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VIÇOSA
MINAS GERAIS - BRASIL
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA GERAL
VIÇOSA
MINAS GERAIS - BRASIL
2022
Mariana Carvalho de Paula
Agradeço a minha mãe, Ivonice, pelo amor imensurável e infinito que me fez crescer com a
liberdade necessária para defender o que acredito. Você é minha maior inspiração, mãe.
Ao meu pai, Amarildo, que mesmo longe, sempre se fez presente. Agradeço pelo amor tão
profundo e pelo apoio sem limites, que me permitiu sonhar com a docência e a biologia.
A Gabriel, pelo privilégio gigante de poder ser sua irmã e saber que sempre terei alguém do
meu lado. A Bárbara, minha irmã, minha joia, obrigada por dar mais sentido a minha vida só
com um olhar, eu te amo mais do que tudo.
Agradeço imensamente a minhas amigas e amigos, pelo acolhimento e por todas as
experiências que pude viver nesses anos em Viçosa graças a vocês. Em especial a Jade, Ana,
Gabi, Juju, Júlia, Bena, Arthur, Amiris, Maria Clara, Davi, Bella, Luísa e a minha turma,
BIO17, por compartilharem os altos e baixos nesse momento tão incrível de nossas vidas.
Agradeço especialmente a Arthur que, principalmente nesse final de graduação, me acalmou
nos momentos mais difíceis, me incentivando a seguir em frente. Obrigada pelos abraços, pela
escuta, pela compreensão e pela ajuda, fundamentais na construção desse trabalho.
Ao Cineclube Carcará por tantas experiências e oportunidades indescritíveis e por ter me dado
o privilégio de levar o cinema para tantas pessoas. Cada filme e cada momento foram
fundamentais para que eu seguisse trilhando esse caminho até aqui.
A Maiô e Siwê por compartilharem suas sabedorias de vida que transformaram ainda mais o
meu olhar para a educação. E por me permitirem concretizar um trabalho tão intenso e plural
como este.
Agradeço a Fernanda, Gínia e Thais, por contribuírem profundamente com a minha formação
e por terem me dado o privilégio de aprender com mulheres tão incríveis que são uma
verdadeira inspiração para mim.
A minha orientadora, Thais, pelo acolhimento tão carinhoso, pela escuta gentil e pelo
incentivo que foi essencial para que eu conseguisse chegar até aqui. Obrigada pela orientação,
pelas preocupações, pelo cuidado e por me ajudar a realizar um trabalho que me orgulho
muito.
Por fim, agradeço a minha avó, Levinda, pelo amor mais inteiro e pleno que eu já senti.
Obrigada por todas as preocupações, por todos os sacrifícios e por cada momento que pude
viver do seu lado, eu aprendi com cada um deles. Era meu sonho que você me visse formada
Vó, mas onde quer que você esteja, tenho certeza que está feliz por mais essa conquista da
professora da família.
SUMÁRIO
1 Introdução 2
2 Procedimentos Metodológicos 7
3 Resultados e Discussão 10
3.1 As percepções da mestra e do mestre indígenas sobre a colonização dos saberes 10
3.2 A memória biocultural como forma de resistência e anticolonialidade 11
3.3 A contribuição dos saberes indígenas para a formação intercultural de professores/as de
ciências 13
Os saberes indígenas e o ensino de ciências 13
Educação intercultural, escola e universidade 16
4 Considerações finais 18
5 Referências 19
6 Anexos 23
A. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) 23
UM PÉ NA ALDEIA, UM PÉ NA SALA DE AULA: EDUCAÇÃO INTERCULTURAL
NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
O presente trabalho foi feito com base nas normas da Revista de Ensino de Biologia da SBEnBio.
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Resumo
O universo de culturas indígenas presente em nosso país sofre com a perda de seus territórios e a colonização de
seus saberes. Em um levantamento temático para materiais didáticos interculturais, construído a partir da
disciplina ‘Encontro de Saberes e Práticas Educativas” e dos encontros do Acervo Biocultural do Grupo Entre
Folhas/UFV, verificou-se a necessidade de incluir os saberes indígenas nas práticas educativas. Para tanto, foram
adotadas a pesquisa documental e observação participante para análise das falas de uma mestra e um mestre
indígenas na disciplina, ministrada durante o período pandêmico. A presença de mestras e mestres dos saberes
tradicionais no contexto universitário contribuiu para transformar o imaginário equivocado sobre os povos
originários e para a pavimentação do caminho para um diálogo intercultural na formação de professoras/es.
Abstract
The universe of indigenous cultures present in our country suffers from the loss of their territories and the
colonization of their knowledge. In a thematic survey for intercultural teaching materials, built from the subject
'Meeting of Knowledge and Educational Practices' and the meetings of the Biocultural Collection of the Grupo
Entre Folhas/UFV, the need to include indigenous knowledge in educational practices was verified. To this end,
documentary research and participant observation were adopted to analyze the speeches of an indigenous teacher
and teacher in the discipline, taught during the pandemic period. The presence of masters of traditional
knowledge in the university context contributed to transforming the mistaken imagery about native peoples and
to paving the way for an intercultural dialogue in the training of teachers.
Resumen
El universo de las culturas indígenas presentes en nuestro país sufre la pérdida de sus territorios y la colonización
de sus saberes. En un levantamiento temático para materiales didácticos interculturales, construido a partir del
tema 'Encuentro de Saberes y Prácticas Educativas' y de los encuentros del Acervo Biocultural del Grupo Entre
Folhas/UFV, se verificó la necesidad de incluir saberes indígenas en las prácticas educativas. Para ello, se adoptó
la investigación documental y la observación participante para analizar los discursos de un profesor indígena y
docente en la disciplina, impartidos durante el período de pandemia. La presencia de maestros de saberes
tradicionales en el contexto universitario contribuyó a transformar el imaginario erróneo sobre los pueblos
originarios y a allanar el camino de un diálogo intercultural en la formación de docentes.
Palabras clave: Diversidad Biocultural; Saber Indígena; Encuentro de Saber; Educación Anticolonial.
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Definitivamente não somos iguais, e é maravilhoso saber que cada um de
nós que está aqui é diferente do outro, como constelações.
Ailton Krenak.
1 Introdução1
O Brasil possui dimensões continentais, sendo mundialmente conhecido por ser o país
com a maior biodiversidade do mundo. Zank et al. (2021) discutem que junto de sua
diversidade biológica, nosso país também concentra enorme diversidade biocultural originária
de vários povos indígenas e tradicionais. Nesse sentido, é importante resgatar a verdadeira
história cultural de nosso país, e lembrar das marcas da colonização e sua contribuição para o
apagamento dessa diversidade biocultural. Os povos indígenas viveram e ainda vivem intenso
processo de epistemicídio, que prejudica a manutenção de muitos saberes e cosmovisões
desses grupos.
Sendo assim, Ceccato (2022) destaca que esse desaparecimento de saberes mantém a
colonialidade em nosso cotidiano, reforçando a aculturação contínua dos povos indígenas,
tendo como base violências sistemáticas orientadas historicamente pelo dito projeto
civilizatório. Tal condição é evidenciada por Krenak (2019):
Exemplos dessa concepção podem ser encontradas ao longo de toda nossa trajetória
acadêmica, como a narrativa de que nosso país foi ‘descoberto’ por um homem quando, na
verdade, foi invadido por colonizadores. Da mesma forma, é costume as escolas se referirem
aos povos indígenas como ‘índios’, num processo que reforça a lógica colonial sobre esses
grupos e que desconsidera a diversidade de etnias, suas autodenominações e toda a
importância desses povos na manutenção da diversidade da vida.
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As discussões apresentadas neste artigo compõem o trabalho de conclusão de curso (TCC) para obtenção do
título de bacharel em Ciências Biológicas.
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Ademais, destaca-se a imposição dos esteriótipos e das generalizações dos povos e de
seus saberes no ambiente escolar, como defende o mestre popular Antônio Bispo dos Santos
(2015):
Krenak (2019, p.12) enseja que uma abstração civilizatória onde não criamos vínculo
com a terra “suprime a diversidade, nega a pluralidade das formas de vida, de existência e de
hábitos”. Assim, os seres humanos passam por processos normatizadores onde consomem as
mesmas coisas, se vestem das mesmas formas e falam, se possível, a mesma língua.
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Tal disciplina foi pensada para a formação docente, no sentido de dar subsídios e
apontar para a importância da educação territorializada, na perspectiva das escolas indígenas,
e da educação intercultural, no contexto da escola regular.
A perspectiva intercultural defendida por Candau (2008, p.28) diz respeito a educação
que possibilita o diálogo entre culturas e diferentes grupos sociais, partindo de acordos que
“enfrentam os conflitos provocados pela assimetria de poder entre os diferentes grupos
socioculturais nas nossas sociedades e são capazes de favorecer a construção de um projeto
comum, pelo qual as diferenças sejam dialeticamente incluídas” (CANDAU, 2008, p.23).
Dessa forma, entende-se que é preciso fazer mais do que apenas criticar a
colonialidade para se avançar no sentido do diálogo intercultural. É necessário entendê-la
como condição marcante de nossas existências, trazendo esse problema para um nível mais
interior e espiritualizado onde a coragem e disposição para o debate sejam privilegiadas
(MAGALHÃES, 2021). Sendo assim, um primeiro passo para o diálogo intercultural é a
investigação das formas de colonialidade presentes no cotidiano de nossas sociedades e
escolas: textos didáticos, trabalhos acadêmicos, cultura, sentido comum, autoimagem dos
povos, aspirações dos sujeitos e em muitos outros aspectos de nossa experiência moderna
(CANDAU, 2020, apud MALDONADO e TORRES, 2007).
Aqui, é válido apontar que a busca para uma educação multicultural em prol da
igualdade é antiga e contínua, fruto de lutas históricas dos movimentos quilombolas e
indígenas. O apoio inicial a mudanças no processo educativo iniciou na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB), que prevê o diálogo sobre a diversidade étnico-racial no
currículo da educação básica (BRASIL, 1996). Em alteração da LDB, a lei 11.645/08
(BRASIL, 2008) torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena
em todas as escolas brasileiras, públicas e privadas, do Ensino Fundamental e Médio, se
apresentando como uma importante aliada na defesa da educação intercultural. Como destaca
Magalhães (2021), essa lei é uma convocação a se repensar como a forma da temática
indígena aparece nos cursos de formação inicial e continuada de professores.
Kayapó e Brito (2014) também trazem esse olhar para o contexto escolar.
(...) a Lei 11.645/08, que deve abarcar debates de ordens diversas, buscando
promover a revisão de tudo o que a sociedade e as escolas sabem e ensinam
sobre a temática indígena, eliminando preconceitos e equívocos produzidos
historicamente nas salas de aula, nos livros didáticos e nos meios de
comunicação. Tal iniciativa busca romper o silêncio, dando audibilidade e
visibilidade aos povos indígenas, demonstrando que suas histórias e culturas
são contemporâneas, vivas e se relacionam com o presente e passado, num
movimento de tensão social dinâmico, que pressupõe a perda, manutenção e
ressignificação dos modos de vida desses povos em contato com a cultura
não indígena. (KAYAPÓ E BRITO, 2014, p. 54)
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A diversidade biocultural também aparece na Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) com a maioria de suas habilidades evidenciadas no currículo de Ciências da Natureza
e Ciências Humanas (TUGNY e GOLÇALVES, 2020), bem como tema contemporâneo
transversal. No livro “Universidade Popular e Encontro de Saberes”, Tugny e Gonçalves
(2020) consideram que, conforme a BNCC, a diversidade biocultural nas ciências da natureza
tem um grande potencial intercultural. Dentre as temáticas a serem discutidas nas escolas,
destacam-se (a) as diversas relações com a biodiversidade; (b) sua influência direta e indireta
para a sobrevivência dos seres humanos; (c) a constituição e distribuição da diversidade
biocultural nos biomas e ecossistemas brasileiros (BRASIL, 2018).
Paula et al. (2022, p.623) relatam, a partir de entrevistas com estudantes de graduação
da Universidade de Brasília (UnB), a pouca presença da temática indígena nas diferentes
áreas de conhecimento no ensino médio dos entrevistados, destacando uma carência ainda
maior de abordagens desse tema por professores das ciências da natureza. Em dados
apresentados, os pesquisadores revelam que apenas “30% dos entrevistados acreditam em um
ensino da temática história e cultura indígena atrelado a Ciências da Natureza, mais
especificamente em Biologia, no ensino médio”. Assim, fica evidente para que a sabedoria e
ciência indígenas se façam presentes na sala de aula, a/o educadora/o precisa ter essa temática
incluída também em sua formação.
Além disso, conforme o último censo demográfico divulgado, estima-se que 1.108.970
pessoas residem em localidades especificadas como indígenas no Brasil (IBGE, 2020). Assim,
partindo da perspectiva intercultural e contra colonial, é essencial que os currículos de
formação de professores incorporem esses diferentes universos culturais, outras bases teóricas
e epistemológicas que reconheçam a pluralidade epistêmica, metodológica e de autoria dos
mestres e mestras dos saberes populares. Afinal, para se ter a aplicabilidade da lei 11.645/08
se fazem necessárias mudanças nesse modelo de formação (MAGALHÃES, 2021).
Vale registrar que o início desta pesquisa foi impulsionado por um cenário importante
para a retomada de narrativas dos povos originários, nos diversos espaços educativos. Desde
2019, o governo de Jair Bolsonaro tem sido marcado por intensas represálias aos direitos dos
2
A etnobiologia estuda as relações das comunidades humanas com os recursos naturais. Para Matos e Santos
(2012), “a etnobiologia pode fornecer dados para a construção de uma política ecológica socialmente
responsável, já que considera os conhecimentos científicos e populares, estabelecendo assim uma compreensão
mútua dos interesses envolvidos” (MATOS e SANTOS, 2012, p.8).
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indígenas e à sua proteção, além de boicotes à demarcação do território com políticas
discriminatórios agravadas pela pandemia de Covid-19 (CHADE, 2022). Além disso, tal
governo compactuou com o apagamento das vivências indígenas ao defender a ‘inclusão’ dos
povos indígenas no cotidiano brasileiro, em um discurso pseudo-inclusivo onde os indígenas
deveriam se transformar em trabalhadores urbanos, deixando suas terras para serem tomadas
pelos interesses da mineração e do agronegócio (TAVARES, 2022).
Além disso, ainda no final de 2022, a temática dos povos tradicionais surge com
protagonismo no maior exame de seleção para o ensino superior no Brasil, o ENEM (Exame
Nacional do Ensino Médio). O tema da redação, divulgado pelo Ministério da Educação em
redes sociais na internet, tratou sobre os “desafios para a valorização de comunidades e povos
tradicionais no Brasil” (BRASIL, 2022). Quase 3,4 milhões de candidatos foram estimulados
a refletirem sobre esse tema (BIMBATI et al., 2022), além da repercussão que se estendeu aos
não participantes da prova. Algumas questões dos cadernos da prova de ciências humanas
também trouxeram temáticas indígenas. Em uma delas destacou-se a identidade Pataxó
através de sua língua patxôhã e em outra tratou-se da cosmologia e territorialidade do povo
Kambeba (BRASIL, 2022). Essas inserções no exame reforçam a importância da sabedoria
indígena para o nosso cotidiano e o potencial transformador da perspectiva intercultural
indígena em nossas pedagogias e processos educativos.
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Assim, objetiva-se, nesta pesquisa, analisar as contribuições dos diálogos de mestres e
mestras dos saberes indígenas na universidade e seu papel para o incentivo de uma educação
intercultural na formação de professores, a partir da disciplina de Encontro de Saberes. Além
disso, pretende-se identificar e entender a relevância de se priorizar espaços de diálogo que
contemplem e celebrem o encontro dos diferentes saberes populares.
2 Procedimentos Metodológicos
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Esta pesquisa possui caráter qualitativo, por conceber “as múltiplas atividades que
compõem o processo de pesquisa como um ato social de construção de conhecimento”
(GÜNTHER, 2006, p.202), e estruturada a partir de pesquisa documental e bibliográfica.
Foram escolhidas a pesquisa documental e a bibliográfica, pois segundo Sá-Silva et al.
(2009), apesar de serem próximas, apresentam características divergentes no que se refere às
suas fontes de busca por informação. Conforme descrevem os autores, aqui a pesquisa
documental se estruturou em documentos que não receberam nenhum tratamento científico,
tendo como base as gravações das aulas síncronas gravadas durante a disciplina, referentes às
falas das mestras e dos mestres indígenas.
Assim, ampliando o entendimento do objeto de estudo com compreensão de sua
contextualização histórica e sociocultural e favorecendo a observação do processo de
maturação ou de evolução dos conhecimentos (CELLARD, 2008 apud SÁ-SILVA et al.,
2009), foram analisados também documentos legislativos e reportagens que marcam o
momento de desenvolvimento do trabalho.
Já a pesquisa bibliográfica, incluiu o estudo de documentos de domínio científico tais
como livros, periódicos, artigos científicos, teses, monografias, entre outros.
Ademais, foi utilizada a observação participante, desenvolvida pela pesquisadora a
partir do acompanhamento das aulas da disciplina, como estudante, e dos encontros do
Acervo Biocultural, como bolsista do projeto de extensão para produção de materiais
didáticos interculturais inclusivos, possibilitando a aproximação dos participantes da
disciplina e do Acervo Biocultural em uma ação coletiva, no espaço da universidade
(MARIETTO, 2018).
A definição do objeto de estudo se deu a partir do levantamento de temas para a
educação intercultural oriundos das falas das mestras e mestres na disciplina “Encontro de
Saberes”, a partir das rodas de conversas gravadas durante o ensino remoto emergencial de
agosto a setembro do ano de 2020.
A investigação das temáticas também contou com a análise do Círculo Epistemológico
com os membros das comunidades tradicionais participantes do Acervo Biocultural do Grupo
Entre Folhas/UFV, em 2021. O Círculo Epistemológico é uma metodologia freiriana que
reforça os espaços democráticos e interpretativos utilizados no fazer investigativo
(ACCORSSI et al. 2021). Com base nisso, as informações foram coletadas, processadas e
sistematizadas em tabelas, formando um levantamento do universo temático organizado em 5
temas diferentes: (1) pauta indígena; (2) pauta quilombola, (3) cultura popular, (4) educação e
social e (5) políticas públicas.
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Relação dos povos originários com Ausente A importância dessa relação para a
a natureza conservação da biodiversidade e a
recuperação ambiental
Fonte: Sistematizado pela autora no contexto do projeto de extensão no Acervo Biocultural - 2022
Para estruturação deste trabalho, tomou-se como base a fala de uma mestra e um
mestre indígenas, Pataxó, que fizeram parte de dois dos encontros da disciplina, Unidade 2 -
Saúde Integral e Unidade 5 - Educação Territorializada. De modo a guardar suas identidades,
foram tratados aqui como Mestre Cacuçu e Mestra Jokana, nomes fictícios traduzidos da
língua Pataxó para a portuguesa como homem e mulher, respectivamente.
A utilização das falas do mestre e mestra indígenas foi autorizada pelos mesmos a
partir do preenchimento do Termo de Consentimento Livre Esclarecido, a partir da aprovação
de projeto no Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP-UFV), sob nº CAAE:
39375620.5.0000.5153.
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3 Resultados e Discussão
Só pra você ter ideia né, no Brasil colônia os jesuítas eles eram muito
covardes. Sabe o que eles faziam? Traziam as ‘buticas’ de Portugal cheias de
remédio. A hora que os remédios acabava né aí eles começavam a aprender
com os pajés os remédios. Aí ia pra Portugal e levava todos os remédios da
mata pra Portugal, e plagiava tudo como se fosse eles que sabiam os
remédios (MESTRA JOKANA, 2020).
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Nesse sentido, cabe refletir como a identidade dos povos originários, bem como seus
conhecimentos, sobreviveram a séculos de uma colonização que, segue em nosso imaginário,
por meio da colonialidade, até os dias atuais.
Então esse território todo foi sendo colonizado, foi sendo tirado dos povos
indígenas. Então a questão memória, a questão ancestral com o território, ela
é muito grande né. Nós somos um povo de Mata Atlântica, um povo que
conhece bem essa mata né, porque a gente chama a Mata Atlântica de Mata
Mãe, ela tem diversas formas da gente se relacionar com ela, desde árvores e
plantas pequenas e animais também (MESTRE CACUÇU, 2020).
Krenak (2019, p.9) traz essa questão para uma perspectiva atual, expressando que “se
as pessoas não tiverem vínculos profundos com sua memória ancestral, com as referências
que dão sustentação a uma identidade, vão ficar loucas neste mundo maluco que
compartilhamos”.
Aqui, em concordância com as ideias do mestre popular Antônio Bispo dos Santos
(2015, p.48), compreende-se por colonização “todos os processos etnocêntricos de invasão,
expropriação, etnocídio, subjugação e até de substituição de uma cultura pela outra,
independentemente do território físico geográfico em que essa cultura se encontra”. Logo, os
processos de resistência à colonização envolvendo a “luta em defesa dos territórios dos povos
contra colonizadores, os símbolos, as significações e os modos de vida praticados nesses
territórios” compreendem a perspectiva contra colonial (SANTOS, 2015, p.48).
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transmissão deste pelo espaço e tempo (TOLEDO e BASSOLS, 2008). É preciso lembrar que
tais estratégias de resistência são responsáveis pela perpetuação de uma infinidade de saberes,
fundamentais para a organização dos povos originários, que se estenderam além das aldeias, e
ocupam tantos outros espaços.
Célia Xakriabá (2020) reflete sobre o conflito da ocupação de outros espaços pelos
indígenas, principalmente na educação. A professora e ativista do povo Xakriabá relata os
desafios enfrentados por ela ao adentrar no território acadêmico, quando ingressou no
mestrado, sendo submetida a um tempo regido por normas acadêmicas que não compreendem
a temporalidade de seu povo. Célia ainda destaca o desafio histórico da disputa por espaços
que, além da luta pela demarcação de territórios, se fazem na esfera educativa na
‘indigenização’ do território acadêmico, transformando suas práticas educativas. Segundo a
autora:
Portanto, entende-se que não basta apenas refletir sobre essas questões para romper
com a lógica eurocêntrica mercadológica impregnada em nosso cotidiano, é necessário trazer
a interculturalidade crítica para a realização de projetos intelectuais e políticos orientados à
construção de outros modos de poder, saber e ser (WALSH, 2007 apud CANDAU, 2020).
E nós, eu sempre falei isso nas palestras que nós somos a resistência.
Quando nós reunimos com vocês, que é da academia né, que eu admiro
muito, vocês pára para nos escutar. O que que nós queremos de vocês? Que
vocês nos respeitem, que vocês cuidem de todos esses saberes e passem pras
crianças que nós estamos vivos e que nós não estamos mortos. (MESTRA
Jokana, 2020)
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Dessa forma, com a conscientização e politização das classes populares pode-se pensar
na construção de um projeto político educacional com potencial de superar a dominação do
capital e transformar as relações de poder e a vida do nosso país. Brandão e Fagundes (2016)
refletem sobre a perspectiva freiriana da educação popular, trazendo para esse contexto o
desejo por uma educação que possibilita relações dialéticas com as culturas, impedindo o
domínio sobre a realidade dos sujeitos, pois isso seria apenas repetir o que não se deseja da
educação tradicional. Portanto, para firmar seu caráter libertário, deve apoiar-se nos símbolos
e significados das raízes culturais populares.
Mestra Jokana traz o debate sobre o papel da política e a dificuldade de se fugir das
referências ocidentais puramente científicas na educação, onde a ausência das práticas dos
saberes tradicionais brasileiros configura uma questão de políticas públicas. Nesse contexto, a
introdução dos discursos interculturais, com inclusão dos saberes indígenas não-ocidentais, se
faz urgente nos espaços escolares. Por esses saberes não ocidentais, passam filosofias de vida,
conhecimentos medicinais, tecnológicos, incluindo esses modelos para dialogar com essa
diversidade (TUGNY e GOLÇALVES, 2020).
Partindo desse olhar, os saberes tradicionais podem e devem encontrar seu espaço de
validação e valorização nos espaços educativos de ensino de ciências. Aqui, não se cogita
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desconsiderar o conhecimento científico e tomar o popular como verdadeiro, mas de
reconhecê-lo como uma dentre outras formas de conhecimento. Nesse sentido, em trabalhos
realizados em seu espaço educativo de atuação, Mestre Jokana introduz suas ‘ciências
indígenas’ no cotidiano escolar na área da saúde integral:
Tais ações fazem parte da pedagogia da lente do olhar do povo pataxó em que “a
concepção de educação não é única, cada povo tem o seu modelo próprio de educar, sem
deixar de respeitar as várias concepções de educação que tem no mundo” (PATAXÓ, 2009,
p.20). Assim, em uma de suas falas na disciplina Encontro de Saberes, Mestre Cacuçu trouxe
um dos materiais produzidos em sua aldeia que, segundo ele, faz parte de um dos muitos
elementos importantes para se fazer uma educação descolonizadora.
3
O Universalismo é uma corrente de pensamento que defende a superioridade do saber científico, da Ciência
ocidental moderna, sobre as outras formas de conhecimento, não considerando os saberes técnicos tradicionais
como outras formas de conhecimento válidas. (MATOS e SANTOS, 2012, p.5).
4
Uma das perspectivas do multiculturalismo trata-o como um projeto político-cultural, de um modo de se
trabalhar as relações culturais numa determinada sociedade, de conceber políticas públicas na perspectiva da
radicalização da democracia, assim como de construir estratégias pedagógicas nesta perspectiva (MOREIRA E
CANDAU, 2008, p. 20).
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Na aldeia Muã Mimatxi, os chamados ‘tehêys’ são instrumentos de pescaria que
selecionam os peixes conforme a demanda necessária para alimentação. Como relata
Werymehe Braz (2019), da etnia Pataxoop, no contexto escolar, os ‘tehêys’ se voltam para a
‘pesca do conhecimento’, transformados em instrumentos que têm como base o ensino com
imagens desenhadas, onde “as crianças aprendem a ler com as imagens e conhecer os valores
da vida e da natureza que fazem parte e fortalecem a nossa cultura, o nosso território, a nossa
saúde e a vida do nosso povo de Muã Mimatxi” (BRAZ, 2019, p.7).
Figura 1: ‘Tehêy’ utilizado para educação de crianças do Povo Pataxó da Aldeia Muã
Mimatxi.
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animais encontrados na reserva, bem como suas características biológicas e importância
cultural para o povo Pataxó.
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Aqui, é importante diferenciar as terminologias da educação territorializada,
vivenciada pelos indígenas, da educação intercultural, que tem em vista incorporar as
vivências e saberes desses e de outros indivíduos no processo educativo. Célia Xakriabá
(2020) ressalta que, apesar das diferenças, ambas concepções educativas devem ser pensadas
em conjunto:
Nossos sábios indígenas falam que a escola tem que ser interessante, que a
escola do contexto não indígena tem muito o que aprender com as nossas,
porque nós sabemos fazer com que esse espaço seja interessante para os
alunos. A essa matriz formadora principiada no território atribuo o mote para
uma educação territorializada, que apresenta como ponto de partida e de
chegada a potência da epistemologia nativa, presente na memória e na
transmissão oral e ressonante em melodia na escrita xakriabá. (XAKRIABÁ,
2020, p.114)
Isto é, a escola, mesmo com um sistema implantado por não indígenas, tem o dever de
transmitir aos alunos os saberes da comunidade, ou seja, ‘com um pé na sala de aula e o outro
na aldeia’. Assim, manifesta-se a pedagogia educacional utilizada pelo Povo Pataxó da Aldeia
Muã Mimatxi que influenciou esta pesquisa e inspirou o título deste trabalho. A pedagogia
citada tem como base dois eixos: ‘com o pé no chão da aldeia’ e ‘com o pé no chão do
mundo’ e, segundo a comunidade, “com esses dois eixos, dialogamos com o conhecimento
tradicional do nosso povo, com o conhecimento das disciplinas acadêmicas e as questões
contemporâneas” (PATAXÓ et al., 2009, p.23).
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Em material construído pensando no Encontro de Saberes na universidade, Tugny e
Gonçalves (2020, p.21) deixam registrado que, historicamente, “as universidades brasileiras
contribuíram para intensificar a desqualificação dos saberes indígenas e afro-brasileiros, ao
invés de integrá-los desde a sua fundação”. Mestra Jokana concorda com essa ideia trazendo a
própria experiência pessoal em sua fala “a gente começa a perceber que nós indígenas e o
povo todo, nosso povo africano, sempre trouxe [...] nesse processo da oralidade, muitos
saberes, e é esses saberes que eu comecei a perceber que não tá na universidade”. Ela reforça,
ainda, que se deparar com esse problema de apagamento e inversão do conhecimento
tradicional ao ingressar em uma universidade “foi um momento muito difícil, sentar numa
cadeira e ouvir tanta mentira, no sentido indígena que eu tô falando sabe”.
Diante disso, SESC apud Kayapó (2019, p. 77) discute sobre a necessidade de
reformulações que devem ser realizadas nas estruturas curriculares dos cursos de licenciatura
para que a Lei n. 11.645/08 tenha sucesso. Assim, a fim de contemplar a história e a cultura
indígena, outras ações diretas podem ser tomadas, como (a) a criação de disciplinas
específicas; (b) a organização transversal da temática nos conteúdos curriculares; (c) cursos
de formação continuada de professores e (d) produção de material didático5 específico sobre a
temática (SESC apud KAYAPÓ, 2019, p. 77). Nesse contexto, Magalhães (2020, p.12)
adiciona outra prática à essas reformulações, considerando que “se os currículos trouxessem
autoria indígena nos seus programas curriculares, poderia ser uma forma potente de romper
com as pedagogias das ausências em busca de perspectivas pluriversais e multiétnicas”.
Mestra Jokana reforçou essa ideia em uma de suas falas durante o Encontro de Saberes:
A partir disso, fica o incentivo para que as/os educadoras/es escolham trilhar o
caminho da docência que abraça o compromisso político e social de sua profissão. Um
caminho que escolhe dialogar as diversas histórias indígenas, contadas pelos próprios
detentores desses saberes e com base em suas vivências. Um caminho que posicione as
atividades docentes na educação básica e em seu próprio processo de formação, sempre dando
aos saberes indígenas seu devido respeito e merecido reconhecimento na formação do nosso
povo e de nossa diversidade biocultural.
4 Considerações finais
Logo, para que as sabedorias dos povos originários sejam integradas às ciências e,
consequentemente, ensinadas aos nossos alunos, é preciso abrir espaço para essas
epistemologias em nossas formações.
5
Aqui fica o convite para o acesso a diferentes materiais didáticos audiovisuais inclusivos voltados para a
educação intercultural produzidos coletivamente no Acervo Biocultural da UFV:
https://www.youtube.com/@acervobioculturaldogrupoen4842
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Para tanto, a partir da disciplina Encontro de Saberes e dos diálogos no Acervo
Biocultural foi levantada a necessidade de se trazer o conhecimento e as pesquisas produzidas
pelos povos indígenas para a construção de uma docência que assume uma postura
pedagógica crítica e reflexiva. Não só isso, esta pesquisa também verificou ser fundamental
que, na busca por uma educação intercultural, os verdadeiros produtores do conhecimento
sejam convidados a assumir o protagonismo das ações educativas ou dos espaços de diálogo
pretendidos, seja por rodas de conversas, literaturas, vídeos ou outros materiais.
Diante disso, a partir da análise das falas dos educadores indígenas, verificou-se neste
trabalho que a presença de mestras e mestres dos saberes tradicionais contribui imensamente
na pavimentação do caminho para um diálogo intercultural no contexto universitário e na
formação de educadoras/es. Construindo, assim, uma dinâmica necessária para o
desenvolvimento de currículos anticoloniais a favor da interculturalidade crítica.
5 Referências
BIMBATI, Ana Paula; NEVES, Rafael; BERNARDO, Jéssica; BUSINARI, Maurício. Enem
2022: redação é sobre desafios para valorização de povos tradicionais. 2022. Disponível em:
https://educacao.uol.com.br/noticias/2022/11/13/tema-redacao-enem-2022.htm. Acesso em:
13 nov. 2022.
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CHADE, Jamil. Carta da ONU sobe o tom e denuncia crimes de Bolsonaro contra
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https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2022/03/23/onu-denuncia-ataques-de-bolsonar
o-aos-indigenas-e-cita-violacao-de-tratados.htm. Acesso em: 10 nov. 2022.
CHALMERS, Alan Francis. O que é ciência, afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
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que a escola tem a ver com isso? Dossiê Histórias Indígenas, Caicó, v. 15, n. 35, p. 38-68,
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KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras,
2019.
PATAXÓ, Kanatyo et al. Diálogos dos saberes: pedagogia da lente do nosso olhar e as mãos
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PAULA, Ana Luísa Oliveira de; SOUSA, Imelda Martins de; RIBEIRO, Alice Melo;
SOUSA, Bruce Lorran Carvalho Martins de; SILVA, Joelma Rodrigues da. Temática
indígena no ensino de Ciências da Natureza e a aplicação da Lei nº 11.645/08. Revista de
Ensino de Biologia da Sbenbio, [S.L.], p. 612-633, 28 nov. 2022. Revista de Ensino de
Biologia. http://dx.doi.org/10.46667/renbio.v15inesp2.734.
RIBEIRO, Deisiane Barreto; SOUSA, Ana Cristina de; CRUZ, Thyane Viana da; LEITE,
André Búrigo; SANTOS, Vitor Vulga dos. A trilha da Reserva Pataxó da Jaqueira como
instrumento de educação socioambiental para estudantes de nível médio. Educação
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XAKRIABÁ, Célia. Amansar o giz. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, nº 14, pág. 110-117,
2020.
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6 Anexos
A. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
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