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pensar-sobre-educacao-financeira

Publicado em NOVA ESCOLA 09 de Novembro | 2021

XP Educação

História do dinheiro estimula


alunos a pensar sobre Educação
Financeira
Assunto recorrente nas aulas de História e Matemática, a viagem ao passado
de cédulas e moedas serve de base para compreender valores e o uso
consciente do dinheiro
Dimítria Coutinho

Thiago Lopes/Estúdio Kiwi/NOVA ESCOLA

Em um piscar de olhos, transações financeiras são realizadas. Afinal, para comprar qualquer coisa,
basta um clique, fazer um Pix ou aproximar o celular da maquininha de cartão. As cédulas e moedas
estão sendo trocadas por outras formas de pagamento quase instantâneo, mas o processo até que
elas surgissem foi longo. No início da civilização, todo o comércio era baseado no escambo, ou seja, na
troca de mercadorias. Esse sistema deu origem às moedas-mercadorias e, no século VII a.C., na região
da Lídia, onde hoje é a Turquia, surgiram as primeiras moedas.

Atualmente, o dinheiro tornou-se virtual, mas a percepção de valor monetário continua sendo a base
para o consumo consciente e a Educação Financeira. “A construção do significado de dinheiro passa
pela compreensão do próprio sistema de numeração. As trocas entre unidades, dezenas e centenas de
moedas e cédulas fazem com que os valores se tornem perceptíveis pelos estudantes”, diz Fernando
Barnabé, professor de Matemática, integrante do Time de Autores e do Time de Formadores de NOVA
ESCOLA e consultor pedagógico desta série de reportagens sobre Educação Financeira.

A história do dinheiro acompanhou a nossa ao longo dos séculos, o que faz com que o assunto possa
ser relacionado com diversas épocas. “Independentemente da questão social e econômica, os alunos
têm uma ideia de compra, venda e valor desde cedo. Não é difícil descobrir algo a respeito da vivência
deles, que você puxa como um fio condutor para os conteúdos”, comenta Michele Cristina Alves Bento,
professora do 2º ano do Ensino Fundamental na Escola Municipal de Educação Básica Nicéa Hirota da
Silva, em Registro (SP).

Além de relevante, o tema também desperta curiosidade em crianças e adolescentes. “Quem não
gosta de dinheiro, não é?”, brinca Elisa Vilalta, professora de História dos Anos Finais do Ensino
Fundamental nas redes pública e privada de Maceió (AL), com 30 anos de experiência como professora
dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. “Os alunos se interessam em pesquisar sobre o assunto, que
chama bastante a atenção deles”, garante a docente, que também é integrante do Time de Autores de
NOVA ESCOLA.

O passado aplicado ao presente

“Pensar desde o escambo até a origem das moedas faz parte do caminho para que o aluno entenda o
mundo financeiro de hoje”, afirma Fernanda Erculano, professora de Educação Financeira do
Ecossistema de Aprendizagem Inovador. Em sua disciplina eletiva de Educação Financeira, ministrada
de forma online em escolas espalhadas pelo Brasil que adotam esse sistema de ensino, ela aborda as
criptomoedas no Ensino Médio. “Tudo o que é atual é mais atraente para o estudante. Na aula, ele é
instigado a pesquisar sobre as criptomoedas existentes para discutir a diferença entre elas e como são
aceitas”, comenta.

Fernanda afirma que os jovens conseguem traçar paralelos entre os períodos históricos e os hábitos
atuais, o que abre espaço para introduzir outros temas ligados à Educação Financeira nas aulas.
“Pense, por exemplo, na época do escambo, quando as pessoas trocavam os produtos. Hoje, muitos
profissionais trocam serviços entre si”, exemplifica, demonstrando como o assunto pode render uma
conversa sobre economia colaborativa.

O dinheiro e a sua origem são um tema tão versátil, que pode ser trabalhado desde a Educação Infantil
até o Ensino Médio. As professoras falam das vantagens de estimular pesquisas pelos próprios alunos.
“É essencial favorecer o protagonismo: são eles que precisam pesquisar, chegar às conclusões e
apresentá-las, o que também favorece a oralidade. O professor fica nos bastidores, é o mentor”,
explica Elisa.

Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, o reconhecimento de cédulas e moedas pode partir de
atividades práticas e lúdicas. Para Michele, esse é um ótimo caminho para introduzir conteúdos
matemáticos. “Às vezes, a criança tem uma ideia de soma e de subtração com o uso do dinheiro e não
tem com a numeração, porque as cédulas e moedas fazem parte da vida dela, é a Matemática na vida
real”, comenta. A professora aconselha adotar dinâmicas nas quais as crianças consigam se enxergar
na situação apresentada. “Naturalmente, você vai contextualizar a história do dinheiro com a vida
diária dos alunos, para que eles entendam a proporcionalidade dos valores, questões de cálculo
mental e situações-problema”, exemplifica.

Do lado histórico, Michele comenta que gosta de relembrar a própria infância, quando a moeda
vigente era outra. Para Elisa, uma das principais práticas nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental é
construir uma linha do tempo conjunta. Ela sugere que o professor divida a turma em grupos para que
cada um deles pesquise parte da história do dinheiro, reunindo o resultado em uma grande linha do
tempo. Histórias em quadrinhos ou esquetes de teatro sobre as pesquisas realizadas também são
opções que envolvem criatividade. Outra possibilidade é a contação de histórias. O site do Banco
Central indica alguns vídeos e livros infantis sobre o tema. Elisa já trabalhou com esses materiais em
sala de aula e comenta que o resultado é interessante.

Já nos Anos Finais do Ensino Fundamental, a parte matemática pode ficar ainda mais atrelada à
Educação Financeira com a abordagem de temas mais amplos, como a inflação. Também dá para
inserir o dinheiro em cálculos mais complexos, a exemplo da conversão de moedas de diferentes
países. Na abordagem histórica, as práticas com linha do tempo podem continuar, mas com pesquisas
mais independentes, aconselha Elisa. “Os alunos podem construir planisférios mostrando as moedas
de cada país e fazer mapas mentais com suas conclusões sobre cada tópico da história do dinheiro”,
sugere a professora.
Para professores de História e Matemática
Separamos planos de aulas, vídeos e livros que ajudam a abordar a história do dinheiro em sala de
aula:

NOVA ESCOLA – 10 planos de aula sobre Sistema monetário brasileiro

NOVA ESCOLA – 5 planos de aula sobre Composição de valores relacionando cédulas e moedas

BANCO CENTRAL – Cartilha “Dinheiro no Brasil”

BANCO CENTRAL – Livro “O que é o dinheiro?”

BANCO CENTRAL – Biblioteca de vídeos e documentos sobre o tema

Dissertação de mestrado – A Numismática na sala de aula: moedas que contam histórias

História, Matemática e muito mais

Os componentes curriculares que mais se beneficiam da temática do dinheiro são História e


Matemática, mas isso não significa que outras disciplinas não possam abordá-lo. “Quando você atua
de forma interdisciplinar, atribui mais sentido aos conteúdos”, comenta Ricardo Jonard, professor de
História dos Anos Finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio e coordenador de projetos na
Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de Quatis (RJ).

Logo cedo, na alfabetização, essa parceria entre áreas do conhecimento mostra sua importância. “Às
vezes, pensamos que a alfabetização só se remete à Língua Portuguesa, mas a alfabetização também é
Matemática. E quando eu falo de sistema monetário, também falo de História e Geografia”, afirma
Michele. Essa abrangência deve continuar também nos Anos Finais do Ensino Fundamental e no Ensino
Médio, trazendo diversos componentes curriculares para a conversa. Elisa exemplifica: em Geografia,
entram em cena as diferentes moedas mundiais e a força que cada uma delas exerce; o professor de
Ciências pode falar sobre os motivos pelos quais um material é mais caro do que outro e, portanto,
algumas moedas valem mais; em Artes, o docente pode encorajar a análise de componentes visuais de
cédulas e moedas, e o professor de Língua Portuguesa pode estimular produções sobre o tema.
Ricardo exemplifica que, enquanto o professor de História aborda o reflexo da hiperinflação nas
décadas de 1980 e 1990, o de Matemática pode explicar o fenômeno econômico de uma forma mais
prática.

Ricardo costuma levar moedas antigas para a sala de aula a fim de chamar a atenção dos estudantes.
O professor também é um colecionador e acaba abordando, em suas aulas, a numismática, estudo
histórico, artístico e econômico de cédulas, moedas e medalhas. “A numismática não é o fim, é o meio”,
comenta. Em sua pesquisa de mestrado – disponível no box acima –, ele desenvolveu diversas
atividades nas quais as moedas abrem conversa para conteúdos de História.

Dentre vários exemplos, ele conta de uma aula sobre o fim do Império e o início da República: “Eu levei
para a sala moedas que tinham elementos específicos dos dois períodos. Pedi para os alunos as
classificarem em ordem cronológica e fiz um roteiro de análise”. A partir desse roteiro, eles tinham que
observar as mudanças de uma moeda de uma época para a outra e apontar o que essas mudanças
diziam. “Quando você coloca o estudante para formular hipóteses, está fazendo com que ele pense de
forma crítica e produza conteúdo”, afirma o professor.

Ricardo, que se apaixonou pela História por causa da numismática, acredita que mostrar as moedas na
escola pode fazer o mesmo com alunos de todas as faixas etárias. “Quando eu levo a coleção, vejo que
os olhos brilham. A numismática é fascinante por ser uma fonte histórica genuína e original. A moeda é
testemunha do seu tempo”, afirma.

Numismática em sala de aula


Para os professores de História que gostariam de levar moedas para dentro da sala de aula, mas
não são colecionadores, Ricardo dá algumas dicas.
- No catálogo digital Moedas do Brasil, é possível encontrar todas as moedas que já circularam
no país. Além de estudar sobre elas, o professor também pode imprimi-las em tamanho real.

- Para quem quer montar uma coleção, por mais modesta que seja, Ricardo aconselha sites de
compra e venda na internet e feiras de antiguidades. Dá para encontrar online conjuntos de
moedas em que cada uma sai por menos de R$ 1.

- Outra opção é perguntar para os alunos se algum familiar tem coleção de moedas em casa.
Tanto Ricardo quanto Elisa comentam que o tema sempre desperta interesse nos estudantes,
e alguns acabam levando moedas antigas que têm em casa para os colegas conhecerem.

Consultor Pedagógico: Fernando Barnabé, professor de Matemática, integrante do Time de Autores e


do Time de Formadores da NOVA ESCOLA, autor e editor de materiais didáticos.

Acesse aqui a página especial do projeto Educação Financeira Transforma e conheça todos os
conteúdos da parceria entre a Nova Escola e o Instituto XP.

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