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DOSSIÊ DO PROFESSOR PALAVRAS 12

TEXTOS COMPLEMENTARES

SEQUÊNCIA 0 – Diagnóstico Texto 3

23 Abril 2016 • Eduardo Pitta


Radiografar a contemporaneidade pelo crivo do imaginário de Jane
Austen não é para todos. Mas Helena Vasconcelos (n. 1949) arriscou,
e o resultado é uma obra peculiar, de recorte envolvente: Não há
Tantos Homens Ricos Como Mulheres Bonitas Que os Mereçam.
O título adota uma das frases-chave de Mansfield Park. Dividido em
três partes, os Livros I, II e III, o romance confronta a atualidade com
as idiossincrasias da Era Austeniana. Não o faz por artifício. Trata-se
de pôr em pauta o lugar da mulher na sociedade.
Com desembaraço, a autora faz um tour d'horizon ao universo de
Austen, estratagema que ajuda a fixar o retrato de Ana Teresa,
heroína apostada em "valorizar a sua própria banalidade". Não é
inocente que Ana Teresa, sendo portuguesa, tenha origem
estrangeira. Nem surpreende que essa circunstância sirva para
sublinhar temas como género e identidade, centrais ao ensaísmo de
Helena Vasconcelos.
O facto de Ana Teresa viver longe dos pais (cada um em seu país), e ter sido criada a partir dos 10
anos pela avó paterna, Marianne DeWalt, mulher de convicções fortes e hábitos permissivos, faz dela,
na segunda década do século XXI, uma outsider da Lisboa convencional das Avenidas Novas.
Aqui chegados, já o leitor estabeleceu pontes com o legado de Austen, feminista avant la lettre que
escreveu sobre o quotidiano daquela parcela do mundo que, ao mesmo tempo que preservava o
equilíbrio do tecido social, escapou à devastação napoleónica.
A autora calibra o plot com a naturalidade e a segurança de quem relata uma história linear. Ora o
romance de Helena Vasconcelos será tudo menos linear. Veja-se como do Livro I para os seguintes o
tempo da narração sofre uma forte guinada. Afinal, nem tudo é como na pacata Steventon.
Verdade que a clave irónica da close reading austeniana transforma o livro em obra aberta, pós-
modernista em sentido amplo. Drible perfeito: com material na aparência "fútil" se fez um belo romance
de ideias.
Nada de confusões com a empáfia indígena que todos os dias presume ter descoberto a roda.

Crítica de Eduardo Pitta


Nota: 5 estrelas
http://www.sabado.pt/gps/detalhe/critica_de_livros_nao_ha_tantos_homens_ricos_como_mulheres_bonitas_que_os_
merecam.html (consultado em 1/2/2017)

Tópicos de análise
1. Assunto do texto.
2. Organização interna.
3. Atualidade do tema.
4. Relação com obras lidas.

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