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Fichas de Leitura

BIOGRAFIA

Nome Turma Data

Lê o texto. Se necessário, consulta as notas.

OBRIGADO, LUIS SEPÚLVEDA, PELO PORTO DE HAMBURGO


Afonso Reis Cabral
- Em 1999, o porto de Hamburgo ficava em
- Ferreira do Zêzere. Na cama do quarto de cima,
- na casa de banho, na sala, a um canto do sofá,
- enquanto os adultos jogavam Bridge: o porto
5 de Hamburgo lavava o verão com águas que eu,
1
- com nove anos, imaginava escuras de crude ,
- atacadas por um mal desconhecido. E era tal a
- aflição de acudir àquela gaivota ferida, vinda do
- alto-mar, que eu dava voltas à casa em busca
10 de algo com que a salvar.
- A Teresa, prima do meu pai e melhor amiga da minha mãe, dera-me o livro no dia anterior e
- eu guardei-o como um achado, antes de ler a dedicatória: “Para um menino muito especial que
- bem podia ensinar gaivotas a voar”. Como verdadeira criança, acreditei nesse encantamento:
- seria capaz de criar uma gaivota – e, para a Teresa, seria especial. Ainda não sabia que ser
15 criança é ter fé em tais dedicatórias.
- Mas Zorbas – o gato grande, preto e gordo – tratava de resgatar o ovo por mim.
- Enquanto este não eclodia, os meus pais levavam-me pelas margens do Zêzere em busca de
- lagostins, cujos rastos de fuga eram uma caça aos gambozinos. A Joana tinha vinte e poucos
- anos, nadava no Zêzere sem medo dos lagostins, e saía da água com tal beleza, com tais
20 movimentos de coisa bem escrita, que a julgava capaz de dissipar todo o crude do mundo.
- Regressado a casa, ansioso, percebi que à beleza se responde com beleza. Chamei a Joana a
- um canto da sala, anda daí que te quero ao pé de mim, e esperei que ela me olhasse nos olhos
- para lhe dizer de surpresa, de mansinho e de coração: “Amo-te.” Acho que ela sorriu, talvez
- tenha afagado o meu cabelo, falta-me a memória de um abraço; seja como for, ela sorriu e foi
25 ter com a Teresa, que me disse: “Por enquanto, quero a minha filha para mim, pode ser?”
- A partir daí, a Joana evitou-me de surpresa, de mansinho e de coração, a ver se eu
- acalmava, a ver se encontrava beleza noutra pessoa, noutro sítio. A Teresa apontou-me o livro
- de Sepúlveda, num gesto que dizia “continua a ler”, e eu passei as noites lendo enquanto ouvia
- as discussões do Bridge e a voz ensonada da Joana.
30 Quanto mais acompanhava o zelo de Zorbas, mais o identificava com o zelo da Teresa e a
- discrição da Joana, e quando os gatos votaram para falarem com os seres humanos, entendi
2 3
- quanto custava quebrar um tabu . Incomodado com as tiradas macacas de Matias, temendo
- que Ditosa quisesse continuar gato em vez de se tornar gaivota, não me achava merecedor da
- dedicatória da Teresa, e estava visto que não merecera o amor da Joana.
35 Na última noite de leitura, as discussões dos adultos estavam em ponto de rebuçado e a voz
- da Joana sonolenta e distante mais e mais. Na página final, a minha barriga caiu em vertigem

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Fichas de Leitura

acompanhando Ditosa, acabada de empurrar da torre por Zorbas. Mas a gaivota evitou o chão
e voou sobre o porto de Hamburgo, por fim sabendo ser ave. Adormeci pouco depois, certo de
que às quedas se seguem os voos.
40 Hoje, no meu porto de Hamburgo, Sepúlveda ainda escreve, eu ainda digo à Joana “Amo-
- -te”, e a Teresa ainda é viva.

Público, edição online de 17/04/2020 (consultado em 17/04, texto com supressões).


VOCABULÁRIO:
1
crude: petróleo em bruto.
2
tabu: assunto de que não se pode falar.
3
tirada: fala, discurso.

1. Escreve a sequência de letras que corresponde à ordem pela qual as informações, apresentadas
de (A) a (E)¸ aparecem no texto. Começa pela letra (E).
(A) A criança declarou o seu amor a Joana.
(B) A criança vai com os pais ao rio.
(C) A beleza de Joana deixa o menino encantado.
(D) A Teresa sugeriu-lhe que lesse o romance de Sepúlveda.
(E) A criança recebeu de presente o livro de Sepúlveda.

2. Seleciona, com um X, a opção que completa corretamente cada frase (2.1 a 2.4).
2.1. Quando leu que as águas do porto de Hamburgo estavam cheias de crude, o menino
(A) quis ir atacar aquele mal.
(B) quis ir salvar uma gaivota.
(C) quis ir salvar os lagostins do Zêzere.
(D) pediu aos pais que salvassem a ave.

2.2. No período em que leu o romance de Sepúlveda, por vezes, a criança


(A) pedia ajuda à Joana.
(B) ia até ao rio Zêzere.
(C) jogava Bridge.
(D) nadava com a Joana.

2.3. O namoro entre Joana e o narrador não aconteceu


(A) por culpa da Teresa.
(B) porque a Joana gostava de outro.
(C) por ele não ter acabado a leitura.
(D) porque ela não o levou a sério.

2.4. Com a leitura do romance de Sepúlveda, o narrador aprendeu que


(A) depois de um fracasso vem um sucesso.
(B) ler um livro pode ser muito cansativo.
(C) as discussões dos adultos não são importantes
(D) não era merecedor da dedicatória de Teresa.

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Fichas de Educação Literária

O CAVALEIRO DA DINAMARCA

Nome Turma Data

Lê o excerto de O Cavaleiro da Dinamarca, de Sophia de Mello Breyner Andresen, e consulta as notas


de vocabulário.

EM FLORENÇA
- E no princípio de maio chegou a Florença.
- Vista do alto das colinas floridas a cidade erguia no céu azul os seus telhados vermelhos,
1 2
- as suas torres, os seus campanários , as suas cúpulas . O Cavaleiro atravessou a velha ponte
3
- sobre o rio, a ponte ladeada de pequenas lojas onde se vendiam coiros, colares de coral, armas,
5 pratos de estanho e prata, lãs, sedas, joias de oiro.
- Depois foi através das ruas rodeadas de palácios, atravessou as largas praças e viu as igrejas
- de mármore preto e branco com grandes portas de bronze esculpido. Por toda a parte se viam
- estátuas. Havia estátuas de mármore claro e estátuas de bronze. Outras eram de barro pintado.
- E a beleza de Florença espantou o Cavaleiro tal como o tinha espantado a beleza de Veneza. Mas
4 5
10 aqui tudo era mais grave e austero .
- Procurou a casa do banqueiro Averardo, para o qual o seu amigo veneziano lhe tinha dado
- uma carta.
- O banqueiro recebeu-o com grande alegria e hospedou-o em sua casa.
- Era uma bela casa, mas nela não se via o grande luxo dos palácios de Veneza. Havia uma
15 biblioteca cheia de antiquíssimos manuscritos, e nas paredes estavam pendurados quadros
- maravilhosos.
- Ao fim da tarde chegaram os amigos do banqueiro Averardo.
- Sentaram-se todos para cear e, enquanto comiam e bebiam, iam conversando.
- Então o espanto do Cavaleiro cresceu.
20 Na sua terra ele procurava a companhia dos trovadores e dos viajantes que lhe contavam as
- suas aventuras e as histórias lendárias do passado. Mas agora, ali, naquela sala de Florença,
- aqueles homens discutiam os movimentos do Sol e da luz, e os mistérios do céu e da terra.
- Falavam de matemática, de astronomia, de filosofia. Falavam de estátuas antigas, falavam de
- pinturas acabadas de pintar. Falavam do passado, do presente, do futuro. E falavam de poesia,
25 de música, de arquitetura. Parecia que toda a sabedoria da terra estava reunida naquela sala.
- Já no meio do jantar levantou-se uma discussão sobre a obra de Giotto.
- - Quem é Giotto? - perguntou o Cavaleiro.
- - Giotto - respondeu do outro lado da mesa um homem de belo aspeto e longos cabelos
- anelados que se chamava Filippo - é um pintor do século passado que foi discípulo de Cimabué.

Sophia de Mello Breyner Andresen, O Cavaleiro da Dinamarca, Porto, Porto Editora, 2017, pp. 21-23.
VOCABULÁRIO:
1
campanário: torre com sino.
2
cúpula: parte externa e superior dos monumentos.
3
ladeado: acompanhado (ao lado).
4
grave: solene, sério.
5
austero: rigoroso.

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Fichas de Educação Literária

1. Assinala, com um X, as expressões que correspondem às primeiras imagens que o Cavaleiro teve
de Florença.
(A) Cidade erguida em colinas floridas.
(B) Cidade com edifícios altos de telhados vermelhos.
(C) Cidade com um grande aglomerado de casas de telhado vermelho.
(D) Cidade de comércio diversificado.
(E) Cidade de comércio especializado em enfeites.
(F) Cidade com arte dispersa pelas ruas.
(G) Cidade com arte reunida em várias igrejas.

2. Compara a reação do Cavaleiro relativamente às cidades de Florença e de Veneza, referindo um


aspeto semelhante e outro diferente.

3. Justifica a impressão do Cavaleiro: “Parecia que toda a sabedoria da terra estava reunida naquela
sala”. (linha 25)

4. Associa as expressões da coluna A aos recursos expressivos que evidenciam na coluna B.

Coluna A Coluna B
A. “lojas onde se vendiam coiros, colares de coral, armas, pratos 1. Dupla adjetivação
de estanho e prata, lãs, sedas, joias de oiro” (linhas 4-5) 2. Comparação
B. “a beleza de Florença espantou o Cavaleiro tal como o tinha 3. Enumeração
espantado a beleza de Veneza” (linha 9) 4. Metáfora
C. “aqui tudo era mais grave e austero” (linha 10) 5. Personificação

5. Seleciona o adjetivo que melhor descreve o comportamento das seguintes personagens.

Cavaleiro Averardo Filippo

vaidoso curioso inculto trocista hospitaleiro conhecedor

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