Você está na página 1de 12

a crise da água

Fechar a torneira, armazenar chuva e buscar água no espaço: há vários


caminhos possíveis para tentar resolver a crise. Confira oito
possibilidades, da mais simples para a mais esdrúxula.
betoside@gmail.com
Superinteressante

tem solução?

• caminho mais fácil


• caminho mais difícil

O investimento em técnicas mais eficientes de irrigação e o desenvol-


vimento de sistemas sanitários mais modernos, como descargas mais
econômicas, são etapas importantes no combate ao desperdício. Mas
um dos primeiros passos é fiscalizar melhor o sistema de coleta e dis-
tribuição de água. No Brasil, cerca de 40% da água tratada por esse
sistema acaba perdida antes de chegar à população por vazamentos
nos canos, ligações clandestinas e redes com defeitos por falta de
manutenção. É uma perda muito acima do considerado adequado. A
meta do Plano Nacional de Saneamento, definido em junho de 2013, é
que o Brasil diminua esse índice de perdas na distribuição de água
para 31% até 2033. Mas ainda é um número bem modesto: em algu-
mas cidades da Alemanha e do Japão, esse índice é de apenas 11%. Na
Austrália, que passou por um período histórico de secas, a média sobe
para 16%, ainda bem menos que a gente. A solução seria instalar
sistemas computadorizados que identifiquem vazamentos rap-
idamente e permitam sua correção em pouco tempo. Para Glauco
Kimura de Freitas, da ONG WWF Brasil, as agências reguladoras
deveriam criar incentivos e certificações de boas práticas para empre-
sas de esgoto que melhorem seus sistemas.

Outro passo importante seria a individualização da hidrometria. Se


você mora em prédio, já percebeu que não dá pra saber exatamente
quanta água você consome por mês. Com a implantação de um marca-
dor de água para cada apartamento, seria possível ter uma noção real
do próprio gasto. E, principalmente, do próprio desperdício.
prós:

Usar a água com consciência é a solução mais sustentável para a crise


porque não afeta o meio ambiente e garante recursos suficientes para
o futuro. Evitar o desperdício é uma atitude que deve ser adotada o
tempo todo, não só em períodos de crise: somos nós que devemos nos
adaptar às condições do meio ambiente, e não o contrário.

contras:

Apesar de ser a solução mais fácil de ser aplicada na teoria, é difícil


de ser colocada em prática porque mexe diretamente na rotina das
pessoas e na forma de operação das empresas. Existe também a falta
de vontade política de melhorar a gestão dos recursos hídricos.

aplicabilidade:

A manutenção correta do sistema de distribuição de água não é um


investimento barato, mas reflete diretamente em uma conta de água
mais barata para o consumidor. É um investimento de longo prazo,
mas com benefícios futuros imensos. No caso dos hidrômetros, uma
solução para diminuir os custos da operação seria fazer o próprio con-
sumidor pagar pela instalação dos aparelhos de medição. “Temos
estudos que mostram que é possível pagar o investimento na medição
individualizada em menos de um ano”, avalia Antônio Félix
Domingues, coordenador de Articulação e Comunicação da ANA.

2. Aproveitamento da água da chuva

A água captada da chuva e armazenada pode ser usada para fins


domésticos e industriais. Dá pra regar jardins, lavar calçadas e car-
ros, limpar a casa, usar na irrigação, na pecuária, no controle de tem-
peratura de ambientes e até para beber. Em países com altos índices
pluviométricos, a ideia é quase óbvia. Mas em locais em que a chuva
aparece de vez em quando, como nas regiões áridas, essa solução
pode ser ainda mais importante. No nordeste do Brasil, por exemplo,
o programa Um Milhão de Cisternas, promovido pela Articulação
Semiárido Brasileiro (ASA), aproveita as condições climáticas para
criar uma estratégia de sobrevivência para as famílias da região. Por
lá, a chuva cai em grande quantidade, mas em poucos dias. O projeto
ajuda as famílias a construírem cisternas capazes de armazenar água
suficiente para 5 pessoas se manterem por até 8 meses. Eles recebem
também um kit de cloração para tornar a água própria para consumo.
É uma solução simples, barata e totalmente sustentável.

prós:

Aproveitar água da chuva ajuda a reduzir os efeitos das enchentes e é


uma solução que não envolve gasto de energia e nem altos custos de
implantação. Também não precisa de muita manutenção e diminui a
dependência do sistema convencional de distribuição. Além disso, a
água da chuva só precisa de um tratamento básico para ficar apropri-
ada para o consumo.

contras:

A falta de incentivo e o desconhecimento são os principais obstáculos


no caminho dessa solução.

aplicabilidade:

Imagine quanta água teríamos se todos os prédios da sua cidade


captassem a chuva durante um ano. Pois é, há uma quantidade
gigantesca de água sendo praticamente jogada fora e que
sobrecarrega os córregos, podendo causar enchentes. “O poder
público tinha que cobrar uma taxa de impermeabilização”, sugere
Antônio Félix Domingues. Com isso, toda construção teria que pagar
uma taxa para financiar obras que minimizariam os efeitos da água
que não será absorvida por esse terreno. Quem não quisesse pagar,
poderia optar por criar uma estrutura de captação da água da chuva.

O Tokyo Dome, um estádio de beisebol no Japão, é um bom exemplo


do potencial da chuva em grandes cidades. A água que cai é captada
na cobertura do estádio, conhecido como Big Egg, e armazenada em
tanques que ficam embaixo das arquibancadas. Lá, ela é tratada e
encaminhada para ser usada nas instalações, como os banheiros e o
sistema de combate a incêndio. Dados oficiais mostram que o uso de
água da chuva no Tokyo Dome ajudou a reduzir o consumo de água
em cerca de 68 milhões de litros anualmente, o equivalente a 34 pisci-
nas olímpicas de 50m. O exemplo do Tokyo Dome já começa a ser
seguido em outras grandes instalações esportivas. A Fifa, por exem-
plo, adotou a sustentabilidade como regra para a construção de
estádios na Copa do Mundo do Brasil: praticamente todas as novas
arenas possuem sistemas de aproveitamento da água das chuvas para
banheiros e irrigação do gramado. Na Arena Corinthians, em São
Paulo, a água é captada através de canos colocados na cobertura, que
a levam para reservatórios. Em Natal, o sistema também conta com
uma espécie de ‘piscinão’, que serve para prevenir enchentes, já que a
Arena das Dunas foi construída em um local que costumava ficar ala-
gado.

3. Reúso da água

A ideia de reutilizar a água pode parecer nojenta à primeira vista,


mas é uma das soluções mais sustentáveis para resolver a falta de
água no mundo. De certa forma, ela reproduz a ideia do próprio ciclo
da água na Terra – afinal, a água disponível no planeta é limitada e
está sempre sendo “reutilizada”. O reúso funciona assim: a água do
esgoto de casas e indústrias é levada por tubulações específicas até
estações de tratamento, onde impurezas e partículas sólidas são
removidas. A água reciclada pode ser usada nas indústrias e na irri-
gação, pode reabastecer aqüíferos subterrâneos ou rios, e pode até
servir para ser bebida. Cada objetivo requer um determinado tipo de
tratamento.

Dá para reutilizar água em casa, sem gastar muito. Existem soluções


simples como captar a água da máquina de lavar roupas para limpar a
calçada, por exemplo. A outra opção é estruturar o reúso no próprio
sistema de tratamento da água. Nesse caso, pode-se construir uma
segunda rede de esgoto, paralela à que já existe, para coletar e dis-
tribuir a água de reúso. Ou tratar o esgoto de forma que ele possa
retornar sem perigo à rede que já existe. “No Brasil, em termos de
custo, a segunda alternativa é melhor. Mas é preciso desenvolver
tecnologia, principalmente para os solúveis e contaminantes emer-
gentes, além de resíduos de remédios, que precisam ser removidos da
água”, explica Antônio Félix Domingues.

prós:

Reutilizar é um dos pilares da sustentabilidade. Há uma diminuição


da quantidade de água retirada de rios e mananciais, ao mesmo
tempo em que há aumento da segurança hídrica de determinada
região. Em comparação com outras soluções, não é um processo caro,
e as tecnologias capazes de tratar a água do esgoto adequadamente já
existem.

contras:

A grande dificuldade para sua implantação é o preconceito contra a


água de reúso (pode confessar que passou pela sua mente “eca, água
de esgoto”). Além disso, a água produzida em larga escala com um
bom custo benefício provavelmente só serviria para fins não vitais, ou
seja, não poderia ser usada para beber, tomar banho ou cozinhar.

aplicabilidade:

Israel é o país mais lembrado quando se fala em reúso da água. Não é


à toa: mais de 80% da água de seu esgoto doméstico é reciclada e uti-
lizada por fazendeiros na irrigação. Nos Estados Unidos, o condado de
Orange recicla sua água há mais de 30 anos. Por lá, uma usina de
tratamento especializada purifica o esgoto, que é depois injetado de
volta no solo para retornar ao aquífero da região. Já no estado do
Texas, existem planos para que a quantidade de água fornecida pelo
reúso dobre até 2060. Mas o investimento é antigo. A cidade de El
Paso, por exemplo, usa água reciclada em construções, irrigação de
parques e lavagem de carros do governo desde os anos 1960. Em
1985, o município passou também a injetar água de reúso em seu
aquífero.

4. Despoluição de rios

Crescimento da população nas cidades, falta de planejamento no


saneamento urbano, conexões clandestinas com a rede de esgoto e
indústrias que despejam resíduos indevidos. São várias as razões para
a poluição de grandes rios ao redor do mundo. Mas também existem
muitos exemplos de rios que foram recuperados com sucesso. Um dos
mais famosos é o Rio Tâmisa, que corta Londres, na Inglaterra. A
poluição no rio era tanta que ele chegou a ser chamado de “O Grande
Fedor”. Isso lá no século XIX. Desde essa época, os ingleses tentam
conter a sua degradação. Mas o que resolveu mesmo foi a construção
de sistemas de tratamento de água ao longo do rio, que começou na
década de 60. Hoje o Tâmisa está recuperado, e cenas de pessoas
remando, grupos pescando e embarcações são comuns no local. De
forma similar, o rio Han, na Coreia do Sul, importante fonte de abas-
tecimento da capital Seul, também foi recuperado.

O primeiro passo para a despoluição de um rio é localizar as fontes


poluidoras e interromper esse processo. A partir daí, começa a faxina
para retirar os resíduos acumulados ao longo do tempo. Em muitos
casos, é preciso retirar moradores irregulares em áreas de manan-
ciais e recompor a vegetação natural das margens do rio. Além das
estações de tratamento de água, como as usadas no Tâmisa e no Han,
existem outros métodos que podem ajudar a recuperar um rio. A
instalação de barras de proteção ao longo de seu curso, por exemplo,
retém o lixo sólido vindo da chuva e facilita bastante a retirada desse
material. Em rios de pequeno porte, uma boa ideia é utilizar a flo-
tação para facilitar sua limpeza. Esse processo usa substâncias
químicas com efeito coagulante, que são colocadas na água e fazem
com que as partículas sólidas flutuem. A técnica também envolve
tubos posicionados no fundo do rio, que injetam microbolhas de
oxigênio para fazer com que a sujeira não afunde. Para grandes rios,
outra opção é a dragagem, técnica que utiliza grandes embarcações
equipadas com bombas para sugar as camadas de sujeira acumuladas
no fundo.

prós:

Não serve apenas para resolver a crise da água, mas também para
resgatar a qualidade de vida na cidade, criando oportunidades da pop-
ulação interagir com o rio. Sem a poluição, por exemplo, novas vias
de transporte poderiam surgir por meio dos rios, o que aliviaria o
trânsito, outro grande problema urbano. Os rios recuperados também
podem servir como fontes de água mais próximas das cidades,
baixando o custo da captação desse recurso.

contras:

É muito difícil localizar todas as fontes poluidoras: em cidades


grandes, além do esgoto doméstico e da poluição industrial, há tam-
bém a poluição difusa (geralmente lixo levado pela chuva até os rios).
É uma solução cara e de longo prazo, em comparação com outras. Por
tudo isso, demanda um grande esforço político, outra dificuldade.
aplicabilidade:

Não é uma solução barata, mas a revitalização dos rios e mananciais


poluídos é um processo inevitável. A grande dificuldade é coibir as
fontes poluidoras, mas, caso isso seja feito, a própria natureza
poderia ajudar a baratear os custos da operação: os rios têm capaci-
dade de autodepuração. Ou seja, são capazes de purificar a si mesmos
e recuperar suas características naturais. Ainda sobram alguns metais
pesados e hormônios na água, que precisam de tecnologias mais caras
para serem retirados, mas já é uma baita ajuda. “Se você ajudar a
natureza, o custo cai enormemente. Isso é sustentabilidade. A auto-
depuração é um serviço ambiental, é o que a natureza faz sem a gente
reconhecer”, afirma Glauco Kimura de Freitas, da ONG WWF Brasil.

5. Coletores de ar que condensam água

Máquinas que condensam a umidade da atmosfera em água potável já


existem no mercado. O conceito por trás dos chamados “geradores
atmosféricos de água” não é nada novo: o ciclo das chuvas ocorre de
forma similar, com a condensação e precipitação de massas de ar
quentes e úmidas. As máquinas que existem usam basicamente duas
técnicas diferentes. A primeira é parecida com a de um ar condicio-
nado: resfriamento do ar e a conseqüente condensação da água, que
depois é filtrada e armazenada em pequenos tanques. A outra envolve
um processo químico: uma solução concentrada de sal absorve a
umidade do ambiente, de onde é extraída a água, que também passa
por filtração.

Em locais úmidos, os “geradores atmosféricos de água” não são as


únicas formas de condensar água do ar. Existem versões mais sim-
ples, inspiradas na natureza, que também funcionam de forma ade-
quada. Em Arborobu, na Eritreia, a água da neblina da região
abastece as casas de seus moradores. Grandes redes de naílon entram
em contato com a neblina e a transformam em gotículas de água, que
são escoadas até um reservatório. O projeto FogQuest é o responsável
pela instalação das redes, que já foram implementadas também em
locais no Marrocos, no Nepal, no Chile, na Guatemala e na Etiópia.
prós:

As máquinas que usam o processo químico têm um bom custo-


benefício. Existem também instrumentos movidos a energia solar, que
apesar de um pouco mais caros, têm baixo custo de funcionamento.
Para pequenas populações isoladas em regiões desérticas com
presença constante de neblina, pode ser a solução mais viável de
sobrevivência.

contras:

Não dá para condensar a água do ar em todo lugar. A temperatura do


ambiente deve estar alguns graus acima de zero e o nível de umidade
do ar também impõe restrições, que variam de acordo com a marca da
máquina. Aparelhos que produzem água por condensação em larga
escala podem causar problemas para o meio ambiente e seres
humanos, já que diminuem a umidade do ar.

aplicabilidade:

A empresa israelense Water-Gen afirma que seu sistema consegue


produzir de 250 a 800 litros de água potável por dia, dependendo das
condições climáticas, gastando entre 5 e 16 dólares com a produção.
Eles já venderam unidades para militares de sete países diferentes.
Mas as máquinas poderiam ser utilizadas para uso doméstico. Outra
empresa, a Dutch Rainmaker, afirma que seus aparelhos estão oper-
ando em dois países já, no Kuwait e na Holanda.

6. Usinas de dessalinização

A natureza pode ser irônica: repare que vários países do mundo que
sofrem com falta de água potável têm acesso a muita água salgada,
como algumas ilhas e países do Oriente Médio. A solução parece
óbvia: se a água potável ficar escassa, é só pegar esse montão de água
do mar, tirar o sal e torná-la pronta para consumo. Em pequenas
escalas, o processo é relativamente fácil. O grande desafio das usinas
de dessalinização é tornar essa prática economicamente viável em
proporções maiores. Apesar de existirem várias formas de retirar o
sal da água do mar, o processo que mais têm crescido por seu custo-
benefício é o da osmose reversa. A água do oceano é captada por
canos e levada para um setor de filtragem, onde são retiradas grandes
impurezas, como areia e algas, e partículas menores. Depois, uma
grande pressão é aplicada na água, fazendo com que ela passe através
de uma membrana. Nessa passagem, o sal fica para trás e sobra
apenas a água potável. A alta pressão é a responsável por reverter o
processo de osmose e fazer com que a água (que é um solvente) se
separe da solução salina.

prós:

É uma das poucas soluções que não depende do ciclo de água das chu-
vas. A prática não agride de forma drástica a natureza. As usinas que
utilizam osmose reversa já têm menor gasto de energia que os outros
métodos, o que diminuiu o custo da operação nos últimos anos.

contras:

Mesmo com a queda no custo da dessalinização, ela ainda é uma


solução cara, que gasta bastante energia e exige altos investimentos
para funcionar. Só vale a pena em locais com poucas opções de abas-
tecimento de água e que têm acesso à água salgada. Além disso, pode
ter impacto na vida marinha. O descarte do sal retirado no processo é
outra preocupação.

aplicabilidade:

Já existem milhares de usinas de dessalinização espalhadas pelo


mundo. Israel tem várias delas e grande parte de sua demanda de
água para irrigação e consumo é suprida pelas usinas. Neste ano, a
Arábia Saudita começou a produzir água purificada na sua nova usina
no Golfo Pérsico. Quando estiver funcionando com sua capacidade
total, a usina será a maior do mundo, com uma produção de 1025
milhões de metros cúbicos de água purificada em um só dia. Depois
de passar por uma seca histórica, a Austrália também investiu na des-
salinização. Hoje, Sydney tem uma usina abastecida totalmente por
energia eólica. Sua capacidade é de 250 milhões de litros por dia, o
que representa 15% da demanda de água da cidade.

7. Extração de água das geleiras

Mais da metade da água potável do planeta está nas geleiras e nas


calotas polares. Em caso de crise mundial no abastecimento de água,
uma das soluções possíveis seria a retirada e exportação de blocos de
gelo dessas regiões. Como você deve imaginar, transportar icebergs
não é tarefa fácil: eles são difíceis de medir e derretem com certa
facilidade, principalmente sob o efeito de correntes. E não dá pra
arrastar icebergs por aí. O mais provável é que a água fosse exportada
já na forma líquida, em grandes navios de carga ou por meio de
canos. Outra hipótese seria “aproveitar” o aquecimento global, que
está derretendo as geleiras e criando naturalmente novos cursos de
água. Com o degelo do Himalaia, por exemplo, novos lagos e rios têm
se formado na região. Isso já aconteceu no Nepal e na Índia.

prós:

São as últimas reservas de água potável praticamente intocadas no


planeta e existem em enorme quantidade.

contras:

Além do custo alto, principalmente por causa do transporte, esse tipo


de operação tem profundos impactos ambientais. As geleiras têm
relação direta com o volume e a qualidade da água de diversos rios.
Por causa do degelo, o Rio Santa, no Peru, por exemplo, um dos
maiores abastecidos pelos Andes, já está com o nível de água vinda
das geleiras abaixo do normal. Pesquisadores da National Academy of
Sciences alertam também que os novos lagos do Himalaia, por exem-
plo, podem ficar bloqueados e causar inundações que destruiriam as
vilas da região. Além disso, um estudo da Universidade do Colorado
(EUA) mostrou que a formação desses lagos acelera o degelo nessas
regiões. Tirar pedaços de gelo e transformar em água líquida para
exportação teria o mesmo efeito. A lógica é que quanto menos neve,
mais fina fica a camada de gelo e mais rápido as geleiras derretem.

aplicabilidade:

A solução poderia ser usada em países que tem regiões industriais


próximas às geleiras, com transporte através de dutos e canos, mas
ainda não tem um bom custo-benefício e não é um processo recomen-
dado. “Esse tipo de solução demonstra a falta de planejamento de um
país para aproveitar o potencial hídrico que se tem. Depois, tem que
ir pegar água cada vez mais longe e cada vez mais caro”, avalia
Glauco Kimura de Freitas.
on the rocks
Quer captar a água das geleiras? Corra, antes que elas derretam em
meio à água salgada

Derretimento das geleiras: 0,7 milímetros

Aumento do nível do oceano, por ano*: 2,2 milímetros

* entre 2003 e 2009

FONTE: Revista Science / Universidade do Colorado

8. Busca de água em outros planetas

Outra resposta para a escassez de água pode ser encontrar fontes fora
da Terra. No nosso Sistema Solar, a NASA já detectou a presença de
gelo nos pólos de Marte, Mercúrio e na Lua (que também teria
presença de moléculas de água). Europa, uma das luas de Júpiter,
possui evidências de grandes reservas. Além disso, vários asteroides
carregados de água passeiam pelo espaço: alguns chegam a ter 20%
da composição na forma de gelo.

prós:

Os recursos naturais realmente existem em grandes quantidades no


universo e ainda não foram explorados.

contras:

Não temos tecnologia para realizar esse tipo de operação em larga


escala e o custo da “importação” de água para a Terra seria absurda-
mente alto. Atualmente, a NASA gasta milhões de dólares em inves-
timento para conseguir transportar alguns gramas de asteroides. Por
essa questão econômica, é inviável trazer grandes quantidades de
água do espaço. Além disso, nosso planeta é composto por cerca de
70% de água. É mais fácil resolver a questão de sua escassez aqui
mesmo.
aplicabilidade:

Algumas empresas, como a Planetary Resources (criada pelo diretor


de cinema James Cameron e pelo co-fundador do Google Larry Page,
entre outros), já estudam a exploração das reservas de asteroides
próximos à Terra, mas esse tipo de recurso serviria apenas para abas-
tecer estações e naves espaciais com água, além de fornecer oxigênio
e hidrogênio.

Abril Comunicações S/A

Você também pode gostar