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O desejado

Neste poema Fernando Pessoa dirige-se a D. Sebastião por meio de uma


apóstrofe (“onde quer que [...] jazas”, “ergue-te”). Os dois primeiros versos do poema
transmitem a ideia do mito e mistério que rodeia esta personagem através do uso das
palavras e expressões “entre sombras e dizeres” e “sonhado”. O autor não pretende
referenciar D. Sebastião enquanto personagem histórica mas sim enquanto ideia
mítica, sendo que a única passagem no poema que remete para a pessoa D. Sebastião
é “Onde quer que [...] jazas, remoto”, referindo-se esta última palavra à batalha de
Alcácer-Quibir, local onde D. Sebastião histórico morre e nasce a lenda. Esta ideia é
perpetuada pelos dois próximos versos seguintes: “E ergue-te do fundo de não-
seres\ /Para o teu novo fado”, sendo este fundo um eufemismo para a morte física de
D. Sebastião e o erguer para um novo fado um apelo para que prevaleça o mito do
homem e carregue este consigo uma nova missão, uma missão como sinal de
esperança e iniciativa para o povo português.
Na segunda estrofe, o poeta referencia Galaaz, o mais nobre e puro cavaleiro
da Távola Redonda, o único capaz de ascender ao seu verdadeiro propósito,
obter aperfeiçoamento moral necessário para alcançar o Santo Graal, cálice que Jesus
Cristo utilizou durante a Última Ceia. Com esta referência, F. Pessoa passa novamente
a ideia que assim como Galaaz o mito de D. Sebastião também tem uma missão
superior e divina, neste caso de apaziguar e encaminhar para a glória uma nova era “A
alma penitente” do seu povo. Por fim, na última estrofe, o autor dirige-se D. Sebastião
como “Mestre da Paz”, continuando ainda a sua analogia à com a lenda arturiana,
pedindo-lhe que erga o seu “gládio ungido”, chamando lhe até Excalibur do Fim, um
símbolo de força e poder que F. Pessoa indiretamente atribui à ideologia perpetuada
pelo mito de D. Sebastião […]. De seguida o autor refere que esta Luz será revelada “ao
mundo dividido”, contemplando os 4 Impérios que fazem o mundo, o Grego, o
Romano, o Cristão e o Inglês, representando cada um certos contributos imateriais que
deverão, no ver de F. Pessoa, ser compilados num final e iluminado Quinto Império,
sendo esta ideia culminada pela referência ao objetivo máximo da lenda arturiana, o
Santo Graal. Este poema denomina-se “O desejado” pois era o cognome do rei e realça
o papel de D. Sebastião mítico, símbolo de esperança, ideal, aventura, risco, como
peça necessária (desejada) para dar forças ao povo português para completar a sua
missão.

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