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Companhia de Urbanização de Goiânia

Consumo de água

Escolha de espécies menos exigentes.

É de comum conhecimento a delicada situação que o planeta vive no que diz respeito à
quantidade de água potável. Em Goiânia, percebemos a redução das chuvas e rebaixamento do
nível de lençóis freáticos.
Quando pensamos em plantas ornamentais, automaticamente estamos pensando em
organismos vivos dependentes de água para a sua sobrevivência. A região centro-oeste do Brasil
ainda tem a particularidade de possuir regime pluviométrico bem definido, dividido em duas
estações: chuva e seca. Desse modo, o fornecimento de água para as plantas ornamentais nos
meses de estiagem é condição de sobrevivência para esses vegetais.
Devemos pensar, com as restrições hídricas atuais, em alternativas para otimizar o uso de
água nos processos de manutenção de plantas ornamentais, e a primeira medida seria a utilização
de plantas ornamentais mais tolerantes à seca. Nesse aspecto, sinto-me à vontade para tocar em
um assunto delicado: o plantio de grama esmeralda.
A grama-esmeralda (Zoysia japônica) é uma gramínea herbácea, rizomatosa, estolonífera
e perene, muito ramificada e originária do Japão. É uma grama menos exigente em podas, porém
não resiste bem ao pisoteio quanto à grama-batatais (Paspalum notatum) (Lorenzi, 2015). Esta
última é uma espécie nativa do Brasil, resistente ao pisoteio, seca e a solos pobres. Seca
completamente no inverno, rebrotando logo na primeira chuva (Lorenzi, 2015).
A espécie originária do Japão possui uma grande comodidade de ser comercializada em
placas, fator esse que permite que uma área a ser ajardinada fique com o aspecto de pronta, com
o solo todo recoberto imediatamente pela gramínea, o que me permite de chama-la de uma
“grama-política”, ótima para inaugurações rápidas. Já a espécie nativa do Brasil, só é
comercializada em pedaços, que por mais que sejam plantados completamente unidos, só se terá
o fechamento completo do gramado com 60 a 90 dias após o plantio.
O grande “gargalo” entre as duas espécies é o consumo de água. Quando pensamos em
irrigação, para se conhecer a quantidade de água necessária para satisfazer a demanda hídrica de
uma planta, necessitamos de conhecer os dados de evapotranspiração de referência (Et0) e o
coeficiente de cultura da espécie em questão (Kc). O produto dessas duas grandezas resulta no
conhecimento da quantidade de água necessária por metro quadrado por dia para se irrigar a planta
em estudo.
𝐷 = 𝐸𝑡 𝑥 𝐾
O autor Tomáz (2010) traz em sua obra um conceito novo para o trabalho com plantas
ornamentais. Substitui o Kc por um novo coeficiente, chamado de coeficiente de paisagismo (KL).
Esse coeficiente é obtido pelo produto das seguintes grandezas:
𝐾 = 𝐾 𝑥𝐾 𝑥𝐾
Onde:
Ks = fator das espécies;
Kmc = Fator microclima;
Kd = Fator densidade;

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Ao utilizarmos essa equação para obtermos a demanda hídrica das duas espécies,
plantadas em um mesmo ambiente, temos9:
KL(esmeralda) = 0,9 x 1,0 x 1,0 = 0,9
KL(batatais) = 0,5 x 1,0 x 1,0 = 0,5
Ao considerarmos o valor máximo de evapotranspiração de referência na região de
Goiânia entre janeiro de 2015 e novembro de 2016, temos o valor de Et0 igual a 6,2mm10.
Desse modo, tem-se condição de conhecer e relacionar a demanda hídrica das duas
espécies, como apresentado abaixo:
D(esmeralda) = 6,2 x 0,9 = 5,58mm (5,58 litros de água / m²/dia)
D (batatais) = 6,2 x 0,5 = 3,1mm (3,1 litros de água / m²/dia)
,
𝑅= = ,
= 0,5555 (55,55%).

Pode-se perceber desse modo que a grama batatais demanda por praticamente metade da
água demandada pela a grama esmeralda, apresentando ainda a vantagem de ser mais resistente
ao pisoteio e de se rebrotar completamente após o período de seca.
Em função das restrições hídricas, sugere-se a adoção de plantios preferencialmente com
grama-batatais, e não devendo se irrigar esses gramados durante o período de seca, desde que o
gramado já esteja completamente estabelecido.

Como aplicar a água nas praças.

A forma como a água demandada pelas plantas é aplicada nas praças é outro ponto
polêmico. Pequena parcela das áreas ajardinadas no município de Goiânia possui alguma fonte
autônoma de água11. A grande maioria dessas áreas depende do fornecimento de água via
caminhão pipa.
Mas quanto custa aplicar água com um caminhão pipa? Quais os impactos que esse
meio de aplicação causam no ambiente?
Foi feita uma análise comparativa da irrigação da praça pública situada na Rua Brasil
com Rua Interlândia, no Setor Santa Genoveva. Considerou-se a demanda diária de 24,8m³ de
água e considerou-se também uma irrigação constante durante um período de 6 meses. Percebeu-
se que a irrigação feita com caminhão pipa, para se atingir à demanda diária em um semestre
custaria ao município R$ R$ 122.108,80, o que equivale a R$ 21,04/m³ de água aplicada. A
mesma praça, foi contemplada com um sistema de irrigação automatizada, que considerando o
investimento inicial, mas custo de operação durante um semestre, custará ao município
R$56.378,55, o equivalente a R$ 12,63/m³ de água aplicada.
Percebe-se no exemplo citado uma economia de R$65.730,24, em seis meses de
irrigação da praça mencionada. Tratando o número de forma percentual, ter-se-ia uma economia
da ordem d 54% com a irrigação de praças públicas.
Ao se considerar 20 caminhões pipas disponíveis para o trabalho com irrigação de
praças, e que o custo total de locação, de um caminhão, incluindo combustível e ajudante é de

9
Valores extraídos das tabelas 1.10 a 1.12 do livro Consumo de água em paisagismo (Tomaz, 2010).
10
Utilizando o método de Hargreaves Samani, proposto no comunicado técnico 31 da Embrapa
(Conceição e Mandelli,2005), e dados coletados do Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e
Pesquisa (Inmet, 2017).
11
Água da SANEAGO ou poço artesiano.
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R$27.636,40, os 20 veículos custariam ao município, em 6 meses (estação seca), R$552.728,00.


Nessa situação, a economia de 54% representaria um montante semestral de R$298.437,12.
Além da economia monetária, é importante destacar que para cada caminhão pipa
empregado, há necessidade de um servidor ajudante, e que esses veículos causam um grande
impacto no trânsito durante seu período de trabalho. Deve-se ressaltar também que não há como
controlar a quantidade de água que o ajudante aplica por metro quadrado de área, o que gera
grande desuniformidade na “irrigação” das áreas verdes.
Destaca-se ainda que após o pagamento do investimento do sistema de irrigação, restará
apenas o custo de operação, situado em torno de R$ 2,70/m³ aplicado.
Desse modo, percebe-se que a utilização de sistemas de irrigação automatizada são
opções mais econômicas para a irrigação das áreas públicas do município, e ainda possuem os
benefícios de garantirem a quantidade exata de água para as demandas hídricas das espécies
vegetais, economizarem água e causarem nenhum impacto no trânsito da capital.

Manutenção

Talvez esse seja o maior fator limitante hoje para a manutenção dos espaços públicos de
Goiânia. De nada adianta produzir mudas de qualidade se elas não serão irrigadas no momento
certo, ou se os canteiros não forem capinados, deixando-se o mato abafar as plantas ornamentais.
É extremamente importante corrigirmos as falhas da manutenção que inicialmente se tenham
“praceiros” ou “equipes de verde” focadas na manutenção das plantas ornamentais. O que se
percebe na maioria das situações atuais é que boa parcela dos cuidadores de praças estão focados
na limpeza urbana e não na manutenção de plantas ornamentais.
É importante que esses servidores capinem com regularidade as praças, eliminando as
plantas infestantes pela raiz12 de modo que ao longo do tempo haja redução do banco de sementes
das plantas daninhas e sua consequente eliminação. A monda ganha mais importância quando se
pensa em adotar o sistema de produção de mudas em bandejas, pois as mudas sairão mais cedo
dos viveiros e mais vulneráveis ao abafamento por plantas infestantes nas fases iniciais de
aclimatação.
Há necessidade de se requalificar os servidores que lidam com plantas ornamentais de
modo que possam executar suas atividades sem causar danos aos vegetais.

Mão-de-obra
Considerando a metodologia descrita por (Kampf, Produção comercial de plantas
ornamentais, 2005) cálculo de necessidade de mão-de-obra para a produção de 1.000 mudas
de Cyclamen e fazendo-se as adaptações necessárias para as quantidades e tipos de plantas
produzidos pela COMURG, chegou-se a um número, incluindo reserva técnica de 30% e
servidores administrativos, de 140 servidores destinados exclusivamente para a produção de
mudas ornamentais, representando assim uma economia monetária de 62,96% com mão de
obra envolvida nessas atividades, conforme Anexo I.

Conclusão
Foi demonstrado acima uma série de ações que tem por objetivo aumentar a eficiência
dos serviços prestados pela companhia e proporcionar economia para o município, ficando claro

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Esse procedimento é conhecido pelo nome de “monda”.
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