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MORFOMETRIA DE MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS NO PARQUE ESTADUAL

FORNO GRANDE, ES

Bruno Camata Andreon, Iulo Pessotti Moro, Cassia dos Santos Azevedo,
Lunalda Aparecida Vaz Pola, Roberto Avelino Cecílio, Sidney Sara Zanetti

Universidade Federal do Espírito Santo/Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais,


Avenida Governador Lindenberg, 316, Centro – 29.550-000 – Jerônimo Monteiro-ES, Brasil,
brunocamata@gmail.com, iulo.floresta@gmail.com, cassiasantosa@outlook.com,
lunaldapola@gmail.com, roberto.cecilio@ufes.br, sidney.zanetti@ufes.br

Resumo
Este trabalho teve como objetivo determinar as características morfométricas das microbacias
hidrográficas do Parque Estadual Forno Grande (PEFG). Tais microbacias, contíguas, culminam no
pico do PEFG, a 2039 metros de altitude, apresentando um padrão de drenagem radial. As
características geométricas, perímetros, áreas e comprimentos, foram calculados realizando rotinas
específicas no software ArcGIS 10.5. Então, foi realizada a caracterização morfométrica da geometria
para cada bacia, determinação do coeficiente de compacidade (Kc), fator de forma (Kf), razão de
elongação (Ke) e índice de circularidade (IC), além da determinação das características da hidrografia
das microbacias comprimento dos talvegues, comprimento total dos rios, densidade de drenagem (Dd),
densidade de confluências (Dc) e índice de Sinuosidade (IS). Com base nos resultados, concluiu-se
que as quatro microbacias apresentam baixa tendência a inundações.

Palavras-chave: Morfometria. Hidrografia. Hidrologia. Geoprocessamento. Parque Estadual Forno


Grande.
Área do Conhecimento: Engenharia agronômica – Engenharia Florestal

Introdução

A bacia hidrográfica é uma superfície geográfica definida pelo relevo, delimitada pelos divisores de
águas (linhas que unem os pontos de cotas mais elevadas), drenada por um curso d’água ou por um
sistema conectado de cursos d’água, tal que toda a vazão efluente desague em uma simples saída
(VIESSMAN JR.; LEWIS, 1996)
Guerra e Guerra (2003) classificam a caracterização morfométrica de bacias hidrográficas como o
estudo quantitativo de seu relevo e rede hidrográfica. As características morfométricas de uma bacia
hidrográfica constituem elementos de grande importância para a avaliação do comportamento
hidrológico, estabelecendo relações e comparações com diferentes ambientes. Portanto, estas
informações podem ser úteis para fins de planejamento ambiental e gestão de recursos hídricos, uma
vez que os parâmetros calculados podem nortear o manejo de bacias hidrográficas com fins
conservacionistas e prevenção de desastres (Mendes et al., 2021).
Neste contexto, a caracterização morfométrica de bacias hidrográficas pertencentes a Unidades de
Conservação pode ser um instrumento útil para o gerenciamento sustentável da água nestas áreas. O
Parque Estadual Forno Grande (PEFG) foi criado em 1960 ainda como uma reserva florestal. Possui
relevo montanhoso com variação altimétrica de 1.600 a 2.039 metros, culminando no Pico do Forno
Grande. É o segundo ponto mais alto do estado do Espírito Santo, localizado no município de Castelo
(IEMA, 2022).
Com isso, este trabalho teve como objetivo caracterizar e avaliar a morfometria de quatro
microbacias hidrográficas, adjacentes, inseridas no Parque Estadual Forno Grande (PEFG), uma
Unidade de Conservação relevante para a manutenção da biodiversidade do bioma Mata Atlântica.

Metodologia

A área de estudo compreende quatro microbacias hidrográficas, localizadas no município de


Castelo, estado do Espírito Santo, na região do Parque Estadual Forno Grande (PEFG), entre as

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coordenadas 20º28’30’’ S, 20º33’20’’ S e 41º04’35’’ O, 41º07’45’’ O. Tais microbacias, contíguas,
culminam no pico do PEFG, a 2039 metros de altitude, sendo o ponto de encontro do divisor de águas
das quatro microbacias, apresentando um padrão de drenagem radial (Figura 1).
O clima da região, de acordo com a classificação de Köppen, é o Cwb (subtropical úmido com
inverno seco e verão temperado) (ALVARES et al., 2013). O solo da região é predominantemente o
Cambissolo Háplico Tb distrófico típico (CUNHA et al., 2016).

Figura 1 - Localização das microbacias hidrográficas na área de estudo (PEFG).

Fonte: os autores.

Após a delimitação das quatro microbacias hidrográficas, as características geométricas,


perímetros, áreas e comprimentos, foram calculados realizando rotinas específicas no software ArcGIS
10.5. Então, foi realizada a caracterização morfométrica da geometria para cada bacia, constituindo na
determinação do coeficiente de compacidade (Kc), fator de forma (Kf), razão de elongação (Ke) e índice
de circularidade (IC), definidos conforme Villela e Mattos (1975), conforme equações abaixo:
𝑃
𝐾𝑐 = 0,28 (1)
√𝐴

𝐴
𝐾𝑓 = (2)
𝐿𝐴 2

√𝐴
𝐾𝑒 = 1,128 (3)
𝐿𝐴

𝐴
𝐼𝐶 = 12,57 (4)
𝑃2

Em que:
𝐾𝑐= coeficiente de compacidade;
𝐾𝑒= razão de elongação;
𝑃= perímetro da bacia (km);
𝐴= área da bacia (km²);
𝐿𝐴 = comprimento axial (km);

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𝐼𝐶= índice de circularidade;
𝐿𝑡 = comprimento total dos rios (km);
𝐿𝑟𝑖𝑜 = comprimento do rio principal (km); e
𝐿𝑡𝑎𝑙𝑣𝑒𝑔𝑢𝑒 = comprimento do talvegue (km).

Para as características da hidrografia das bacias, foram calculados os comprimentos dos rios
principais, comprimento dos talvegues, comprimento total dos rios, densidade de drenagem (Dd),
densidade de confluências (Dc) e índice de sinuosidade (IS), conforme as equações abaixo (Villela;
Mattos, 1975):
𝐿𝑡
𝐷𝑑 = (5)
𝐴

𝑁𝑐
𝐷𝑐 = (6)
𝐴

𝐿𝑟𝑖𝑜 − 𝐿𝑡𝑎𝑙𝑣𝑒𝑔𝑢𝑒
𝐼𝑆 = 100 (7)
𝐿𝑟𝑖𝑜

Em que:
𝐷𝑑= densidade de drenagem (km km-2);
𝐷𝑐= densidade de confluências (número de confluências km -2); e
𝐼𝑆= índice de sinuosidade (%).

Resultados

A partir das rotinas de cálculo, em ambiente SIG, foi gerado um mapa com a rede de drenagem,
comprimento axial, comprimento do talvegue e a declividade das microbacias da área de estudo
(Figura 2).

Figura 2 - Características físicas das quatro microbacias hidrográficas da região do PEFG.

Fonte: os autores.

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As características físicas medidas e calculadas, para as quatro microbacias são apresentadas na
Tabela 1. Através destes dados, obtiveram-se as características hidrológicas para as mesmas
microbacias, conforme a Tabela 2.

Tabela 1 - Índices morfométricos relacionados à geometria das bacias hidrográficas do PEFG.


Características geométricas
Ribeirão Córrego Ribeirão Rio Sem
Nome do rio principal
Braço Sul Campina Bateia Nome
Código da microbacia 1 2 3 4
Área (km²) 7,1 5,05 5,14 5,2
Perímetro (km) 18,51 14,24 13,3 14,94
Comprimento Axial (km) 4,86 3,73 3,54 4,38
Kc - coeficiente de compacidade 1,96 1,79 1,66 1,85
Kf - fator de forma 0,30 0,36 0,41 0,27
Ke - razão de elongação 0,62 0,68 0,72 0,59
IC - índice de circularidade 0,26 0,31 0,37 0,29
Fonte: os autores (2022).

Tabela 2 - Índices morfométricos relacionados à hidrografia das bacias hidrográficas do PEFG.


Características da hidrografia
Ribeirão Córrego Ribeirão Rio Sem
Nome do rio principal
Braço Sul Campina Bateia Nome
Código da microbacia 1 2 3 4
Comprimento do rio principal (km) 4,72 4,53 3,84 5,04
Comprimento do talvegue (km) 4,22 3,16 2,91 3,94
Comprimento de todos os rios (km) 10,03 6,22 9,57 8,84
Dd - densidade de drenagem 1,41 1,23 1,86 1,7
Dc - densidade de confluências 0,99 0,59 1,36 0,96
IS - índice de Sinuosidade 11,7 43,53 31,91 28,04
Fonte: os autores.

Discussão

As quatro microbacias do PEFG apresentaram coeficiente de compacidade Kc maior que 1,5. De


acordo com Villela e Mattos (1975), bacias hidrográficas com Kc maior que 1,5 têm menor propensão
a inundações.
Outros índices que relacionam a forma da bacia com a susceptibilidade a inundações são: fator de
forma (Kf), razão de elongação (Ke) e o índice de circularidade (IC). Todos esses parâmetros
calculados indicam baixa propensão a inundações nas quatro microbacias hidrográficas do PEFG.
Ademais, esses valores são similares aos resultados encontrados por Coutinho et al. (2011), para
a bacia hidrográfica do rio Prata, localizada no mesmo município, com características de relevo, clima
e solo semelhantes. No presente estudo foram obtidos também valores de declividade média bem
próximos aos encontrados pelos autores supracitados, sendo considerada uma região com relevo
predominantemente montanhoso a fortemente montanhoso.
As microbacias 1 e 2 tem Densidade de Drenagem (Dd) abaixo de 1,5, consideradas microbacias
com drenagem regular, considerando a relação entre o comprimento total dos rios e a área da bacia.
Já as microbacias 3 e 4 apresentaram uma Dd acima de 1,5, podendo ser considerada com uma boa
drenagem.
Cada microbacia teve uma classificação diferente quanto ao Índice de Sinuosidade, que está
relacionado com a velocidade do deflúvio. A microbacia 1 teve o canal considerado muito retilíneo, a
microbacia 4 teve o canal considerado reto, microbacia 3 considerada com um canal divagante e
microbacia 4 um canal sinuoso. Assim, quanto mais reto o canal, maior a velocidade de deflúvio e
quanto mais sinuoso, menor a velocidade de deflúvio.

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Conclusão

As microbacias hidrográficas do Parque Estadual Forno Grande apresentam índices morfométricos


de Kc, Kf, Ke e IC dentro de intervalos que indicam baixa tendência a inundações.
Entre os índices calculados, houve divergência sobre a Densidade de Drenagem e, principalmente,
sobre o índice de sinuosidade, onde cada microbacia teve uma classificação exclusiva, intrínseca às
suas características.

Referências

ALVARES, C.A.; STAPE, J. L.; SENTELHAS, P. C.; GONÇALVES, J. L. M.; SPAROVEK, G.


Köppen’s climate classification map for Brazil. Meteorologische Zeitschrift, v. 22, n. 6, p. 711-728,
2013.

COUTINHO, L. M.; CECÍLIO, R. A.; XAVIER, A. C.; ZANETTI, S. S.; GARCIA, G. de O.


Caracterização morfométrica da bacia hidrográfica do rio da Prata, Castelo, ES. Irriga, v. 16, n. 4, p.
369-381, 2011.

CUNHA, A. M.; FEITOZA, H. N.; FEITOZA, L. R.; OLIVEIRA, F. S.; LANI, J. L.; CARDOSO, J. K. F.;
TRINDADE, F. S. Atualização da legenda do mapa de reconhecimento de solos do estado do Espírito
Santo e implementação de interface no Geobases para uso dos dados em SIG. Geografares, v. 22,
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GUERRA, A.T.; GUERRA, A.J.T. Novo dicionário geológico-geomorfológico. 3.ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2003. 652 p. IEMA. Parque Estadual Forno Grande. Disponível em:
https://iema.es.gov.br/PEFG. Aceso em 23 ago. 2022.

IEMA. Parque Estadual Forno Grande. Disponível em: https://iema.es.gov.br/PEFG. Aceso em 23


ago. 2022.

MENDES, D. M.; COSTA, D. P.; ROSA, D. M. .; VENDRUSCOLO, J. .; CAVALHEIRO, W. C. S. .;


RODRIGUES, A. A. M. . Morphometry and deforestation of the Pirarara River microbasin, Cacoal,
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PORTO, M. F. A.; PORTO, R. L. Gestão de bacias hidrográficas. Estudos avançados, v. 22, n. 63, p.
43-60, 2008.

VIESSMAN JR., W.; LEWIS, G. L. Introduction to hydrology. 4. ed. [s.l.] Pearson Education, 1996
720 p.

VILLELA, S. M.; MATTOS, A. Hidrologia aplicada. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil. 1975. 245 p.

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