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EFEITO DO EXERCÍCIO FÍSICO NA REABILITAÇÃO DO ACIDENTE

VASCULAR CEREBRAL
FERRARINI, GUSTAVO1
ALMEIDA, MIKAEL2
ORIENTADOR: ANDRADE, SÉRGIO 3

Resumo
O acidente vascular cerebral é caracterizado por uma interrupção súbita
do fluxo sanguíneo do encéfalo, sendo causado pela obstrução de uma artéria
(causando o AVC isquêmico), ou ruptura de uma artéria (causando o AVC
hemorrágico). Os sinais clínicos estão relacionados diretamente com a
localização e extensão da lesão (LEWIS, et al. 2002). Segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), o AVC é a segunda principal causa de morte no
mundo, responsável por cerca de 11% dos óbitos. Indivíduos que tiveram
sequelas do AVC seguem uma rotina de tratamento de acordo com o tipo e
causa do AVC, e segundo Gordon, et al (1993) o tratamento consiste na
medida do possível em restabelecer funções ou minimizar as sequelas
deixadas. O presente estudo visa buscar o papel do exercício físico na
reabilitação do AVC, e ainda ao conhecimento do profissional de educação
física poder atuar com esse público no ambiente de trabalho, podendo estar
capacitado a atuar com diversas patologias. Tendo como objetivos o estudo
busca analisar e investigar a reabilitação física de pessoas com AVC diante da
prática do exercício físico. A relação do AVC com o exercício físico está aliada
em sua maioria na melhora da manutenção da saúde ou da condição orgânica,
o que proporciona uma melhora na sua qualidade de vida (LOCKETTE E
KEYES, 1994). Segundo Lima e Cardoso (2014), o exercício físico tem enorme
função sobre o organismo dos indivíduos que tiveram AVC, podendo influenciar
na manutenção e melhoria da capacidade funcional. O presente estudo trata-se
de uma revisão narrativa qualitativa, realizada a partir de estudos originais
disponíveis nas bases de dados PubMed, Lylacs, BVS, Scielo e EBSCO. Com
base nos estudos revisados até o momento identificamos que a prática de
exercício físico possibilita o aumento da capacidade funcional da marcha,
melhora no condicionamento físico, melhora da performance motora e
facilidade na realização de atividades do cotidiano. Os demais resultados para
a discussão ainda não estão concluídos pois o presente estudo ainda está em
fase de desenvolvimento. É possível afirmar que o exercício físico traz
importantes benefícios na reabilitação dos indivíduos que sofreram AVC. Além
disso, parece que o exercício aeróbico em esteira ou bicicleta ergométrica é o

1
Graduando em Educação Física, Centro Universitário Unibrasil.
2
Graduando em Educação Física, Centro Universitário Unibrasil.
3
Doutor em Educação Física, Centro Universitário Unibrasil.

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tipo de intervenção que traz melhorias mais consistentes, embora futuras
comparações sejam necessárias.

Palavras-chave: Acidente Vascular Cerebral; Reabilitação Física; Exercício


Físico; Atividade Física.


INTRODUÇÃO:
Segundo Karthikbabu et al. (2011), o acidente vascular cerebral (AVC) é
o comprometimento da circulação cerebral em um ou mais vasos sanguíneos,
interrompendo ou diminuindo o suprimento de oxigênio, e com frequência
provocando lesão séria ou necrose nos tecidos cerebrais. O AVC é a maior
causa de mortalidade em grande parte dos países ocidentais, sendo que 80%
das vítimas sobrevivem à fase aguda, e embora a maioria recupere sua
habilidade de caminhar sem ajuda, ainda assim cerca de 30 a 66% dos
sobreviventes não são capazes de realizar tarefas diárias de maneira
totalmente independente.
O AVC é caracterizado por uma interrupção súbita do fluxo sanguíneo
do encéfalo, causado tanto pela obstrução de uma artéria caracterizando o
AVC isquêmico, quanto por uma ruptura de uma artéria causando o AVC
hemorrágico. Os sinais clínicos estão relacionados diretamente com a
localização e extensão da lesão, assim como a presença de irrigação colateral
(LEWIS, ET AL., 2002).
Indivíduos que tiveram sequelas do AVC normalmente seguem uma
rotina de tratamento de acordo com o tipo e causa do AVC. Essa rotina varia
desde a intervenção cirúrgica ao tratamento clínico, passando posteriormente
para o tratamento de reabilitação física. Segundo Gordon, et al. (1993) o
tratamento consiste na medida do possível em restabelecer funções ou
minimizar as sequelas deixadas pelo AVC.
Há ainda fatores de riscos para que ocorra o acidente vascular cerebral,
dentre esses fatores podemos citar a diabetes, hipertensão, obesidade e

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hábitos inadequados de saúde, como, tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, e
hábitos alimentares inadequados. Muitos desses fatores podem ser evitados
e/ou minimizados a partir de hábitos saudáveis. Após o AVC as sequelas estão
relacionadas ao quão acometido o cérebro foi, ou seja, o quanto a área
encefálica foi acometida e o tempo de espera pelo socorro prestado. A paresia
(mudança na capacidade de gerar níveis normais de força muscular) é a
alteração mais comum em indivíduos com AVC, com mais de 80% sofrendo
essa condição de forma aguda e mais de 40% se tornando crônica (MAFRA,
2019). Outras manifestações comuns do AVC no corpo são a fraqueza,
diminuição do tônus muscular, frouxidão articular e redução do controle motor
(MAFRA, 2019).
Segundo Costa e Duarte (2002), algumas situações que ocorrem
habitualmente em indivíduos com AVC é quando o paciente volta para casa e
permanece inativo fisicamente, fato que tem sido uma das principais causas de
ter ocorrido o AVC e pode ser talvez a causa de um novo acidente.
A perda de movimento, independência e fraqueza muscular, são apenas
alguns fatores relacionados ao dano causado pelo AVC, no entanto outros
fatores podem ser reconhecidos como maiores limitantes para a vida e
reabilitação da pessoa após sofrer o AVC. GRAEF (2014) mostra que esses
fatores, estão associados a perda de unidades motoras e recrutamento
deficiente delas, até atrofia das fibras musculares. Outro ponto apresentado por
GRAEF (2014) é que a fraqueza muscular se correlaciona com o desempenho
motor funcional, e por isso um programa de reabilitação física poderia
promover melhora funcional e a qualidade de vida dessas pessoas.
Outro ponto é que o equilíbrio dos indivíduos que tiveram AVC é afetado,
sendo um fator de risco para quedas em pessoas com AVC (LUND, et al.
2017). A falta do equilíbrio afeta na realização de atividades diárias dessas
pessoas, comprometendo o desempenho e melhora do indivíduo em seu
quadro clínico, nas três etapas seguidas do AVC, a fase aguda, de reabilitação
e a fase crônica, aumentando a probabilidade de queda desses indivíduos
(SEVERO, et al. 2014) logo que o AVC ocorre em maior parte nas pessoas de

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maior idade, que estão em um processo mais avançado de envelhecimento,
onde a ocorrência de quedas aumenta, devido ao AVC e também as alterações
fisiológicas do processo de envelhecimento (COSTA et. al. 2017).
A relação do AVC com o exercício físico está aliada em sua maioria na
melhora da manutenção da saúde ou da condição orgânica, o que proporciona
uma melhora na sua qualidade de vida (LOCKETTE E KEYES, 1994).
Segundo Lima e Cardoso (2014), o exercício físico tem enorme função
sobre o organismo dos indivíduos que tiveram AVC, podendo influenciar na
manutenção e melhoria da capacidade funcional. A prática da atividade física é
importante para a prevenção do AVC, no entanto após um caso de acidente
vascular cerebral, a reabilitação é essencial. Barbosa, et al. (2021), cita que
estudos identificaram melhora nos quadros de AVC com a reabilitação física,
sendo eficaz na promoção da recuperação da função corporal e mobilidade.

METODOLOGIA:
A presente pesquisa trata-se de uma revisão narrativa qualitativa.
Revisões dessa natureza devem estar asseguradas: a validade descritiva
(identificação de estudos relevantes), interpretativa (correspondência entre o
registrado pelo revisor e o conteúdo do estudo), teórica (credibilidade dos
métodos desenvolvidos) e pragmática (aplicabilidade do conhecimento gerado).
(GUANILO, et al, 2011).
Os critérios de inclusão foram artigos de estudos originais que
continham os termos: AVC, treinamento resistido, atividade física, exercício
físico, reabilitação física. A pesquisa está sendo realizada através da busca de
artigos científicos pesquisados pelas seguintes bases de dados: PubMed, BVS
e Scielo tendo um recorte temporal entre o ano de 2001 a 2017.
Os critérios de exclusão para a seleção dos artigos foram artigos fora do
recorte temporal, artigos de revisões e artigos duplicados.

FLUOXOGRAMA:

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RESULTADOS:

A tabela abaixo mostra os resultados dos estudos encontrados conforme


os critérios de inclusão citados na metodologia. Os estudos foram ordenados
cronologicamente de forma ascendente, dentro do recorte temporal
estabelecido na metodologia.

Estudo Amostra Duração Treinamento Resultados


Salmela et 6 M – 7 H (54 10 semanas 3 sessões na semana. Cada ⬇ Tempo no teste de
al. 2001 a 80 anos) sessão durou em torno 60 e caminhada 6 m, cadência e
90 minutos. Treinamento comprimento da passada,
aeróbico, e de força. grupos musculares afetados.

Salmela et 13 M – 17 H 10 semanas 3 sessões por semana, com ↑ Performance motora,


al. 2003 (34 a 83 anos) duração de 90 a 120 minutos independência,
por sessão. Treino de condicionamento físico,
fortalecimento muscular velocidade da marcha, da
utilizando equipamentos da força e atividades diárias.

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sala de musculação, Não houve melhora na
priorizando membros simetria de movimento de
inferiores e treino aeróbico na sentar-se e levantar.
esteira ou bicicleta mantendo
a FC de 70 a 85% da FCmax.
Cramp et al. 5H–5M 6 semanas 2 sessões por semana. ↑ Da força dos extensores de
2006 (idade média Exercícios de força com baixa joelho;
de 62 anos) intensidade realizados com Não houve mudança
elásticos, peso corporal e significativa da força dos
polias de Westminster, flexores de joelho;
priorizando membros Tônus muscular inalterado;
inferiores. ↑ Da velocidade da marcha.
Yu e Doo, 18 indivíduos 4 semanas 5 sessões por semana. ↑ Atividade muscular do core;
2013 Exercícios abdominais para ↑ Estabilidade e controle do
fortalecimento do core e core.
postura.

Tang et al., 50 indivíduos. 6 meses 3 sessões por semana ⬇ perfil lipídico, glicose;
2014 durante 60 minutos. ↑ da marcha e melhora da
Treinamento aeróbico a 40% função cardíaca.
da frequência cardíaca de Não houve melhora no
reserva progredindo 10% a VO2pico.
cada 4 semanas até 80%:
Caminhada inclinada, ciclo
ergômetro, marcha no local,
stepups, sentar e levantar.
Treinamento de Flexibilidade
abaixo de 40% da frequência
cardíaca de reserva:
Alongamento, consciência
postural e equilíbrio.

Lima e 20 indivíduos 12 semanas 2 sessões por semana ↑ Capacidade funcional da


Cardoso. (58 a 62 anos) durante 45 minutos. marcha, condicionamento
2014 Hidroginástica, Intensidade físico e realização de
baixa a moderada. Sessões atividades diárias.
divididas em 3 fases,
adaptação ao meio aquático,
alongamento e exercícios para
equilíbrio estático, dinâmico e
para a marcha. Cada série foi
realizada de forma contínua,
havendo repouso de 1 minuto.
Ambrose e 25 indivíduos 6 meses 2 sessões por semana de ↑ Capacidade funcional,
Janice J. treinamento funcional com memória, atenção seletiva,
Eng. 2014 base no programa Fitness and cognição e resolução de
Mobility Exercise (FAME) e 1 problemas.
sessão de atividades de lazer,
boliche, bilhar, artes e
culinária.

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Lamberti et 27 H – 8 M 8 semanas 3 sessões por semana, ↑ Velocidade da marcha;
al. 2017 (idade média durante 60 minutos. equilíbrio e força de membros
de 68 anos) Grupo experimental inferiores, potência muscular
Fase de resistência – 10 do membro afetado;
minutos de caminhada ↑ Mobilidade e qualidade de
intermitente, separadas por 10 vida;
minutos de alongamentos dos ⬇ Tempo no teste de
membros inferiores. caminhada 6 m.
Fase mista – extensão de
joelho, flexão de joelho,
alongamento e caminhada.
Grupo de controle
Fase de resistência – 35
minutos de caminhada a 70%
da Fcmax e 10 minutos de
alongamento para membros
inferiores.
Fase mista – leg extension e
leg curl, 8 a 10 repetições a
70% de 1RM, 10 minutos de
caminhada.
Lund et al. 43 indivíduos 12 semanas 3 sessões por semana; ↑ equilíbrio, desempenho da
2017 (idade média Treinamento aeróbico: ciclo caminhada;
de 50 a 80 ergômetros, 3-12 minutos com ↑ Estabilidade do tronco;
anos) intervalos de 5-10 minutos; ↑ Consumo de oxigênio.
Treinamento de força com alta
intensidade para membros
inferiores: flexão e extensão
de quadril, extensão e flexão
de joelho,
flexão dorsal e plantar e leg
press.
Treinamento de força com
baixa intensidade para
membros superiores: puxada
e remada bilaterais, flexão
unilateral de ombro, abdução
e rotação, flexão e extensão
bilateral de cotovelo.

DISCUSSÃO:

Foram encontrados três estudos que aplicaram o treinamento de força


junto ao aeróbico como forma de intervenção. Nesse sentido, SALMELA et al

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(2001) aplicaram um programa de treinamento com exercícios aeróbicos e de
força durante 10 semanas, três vezes por semana com indivíduos que sofreram
o AVC entre 1 e 34 anos antes do estudo. Os exercícios aeróbicos consistiram
em uma caminhada ou bicicleta ergométrica durante dez a vinte minutos a 70%
da frequência cardíaca máxima (FCmáx), com intervalos de um a dois minutos.
Os exercícios de força consistiram em exercícios de membros inferiores
durante trinta minutos utilizando o peso corporal, pesos de areia e elásticos,
utilizando forças concêntricas, excêntricas e isométricas. Foram realizadas três
séries de dez repetições para cada exercício com intervalos de um a dois
minutos entre as séries. Foi observada uma diminuição no tempo da
caminhada e um aumento na cadência da passada.
Em um outro estudo do mesmo grupo de pesquisadores, SALMELA et
al, (2003) aplicaram um programa de treinamento similar, com indivíduos que
sofreram AVC entre 1 e 14 anos antes da intervenção, no qual foi observado
um aumento na velocidade da marcha percorrendo uma distância de 28
metros. Naquele estudo foram observados também um aumento no
desempenho no teste de escada com 6 degraus. Houve também um aumento
na endurance observado pelo monitoramento da frequência cardíaca e pela
percepção de esforço de Borg no teste de caminhada de 6 minutos. Por outro
lado, não foi observada uma melhora na simetria do movimento de sentar e
levantar, analisada na plataforma Balance Máster.
Já em um estudo de LAMBERTI et al, (2017) o efeito do treinamento
aeróbico, de força e alongamento foram analisados de forma isolada,
primeiramente, e combinada, em uma segunda fase do experimento. Os
indivíduos selecionados foram os que sofreram AVC pelo menos 180 dias
antes da intervenção. Nas primeiras quatro semanas os indivíduos realizavam
apenas o treinamento aeróbico, seguido pelo treinamento combinado a partir
da quinta semana até completar oito semanas. Os exercícios aeróbicos foram
realizados por 10 minutos de caminhada intermitente, separada por 10 minutos
de alongamentos dos membros inferiores. Na fase de treinamento combinado
foram realizados exercícios de extensão e flexão de joelho com caneleiras, em

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5 séries de 5 repetições, com 1 minuto de descanso entre as séries. Foram
realizados 5 minutos de alongamento e 5 séries de 2 minutos de caminhada
com 1 minuto de descanso entre as séries. Foi observado um aumento na
velocidade da marcha através de um teste de caminhada de 10 metros. Foi
verificado também um aumento no escore da escala de equilíbrio de Berg.
Além disso, houve um aumento da força e da potência muscular no teste de
sentar e levantar e um aumento no escore no questionário Medical results
study short-Form 36 Questionnaire (SF-36), um questionário que avalia
qualidade de vida.
Diferente dos estudos apresentados anteriormente um estudo
apresentado por LUND et al (2017) realizou o treinamento de força e aeróbico
intervalado em duas fases. Os indivíduos selecionados foram os que sofreram
AVC entre 6 e 36 meses antes da intervenção. O estudo durou 12 semanas,
sendo realizado 3 sessões por semana. Na primeira fase o treinamento
aeróbico intervalado foi realizado com 3 a 12 minutos no ciclo ergômetro com
intervalos de 5 a 10 minutos entre as séries. A intensidade foi definida a 75%
da FCmáx. Na segunda fase o treinamento de força foi divido entre intensidade
alta para membros inferiores e intensidade baixa para membros superiores. Os
exercícios realizados na intervenção para os membros inferiores foram a flexão
e extensão de quadril, extensão e flexão de joelho, flexão dorsal, plantar e Leg
press. Para os membros superiores foram realizados os exercícios de puxada e
remada bilaterais, flexão unilateral de ombro, abdução e rotação, flexão e
extensão bilateral de cotovelo. Foi observado maior consumo de oxigênio
máximo, sendo observado através do teste de consumo máximo de oxigênio
com a utilização do ciclo ergômetro. Foi observado um aumento na força
extensora do joelho não parético. No entanto, no joelho parético a força
muscular não foi aumentada, sugerindo que a perna afetada não foi responsiva
ao treinamento de força. Houve um aumento da velocidade da marcha a partir
do teste de caminhada de 6 minutos e um aumento no escore da escala de
equilíbrio de Berg.

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Já em um estudo realizado por TANG et al (2014), buscaram comparar
os efeitos de um treinamento aeróbico de alta intensidade com um treinamento
de equilíbrio de baixa intensidade na aptidão física e fatores de risco
cardiovascular. Os indivíduos selecionados foram os que sofreram AVC em um
ano antes da intervenção. No grupo que realizava o treinamento aeróbico, as
sessões eram realizadas progredindo de 40% a 80% da frequência cardíaca de
reserva, sendo aumentado 10% a cada 4 semanas. Os exercícios variavam de
caminhada rápida e inclinada, ciclo ergômetro e exercícios funcionais como
marcha no local, sentar e levantar repetidas vezes e step up (subida e descida
do degrau). No grupo que realizou o treinamento de equilíbrio e flexibilidade, as
sessões eram realizadas abaixo de 40% da frequência cardíaca de reserva e
os exercícios selecionados foram de alongamento, consciência postural e
equilíbrio. Após seis meses foi notada uma diminuição do perfil lipídico e da
glicose em ambos os grupos. Não houve alteração no VO2pico em ambos os
grupos. Segundo os autores, os resultados podem ser atribuídos às sequelas
neurológicas do AVC. No entanto, a melhora da função cardíaca, como a
fração de esvaziamento do átrio direito e relaxamento ventricular aumentou no
grupo que realizou o treinamento aeróbico. Ambos os grupos aumentaram a
distância percorrida no teste de 6 minutos de caminhada.

Foram encontrados dois estudos que investigaram somente o efeito do


treinamento de força. Nesse sentido, CRAMP, et al (2006), buscaram analisar a
eficácia de um treinamento de força de baixa intensidade direcionado a força
muscular do joelho em indivíduos que tiveram AVC. Os indivíduos selecionados
foram os que sofreram AVC de 6 a 12 meses antes da intervenção. O estudo
durou 6 semanas, e as sessões eram realizadas 2 vezes por semana. Os
exercícios selecionados foram a extensão do joelho usando polias, abdução do
quadril e extensão do quadril com elásticos e agachamento corporal usando a
parede. A intensidade dos exercícios foi estabelecida a 20% de 1RM, sendo
aumentada progressivamente até 50% ao final do estudo. Utilizando o
dinamômetro, foi observado aumento da força muscular dos extensores de
joelho na perna parética, no entanto não houve aumento significativo para a

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perna não parética. Já a musculatura flexora do joelho não apresentou
aumento de força com o treinamento. Não houve aumento no tônus muscular
onde foi analisado pela escala de Ashworth modificada. Houve aumento
significativo da velocidade da marcha por meio do teste de tempo de
caminhada de 20 metros.
Ainda utilizando-se do treinamento de força como meio de intervenção,
um estudo feito por Yu e Doo (2013), analisaram o efeito de exercícios para a
estabilidade e atividade muscular do tronco. Os indivíduos selecionados foram
os que sofreram AVC 6 meses antes da intervenção. O treinamento era
realizado 5 vezes na semana durante 4 semanas, e tinha duração de 30
minutos por sessão. Os indivíduos foram divididos em grupo de controle e
grupo experimental. O grupo de controle realizava apenas cinesiologia e o
grupo experimental realizava cinesiologia e exercício para estabilidade do
tronco. O exercício era o abdominal oblíquo, realizado unilateralmente em
ambos os lados. A medida utilizada para analisar a atividade muscular foi a
eletromiografia, e a estabilidade do tronco foi analisada pelo TIS (Escala de
deficiência de tronco). No grupo experimental houve aumento significativo do
TIS, o grupo controle não apresentou alterações. Somente o grupo
experimental teve aumento da atividade muscular.
Para além dos estudos encontrados, AMBROSE E JANICE J. (2014),
utilizaram o treinamento funcional e a recreação como meio de intervenção
para o estudo. Os indivíduos selecionados foram os que sofreram AVC em um
ano antes da intervenção. A intervenção teve duração de seis meses, com
duas sessões de treinamento funcional e uma sessão de recreação durante a
semana. As sessões que continham o treinamento funcional eram compostas
por exercícios de equilíbrio, resistência e aeróbico com base no programa
FAME (Fitness and Mobility Exercise). Já a sessão de recreação, era composta
por atividades de lazer, como atividades em grupo, planejamento, estratégia,
tomada de decisões, artes, culinária e jogos como boliche e bilhar. Foi notado
um aumento na capacidade funcional, medido pelo teste de caminhada de seis
minutos, memória, atenção seletiva, cognição e resolução de problemas

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avaliados por meio do teste de Stroop. No entanto, diferente dos demais
estudos, não houve diferença significativa no equilíbrio, testado pela escala de
equilíbrio de Berg.

O último estudo apresentado por LIMA E CARDOSO (2014), utilizou


como meio de intervenção a hidroginástica. O treinamento teve duração de
doze semanas e as sessões eram realizadas duas vezes por semana e foram
divididos em três fases: adaptação ao meio aquático, alongamento e exercícios
de equilíbrio estáticos e dinâmicos. Na fase de adaptação ao meio aquático
foram realizados exercícios de controle respiratório. Na fase de alongamento
exercícios de alongamento dos músculos isquiotibiais, tríceps sural e íliopsoas.
Na fase de exercícios de equilíbrio estático e dinâmico exercícios com ênfase
na marcha. Foi notado o aumento da capacidade funcional da marcha, do
condicionamento físico e a realização de atividades diárias, levando em
consideração do efeito positivo da intervenção desenvolvida no estudo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando em consideração os diversos estudos encontrados, foi


observado que diversos tipos de programas de exercício físico trazem
benefícios para indivíduos que sofreram AVC. Dentre estes benefícios, foram
encontrados na literatura o aumento na capacidade funcional, a independência
na rotina dos indivíduos, o aumento da velocidade e força da marcha, e
estabilidade e controle do core, o aumento da função cardíaca, a diminuição no
perfil lipídico e na glicose.
No entanto, alguns estudos mostraram que não houve benefícios em
alguns parâmetros funcionais importantes. Nesse sentido, um estudo mostrou
que não houve melhora na simetria do movimento de sentar e levantar, ao
passo que em outro estudo o joelho parético não apresentou aumento da força.
Além disso, um outro estudo mostrou que não houve aumento do tônus
muscular e na força dos músculos flexores do joelho. Acredita-se que tais
achados possam ser atribuídos ao pequeno tamanho da amostra, ao curto

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tempo de intervenção e às limitações intrínsecas que possam comprometer a
sensibilidade dos testes utilizados.
Em conclusão, é possível afirmar que o exercício físico traz importantes
benefícios na reabilitação dos indivíduos que sofreram AVC. Além disso,
parece que o exercício aeróbico em esteira ou bicicleta ergométrica é o tipo de
intervenção que traz melhorias mais consistentes, embora futuras
comparações sejam necessárias.

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