chocalhar imaginários buçais, engodando-os: “có… o ! … có… o ! … có!
…”
VEIGA MIRANDA

O MILAGRE DAS CHUVAS NO NORDESTE

Uma manhã lá no Cajapió (Joca lembrava-se como se fora na véspera) acordara depois de
uma grande tormenta no fim do verão. A madrugada estava orvalhada, mas serena, e ele se erguera
de sua rede para ver o tempo. Um grande tapete de verdura fresca e úmida parecia ter descido do
céu e coberto como um manto misterioso o campo ontem mirrado... Os olhos perdiam-se na
campina alegre; o gado festejava o rebentar da vida na terra e comia a erva tenra; um bando de
marrecas passava grasnando, pousava aqui, levantava o voo acolá, buscava ainda mais longe a
região dos eternos lagos... Dias inteiros de chuvas; o pasto agora era farto, a água porfiava em
vencê-lo, e quando mais tarde o dilúvio se interrompia viam-se na vasta savana verde pontos claros
que eram o refrigério dos olhos. Eram os primeiros lagos. Em volta deles uma multidão de aves
aquáticas brincavam descuidosas e ostentavam as penas de cores vivas e quentes. Vinham pássaros
de toda a parte: pernaltas com o seu bico de colher, marrecas em algazarra, jaçanãs leves e tímidas;
e à tarde, quando o céu se vestia de nuvens cinzentas, notava-se desfilar, ora o bando marcial e
rubro dos guarás, ora a ala virgínea e branca das garças... No fundo dos lagos multidões de peixes
borbulhavam por encanto. E em tudo o mesmo milagre de ressurreição, de rejuvenescimento, de
expansão e de vida.
GRAÇA ARANHA

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