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«O suave milagre»

EÇA DE QUEIRÓS

LEITURA

1. Em conjunto com a turma, prepara a leitura do conto «O suave milagre», de Eça de


Queirós, elaborando um glossário coletivo a partir dos topónimos, gentílicos e outros
nomes mencionados no texto. Façam uma primeira leitura do conto e elaborem uma
lista dos termos a definir no glossário. Depois, distribuam esses termos pelos alunos
da turma, para que cada um possa realizar a sua pesquisa e escrever as respetivas
definições. Juntem as definições dos diferentes termos num glossário partilhado por
todos.

2. Lê novamente o conto, consultando o vocabulário apresentado para esclareceres as


tuas dúvidas.

O suave milagre
Nesse tempo Jesus ainda se não afastara da Galileia e das doces, luminosas
margens do Lago de Tiberíade – mas a nova dos seus milagres penetrara já até
Enganim, cidade rica, de muralhas fortes, entre olivais e vinhedos, no país de
Issacar.
5 Uma tarde um homem de olhos ardentes e deslumbrados passou no fresco vale,
e anunciou que um novo profeta, um rabi 1 formoso, percorria os campos e as
antas. aldeias da Galileia, predizendo a chegada do Reino de Deus, curando todos os
ore
m figo
males humanos. E enquanto descansava, sentado à beira da Fonte dos Vergéis,
contou ainda que esse rabi, na estrada de Magdala, sarara da lepra o servo de um
edor, sábio.
10 decurião romano, só com estender sobre ele a sombra das suas mãos; e que noutra
rinas,
manhã, atravessando numa barca para a terra dos Gerazenos, onde começava a
lativo colheita do bálsamo 2, ressuscitara a filha de Jaira, homem considerável e douto
(chefe
dos que comentava os Livros na sinagoga 3. E como em redor, assombrados, seareiros,
s).
pastores, e as mulheres trigueiras 4 com a bilha no ombro, lhe perguntassem se
dos altares.
sinistras. 15 esse era, em verdade, o Messias de Judeia, e se diante dele refulgia a espada de
úpedes que fogo, e se o ladeavam, caminhando como as sombras de duas torres, as sombras
alimento do 1 Rabi: sacerdote judaico.
de Gog e de Magog – o homem, sem mesmo beber daquela água tão fria de que 2 Bálsamo: resina aromática.
o de árvores bebera Josué, apanhou o cajado, sacudiu os cabelos, e meteu pensativamente por 3 Sinagoga: templo dos
judeus.
eira (armação sob o aqueduto, logo sumido na espessura das amendoeiras em flor. Mas uma 4 Trigueiras: morenas
stentada 20 esperança, deliciosa como o orvalho nos meses em que canta a cigarra, refrescou (da cor do trigo maduro).
or onde 5 Campina: planície
os pés da as almas simples: logo, por toda a campina 5 que verdeja até Áscalon, o arado extensa, sem árvores nem
pareceu mais brando de enterrar, mais leve de mover a pedra do lagar: as povoações.
nte, esbelta.
amas de
crianças, colhendo ramos de anémonas 6, espreitavam pelos caminhos de além da
.
e videira.
em da
1
aria,
a.
esquina do muro, ou de sob o sicômoro 7, não surgiria uma claridade: e nos bancos
25 de pedra, às portas da cidade, os velhos, correndo os dedos pelos fios das barbas,
já não desenrolavam, com tão sapiente 8 certeza, os ditames 9 antigos.
Ora então vivia em Enganim um velho, por nome Obed, de uma família
pontifical10 de Samaria, que sacrificara nas aras 11 do monte Ebal, senhor de fartos
rebanhos e de fartas vinhas – e com o coração tão cheio de orgulho como o seu
30 celeiro de trigo. Mas um vento árido e abrasado, esse vento de desolação que ao
mando do Senhor sopra das torvas 12 terras de Assur, matara as reses 13 mais gordas
das suas manadas, e pelas encostas onde as suas vinhas se enroscavam ao olmo 14, e
se estiravam na latada15 airosa16, só deixara, em torno dos olmos e pilares despidos,
sarmentos17, cepas18 mirradas, e a parra19 roída de crespa ferrugem. E Obed, agachado
35 à soleira da sua porta, com a ponta do manto sobre a face, palpava a poeira,
lamentava a velhice, ruminava queixumes contra Deus cruel.
Apenas ouvira porém falar desse novo rabi da Galileia que alimentava as
multidões, amedrontava os demónios, emendava todas as desventuras – Obed,
homem lido, que viajara na Fenícia, logo pensou que Jesus seria um desses
40 feiticeiros, tão costumados na Palestina, como Apolónio, ou rabi Ben-Dossa, ou
Simão, «o Subtil». Esses, mesmo nas noites tenebrosas, conversam com as
estrelas, para eles sempre claras e fáceis nos seus segredos; com uma vara
afugentam de sobre as searas os moscardos gerados nos lodos do Egito; e agarram
entre os dedos as sombras das árvores, que conduzem, como toldos benéficos,
45 para cima das eiras, à hora da sesta. Jesus da Galileia, mais novo, com magias
mais viçosas decerto, se ele largamente o pagasse, sustaria 20 a mortandade dos
seus gados, reverdeceria os seus vinhedos. Então Obed ordenou aos seus servos
que partissem, procurassem por toda a Galileia o rabi novo, e com promessa de
dinheiros ou alfaias 21 o trouxessem a Enganim, no país de Assacar.
50 Os servos apertaram os cinturões de couro – e largaram pela estrada das
caravanas, que, costeando o lago, se estende até Damasco. Uma tarde, avistaram
sobre o poente, vermelho como uma romã muito madura, as neves finas do monte
Hérmon. Depois, na frescura de uma manhã macia, o lago de Tiberíade
resplandeceu diante deles, transparente, coberto de silêncio, mais azul que o céu,
55 todo orlado22 de prados floridos, de densos vergéis 23, de rochas de pórfiro 24, e de
alvos terraços por entre os palmares 25, sob o voo das rolas. Um pescador que
desamarrava preguiçosamente a sua barca de uma ponta de relva, assombreada de
aloendros 26, escutou, sorrindo, os servos. O rabi de Nazaré? Oh! desde o mês de
Ijar, o rabi descera, com os seus discípulos, para os lados para onde o Jordão leva
60 as águas.
Os servos, correndo, seguiram pelas margens do rio, até adiante do vau 27, onde
ele se estira 28 num largo remanso 29, e descansa, e um instante dorme, imóvel e
verde, à sombra dos tamarindos 30. Um homem da tribo dos Essénios, todo vestido
de linho branco, apanhava lentamente ervas salutares 31, pela beira da água, com
65 um cordeirinho branco ao colo. Os servos humildemente saudaram-no, porque o
povo ama aqueles homens de coração tão limpo, e claro, e cândido 32 como as suas

2
vestes cada manhã lavadas em tanques purificados. E sabia ele da passagem do
novo rabi da Galileia que, como os Essénios, ensinava a doçura, e curava as
gentes e os gados? O Essénio murmurou que o rabi atravessara o oásis de
70 Engandi, depois se adiantara para além… – Mas onde, além? – Movendo um
ramo de flores roxas que colhera, o Essénio mostrou as terras de além-Jordão, a
planície de Moab. Os servos vadearam 33 o rio – e debalde 34 procuraram Jesus,
o com que se arquejando 35 pelos rudes trilhos, até às fragas onde se ergue a cidadela sinistra de
eatros e os Makaur… No Poço de Jacob repousava uma larga caravana, que conduzia para o
omanos.
arcação de 75 Egito mirra, especiarias e bálsamos de Gilead: e os cameleiros, tirando a água
mastros a com os baldes de couro, contaram aos servos de Obed que em Gadara, pela Lua
la.
vessava. nova, um rabi maravilhoso, maior que David ou Isaías, arrancara sete demónios
bdivisões do peito de uma tecedeira, e que, à sua voz, um homem degolado pelo salteador
manas.
ções da
Barrabás se erguera da sua sepultura e recolhera ao seu horto 36. Os servos,
om viseira, 80 esperançados, subiram logo açodadamente 37 pelo caminho dos peregrinos até
cobrir a
osto. Gadara, cidade de altas torres, e ainda mais longe até às nascentes de Amalha…
arnecidas de Mas Jesus, nessa madrugada, seguido por um povo que cantava e sacudia ramos 32 Cândido: puro.
33 Vadearam: atravessaram
ada uma de
de mimosas, embarcara no lago, num batel de pesca, e à vela navegara para a vau.
s em que se Magdala. E os servos de Obed, descoroçoados 38, de novo passavam o Jordão na 34 Debalde: em vão,
eia. inutilmente.
te de palha
85 Ponte das Filhas de Jacob. Um dia, já com as sandálias rotas dos longos
35 Arquejando: arfando,
cone. caminhos, pisando já as terras da Judeia Romana, cruzaram um fariseu 39 sombrio, respirando a custo.
ura contínua
por um
que recolhia a Efraim, montado na sua mula. Com devota reverência detiveram o 36 Horto: pequena horta,
jardim.
quena vala homem da Lei. Encontrara ele, por acaso, esse profeta novo da Galileia que, como 37 Açodadamente:
sa a água.
ocultassem.
um deus passeando na Terra, semeava milagres? A adunca 40 face do fariseu apressadamente.
38 Descoroçoados:
servatórios 90 escureceu enrugada – e a sua cólera retumbou como um tambor orgulhoso: desalentados,
ial, poço. – Oh escravos pagãos! Oh blasfemos! Onde ouvistes que existissem profetas desanimados.
as, 39 Fariseu: membro de
ou milagres fora de Jerusalém? Só Jeová tem força no seu Templo. De Galileia uma seita de judeus
ueles surdem41 os néscios42 e os impostores… que mostrava grande
a solidão, santidade exterior na sua
vida E como os servos recuavam ante o seu punho erguido, todo enrodilhado de vida.
va. 95 dísticos 43 sagrados – o furioso doutor saltou da mula e, com as pedras da estrada, 40 Adunca: recurvada, em
nome antigo forma de garra.
re asiática apedrejou os servos de Obed, uivando: «Racca! Racca!» 44 e todos os anátemas 45 41 Surdem: emergem,
traía um rituais. Os servos fugiram para Enganim. E grande foi a desconsolação de Obed, surgem.
42 Néscios: ignorantes.
ão, crime. porque os seus gados morriam, as suas vinhas secavam – e todavia, 43 Dísticos: emblemas.
me de radiantemente, como uma alvorada por detrás de serras, crescia, consoladora e 44 Racca: termo semita
gas. insultuoso, com o
lomeração 100 cheia de promessas divinas, a fama de Jesus da Galileia. significado de «tolo»,
Por esse tempo, um centurião romano, Públio Sétimo, comandava o forte que entre outros.
s, espaços 45 Anátemas: maldições
sobre uma
domina o vale de Cesareia, até à cidade e ao mar. Públio, homem áspero, veterano ou pragas usadas para
vel de um da campanha de Tibério contra os Partas, enriquecera durante a revolta de excomungar.
ares onde, 46 Presas: despojos, aquilo
, se põem a Samaria com presas 46 e saques, possuía minas na Ática, e gozava, como favor com que se fica do
ais. 105 supremo dos deuses, a amizade de Flaco, legado 47 imperial da Síria. Mas uma dor inimigo.
os pequenos, 47 Legado: enviado ao
ompridos. roía a sua prosperidade muito poderosa, como um verme rói um fruto muito serviço de um estado,
suculento. Sua filha única, para ele mais amada que vida e bens, definhava com neste caso, de Roma.
m, atiravam. 48 Esculápios: médicos
uearam.
um mal subtil e lento, estranho mesmo ao saber dos esculápios 48 e mágicos que ou indivíduos com
nqueava. ele mandara consultar a Sídon e a Tiro. Branca e triste como a Lua num conhecimentos médicos.

3
110 cemitério, sem um queixume, sorrindo palidamente a seu pai, definhava, sentada
na alta esplanada do forte, sob um velário 49, alongando saudosamente os negros
olhos tristes pelo azul do mar de Tiro, por onde ela navegara de Itália, numa
galera50 enfestada. Ao seu lado, por vezes, um legionário, entre as ameias,
apontava vagarosamente ao alto a flecha, e varava 51 uma grande águia, voando de
115 asa serena, no céu rutilante. A filha de Sétimo seguia um momento a ave
torneando até bater morta sobre as rochas – depois, mais triste, com um suspiro, e
mais pálida, recomeçava a olhar para o mar.
Então Sétimo, ouvindo contar, a mercadores de Chorazim, deste rabi
admirável, tão potente sobre os espíritos, que sarava os males tenebrosos da alma,
120 destacou três decúrias 52 de soldados para que o procurassem por Galileia, e por
todas as cidades da Decápola, até à costa e até Áscalon. Os soldados enfiaram os
escudos nos sacos de lona, espetaram nos elmos 53 ramos de oliveira – e as suas
sandálias ferradas 54 apressadamente se afastaram, ressoando sobre as lajes de
basalto da estrada romana que desde Cesareia até ao lago corta toda a tetrarquia 55
125 de Herodes. As suas armas, de noite, brilhavam no topo das colinas, por entre a
chama ondeante dos archotes erguidos. De dia invadiam os casais, rebuscavam a
espessura dos pomares, esfuracavam com a ponta das lanças a palha das medas 56:
e as mulheres, assustadas, para os amansar, logo acudiam com bolos de mel, figos
novos, e malgas cheias de vinho, que eles bebiam de um trago, sentados à sombra
130 dos sicômoros. Assim correram a Baixa Galileia – e, do rabi, só encontraram o
sulco57 luminoso nos corações. Enfastiados com as inúteis marchas, desconfiando
que os Judeus sonegassem 58 o seu feiticeiro para que os Romanos não
aproveitassem do superior feitiço, derramavam com tumulto a sua cólera, através
da piedosa terra submissa. À entrada das pontes detinham os peregrinos, gritando
135 o nome do rabi, rasgando os véus às virgens: e, à hora em que os cântaros se
enchem nas cisternas 59, invadiam as ruas estreitas dos burgos 60, penetravam nas
sinagogas e batiam sacrilegamente com os punhos das espadas nas Thebahs, os
santos armários de cedro que continham os Livros Sagrados. Nas cercanias de
Hébron arrastaram os solitários 61 pelas barbas para fora das grutas, para lhes
140 arrancar o nome do deserto ou do palmar em que se ocultava o rabi – e dois
mercadores fenícios que vinham de Jope com uma carga de malóbatro 62, e a quem
nunca chegara o nome de Jesus, pagaram por esse delito 63 cem dracmas 64 a cada
decurião. Já a gente dos campos, mesmo os bravios pastores de Idumeia, que
levam as reses brancas para o Templo, fugiam espavoridos para as serranias 65,
145 apenas luziam, nalguma volta do caminho, as armas do bando violento. E da beira
dos eirados 66, as velhas sacudiam como taleigos 67 a ponta dos cabelos
desgrenhados, e arrojavam 68 sobre eles as Más Sortes, invocando a vingança de
Elias. Assim tumultuosamente erraram 69 até Áscalon: não encontraram Jesus: e
retrocederam ao longo da costa, enterrando as sandálias nas areias ardentes.
150 Uma madrugada, perto de Cesareia, marchando num vale, avistaram sobre um
outeiro um verde-negro bosque de loureiros, onde alvejava 70, recolhidamente, o
fino e claro pórtico de um templo. Um velho, de compridas barbas brancas,

4
coroado de folhas de louro, vestido com uma túnica cor de açafrão, segurando
uma curta lira de três cordas, esperava gravemente, sobre os degraus de mármore,
155 a aparição do Sol. Debaixo, agitando um ramo de oliveira, os soldados bradaram
pelo sacerdote. Conhecia ele um novo profeta que surgira na Galileia, e tão
destro 71 em milagres que ressuscitava os mortos e mudava a água em vinho?
Serenamente, alargando os braços, o sereno velho exclamou por sobre a rociada 72
verdura do vale:
160 – Oh romanos! pois acreditais que em Galileia ou Judeia apareçam profetas
consumando milagres? Como pode um bárbaro alterar a ordem instituída por Zeus?
… Mágicos e feiticeiros são vendilhões73, que murmuram palavras ocas, para
arrebatar a espórtula74 dos simples… Sem a permissão dos imortais nem um galho
seco pode tombar da árvore, nem seca folha pode ser sacudida na árvore. Não há
165 profetas, não há milagres… Só Apolo Délfico conhece o segredo das coisas!
Então, devagar, com a cabeça derrubada, como numa tarde de derrota, os
soldados recolheram à fortaleza de Cesareia. E grande foi o desespero de Sétimo,
porque sua filha morria, sem um queixume, olhando o mar de Tiro – e todavia a
fama de Jesus, curador dos lânguidos 75 males, crescia, sempre mais consoladora e
170 fresca, como a aragem da tarde que sopra do Hérmon e, através dos hortos,
reanima e levanta as açucenas 76 pendidas.
Ora entre Enganim e Cesareia, num casebre desgarrado, sumido na prega de
um cerro77, vivia a esse tempo uma viúva, mais desgraçada mulher que todas as
mulheres de Israel. O seu filhinho único, todo aleijado, passara do magro peito a
175 que ela o criara para os farrapos da enxerga 78 apodrecida, onde jazera 79, sete anos 71 Destro: hábil, perito.
passados, mirrando e gemendo. Também a ela a doença a engelhara dentro dos 72 Rociada: coberta de
orvalho.
trapos nunca mudados, mais escura e torcida que uma cepa arrancada. E, sobre 73 Vendilhões: bufarinheiros,
ambos, espessamente a miséria cresceu como o bolor sobre cacos perdidos num vendedores ambulantes.
74 Espórtula: pequena
ermo80. Até na lâmpada de barro vermelho secara há muito o azeite. Dentro da quantia paga como
180 arca pintada não restava grão ou côdea. No Estio 81, sem pasto, a cabra morrera. retribuição por um
serviço, gorjeta.
Depois, no quinteiro 82, secara a figueira. Tão longe do povoado, nunca esmola de 75 Languidos: desfalecidos,
pão ou mel entrava o portal. E só ervas apanhadas nas fendas das rochas, cozidas abatidos.
sem sal, nutriam aquelas criaturas de Deus na Terra Escolhida, onde até às aves 76 Acucenas: espécie de
flores.
maléficas sobrava o sustento! 77 Cerro: outeiro, colina
185 Um dia um mendigo entrou no casebre, repartiu do seu farnel com a mãe pouco elevada.
78 Enxerga: almofadão de
amargurada, e um momento sentado na pedra da lareira, coçando as feridas das palha, cama humilde.
ontrara.
pernas, contou dessa grande esperança dos tristes, esse rabi que aparecera na 79 Jazera: outeiro.
m pouca 80 Ermo: lugar despovoado
Galileia, e de um pão no mesmo cesto fazia sete, e amava todas as criancinhas, e e solitário.
enxugava todos os prantos83, e prometia aos pobres um grande e luminoso reino, de 81 Estio: verão.
82 Quinteiro: pequeno
190 abundância maior que a corte de Salomão. A mulher escutava, com olhos famintos. quintal murado.
E esse doce rabi, esperança dos tristes, onde se encontrava? O mendigo suspirou. Ah 83 Prantos: choros,
lamentações.
esse doce rabi! quantos o desejavam, que se desesperançavam! A sua fama andava 84 Enxergar: entrever, avistar
por sobre toda a Judeia, como o Sol que até por qualquer velho muro se estende e se a distância ou de modo
confuso.
goza; mas para enxergar84 a claridade do seu rosto, só aqueles ditosos 85 que o seu
85 Ditosos: felizes,
195 desejo escolhia. Obed, tão rico, mandara os seus servos por toda a Galileia para que afortunados.

5
procurassem Jesus, o chamassem com promessas a Enganim; Sétimo, tão soberano,
destacara os seus soldados até à costa do mar, para que buscassem Jesus, o
conduzissem, por seu mando, a Cesareia. Errando, esmolando por tantas estradas, ele
topara86 os servos de Obed, depois os legionários de Sétimo. E todos voltavam, como
200 derrotados, com as sandálias rotas, sem ter descoberto em que mata ou cidade, em
que toca ou palácio, se escondia Jesus.
A tarde caía. O mendigo apanhou o seu bordão, desceu pelo duro trilho, entre a
urze e a rocha. A mãe retomou o seu canto, a mãe mais vergada, mais abandonada.
E então o filhinho, num murmúrio mais débil87 que o roçar de uma asa, pediu à mãe
205 que lhe trouxesse esse rabi que amava as criancinhas, ainda as mais pobres, sarava os
males, ainda mais antigos. A mãe apertou a cabeça esguedelhada:
– Oh filho! e como queres que te deixe, e me meta aos caminhos, à procura do
rabi da Galileia? Obed é rico e tem servos, e debalde buscaram Jesus, por areais
e colinas, desde Chorazim até ao país de Moab. Sétimo é forte e tem soldados, e
210 debalde correram por Jesus, desde o Hébron até ao mar! Como queres que te
deixe? Jesus anda por muito longe e a nossa dor mora connosco, dentro destas
paredes, e dentro delas nos prende. E mesmo que o encontrasse, como
convenceria eu o rabi tão desejado, por quem ricos e fortes suspiram, a que
descesse através das cidades até este ermo, para sarar um entrevadinho tão pobre,
215 sobre enxerga tão rota?
A criança, com duas longas lágrimas na face magrinha, murmurou:
– Oh mãe! Jesus ama todos os pequeninos. E eu ainda tão pequeno, e com um
mal tão pesado, e que tanto queria sarar!
E a mãe, em soluços:
220 – Oh meu filho, como te posso deixar? Longas são as estradas da Galileia, e
curta a piedade dos homens. Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me
ladrariam da porta dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a
morada do doce rabi. Oh filho! talvez Jesus morresse… Nem mesmo os ricos e os
fortes o encontram. O Céu o trouxe, o Céu o levou. E com ele para sempre morreu
225 a esperança dos tristes.
De entre os negros trapos, erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a
criança murmurou:
– Mãe, eu queria ver Jesus…
E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus disse à criança:
230 – Aqui estou.
Eça de Queirós, Contos, Livros do Brasil, 2000

6
A. «Nesse tempo Jesus ainda se não afastara da Galileia (…)»
(linhas 1 a 26)
1. Refere a função do primeiro parágrafo do conto.

2. Identifica a personagem em quem se concentra a atenção do narrador neste


momento do texto.
2.1. Qual é a função dessa personagem na ação do conto?
2.2. Atenta na passagem do texto que caracteriza o olhar dessa personagem e
justifica essa caracterização, tendo em conta o que a personagem veio anunciar.

3. Indica os milagres relatados pelo homem.

4. Classifica as afirmações sobre o conto como verdadeiras ou falsas, justificando as tuas


opções.
a) O homem respondeu a todas as questões sobre Jesus.
b) As notícias sobre Jesus conseguiram, só por si, desencadear pequenos milagres.

B. «Ora então vivia em Enganim um velho, por nome Obed.»


(linhas 27 a 100)
1. Transcreve a passagem em que o narrador dá a conhecer o sentimento mais mar-
cante da personagem Obed.
1.1. A que se devia esse sentimento da personagem?
1.2. Identifica o recurso expressivo utilizado pelo narrador para apresentar essa
característica da personagem. Explica o sentido desse recurso expressivo.

2. Certo acontecimento demonstrou o caráter ilusório do referido sentimento. Indica-o.


2.1. Transcreve a enumeração usada no texto para se sugerir o resultado desse aconte-
cimento nas encostas de Obed.
2.2. A quem atribuiu Obed a sua má sorte?

3. Que ideia fazia Obed de Jesus da Galileia e como imaginava ele conseguir ajuda para o
seu problema?
3.1. Poderia o leitor acreditar, neste momento do texto, que Jesus Cristo auxiliaria
Obed? Justifica a tua resposta.

4. Reconstitui as etapas do percurso dos servos de Obed desde a partida até ao regresso
a Engandim, completando o quadro.

Espaço percorrido Personagens encontradas Informações obtidas

7
5. Atenta nos traços caracterizadores do fariseu.
5.1. Que traços físicos do fariseu melhor evidenciam o seu estado de espírito perante
os servos de Obed? Justifica a tua resposta.
5.2. Qual é a reação do fariseu perante a pergunta que lhe é dirigida? Justifica,
transcrevendo uma passagem do texto.
5.3. Que recursos expressivos são utilizados nessa passagem?

6. Posiciona-te relativamente ao comentário seguinte, justificando a tua opção.


► A reação dos servos de Obed às palavras do fariseu prova que eles não acreditavam

verdadeiramente em Jesus de Galileia.

7. Podemos interpretar este momento do conto como uma lição, com contornos de
castigo, para Obed. Que acontecimento narrado corresponde a essa lição?
7.1. Partindo do que leste, apresenta a razão por que Obed foi assim castigado.

C. «Por esse tempo, um centurião romano, Públio Sétimo, comandava o


forte (…)» (linhas 101 a 171)
1. Completa o quadro seguinte com os recursos linguísticos usados pelo narrador nas
linhas 105 a 113 para sugerir os efeitos desse mal e a lentidão com que ia matando a
filha do próspero Públio Sétimo.

Uso de formas verbais


no pretérito imperfeito Uso expressivo
do indicativo e no de nomes Uso expressivo Recurso
gerúndio e adjetivos de advérbios expressivo

a) b) c) d)

1.1. A ideia de um tempo que avançava lentamente para um triste fim é igualmente
transmitida nas linhas 114 a 117. Explica como se transmite essa ideia.

2. Os soldados de Públio Sétimo espetaram ramos de oliveira nos seus elmos, como sinal
de paz. Contudo, o seu comportamento contrasta com esse símbolo.
Caracteriza esse comportamento dos soldados apoiando-te em passagens do texto.
2.1. Indica a razão apresentada no texto para tal comportamento dos soldados.
2.2. Apresenta três exemplos da reação do povo judeu à passagem dos soldados
romanos em busca de Jesus.
2.3. Transcreve o advérbio que, no final no décimo parágrafo, sintetiza o modo como
se comportavam os soldados romanos.

3. De Jesus, os soldados romanos «só encontraram o sulco luminoso nos corações»


(linhas 130-131). Explica, por palavras tuas, a passagem citada.

8
3.1. Apresenta o contraste que encontramos entre os efeitos da passagem dos soldados
de Públio Sétimo e os efeitos da passagem de Jesus.

4. «Então, devagar, com a cabeça derrubada, como numa tarde de derrota, os soldados
recolheram a fortaleza de Cesareia.» (linhas 166-167) Justifica este comportamento
dos soldados.

5. Traça o percurso realizado pelos soldados de Públio Sétimo do princípio ao fim do conto.

6. Apresenta o contraste entre as ideias de morte e de vida presentes no décimo


terceiro parágrafo.
6.1. Em que medida representa esse contraste um castigo para Públio Sétimo por ter
imaginado que poderia exercer o seu mando sobre Jesus?

D. «Ora entre Enganim e Cesareia, num casebre desgarrado, sumido na


prega de um cerro, vivia a esse tempo uma viúva (…)» (linhas 172 a 230)
1. Que relação é possível estabelecer entre a viúva, Obed e Públio Sétimo? Justifica a tua
resposta.

2. Caracteriza o espaço em que decorre a ação protagonizada pela viúva.

3. Refere o estado em que se encontravam a mulher e a criança antes da chegada de Jesus.

4. Exemplifica o uso dos recursos linguísticos indicados em baixo:


a) formas verbais do gerúndio usadas na caracterização da criança;
b) comparação usada na caracterização da mulher;
c) comparação usada na descrição das condições de vida da família;
d) hipérbole usada para caracterizar a situação daquela mãe como a pior possível;
e) comparação usada na caracterização da voz da criança, sugerindo a sua fragilidade;
f) personificação do sofrimento da família, usada no discurso da mãe;
g) antítese usada para sugerir a dimensão do sofrimento da criança, exteriorizado
através do seu choro;
h) antítese usada na fala da criança, para sugerir a desproporção do seu mal;
i) tripla adjetivação usada no discurso da mãe, para fazer a sua própria caracterização.

5. Transcreve a expressão temporal que introduz uma alteração na situação descrita.


5.1. Identifica os dois comportamentos do mendigo que permitem amenizar por
instantes a difícil situação da família.
5.2. Transcreve a expressão em que o mendigo menciona a condição necessária para

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se concretizar um encontro com Jesus.

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6. «E todos voltavam, como derrotados, com as sandálias rotas, sem ter descoberto em
que mata ou cidade, em que toca ou palácio, se escondia Jesus.» (linhas 200- 201)
Identifica as antíteses presentes nesta frase e explica o seu sentido.

7. Qual é o pedido que o filho faz à mãe?


7.1. Indica os argumentos usados pela mãe para dissuadir o filho relativamente ao
pedido que este lhe faz.

8. «— Aqui estou.» (linha 230)


Relaciona o final do conto com o seu título e a sua moralidade.

9. Embora sem nunca se revelar até ao final do conto, a presença da personagem principal
vai sendo pressentida, entre outros aspetos, graças à repetição do seu nome próprio e
à utilização sucessiva de expressões que o vão substituindo à medida que a ação se
desenrola. Indica expressões que, ao longo do conto, sejam utilizadas em substituição
do nome próprio Jesus.
9.1. Indica o recurso expressivo a que corresponde essa substituição do nome próprio da
personagem principal por outras expressões que permitam identificá-la também.

ESCRITA

1. Ao longo do conto, a presença de Jesus vai sendo pressentida pelo leitor, sendo que a
mesma apenas se concretiza no momento final. Tendo em conta a leitura que
efetuaste, escreve um comentário crítico, com 120 a 160 palavras, sobre a forma como
essa presença vai sendo apenas percetível à medida que a ação do conto avança e as
razões por que se concretiza somente no seu exato momento final.
O teu texto deverá incluir uma parte introdutória, uma parte de desenvolvimento e
uma parte de conclusão.
Organiza a informação de acordo com os tópicos seguintes:
► identificação do conto e do seu autor;

► referência à personagem Jesus e ao facto de ser procurada por várias outras

personagens;
► caracterização das personagens que mandam procurar Jesus;

► breve síntese dos esforços desenvolvidos pelas personagens que procuram Jesus e

das informações obtidas pelas mesmas;


► apresentação das razões por que Jesus não se revela a essas personagens;

► referência à situação vivida pela família apresentada no final do conto e à mensagem

do mendigo;
► referência ao contexto em que surge Jesus no final do conto;

► apresentação da moralidade do conto.

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Cenários de resposta

Leitura
A.
1. Situar a ação no espaço e no tempo e apresentar a personagem Jesus.

2. Concentra-se no «homem de olhos ardentes e deslumbrados» que veio anunciar o «novo


profeta».
2.1. Divulgar os milagres do «novo profeta» e deixar uma mensagem de esperança nos que o
ouvem.
2.2. Os olhos eram «ardentes e deslumbrados», devido ao fervor e ao encanto com que
divulgava os milagres de Jesus.

3. Jesus sarara da lepra o servo de um decurião romano, estendendo sobre ele a sombra das
suas mãos, e ressuscitara a filha de Jaira.

4.
a) Falsa: não respondeu quando o povo o interrogou se o profeta era verdadeiramente o
«Messias de Judeia».
b) Verdadeira: deixaram nos ouvintes «uma esperança, deliciosa» que foi alastrando.

B.
1. «[…] e com o coração tão cheio de orgulho como o seu celeiro de trigo».
1.1. Devia-se à sua riqueza e prosperidade.
1.2. Comparação: associa a dimensão dos bens de Obed à dimensão do seu orgulho, comparando o
«coração» e o «celeiro» de Obed com o conteúdo de ambos, ou seja, o «orgulho» e o «trigo».

2. A destruição dos bens de Obed, em consequência do vento «árido e abrasado».


2.1. «em torno dos olmos e pilares despidos, sarmentos, cepas mirradas, e a parra roída de
crespa ferrugem».
2.2. Atribuiu-a ao «Deus cruel».

3. Imaginava que seria um feiticeiro capaz de fazer magia com maior vigor e que o ajudaria a
troco de dinheiro ou de alfaias.
3.1. Não, porque facilmente reconhecerá o erro do juízo de Obed sobre Jesus Cristo.

4. Lago de Tiberíade; Pescador; Desde o mês de Ijar, o «rabi de Nazaré» seguira, com os seus
discípulos, o curso do Jordão. Vau do rio Jordão; Homem da tribo dos Essénios; O «novo rabi
da Galileia» atravessara o oásis de Engandi e adiantara-se para as terras de além-Jordão, a
planície de Moab. Poço de Jacob; Cameleiros; Um «rabi maravilhoso» fizera milagres em
Gadara. Gadara e nascentes de Amalha; Nessa madrugada, Jesus embarcara num batel de
pesca e navegara para Magdala. Terras da Judeia Romana; Fariseu; Não existiam profetas ou
milagres fora de Jerusalém, e da Galileia surgiam os néscios e os impostores.

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5.1. A face «adunca» que «escureceu enrugada», a «cólera», que «retumbou como um tambor
orgulhoso», o «punho erguido, todo enrodilhado de dísticos sagrados», a fúria com que
apedrejou os servos de Obed e o modo como, «uivando», se lhes dirigiu.
5.2. A face, porque escureceu enrugada em consequência da sua cólera, o punho enrodilhado de
dísticos sagrados, que ergueu devido a essa cólera, e a voz, porque era semelhante a um
uivo quando insultou os escravos de Obed.
5.3. Na passagem «[…] e a sua cólera retumbou como um tambor orgulhoso», são utilizadas a
comparação e a personificação.

6. O comentário está correto, pois desistiram de procurar Jesus e regressaram a Enganim.

7. A perda do gado e das vinhas enquanto cresciam alegremente a fama de Jesus e a esperança
que ela trazia.
7.1. Foi castigado por ser orgulhoso ao ponto de acreditar que Jesus o auxiliaria em troca do seu
dinheiro ou de alfaias.

C.
1.
a) «roía», «definhava», «alongando».
b) «dor», «verme», «mal subtil e lento, estranho», «Branca e triste», «negros olhos tristes».
c) «palidamente», «saudosamente», «vagarosamente».
d) Comparação: «uma dor roía a sua prosperidade muito poderosa, como um verme rói um
fruto muito suculento»; «Branca e triste como a Lua num cemitério».
1.1. É transmitida através da descrição do voo da flecha que um legionário «apontava vagarosa-
mente» ao céu e que ia varar uma águia, seguida pelos olhos da filha de Públio Sétimo até
«bater morta sobre as rochas».

2. Manifestaram um comportamento agressivo e desrespeitoso: «invadiam os casais, rebuscavam


a espessura dos pomares, esfuracavam com a ponta das lanças a palha das medas»;
«derramavam com tumulto a sua cólera»; «detinham os peregrinos, gritando o nome do rabi,
rasgando os véus às virgens»; «invadiam as ruas estreitas dos burgos, penetravam nas sinagogas
e batiam sacrilegamente com os punhos das espadas nas Thebahs»; «arrastaram os solitários
pelas barbas para fora das grutas, para lhes arrancar o nome do deserto ou do palmar em que
se ocultava o rabi»; «dois mercadores fenícios […] a quem nunca chegara o nome de Jesus,
pagaram por esse delito cem dracmas a cada decurião».
2.1. Desconfiavam que os judeus quisessem esconder «o seu feiticeiro», para que os romanos
não tirassem proveito dos seus feitiços.
2.2. «as mulheres, assustadas, para os amansar, logo acudiam com bolos de mel, figos novos, e
malgas cheias de vinho»; «Já a gente dos campos, mesmo os bravios pastores de Idumeia,
que levam as reses brancas para o Templo, fugiam espavoridos para as serranias»; as velhas
sacudiam como taleigos a ponta dos cabelos desgrenhados, e arrojavam sobre eles as Más
Sortes, invocando a vingança de Elias».
2.3. «tumultuosamente».

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3. Os soldados romanos apenas souberam da passagem de Jesus através da esperança que ia
deixando nas populações.
3.1. Os soldados deixavam o medo e a revolta; Jesus deixava a esperança e a alegria.

4. Desistiram de procurar Jesus, em face das palavras do velho encontrado à porta de um


templo, que os acusou de acreditarem em profetas que desafiavam a ordem instituída pelos
deuses.

5. Saíram de Cesareia, seguiram pela estrada romana que atravessava a tetrarquia de Herodes,
correram a Baixa Galileia, chegaram às cercanias de Hébron, erraram até Áscalon e
regressaram à fortaleza de Cesareia.

6. Encontramos o contraste entre a morte da filha de Públio Sétimo e a vida que a fama de Jesus
proporcionava.
6.1. A sua filha morre sem que ele tivesse conseguido obter o auxílio de Jesus, cuja fama, no
entanto, continuava a difundir-se e a trazer alento.

D.
1. Relação de contraste: a miséria e o abandono da mulher opõem-se à prosperidade e ao poder
de Obed e Públio Sétimo.

2. Decorre num lugar isolado e miserável.

3. Antecedentes: a doença da criança, que jazera sete anos numa «enxerga apodrecida»,
«mirrando e gemendo», o facto de a doença também ter engelhado a mãe «dentro dos
trapos nunca mudados, mais escura e torcida que uma cepa arrancada» e a miséria de ambos,
que não tinham outro alimento além de ervas cozidas.

4.
a) «mirrando» «gemendo»;
b) «mais escura e torcida que uma cepa arrancada»;
c) «E, sobre ambos, espessamente a miséria cresceu como o bolor sobre cacos perdidos num ermo»;
d) «a mãe mais vergada, mais abandonada»;
e) «num murmúrio mais débil que o roçar de uma asa»;
f) «a nossa dor mora connosco, dentro destas paredes, e dentro delas nos prende»;
g) «A criança, com duas longas lágrimas na face magrinha»;
h) «E eu ainda tão pequeno, e com um mal tão pesado»;
i) «Tão rota, tão trôpega, tão triste».

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5. «Um dia».
5.1. Partilha do seu farnel com a mãe e fala de Jesus.
5.2. «mas para enxergar a claridade do seu rosto, só aqueles ditosos que o seu desejo escolhia
indicada pelo mendigo no seu discurso».

6. Uso das palavras «mata»/«cidade» e «toca»/«palácio», que transmitem a extensão do


percurso realizado pelos servos de Obed e pelos soldados de Públio Sétimo em busca de
Jesus, bem como a inutilidade dos seus esforços.

7. O filho pede à mãe para lhe trazer Jesus.


7.1. A mãe argumenta que, não tendo Obed ou Públio Sétimo encontrado Jesus, não poderia
ela, tão miserável, consegui-lo. Argumenta ainda que não poderia abandonar o filho para
procurar Jesus e que, se o fizesse, estaria à mercê de dificuldades várias.

8. Enquanto os servos de Obed e os soldados de Públio Sétimo, a mando desses homens orgulhosos,
se esforçaram por encontrar Jesus, sem acreditarem verdadeiramente no seu poder, bastou o
pedido sincero e humilde de uma pobre criança, que acreditou verdadeiramente na sua
mensagem, para que Jesus fizesse o «suave milagre» de lhe aparecer, cumprindo o seu simples
desejo.

9. «rabi da Galileia»; «rabi de Nazaré»; «profeta novo da Galileia».


9.1. Sinédoque.

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