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leva-turma-de-educacao-infantil-para-o-mangue
Publicado em NOVA ESCOLA 16 de Outubro | 2019

EU FIZ ASSIM

Meio Ambiente:
Professora leva turma de
Educação Infantil para o
mangue
Projeto em Joinville ajudou a desconstruir preconceitos da
comunidade escolar
Camila Cecílio

Crédito: Marcelo Almeida/Arquivo NOVA ESCOLA


O manguezal foi a principal inspiração da professora Paula Aparecida Sestari
para desenvolver um projeto que abordasse questões ambientais com seus
alunos da Educação Infantil. O local era propício, afinal o próprio CEI Odorico
Fortunato, localizado no bairro Aventureiro, em Joinville (SC), havia sido
construído sobre uma área aterrada anos atrás. Antes mesmo de começar a
explorar o tema, Paula percebeu que o trabalho poderia ter outro viés além de
falar sobre o meio ambiente: desconstruir ideias preconceituosas sobre os
manguezais e famílias que vivem nele.
“Havia bastante preconceito com quem morava no manguezal, atrelavam a
pessoas a questão do lixo, da sujeira, da pobreza”, recorda Paula. Ao mesmo
tempo, a professora sentia que as crianças reproduziam falas pejorativas na
sala de aula e isso mostrava uma necessidade mostrar a relevância do
ecossistema não apenas para elas, mas também para seus responsáveis. Foi
assim que nasceu Baía da Babitonga: Nosso Berçário Natural, iniciativa que
deu à professora o Prêmio Educadora Nota 10 em 2014. “Criei o projeto para
ajudar a preservar o espaço, conscientizar e desconstruir preconceitos”,
reforça.
LEIA MAIS Os investigadores do manguezal

Vídeo: https://www.youtube.com/embed/L5OXTLQZ1SY

Foram várias etapas até alcançar o objetivo traçado. Depois de conversar com
as crianças, de 4 e 5 anos, Paula formulou e enviou um questionário para os
responsáveis. As respostas mostraram que a maioria não compreendia a
importância do mangue e que desconhecia sua relação com a Baía de
Babitonga, que está diretamente ligada ao braço de rio ao lado da escola.
Conversas, leituras, observações, construções tridimensionais e vivências na
região de mangue foram o suficiente para que a turma de Educação Infantil
aprendesse sobre o manguezal e passasse a ter outro olhar sobre o
ecossistema e quem precisa dele para viver, como pescadores. Outras
atividades, como um passeio de barco, foram organizadas com o envolvimento
das famílias para que todos vissem a dimensão da natureza que se encontra no
lugar. Com a colaboração da comunidade, os alunos passaram a contar com um
observatório elevado de madeira para que todos pudessem ver o manguezal
do pátio da escola.
Crédito: Marcelo Almeida/Arquivo NOVA ESCOLA
Como posso desenvolver o projeto na minha escola?
Embora o projeto trabalhe com uma região específica de Joinville, a professora
Paula acredita que a ideia pode ser simplesmente adaptada a outras realidades.
“É preciso, sobretudo, que o professor esteja atento ao que as crianças levam
para a sala de aula, que esteja aberto para ver e escutar o que diz o entorno, a
comunidade, a fim de identificar questões que vão fazer a diferença na vida
deles, e pode ter até mesmo o manguezal, afinal é um ecossistema presente em
diversas cidades litorâneas”, observa. “Acredito que isso seja pensar
globalmente e agir localmente”, completa.

Baía da Babitonga: nosso berçário natural


Por: Paula Sestari
Crédito: Marcelo Almeida/Arquivo NOVA ESCOLA
Indicação: Educação Infantil, Fundamental 1 e 2
Disciplinas: Ciências, História, Geografia, Língua Portuguesa,
Química
Duração: 1 ano
O que é o projeto?
O projeto Baía da Babitonga: Nosso Berçário Natural foi desenvolvido a
partir da necessidade de construir com as crianças um novo olhar para
a região de manguezal no entorno do centro de Educação Infantil. A
proposta mobilizou também as famílias e chamou a atenção da
comunidade para esse ecossistema que precisa ser preservado. As
experiências criaram a oportunidade de escuta das crianças,
observação e registro das características do local, pesquisas e
conversas compartilhadas sobre o tema, saídas a campo contando com
a participação das famílias, construção de contextos lúdicos dentro da
sala de aula trazendo elementos (naturais, fotos, interação com a
comunidade, histórico do bairro, textos, histórias) atrelados a esse
ecossistema.
Do que vou precisar?
Pesquisas na web sobre as condições e peculiaridades de cada região.
Veja esses sites interessantes:
www.projetotoninhas.org.br
www.caranguejo.org.BR
Quais os objetivos de aprendizagem trabalhados?
Além dos Campos de Experiência da BNCC, a professora destaca:
- Conhecer a importância do manguezal para outros ecossistemas da
Baía da Babitonga;
- Conhecer alguns animais que buscam a região para a reprodução e
como é a vida deles nesse ambiente;
- Reconhecer o relacionamento dos grupos sociais habitantes do
entorno, com a área;
- Incentivar práticas de Educação ambiental no grupo familiar e
compartilhar informações com a comunidade, como estratégia de
valorização e preservação da área.
E os desafios? Como encará-los?
“O maior desafio foi o receio dos pais por conta das pesquisas
externas. Depois de muita conversa fui conquistando a confiança das
famílias, envolvendo parceiros, trazendo materiais, pesquisadores e
atores que sabem a importância do manguezal para dialogar com a
gente. A gestão da escola foi bastante parceira e me apoiou muito e
isso fez a diferença”, diz Paula.
E no final? O que meus alunos vão aprender?
- Compreenderam a relevância desse ecossistema e das suas
peculiaridades;
- Ampliaram os conhecimentos sobre a fauna e a flora e as conexões
existentes entre os diferentes ecossistemas que compõem a região;
- Demonstraram valorização das riquezas naturais locais e sentimento
de pertencimento à comunidade;
- Tiveram momentos de reflexão sobre a relação com o meio ambiente
por meio de ações que contribuem para a Educação Ambiental e
sustentabilidade;
- Participaram de momentos de observação e registro, pesquisas e
discussões em grupo a partir de leituras de curiosidades sobre o tema;
- Se apropriaram da história do desenvolvimento da comunidade em
sua relação com o manguezal abordando questões sociais e culturais
originadas.
Paula Aparecida Sestari é pedagoga, tem pós-graduação em Mídias
na Educação e é mestre em Ensino de Ciências, Matemática e
Tecnologias. Atua há 12 anos como professora de Educação Infantil
da rede municipal e é coordenadora do Núcleo Conectando
Saberes de Joinville.

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