As noites estão mais curtas mas, durante o mês de julho, ficam melhores e parecem mais compridas porque passamos mais tempo fora de casa, à noite, que se torna cada vez mais quente. À noite não interessa tanto a duração como a temperatura. Mesmo para quem trabalha, poder trabalhar de janelas abertas e, em troca, receber o calor que o sol deixou no ar, na lua e no luar, parece um milagre tão imerecido como bem-vindo. As noites começaram a ser boas. Os dias – que Deus os proteja – até podem ser quentes de mais. É bom passar o dia escondido por não se aguentar o calor e sair-se só ao fim da tarde. É bom acordar ao meio-dia e – por a luz ser muita – readormecer para ir almoçar às três da tarde, à sombra e aberto ao friozinho da nortada sobre o mar morno de mais para se preocupar Miguel Esteves Cardoso. com esses contratempos. O melhor mês é este: julho. Junho é hesitante e agosto tem, como Janus, duas caras antagónicas. O verão português é esperado ou amaldiçoado durante dez meses e é bem-vindo ou mal recebido durante os dois únicos meses em que tem uma hipótese de vencer. As noites que aí vêm são as melhores que vamos ter. Quantos países têm o luxo de ter noites que, do pôr ao nascer do sol, ocorrem diariamente sem se ter o mais pequeno indício de frio ou de calor excessivo? Poucos. Portugal é o mais temperado dos países temperados. Temos sorte. Aproveitemos a sorte que temos todos os anos, por estes tempos. O melhor mês é julho e Portugal é o melhor país para saboreá-lo e sabê-lo.
Miguel Esteves Cardoso. Disponível em: https://www.publico.pt/sociedade/noticia/o-melhor-mes-e-este-1737116?frm=opi
(consultado em 04.07.2016).
Tópicos de análise 1. Assunto do texto. 2. Organização interna do excerto. 3. Opinião veiculada. 4. Argumentos.