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Vol.

54 • Lisboa 2019-2020

Breve História das Instituições – A Tutela Pública da Revelação e Aproveitamento de Recursos Geológicos 5
Cristina Lourenço - Subdiretora-Geral da DGEG
Preâmbulo 9
Luís Martins - Presidente do Conselho de Administração do Cluster Portugal Mineral Resources
Rochas Ornamentais em Portugal
Granitos Ornamentais do Norte de Portugal - Caraterísticas, Potencialidades e Constrangimentos 11
Luís Sousa, Paulo Pita, Jorge Carvalho e José Lourenço
No norte de Portugal localizam-se os principais núcleos de pedreiras de granito ornamental. A evolução
dos últimos anos alterou as perspetivas de crescimento que vinha sendo verificada, forçando as empresas a
adaptaram-se a uma nova realidade. A reconversão de unidades extrativas, por ampliação e fusão, contrasta
com a inatividade de muitas outras. Neste trabalho apresenta-se uma caraterização dos núcleos de pedreiras
dos granitos de Monção-Valença, Ponte de Lima, Alpendurada-Penafiel, Mondim de Basto, serra da Falperra
e Pedras Salgadas. São enumerados os principais problemas que afetam a extração, os intrínsecos ao material
ou aos maciços, os derivados das condicionantes ao uso do território e também aqueles relacionados com
a dimensão e estrutura das empresas. Apresentam-se propostas para melhorar o acesso e a gestão deste
importante recurso natural.
Exploração Sustentável de Recursos no Maciço Calcário Estremenho 31
Jorge M. F. Carvalho, Jorge Cancela, Cristina Martins, Daniel Pires e Sónia Malveiro
No Maciço Calcário Estremenho ocorre, desde há décadas, uma intensa atividade de extração de blocos de
calcário para fins ornamentais. Dos condicionalismos de ordenamento do território, designadamente pelo
facto dessa atividade decorrer num espaço territorial consignado para a proteção da natureza – o Parque
Natural das Serras de Aire e Candeeiros, resultaram numerosas e prolongadas situações de conflito pelo
uso do território. Por um lado, os naturais anseios de desenvolvimento do setor industrial, por outro, o
cumprimento dos objetivos de conservação da natureza.
Visando o estabelecimento de equilíbrios para a resolução da conflitualidade nos principais núcleos de
exploração consignados no Plano de Ordenamento daquele parque natural, desenvolveu-se um projeto com o
objetivo específico de encontrar mecanismos conducentes à compatibilização da gestão e exploração racional
dos recursos em calcários ornamentais com a conservação da natureza, no âmbito dos planos municipais de
ordenamento do território.
Com base nos resultados alcançados, para cada uma das cinco áreas estudadas foi apresentada uma proposta
de ordenamento na qual foram considerados quatro fatores determinantes para a decisão: a existência de
áreas de ocorrência de calcários com aptidão ornamental, áreas com altos e excecionais valores ecológicos,
património geológico de valor relevante e áreas anteriormente recuperadas do ponto de vista ambiental.
Gestão Sustentável da Indústria Extrativa no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros 51
Manuel Duarte
A extração de inertes no Maciço Calcário Estremenho, em particular na área abrangida pelo Parque Natural
das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC), é uma atividade secular ligada à vida das gentes que povoaram esta
região, que fundamentalmente a partir dos finais dos anos 80 do século passado ganhou nova dinâmica e se
transformou numa atividade económica de grande expressão e com relevo em termos nacionais e internacionais.
A gestão da atividade extrativa tornou-se assim num dos desafios mais importantes ao nível da gestão do
PNSAC, dada a necessidade de conciliar a exploração de um recurso natural não renovável (e com forte
impactos sobre os valores e a paisagem), com a salvaguarda e valorização do património natural, cultural e
paisagístico desta área protegida.
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Anticlinal de Estremoz: Geologia, Ordenamento do Território e Produção de Rochas Ornamentais após 2000
Anos de Exploração 59
Luís Lopes
No panorama mineiro de Portugal o Anticlinal de Estremoz constituí um caso único por diversos fatores:
1) trata-se de uma estrutura geológica reconhecida por todos e não apenas pelos especialistas; 2) tem um
passado de produção de mármores de excecional qualidade que remonta ao Período Romano; 3) os mármores
aqui extraídos têm reconhecimento internacional constituindo-se como uma verdadeira Marca Nacional; 4) é
seguramente uma das regiões do Pais com o registo geológico melhor conhecido, quer à superfície quer em
profundidade. Para tal contribuíram vários estudos académicos e as várias campanhas de sondagens profundas
realizadas pelas entidades governamentais e as sondagens de prospeção geológica efetuadas pelas empresas.
Também a cartografia geológica de base foi realizada à escala 1:5.000 ou maior e encontra-se disponível às
escalas 1:25.000 e 1:10.000; 5) há um passado de projetos de investigação, teses de fim de curso, mestrado e
doutoramento, para além dos planos de pedreira e vários estudos realizados pelas empresas, etc. que constituí
uma enorme base de dados.
Deste modo, os estudos realizados em diversas áreas (geologia; biologia; ecologia; avaliação de impacte
ambiental; caracterização dos geomateriais (rochas e solos); avaliação geomecânica do maciço marmóreo; Planos
Diretores Municipais; planos de pedreira; etc.) constituem a todos os níveis um acervo de conhecimento enorme
que, complementado com a avaliação de riscos (materiais e humanos), permite a curto prazo a implementação
de um efetivo projeto de reordenamento do território.
A Rocha Ornamental Portuguesa e a Evolução na sua Caracterização 85
Cristina Isabel Paulo de Carvalho
Neste documento, relata-se o extenso trabalho desenvolvido pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia
e pelas suas instituições antecessoras, no âmbito da caracterização das rochas ornamentais portuguesas.
Tendo como ponto de partida o primeiro “Catálogo de Rochas Ornamentais Portuguesas”, apresentam-se as
motivações que estiveram na origem da criação desta obra literária ímpar e das obras literárias que a sucederam,
culminando-se no site “Rochas Ornamentais Portuguesas”. A caracterização das rochas ornamentais assenta
no conhecimento das suas propriedades, determinadas através de ensaios. Por este motivo, dá-se particular
enfase aos métodos de ensaio e ao seu progressivo e gradual desenvolvimento, fruto da adesão de Portugal à
Comunidade Económica Europeia. Termina-se, abordando as repercussões desta adesão na comercialização
dos produtos em pedra natural, de modo a dar cumprimento à legislação europeia atualmente em vigor
(Regulamento (UE) N.º 305/2011).
Microscopia e Microanálise no Estudo de Pedras Ornamentais Carbonatadas 103
Luís Dias, Fabio Sitzia, Carla Lisci, Luís Lopes e José Mirão
A crescente competitividade de economias emergentes tem criado dificuldades aos países Europeus produtores
e exportadores de Pedra Ornamental. Para acrescentar valor, estes países terão que adicionar tecnologia aos
seus produtos.
São apresentados três casos de como as técnicas de microscopia e microanálise permitem antecipar e
compreender o comportamento das rochas, em diversas condições climatéricas. Estas metodologias podem
ser usadas em rocha de obra nova, eventualmente seguindo as normas vigentes ou em objetos património.
A Revolução Tecnológica e Humana do Setor da Pedra 117
Joana Frazão, Jorge Frazão e Inês Frazão
As mudanças aceleradas no mercado exigem que as empresas desenvolvam capacidades dinâmicas para
se manterem competitivas. Isto significa que as empresas têm de ter capacidade para integrar, construir e
reconfigurar competências internas e externas para abordar ambientes em rápida mudança.
Estas capacidades têm de ser desenvolvidas em várias vertentes, o objetivo deste artigo é explorar as áreas
tecnológicas e humanas no setor das rochas ornamentais em Portugal. As tecnologias da Fravizel são autónomas,
responsivas e digitais o que vai permitir o progresso técnico do setor. Este deve ser acompanhado pela evolução
das competências digitais da força de trabalho do setor.
A Indústria 4.0 (quarta revolução industrial) surge como resposta ao desafio de automatizar processos e
aumentar a atratividade para os mais jovens para o setor.
Rochas Ornamentais Portuguesas: Operações Indústria4.0 como Resposta ao Procurement BIM 121
Agostinho da Silva, Andreia Dionísio e Luís Coelho
O setor das Rochas Ornamentais (RO) gera em Portugal mais de 16.000 empregos diretos, registou um
crescimento das exportações em 2019 de 15% e centra a sua principal âncora competitiva na produção
customizada com escala. Sendo previsível que a prazo o Building Information Modelling (BIM) seja a tecnologia
de projeto e gestão de obras a nível global, a qual orienta o procurement para produtos standard. O presente
estudo avalia a resposta da Indústria 4.0 (I-4.0) às ameaças decorrentes do procurement BIM na Arquitetura
Engenharia e Construção.

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Cluster dos Recursos Minerais – Um Modelo de Mobilização de Conhecimento, Cooperação e Inovação 127
Marta Rocha Peres
A política de Clusters surgiu em Portugal, a partir de 2008. Nessa altura, foi criado o Cluster da Pedra Natural. Em
2016, com a entrada em vigor de outro programa político de clusterização, forma-se uma parceria mobilizada
para os objetivos comuns dos Recursos Minerais em Portugal. Esta mobilização culmina na evolução para um
Cluster dos Recursos Minerais reconhecido em 2017, que hoje conta com 67 Associados e mais de 100 parceiros
a nível mundial.
Em mais de dois anos de operacionalização, o trabalho em rede e cooperação tem gerado maior conhecimento,
mais desenvolvimento. Os resultados do sistema de clusterização são visíveis ao nível da tendência de crescimento
das exportações, do volume de negócios e do valor acrescentado das Empresas que pertencem ao Cluster.
O modelo adotado pelo Cluster dos Recursos Minerais, tem evidenciado que este é o caminho a prosseguir
além de 2020.
LIOZ – Rocha Património, foi Real em Portugal e Transportou Arte e Cultura para o Brasil 137
Zenaide Carvalho G. Silva
O estudo do calcário português lioz, abordado neste artigo, abrange uma breve referência à sua história geológica e
uma outra, mais extensa, ao seu papel como veículo de divulgação de arte e cultura portuguesa e europeia no Brasil.
O lioz, sendo um calcário microcristalino com propriedades físicas e tecnológicas próprias para a construção,
é também utilizado como elemento decorativo, uma vez que tem coloração diversa, em branco-marfim,
rosa claro e escuro, amarelo dourado e amarelo forte, recebendo por esta razão denominações diferentes
na indústria das rochas ornamentais. É um calcário de ambiente recifal, portador de fósseis rudistas que lhe
conferem uma textura singular. Ocorre nas zonas de Lisboa e arredores, incluindo a região do município de
Sintra, principalmente em Pêro Pinheiro, de cujas pedreiras saiu a maior parte do material para construção
em Portugal e no Brasil, desde o século XVIII até o presente. Usado durante décadas em construções na área
de Lisboa, em estilos arquitetónicos diversos, em Mafra materializou o complexo arquitetónico emblemático
de D. João V, Convento, Igreja e Biblioteca, tornando-se a “pedra real”. Foi transportado para o Brasil como
lastro de navios que circulavam entre Portugal e a nova colónia, onde no século XVIII foi a rocha preferida para
as grandes construções, principalmente de igrejas e templos de culto religioso, cópias de igrejas portuguesas
ou nelas inspiradas, perpetuando a arte e arquitetura transportadas da Europa. Deixou em Salvador, na Bahia
uma exposição valiosa do património de arte e cultura portuguesas. O lioz tem hoje o estatuto de “Rocha
Património Global” por preencher os requisitos adotados pela Heritage Stone Subcomission (HSS) da UNESCO.
Labyrinthus in Petris
A Calçada Portuguesa nos Percursos da Ancestralidade 147
Ernesto Matos
A calçada artística à portuguesa, é desde os meados do século XIX, um método de pavimento que se tem
vindo a implementar numa forma persistente. Não só por Portugal, mas ultimamente, também muitos outros
países o têm vindo a assumir. Mais recentemente veio a tornar-se já uma referência de ícone internacional,
demostrando-o a cidade do Rio de Janeiro e o seu emblemático Calçadão de Copacabana. Não é assim por o
acaso que a Tocha Olímpica de 2016 teve na sua conceção gráfica também a referência a esse característico e
emblemático padrão de ondas, já imortalizado, até mesmo por Walt Disney.
Por Portugal, com os anos a passar, vão-se fazendo contas, não só pelo custo dos materiais geológicos provenientes
das mais valias extrativas em meio natural e sem auxílio a métodos industriais poluentes, como para o pagamento
de uma mão-de-obra desqualificada e que continua ligada a uma profissionalizada classe operária. Se por um
lado Almeida Garrett já designava de Arte a este método aplicado no velho Rossio e que recebeu o nome de um
país, por outro assistimos a uma cada vez mais descaracterização técnica e que vai fomentando a má imagem
que constantemente passa debaixo dos nossos pés. O que é certo, é que passados mais de 170 anos desde o seu
surgimento para benefício público e universal, não vemos este método como disciplina em nenhuma escola de
artes portuguesa.
O que temos hoje ou o que queremos no futuro para os nossos pavimentos em calçada? Calçada artística ou
calçadas de pedras no chão colocadas por uns arrumadores, formados no quintal ali da esquina?
Pretende-se assim com este texto, refletir sobre alguns destes parâmetros que o próprio país se vai confrontado,
perante as vicissitudes de uma profissão, de uma técnica, de uma arte, o que quer que seja... mas que faz parte
da nossa perseverança.
Louseira de Canelas
Atividade Extrativa e Ciência de Mãos Dadas Durante Três Décadas 157
Manuel Valério Figueiredo
A reabertura das Louseiras de Canelas em 1988, permitiu desde logo o fornecimento de lousas para os telhados
da região. Paralelamente, a empresa então fundada assume o papel de resgate sistemático dos novos achados
fósseis, que se vai intensificando ao ritmo da própria exploração, não encarando este património como um
entrave. A inauguração do Centro de Interpretação Geológica de Canelas, ou Museu das Trilobites, em julho
de 2006, impulsionou a criação do Geoparque Arouca.

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Atividade Mineira 173


Caducidades de Contratos de Prospeção e Pesquisa
Contratos de Prospeção e Pesquisa
Caducidades de Contratos de Concessão de Exploração
Transmissão da Posição Contratual de Concessão de Exploração
Contratos de Concessão de Exploração
Adenda ao Contrato de Concessão de Exploração
Contratos de Integração
Águas Minerais e de Nascente 179
Aprovação/Revisão do Plano de Exploração
Nomeação de Responsáveis Técnicos
Rescisão dos Contratos de Exploração
Contratos de Atribuição de Direitos de Exploração
Adendas ao Contrato de Exploração
Suspensão da Licença de Exploração
Atribuição de Licenças de Estabelecimento
Transmissão da Licença
Alteração do Sistema de Captação
Caducidade da Licença
Oficinas de Engarrafamento - Títulos de Exploração
Pedreiras 185
Responsáveis Técnicos Inscritos na Direção-Geral de Energia e Geologia
Elementos Estatísticos da Indústria Extrativa Nacional – 2019
Indústria Extrativa – Comércio Internacional 191
Evolução do Comércio Internacional – janeiro a dezembro de 2019
Informação Vária 197
Glossário Geral para o Sector da Pedra Ornamental

FICHA TÉCNICA
Propriedade e Edição:
Direção-Geral de Energia e Geologia
Av. 5 de Outubro, 208 - 1069-203 Lisboa
Tel: 217 922 800 - Fax: 217 939 540
energia@dgeg.gov.pt
www.dgeg.gov.pt
Diretor:
João Correia Bernardo
Comissão Editorial deste volume:
Luís Martins, Cristina Lourenço, Carla Lourenço,
José Alcântara Cruz, Patrícia Falé, J. Ferreira da Costa,
Miriam Cavaco e José Miguel Martins
Redação e Coordenação:
Direção de Serviços de Recursos Hidrogeológicos e Geotérmicos
Periodicidade: Semestral
Depósito Legal: Nº 3581/93
ISSN: 00008-5935

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Breve História das Instituições – A Tutela Pública da Revelação


e Aproveitamento de Recursos Geológicos

Século XIX

Há mais de dois séculos que o Estado exerce atribuições e tutela pública e administrativa no domínio dos recursos
geológicos. Os regimes jurídicos do séc. XIX, de que se dão como meros exemplos no caso das minas a Lei de 1850
e o Decreto de 1892 (este diploma foi alterado em 1907 para incluir o petróleo, cujos primeiros manifestos tiveram
lugar no nosso país em 1904), o Regulamento de 1884 (pedreiras) e o Decreto de 1892 (águas minerais), impunham a
necessidade de criação de estruturas públicas de tutela administrativa das atividades, sendo que a Intendência-Geral
das Minas e Metais criada em 18 de maio de 1801, até antecedeu estes diplomas mais estruturantes do conhecimento
e aproveitamento de recursos geológicos, sendo de referir que entre 6 de agosto de 1836 e 24 de novembro de 1953
foram concessionadas em Portugal continental 2883 minas.
Na segunda metade do século XIX foram criadas diversas estruturas públicas como a Repartição de Minas, Pedreiras
e Trabalhos Geológicos, a Comissão de Trabalhos Geológicos do Reino, o Conselho de Minas, a Repartição dos
Serviços Técnicos de Minas, as Circunscrições Mineiras de Lisboa e Porto, a Secção de Minas, Pedreiras, Águas
Mineromedicinais e Serviços Geológicos e o Conselho Técnico de Minas, entre outras, com atribuições ao nível
de autoridade pública no domínio dos recursos geológicos, com elevadas exigências ao nível da capacitação técnica
e administrativa dos respetivos quadros, sendo que em matéria de segurança em minas e pedreiras se refere, por
curiosidade, a previsão constante em portaria de 1875 sobre a necessidade de eventual requisição de apoio especializado
por parte de engenheiros ou de condutores de minas com ou sem vínculo ao Estado.

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Século XX

No século XX importa evidenciar as importantes reformas no regime jurídico dos recursos geológicos com a entrada
em vigor do Decreto n.º 13642 de 1927 (pedreiras), do Decreto n.º 18713 de 1930 (minas) e do Decreto n.º 15401
de 1928 (águas minerais), sendo que foi pelo Decreto n.º 4641, de 13 de julho de 1918 que as estruturas do Estado
especializadas na tutela das atividades extrativas assumiram uma configuração que se manteve durante largas décadas,
a par dos regimes jurídicos enunciados. Com efeito, foi criada a Direção-Geral de Minas e Serviços Geológicos
subdividida na Repartição de Minas (integrando as Circunscrições Mineiras do Norte e do Sul, respetivamente
no Porto e em Lisboa), na Inspeção de Águas, na Inspeção de Pedreiras, no Laboratório Químico-Metalúrgico e
nos Serviços Geológicos, para além do Conselho Superior de Geologia e Minas, com as Secções de Minas, Águas,
Impostos de Minas e Águas e Serviços Geológicos e, ainda, o Corpo de Engenheiros de Minas e o Corpo Auxiliar
de Condutores de Obras Públicas e Minas. Em sede de regimes jurídicos importa igualmente referir o Decreto-Lei
n.º 227/82 e Decreto-Regulamentar n.º 72/82 (pedreiras), e o Decreto n.º 47973 de 1967 (petróleo).
Em 1983 é criada a DGGM - Direção-Geral de Geologia e Minas (Decreto-Regulamentar n.º 46/83, de 8 de junho) e em
16 de março de 1990 é publicado um novo regime jurídico para os recursos geológicos (DL n.º 90/90), regulamentado
pelo DL n.º 84/90 (águas de nascente), n.º 85/90 (águas mineroindustriais), n.º 86/90 (águas minerais naturais),
n.º 87/90 (recursos geotérmicos), n.º 88/90 (depósitos minerais - minas) e n.º 89/90 (massas minerais - pedreiras).
No que respeita ao petróleo de referir o DL n.º 141/90 e o posterior e ainda em vigor DL n.º 109/94, de 26 de abril.
É de sublinhar que com o “pacote de 1990” foram revogados regimes jurídicos com mais de 60 anos de vigência
(Decreto de 1928 – águas; Decreto de 1930 – minas). Em 1991 são criadas as Delegações Regionais do Ministério
da Indústria e Energia (posteriormente denominadas DRE - Direções Regionais de Economia) para onde transita a
área setorial das pedreiras.
A DGGM era uma instituição dotada de uma organização robusta de elevada capacitação científica, técnica e
administrativa, com três subdiretores-gerais a coadjuvarem o diretor-geral, com doze diretores de serviço e treze
chefes de divisão, integrando nos seus quadros investigadores e cerca de 120 técnicos superiores (maioritariamente
engenheiros de minas e geólogos), com diversas unidades tais como a Direção de Serviços de Cartografia Geológica,
a Direção de Serviços de Geologia Aplicada, a Direção de Serviços de Prospeção, a Direção de Serviços de Avaliação,
a Divisão de Sondagens, a Divisão de Geofísica, a Direção de Serviços de Minas e Pedreiras, a Direção de Serviços
de Águas Minerais e de Mesa, a Direção de Serviços de Gestão, a Direção de Serviços de Estudos, Planeamento
e Estatística, a Direção de Serviços de Administração Industrial, a Divisão de Informação e Relações Públicas, o
Laboratório e o Museu Geológico.
Em 1993 é extinta a DGGM e criado pelo DL n.º 122/93, de 16 de abril o IGM - Instituto Geológico e Mineiro instituição
ímpar em termos nacionais e internacionais que resulta da crescente importância do sector geológico e mineiro e
da respetiva indústria extrativa no contexto económico nacional e do novo enquadramento jurídico das atividades
(pacote legislativo de 1990), sendo que este organismo é dotado de autonomia administrativa e financeira e património
próprio, prevalecendo, na respetiva estruturação, o princípio da clara demarcação entre as áreas técnico-científica e
técnico-administrativa, o que permite o respeito pelas características próprias de cada uma e potencia as suas inter-
-relações pela coexistência na mesma entidade. Como eixos preferenciais de atuação assumiu-se o incremento do
conhecimento geológico do território nacional e o desenvolvimento de bases de dados geológicos mineiros e geofísicos
acessíveis aos utilizadores, bem como o reforço da indústria extrativa a prosseguir num contexto de segurança e de
sustentabilidade económica, ambiental e territorial, atento o novo quadro regulamentar de 1990. O conselho diretivo
é constituído por um presidente e três vice-presidentes, existindo 11 diretores de serviço e 10 chefes de divisão, com
investigadores e mantendo-se os cerca de 120 técnicos superiores.

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Século XXI

Já no século XXI ocorre em 2003 a extinção do IGM (Decreto-Lei n.º 186/2003 de 20 de agosto), com as respetivas
competências a serem repartidas em 2004 pela então DGGE - Direção-Geral de Geologia e Energia (atual
DGEG-Direção-Geral de Energia e Geologia – DL n.º 69/2018– autoridade nacional no domínio da energia e
dos recursos geológicos) e pelo então INETI - Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (atual
LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia – DL n.º 129/2014).
Com a extinção do IGM a área dos recursos geológicos perde uma instituição centenária, atentos os organismos que
o precederam, autónoma e exclusiva para o setor extrativo passando este a coabitar com a área da energia.
O Decreto-Lei n.º 186/2003, de 20 de agosto, que aprovou a orgânica do Ministério da Economia, criou a Direcção-
-Geral de Geologia e Energia (DGGE), que sucede à Direcção-Geral da Energia e, parcialmente, ao Instituto Geológico
e Mineiro, extintos por aquele diploma legal. A DGGE tem um subdiretor-geral para a área técnica e administrativa
dos processos de licenciamento das atividades de revelação e aproveitamento dos recursos geológicos, com uma única
direção de serviços para esta área setorial e cerca de 30 técnicos superiores à data de 2004 (oriundos do extinto
IGM). Com a alteração orgânica de 2007 (DL n.º 139/2007 e Portaria n.º 535/2007) a DGEG passa a contar com duas
direções de serviço: a Direção de Serviços de Minas e Pedreiras e a Direção de Serviços de Recursos Hidrogeológicos,
Geotérmicos e Petróleo.
Em 2007 foi aprovado um novo regime jurídico para as pedreiras (DL n.º 340/2007 que alterou e republicou o
DL n.º 270/2001).
Em 2015 verifica-se a extinção das DRE e respetiva reintegração da área setorial das pedreiras e dos estabelecimentos
industriais (p. ex. oficinas de engarrafamento) no organismo que tutela os recursos geológicos (DGEG) e em 2018
o mesmo sucede com o petróleo (pelo DL n.º 69/2018 a DGEG sucede nas atribuições e competências da ENMC,
E.P.E. – atual ENSE - Entidade Nacional para o Setor Energético, E.P.E., no domínio da prospeção, pesquisa,
desenvolvimento e produção de hidrocarbonetos).
Também em 2015, pela Lei n.º 54/2015, de 22 de junho é revogado o DL n.º 90/90 e são estabelecidas as bases do regime
jurídico da revelação e do aproveitamento dos recursos geológicos, estando em 2020 em processo de revisão os regimes
regulamentares das minas (DL n.º 88/90), das pedreiras (DL n.º 340/2007) e dos recursos hidrogeológicos e geotérmicos
(DL n.º 84/90, DL n.º 85/90, DL n.º 86/90 e DL n.º 87/90), sendo que os hidrocarbonetos são objeto de diploma
próprio (o mencionado DL n.º 109/94). No que respeita às pedreiras, em 2019 foi aprovado o Plano de Intervenção
nas Pedreiras em Situação Crítica (RCM n.º 50/2019).
Na atualidade e no contexto de autoridade nacional para os recursos geológicos, a DGEG mantém um subdiretor-
-geral para a área e conta com 3 diretores de serviço e 5 chefes de divisão (3 nos núcleos do Porto, Coimbra e Évora),
tendo 19 técnicos superiores para as minas e águas (11 “minas” e 8 “águas”) e 16 para as pedreiras (3 em Lisboa,
5 no Porto, 4 em Coimbra, 3 em Évora e 1 em Faro). A DGEG gere um setor com centenas de contratos administrativos
de revelação e de aproveitamento de recursos geológicos do domínio público do Estado (minas e águas) e mais de um
milhar de licenças de exploração de pedreiras, num contexto de sustentabilidade económica, ambiental, territorial e
de responsabilidade social, onde o saber técnico dos quadros deste organismo tem sido o pilar das nossas intervenções.
É pois fundamental assegurar a passagem do conhecimento intergeracional que ocorreu no passado, mas atentas as
aposentações e os constrangimentos dos últimos 20/25 anos no recrutamento externo para a Administração Pública
pode-se dizer que se perdeu uma geração, vendo-se com muita preocupação a possibilidade real desde organismo,
dentro de poucos anos, não ter recursos humanos que assegurem essa passagem de conhecimento.
Neste responsável objetivo de passagem do histórico institucional e do saber técnico será de contar com os quadros
da DGEG oriundos da Direção-Geral de Geologia e Minas1 e do Instituto Geológico e Mineiro2 para que se

1 DGGM: Teresa Cunha, Vítor Duque, Cristina Lourenço, José Cruz, Paulo Pita, J. Ferreira da Costa e P. Martins Nunes.
2 IGM: José M. Martins, Carla Lourenço, Paula Dinis, A. Calaim, Margarida Mateus, Mª José Sobreiro e Patrícia Falé.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

possa concretizar uma preservação da memória, que BIBLIOGRAFIA


fundamenta e explica a evolução das instituições e dos NUNES, João Paulo Avelãs - (2001-2002) - Revista Portuguesa de
regimes legais, para se ir perpetuando naqueles que História, t. XXXV, - “A Indústria Mineira em Portugal Continental
ingressaram posteriormente, e aos que é imprescindível desde a Consolidação do Regime Liberal ao I Plano de Fomento do
recrutar com ou sem vínculo ao Estado, todo o saber Estado Novo (1832-1953)”

técnico acumulado, preservando ao mesmo tempo a RAMOS, José Luís Bonifácio - (LEX, 1994) - “O Regime e a Natureza
Jurídica do Direito dos Recursos Geológicos dos Particulares”.
história da tutela pública e administrativa dos recursos
geológicos do nosso país! GUIMARÃES, Paulo - (1999-2000) - Arqueologia & Indústria, 2-3 - “As
Minas Portuguesas do Antigo Regime ao Liberalismo”, p.p. 53-80.

Cristina Lourenço
Subdiretora-Geral da DGEG

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Preâmbulo

Rochas Ornamentais em Portugal

Este número do Boletim de Minas, dedicado ao subsetor das Rochas Ornamentais de Portugal, pretende dar uma
imagem da sua variedade e importâncias económica, social e patrimonial.
Nos últimos 20 anos o subsetor soube construir a sua cadeia de valor de uma forma sustentável, fazendo com que
Portugal passasse de um mero exportador de produtos não transformados (em especial blocos e chapas) para um
produtor de peças finais das mais apreciadas no Mundo, melhoria esta também acompanhada pelas empresas
nacionais de equipamentos. A qualidade das rochas ornamentais portuguesas foi assim extremamente valorizada pelas
empresas extratoras, transformadoras e fabricadoras de equipamentos, conseguindo-se assim captar um relevante
valor acrescentado.
Relembremos que Portugal é um dos principais produtores mundiais de rochas ornamentais tendo registado, nos
últimos 50 anos, um crescimento médio anual, em toneladas, de 4% (Carvalho, Lopes, Mateus, Martins & Goulão, 2018).
Em 2015, Portugal ocupava o oitavo lugar do Mundo no Comércio Internacional, sendo o segundo no Comércio
Internacional per capita (Frazão, 2019). As exportações cobriram as importações em 823%, sendo que aproximadamente
45% das exportações foram para fora da Europa. O subsetor atingiu a segunda posição nacional em Valor Acrescentado
Bruto (VAB), estando as telecomunicações em primeiro (Assimagra, 2015).
Em 2019 exportou cerca de 8468 Milhões (valor superior ao dos minérios metálicos) para mais de 100 países e é
constituído maioritariamente por Pequenas e Médias Empresas (PMEs), aproximadamente 2.500, representando mais
de 16.100 postos de trabalho diretos, sendo um dos principais geradores de emprego privado nas regiões do interior.
Novos desafios adivinham-se, como a melhoria das condições de segurança e os relacionados com a tecnologia digital
e a Indústria4.0, mas todos os atores envolvidos no subsetor, instituições governamentais, académicas e empresariais,
saberão, uma vez mais, dar-lhes a resposta adequada.

Luís Martins
Presidente do Conselho de Administração do Cluster Portugal Mineral Resources

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Granitos Ornamentais do Norte de Portugal - Caraterísticas,


Potencialidades e Constrangimentos

Luís Sousa Jorge Carvalho


Departamento de Geologia e Pólo do Centro de Geociências (CGeo), Laboratório Nacional de Energia e Geologia, IP; Unidade de
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Quinta de Prados, Recursos Minerais e Geofísica, Estrada da Portela, Bairro do
5000-801 Vila Real, Portugal Zambujal, Apartado 7586- Alfragide, 2610-999 Amadora, Portugal
Email: lsousa@utad.pt Email: jorge.carvalho@lneg.pt
Paulo Pita José Lourenço
Direção Geral de Energia e Geologia, Divisão de Pedreiras do Norte, Departamento de Geologia e Pólo do Centro de Geociências (CGeo),
Rua Direita do Viso nº 120, 4269-002 Porto, Portugal Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Quinta de Prados,
Email: paulo.pita@dgeg.pt 5000-801 Vila Real, Portugal
Email: martinho@utad.pt

Palavras Chave: Rochas ornamentais, granito, avaliação de reservas, ordenamento do território.

RESUMO

No norte de Portugal localizam-se os principais núcleos de pedreiras de granito ornamental. A evolução dos últimos
anos alterou as perspetivas de crescimento que vinha sendo verificada, forçando as empresas a adaptaram-se a uma
nova realidade. A reconversão de unidades extrativas, por ampliação e fusão, contrasta com a inatividade de muitas
outras. Neste trabalho apresenta-se uma caraterização dos núcleos de pedreiras dos granitos de Monção-Valença, Ponte
de Lima, Alpendurada-Penafiel, Mondim de Basto, serra da Falperra e Pedras Salgadas. São enumerados os principais
problemas que afetam a extração, os intrínsecos ao material ou aos maciços, os derivados das condicionantes ao uso
do território e também aqueles relacionados com a dimensão e estrutura das empresas. Apresentam-se propostas
para melhorar o acesso e a gestão deste importante recurso natural.

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1. INTRODUÇÃO FIGURA 1
Estimativa da produção bruta e líquida de rocha ornamental

A produção de rocha ornamental constitui uma impor-


tante atividade económica em Portugal. A produção na-
cional encontra-se entre as dez mais importantes a nível
mundial, apesar das constantes mudanças no ranking em
virtude de existirem países com estádios de desenvolvi-
mento diferentes de vários continentes que apresentam
evoluções distintas (ANIET, 2017). Em 2017 o valor da
produção das rochas ornamentais foi de 179,6 x1068,
46,9 x1068 dos quais relativos a granitos (DGEG, 2018).
No mesmo ano as exportações de rocha ornamental
totalizaram 386x10 68, maioritariamente constituídas
por mármore e calcário. Prevê-se que esta atividade
Baseado em Montani, 2017.
económica continue o seu crescimento observado nas
últimas décadas (Fig. 1), afigurando-se importante que
as empresas nacionais e as entidades com responsabili-
dade no setor contribuam para manter Portugal como
importante player global.

No norte do país localiza-se a maior percentagem de Nesta região, os núcleos principais de extração resultam
empresas do setor, sobretudo associadas à extração e da evolução das pequenas pedreiras que começaram
transformação de granito, condicionada pela predomi- a sua industrialização em meados do século passado.
nância dos afloramentos graníticos e existência de nú- Em muitos locais há evidências das pequenas pedreiras
cleos tradicionais de extração. Em 2017 encontravam-se artesanais (Fig. 2) cujos produtos eram utilizados nas
em atividade 337 pedreiras de rocha ornamental em povoações vizinhas, obrigando a que a atividade dos
Portugal, 111 das quais de granito (DGEG, 2018) e na pedreiros estivesse dispersa pelo território de modo a
sua maioria localizadas no norte do país (Pita, 2017). satisfazer as necessidades da população.

FIGURA 2
Fotografias aéreas obtidas em 1965 onde é possível observar locais de extração de granito

Pedras Salgadas, Vila Pouca de Aguiar S. Bento, Vila Real

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Em consequência da crise que afetou as atividades produ- Assim, são vários os fatores que influenciam a capacidade
tivas em Portugal, com a diminuição rápida e acentuada do maciço para fornecer rocha ornamental de qualidade,
da atividade do setor da construção civil, as empresas fo- tais como a composição mineralógica, textura, estrutura,
ram obrigadas a procurarem novos mercados no exterior. grau de fraturação, espessura do material de cobertura
O setor da extração está hoje melhor apetrechado, sendo sem interesse comercial, propriedades físico mecânicas,
comum a utilização do fio diamantado, com o conse- impacte ambiental e ordenamento do território. Estes
quente aumento do aproveitamento das massas minerais
fatores podem ser agrupados em três grandes grupos
e redução dos desperdícios. O setor da transformação
relativos ao material, às caraterísticas do maciço e aos
também evoluiu, sendo cada vez menor a quantidade
fatores de explorabilidade (Tabela 1). Os dois primeiros
de matéria-prima vendida para o exterior na forma de
grupos englobam fatores intrínsecos da rocha e não são
bloco, aumentando as mais-valias na transformação.
suscetíveis de alteração ao longo do tempo, enquanto os
Este caminho, muitas vezes forçado pelas circunstâncias,
fez-se com obstáculos e apenas as empresas com uma fatores de explorabilidade podem evoluir, facilitando
situação financeira sólida puderam resistir. ou dificultando a atividade extrativa. De nada valerá
a existência de um maciço com boa aptidão para a
Se a atividade dos antigos núcleos extrativos evoluiu de
acordo com a tecnologia de extração de transformação, produção de blocos se as caraterísticas estéticas das
a sua apetência para fornecer material de qualidade e rochas não tiverem aceitação no mercado ou se a sua
em quantidade hoje é muito distinta do que era há 50 exploração for interdita por questões de ordenamento de
anos. A moderna indústria das rochas ornamentais exige território. Assim, são os fatores de explorabilidade que
elevados padrões de qualidade, pois o comportamento do ditam a possibilidade de instalar uma unidade extrativa
material em obra deve seguir rigorosos padrões técnicos. num dado momento.

TABELA 1
Exemplos de fatores que condicionam a exploração e utilização de rochas ornamentais
Material Afloramento Explorabilidade
Mineralogia Localização Aceitação pelo mercado
Textura Morfologia Distância aos centros de consumo
Heterogeneidade (cor, textura, …) Terrenos de cobertura Infraestruturas industriais
Meteorização Estrutura (estratos, dobras) Ordenamento do território
Propriedades físicas Variação de fácies Impactes ambientais
Propriedades mecânicas Fraturação (tipo, densidade)
Volume disponível

Adaptado de Carvalho et al., 2008; Fort et al., 2010; Sousa, 2010.

À luz destes fatores realiza-se uma avaliação dos 2. CARATERIZAÇÃO DOS NÚCLEOS DE
principais núcleos de pedreiras de granito do norte EXTRAÇÃO
de Portugal, nomeadamente dos localizados a norte
do rio Douro, referindo os constrangimentos e as Nesta seção são enumeradas as caraterísticas dos granitos
potencialidades. Serão considerados os centros de e das respetivas pedreiras e são elencados os principais
produção localizados em Monção-Valença, Ponte de fatores que condicionam a atividade. Dos granitos
Lima, Alpendurada-Penafiel, Mondim de Basto, serra da selecionados, três possuem uma coloração amarelo-
Falperra (Vila Pouca de Aguiar) e Pedras Salgadas. Para -acastanhada (Ponte de Lima, Mondim de Basto e serra
cada um dos granitos explorados referem-se os principais da Falperra) muito valorizada nas últimas décadas,
fatores condicionantes do seu aproveitamento como dois são acinzentados (Alpendurada-Penafiel e Pedras
rocha ornamental e as ações que visam o ordenamento Salgadas) e um possui tonalidade rosada (Monção-
das zonas de exploração. -Valença) (Fig. 3). Localizam-se em manchas graníticas
de diferentes dimensões e idades, com predomínio das
pós-tectónicas (Fig 4).

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FIGURA 3
Aspeto macroscópico dos granitos e imagens das pedreiras

Sequência: Monção, Ponte de Lima, Alpendurada-Penafiel, Mondim de Basto, serra da Falperra e Pedras Salgadas; granitos - Leite e Moura (2013);
pedreira de Monção-Rodrigues (2009); pedreira de Alpendurada-Penafiel - (https://www.gradul.com/pt/pedreiras).

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FIGURA 4
Mapa geológico do norte de Portugal com indicação dos núcleos estudados

Monção-Valença

Nesta zona é explorado um granito de granulado flanco de encosta. A fracturação é escassa e facilita a
grosseiro, porfiróide, dominantemente biotítico, com obtenção de blocos com as dimensões desejadas, apesar
megacristais de feldspato potássico que apresentam uma de nalguns locais mostrar uma densidade mais elevada.
tonalidade rosada e conferem ao granito uma coloração Moreira (1992) evidenciou as principais famílias de
caraterística (Fig. 3) (Ribeiro e Moreira, 1986). Trata-se fraturação observadas no maciço: N20°W-N10°E e N70°-
de uma rocha explorada num maciço granítico tardi a 90°W, sendo menos comuns as famílias N40°-50°E e
pós-tectónico que aflora na região de Monção-Valença N40°-50°W.
e continua para a Galiza. O espaçamento das fraturas Há 8 pedreiras licenciadas, embora seja possível observar
origina uma disjunção paralelepipédica, com formação outros espaços intervencionados (Fig. 5). A zona em
de importantes caos de blocos (Moreira e Simões, 1988). questão possui amplas potencialidades para a exploração
Neste maciço, podem obter-se rochas com diferentes de rocha ornamental, de acordo com os dados obtidos
nuances dentro do tom rosado. por Moreira (1992) que delimitou as áreas potenciais
Os af loramentos desde granito apresentam pouca representadas na Fig. 5. Os recursos estimados para
alteração, por vezes com saibro granítico com cerca de essas áreas potenciais ascendem a 34,9x106m3 (Carvalho
um metro de espessura, sendo frequentes grandes lajes et al., 2013).
e bolas de aspeto e coloração homogéneos. A presença A utilização do granito nesta região marcou a arquitetura
de nódulos biotíticos, pouco frequentes, e de encraves tradicional, com a utilização de pranchas de granitos
metassedimentares, sobretudo perto do contacto com colocadas ao alto, a pasta. As pequenas pedreiras foram
estas rochas (Moreira, 1992) pode prejudicar o seu evoluindo em função das necessidades e técnicas de
aspeto. As pedreiras situam-se preferencialmente em extração e transformação.

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FIGURA 5
Pedreiras licenciadas, zonas com índicos de exploração e áreas potenciais para o núcleo de extração de Monção-Valença

Ponte de Lima embora a exploração do granito são, em profundidade,


permita aumentar o tempo de vida das explorações.
As pedreiras localizam-se no flanco de uma encosta
O granito de Ponte de Lima possui granulado médio
sobranceira ao vale do rio Lima e à autoestrada A3,
e grau variável de alteração meteórica que lhe confere
constituindo importante impacte visual.
um aspeto bandado ferruginoso secundário muito
caraterístico e apreciado pelos consumidores (Fig. 3) Há 14 pedreiras licenciadas, quase todas dedicadas
(Cevalor, 2014). As propriedades físico-mecânicas são à extração de rocha ornamental (Fig. 6). A Câmara
variáveis em função do estado de meteorização, sendo Municipal de Ponte Lima, assumindo o relevo deste setor
recomendado o seu uso para alvenarias, cantarias e extrativo para o desenvolvimento socioeconómico do
revestimentos, interiores e exteriores. município e ciente da importância do ordenamento do
Os af loramentos desde granito mostram grande território para a sustentabilidade do setor, implementou,
densidade de faturação, obrigando ao aproveitamento no âmbito do respetivo Plano Diretor Municipal a
dos pequenos blocos para a obtenção de peças fendidas. Unidade Operativa de Planeamento e Gestão, UOPG
Os recursos estimados para a área potencial delimitada 18 - Plano de Pormenor das Pedreiras das Pedras Finas
na Fig. 6 ascendem a 2,3x106m3 (Carvalho et al., 2013), – Exploração de Granito.

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FIGURA 6
Pedreiras licenciadas, zonas com índicos de exploração e áreas potenciais para o núcleo de extração Ponte de Lima

As duas pedreiras localizadas mais a norte exploram xisto.

Alpendurada-Penafiel ticos, encraves biotíticos de pequeno tamanho e filonetes


de feldspato rosado constituem as heterogeneidades
presentes (Ornabase). Os blocos explorados possuem
Trata-se de um granito cinzento de duas micas, com
dimensão média e os recursos estimados ascendem a
granulado médio e alguns megacristais de feldspato
39,0x106m3 para as áreas potenciais representadas na
(Fig. 3), apresentando foliação com direção N25°W
Fig. 7 (Carvalho et al., 2013).
(Ramos et al., 1985). As várias pedreiras da região estão
instaladas no bordo SW do grande maciço de granito Nesta região a exploração de granito assume algum
calco-alcalino, tardi a post-tectónico e com orientação relevo económico CIMTS (2014). No concelho de Marco
NW-SE, que se estende no NW de Portugal desde a de Canavezes foram identificadas 38 pedreiras licen-
região de Viana do Castelo até às proximidades de Castro ciadas e o novo PDM possui 510,5 ha de espaços afetos
Daire (Fig. 4). à exploração de recursos geológicos, contra 542,0 ha
A nível regional predominam as famílias de fraturas de espaços para indústrias extrativas consignados no
N35°E e N-S, sendo menos importante a família anterior PDM (CMMC, 2015), o que é demonstrativo de
N30-60W, embora com variações locais em função da maiores constrangimentos atuais no acesso ao território
proximidade a falhas (Ramos et al., 1985). Filões pegmatí- por parte deste setor industrial.

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O número de pedreiras licenciadas nos concelhos de Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa, ciente
Marco de Canavezes, Penafiel e Cinfães é de 20, muitas desta problemática, pretende implementar um programa
das quais também com produção de agregados como para a recuperação destes espaços, procurando
forma de rentabilizar as zonas do maciço rochoso sem reconstituir os ecossistemas pré-existentes sempre que
aptidão para a produção de blocos devido a fraturação possível CIMTS (2014).
intensa (Fig. 7). Há muitas zonas intervencionadas que
Nesta região, como nas outras aqui mencionadas,
não estão licenciadas.
coloca-se o problema da continuidade da atividade por
A localização de unidades extrativas em zonas com uma falta de mão-de-obra. Cerqueira (2012) refere que 40%
grande densidade de núcleos urbanos implica alguma dos trabalhadores das pedreiras do concelho de Marco
degradação ambiental e pode causar focos de atrito
de Canavezes se encontram na faixa etária de 46-55 anos.
com as populações. Outras atividades económicas ou
ocupações do território podem usar esta degradação A existência de empresas de pequena dimensão,
ambiental como argumento em seu favor, como é caso pouco resilientes a períodos de crise económica e com
do Plano de Ordenamento da Albufeira de Crestuma- pouca adaptabilidade à evolução do mercado, origina
-Lever que menciona as pedreiras como “atividades flutuações associadas aos ciclos económicos. No concelho
geradoras de degradação e passivo ambiental, e assen- de Penafiel verificou-se uma diminuição do número de
tam na exploração de recursos não renováveis e com empresas relacionadas com a indústria extrativa de 40
baixo valor acrescentado para a região” POACL (2004). A para 21, entre 2008 e 2016 (CMP, 2018).

FIGURA 7
Pedreiras licenciadas, zonas com índicos de exploração e áreas potenciais para o núcleo de extração de Alpendurada-Penafiel

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Mondim de Basto as direções um número significativo de diaclases (Alves,


2010). Esta variabilidade direcional da fraturação
penaliza a obtenção de blocos com forma cúbica ou
O granito de Mondim de Basto é um granito de
paralelepipédica, que associada ao baixo espaçamento
duas micas, de granularidade média, por vezes com
médio das diaclases, 0,8m, dificulta a extração de
megacristais de feldspato, com foliação aproximada grandes blocos para transformação. Assim, e de modo
NW-SE (Fig. 3). Como minerais principais, apresenta a assegurar a viabilidade económica das explorações,
quartzo, microclina-pertite, microclina sódica, moscovite é necessário o aproveitamento dos blocos de pequena
e biotite (Pereira, 1987). O afloramento deste granito dimensão para obtenção de peças fendidas e serradas.
possui forma circular e na sua zona central constitui
Há 18 pedreiras licenciadas e também aqui se verifica
uma elevação com forma peculiar - o Monte Farinha. A
haver áreas intervencionadas sem licença de exploração
coloração caraterística deste granito, com tons amarelo-
(Fig. 8). Os recursos estimados ascendem a 7,5x106m3
-acastanhados, consequência da elevada meteorização (Car valho et al., 2013), que aumentam caso seja
nos níveis superiores do maciço, confere-lhe um elevado considerado também o granito são, explorado nos níveis
valor comercial. inferiores das pedreiras.
As fraturas regionais N20°-30°E e N50°-60°E são Aumentar as mais-valias na produção é fundamental
as mais frequentes em todo o af loramento, com para diversificar mercados. Para tal, a Câmara Municipal
apreciável extensão, enquanto a família N-S tem maior de Mondim de Basto está a dinamizar a 1ª edição da
representatividade no setor este do afloramento e a Bienal do Granito, que decorreu entre maio e setembro
família N70°-80°W é mais frequente a noroeste do Monte de 2019 em Mondim de Basto. Esta iniciativa pretendeu
Farinha (Alves, 2010). A análise do diaclasamento a envolver profissionais, estudantes e artistas na criação de
nível de pedreira mostra o predomínio de duas famílias novos produtos, de modo a favorecer o investimento de
predominantes (N-S e E-W), embora havendo em todas base inovadora e aumentar a diferenciação da produção.

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FIGURA 8
Pedreiras licenciadas, zonas com índicos de exploração e áreas potenciais para o núcleo de extração de Mondim de Basto

Serra da Falperra verifica-se uma estreita relação entre o diaclasamento


observado nas pedreiras e a fraturação regional. No
seu conjunto, as diaclases observadas nas pedreiras
O granito extraído nesta região, com a designação
englobam-se em duas famílias principais: N30-50W e
comercial de Amarelo Real, possui grão médio ou médio
N20-60E (Santos et al., 2018). Nos afloramentos do granito
a grosseiro, é de duas micas, com predominância da
moscovite, e apresenta tendência porfiroide (Fig. 3). A Amarelo Real foram obtidos, em quatro estudos
composição mineralógica modal é a seguinte: quartzo diferentes, valores do espaçamento médio de 1,0 m a
(35,8%), feldspato potássico (23,6%), plagioclase (29,3%), 1,5 m (Sousa, 2007; Santos et al., 2018). Estes valores
biotite (3,3%), moscovite (7,9%) e apatite (0,1%), que o variam de acordo com a tipologia de locais estudados:
classifica como monzogranito (Sousa, 2007). A coloração pedreiras, áreas virgens ou áreas selecionadas de acordo
amarelo-acastanhada é a caraterística deste granito mais com algumas condicionantes, no entanto os valores do
valorizada pelo mercado. espaçamento são baixos.
Os lineamentos observados em fotografia aérea têm Na impossibilidade de obter granito com a coloração
a direção preferencial N30-60W, ocorrendo ainda linea- mais valorizada em profundidade, onde a menor
mentos de menor expressão com as direções N20-40E meteorização confere uma tonalizada acinzentada,
e N70-90E (Sousa, 2007). Com variações pontuais, as pedreiras avançam lateralmente, ocupando áreas

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assinaláveis. Apesar dos blocos de grande volume para caso as reservas serão muito maiores se considerado o
a indústria transformadora serem o produto mais granito menos meteorizado explorado em profundidade.
valorizado, o baixo rendimento de muitas pedreiras
O rápido crescimento da exploração deste granito levou
obriga ao aproveitamento dos blocos de menores
dimensão para outros fins. O número de pedreiras à definição da Área de Reserva na serra da Falperra
em atividade, cerca de 10, é muito menor do que as (Decreto Regulamentar nº6/2009, de 2 de abril), a pri-
licenciadas, 28 (Fig. 9), com algumas discrepâncias em meira em Portugal para este tipo de rocha, com uma
relação às áreas intervencionadas. A crise da última área de 1776 ha, englobando os concelhos de Vila Pouca
década levou ao encerramento temporário de muitas de Aguiar, Sabrosa e Vila Real. De acordo com o PDM
unidades extrativas e à diminuição do volume extraído.
de Vila Pouca de Aguiar, a área de extração na área da
Os recursos estimados ascendem a 8,9x106m3 (Carvalho
Falperra deverá constituir uma Unidade Operativa de
et al., 2013), tendo em consideração as áreas potenciais
Planeamento e Gestão. Um plano de ordenamento e
demarcadas na Fig.9. Perante as condicionantes legais
e as caraterísticas geológicas dos afloramentos, Santos gestão para toda a área de reserva seria de todo a opção
et al. (2018) refere uma quantidade inferior, 2,7x106m3, mais conveniente ao desenvolvimento harmonioso desta
considerando apenas a área de reserva. Também neste área industrial.

FIGURA 9
Pedreiras licenciadas, zonas com índicos de exploração e áreas potenciais para a área de Reserva da Serra da Falperra

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Pedras Salgadas observado nas pedreiras em atividade e em áreas virgens,


é muito variável, sendo referidos espaçamentos médios
de 0,5m a 3,8m (Moreira, 1999; Sousa, 2007). Pese
Trata-se de um granito leucocrata, biotítico, com alguns
embora a obtenção da informação seja condicionada
megacristais de feldspato potássico; estas caraterísticas,
pela posição das frentes de trabalho, os dados mostram
aliadas ao grão médio a fino, conferem-lhe propriedades
a dificuldade em obter blocos de grande dimensão em
ornamentais que o tornam um dos granitos portugueses todas as pedreiras a todo o tempo (Sousa, 2007).
mais procurados (Fig. 3). A composição mineralógica é
A parte superior do maciço apresenta uma fraturação
a seguinte: quartzo (33,4%), feldspato potássico (28,4%),
e meteorização muito elevada, em especial devido à
plagioclase (33,2%), biotite (4,3%) e moscovite (0,7%)
descompressão, inviabilizando a obtenção de blocos
(Sousa, 2000).
comerciais nos primeiros 10 metros de profundidade
As pedreiras localizam-se no maciço granítico de Vila (Moreira, 1999; Sousa, 2000). As pedreiras desenvolvem-se
Pouca de Aguiar, pós-tectónico relativamente à terceira em flanco de encosta, na fase inicial da extração, e em
fase da orogenia Hercínica. profundidade, onde a qualidade do maciço permite obter
A fraturação regional é constituída por três famílias de mais rendimento.
falhas: N10°-30°E, N40°-50°W e N60°-80°E. Estas falhas Há 13 pedreiras licenciadas, embora nem todas em
têm faixas de alteração subparalelas e de largura variável, atividade. Também aqui há áreas intervencionadas que
podendo atingir 50 metros no caso da primeira família, não se encontram com licença de exploração atribuída.
paralela ao importante acidente tectónico localizado Os recursos estimados ascendem a 36,7x106m3 (Carvalho
1000 m a este da área das pedreiras, a falha Penacova- et al., 2013) e foram calculadas em função das áreas
-Régua-Verín (Sousa, 2000). Moreira (1999) refere potenciais delimitadas na Fig. 10.
também as famílias E-W e N30°W. O diaclasamento é Dada a importância deste núcleo produtor, foi estabelecida
muito variável ao longo do maciço (Moreira, 1999; Sousa, a Área Cativa de Pedras Salgadas (Portaria nº766/94, de
1995) e nem sempre coincide com a fraturação regional 23 de agosto), a primeira em Portugal para este tipo de
ao redor das áreas em exploração. Contudo, as principais rocha, com uma área de 1254 ha. De acordo com o PDM
famílias de fraturas identificadas na totalidade das de Vila Pouca de Aguiar, a área de extração na área da
pedreiras englobam-se nas três famílias atrás referidas Falperra deverá constituir uma Unidade Operativa de
(Sousa, 1995; 2000). O espaçamento das fraturas, Planeamento e Gestão.

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FIGURA 10
Pedreiras licenciadas, zonas com índicos de exploração e áreas potenciais para a área Cativa de Pedras Salgadas

3. AVALIAÇÃO GLOBAL E PROPOSTAS DE estes granitos os que possuem um menor volume de


ATUAÇÃO recursos, de acordo com a avaliação de Carvalho et al.
(2013).

A exploração dos diferentes granitos é condicionada pelas Mesmo nos af loramentos dos restantes granitos a
condições dos afloramentos, em especial o padrão de densidade de fraturação limita a extração de grandes
fraturação e o espaçamento das fraturas. Os afloramentos blocos. Este condicionalismo obriga as empresas a
dos granitos mais meteorizados (Ponte de Lima, Mondim efetuarem o máximo aproveitamento do granito
de Basto e serra da Falperra) apresentam uma maior extraído, nomeadamente para a produção de peças
densidade de fraturação, resultando daqui um menor fendidas e serradas, as quais podem ser obtidas a
aproveitamento nas pedreiras e consequentemente maior partir de blocos irregulares e/ou de pequena dimensão.
acumulação de resíduos. Estas condicionantes, aliadas à Assim, a capacidade de transformação nas pedreiras
necessidade de explorar o granito em níveis superficiais, tem aumentado de modo a permitir a sua viabilidade
levam à evolução das pedreiras dos granitos amarelos em económica. Não faz sentido, para o caso dos granitos em
área e não em profundidade. No entanto, tal expansão apreço, falar de pedreiras viáveis apenas com a produção
nem sempre é possível, limitando a área disponível para de blocos para comercialização. O máximo de mais-
explorar e consequentemente o volume de reservas. São -valias deve ser obtido em unidades de transformação

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localizadas nas pedreiras ou a ela associadas. As empresas dessas mesmas áreas, pois elas constituem servidões
mais resilientes são as que possuem uma capacidade administrativas em sede de ordenamento do território.
de transformação instalada que lhes permita suprir Porém, para os restantes núcleos e respetivas áreas de
a eventual inconstância na extração da pedreira e potencial expansão, a justificação para a salvaguarda dos
adaptar-se aos ciclos económicos. recursos aí existentes só poderá ser alcançada através
A diminuição da atividade económica desde 2008 levou de um aumento do conhecimento específico sobre esses
ao encerramento de muitas unidades, maioritariamente mesmos recursos, o que demonstra a necessidade de um
por incapacidade das empresas procurarem novos esforço conjunto entre entidades públicas e privadas que
mercados. Alguns estudos setoriais, como por exemplo conduza à aquisição desse conhecimento.
AEP (2015) e ANIET (2017), demonstram a necessidade Se é certo que as tecnologias inovadoras que têm vindo a
de investimento, inovação e internacionalização, os ser implementadas ao nível da extração e transformação
quais apenas poderão ser conseguidos através de uma têm contribuído para o aumento da rendibilidade das
cooperação efetiva entre empresas, à semelhança do pedreiras, também é certo que não poderão suprir por
que aconteceu em muitas ações realizados no âmbito completo a necessidade de matéria-prima e como tal é
do cluster da pedra natural com continuidade no necessário manter o acesso aos locais onde os recursos
cluster dos recursos minerais. A reduzida dimensão existem.
da maioria das empresas, com uma capacidade de Os impactes ambientais associados à atividade extrativa
extração/transformação limitada, não permite o seu devem ser acautelados de modo a evitar a degradação do
posicionamento no mercado por falta de capacidade de meio ambiente até níveis irrecuperáveis. A localização de
resposta. A efetiva cooperação poderá ajudar a colmatar pedreiras junto de núcleos urbanos (Fig. 11) aumenta a
muitas das lacunas, mas este caminho nem sempre é perceção destes problemas e potenciais conflitos devem
fácil de percorrer. ser evitados. A avaliação dos impactes ambientais,
obrigatória em muitas situações, permite um controlo
Um aspeto crucial para o desenvolvimento futuro
da atividade extrativa. A consulta da base de dados da
destes núcleos de extração de granito ornamental são
Agência Portuguesa do Ambiente (APA) (http://siaia.
as condicionantes impostas ao nível do ordenamento do
apambiente.pt/AIA_Consulta.aspx) permite verificar
território. A escassez “artificial” de matéria-prima por
o elevado número de pedreiras sujeitas a controlo
questões de uso do solo/ordenamento do território é uma
ambiental no âmbito do processo de avaliação de impacte
nova problemática que afeta as empresas na tentativa
ambiental, incluindo novas pedreiras e ampliações das já
de expansão dos seus negócios junto dos mercados
existentes. De acordo com a informação disponibilizada
externos. Com efeito, a contribuição deste setor para o
pela APA, indicam-se de seguida o número de pedreiras
desenvolvimento económico e social apenas poderá ter
com parecer favorável condicionado e o ano do processo
continuidade caso tenha acesso aos locais onde ocorrem
mais antigo para os concelhos onde se localizam as
os recursos passíveis de exploração económica.
pedreiras em análise: Monção 4 (2004); Valença 2 (2014);
Mateus et al. (2017) desenvolveram uma metodologia Marco de Canavezes 1 (2008); Vila Real 1 (2009); Sabrosa
para a identificação e delimitação dos espaços para os 13 (2005); Vila Pouca de Aguiar 19 (1998); Mondim de
quais importa a salvaguarda dos recursos minerais nos Basto 14 (2006); Penafiel 2 (2011). Os dados apresentados
instrumentos de ordenamento do território, a fim de que incluem também um número residual de pedreiras
a esses locais não sejam atribuídos usos ou ocupações que dedicadas à extração de inertes. Cumpridas as medidas
desnecessariamente inviabilizem a futura exploração dos de minimização de impactes ambientais e os planos de
recursos minerais. Com base nessa metodologia, assente monitorização, estão reunidas as condições para evolução
no grau de conhecimento existente a diversas escalas do estado do ambiente dentro dos limites estabelecidos
sobre os recursos, Carvalho et al. (2018) mostram que aquando do licenciamento. No caso das pedreiras
dos 6 núcleos aqui apresentados, apenas para a Área localizadas em núcleos de extração, com várias unidades
Cativa de Pedras Salgadas e para a Área de Reserva da próximas entre si, poderá haver benefícios em realizar
Falperra existe conhecimento suficiente para justificar a recuperação ambiental e a monitorização de modo
a sua inclusão nos instrumentos de ordenamento do integrado. No entanto, para que tal seja possível, deverão
território, o que aliás está inerente à implementação ocorrer alterações no processo de avaliação ambiental.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 11
Concentração de pedreiras junto a núcleos urbanos

Apresentam-se de seguida os pontos fortes, pontos referir-se também as atividades económicas indireta-
fracos, oportunidades e ameaças para os principais mente associadas ao setor, em especial os serviços, que
núcleos produtores de granitos ornamentais no norte de assumem maior importância em zonas frágeis do ponto
Portugal. Dadas as diferenças entre os diferentes núcleos, de vista económico e social.
apresentam-se os principais pontos em comum com base A capacidade de ajustamento das empresas às alterações
na avaliação antes efetuada por AEP (2015), ANIET do mercado e a internacionalização - É particularmente
(2017) e BES (2014), tendo em consideração também as importante nos períodos de menor atividade económica
unidades de transformação associadas à extração. para as empresas de maior dimensão.

PONTOS FORTES PONTOS FRACOS


A importância do setor para a economia nacional e Ausência de cooperação empresarial – Devido à reduzida
regional - Esta importância advém do emprego, da dimensão das empresas, é urgente que a cooperação seja
criação de riqueza e aproveitamento dos recursos naturais efetiva de modo a promover vantagens competitivas,
locais, em áreas por vezes em risco de despovoamento. através do efeito de escala e pela complementaridade
A existência de matéria-prima diversificada e com da oferta. Também na internacionalização, a ausência
caraterísticas reconhecias pelo mercado, facilita o de cooperação limita o crescimento nos mercados
aproveitamento dos vários granitos. Os municípios internacionais e leva a ações redundantes por parte de
reconhecem a importância desta atividade. várias empresas e sem o efeito desejado.
O reconhecimento da qualidade dos produtos - A Falta de investimento na inovação - Sem uma aposta
tradição na exploração/transformação do granito é uma na investigação torna-se mais difícil a criação de valor
imagem de marca do norte de Portugal. Poucos são os na oferta. Há alguma dificuldade em incorporar design
países com operários qualificados capazes de trabalhar na transformação da pedra, desperdiçando o know-how
tão bem a pedra como os portugueses. existente. A inovação também pode e deve englobar
A integração nas fileiras dos recursos minerais e da ações relativas às ações de minimização dos impactes
construção civil - Os produtos da produção/transforma- ambientais, em especial nas zonas onde há uma pressão
ção criam dinâmicas de desenvolvimento nas fileiras de maior sobre o meio ambiente devido à densidade de
outros setores, quer a montante quer a jusante. Deve unidades produtoras.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Acesso aos mercados internacionais - A reduzida dimensão AMEAÇAS


da maioria das empresas e a falta de informação Concorrência internacional - Nas últimas décadas a
e/ou impreparação, determinam uma incapacidade produção aumentou em países terceiros, sobretudo
de realizar uma internacionalização bem-sucedida. A baseada numa política de preços baixos difícil de
dependência de determinados clientes e/ou mercados, combater. As empresas portuguesas devem colocar os
torna a internacionalização frágil e sem capacidade de seus produtos baseados na qualidade, em produtos
adaptação à evolução mercado. inovadores e numa política comercial mais agressiva.
Instabilidade financeira - Os períodos de instabilidade
A dimensão das empresas - A reduzida dimensão da
financeira mundial não permitem criar um ambiente
maioria das empresas é muitas vezes um entrave para a
adequado à recuperação económica e ao investimento no
promoção do investimento e do crescimento estrutural.
mercado da construção imobiliária e em obras públicas.
Quando dependentes de capitais alheios as empresas
Produtos substitutos - As pedras naturais têm concorrência
mostram fragilidades que impedem o seu crescimento
feroz de outros substitutos, em especial os produtos
para enfrentarem os desafios de um mercado cada vez cerâmicos.
mais exigente.
À semelhança das típicas análises às cadeias de valor
O envelhecimento dos recursos humanos - A forte de sistemas produtivos, os estudos antes referidos e nos
tendência para a diminuição do número de efetivos e seu quais se baseia esta caraterização da fileira dos granitos,
envelhecimento contribuem para a perda de qualificação tomam como certo o pressuposto da existência infinita
empresarial no saber trabalhar a pedra durante o de recursos, olvidando que os recursos minerais são
processo extrativo e, sobretudo, durante o processo de finitos e não renováveis. Se para o presente caso da fileira
transformação. dos granitos, a questão não se coloca tanto ao nível da
disponibilidade de recursos, ela coloca-se ao nível das
condições de acessibilidade ao território, tal como antes
OPORTUNIDADES referido. Nesse sentido, a presente análise carece, ao nível
Aproveitar a oferta integrada do setor das rochas orna- das ameaças ao setor, da referência aos constrangimentos
mentais - O setor português das rochas ornamentais decorrentes do ordenamento do território.
apresenta no seu todo uma imagem internacional forte, A resolução de muitos problemas atrás enumerados
devendo as empresas usar essa imagem positiva. Por dependem das empresas e da sua capacidade de resposta
outro lado, a cooperação entre empresas permitirá tirar a um mercado cada vez mais exigente. As propostas que
se seguem dizem respeito a questões de ordenamento da
partido da complementaridade da oferta.
atividade e de política de aproveitamento dos recursos
O aumento da procura global - A utilização da pedra geológicos, transversais, portanto, a todos os núcleos
natural mantém uma trajetória de crescimento, existindo, de extração.
portanto, oportunidades de crescimento nos mercados Os núcleos de extração e respetivas áreas de expansão
internacionais. As oportunidades de crescimento, devem ser alvo de estudos que permitam um aumento
sobretudo nos países mais desenvolvidos e com maiores do conhecimento sobre os recursos existentes de tal
exigências em termos de produtos certificados, onde modo que permitam justificar adequadamente a sua
a pedra natural portuguesa mantém uma imagem de integração em sede de planeamento territorial, em
qualidade, devem ser aproveitadas. contraponto às justificações para outros usos e ocupações
do território que inviabilizem a sua exploração. Por outro
Aproveitar as vantagens da economia digital - As
lado, os núcleos de extração mais importantes deverão
facilidades oferecidas pelos meios digitais, quer para os
ser eles próprios objeto de ordenamento de pormenor
contactos comerciais quer para o marketing, devem ser
através das figuras legais existentes para o efeito,
aproveitadas pelas empresas. As ferramentas digitais nomeadamente os Planos de Intervenção em Espaço
potenciam o contacto e a promoção da atividade da Rural. Este ordenamento deverá considerar não só as
empresa, a divulgação dos produtos, o acompanhamento valências geológicas, mas também considerar as valências
personalizado das obras em curso e os serviços pós-venda. ambientais e sociais. Devido à sua vocação marcadamente

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

industrial, estas áreas devem ser consideradas como decisão de exploração por parte de quem possui os
uma unidade autónoma para efeitos de ordenamento do direitos para tal, ou ser introduzido um mecanismo
território. Tal como já efetuado para outros locais (e.g. de salvaguardada para tal situação? Pensamos que este
Falé et al. 2006, Carvalho et al., 2014, Carvalho et al., assunto merece uma discussão entre as entidades com
neste volume), a sua demarcação deverá ser suportada responsabilidade nesta temática.
por estudos de âmbito geológico, ambiental e social que O conhecimento da realidade no terreno, com dados
permitam a elaboração de propostas de ordenamento estatísticos que dependem da boa vontade das empresas em
baseadas na aptidão geológica do território e sua fornecerem dados fidedignos, está longe de ser a perfeita.
ponderação com os fatores ambientais e sociais. A falta de colaboração pró-ativa dos agentes económicos
Assim, os núcleos onde se verifica uma concentração obriga a que novas soluções sejam consideradas, com
de unidades extrativas deverão ser considerados como utilização das tecnologias de informação presentemente
Unidades Operativas de Planeamento e Gestão, tal como disponíveis para cruzamento de dados e informações
já se verifica nalguns municípios, devendo o respetivo relativos à produção/transformação/exportação.
ordenamento ter os seguintes objetivos gerais, adaptados
a cada caso: a integração e articulação das diferentes
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
entidades de modo a compatibilizar os diferentes
interesses em presença; a valorização da matéria-prima
e a otimização da sua exploração de modo racional; No norte de Portugal são explorados granitos com
a valorização e requalificação ambiental; a criação de caraterísticas texturais e cromáticas distintas. Nas
pequenas áreas com capacidade edificatória e redes de últimas décadas o número de unidades extrativas nos
infraestruturas que sirvam as indústrias aí localizadas; a granitos amarelos, Ponte de Lima, Mondim de Basto e
elaboração de uma estratégia integrada de recuperação serra da Falperra, aumentou de forma significativa. Estes
das áreas já exploradas, onde se deve proceder à granitos, conjuntamente com os granitos de Monção,
recuperação paisagística e ambiental; a definição de Alpendurada-Penafiel e Pedras Salgadas, constituem os
orientações para futuros licenciamentos. principais núcleos de extração de granitos do norte de
O estabelecimento de áreas com valências específicas Portugal, tendo sido identificadas um total 101 pedreiras
para a exploração de recursos geológicos, neste caso licenciadas. A quase totalidade das pedreiras dedica-se
granito ornamental, poderá ser equacionada em alguns à produção de rocha ornamental, desde blocos para
destes núcleos, à semelhança do que acontece nas áreas posterior transformação até às peças fendidas.
onde exploram o granito de Pedras Salgadas (Área O setor da extração e transformação dos granitos
Cativa de Pedras Salgadas - Portaria nº 766/94, de 23 constitui uma importante atividade económica, em
de agosto) e o granito da serra da Falperra (Área de regiões em risco de despovoamento. A tradição na
Reserva na serra da Falperra (Decreto Regulamentar exploração e transformação do granito é uma imagem
nº6/2009, de 2 de abril). O processo de definição de marca do norte de Portugal, no entanto a falta de
destas áreas classificadas para a exploração de recursos atratividade desta atividade leva que muitas empresas
geológicos deveria, ad initium, considerar as outras sintam dificuldades em contratar mão-de-obra. Esta
valências do território e os valores ambientais a defender, situação tenderá a agravar-se rapidamente, pois é muito
delimitando as áreas suscetíveis de serem exploradas e alta a faixa etária dos trabalhadores no ativo.
evitando posteriores incompatibilidades identificados O número de pedreiras ativas é muito inferior ao
na fase de licenciamento. Não tendo isso sido feito, mais das que possuem licença de exploração, embora esta
se realça a necessidade da implementação das Unidades avaliação resulte da realidade observada nos núcleos
Operativas de Planeamento e Gestão e respetivos planos de extração, não havendo um registo fidedigno das
de ordenamento de pormenor. áreas em exploração ativa. Refira-se que os dados
A comparação dos dados relativos às pedreiras com oficiais apontam para um total de 111 pedreiras de
licença de exploração e do número de pedreiras em granito ativas em Portugal (DGEG, 2018), logo as 101
atividade mostra uma diferença assinalável. Deverá o identificadas nos núcleos agora estudados não poderão
recurso geológico estar “reservado” até que haja uma estar todas ativas. A crise económica que de forma mais

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

evidente marcou a última década, levou à inatividade CARVALHO J.M.F., SAMPAIO J., MACHADO S., MIDÕES C.,
de muitas pedreiras, cujo retoma se assegura difícil. O PRAZERES C., SARDINHA R. (2014) – Caraterização e valorização da
área de intervenção específica do Codaçal. Relatório interno do Cluster da
controlo da atividade nas pedreiras, avaliada em termos
Pedra Natural - COMPETE/QREN. Projeto Âncora 2 - Sustentabilidade
de volume extraídos nas frentes de lavra e depositado
Ambiental da Indústria Extrativa. LNEG e Cevalor, Lisboa, 159 p.
nas escombreiras poderá ser facilmente realizado com
CARVALHO J.M.F., CANCELA J., MARTINS C., PIRES D.,
o recurso a meios aerofotogramétricos (p.ex. drones),
MALVEIRO S. (neste volume). Exploração sustentável de recursos no Maciço
com a vantagem de muitas pedreiras se localizarem Calcário Estremenho.
contiguamente ou próximas umas das outras. Poderá,
CARVALHO J., LOPES C., MATEUS A., MARTINS L., GOULÃO M.
assim, haver uma avaliação em tempo real dos volumes (2018) – Planning the future exploitation of ornamental stones in Portugal
extraídos, da legalidade das áreas intervencionadas e da using a weighed multi-dimensional approach. ResourcesPolicy, 59: 298-317.
situação das pedreiras. CARVALHO J.F., HENRIQUES P., FALÉ P., LUÍS G. (2008) – Decision
Os núcleos de extração e áreas de expansão deverão criteria for the exploration of ornamental-stone deposits: Application to the
ser alvo de estudos para obtenção de conhecimento que marbles of the Portuguese Estremoz Anticline. International Journal of Rock
justifique a demarcação das áreas de aptidão geológica Mechanics and Mining Sciences, 45(8):1306-1319.

e a sua integração em ordenamento do território. Essa CARVALHO J.M.F., LISBOA J.V., MOURA A.C., CARVALHO C.,

integração deverá ser alcançada através de Unidades SOUSA L.M.O., LEITE M.M. (2013) – Evaluation of the Portuguese
ornamental stone resources. Key Engineering Materials, 548:3-9.
Operativas de Planeamento e Gestão (UOPG) e respetivo
doi:10.4028/www.scientific.net/KEM.548.3.
plano de ordenamento. Este, adaptado a cada caso,
CERQUEIRA C.M.M. (2012) – Análise às condições de segurança e saúde
deverá considerar a compatibilização das diferentes
no trabalho em pedreiras. Mestrado em Gestão Integrada da Qualidade,
valências do território e a valorização e requalificação
Ambiente e Segurança. Escola Superior de Tecnologia e Gestão,
ambiental das áreas degradadas, entre outras julgadas Politécnico do Porto.
pertinentes.
CEVALOR (2014) – Exportar, exportar, exportar - A experiência dos principais
As áreas potenciais de exploração de granito avaliadas clusters regionais. Cluster da Pedra Natural. Granito de pedras finas.
em trabalhos publicados recentemente pecam por falta Escola Superior de Tecnologia e Gestão, Viana do Castelo, 11 de
de rigor devido à insuficiência dos dados geológicos Fevereiro de 2014.

disponíveis (Carvalho et al., 2013, 2018). Por essa razão, CIM TÂMEGA e SOUSA (2014) – Plano estratégico de desenvolvimento
essas áreas esbarram com limitações decorrentes de intermunicipal do Tâmega e Sousa. Relatório final. Maio 2014.

condicionantes ao uso do território (Santos et al., 2018). CMMC (2015) – Relatório de avaliação ambiental do PDM de Marco de
Pretende-se continuar esta primeira avaliação dos Canaveses. Câmara Municipal de Marco de Canavezes.

granitos do norte de Portugal com uma análise dessas DECRETO REGULAMENTAR nº 6/2009. Diário da República, 1.ª
condicionantes para os seis núcleos. série, N.º 65, 2 de Abril de 2009, pp. 2050-2052.
DGEG (2018) – Informação Estatística, nº 20. Direção de Serviços de
Estratégia e Fomento dos Recursos Geológicos.
FALÉ P., HENRIQUES P., MIDÕES C., CARVALHO J. (2006) –
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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Exploração Sustentável de Recursos no Maciço Calcário Estremenho


Jorge M. F. Carvalho Daniel Pires
Laboratório Nacional de Energia e Geologia, Unidade de Recursos Estudos e Divulgação em Ambiente, Lda.
Minerais e Geofísica Email: dpires@biota.pt
Email: jorge.carvalho@lneg.pt
Sónia Malveiro
Jorge Cancela
Estudos e Divulgação em Ambiente, Lda.
Biodesign, Ambiente e Paisagem, Lda.
Email: smalveiro@biota.pt
Email: cancela.jorge@gmail.com

Cristina Martins
Biodesign, Ambiente e Paisagem, Lda.
Email: cristinamartins@biodesign.pt

Palavras Chave: Maciço calcário estremenho, calcários ornamentais, valoração biológica, ordenamento do território.

RESUMO

No Maciço Calcário Estremenho ocorre, desde há décadas, uma intensa atividade de extração de blocos de calcário
para fins ornamentais. Dos condicionalismos de ordenamento do território, designadamente pelo facto dessa atividade
decorrer num espaço territorial consignada para a proteção da natureza – o Parque Natural das Serras de Aire e
Candeeiros, resultaram numerosas e prolongadas situações de conflito pelo uso do território. Por um lado, os naturais
anseios de desenvolvimento do setor industrial, por outro, o cumprimento dos objetivos de conservação da natureza.
Visando o estabelecimento de equilíbrios para a resolução da conflitualidade nos principais núcleos de exploração
consignados no Plano de Ordenamento daquele parque natural, desenvolveu-se um projeto com o objetivo específico

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

de encontrar mecanismos conducentes à compatibilização da gestão e exploração racional dos recursos em calcários
ornamentais com a conservação da natureza, no âmbito dos planos municipais de ordenamento do território.
Com base nos resultados alcançados, para cada uma das cinco áreas estudadas foi apresentada uma proposta de
ordenamento na qual foram considerados quatro fatores determinantes para a decisão: a existência de áreas de
ocorrência de calcários com aptidão ornamental, áreas com altos e excecionais valores ecológicos, património geológico
de valor relevante e áreas anteriormente recuperadas do ponto de vista ambiental.

1. INTRODUÇÃO mais de três décadas entre os objetivos de conservação


da natureza e de desenvolvimento da atividade extrativa.

No desenvolvimento de estratégias nacionais o orde- A tomada de consciência da necessidade de compatibilizar


namento do território é uma ferramenta tática para a diferentes realidades, ou seja, por um lado, a proteção da
reconciliação dos interesses públicos e privados no que qualidade ambiental e conservação dos valores naturais,
ao uso do território diz respeito. Quando se considera por outro, o aproveitamento dos recursos minerais,
a necessidade de assegurar o fornecimento de matérias aproveitamento esse com forte impacto económico e
primas minerais à sociedade está-se perante uma questão social a nível nacional, deu lugar a um processo de
pública, sejam essas matérias primas do domínio privado reconciliação que culminou com a execução de um
ou público. Como os recursos minerais apenas podem ser projeto destinado a encontrar pontos de equilíbrio
extraídos nos locais onde ocorrem, o ordenamento do para a gestão eficiente dos espaços onde a atividade
território é a ferramenta apropriada para a salvaguarda extrativa se encontra em desenvolvimento. Os resultados
desses recursos, inibindo a ocupação do território por obtidos permitiram encetar um processo formal de
usos ou atividades que desnecessariamente impeçam a compatibilização dos interesses instalados para o uso do
sua exploração. território que atualmente se encontra no início da sua
Neste contexto, o Maciço Calcário Estremenho (MCE) fase de implementação efetiva.
representa um caso paradigmático dessa necessidade O presente trabalho visa dar conta, de forma sumária,
de reconciliação de interesses. Grande parte da sua sobre o caminho percorrido e sobre a metodologia geral
área está sujeita a um regime de proteção da natureza aplicada à implementação de uma proposta de plani-
por intermédio do Parque Natural das Serras de Aire ficação territorial e ambiental dos principais espaços
e Candeeiros (PNSAC). Na respetiva área integram- afetos à indústria extrativa das rochas ornamentais na
-se 5 núcleos principais de pedreiras onde, desde há área do PNSAC, designadamente os núcleos de Cabeça
décadas, se desenvolve uma importante atividade de Veada, Codaçal, Moleanos, Pé da Pedreira e Portela
extração de blocos de calcário que se destinam ao setor das Salgueiras. Essa metodologia envolveu uma fase
de transformação de rochas ornamentais. Trata-se de de caraterização biofísica detalhada de cada um destes
uma atividade determinante para o desenvolvimento espaços. Pelo caráter determinante para a definição
socioeconómico de toda a região, com repercussão a do modelo territorial, é feito destaque à caraterização
nível nacional. Os dados mais recentes correspondem geológica e à avaliação ambiental dos valores naturais
ao ano de 2017 e apontam a produção aproximada de de âmbito biológico.
1 milhão de toneladas, correspondentes a uma riqueza de
cerca de 60 milhões de euros (Fonte: DGEG - Estatística
2. O CONTEXTO GEOLÓGICO E A INDÚSTRIA
de Recursos Geológicos da DSEF-RG).
EXTRATIVA
Desde a criação do PNSAC e como resultado da neces-
sidade de licenciamento de novas áreas para exploração
dos recursos minerais, fruto do esgotamento das áreas 2.1. O maciço calcário estremenho
licenciadas e da inexistência de áreas alternativas consig-
nadas em instrumento de gestão do território com uma O MCE (Figura 1) foi definido por A. Fernando Martins
tipologia de uso compatível com este tipo de atividade, (1949) enquanto unidade geomorfológica constituída
foram numerosos os conflitos que ocorreram durante essencialmente por rochas calcárias que se elevam acima

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da Bacia Terciária do Tejo, da Plataforma Litoral e da orientados NE-SW e W-E, também eles de herança
Bacia de Ourém. É parte integrante da região central da varisca e cuja atuação se reflete ao nível da distribuição
Bacia Lusitaniana (BL), a qual corresponde a uma bacia e espessura das fácies sedimentares. A partir do final do
intracratónica no bordo Oeste da microplaca Ibérica. O Cretácico a sua evolução foi condicionada pela tectónica
seu desenvolvimento está associado ao período distensivo compressiva alpina cujos efeitos maiores se fizeram sentir
que levou à abertura do norte do Oceano Atlântico durante o Miocénico (Wilson et al., 1989; Ribeiro et al.,
durante o Mesozoico. Está limitada por acidentes 1990; Pinheiro et al., 1996; Pais et al., 2012; Kullberg
longitudinais herdados da Orogenia Varisca e apresenta- et al., 2013).
-se compartimentada transversalmente por acidentes

FIGURA 1
Mapa geológico simplificado do MCE e principais unidades geomorfológicas

(adaptado de Carvalho (2018).


Falhas principais: 1- Falha dos Candeeiros, 2- Falha de Moleanos, 3- Falha Rio Maior-Porto de Mós, 4- Falha da Mendiga,
5- Falha de Alvados, 6- Falha de Minde, 7- Falha de Reguengo do Fetal, 8- Cavalgamento do Arrife.

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A morfologia do MCE está condicionada pela natureza grande diversidade de formas, desde pequenas fissuras
calcária das rochas que o compõem, ref letindo o a largas galerias subterrâneas. As conhecidas grutas
desenvolvimento de uma morfologia cársica bem que ocorrem neste maciço são o testemunho de antigas
característica e bastante diversificada. As formas de galerias de escoamento. Atualmente, esse escoamento
exocarso mais frequentes e notórias são as depressões subterrâneo dá lugar a um reduzido número de nascentes
fechadas de tipo dolina ou uvala, os poljes, dos quais principais na periferia do MCE, das quais se destacam
o de Minde é o mais representativo, os vales secos e os Olhos de Água do Alviela e do Almonda, as nascentes
os extensos campos de lapiaz. A rede de drenagem dos rios Lena e Liz e ainda as nascentes de Chiqueda
superficial é praticamente inexistente, predominando a (Figura 2).
drenagem subterrânea. Esta realiza-se por uma também

FIGURA 2
Principais nascentes na periferia do MCE

a) Olhos de Água do Almonda, b) Nascentes de Chiqueda, c) Nascente do Lena, d) Nascente do Liz, e) Olhos de Água
do Alviela.

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A arquitetura do MCE resulta fundamentalmente da sob a forma de desligamentos e cavalgamentos durante


movimentação tectónica das diversas falhas que o afetam os episódios de compressão Alpina (Carvalho, 2013;
e estrutura-se em 3 regiões elevadas que se encontram Kullberg et al., 2013). Para além de alguns dobramentos
separadas por duas depressões alongadas (Figura 1): apertados nas proximidades dos cavalgamentos, os
• A Serra dos Candeeiros, orientada NNE-SSW, estratos no MCE apresentam-se sub-horizontais, em
encontra-se separada do Planalto de Santo António associação com dobras amplas ou blocos ligeiramente
pela Depressão da Mendiga. Esta também se apresenta basculados.
orientada segundo NNE-SSW e está associada à Falha
da Mendiga. Ao longo da Serra dos Candeeiros, 2.2. A indústria extrativa no MCE
truncando o seu bordo oriental, distingue-se o
alinhamento tectónico diapírico de Rio Maior – Porto
de Mós – Batalha. Os calcários ornamentais são explorados no MCE em
algumas dezenas de pedreiras, mas, a maioria delas está
• O Planalto de Sto. António está separado do Planalto
agrupada em seis núcleos de exploração principais (Fi-
de S. Mamede e Serra de Aire por um alinhamento
gura 3): Casal Farto, Cabeça Veada, Codaçal, Moleanos,
NW-SE denunciado pelas depressões de Alvados e
Pé da Pedreira e Portela das Salgueiras. Com exceção do
Minde, as quais estão condicionadas pelo sistema
primeiro dos núcleos referidos, todos os restantes estão
de falhas escalonadas com o mesmo nome. A Serra
inseridos na área do PNSAC.
de Aire, estruturalmente associada ao Planalto de
S. Mamede, apresenta uma orientação NE-SW e
constitui a região mais elevada de todo o MCE.
A litostratigrafia do MCE está bem estabelecida a partir
do trabalhos de Manuppella et al. (1998, 1999) e Azerêdo
(2007). Os afloramentos datam do Hetangiano ao Plio-
cénico, contudo, a maioria corresponde a rochas carbo-
natadas do Jurássico Médio e Superior. As do Jurássico
Médio afloram, sobretudo, nas unidades morfostruturais
elevadas e compreendem calcários de cores claras que se
formaram em diferentes paleoambientes de um sistema
deposicional em rampa carbonatada (Azerêdo, 1998,
2007). As formações do Jurássico Superior afloram nas
regiões deprimidas e integram argilitos, arenitos e,
maioritariamente, margas e calcários de cores cinzen-
tas a castanho-claras que se depositaram em ambientes
continentais a marinhos pouco profundos sob condições
de subsidência controlada por falhas (Alves et al., 2003;
Kullberg et al., 2013).
No MCE ocorrem também rochas ígneas. São pouco
abundantes e estão dispersas por todo o Maciço, à
exceção da Serra de Aire e Planalto de São Mamede.
Maioritariamente estão associadas a falhas de orientação
NW – SE a WNW – ESSE, mas são também de realçar as
que ocorrem ao longo do acidente de Rio Maior – Porto
de Mós segundo NNE – SSW (Figura 1).
Os principais acidentes tectónicos que dominam o MCE
correspondem a falhas orientadas segundo três direções
principais: NNE-SSW, NW-SE e NE-SW. Estiveram ativas
durante o período distensivo Jurássico e foram reativadas

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FIGURA 3
Mapa litostratigráfico simplificado do MCE com localização dos núcleos de exploração de calcários ornamentais

(adaptado de Carvalho & Lisboa (2018)).

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FIGURA 4
Vista parcial de pedreiras no MCE

a) pedreiras em flanco de encosta no núcleo do Codaçal. b) pedreiras em poço no núcleo de Moleanos.

A alguns dos núcleos representados no mapa da Figura 3 Os blocos comercializados correspondem a prismas
corresponde, na realidade, apenas uma pedreira, como retangulares com dimensões na ordem de 2.8 m x 1.8 m
é o caso dos núcleos de Boleiros e de Vale da Cruz. Nem x 1.5 m. Dependendo da litologia mas também do modo
todas as pedreiras estão em atividade, sendo esse o caso como é feito o corte dos blocos em chapas, são muitas
das pedreiras nos núcleos de Alcaria e Alvados, entre
as variedades ornamentais provenientes do MCE: se o
outras inseridas nos restantes núcleos. Estas situações
corte é feito paralelamente à estratificação ou laminação
de inatividade poderão corresponder a situações de
sedimentar resulta uma variedade com um padrão
abandono, lavra suspensa ou, ainda, exploração sazonal.
textural diferente daquele que se obtém se o corte for
Tipicamente, as explorações desenvolvem-se em
flanco de encosta e compreendem um ou mais pisos realizado perpendicularmente. Apesar disso e das muitas
de desmonte, totalizando alturas máximas na ordem designações com que as rochas são comercializadas, a
dos 50 m. Em Casal Farto e em Moleanos a exploração maioria pode ser englobada num número reduzido de
desenvolve-se em poço. variedades ornamentais principais (Figura 5).

FIGURA 5
Principais variedades ornamentais do MCE de acordo com a sua designação comercial

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Na grande maioria dos núcleos de exploração, as rochas que bancadas relativamente espessas destes calcários
exploradas fazem parte de unidades litostratigráficas estão afetadas por uma densa rede de estilólitos e de
do Jurássico Médio, designadamente da Formação de veios irregulares de calcite resultantes de deformação
Santo António – Candeeiros, integrando os membros tectónica associada a dobras de arraste. Desses núcleos
de Codaçal, de Pé da Pedreira e de Moleanos (Azerêdo, é proveniente uma variedade comercial conhecida
2007). No geral, correspondem a calcarenitos e genericamente por Alpinina. O núcleo de Alcaria,
calcirruditos biocalciclásticos de cor creme claro, com donde é proveniente uma variedade comercial conhecida
textura marcada de forma mais ou menos intensa por por Pedra Bicho, corresponde a uma outra situação
diversos tipos de laminações sedimentares (Tabela 1). A particular na Formação de Serra de Aire: localiza-se
sua deposição ocorreu numa plataforma carbonatada em sobre duas unidades lumachélicas lenticulares, com
ambiente de alta energia (Azerêdo, 1998). O núcleo de espessura até 1,5 m e de extensão espacial restrita.
Moliana explora uma variedade conhecida por Brecha Apenas em 3 núcleos as rochas exploradas integram
de Santo António. Terá resultado de processos locais de rochas do Jurássico Superior, designadamente da
dolomitização dos calcários do Membro de Moleanos, Formação de Montejunto (núcleos de Cadoiço e Portela)
tendo sofrido posteriormente de dolomitização. e duma unidade que integra as formações de Cabaços
Localmente, nos núcleos de Alvados e Monsanto, são e Montejunto indiferenciadas (núcleo de Covão Alto)
explorados os calcários micríticos da Formação de Serra (Figura 3). Correspondem a calcilutitos de cor cinzenta
de Aire. Correspondem a situações particulares em a creme, por vezes margosos.

TABELA 1
Principais caraterísticas das unidades litostratigráficas produtoras de calcários ornamentais no MCE

Unidade Espessura Espessura das camadas Facies Dominante Cor Textura


Mudstones e wackestones Variável de camada para
Formação 0.05 m - 0.50 m, Esporadica-
Até 400 m oncolíticos, peloidais e Creme camada, sem laminações
Serra de Aire mente>1 m.
bioclásticos. sedimentares evidentes.
Feixes tabulares decimétricos
Corpos de calcarenitos empilha- Grainstones e rudstones a métricos maciços alternan-
Membro de
120 m dos com espessura 0.5 m – 3 m, bioclásticos, oolíticos e Creme claro tes com feixes de laminações
Codaçal
localmente até 20 m. litoclásticos. paralelas e oblíquas de baixo
ângulo.
Corpos de calcarenitos empilha- Packstones, grainstones e Feixes de estratificação
Membro de Pé Creme a
Até 130 m dos com espessura 0.5 m – 6 m, rudstones bioclásticos, entrecruzada decimétricos a
da Pedreira creme claro
localmente até 20 m. litoclásticos e peloidais. métricos.
Corpos de calcarenitos empilha- Grainstones e rudstones Feixes de estratificação
Membro de
150 m dos com espessura 0.5 m – 6 m, bioclásticos, litoclásticos e Creme entrecruzada decimétricos a
Moleanos
localmente até 10 m. peloidais. métricos.
Mudstones e wackestones Creme ou Variável de camada para
Formação de
Até 700 m 0.5 m – 1 m, localmente até 2 m. peloidais e litoclásticos, cinzento camada, localmente com
Montejunto
por vezes margosos. escuro laminações sedimentares.

2.3. O PNSAC e a Indústria Extrativa primordial proteger os aspetos naturais associados à


morfologia cársica daquele que é considerado o mais
importante repositório nacional de formações calcárias,
Grande parte do MCE encontra-se abrangido por um à natureza do coberto vegetal, à rede de cursos de água
regime de conservação da Natureza que se traduz por subterrâneos e a uma fauna específica de que se destaca
aí ter sido implementado o Parque Natural das Serras a cavernícola. A existência de habitats específicos, como
de Aire e Candeeiros (Decreto-Lei n.º118/79 de 4 de as lajes e vertentes calcárias, levou, inclusive, à sua
maio), de acordo com a delimitação apresentada no mapa integração na Rede Natura 2000 (Sítio PTCON0015 –
da Figura 6. Esta implementação teve como objetivo Serras de Aire e Candeeiros).

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O primeiro plano de ordenamento do PNSAC data de de estudos geológicos de avaliação pormenorizada das
1988 (Portaria n.º 21 de 12 de janeiro). Estabeleceu potencialidades em rochas ornamentais na área do
um zonamento para o qual, relativamente às Zonas PNSAC. Esses estudos, realizados por parte do extinto
de Conservação da Natureza e Zonas de Paisagem Instituto Geológico e Mineiro, incidiram sobre os
Protegida, se colocaram grandes entraves à extração de principais núcleos de extração de blocos, nomeadamente
inertes e quaisquer alterações ao relevo, seja por aterro os núcleos de Moleanos, Pé da Pedreira e Alvados
ou escavação, não tendo sido devidamente ponderadas (Carvalho, 1996, 1997, 1998) e os de Cabeça Veada
nem consideradas as potencialidades do território para e do Codaçal (Quartau, 1998, 2000). Para além de
outros usos, designadamente as atividades económicas corroborarem a aptidão de tais espaços para a exploração
aí instaladas. de rochas ornamentais, vieram revelar potencialidades
FIGURA 6 superiores às previstas, incluindo o aumento das áreas
O limite do PNSAC e Áreas de Intervenção Específica para a dos espaços em que tais recursos ocorriam.
indústria extrativa no POPNSAC
Tais resultados, associados a um forte incremento da
atividade extrativa devido à intensa procura destes
calcários por parte do mercado chinês no início do
presente século, incremento esse muitas vezes de modo
desordenado, despoletaram o aumento da conflitualidade
e intensas discussões que conduziram à necessidade de
um processo de revisão do plano de ordenamento do
PNSAC que incluísse espaços especificamente designados
para a indústria extrativa de calcários ornamentais.
Culminaram com a publicação, em 2010, do novo Plano
de Ordenamento do PNSAC (RCM n.º 57/2010 de 12 de
agosto), no qual se demarcaram áreas envolvendo os
principais núcleos de exploração de rochas ornamentais
visando a compatibilização da atividade nesses núcleos
com os pressupostos de conservação da natureza
inerentes ao PNSAC. Em grande parte, a delimitação
Esses entraves colidiram fortemente com os interesses da de tais espaços teve em atenção os estudos geológicos
indústria extrativa instalada na área do PNSAC desde anteriormente mencionados.
os anos 70 e que entrou em franco desenvolvimento O novo Plano de Ordenamento do PNSAC (POPNSAC)
em meados da década seguinte, em particular no que definiu a área abrangente desses núcleos como Áreas
respeita às explorações de calcários ornamentais devido de Intervenção Específica (AIE), de acordo com a
à conjugação de um período de expansão económica com sua representação na Figura 6. Devido ao seu caráter
avanços tecnológicos no setor extrativo. Da necessidade essencialmente programático no que à indústria extrativa
de assegurar o suprimento do mercado das rochas diz respeito, neste plano preconizou-se que essas áreas
ornamentais e dos naturais anseios de crescimento deveriam ser alvo de Planos Municipais de Ordenamento
industrial, resultaram numerosas situações de conflito do Território que objetivassem a implementação de
pelo uso do território aquando da atribuição de novas medidas de compatibilização entre a gestão racional
licenças de exploração e da regularização das existentes dos recursos e a conservação dos valores ambientais,
por motivos de expansão das áreas licenciadas. salvaguardando que também poderiam ser abrangidas
Os primeiros passos para o estabelecimento de por projetos integrados de exploração. Eficientemente
equilíbrios na resolução dos conflitos existentes foram anteviu-se a situação atual em que está em curso a
dados pelos órgãos de gestão do PNSAC na década de modificação do Plano de Ordenamento em Programa
90. Tiveram como pressuposto a necessidade de conhecer de Ordenamento do PNSAC, ficando cometidas aos
a efetiva aptidão do território nas áreas sujeitas a maior municípios as responsabilidades pela implementação
pressão e consistiram, fundamentalmente, na promoção e gestão do modelo de ocupação territorial através dos

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instrumentos de ordenamento vinculativos de entidades Portuguesa dos Industriais de Mármores, Granitos e


públicas e particulares. Ramos Afins e o ICNF – Instituto da Conservação da
Com efeito, o sistema de gestão territorial nacional Natureza e das Florestas, IP. Ainda de forma inédita,
desenvolve-se, no essencial, em duas vertentes. Uma esta parceria contou com a colaboração estreita de enti-
vertente de natureza estratégica implementada por dades públicas (Direção Geral de Energia e Geologia,
programas nacionais e regionais que vinculam as Laboratório Nacional de Energia e Geologia, IP e
entidades públicas. Outra, de natureza regulamentar, municípios de Alcobaça, Porto de Mós, Rio Maior e
implementada por planos intermunicipais e municipais, Santarém), um centro tecnológico, entretanto extinto
os quais estabelecem o regime de uso do solo definindo (CEVALOR - Centro Tecnológico para o Aproveitamento
os modelos de ocupação territorial e que vinculam as e Valorização das Rochas Ornamentais e Industriais) e
entidades públicas e particulares. A nível municipal empresas privadas de consultadoria (Visa Consultores,
considera-se o Plano Diretor Municipal, os planos de Lda. e Biodesign, Lda.).
urbanização e os planos de pormenor. É no âmbito Visando contribuir para o planeamento e integração da
dos planos de pormenor, designadamente através de atividade extrativa de rochas ornamentais do MCE em
Planos de Intervenção em Espaço Rústico que se prevê sede de Ordenamento do Território, como caminho a
o enquadramento das AIE para a indústria extrativa percorrer para a melhoria do seu desempenho econó-
do PNSAC no contexto do sistema de ordenamento do mico e ambiental, através do aumento da sua eficiência
território nacional. e diminuição dos seus impactos, este projeto procurou:
• A definição de estratégias para o desenvolvimento
3. O PROJETO EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL sustentável do sector extrativo;
DE RECURSOS NO MCE • A criação de informação de base de âmbito geológico
e ambiental para o planeamento integrado das AIE
previstas no POPNSAC;
Visando o cumprimento dos objetivos de compatibili-
• A caraterização qualitativa e quantitativa das condições
zação da gestão e exploração racional dos recursos em
hidrogeológicas do aquífero do MCE e sua monitori-
calcários ornamentais na área do PNSAC com a con-
zação, visando a avaliação da sua vulnerabilidade face
servação da natureza através de planos municipais de
à indústria extrativa;
ordenamento do território, foi implementado o projeto
Exploração Sustentável de Recursos no Maciço Calcário • A inventariação, caraterização e proposta de gestão
Estremenho no âmbito do Projeto Âncora 2 – Sustenta- do vasto património geológico e mineiro em torno
bilidade Ambiental da Indústria Extrativa, integrante das rochas ornamentais, visando a sua valorização
do Programa de Ação do Cluster da Pedra Natural (CE- conjunta como marcas identitárias da região;
VALOR, 2009). • Um Programa de Comunicação e Sensibilização
Este projeto teve como pressupostos que o aproveitamen- para a valorização da atividade extrativa a par com a
to e a potenciação dos recursos em rochas ornamentais, conservação do património natural;
a par com outros fatores caraterísticos do MCE, em • A definição e implementação de um painel de
particular o seu património natural, podem constituir indicadores de aproveitamento sustentável para
um importante elemento de valorização económica e a quantificação e monitorização do desempenho
contribuir para uma melhor aceitação (que não a sim- ambiental, económico e social da atividade extrativa
ples tolerância) da indústria extrativa, situando-a num no MCE.
patamar em que surja não só como fator de desenvolvi- Ao nível do contributo para a integração em Ordenamento
mento económico mas, correspondendo às expectativas do Território, o projeto teve como principais resultados
atuais de preservação ambiental e bem-estar social, surja a planificação territorial e ambiental das 5 Áreas de
também como fator de identitário e de autoestima do Intervenção Específica, a elaboração de um projeto de
território em que se insere. exploração integrada para cada uma delas, acompanhado
O projeto foi executado no período 2011 - 2014 através de do respetivo Estudo de Impacto Ambiental e um plano
uma parceria inédita entre a ASSIMAGRA - Associação geral de gestão de resíduos de extração.

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FIGURA 7
Esquema geral da elaboração do Plano de Intervenção em Espaço Rústico para cada uma das AIE

A planificação ambiental e territorial de cada área Específica abrangem mais do que um município (Tabela
desenvolveu-se através de 8 Planos de Intervenção em 2). A sua elaboração envolveu diversas etapas, conforme
Espaço Rústico (PIER) e respetivas avaliações ambientais o esquema geral que se apresenta na Figura 7.
estratégicas, pois algumas das Áreas de Intervenção

TABELA 2
Distribuição da área de cada AIE por concelho
Porto de Mós Santarém Alcobaça Rio Maior
AIE
Área (ha) % Área (ha) % Área (ha) % Área (ha) %
Cabeça Veada 26 90 3 10
Pé da Pedreira 548 40 826 60
Portela das Salgueiras 40 63.5 23 36.5
Codaçal 98 100
Moleanos 147 100

3.1. A planificação territorial e ambiental uma de caraterização e diagnóstico e outra correspon-


dente à elaboração de uma proposta de ordenamento.
3.1.1. Metodologia Os estudos de caraterização e diagnóstico executaram-se
a três níveis:
A extração de rochas ornamentais carece de estudos
• Análise dos Instrumentos de gestão territorial, a
geológicos de base que possam suportar a eficiente
fim de garantir a compatibilidade e conformidade
exploração e valorização dos recursos existentes. De
com os instrumentos de hierarquia superior e
modo a que isso possa ser realizado numa perspetiva
suportar proposta de alterações ao regime de
ecológica, há que, simultaneamente, levar a cabo ações
proteção ambiental em vigor nas AIE definidos pelo
de caraterização ambiental que permitam, em conjunto
POPNSAC;
com os estudos anteriores, contribuir instrumentalmente
para o ordenamento do território das áreas de explora- • Servidões e restrições de utilidade pública, a fim de
ção, designadamente com a distinção entre áreas com identificar as suas consequências e procedimentos
concreta aptidão geológica e áreas passíveis de rea- administrativos;
bilitação ambiental e requalificação territorial. Neste • Caraterização biofísica tendo em vista o estabeleci-
pressuposto, a planificação territorial e ambiental das mento de um zonamento tradutor da conciliação entre
cinco AIE seguiu o esquema metodológico apresentado a exploração dos recursos, os valores ecológicos e a
na Figura 8 em que se destacam duas etapas principais: sensibilidade ambiental.

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FIGURA 8
Etapas e componentes de informação obtida para a elaboração de proposta de ordenamento das AIE

A caraterização biofísica suportou-se em estudos de cariz protegida abrangida pela Diretiva Aves, dedicada à
geológico e ambiental. Os primeiros centraram-se na conservação das aves que vivem naturalmente no estado
caraterização dos recursos em calcários ornamentais selvagem, e pela Diretiva Habitats que visa a conservação
e na delimitação das áreas mais favoráveis à sua dos habitats naturais e das espécies da flora e da fauna
exploração para cada uma das 5 AIE – Áreas de Aptidão selvagens ameaçadas, a maior ênfase recaiu sobre a
Geológica. Envolveram, a par com a caraterização dos caraterização biológica, nomeadamente sobre o estudo e
litotipos aflorantes, cartografia geológica detalhada à caraterização da flora e vegetação, habitats e fauna. Estas
escala 1:2000, pois essa é a escala requerida legalmente componentes ecológicas foram alvo de um processo de
para a elaboração dos PIER. Os trabalhos geológicos valoração de acordo com a metodologia utilizada pelo
envolveram ainda a realização de sondagens com ICNF nos planos de ordenamento das áreas protegidas,
recuperação contínua de testemunho, a fim de validar tendo-se efetuado as adaptações consideradas necessárias
e complementar as interpretações geológicas, e o em função da realidade e escala das áreas em estudo.
levantamento genérico da fraturação do maciço rochoso. A sistematização e gestão dos dados obtidos foi executada
Ainda no âmbito geológico, mas já integrados na num sistema de informação geográfica, o que permitiu
componente de caraterização ambiental, foram o estabelecimento de uma interação dinâmica entre
realizados estudos hidrogeológicos com o objetivo de as diversas temáticas através do entrecruzamento dos
caraterizar e modelar os recursos hídricos subterrâneos diversos níveis de informação. Dessa interação, em
nas diferentes áreas, com particular destaque no que particular entre a ponderação dos valores biológicos
respeita à avaliação da sua vulnerabilidade. Devido às e da aptidão geológica para a produção de rochas
especificidades próprias do PNSAC, designadamente ornamentais, resultaram propostas de ordenamento
no que respeita aos seus objetivos de conservação e territorial para cada uma das AIE.
valorização do património geológico no seu sentido lato,
procedeu-se também à inventariação e caraterização
3.1.2. Resultados
dos sítios geológicos, mineiros e geomorfológicos com
interesse patrimonial.
Quanto aos estudos ambientais, estes compreenderam a 3.1.2.1. Aptidão geológica
caraterização dos solos, biologia, clima, recursos hídricos Como resultado da cartografia geológica levada a
superficiais, paisagem, qualidade do ar e ruído. Tendo cabo nas 5 AIE foram produzidos os respetivos mapas
em conta que as áreas em estudo se situam numa área geológicos à escala 1:2000, dos quais aqui se apresentam

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versões simplif icadas e redimensionadas. Para a Esta unidade Calcários Ornamentais é constituída,
nomenclatura das unidades estratigráficas utilizaram-se genericamente, por calcários biolitoclásticos pelóidicos
as designações informais utilizadas localmente neste de granularidade fina a grosseira e cimento sparítico
setor industrial a fim de que os mapas possam ser (packstones, grainstones e rudstones biointraclásticos
melhor compreendidos pelos respetivos técnicos. Não pelóidicos). Apresentam cor creme de tom mais ou menos
se deixou, contudo, de estabelecer uma correlação claro e uma grande diversidade de texturas marcadas
cronostratigráfica detalhada e, deste modo, possibilitar por laminações paralelas, oblíquas e entrecruzadas
correlação com a geologia regional. mais ou menos evidentes. Contudo, essas laminações
Nas AIE de Cabeça Veada (Figura 9), Pé da Pedreira estão organizadas em feixes de espessura decimétrica
(Figura 10) e Portela das Salgueiras (Figura 11), os a métrica, assim possibilitando que sejam obtidos
calcários ornamentais correspondem a uma mesma blocos texturalmente homogéneos e com dimensões
unidade litostratigráfica – o Membro de Pé da Pedreira comercializáveis. Algumas variedades texturais (tipo
da Formação de Sto. António – Candeeiros – datada de laminação e granulometria) são mais caraterísticas
do Jurássico Médio, mais concretamente do Batoniano de umas áreas do que de outras, sendo essa a principal
superior (Azerêdo, 2007). Trata-se de uma unidade razão subjacente às diferentes designações atribuídas
lenticular, descontínua, com uma espessura máxima comercialmente aos calcários ornamentais do MCE.
que chega a atingir os 130 m em Cabeça Veada. Em
Pé da Pedreira a espessura é de 40 m e em Portela das
Salgueiras é de 105 m. FIGURA 10
Mapa geológico simplificado da AIE Pé da Pedreira com indicação
da área de aptidão geológica
FIGURA 9
Mapa geológico simplificado da AIE Cabeça Veada com indicação
da área de aptidão geológica

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FIGURA 11 com os calcários ornamentais é conhecido por Calcários


Mapa geológico simplificado da AIE Portela das Salgueiras com do Codaçal e tem uma espessura total que chega a
indicação da área de aptidão geológica atingir os 120 m. Porém, as variedades com interesse
ornamental não ultrapassam os 80 m de possança total
devendo, contudo, ser considerada uma possança média
à volta dos 55 m devido às variações laterais de fácies
atrás mencionadas. Estão datados do Batoniano inferior
e formalmente correspondem ao Membro de Codaçal da
Formação de Sto. António – Candeeiros.

FIGURA 12
Mapa geológico simplificado da AIE Codaçal
com indicação da área de aptidão geológica

Nas 3 áreas referidas, os Calcários Ornamentais estão


enquadrados acima e abaixo por bancadas pouco
possantes de calcários micríticos (mudstones e wackstones),
mais ou menos bioclásticos e pelóidicos. Apresentam cor
creme de tonalidade variável. Localmente estes calcários
são denominados por Vidraços do Topo e Vidraços da
Base, respetivamente. Formalmente, correspondem à
Formação de Serra de Aire, de idade Batoniano, a qual é
equivalente lateral da Formação referida anteriormente,
interdigitando-se com os Calcários Ornamentais.
No que respeita à AIE Codaçal (Figura 12), os calcários
ornamentais correspondem a um empilhamento
de corpos maciços de calcários com espessuras que Os Calcários do Codaçal estão enquadrados acima por
podem atingir os 20 m. Em termos composicionais são uma unidade de Vidraços do Topo que correspondem
semelhantes aos das AIE antes referidas, mas com uma aos mesmos calcários micrítico descritos para as AIE
componente oolítica ao nível dos elementos figurados anteriores. Inferiormente estão limitados por uma
e cor creme de tons mais claros. Estão referenciados unidade a que se atribuiu a designação Lajes e Vidraços.
no mapa da Figura 12 pelas designações comerciais de Esta integra o Membro de Vale da Serra da Formação
Semi Rijo. de Chão de Pias (Bajociano superior). Localmente
Estes calcários passam lateralmente e inferiormente a apresentam aptidão para a produção de lajes.
calcários com fraca aptidão ornamental, designadamente Na AIE de Moleanos (Figura 13), a unidade Calcários
a Unidade da Base que se desenvolve essencialmente ornamentais é, em termos genéricos, semelhante às
para Norte e o Margaço que se desenvolve para Sul. O anteriores. Corresponde ao Membro de Moleanos
conjunto constituído por estas duas unidades juntamente da Formação de Sto. António – Candeeiros, também

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

datado do Jurássico Médio, mas agora do Caloviano. geológica serviram de base à delimitação das áreas com
Trata-se de uma unidade muito espessa, mas incerta, efetivo potencial mineiro a considerar como áreas de
atingindo provavelmente os 200 m (Azerêdo, 2007). Na escavação no projeto de exploração integrado de cada
área em causa os Calcários Ornamentais ultrapassam uma das AIE.
os 100 m. São frequentes alguns níveis lenticulares de
calcários micríticos (vidraços) no seu interior em posições
3.1.2.2. Avaliação ambiental
estratigráficas distintas. Estão limitados inferiormente
Os dados que suportaram a avaliação ambiental
pelos Vidraços da Base, os quais também integram o
resultaram de trabalhos de inventariação e caracterização
Membro de Moleanos.
a partir de informação existente e levantamentos de
Superiormente os Calcários Ornamentais estão limitados
campo complementares. A recolha de informação incidiu
por uma unidade que se designou por Vidraços do Topo.
na identificação de:
Correspondem a afloramentos do Jurássico Superior
• Espécies de flora, com relevância para as detentoras
constituídos por calcários mais ou menos margosos,
de caráter conservacionista;
de cores cinzentas e castanhas. Sobre todo o conjunto
ocorrem depósitos recentes eluvionares mais ou menos • Habitats, reconhecidos a partir das unidades de
consolidados e constituídos por fragmentos bastante vegetação e espécies de flora;
angulosos de calcário. A sua espessura é reduzida, mas • Espécies de fauna, particularmente das mais relevantes
bastante irregular, podendo alcançar a dezena de metros. para o contexto ecológico local;
Estes depósitos são conhecidos localmente por Resmo. • Biótopos e comunidades faunísticas associadas, reco-
nhecidos a partir da cartografia dos habitats e do uso
FIGURA 13 do solo, nomeadamente de locais importantes para as
Mapa geológico simplificado da AIE Moleanos espécies de maior relevância ecológica.
com indicação da área de aptidão geológica
Identificadas, caraterizadas e cartografadas as áreas
correspondentes a estas componentes ecológicas, elas
foram alvo de um processo de valoração em separado
para as componentes habitats/flora e biótopos/fauna a
fim de se obterem zonamentos de valoração distintos,
traduzidos por cartas de valores florísticos e cartas de
valores faunísticos para cada uma das áreas. Da agregação
dos resultados obtido para cada componente, resultaram
os mapas de valoração biológica que se apresentam
na Figura 14 em que o valor do património natural é
refletido numa escala de relevância ecológica variável
entre Baixa e Excecional. Importa notar nesta figura que
relativamente à AIE de Pé da Pedreira unicamente estão
representadas as classes de valoração correspondentes
à área de aptidão geológica para a produção de blocos.

Nos mapas geológicos das AIE também está representada


a área com aptidão para a exploração dos calcários
ornamentais. Para além do evidente condicionalismo
pela área de afloramento destes calcários, a sua definição
teve ainda em conta a existência de recurso em calcários
ornamentais sob rocha estéril. Estas áreas de aptidão

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FIGURA 14 Da análise dessa tabela é evidente que, com exceção da


Mapas de Valoração Ecológica AIE Moleanos, para as restantes a classe de relevância
ecológica Excecional corresponde aos espaços dos habitats
Lajes Calcárias e de Vertentes calcárias e aos espaços
ocupados por espécies de flora relevantes. Em Moleanos,
os habitats Lajes calcárias e Vertentes calcárias não têm
expressão espacial.
Quanto à classe de relevância Alta verifica-se a sua atri-
buição aos espaços ocupados pelos habitats naturais mais
frequentes na área em estudo, desde que com elevada
expressão espacial e incluindo habitats prioritários da
Rede Natura 2000.
Já no que respeita às classes de Baixa e Média relevân-
cia ecológica e tal como seria de esperar, é evidente
a correspondência, na sua maior parte, com as áreas
artificializadas pelas pedreiras, designadamente as
escavações e as escombreiras. Efetivamente, foram estas
Áreas de: a) Cabeça Veada, b) Codaçal, c) Moleanos, d) Pé da Pedreira
(apenas na área de aptidão para blocos) e e) Portela das Salgueiras.
áreas artificializadas aquelas que foram categorizadas
com relevância ecológica Baixa, a par com outras zonas
No que respeita aos resultados da componente em que a percentagem de ocupação por habitats natu-
habitats/flora, que envolveu a valoração e zonamento
rais é muito reduzida. As áreas de relevância ecológica
individualizado para habitats e espécies, a Tabela 3
Média correspondem aos espaços com percentagens de
sintetiza os elementos diferenciadores dos espaços
valorados nas classes de relevância ecológica Excecional cobertura medianas de habitats naturais que apresentam
e Alta para cada uma das AIE. Esta classificação foi ampla expressão no PNSAC, como é o caso dos Carras-
efetuada de maneira a refletir a importância dos habitats cais e Matos Baixos Calcícolas, nos quais não tenham
e das espécies mais valoradas no contexto do PNSAC. sido identificadas espécies relevantes para a conservação.

TABELA 3
Elementos diferenciadores das classes de relevância ecológica Excecional e Alta para as áreas em estudo
no respeitante à componente habitats/flora
Relevância Ecológica Excecional Relevância Ecológica Alta
Cabeça Veada
- Lajes calcárias e Vertentes calcárias - Zonas com dominância dos habitats naturais mais frequentes na
- Áreas com núcleos populacionais das espécies Silene longicilia e área em estudo em percentagens de cobertura elevadas, incluindo
Saxifraga cintrana os habitats prioritários Prados Rupícolas e Subestepes de Gramíneas
Codaçal
- Lajes calcárias e vertentes calcárias - Zonas com dominância dos habitats naturais mais frequentes na
- Áreas com núcleos populacionais das espécies Narcissus calcicola, área em estudo em percentagens de cobertura elevadas, incluindo o
Arabis sadina, Silene longicillia, Saxifraga cintrana e Inula montana habitat prioritário Prados Rupícolas e os matos e ambientes florestais
Moleanos
- Áreas com núcleos populacionais de Silene longicilia - Zonas onde estão concentrados os habitats florestais
Pé da Pedreira
- Lajes calcárias e Vertentes calcárias - Zonas com dominância dos habitats naturais mais frequentes na
- Áreas com núcleos das espécies Narcissus calcícola, Arabis sadina, área em estudo em percentagens de cobertura elevadas, incluindo
Saxifraga cintrana e Inula montana os habitats prioritários Prados Rupícolas e Subestepes de Gramíneas
Portela das Salgueiras
Lajes calcárias e Vertentes calcárias Zonas com dominância dos habitats naturais mais frequentes na área
em estudo em percentagens de cobertura elevadas, incluindo os habitats
Áreas com núcleos da espécie Narcissus scaberulus subsp. Calcícola prioritários Prados Rupícolas e Subestepes de Gramíneas

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A valoração ecológica dos biótopos foi efetuada de que respeitam ao património geológico. Com efeito,
maneira a refletir a importância dos biótopos mais verifica-se a ocorrência de locais onde este tipo de valores
valorados em função das 50 espécies de fauna mais se revela bastante relevante no contexto dos objetivos
relevantes associadas a cada um deles. Assim, a classe de conservação do PNSAC, pelo que importa a sua
de relevância ecológica Alta foi atribuída aos espaços consideração no modelo de ordenamento a implementar.
ocupados por estes biótopos mais valorados. Em todas as A estes três fatores identificados como determinantes
AIE esses espaços de relevância Alta têm correspondência para a proposta de ordenamento – aptidão geológica
com os biótopos Prados e Matos Rasteiros e Ambientes para a produção de rochas ornamentais, valores
Rochosos, correspondendo a classe de relevância Média biológicos de relevância ecológica excecional e alta
aos espaços ocupados pelos restantes biótopos ou ainda e património geológico – junta-se um quarto fator
pelos anteriores quando estes apresentam uma expressão decorrente do regulamento do POPNSAC e que respeita
espacial muito reduzida. As zonas artificializadas às Áreas Recuperadas identificadas no seu Anexo III.
correspondem à classe de relevância Baixa. Tratam-se de áreas anteriormente afetas à indústria
A classe Excecional ficou reservada para os locais extrativa que foram alvo de recuperação ambiental e
considerados prioritários para o abrigo e nidificação para as quais o regulamento do POPNSAC prevê a sua
de espécies com grande interesse de conservação no conservação.
contexto do PNSAC, designadamente os morcegos e a Perante este conjunto de fatores determinantes para o
Gralha-de-Bico-Vermelho. Tais espaços correspondem modelo de ordenamento de cada AIE, coloca-se a questão
essencialmente a cavidades rochosas de caráter pontual, fundamental de resolver qual o peso de cada um deles.
razão pela qual se considerou um buffer de proteção Para responder a esta questão, três diferentes cenários
com 200 m de diâmetro para a maioria das situações foram considerados:
identificadas. • Dar primazia à valorização do território pela sua aptidão
Importa notar que as áreas avaliadas se localizam numa geológica para a produção de calcários ornamentais,
área protegida reconhecida como Parque Natural, ou seja, um cenário que vise a maximização do
pelo que os resultados da valoração aplicada devem processo extrativo;
ser interpretados nesse contexto, devendo-se ter em • Dar primazia à valorização do território pelos recursos
consideração que as áreas que obtiveram menor valor naturais nele existentes, ou seja, em que os valores de
no exercício de valoração poderão ser áreas com elevado excecional e alta relevância ecológica suplantam os
valor de conservação no contexto regional e nacional. interesses da indústria extrativa;
• Contemplar a compatibilização da aptidão geológica
3.1.2.3. Ordenamento para a extração de rochas ornamentais com os resulta-
A estratégia de ordenamento para cada uma das AIE dos da valoração dos recursos biológicos, a qual deverá
baseou-se na apresentação de uma proposta de transfor- ser alcançada com o estabelecimento de medidas de
mação do uso do solo compatível com as condicionantes e compensação.
aptidões de cada uma delas, numa perspetiva sustentável No contexto do POPNSAC, o qual contempla e delimita
das atividades humanas e da sua relação com o território. as Áreas de Intervenção Específica para a indústria
Dos trabalhos de caraterização e avaliação das potencia- extrativa, a decisão caiu claramente sobre o terceiro
lidades geológicas resulta como evidência uma forte cenário, pois este preconiza um modelo territorial que
aptidão de cada uma das AIE para a produção de blocos impõe a valorização o território pela atribuição do seu
de calcário para fins ornamentais, isto é, uma forte uso a uma atividade que gera impactos significativos,
aptidão para o uso do solo por parte da indústria mas que também impõe a minimização e compensação
extrativa. Por outro lado, os estudos de caraterização desses impactos.
e avaliação dos valores naturais, designadamente os Neste sentido, implementou-se uma metodologia de atri-
de âmbito biológico, mostram a existência de áreas buição do uso da terra de acordo com o diagrama que se
bastante relevantes ecologicamente, por vezes com apresenta na Figura 15. Da aplicação desta metodologia,
caráter excecional. A estes valores naturais somam-se resultaram os mapas de propostas de ordenamento para
ainda outros, não abordados no presente trabalho, mas cada uma das AIE que se apresentam na Figura 16.

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Importa ressalvar que no mapa correspondente à pro- o limite urbano aí existente, por este se encontrar em
posta de ordenamento para a AIE de Moleanos não foi fase de revisão.
tido em conta, como condicionante ao uso do território,

FIGURA 15
Diagrama metodológico empregue para o ordenamento territorial das Áreas de Intervenção Específica

FIGURA 16 Nas propostas de ordenamento para cada uma das


Proposta de Ordenamento para as AIE AIE, os espaços indicados como preferenciais para a
conservação da natureza têm correspondência com
todos os espaços onde não existem recursos em rochas
ornamentais. Excetuam-se os locais de ocorrência de
geossítios com valor excecional e que por esse motivo
deverão ser preservados, independentemente da
existência de recursos em rochas ornamentais.
Relativamente aos espaços onde foram identificados
recursos em rochas ornamentais passíveis de exploração,
classificaram-se como compatíveis com a indústria
extrativa, desde que sujeita a medidas de compensação,
aqueles coincidentes com a ocorrência de valores
ecológicos de relevância excecional ou alta, bem como
os coincidentes com geossítios sem relevância excecional
e as áreas recuperadas.
Quanto aos espaços onde existem recursos em calcá-
rios ornamentais passíveis de exploração e que estão
indicados como compatíveis com a indústria extrativa,
têm correspondência com os espaços cuja relevância
a) Cabeça Veada, b) Codaçal, c) Moleanos, d) Pé da Pedreira (apenas ecológica é média ou baixa e com as áreas licenciadas
na área de aptidão para blocos) e e) Portela das Salgueiras. para a exploração.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS modo sustentável tanto do ponto de vista social como


ambiental. Em particular, a metodologia de ordenamento
desenvolvida pode constituir-se como uma referência
O Projeto Exploração Sustentável de Recursos no MCE
para outras situações, adaptando-se às especificidades
teve como objetivo maior contribuir para o aumento da
de cada uma. De modo efetivo, mostra um caminho para
competitividade da indústria extrativa de rochas orna-
compatibilizar territorialmente a atividade extrativa e a
mentais num contexto de valorização da matéria-prima
conservação dos valores naturais, mesmo se inserida em
e dos valores ambientais caraterísticos daquela região do
áreas sujeitas a regimes de proteção ambiental, como
território nacional. Para o efeito, foi desenvolvido segun-
é o caso dos parques naturais e da Rede Natura 2000.
do um processo metodológico assente numa estratégia
de compatibilização da exploração racional dos recursos
com a conservação dos valores naturais.
Uma componente fundamental desse processo foi a
elaboração de um modelo de ordenamento do território
a aplicar a cada uma das Áreas de Intervenção Específica
do POPNSAC que teve por base a identificação dos fatores
considerados críticos para a decisão, nomeadamente a
existência de recursos com aptidão para a produção
de rochas ornamentais, valores biológicos excecionais
e altos, áreas recuperadas e património geológico
relevante. No essencial, tal modelo preconiza a afetação
à conservação da natureza de todos os espaços onde não
se verifica a existência de recursos minerais passíveis de
exploração e que os restantes espaços são compatíveis
com a indústria extrativa, desde que sujeita a medidas de
compensação ambiental quando na presença de valores
ecológicos com relevância excecional ou alta. A expressão
espacial desse modelo resultou na elaboração de uma
proposta de ordenamento para cada uma das áreas.
Todo o projeto foi desenvolvido holisticamente. As
propostas de ordenamento territorial, integradas em
PIERs e respetiva Avaliação Ambiental Estratégica, estão
acompanhadas por projetos integrados de exploração,
respetivos planos de recuperação ambiental e paisagística
e, ainda, por um plano geral de gestão de resíduos. No
seu todo, constituíram o suporte instrumental para os
procedimentos de Avaliação de Impacto Ambiental.
A chave para o seu sucesso assentou no desenvolvimento
de parcerias entre as entidades diretamente envolvidas,
os agentes nacionais, regionais e locais com responsabi-
lidades ao nível do ordenamento do território e ao nível
da gestão dos recursos geológicos e os industriais do
setor das rochas ornamentais através da sua participação
financeira direta.
Espera-se que este modelo de atuação possa ser replicado
para outras regiões, nomeadamente aquelas onde se
verifica a necessidade de valorizar os recursos minerais
e aumentar a competitividade do setor extrativo de um

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

BIBLIOGRAFIA PAIS, João; CUNHA, Pedro P.; PEREIRA, Diamantino; LEGOINHA,


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Contribuição para um Estudo de Geografia Física.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Gestão Sustentável da Indústria Extrativa no Parque Natural


das Serras de Aire e Candeeiros
Manuel Duarte
Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros
E-mail: manuel.duarte@icnt.pt

Palavras Chave: Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, indústria extrativa, Plano de Ordenamento, exploração
de massas minerais, recuperação de áreas degradadas, património geológico.

RESUMO

A extração de inertes no Maciço Calcário Estremenho, em particular na área abrangida pelo Parque Natural das
Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC), é uma atividade secular ligada à vida das gentes que povoaram esta região,
que fundamentalmente a partir dos finais dos anos 80 do século passado ganhou nova dinâmica e se transformou
numa atividade económica de grande expressão e com relevo em termos nacionais e internacionais.
A gestão da atividade extrativa tornou-se assim num dos desafios mais importantes ao nível da gestão do PNSAC, dada
a necessidade de conciliar a exploração de um recurso natural não renovável (e com forte impactos sobre os valores
e a paisagem), com a salvaguarda e valorização do património natural, cultural e paisagístico desta área protegida.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

A EXPLORAÇÃO DE MASSAS MINERAIS NO Com a revisão do POPNSAC em 20103, verificou-se


PARQUE NATURAL DAS SERRAS DE AIRE E que neste setor de atividade, o plano foi também mais
CANDEEIROS além do previsto na legislação vigente para a pesquisa e
exploração de massas minerais (pedreiras)4.
Assim, o POPNSAC atualmente em vigor, estabelece os
A extração de inertes no Maciço Calcário Estremenho regimes de salvaguarda de recursos e valores naturais
(MCE), em particular na área abrangida pelo Parque e fixa o regime de gestão a observar na sua área de
Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC), é intervenção, com vista a garantir a conservação da
uma atividade secular ligada à vida das gentes que natureza e da biodiversidade, a geodiversidade, a
povoaram esta região, que fundamentalmente a partir manutenção e a valorização da paisagem, a melhoria da
dos finais dos anos 80 do século passado ganhou nova qualidade de vida e o desenvolvimento económico das
dinâmica e se transformou numa atividade económica populações locais.
de grande expressão e com relevo em termos nacionais De igual modo, é objetivo do POPNSAC a requalificação
e internacionais. das áreas degradadas ou abandonadas, nomeadamente,
Assim, de atividade predominantemente artesanal com através da renaturalização e recuperação de habitats
ritmos de exploração relativamente baixos, esta atividade naturais.
passou para um grau de mecanização e automatização Assim, o Regulamento do POPNSAC veio criar novas
que incutiram um ritmo de exploração muito mais regras quanto à instalação e ampliação de exploração
acelerado, que obrigou à adoção de estratégias que de massas minerais nas áreas passíveis de licenciamento,
garantam a sua compatibilização com a salvaguarda do destacando-se as seguintes:
património natural e cultural dos territórios onde ocorre. • Novas Explorações de Massas Minerais -
A gestão da atividade extrativa tornou-se assim num dos recuperação de área de igual dimensão, de outra
desafios mais importantes ao nível da gestão do PNSAC, exploração licenciada ou de outra área degradada,
independentemente da sua localização no PNSAC, e
dada a necessidade de conciliar a exploração de um
autorizada pelo Instituto da Conservação da Natureza
recurso natural não renovável (e com forte impacto sobre
e Florestas, I.P. (ICNF);
os valores e a paisagem), com a salvaguarda e valorização
do património natural, cultural e paisagístico desta área • Ampliação Explorações de Massas Minerais -
recuperação de uma área de outra exploração licenciada
protegida.
ou de outra área degradada, independentemente da
Deste modo, a legislação aplicável ao PNSAC para o setor sua localização no PNSAC, e autorizada pelo ICNF,
da indústria extrativa foi sempre inovadora relativamente nos seguintes termos:
à legislação que foi sendo elaborada para a pesquisa e
- Nas explorações de massas minerais com área
exploração de massas minerais.
superior a 1 ha, até 10% da área licenciada, sendo
Assim, o primeiro Plano de Ordenamento1 (PO) do que à área de ampliação acresce a área entretanto
PNSAC sujeitou o licenciamento das pedreiras a parecer recuperada;
prévio desta área protegida, através da apresentação e - Nas explorações de massas minerais com área in-
aprovação do respetivo plano de recuperação paisagística ferior ou igual a 1 ha, até 15% da área licenciada,
e do estabelecimento de uma garantia bancária que sendo que à área de ampliação acresce a área en-
permitisse a recuperação da área afetada, o que para o tretanto recuperada;
resto do país só aconteceu a partir de 19902. - As ampliações podem contemplar uma área
O Regulamento do POPNSAC previa ainda a apresentação superior ao estipulado, desde que os planos de
de um “estudo de impacte ambiental, segundo normas pedreira considerem o faseamento da lavra e
a estabelecer pela direção do Parque” em situações recuperação, de modo a cumprir com o previsto
particulares. nas alíneas anteriores.

3 RCM n.º 57/2010, de 12 de agosto.


1 Portaria n.º 21/88, de 12 de janeiro. 4 Decreto-Lei n.º 270/2001, de 6 de outubro, alterado e republicado
2 Decreto-Lei n.º 89/90, de 16 de março. pelo Decreto-Lei n.º 340/2007, de 12 de outubro.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

O POPNSAC prevê ainda que nas “áreas com caracte- A forma escolhida para a elaboração dos planos munici-
rísticas especiais que requerem a adoção de medidas ou pais de ordenamento do território foi na modalidade de
ações específicas que, pela sua particularidade, não são Plano de Intervenção em Espaço Rural, sendo a respon-
totalmente asseguradas pelos níveis de proteção ante- sabilidade da sua elaboração das respetivas Câmaras
riores, é aplicado um regime de intervenção específica”, Municipais, processo que no entanto ainda não foi
tendo sido criadas “Áreas de Intervenção Especificas” concluído.
(AIE) para “Áreas sujeitas a exploração extrativa”5, Na candidatura também se procedeu à execução de
nomeadamente para as seguintes zonas: Projetos Integrados7 para cada um dos núcleos de
a) Codaçal; pedreiras, sendo a entidade responsável pelos referidos
b) Portela das Salgueiras; projetos a Direção Geral de Energia e Geologia.
c) Cabeça Veada; Relativamente aos Projetos Integrados, foram sujeitos
d) Pé da Pedreira; a procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental
e) Moleanos; os Núcleos de Pedreiras do Codaçal, da Portela das
f) Alqueidão da Serra. Salgueiras, da Cabeça Veada e do Pé da Pedreira, para
Nesse âmbito, o plano indica que “devem ser elaborados os quais já foram emitidas as respetivas Declarações de
planos municipais de ordenamento do território visando Impacte Ambiental.
o estabelecimento de medidas de compatibilização
entre a gestão racional da extração de massas minerais,
CARACTERIZAÇÃO DAS EXPLORAÇÕES DE
a recuperação das áreas degradadas e a conservação
do património natural existente tendo em conta os MASSAS MINERAIS QUE OCORREM NO PNSAC
valores e sensibilidade paisagística e ambiental da área
envolvente”. No essencial, poderemos distinguir quatro grandes
Com a entrada em vigor deste plano de ordenamento, tipos de pedreiras que ocorrem no PNSAC, que depois
e de forma a dar cumprimento a esta medida, a se subdividem conforme o tipo de material extraído:
ASSIMAGRA – Associação Portuguesa dos Industriais
• Pedreiras de Rocha Industrial:
de Mármores, Granitos e Ramos Afins, em parceria
- Agregados para a construção civil (britas);
com o ICNF, apresentou uma candidatura ao Programa
- Dolomitos;
Operacional Fatores de Competitividade (COMPETE) no
- Cal;
âmbito do “Projeto-âncora - Sustentabilidade ambiental
• Pedreiras de Rocha Ornamental (blocos);
da Indústria Extrativa”, onde se enquadrou o projeto
• Pedreiras de Calçada (branca e preta);
“Exploração Sustentável de Recursos no Maciço Calcário
• Pedreiras de Laje.
Estremenho”6, que procedeu à elaboração dos planos
municipais de ordenamento do território para as AIE Ao nível dos processos ativos existentes no PNSAC, e
“Codaçal”, “Portela das Salgueiras”, “Cabeça Veada”, “Pé considerando apenas a base de dados do ICNF/PNSAC,
da Pedreira” e “Moleanos”. verifica-se o seguinte:

N.º de Processos
Tipologia de Pedreira
Pedreiras Licenciadas Processos Ativos Explorações com caução
Rocha Ornamental 90 104 88
Rocha Industrial 18 22 18
Aterro 1 1 -
Calçada 184 220 183
Laje 24 45 44
TOTAL 317 392 333
Número de processos ativos por Tipologia de Pedreira no PNSAC (janeiro 2019).

5 artigo 20º e 24º da RCM n.º 57/2010, de 12 de agosto. 7 Nos termos do artigo 35º do Decreto-Lei n.º 270/2001, de 6 de
6 COMPETE - SIAC - AAC nº 01/SIAC/2011 - Projeto nº 18640 – outubro, alterado e republicado pelo Decreto-Lei n.º 340/2007, de
ASSIMAGRA. 12 de outubro.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Relativamente à evolução das explorações de massas • Publicação de um Guia de Recuperação de Áreas


minerais, verifica-se que nos últimos anos não têm Degradadas, o qual ocorreu em 2005.
ocorrido novos processos de Pedreiras de Calçada e Em termos de tipologia pedreira/área degradada e área
Laje, sendo que se tem procedido à recuperação de um recuperada foram efetuados as seguintes ações:
grande número desta tipologia de explorações para
efeitos de cumprimento do POPNSAC, no que se refere à
Tipologia de Pedreira Área (hectares)
instalação e ampliação de Pedreiras de Rocha Industrial
Rocha Ornamental 11,0
e Ornamental.
Rocha Industrial 2,0
Já no que diz respeito aos processos ativos não licencia-
Calçada 122,0
dos, no que concerne às Pedreiras de Calçada e Laje,
Laje 38,5
e conforme já anteriormente mencionado, estas áreas
Zona de deposição de entulhos e inertes 3,0
também têm sido objeto de recuperação para cumpri-
TOTAL 176,5
mento do POPNSAC, sendo que para as Pedreiras de
Recuperações efetuadas pelo PNSAC entre 1995 e 2005.
Rocha Ornamental têm-se verificado que para a grande
maioria foi solicitada a sua regularização8, razão pela
Conforme já mencionado anteriormente, com a revisão
qual ainda se verifica um número significativo de ex-
do POPNSAC em 2010, o seu Regulamento veio criar
plorações sem caução.
novas regras quanto à instalação e ampliação de
exploração de massas minerais.
AÇÕES DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRA- Assim, desde que entrou em vigor o POPNSAC os ex-
DADAS EFETUADAS NO PNSAC ploradores já recuperaram as seguintes áreas, no âmbito
de processos para a instalação de novas explorações de
O ICNF/PNSAC, entre 1995 e 2005, realizou ações de massas minerais e ampliação das existentes:
recuperação de áreas degradadas através de Fundos
Comunitários, que teve como objetivos principais: Tipologia Número Pedreiras Área
de Pedreira de Áreas Licenciadas Recuperada (m2)
• A recuperação de áreas degradadas, essencialmente
Rocha
pedreiras abandonadas para as quais não havia um 8 3 124.606
Ornamental
responsável a quem imputar a recuperação da zona;
Rocha Industrial 7 1 65.180
• O aproveitamento de áreas degradadas para o Calçada 58 50 422.550
estabelecimento de outros usos, como por exemplo a Laje 27 10 149.218
construção de pontos de água para utilização da fauna Outras Áreas
3 - 46.917
e combate a incêndios; Degradadas

• A realização de sementeiras e/ou plantações com TOTAL 103 64 808.471


Recuperações efetuadas pelos exploradores (janeiro 2019).
espécies autóctones, de modo a repor a vegetação
natural;
• Contribuir, através da demonstração de técnicas de PATRIMÓNIO GEOLÓGICO DO PNSAC
recuperação paisagística em zonas de grande concen-
tração da atividade de extração, com o consequente No decurso da última década, registou-se um notável
efeito pedagógico sobre os exploradores das pedreiras; desenvolvimento da geoconservação em Portugal, quer
• Ter um valor de referência real para o cálculo do por via da criação de um inventário sistemático do
custo de recuperação/m2, com especial incidência património geológico português, quer pela produção
para as Pedreiras de Calçada e Laje, para efeitos de de legislação sobre a sua conservação com a introdução
estabelecimento da caução; das noções de geosítio e de património geológico, bem
como a atribuição legal da sua gestão ao ICNF dentro
das Áreas Classificadas.
Tendo o PNSAC como objeto uma área significativa
8 Nos termos do previsto no Decreto-Lei n.º 165/2014, de 5 de
do MCE, singular pela sua paisagem cársica e pelo
novembro.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

património geológico importante à escala nacional e Algar do Pena foi selecionado em 1993 pelo PNSAC para
internacional, faz desta Área Protegida um importante instalar o Primeiro Centro de Interpretação Subterrâneo
polo de visitação e de investigação, nomeadamente em Portugal - CISGAP, o qual foi inaugurado em 5 de
devido à diversidade de formas do exo e endocarso, à junho de 1997.
riqueza estratigráfica e paleontológica, às abundantes O CISGAP é uma infraestrutura gerida pelo ICNF,
evidências de processos tectónicos e à sua estreita sendo que a sua missão está marcadamente dirigida
ligação com as formas de relevo e particularidades para a valorização do património espeleológico cársico,
da sua hidrografia, ao que se associam muitos outros a qual está assente em quatro vertentes funcionais:
elementos de caráter cultural que convergem para o apoio à investigação científica e tecnológica; divulgação
elevado valor que se atribui ao património geológico científica e educação ambiental; apoio às estratégias de
existente no PNSAC. turismo e desporto de natureza adotadas pelo ICNF;
Decorrente desta situação, tornou-se evidente a neces- e finalmente como estrutura de apoio à formação de
sidade de se dispor de instrumentos que permitissem espeleólogos.
a gestão e valorização dos elementos mais notáveis da
sua geologia, encontrando-se tal vertido no POPNSAC,
Monumento Natural da Serra de Aire - Pegadas
nomeadamente a “Jazida de Icnitos de Dinossáurios de
de Dinossáurios
Vale de Meios e Outros geosítios e sítios de interesse
cultural9”, no qual estão identificados alguns dos sítios
de especial interesse geológico, paleontológico, geomor- Trata-se de uma estrutura museológica de valorização do
fológico, espeleológico e cultural, cuja conservação dos Património Natural Paleontológico, sob a responsabili-
valores neles existentes se afigura necessário assegurar. dade científica e técnica do ICNF. Após a descoberta de
De forma a melhorar o conhecimento sobre os Geosítios um conjunto de pegadas de Saurópodes, em 1994, pela
que ocorrem no PNSAC, através da candidatura ao COM- exploração de uma Pedreira de Rocha Industrial, foram
PETE no âmbito do “Projeto-âncora - Sustentabilidade efetuados diversos estudos científicos que culminaram
ambiental da Indústria Extrativa”, foi publicado em 2015 na criação de uma estrutura de visitação, inaugurada em
o “Roteiro de Geosítios do PNSAC” e a respetiva “Carta 1997. O Monumento Natural das Pegadas dos Dinossáu-
Geológica Simplificada”, que tem como objetivo princi- rios da Serra de Aire10, também conhecido por Pedreira
pal permitir a divulgação e uso alargado por parte dos do Galinha, situa-se na vertente oriental da Serra de
cidadãos destas áreas. Aire, nos limites dos concelhos de Ourém (freguesia de
Nª Sra. das Misericórdias) e Torres Novas (freguesia de
Decorrente dessa publicação, importa mencionar que
Chancelaria).
alguns dos geosítios identificados para o PNSAC foram
resultantes, em certa medida, da exploração de massas Na jazida de icnofósseis, que ocupa uma superfície de
minerais, destacando-se os seguintes geosítios: cerca de 60.000 m2, podemos observar várias centenas de
pegadas organizadas em cerca de duas dezenas de pistas,
entre as quais a mais longa pista (147 m de comprimento)
Algar do Pena de dinossáurio saurópode até hoje conhecida no mundo.

A Gruta do Algar do Pena, posta a descoberto em Jazida de Pegadas de Dinossáurios de Vale de


1985 pelo Sr. Joaquim Pena, explorador à data de uma Meios
Pedreira de Calçada, é uma cavidade muito interessante
do ponto de vista paisagístico, integrando a maior sala
A Jazida de Vale de Meios, localizada a 1 km da povoação
subterrânea conhecida em Portugal, localizada na
do Pé da Pedreira, na freguesia de Alcanede, concelho de
freguesia de Alcanede, concelho de Santarém.
Santarém, e foi descoberta durante os trabalhos de ex-
De elevado valor cénico, científico e estratégico, dadas as ploração de 3 Pedreiras de Calçada interligadas entre si.
suas características biofísicas e localização geográfica, o
10 Classificado através do Decreto-Regulamentar n.º 12/96, de 22 de
9 Anexo I da RCM nº 57/2010, de 12 de agosto. outubro.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Apresenta uma elevada quantidade de pegadas e trilhos Os fósseis presentes são do tipo Nerinea (s.l.) da classe
em bom estado de conservação, razão pela qual é a maior gastrópodes, que indica uma deposição em ambiente
e mais significativa jazida com pegadas de terópodes do marinho de muito baixa profundidade, águas quentes
Jurássico Médio da Península Ibérica e uma das mais e salinidade normal.
importantes a nível mundial.
Pedreira de Calcite
Jazida de Pegadas de Dinossáurios de Algar dos
Potes
Nesta antiga Pedreira de Calcite situada na Serra dos
Candeeiros, ocorrem excelentes exemplares deste
A Jazida de Algares dos Potes, inserida numa antiga mineral onde se podem observar as suas diferentes
Pedreira de Calçada, apresenta moldes e contramoldes caraterísticas morfológicas, com a forma (ou hábito)
de pegadas tridáctilas de dinossáurios terópodes. romboédrico, com o ângulo de clivagem típico e a
translucidez ou a cor branca a transparente.
Jazida de Fósseis de Equinodermes do Cabeço A calcite que foi explorada nesta pedreira era utilizada
da Ladeira como aditivo da indústria vidreira.

A Jazida do Cabeço da Ladeira, também conhecida Pedreira de Moitas Vendas


como Praia Jurássica, localiza-se numa antiga Pedreira
de Laje, situada na freguesia de S. Bento, concelho de Pedreira de Rocha Industrial, na qual foram explorados
Porto de Mós. agregados para a construção civil, localizada na freguesia
Esta jazida apresenta uma quantidade elevada de fósseis de Moitas Vendas, concelho de Alcanena, onde é possível
equinodermes pertencentes a três classes distintas: observar numerosas e diversas estruturas tectónicas,
Echinoidea (ouriços-do-mar); Asteroidea (estrelas-do-mar) nomeadamente rochas esmagadas em caixa de falha,
e Crinoidea (lírio-do-mar), sob a forma de moldes e/ou planos estilolíticos e dobras de arraste.
de restos fossilizados correspondentes aos diferentes
ossículos que compõem o endosqueleto destes animais.
Esta descoberta tem uma elevada importância científica Plano de Falha de Vale de Barco
devido ao seu grau e modo de preservação, à sua idade,
raridade e elevada concentração de exemplares num Pedreira de Rocha Industrial, localizada na freguesia
único local. de Alcobertas, concelho de Rio Maior, onde se explorou
Observam-se ainda várias estruturas sedimentares, onde calcite que preencheu uma espessa caixa de falha que
as ripple marks (marcas de ondulação fossilizadas no integra o acidente tectónico de Rio Maior-Porto de Mós.
substrato rochoso) são um dos elementos mais marcantes. Observam-se extensos planos de falha, que estão
Devido à sua importância, a Assembleia da República11 marcados por estrias, que por vezes são de grandes
recomendou ao Governo a implementação de medidas de dimensões, e que testemunham uma movimentação
proteção e valorização da “Praia Jurássica de São Bento”. polifásica, sobretudo em desligamento esquerdo com
forte componente normal.
Pedra Bicho
Por fim, importa salientar que durante o ano de 201912
Antiga Pedreira de Rocha Ornamental, localizada na está previsto a realização de “projetos de prevenção
União das freguesias de Alcaria e Alvados, no concelho estrutural contra incêndios, de restauro, conservação e
de Porto de Mós, sendo que o termo que designa esta valorização de habitats naturais e de educação ambiental
variedade ornamental provém do rico conteúdo da rocha nos Parques Naturais da Serra de São Mamede, das
em fósseis, que lhe confere um aspeto bastante peculiar. Serras de Aire e Candeeiros, da Arrábida, do Sudoeste

11 Resolução da Assembleia da República n.º 20/2014, de 11 de março. 12 RCM n.º 14/2019, de 21 de janeiro.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Alentejano e Costa Vicentina e da Ria Formosa, na


Reserva Natural das Lagoas de Sancha e Santo André e
nas Paisagens Protegidas da Serra do Açor e da Arriba
Fóssil da Costa da Caparica”.
Em relação ao PNSAC, está contemplado a implementação
do “Projeto de valorização do património geológico do
Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros”, que
visa, entre outros aspetos, a revitalização dos Geosítios
“Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da
Serra de Aire, Jazida com Pegadas de Dinossáurios de
Vale de Meios e Jazida de Equinodermes do Cabeço
da Ladeira”, através de medidas de geoconservação
que possibilitem a visitação, sem danificar o singular
património natural presente no território.
O projeto é para ser executado em três anos, tendo sido
estabelecido um investimento total de 830.0004, dos
quais 350.0004 se destinam à “Conservação e valorização
dos Geosítios”.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Anticlinal de Estremoz: Geologia, Ordenamento do Território e


Produção de Rochas Ornamentais após 2000 Anos de Exploração
Luís Lopes
Departamento de Geociências da Escola de Ciência e Tecnologia
da Universidade de Évora; Instituto de Ciências da Terra, Pólo de
Évora; Conselho de Administração da Associação Cluster Portugal
Mineral Resources; Presidente da Associação Portuguesa de Geólogos
Email: lopes@uevora.pt

Palavras Chave: Anticlinal de Estremoz, geologia, mármore, ordenamento do território, rochas ornamentais.

RESUMO

No panorama mineiro de Portugal o Anticlinal de Estremoz constituí um caso único por diversos factores:
1) trata-se de uma estrutura geológica reconhecida por todos e não apenas pelos especialistas; 2) tem um passado de
produção de mármores de excepcional qualidade que remonta ao Período Romano; 3) os mármores aqui extraídos
têm reconhecimento internacional constituindo-se como uma verdadeira Marca Nacional; 4) é seguramente uma
das regiões do País com o registo geológico melhor conhecido, quer à superfície quer em profundidade. Para tal
contribuíram vários estudos académicos e as várias campanhas de sondagens profundas realizadas pelas entidades
governamentais e as sondagens de prospeção geológica efetuadas pelas empresas. Também a cartografia geológica de
base foi realizada à escala 1:5.000 ou maior e encontra-se disponível às escalas 1:25.000 e 1:10.000; 5) há um passado
de projetos de investigação, teses de fim de curso, mestrado e doutoramento, para além dos planos de pedreira e
vários estudos realizados pelas empresas, etc. que constituí uma enorme base de dados.
Deste modo, os estudos realizados em diversas áreas (geologia; biologia; ecologia; avaliação de impacte ambiental;
caracterização dos geomateriais (rochas e solos); avaliação geomecânica do maciço marmóreo; Planos Diretores
Municipais; planos de pedreira; etc.) constituem a todos os níveis um acervo de conhecimento enorme que,
complementado com a avaliação de riscos (materiais e humanos), permite a curto prazo a implementação de um
efetivo projeto de reordenamento do território.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

ABSTRACT

In the mining panorama of Portugal, the Estremoz Anticlinal is a unique case for several reasons: 1) it is a geological
structure recognized by all and not only by specialists; 2) has an exceptional quality marble production dating back to
the Roman Period; 3) the marbles extracted have international recognition constituting themselves as a true National
Brand; 4) undoubtedly, is one of the better geological known regions of the Country, surface and underground. To
this end contribute several academic studies and various deep-sounding surveys carried out by government entities
and geological exploration surveys carried out by the companies. Also, base geological mapping was performed at
1: 5.000 scale or greater and is available at 1: 25.000 and 1: 10.000 scales; 5) there is a past of research projects, final
course projects, masters and doctorates theses, in addition to quarry planning activities and other studies done by
the companies, which together makes a huge database.
In this way, the studies carried out in several areas (geology, biology, ecology, environmental impact assessment,
geomaterials characterization (rocks and soils), geomechanical marble mass evaluation, County Director Plans, etc.),
stands for a vast knowledge which, complemented by material and human evaluation risks, allows in short term the
implementation of an effective and complete territorial re-planning project.

Keywords: Estremoz anticline, geology, marble, spatial planning, ornamental rocks.

1. INTRODUÇÃO importante secundado pelo turismo. Em Borba e em


Estremoz a importância económica relativa do setor
decresceu imenso nos últimos anos. Oficialmente apenas
O Setor das Rochas Ornamentais, incluído no Cluster dos
Recursos Minerais, com reconhecimento governamental subsistem oito pedreiras em atividade em Estremoz e
em Portugal em fevereiro de 2017, constitui uma seis em Borba. Os sectores agropecuário, em Estremoz,
atividade económica relevante e de grande impacto nas e do vinho, em Borba, suplantaram o setor do mármore.
regiões onde se desenvolve. O “Triângulo do Mármore” Nestas circunstâncias e credivelmente, não admira que
(Estremoz – Borba – Vila Viçosa), também designado por Vila Viçosa se intitule como a “Capital do Mármore”
“Zona dos Mármores” é um paradigma desta situação. onde o “ouro branco” ainda é o principal dinamizador
No Concelho de Vila Viçosa, é o setor económico mais económico (Tab.1).

TABELA 1
Pedreiras no Anticlinal de Estremoz
Anticlinal de Estremoz - Situação de Licenciamento (maio 2019)
(Pedreiras de Classe 1 e 2)
Em exploração / Abandonada em Suspensa com Suspensa sem
Concelho Total
recuperação tramitação autorização autorização
Borba 6 (12%) 3 (50%) 14 (37%) 29 (30) 53 (27,31%)
Estremoz 8 (16%) - 1 (3%) 12 (12%) 21 (10,92%)
Sousel - - - 1 (1/%) 1 (0,52%)
Vila Viçosa 35 (71%) 3 (50%) 23 (61%) 56 (57%) 119 (61,25%)
Total 49 6 38 98 194
Fonte: Direção Geral de Energia e Geologia, maio de 2019.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

A tragédia ocorrida a 19 de novembro de 2018 na EM 255 O reconhecimento popular, pelo menos em Portugal,
em Borba, com o colapso parcial da estrada que causou como forma de distinção e homenagem a prestar a pessoas
a morte de cinco pessoas (dois trabalhadores de uma e entidades, é validado pela utilização generalizada do
pedreira e três pessoas que se deslocavam em trânsito “mármore de Estremoz” em placas comemorativas.
no momento da queda), veio expor à opinião pública Pode mesmo afirmar-se com alguma segurança que não
as carências e fragilidades há muito identificadas por haverá uma localidade que não tenha alguma peça com
industriais, académicos e órgãos de decisão. Efetivamente, esta matéria-prima. Do mesmo modo, também assim
ao longo dos anos, a lavra em profundidade confinada acontece um pouco por todo o Mundo, para onde foi e
a explorações com área superficial reduzida originou continua a ser exportado (Lopes & Martins, 2015; 2018).
uma paisagem repleta de “poços” de exploração, por
vezes atingindo profundidades superiores a 100 m, onde 2. MÁRMORE: DEFINIÇÃO E SÍNTESE HISTÓ-
as áreas de defesa entre si e entre as pedreiras e as vias RICA
públicas, já não existiam quando foi publicada a primeira
legislação específica para o Setor (Decreto-Lei 88/90 de
16 de março). Os Mármores de Estremoz são uma matéria-prima de
inegável beleza estética e qualidade, graças aos variados
O momento é de alarme e de alguma preocupação que,
padrões cromáticos, texturas e características físico-
ocasionalmente peca por exagerada, mas também pode
-químicas (Casal Moura et al., 2007; Lopes & Martins,
ser de oportunidade se o bom senso imperar e se todos
2015 e referências inclusas).
os atores desempenharem o seu papel. Começando
pelos proprietários, pelos decisores políticos e entidades Só deste modo se pode justificar que tenham sido sempre
explorados desde a Antiguidade Clássica até aos nossos
licenciadoras e fiscalizadoras, todos devem tomar uma
dias, resistindo sempre a modas e tendências passageiras.
atitude proactiva em prol de um setor que, apesar de
São explorados num dos principais polos extrativos de
várias crises, se mantêm em atividade praticamente
rochas ornamentais do Alentejo e de Portugal (Lopes &
contínua pelo menos há dois mil anos.
Gonçalves, 1997; Carvalho et al., 2013), o denominado
Esta atitude justifica-se tanto mais que em termos de
Triângulo do Mármore (Estremoz – Borba – Vila Viçosa).
caracterização geológica e conhecimento científico
Histórica e internacionalmente, os mármores da estrutu-
territorial, com enfâse nos estudos geológicos e avaliação
ra anticlinal de Estremoz são conhecidos por “Mármore
dos recursos minerais existentes, a Zona dos Mármores
de Estremoz”, como já se referiu, atualmente é no
é, seguramente, uma das áreas mais bem estudadas do
Concelho de Vila Viçosa que se situam as maiores
País. Apesar disso, constata-se que, por um lado, não há
pedreiras e onde se extraí mais de 80% do mármore
cruzamento efetivo de dados entre os estudos prévios e,
português; apesar disso o nome já consolidado e
por outro, que propostas de ordenamento do território
mundialmente reconhecido como marca “Mármore de
não foram efetivamente implementadas no terreno, além
Estremoz” (Estremoz Marble) deve continuar a ser
de que necessitam estudos complementares cruciais
utilizado, tendo sido reconhecido como Global Heritage
para assegurar, tanto a otimização da exploração como
Stone Resource. Efetivamente desde o Período Romano
a segurança de bens e pessoas.
que Estremoz era a mais importante povoação e até há
Se alguma dúvida houvesse sobre a qualidade e pouco tempo a única cidade num raio de 50 km, pelo
importância, histórica e contemporânea, do “mármore que a referência aos mármores da região pelo nome
de Estremoz”, o reconhecimento do mesmo como “Global da maior urbe parece lógica e compreensível. Contudo
Heritage Stone Resource”, atribuído em janeiro de não deixa de ser curioso que a referência escrita mais
2018 pelo Comité Executivo da “International Union antiga do reconhecimento da utilização dos mármores
of Geological Sciences/UNESCO” , dissiparia todas as na região alentejana, date do ano 370 a.C., corresponde
dúvidas uma vez que este reconhecimento obedece ao a um importante achado arqueológico que está
cumprimento de pelo menos vinte critérios e exige ainda representado por uma lápide mandada executar pelo
que haja bibliografia de referência em revistas e/ou livros capitão cartaginês Maarbal na sua viagem de Faro para
com revisão científica (Lopes &Martins, 2015; 2018). Elvas e foi descoberta pelo investigador Padre Espanca

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

(tio da poetisa Florbela Espanca) em Terena (Alandroal) Estremoz, existem ainda outros mármores portugueses
(Brito da Luz, 2005). intensivamente explorados no passado, por ordem
Para os geólogos o termo “mármore” está bem claro crescente de importância: Brinches, Escoural, Serpa,
como sendo o resultado do metamorfismo, ou seja, Viana do Alentejo, Trigaches e Vila Verde de Ficalho
corresponde às transformações muito lentas, de rochas (Gonçalves & Lopes, 1992). Nestes locais exploravam-se
carbonatadas, no estado sólido, por efeito da temperatura, rochas únicas pelas cores e texturas, no entanto apenas
da pressão e, muito provavelmente, na presença fluídos em Viana do Alentejo e Vila Verde de Ficalho há pedreiras
em circulação na crosta terrestre. No dia-a-dia não é ativas. Apesar de distintos e facilmente distinguíveis, em
bem assim; em função do enquadramento em que é termos geológicos, todos estes mármores ocupam uma
utilizado, o termo “mármore” tem vários significados posição estratigráfica similar (Lopes, 2007; Lopes &
pelo que uma explicação prévia é exigida. Assim, a Martins, 2015).
etimologia da palavra “mármore” provém do grego Existem inúmeras evidências para a utilização dos
marmairein ou do latim marmor e significa “pedra mármores de Estremoz durante a Época Romana.
de qualidade” ou “pedra branca”. Para os geólogos As modernas técnicas microanalíticas associadas
o mármore é uma rocha metamórfica cristalina e a um conhecimento profundo das características
carbonatada, composta por cristais de calcite (mármore macroscópicas, tem permitido confirmar que foram
calcítico) ou dolomite (mármore dolomítico), resultante utilizados, não só na Península Ibérica, mas um pouco
de transformações, extremamente lentas, no estado por todo o Império num vasto e diversificado conjunto
sólido sob efeito de pressões orientadas, incremento de elementos decorativos e arquitetónicos (e.g. Maciel,
de temperatura que provocam um rearranjo textural 1998; Lopes et al., 2000; Cabral et al., 2001; 2004; Fusco
que passa pela recristalização de rochas calcárias & Mañas, 2006; Morbidelli et al., 2007; Tucci et al.,
previamente existentes, essencialmente de natureza 2010; Lapuente et al., 2014; Origlia et al., 2011; Taelman
sedimentar. Um conceito comercial mais comum, reporta et al., 2013; Carneiro, 2019). Após o Período Romano a
ao significado que lhe era atribuído pelos romanos utilização do mármore entra em grande declínio não
e define o mármore como toda a rocha cristalina sendo certo que se tenham mantido pedreiras ativas
sedimentar ou metamórfica, carbonatada ou não, que na região. Contudo há alguns exemplos de reutilização
apresentando um aspeto semelhante ao do mármore em lápides e outros elementos romanos entre os séculos
Stricto sensu, que possa ser extraída em blocos, que V e X (Mourinha & Moreira, 2019 e referências inclusas).
evidencie boas características para o corte e que seja Com a conquista de Faro ao califado Almóada, em
suscetível de adquirir bom polimento. Associados à 1249, o Algarve é incorporado no reino de Portugal
indústria e na nomenclatura internacional utilizam-se e os conflitos daí decorrentes com o reino de Castela
ainda os termos “rocha ornamental”, que apela para levaram à necessidade de construção de estruturas
a função marcadamente estética que os mármores fortificadas ao longo da fronteira; sendo matéria-prima
desempenham e, principalmente no mundo anglo- disponível na região, é natural que o mármore tenha
-saxônico é amplamente utilizado o termo dimension sido utilizado para esse fim. Entre vários exemplos, o
stone, que se reporta à obrigação de estas rochas mais emblemático é sem dúvida a Torre de Menagem
serem extraídas em blocos de dimensão que permita do castelo de Estremoz (Mourinha & Moreira, 2019).
o processamento industrial em fábrica, gerando lucro Desde então, as referências à utilização do mármore de
e riqueza para as respetivas empresas (Lopes, 2007; Estremoz em monumentos religiosos e obras públicas, em
Moreira & Lopes, 2019). Portugal e no estrangeiro, são inúmeras e a sua listagem
No caso do anticlinal de Estremoz, para fins ornamentais, exaustiva não está no âmbito deste trabalho, mas podem
apenas se exploram os mármores calcíticos. Embora os ser consultadas, i.e: Lopes & Martins (2015); Mourinha
mármores dolomíticos sejam mais abundantes, estes & Moreira (2019); Matos & Quintas (2019) e Filipe (2019)
encontram-se muito fraturados não sendo possível e referências inclusas.
obter blocos com dimensão comerciável (dimensões
médias próximas de: 2-3m x 2-1,5m x 2-1m). Apenas
um apontamento à parte para referir que, para
além das explorações de mármore no anticlinal de

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3. SÍNTESE GEOLÓGICA Em termos mais simples, a designação “Anticlinal de


Estremoz”, às vezes também referido como “anticlinório”
apelando diretamente à existência de várias ordens de
Nas últimas décadas o conhecimento geológico de dobramento, corresponde a uma estrutura enraizada,
Portugal cresceu exponencialmente e o Anticlinal de dobrada e com a concavidade voltada para baixo,
Estremoz não é exceção (Pereira et al., 2012; Taelman grosseiramente simétrica, onde as camadas mais antigas
et al. 2013; Lopes & Martins, 2015; Moreira, 2017; ocupam a parte central em dois núcleos separados, um
Menningen et al., 2018; Moreira & Lopes, 2019). De a norte de Estremoz e outro entre Vila Viçosa e Borba.
É intersetada, entre as cidades de Estremoz e Borba,
seguida apresenta-se uma síntese relativa ao estado
pela A6 e pela EN4, que fazem a ligação entre Marateca
atual do conhecimento geológico regional da Zona
e Caia. Tem aproximadamente 42 km de comprimento,
de Ossa-Morena, parte integrante do Cadeia Varisca entre Alandroal e Sousel e cerca de 8,5 km de largura
(ou Hercínica) Ibérica, com enfâse no “Anticlinal de máxima entre Estremoz e São Domingos de Ana Loura
Estremoz”. (Figs. 1 a 3).

FIGURA 1
Localização do Anticlinal de Estremoz no território nacional e idade relativa das diferentes unidades
que constituem o território continental português.

Mapa geológico adaptado de LNEG, 2000 – Mapa Geológico de Portugal na Escala 1:1.000.000 (Lopes & Martins, 2015).

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As figuras 2 e 3 ilustram de modo muito claro a de azul. Os mármores mais escuros (azuis e cinzentos)
disposição desta estrutura e a forma como se desenvolve, estão representados em azul-escuro e todas as restantes
por mais de 40 km, de Alandroal a Sousel. Aqui, os variedades em azul-claro. Ressalta desde logo que a maior
mármores explorados como rocha ornamental fazem parte dos mármores afloram sobretudo no concelho
parte do “Complexo Vulcano-Sedimentar Carbonatado de Vila Viçosa onde, efetivamente, na atualidade, se
de Estremoz” (CVSCE), que se representam em tons produzem mais de 80% dos mármores de Portugal.

FIGURA 2
Perspetiva tridimensional da região compreendida entre Sousel e Alandroal

Vista de SW para NE, obtida pela sobreposição do mapa geológico do anticlinal de Estremoz (Moreira & Vintém, coords., 1997) com a imagem digital
do terreno obtida no Google Earth (http://earth.google.com/download-earth.html, referente a 2007), sobrelevada 3x. Note-se o controlo topográfico
condicionado pelas litologias. A zona central correspondente ao Pré-câmbrico bem como os afloramentos correspondentes ao CVSCE ocupam as
zonas mais baixas enquanto a Formação Dolomítica corresponde a um planalto central no anticlinal de Estremoz. Nas regiões adjacentes os relevos
de resistência correspondem a níveis de rochas siliciosas de precipitação química e negras (liditos) de idade silúrica, muitas vezes fossilíferos. Os
níveis do CVSCE explorados para fins ornamentais encontram-se representados a azul claro (variedades de mármores cor-de-rosa, branco e cremes
mais ou menos venados) e a azul-escuro (variedades “Ruivina”).
Adaptada de Lopes & Martins (2018).

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FIGURA 3
Representação da estrutura Anticlinal de Estremoz com destaque para a metade meridional onde se situam os Concelhos de Estremoz,
Borba e Vila Viçosa, mais ricos em mármores explorados como rocha ornamental

In: Lopes & Martins (2015); adaptada de Moreira, J. & Vintém, C. (coords.) (1997) Carta Geológica do Anticlinal de Estremoz, Instituto Geológico
e Mineiro, Lisboa.

Em termos regionais, o Anticlinal de Estremoz localiza-se et al., 2016 e referências inclusas). De entre as diversas
no Maciço Ibérico, que se caracteriza pela presença de zonas, destaca-se a Zona de Ossa-Morena, onde o
rochas de idade ante mesozoica (Ribeiro et al., 1979; Anticlinal de Estremoz fica localizado no Setor de
2007). Este maciço é subdividido em diferentes zonas Estremoz – Barrancos (Oliveira et al., 1991; Lopes, 2003)
tectonostratigráficas, de acordo com as sucessões de (Fig. 4). Estas subdivisões ajudam a compreender o
unidades litológicas (sucessão estratigráfica) presentes, enquadramento regional e explicam de forma sintética
as suas características tectonometamórficas e magmáticas as heterogeneidades que ressaltam ao observador mais
(Ribeiro et al., 1979; Apalategui et al., 1990; 2007; Dias atento que faça uma transversal SW-NE pelo Alentejo.

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FIGURA 4
Domínios da Zona de Ossa Morena

Segundo Apalategui et al., 1990.


A – Cobertura sedimentar pós-paleozoica. B – Zona Centro-Ibérica. C – Batólito de Pedroches. D – Zona de Ossa Morena:
a – cinturas metamórficas. 1 – Domínio de Beja – Aracena; 2 – Domínio de Barrancos – Hinojales; 3 – Domínio de Elvas – Cumbres
Mayores; 4- – Domínios de Arroyo Molinos; 5 – Domínio de Zafra – Monesterio; 6 –Domínio da Serra Albarrana; 7 – Cintura
ígnea de Villaviciosa – La Coronada; 8 – Domínio da Valência de Ias Torres – Cerro Muriano (= Zona de Cisalhamento Tomar
– Badajoz – Córdova); 9 – Domínio de Obejo – Valsequillo – Puebla de Ia Reina. E – Unidade de Pulo do Lobo (inclui o Ófiolito
de Beja – Acebuches). I, II – Plutões graníticos; III – Antiforma de Peraleda; F. Zona Sul Portuguesa: a – Faixa Piritosa Ibérica.
G – Anticlinal de Estremoz.

3.1. Estratigrafia de Estremoz destes "Xistos de Mares" deve-se a Nery


Delgado (1905, in Gonçalves & Coelho, 1974). Na carta
Cartograficamente, a individualização do anticlinal de geológica de Portugal na escala 1:1.000.000 de 1952,
Estremoz como unidade geológica distinta já constava estas unidades já vêm separadas. Foi Carrington da
da edição de 1899 da Carta Geológica de Portugal à Costa (1931, in Gonçalves & Coelho, 1974) primeiro,
escala 1:500.000 (Delgado & Choffat, 1899), no entanto e Teixeira (1953 e 1966, in Gonçalves & Coelho, 1974)
não apresentava qualquer separação litológica interna. depois, que os separaram tendo-lhes atribuído “idade
A primeira referência bibliográfica do anticlinal de câmbrica”. Silva & Camarinhas (1957) individualizaram
Estremoz que faz uma descrição geológica desta estrutura as unidades carbonatadas, distinguindo-as das restantes.
e estabelece equivalências entre os xistos aflorantes no Particularmente interessante, por se tratar de um
núcleo anticlinal ("Xistos de Mares") com as formações trabalho orientado para aptidão geológica do anticlinal
similares de Portalegre, Tomar e Abrantes, mas que como produtor de rochas ornamentais, é a cartografia
não separou as formações carbonatadas e dolomíticas apresentada por Gonçalves (1972).

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Correspondendo à disposição litológica e à evolução No topo da Formação Dolomítica ocorre um horizonte


usual das plataformas carbonatadas, independentemente silico-ferruginoso. A associação de quartzo com pseudo-
da sua idade, verifica-se uma disposição assimétrica das morfoses de pirite em óxidos e hidróxidos de Fe (a
litologias, que constituem o anticlinal de Estremoz. Esta pirite original foi sempre encontrada nas sondagens
assimetria corresponde a variações laterais de fácies profundas que intersetaram este nível), pela facilidade
muito comuns em bacias de sedimentação em regime de se encontrar e pela persistência no terreno,
distensivo, como é o caso do ambiente geodinâmico constituí um excelente nível guia cartográfico (Fig. 5).
preconizado para o Paleozoico inferior da Zona de Ossa- Sobre ele assenta o Complexo Vulcano-Sedimentar
-Morena. Por exemplo, existe uma simetria estratigráfica Carbonatado de Estremoz (CVSCE, Fig. 3), caracterizado
que não tem relação com a simetria litológica; no flanco pela presença de mármores calcíticos com interesse
SW da estrutura predominam as rochas carbonatadas ornamental, apresenta intercalações de calcoxistos e
ao passo que no flanco NE são essencialmente as rochas de metavulcanitos ácidos e básicos (Gonçalves, 1972;
metavulcânicas que estão representadas (Fig. 1). Outra Oliveira et al., 1991; Lopes, 2003; Pereira et al., 2012 e
particularidade tem a ver com a distribuição espacial referências inclusas nestes artigos).
dos mármores de tonalidades escuras (comercialmente
designados por “Ruivina”), na Fig. 1 pode-se observar FIGURA 5
que estas litologias só afloram a Sul de um paralelo Dois aspetos de minerais euédricos que se encontram no
“horizonte silicioso”
E-W entre as localidades de Barro Branco (Monte das
Salgadas) e Vila Viçosa (Lugar de Peixinhos), retirando o
efeito da dobra em antiforma anticlinal, esta orientação
sugere que originalmente a bacia de sedimentação
estaria a abrir para Sul (coordenadas atuais) pois estes
níveis representam as rochas mais recentes da sequência
estratigráfica local.
Em síntese, a sucessão de unidades estratigráficas no
A – aspeto encontrado à superfície e que corresponde a pseudomorfose
Anticlinal de Estremoz inicia-se com a Formação de de pirite transformada em óxidos e hidróxidos de Fe, atente-se
Mares (de idade Neoproterozóica), composta por xistos na perfeição da substituição que preserva as faces estriadas tão
características dos cristais de pirite em maclas.
negros, metachertes negros e metagrauvaques que
B – amostra recolhida aos 380 metros de profundidade, definindo a
ocupam uma posição central nesta estrutura (Fig.3; mesma posição estratigráfica, numa das sondagens realizadas: py –
Gonçalves, 1970; Oliveira et al., 1991). Esta formação pirite; qtz – quartzo e, cc –calcite/dolomite. À superfície este horizonte
materializa um nível guia cartográfico.
tem equivalentes noutras estruturas regionais da
Zona de Ossa-Morena correspondendo sempre aos
núcleos mais antigos das mesmas e com a designação Neste CVSCE encontram-se evidências de uma exposição
genérica de “Série Negra” (Gonçalves & Carvalhosa, aérea dos carbonatos anterior ao metamorfismo regional
1994; Gonçalves & Oliveira, 1986). Segue-se, em (Fig. 6). De facto, a irregularidade da forma e a diferença
discordância, a Formação Dolomítica, composta por de espessura entre os níveis encontrados dentro e em
mármores dolomíticos, essencialmente granoblásticos e torno destas estruturas, apontam claramente para uma
com textura fina, por vezes xistificados, pontualmente erosão do calcário, originando morfologias cársicas
intercalados com metavulcanitos ácidos e básicos; na sua posteriormente preenchidas por sedimentos mais finos.
Estes são essencialmente carbonatados embora sejam
base surge um nível lenticular de metaconglomerados
composicional e quimicamente menos homogéneos que
e meta-arcoses intercalados com metavulcanitos ácidos
os materiais encaixantes.
(Fig. 3; Gonçalves, 1972). Este nível foi datado em 542 Ma
(Pereira et al., 2012), correspondendo pois à base do
Câmbrico. Esta unidade já era considerada como sendo
câmbrica inferior, por correlação com a Formação
Carbonatada de Elvas (Oliveira et al., 1991; Lopes, 2003;
Araújo et al., 2013).

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FIGURA 6
Afloramento na região de Vigária, Vila Viçosa,
em corte perpendicular à direção das estruturas representadas

No centro da imagem representa-se um paleocarso anterior ao metamorfismo regional que afetou o


Complexo Vulcano Sedimentar Carbonatado de Estremoz.

Resultado da anisotropia estrutural induzida pela estru- médio (Chichorro et al., 2008; Sánchez-García et al., 2008,
tura, é claramente visível uma partição da deformação ao 2010). Como se referiu, em face do controlo estratigráfico
longo do afloramento. Observam-se dobras com diferen- ambíguo e devido à falta de dados paleontológicos, não
tes amplitudes, zonas de cisalhamento e pequenas falhas se pode excluir a hipótese de que parte da sequência seja
e diaclases. A recristalização generalizada afeta toda a mais recente. De facto, a comparação litoestratigráfica
massa e atenua de tal modo estas diferenças que, por entre o anticlinal de Estremoz e a sucessão do Pré-
vezes, torna possível a obtenção de blocos comerciáveis -Câmbrico–Ordovícico em Danby, Vermont, Estados
(não é o caso). Como seria de esperar estas estruturas Unidos da América é, no mínimo curiosa. Em Vermont
são pouco usuais e ocupam uma posição estratigráfi- a estrutura corresponde a um amplo sinforma anticlinal
ca correspondente aos níveis mais baixos do CVSCE. orientado N – S, com eixo mergulhante 8° para sul.
A anisotropia instalada pelo paleocarso, induziu a génese Estratigraficamente sobre os mármores dolomíticos
de uma banda de cisalhamento. No geral, o conjunto câmbricos (Formação de Dunham) e junto à base do
transmite uma informação estrutural em transtensão Complexo Vulcano-sedimentar-carbonatado, datado
(falha normal em compressão; embora o movimento do Ordovícico médio (Van Diver, 1987), também ocorre
horizontal seja maioritariamente esquerdo, neste caso um horizonte silicioso com as mesmas características e
não é possível defini-lo com rigor. em posição similar ao que encontramos em Estremoz.
Em posição estratigráfica de confirmação difícil no Em Vermont, tanto o metamorfismo como a deformação
terreno por falta de afloramentos contínuos, entre o que afetou os mármores foram inferiores aos processos
topo do CVSCE e os terrenos silúricos/devónicos (Piçarra, análogos em Estremoz. Daqui resultou que a estratigrafia
2000), envolventes ao anticlinal, ocorrem riólitos inicial está perfeitamente preservada sendo possível
alcalinos com baixo grau metamórfico e datados em 499 reconstitui-la. Desta estratigrafia resultam sete tipos
Ma (Pereira et al. 2012). Este vulcanismo é relacionável distintos de mármore explorados como variedades de
com o vulcanismo principal associado ao rift do Câmbrico rocha ornamental (Ratte & Ogden, 1989). Obviamente,

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ocorrem variações laterais de fácies que, no entanto, envolventes à estrutura de Estremoz (Fig. 7). Trata-se
nunca alteram esta sequência. Tal como em Estremoz de um afloramento chave para os trabalhos em curso,
também em Danby os níveis de mármores mais recentes uma vez que este horizonte era conhecido (e.g. próximo
são escuros. Outra particularidade é que, devido ao do vértice geodésico Carambo, Alandroal) mas em
metamorfismo menos intenso, apesar de também afloramentos dispersos e com pouca exposição. O facto
ocorrerem níveis vulcânicos intercalados não se verificam destas brechas siliciosas não apresentarem qualquer
em associação com eles os mármores rosados que elemento carbonatado (Lopes, 2003), revela um período
sempre ocorrem no Complexo Vulcano-Sedimentar- erosivo importante que justificaria o hiato de idades
-Carbonatado de Estremoz (Lopes, 2003, 2007). entre as rochas do CVSCE e as rochas encaixantes.
A idade do CVSCE tem sido alvo de discussão ao longo das
últimas décadas (e.g. Piçarra & Le Menn, 1994; Piçarra,
2000; Lopes, 2003; Piçarra & Sarmiento, 2006; Pereira
et al., 2012; Araújo et al., 2013; Moreira et al., 2016; 2017),
tendo sido atribuídas idades variáveis, desde o Câmbrico
ao Silúrico superior/Devónico inferior. No entanto, os
dados mais recentes (Pereira et al., 2012; Taelman et
al., 2015; Moreira, 2017), baseados essencialmente em
estudos isotópicos (U-Pb, 13C/18O; e 87Rb/86Sr e 86Sr/87Sr),
apoiados por uma comparação litostratigráfica (Lopes,
2003; Lopes & Martins, 2015) indiciam claramente uma
separação dos níveis superiores da sequência separada
por um evento discordante com brechificação associada.
Assim, a maior parte dos mármores do anticlinal de
Estremoz são de idade câmbrica (não se excluindo a
hipótese de chegarem ao Ordovícico), ao passo que os
níveis superiores de mármores escuros (com o nome
comercial de “Ruivina”), por vezes com níveis carbonosos
(grafite?) associados e que afloram no flanco SW segundo
o alinhamento Barro Branco – Bencatel – Alandroal que
poderão ser mais recentes (idade Silúrico/Devónica?;
Piçarra, 2000; Lopes, 2003; Moreira, 2017). Sublinhe-se,
porém, que estes mármores são macroscopicamente
distintos dos mármores escuros (com os nomes comerciais
de “Ruivina da Lagoa” ou “Ruivina de Pardais”) quase
sempre em sequência e sobrepondo-se aos mármores
com a designação comercial “Olho-de-Tigre” (com
manchas azuladas de dimensão centimétrica num
fundo branco), claramente pertencentes ao CVSCE e
consequentemente mais antigos.
De facto, estes mármores escuros, têm mais afinidades
com os “calcários” com crinoides que af loram na
estrutura de Ferrarias (a SE da terminação periclinal
do anticlinal) (Oliveira 1984; Piçarra, 2000). Neste
caso correspondem a brechas onde os fragmentos
apresentam duas fases de deformação e a matriz apenas
uma (Lopes, 2003). Recentemente, em pedreira que
explora os níveis superiores do CVSCE encontrámos o
contacto entre os mármores e as litologias siliciclásticas

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FIGURA 7
Bloco de mármore com cerca de 15 t (2,30 m x 1,80 m x 1,40 m)

Extraído na pedreira António Galego & Filhos, Lda., Lagoa – Bencatel.

A zona mais clara do bloco corresponde a mármore em Fe (não chega a formar siderite!). Em superfície
com textura granoblástica média, deformada e com polida a rocha apresenta um efeito de “ouro sobre azul”
alinhamento preferencial dos cristais de calcite esteticamente resulta muito bem e pode ser observado
(corresponde a uma direção de anisotropia perfeitamente na Sé Catedral de Maputo, Moçambique, para onde foi
definida e localmente identificada por “corrume”). projetada pelo arquiteto Marcial Freitas e Costa em 1936,
A zona mais escura, à direita, corresponde a litologias tendo a Sé sido construída em 1944 (Lopes et al., 2017).
siliciclásticas de grão fino e brechificadas. Em fase
Toda sequência do CVSCE é rodeada por unidades
posterior ao dobramento, esta massa foi afetada por
xistentas do Devónico-Silúrico (Formações dos Xistos
eventos de deformação frágil que originaram as fendas
com Nódulos e Colorada; Gonçalves, 1972; Piçarra, 2000;
de tração preenchidas por quartzo branco. Ainda que
Lopes, 2003; Araújo et al., 2013). O contacto entre estas
estas fendas intersetem o contacto entre as diferentes
unidades de carácter xistento e a restantes unidades
litologias, na parte carbonatada a penetração destas
fendas não ultrapassa um ou dois centímetros indicando previamente descritas é também alvo de discussão
que, mesmo nestas condições de baixo grau metamórfico, (Araújo et al., 2013).
apresenta um comportamento essencialmente dúctil.
Como se depreende da exposição anterior, o CVSCE 3.2. Geodinâmica
apresenta diferentes variedades de mármores, sendo
que no topo se situam as variedades mais escuras; ao
O Anticlinal de Estremoz resulta da interferência de
descer na sequência ocorrem vários tipos de mármore
creme / branco e mais raramente cor-de-rosa na base duas fases de deformação Varisca (Lopes, 2003). Assim, a
da sucessão (Lopes, 2007). Pela particularidade exótica sequência estratigráfica do Anticlinal Estremoz foi defor-
que representa, destacamos a variedade “Marinela” que mada e metamorfizada sob condições metamórficas na
corresponde a uma brecha hidráulica desenvolvida nos fácies dos xistos verdes/anfibolítica baixa, durante a Oro-
níveis escuros superiores (azul-acinzentados). Os veios genia Varisca (Carbonífero) (Lopes, 2003). Identificam-se
encontram-se preenchidos por uma calcite muito rica claramente duas fases de deformação em regime dúctil.

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A primeira fase de deformação varisca (D1) origina do- (Fig. 8). A foliação milonítica e a lineação de estiramento
bras com planos axiais quase E-W (azimute 110º-170º), paralelas à direção máxima de alongamento (170–180º)
pouco inclinados para S (inferiores a 20º) e vergência e os critérios de cisalhamento (caudas assimétricas de
para Norte. Nesta fase, mais tardiamente porque já porfiroblastos, planos C – S) são consistentes com o movi-
afetam a foliação milonítica D1, desenvolvem-se ainda mento com o topo para o norte (Pereira et al., 2012). Em
corredores de deformação subverticais (zonas de cisalha- resumo, toda a cinemática associada a D1 é controlada
mento) dúctil e frágil-dúctil com orientação NNW-SSE, por movimentação para Norte, achatamento, estiramen-
±80º. As dobras D1 estão associadas ao desenvolvimento to e movimento horizontal entre blocos adjacentes com
de zonas de cisalhamento extensional e boudinagem comportamento esquerdo.

FIGURA 8
Padrões de interferência D1+D2 em pedreira inativa em Borba

Repare-se como existem estruturas fechadas num plano indicando redobramento também evidenciado pelos planos
axiais de primeira fase que se encontram curvos. As dobras menores nos flancos são claramente assimétricas, por
vezes com estiramento do flanco curto, indicando o sentido de transporte inicial. O bloco no chão corresponde à
charneira da dobra que se encontra na parede. Afloramentos como estes permitem reconstruir a 3D a geometria da
deformação em regime dúctil ocorrida na região e são ponto de partida para a modelação digital da deformação.

A segunda fase (D2) apresenta indubitavelmente um ca- -frágil ao longo das quais os flancos inversos das dobras
rácter mais frágil e atua em andar estrutural superior e apertadas são estirados. A vergência desta segunda fase
é responsável pela orientação regional do Anticlinal de é marcadamente para NE; as dobras com planos axiais
Estremoz (NW-SE). Ao dobramento D2 está associado a de direção 110º-130º inclinam até 60º para Sul.
clivagem de plano axial (de crenulação nos xistos e cli- Embora nem sempre sejam óbvias, uma observação
vagem de fractura nos mármores), ambas mais ou menos atenta em qualquer pedreira permite identificar estru-
desenvolvidas e zonas discretas de cisalhamento dúctil- turas de ambas as fases. A sobreposição das duas fases

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gera padrões de interferência que localmente podem destes acidentes NNW – SSE ocorreu a recristalização
ser observados. Corroborando estas observações, a car- sin a pós cinemática do mármore, pelo que, estas
tografia geológica do Anticlinal de Estremoz (Moreira descontinuidades estruturais nem sempre se refletem
& Vintém, 2007) apresenta vários exemplos de padrões em descontinuidades litológicas, com a ressalva que
de interferência cartográficos. existe modificação na variedade do mármore, o que
tem necessariamente consequências económicas (Figs. 9
Por todo o anticlinal de Estremoz ocorre uma segmentação
e 10). O conhecimento prévio destas estruturas permite
acentuada no sentido longitudinal (NNW-SSE) cuja
definir melhor o plano de lavra adequando as direções de
localização é principalmente controlada pelos flancos corte e adaptando dinamicamente o espaçamento entre
verticais das dobras de segunda fase, mas também pode os cortes de modo a otimizar o rendimento das massas a
corresponder à reativação em regime frágil – dúctil desmontar. Quando os rendimentos na pedreira baixam
de bandas de cisalhamento (zonas de concentração de dos 15% qualquer ganho faz a diferença e poderá ser
deformação) desenvolvidas anteriormente. Na maioria fator decisivo para viabilizar a exploração.

FIGURA 9 FIGURA 10
Exemplo de zona de cisalhamento Dobras na terminação periclinal SE
observada em pedreira no local de Lagoa, Vila Viçosa do Anticlinal de Estremoz, S. Marcos, Pardais

Figura 9 - Este acidente é francamente discordante das estruturas, no entanto a recristalização permite uma continuidade cristalina pelo que é
possível obter blocos, ainda que heterogéneos. Os planos axiais das dobras aqui observadas tem direção NW-SE e são francamente vergentes para NE.
Pedreira António Galego & Filhos, Lda., Texugo n.º 3, Bencatel.
Figura 10 - Estão representadas dobras isoclinais de segunda fase com planos axiais verticais e eixos mergulhantes, cerca de 25º para SE. Têm
amplitude e comprimentos de onda variáveis e apresentam flancos estirados ao longo de bandas de cisalhamento tardias de segunda fase que,
neste caso, não condicionando de imediato a exploração, provocam alterações cromáticas e texturais perpendiculares ao bando metamórfico. No
caso limite, se estas condicionantes não forem consideradas no plano de lavra, as implicações no valor intrínseco da matéria-prima podem mesmo
inviabilizar a continuidade da pedreira, como já ocorreu em alguns casos no anticlinal.
Pedreira António Bento Vermelho, Lda. São Marcos nº. 9, Pardais-Vila Viçosa.

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.Cronologicamente seguem-se falhas subverticais de de dobramento quando a direção de tensão máxima


direção WSW – ENE, que apresentam movimentos estaria próxima de NE-SW. Frequentemente estas falhas
horizontais esquerdos (existindo em menor número o estão sublinhadas por filões doleríticos (Fig. 11; “cabos
conjugado NE – SW direito), com abatimento do bloco reais” na gíria local). Estes filões são contemporâneos do
a SE, na terminação periclinal SE do anticlinal e abati- grande filão do Alentejo (Messejana – Ávila) e indiciam a
mento do bloco a NW na terminação NW. No conjunto, transição para um regime distensivo que viria a culminar
estas fraturas refletem os estados finais da deformação com a abertura do atual Oceano Atlântico (Lopes & Silva,
que originou a estrutura anticlinal de Estremoz, grosso 2005; Lopes, 2007; Silva, 1997).
modo correspondem a fendas de tração da segunda fase

FIGURA 11
Pedreira inativa na zona de Lagoa, Vila Viçosa

Exemplo de filão dolerítico instalado em desligamento esquerdo ENE-WSW, 90º.


Para além da componente horizontal, também existe uma componente vertical associada que, nesta zona do anticlinal, é materializada
pelo abatimento do bloco a Sul. Ambas as deslocações não podem ser ignoradas pois os rejeitos podem ser superiores a 30 metros,
inviabilizando a continuação da exploração. Existem muitos casos em que as pedreiras estão limitadas a SE e NW por cabos reais
sendo distintas as variedades de mármore exploradas nas pedreiras adjacentes.

Como curiosidade, refira-se que num destes filões com tenha chamado a atenção para os diferentes tipos de
cerca de 35 metros de possança, localizado a Oeste mármore que ocorrem ao nível do solo ao longo do
de Borba, entrou mesmo em laboração uma pedreira anticlinal, definindo assim diferentes zonas, não houve
de dioritos para fins ornamentais. A possança do uma correlação entre estas zonas e a segmentação
filão fez com que o arrefecimento do magma fosse induzida pelas falhas e cisalhamentos atrás referidos.
suficientemente lento para permitir a formação de uma De qualquer modo, no passado o desconhecimento
rocha com textura fanerítica destas variações foi responsável pelo insucesso de muitas
A conjugação das falhas WSW – ENE com os cisalhamentos explorações, que não prevendo esta situação, se viram
NNW – SSE é responsável por uma segmentação da espacialmente limitadas e cessaram a atividade.
estrutura em blocos onde, pelo menos à superfície, o No final da Orogenia Hercínica (ou Varisca) a exumação
mármore apresenta características texturais e cromáticas do maciço e a libertação de tensões produziu uma intensa
distintas (diferentes variedades!). Embora Pereira (1981) densidade de descontinuidades: fraturas longitudinais

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segundo N30°W, transversais segundo N60°E e diagonais dos mármores no anticlinal de Estremoz são tais que os
à estrutura dobrada, segundo N10°W. Fenómenos de valores conhecidos regionalmente devem ser tomados
dissolução recente, com formação de cavidades cársicas, unicamente como referência pois, são as condições ao
são mais evidentes ao longo das fraturas orientadas nível da pedreira que vão determinar quais as famílias
segundo N10°W. Estas são as principais responsáveis que aí vão ser mais importantes. Análises detalhadas da
pela compartimentação que se verifica nesta região do fraturação no anticlinal de Estremoz foram apresentadas
Anticlinal de Estremoz (Almeida et al., 2000). por vários autores (i.e., Silva e Camarinhas, 1960;
Em seguida atuam no anticlinal de Estremoz os campos Ladeira, 1977; Gomes da Silva, 1989; Pereira, 1981;
de tensão tardí-hercínicos e alpinos, a que se associa Reynaud & Vintém, 1992 e 1994; Costa et al., 2001;
a fragmentação por descompressão induzida pela Gama et al., 2000; Lopes, 2003; Henriques et al., 2006).
atividade extrativa e que no conjunto são responsáveis Em resumo e mais importante que as variedades de
pela extensa fracturação que o maciço apresenta. As mármore que uma pedreira apresente, é o seu estado
variáveis envolvidas no condicionamento da fraturação de fraturação que lhe define o valor (Fig. 12).

FIGURA 12
Pedreira da empresa F. J. Cochicho & Filho Lda.,
na terminação periclinal SE do Anticlinal de Estremoz

Na parte mais profunda esta pedreira atinge os 150 metros. De qualquer modo as sondagens aqui realizadas confirmaram a existência
de mármore até aos 430 metros. A exploração para além dos 150 metros requer uma reformulação completa nos paradigmas até
agora aplicados uma vez que, considerando os riscos envolvidos e as áreas de exploração à superfície, é impossível avançar em
poço, além de que, por esta via, a exploração se tornaria demasiado onerosa e desde logo, economicamente inviável. Em primeiro
plano observa-se uma descontinuidade ondulada, muito provavelmente, correspondente ao bandado sedimentar original.

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FIGURA 13
Pormenor da figura 12

O diferente comportamento mecânico à deformação entre as bancadas acima e abaixo desta descontinuidade é tal que a superior
apresenta um comportamento essencialmente frágil impedindo a obtenção de qualquer bloco; atente-se na densidade de fraturas
subverticais que terminam de encontro à descontinuidade. Já as bancadas abaixo desta descontinuidade apresentam comportamento
dúctil permitindo o dimensionamento da massa em blocos comerciáveis. Para as mesmas condições de deformação, ainda que
muito ténues, as diferenças composicionais, como é o caso, com um pouco de Mg a mais na rede cristalina da calcite confere à
rocha uma maior resistência mecânica e a rocha resiste à deformação até ao ponto de rutura onde acaba por fraturar ao passo
que os mármores sem Mg acomodam a deformação por ativação dos planos cristalográficos da calcite, originam uma anisotropia
planar materializada pela orientação preferencial dos cristais de calcite e, consequentemente, acabam por fluir. Esta fluência é
acentuada se houver níveis de filossilicatos intercalados nos níveis carbonatados.

A libertação de tensões acumuladas pode ser um cons- simultâneos, corte a velocidades reduzidas, fragmentação
trangimento muito importante nas fases iniciais de aber- de uma parte do maciço com pólvora negra, etc., todas
tura de uma pedreira. Mesmo à superfície o “mármore com resultados pouco satisfatórios.
canta”, como referem os trabalhadores. É impressionante
Por fim a erosão causada pelos agentes meteóricos é
a fraturação induzida nos “cabeços” (carso superficial)
responsável pelo encaixe das linhas de água e génese do
pelo corte com fio diamantado. O caso é ainda mais grave
modelado atual do relevo que é, em primeira instância,
se o mármore for homogéneo. Efetivamente, não havendo
direções de anisotropia estrutural bem definidas, as condicionado pelas diferentes litologias: zonas mais bai-
fraturas induzidas pela descompressão propagam-se xas no Pré-Câmbrico; planalto central correspondente à
aleatoriamente fragmentando todo o maciço impedindo Formação Dolomítica; patamar intermédio correspon-
assim a obtenção de blocos comerciáveis. Para obstar esta dente ao CVSCE e zonas mais baixas correspondentes
situação aplicam-se várias estratégias, i.e. cortes múltiplos aos xistos envolventes ao anticlinal.

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4. PONTO DA SITUAÇÃO o setor continua a ter uma imagem de trabalho árduo e


mal pago que, na maior parte dos casos, não corresponde
à realidade.
A valorização do território passa pelo equilíbrio da
exploração e usufruto dos seus recursos endógenos sem Como já se referiu, há um conhecimento geológico
comprometer a sustentabilidade de gerações futuras. muito completo dos principais centros de exploração
Se os recursos se esgotarem e não se preconizarem no Anticlinal de Estremoz, conhecidos por UNORs
alternativas aliciantes, os mais novos partem em busca (Unidades de Ordenamento do Território: Estremoz;
de desafios e oportunidades que lhes são negadas onde Borba; Vigária; Lagoa e Pardais. PROZOM, 2002; Vintém
nasceram. É neste ponto de viragem que se encontram et al., 2003; Falé et al., 2006; Carvalho et al., 2008). Assim,
os concelhos do Anticlinal de Estremoz. Numa análise integrando esta informação em termos litológicos, estado
que escapa ao presente trabalho, diremos apenas que nos de fraturação, variedades de mármore e comportamento
últimos anos a população tem vindo sempre a decrescer geomecânico expectável do maciço, com varáveis
e a curto prazo não haverá trabalhadores locais para regionais que definem o correto uso do território,
assegurar o trabalho nas pedreiras. considerando o potencial de modelação numérica
A par de toda a indústria extrativa e transformadora, o atualmente possível pelo cálculo computacional, será
sector das Rochas Ornamentais tem evoluído imenso. possível a curto prazo, elaborar modelos precisos da
Hoje, este é um setor altamente mecanizado onde o jazida marmórea em profundidade e assim propor
esforço dos trabalhadores foi muitíssimo reduzido e, não planos de exploração otimizados e conservadores tendo
deixando de ser um trabalho duro que depende muito em vista a exploração sustentável do mármore (Fig. 14).
das condições climáticas, não tem comparação possível É claro que para ser implementado, tal plano terá de
com o passado. De qualquer modo, esta mensagem de assegurar à partida o compromisso e cumplicidade das
inovação e avanço tecnológico, também potenciado por empresas e municípios, afinal de contas as partes mais
empresas nacionais, não tem passado para os jovens e interessadas no negócio.

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FIGURA 14
Ortofotomapa e modelo 3D do núcleo de pedreiras de mármore de Pardais

As pedreiras representadas pertencem às empresas F. J. Cochicho & Filho Lda.; Cochicho, Lda.
e Mármores Galrão Lda., realizado com recurso a levantamento com drone e processamento das
imagens obtidas com recurso ao software Pix4D Mapper (https://www.pix4d.com).
O resultado, que é muito mais impressionante que a imagem estática demonstra, é alcançado com
um voo de 20 minutos onde se obtêm cerca de 200 fotografias que são posteriormente processadas
durante cerca de três horas, É claro que o tempo de processamento depende do computador,
estes valores são para um modesto Pentium i7 com 8Gb de memória RAM. Agradecimentos às
empresas pela utilização da imagem e a Maxim Bogdanowitsch pela cedência das imagens para
processamento.

O modelo assim criado pode ainda ser melhorado com mesmo com a integração de imagens inacessíveis ao
recurso a um sistema de aquisição de imagem LIDAR drone. Na figura 15 vemos precisamente um exemplo
aumentando a definição do modelo e completando o da integração das imagens obtidas pelos dois métodos

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permitindo, no caso, a visualização tridimensional apoio à exploração que de modo muito rápido e intuitivo,
nas galerias subterrâneas. O grau de rigor e detalhe permitem fazer cálculos de reservas e definição das
destes modelos permitem analisar as características orientações preferenciais para o avanço de novos pisos.
geométricas de descontinuidades que, devido ao As potencialidades desta tecnologia são impressionantes e
avanço da lavra, seriam fisicamente muito difíceis de já estão a ser implementadas no terreno pela Universidade
alcançar, ajudando a determinar potenciais situações de de Évora no âmbito do Projeto INOVSTONE 4.0.
instabilidade. Por outro lado, são também ferramentas de

FIGURA 15
Ortofotomapa e modelo 3D da pedreira D’El Rei

A pedreira pertence à empresa Ezequiel Francisco Alves, Lda. O modelo foi realizado com recurso a imagens obtidas por drone e levantamento
fotogramétrico por LIDAR nas zonas inacessíveis ao drone. O processamento das imagens para a elaboração do modelo fez-se com recurso ao
software ContextCapture da Bentley (http://www.bentley.com/). Agradecimento à empresa pela autorização de utilização da informação e a Ricardo
Gaio pelo processamento e cedência do modelo 3D.

Os modelos 3D assim gerados revelam ainda a baixa Noutra vertente completamente distinta, podemos
ef iciência deste método de exploração em poço, afirmar que o potencial Geoturístico é virtualmente
principalmente nestas cavidades mais profundas, onde inesgotável sendo que o Anticlinal de Estremoz contem
grande parte da massa mineral fica por explorar. em si todas as valências (Geodiversidade, Biodiversi-
Havendo possibilidade, é sempre preferível ampliar as dade, Turística, Gastronómica, Enológica, Cultural e
áreas de exploração. Um exemplo, pela positiva, está a Patrimonial) para se constituir como o “Geoparque da
ser implementado pela empresa Solubema — Sociedade Zona dos Mármores”.
Luso-Belga de Mármores, SA na Herdade da Vigária,
Vila Viçosa (Fig. 16).

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FIGURA 16
Sobreposição da estrutura geológica esquematizada sobre vista panorâmica para SE,
a partir do VG Mouro, do flanco SW do Anticlinal de Estremoz

No primeiro plano observam-se as pedreiras da Herdade da Vigária e no horizonte situam-se as pedreiras da Lagoa. Na imagem
está representada, sem dúvida, a região mais produtiva e promissora do anticlinal. Embora haja pedreiras profundas, só num caso
a profundidade é superior a 100 metros. No entanto, as sondagens profundas indicam a existência de mármore para além dos
300 metros. O desenvolvimento em área e integração das várias pedreiras numa única cavidade, além de imperativo, pode ser a
solução mais adequada, pelo menos a médio prazo.

A Geodiversidade está assegurada em consequência excecional que poderíamos referir (Lopes & Martins,
da atividade mineira nos mármores, onde a sequência 2010).
litoestratigráfica se encontra bem representada e As pedreiras abandonadas (e as ativas também…)
acessível à observação direta o que desde logo constitui constituem excelentes locais onde a fauna e flora tem
caso ímpar na geologia nacional (Falé et al., 2008; oportunidade de se desenvolver praticamente sem
2009; Lopes & Martins, 2010; Lopes et al., 2013). Nela qualquer tipo pressão humana. Estudo realizado por
se podem identificar e caracterizar in situ as unidades Germano (2013), demonstrou que, no que concerne
geológicas mais antigas de idade pré-câmbrica; à avifauna nas pedreiras abandonadas, não só que o
a transição Pré-Câmbrico – Câmbrico; o Câmbrico número de espécies é maior mas também que e o número
inferior dolomítico; o Complexo Vulcano-Sedimentar de efetivos por espécie é superior ao que se encontra
Carbonatado (onde se incluem os mármores ornamentais), regionalmente (Germano et al., 2014).
de idade câmbrica provável, e, no topo da sequência, as Uma avaliação muito conservadora da matéria-prima
rochas de idade silúrica e devónicas mais recentes e existente no anticlinal (Lopes & Martins, 2015), permite
com conteúdo fossilífero que permitiu a sua datação estimar que mesmo aos índices de produção anuais
(Lopes, 2003; Piçarra, 2000). Alguns af loramentos mais altos já atingidos, haverá mármore de qualidade
estão reconhecidos no inventário de sítios de relevância suficiente para mais 550 anos de lavra ininterrupta.
nacional classificados como Património Geológico Para que tal aconteça e como se depreende do presente
Nacional, na categoria temática “Mármores Paleozoicos texto, muito haverá a mudar, tanto nos métodos de
da Zona de Ossa-Morena”, que reúne os principais exploração, visando a otimização da lavra e mitigação
geossítios em Portugal com elevado valor científico e de riscos associados à mesma, como no próprio modelo
que representam a geodiversidade nacional (Brilha de negócio e organização das empresas.
et al., 2010; 2012), permitindo compreender a história e Em conclusão, um conjunto de fatores geológicos
a evolução geológica do nosso território. Nomeadamente convergiram para que neste território pudessem ocorrer
a transição do Pré-Câmbrico ao Câmbrico, no Parque mármores em abundância, diversificados e de excecional
Industrial de Vila Viçosa e os padrões de dobras qualidade pelo que, hoje, o Anticlinal de Estremoz e
redobradas à escala da pedreira, na zona da Lagoa, particularmente o município de Vila Viçosa é uma das
entre outros, são apenas alguns dos inúmeros exemplos mais importantes regiões mundiais para a extração desta
de ocorrências da geodiversidade com evidente valor distinta matéria-prima.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

A Rocha Ornamental Portuguesa e a Evolução na sua Caracterização

Cristina Isabel Paulo de Carvalho


Unidade de Ciência e Tecnologia Mineral— Laboratório Nacional
de Energia e Geologia, I.P. – Rua da Amieira, Apartado 1089 –
4466-901 S. Mamede de Infesta
E-mail: cristina.carvalho@lneg.pt

Palavras Chave: Rochas ornamentais, pedra natural, catálogo de rochas ornamentais, propriedades, métodos de
ensaio, normas europeias, produtos em pedra natural, declaração de desempenho.

RESUMO

Neste documento, relata-se o extenso trabalho desenvolvido pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia e
pelas suas instituições antecessoras, no âmbito da caracterização das rochas ornamentais portuguesas. Tendo como
ponto de partida o primeiro “Catálogo de Rochas Ornamentais Portuguesas”, apresentam-se as motivações que
estiveram na origem da criação desta obra literária ímpar e das obras literárias que a sucederam, culminando-se
no site “Rochas Ornamentais Portuguesas”. A caracterização das rochas ornamentais assenta no conhecimento das
suas propriedades, determinadas através de ensaios. Por este motivo, dá-se particular ênfase aos métodos de ensaio
e ao seu progressivo e gradual desenvolvimento, fruto da adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia.
Termina-se, abordando as repercussões desta adesão na comercialização dos produtos em pedra natural, de modo a
dar cumprimento à legislação europeia atualmente em vigor (Regulamento (UE) N.º 305/2011).

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

1. INTRODUÇÃO caracterização das rochas ornamentais portuguesas e à


substituição progressiva pelos métodos estabelecidos nas
normas europeias. A implementação destas normas, não
Portugal é geologicamente bastante diversificado. Nele
acarretou apenas alterações do ponto de visto analítico.
ocorrem maciços rochosos, de natureza variada, muitos
Acima de tudo, implicou um significativo esforço
dos quais com características favoráveis à sua exploração,
financeiro na renovação de variadíssimos equipamentos
para extração de blocos. Estes fatores foram determi-
e utensílios, que cumprissem as rigorosas exigências
nantes no estabelecimento de uma importante indús-
das normas europeias. Este esforço foi igualmente
tria extrativa e transformadora da rocha ornamental
acompanhado pela indústria extrativa e transformadora,
portuguesa.
em particular pelas empresas cujo principal destino
O conhecimento das propriedades das rochas ornamentais dos seus produtos já era o mercado externo europeu,
é indispensável para a sua seleção adequada, em função antes da adesão de Portugal à CEE. Estas empresas
do tipo de aplicação. É, igualmente, fundamental nas foram confrontadas com necessidade de repetir toda
campanhas de marketing. Em 1981, norteado por estes a caraterização até então efetuada às suas rochas
objetivos e pelo previsível estreitamento das relações ornamentais, agora de acordo com os métodos definidos
económicas entre Portugal e os outros estados membro, pelas normas europeias, para que os seus produtos
fruto da sua iminente adesão à Comunidade Económica continuassem a ser bem acolhidos pelos países da CEE.
Europeia (CEE), o Laboratório da DGGM — Direção
Após a elaboração de um conjunto significativo de
Geral de Geologia e Minas (atual LNEG) arrancou
normas europeias de métodos de ensaio, de terminologia
com a elaboração do primeiro “Catálogo de Rochas
e de critérios de classificação, a CEN/TC 246 avançou
Ornamentais Portuguesas”. Trata-se de um trabalho
para o desenvolvimento de normas relativas a classes de
único, de caracterização sistemática das principais
produtos em pedra natural, com disposições legais no
rochas ornamentais exploradas em Portugal continental,
que se refere à sua marcação CE, cumprindo a legislação
durante todos os anos 80 e o início dos anos 90, do século
europeia aplicável aos produtos de construção. A entrada
passado. A elaboração das Fichas Técnicas, constantes
em vigor destas normas, marcou o início de uma nova e
no Catálogo, implicou proceder-se à determinação das
importante etapa na caracterização da rocha ornamental
principais propriedades da quase centena e meia de
portuguesa. Pela primeira vez, esta passou a assumir um
rochas ornamentais portuguesas presentes nos quatro
caráter obrigatório.
volumes, que compõem esta obra literária. O ideal
seria que esta caracterização assentasse em métodos O LNEG e as suas instituições antecessoras (Instituto
já estabelecidos, em normas. Contudo, as normas Nacional de Energia, Tecnologia e Inovação e Instituto
portuguesas sobre esta matéria eram escassas. O recurso Geológico e Mineiro) foram procedendo à publicação
a normas de ensaio doutro país europeu, selecionado de mais obras literárias dedicadas à caracterização
com base no seu volume de importação de rochas das rochas ornamentais portuguesas, que constituem
ornamentais portuguesas, foi a solução encontrada para atualizações do “Catálogo de Rochas Ornamentais
colmatar esta lacuna. Portuguesas” e que foram acompanhando a evolução do
processo normativo europeu, neste domínio. O presente
Em 1986, Portugal aderiu à CEE. Em termos normativos,
documento, além de fazer a resenha dessas obras
esta adesão determinou a adoção das normas europeias
literárias, apresenta previamente um pequeno relato
e a consequente revogação das normas nacionais.
dos primórdios da exploração de rocha ornamental
As normas europeias relativas a rocha ornamental no território português e uma apresentação de alguns
são elaboradas pela CEN/TC 246 — “Natural Stones”, dados estatísticos atuais, relativos à exploração de rocha
comissão técnica tutelada pelo Comité Europeu de ornamental portuguesa. Termina, com as repercussões
Normalização (CEN). A DGGM integrou a CEN/TC 246, normativas e legislativas resultantes da adesão de
praticamente desde a sua constituição. Grande parte Portugal à CEE, na caracterização da rocha ornamental
da atividade normativa inicial, desta comissão técnica, portuguesa e na comercialização dos seus produtos.
centrou-se no desenvolvimento de normas de métodos
de ensaio. A sua publicação e entrada em vigor
conduziram ao abandono dos métodos utilizados na

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

2. BREVE NOTA HISTÓRICA E PANORAMA este facto estar apenas patente em registos documentais
ATUAL seculares, muitos dos quais associados à reconstrução de
Lisboa após o grande terramoto de 1755 (Ibidem).

Os monumentos megalíticos constituem as evidências


mais antigas da utilização da pedra no nosso país, na FIGURA 1
Templo romano de Évora
sua vertente ornamental. Porém, os primeiros registos
de utilização e extração de rocha, em território nacio-
nal, surgem durante a ocupação romana da península
ibérica, no principado de Augusto (27 a.C. - 14 d.C.),
na sua maioria associados ao seu projeto urbanístico
de “marmorização” do Império Romano (Maciel, M.
Justino, 1998). O conhecimento que se tem da utilização
das rochas ornamentais na província romana Lusitania
resulta, principalmente, da constatação do seu uso em
edifícios, epígrafes ou esculturas romanas (Cardoso,
J. L., Guerra, A., Fabião, C., 2011). O templo romano de
(imagem gentilmente cedida pelo Prof. Rúben Martins, do Departa-
Évora (Figura 1), construído em granito estucado e com
mento de Geociências, da Universidade de Évora).
as bases e capitéis das suas colunas lavrados em már-
mores do Anticlinal de Estremoz, constitui um exemplo
icónico deste facto (Ibidem). Apesar das dificuldades na Desde esses longínquos primórdios até ao presente
extração e no transporte terem ditado a sua utilização momento, a extração de rocha ornamental no nosso
parcimoniosa, estudos revelaram que a exploração de país deu um passo de gigante. Atualmente, o cadastro
mármores, no Anticlinal de Estremoz, sofreu um ex- de pedreiras da DGEG — Direção Geral de Energia e
traordinário incremento na primeira metade do século Geologia regista 324 pedreiras de rocha ornamental a
I (Ibidem). Esta constatação é posta em evidência através desenvolver atividade extrativa em Portugal continental
das inúmeras decorações escultóricas, de grandes edifí- (dados do “site” http://www.dgeg.gov.pt/, atualizados em
cios públicos romanos, encontradas em distintas cidades 09-03-2015), além das existentes nas Regiões Autónomas
da Lusitania, localizadas quer em território nacional, da Madeira e dos Açores. A distribuição dessas pedreiras
quer em Espanha, incluindo na sua capital provincial: ativas, em termos de tipo de rocha explorado, está
Augusta Emérita (Mérida). Além dos mármores do An- patente no Quadro 1.
ticlinal de Estremoz, encontra-se ainda documentada
a utilização romana do mármore de Trigaches (Beja), QUADRO 1
embora os registos arqueológicos da sua aplicação sejam Distribuição das pedreiras ativas de rochas ornamentais,
em Portugal continental, por tipo de rocha explorado
menos expressivos que os anteriores e se encontrem
mais circunscritos à sua área de ocorrência (Ibidem). Tipo de rocha Número de
Existem, também, registos arqueológicos pontuais da ornamental explorada pedreiras ativas
extração romana de rochas ornamentais. No Alentejo, o Granito 143
único testemunho conhecido está localizado na pedreira Calcário 108
“Herdade da Vigária” (Bencatel, Vila Viçosa), na qual Mármore 63
foi descoberta uma antiga frente de pedreira de idade Xisto 8
romana (Ibidem). Mais a norte, também foi identificada Sienito nefelínico 2
uma única pedreira de idade romana, localizada na
(dados do “site” http://www.dgeg.gov.pt/, atualizados em 09-03-2015).
Estação Romana de Colaride, em Sintra (Ibidem). Nesta
pedreira e noutras localizadas na região norte da atual
área metropolitana de Lisboa, particularmente em Pêro De acordo com dados estatísticos, também coligidos pela
Pinheiro, foram extraídos distintos calcários utilizados DGEG (Estatística de Recursos Geológicos da DSEF-
na construção de edifícios de Olisipo (Lisboa), apesar de RG), as produções anuais de rochas ornamentais em

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Portugal continental, entre os anos de 2007 e 2017, são QUADRO 2


apresentadas no gráfico da Figura 2. Da sua análise, Pedreiras de rochas ornamentais — Produções e valores monetários
verifica-se que só no ano de 2017 a produção de rochas totais na pedreira entre 1977 e 1981

ornamentais suplantou o nível existente antes da crise Ano Produção Variação Valor monetário Variação
(toneladas) total na pedreira
económica global de 2007-2008 e que resultou na falência
(X × 1000)*
de muitas empresas deste ramo de atividade.
1977 286.053 — 2.608 —
1978 324.819 + 13,6 3.518 + 34,9
FIGURA 2 1979 359.337 + 10,6 5.278 + 50,0
Produção anual de rochas ornamentais em 1980 406.312 + 13,1 8.243 + 56,2
Portugal continental entre os anos de 2007 e 2017
1981 415.772 + 2,3 10.908 + 32,3

(adaptado de Martins, O. R., 1982).


* Conversão para euros, à taxa de câmbio de 200,482 PTE (31-12-1998,
Conselho da UE - União Europeia).

O setor das rochas ornamentais já tinha identificado a


inexistência de um Catálogo de Rochas Ornamentais
Portuguesas como um handicap para esta indústria
(Moura, A. C., Martins, O. R. et alia, 1983). Contudo,
perspetivava-se dificuldades de natureza diversa na
execução de um projeto desta envergadura. Além
dos avultados encargos financeiros em trabalhos
(dados: DGEG - Estatística de Recursos Geológicos da DSEF-RG).
de campo, analíticos e tipográficos, previa-se ainda
outros obstáculos, principalmente na obtenção dos
provetes necessários para os ensaios, mas também
3. O PRIMEIRO CATÁLOGO DE ROCHAS OR- na determinação das propriedades, quer pela falta
NAMENTAIS PORTUGUESAS de métodos, quer de meios técnicos. A entrada, a
curto prazo, de Portugal na Comunidade Económica
Europeia e a subsequente necessidade de promover a
3.1 Retrospetiva rocha ornamental portuguesa junto deste mercado,
no sentido de incrementar a sua exportação, deram
Em 1981, ano em que o Laboratório da DGGM o impulso necessário ao arranque deste projeto. A
(atual LNEG) decidiu iniciar o seu projeto de elabo- execução do Catálogo envolveu um amplo conjunto
ração do “Catálogo de Rochas Ornamentais Portugue- de quadros da DGGM, coordenado por uma equipa
sas”, integrado nas políticas governamentais em curso de 12 técnicos superiores. Contou, ainda, com o apoio
para a valorização dos recursos minerais, vivia-se um de muitos industriais do setor da rocha ornamental,
período de recuperação económica, quer da crise nomeadamente na disponibilização e corte dos provetes
petrolífera de 1973-74, que teve impacto mundial e na de ensaio, sem os quais não teria sido possível avançar.
Europa desencadeou uma profunda recessão económica, A coordenação do projeto foi assegurada por António
quer da Revolução de Abril de 1974. Nesse ano, de 1981, Casal Moura (Geólogo da DGGM).
registavam-se 365 pedreiras ativas de rocha ornamental. Também no ano de 1981 e igualmente no âmbito
As suas produções e valores monetários totais na da valorização das rochas ornamentais portuguesas,
pedreira, entre os anos de 1977 e 1981, estão patentes decorreu, na FIL, o SIROR 81 — 1º Salão Internacional
no Quadro 2 (Martins, O. R., 1982). Comparando os de Rochas Ornamentais. A sua organização esteve a
dados estatísticos de 1981 com os de 2017, verifica-se cargo da DGGM, juntamente com o FFE — Fundo de
que em 1981 os volumes de produção eram quase 8 vezes Fomento e Exportação e com o IAPMEI, tendo ainda
inferiores e os valores monetários totais na pedreira mais contado com a colaboração de diversas entidades, das
de 16 vezes inferiores aos de 2017. quais se destacam a ASSIMAGRA e a FIL. Ciente da

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

importância da apresentação do “Catálogo de Rochas necessário mobilizar uma dilatada equipa da DGGM,
Ornamentais Portuguesas” nesta exposição, mas quer do Laboratório, quer das Delegações de Aveiro
não tendo sido este concluído, a equipa da DGGM e de Coimbra, para proceder à colagem, manual, das
preparou uma versão bastante sintética do Catálogo fotografias das 72 rochas ornamentais representadas
(Figura 3), para acompanhar o anúncio da sua elaboração nesta obra literária percursora do Catálogo, em todos
neste certame. A propósito da sua preparação, João os exemplares produzidos.
Farinha Ramos (Geólogo da DGGM) recordou que foi

FIGURA 3
Percursor do “Catálogo de Rochas Ornamentais Portuguesas” preparado pela DGGM (atual LNEG) para o SIROR-81

a) b) c)
a) Capa. b) e c) Exemplo das 2 páginas que constituíam as Fichas Técnicas de duas rochas ornamentais portuguesas.

Além de aspetos de índole histórica, geológica e comer- forma de Fichas Técnicas bilingues (português e inglês),
cial, o “Catálogo de Rochas Ornamentais Portuguesas” compostas por 3 páginas (Figura 4). Os restantes capí-
contém uma caracterização detalhada das principais tulos têm a particularidade de estar escritos em quatro
rochas ornamentais exploradas no nosso país, entre 1981 línguas: português, inglês, italiano e francês.
e o início da década de 90. Esta está apresentada sob a

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 4
Catálogo de Rochas Ornamentais Portuguesas da DGGM (atual LNEG)

a) b)

c) d)
a) Capa. b), c) e d) Exemplo das 3 páginas que compõe cada Ficha Técnica, de uma rocha ornamental portuguesa.

A edição dos 4 volumes, que compõem o Catálogo, foi que viria a acontecer dois anos depois (Moura, A. C.,
faseada. O 1º volume foi editado em 1983 e inclui fichas Martins, O. R. et alia, 1994), com fichas técnicas de mais
técnicas de 31 rochas ornamentais. Considerando os 30 rochas ornamentais. Em 1996, foram reeditados o
principais centros de exploração de rochas ornamentais 2º e o 3º volumes. O detalhe inovador de o Catálogo
da época (Figura 5), este primeiro conjunto foi composto estar encadernado em capas de argolas, permitiu ainda
de modo a ser “representativo e equilibrado da produção editar fichas técnicas complementares, para inclusão no
nacional” (Moura, A. C., Martins, O. R. et alia, 1983). Nos 4º volume. Deste modo, foram editadas fichas técnicas
anos seguintes foram publicados o 2º volume (Moura, A. de mais 4 rochas ornamentais: duas no ano de 1995 e
C., Martins, O. R. et alia, 1984) e o 3º volume (Moura, A. duas no ano 1996. A última edição do Catálogo ocorreu
C., Martins, O. R. et alia, 1985), contendo fichas técnicas em 2000, com a publicação de fichas técnicas de mais 4
de mais 33 e 40 rochas ornamentais, respetivamente. rochas ornamentais. No total, esta obra literária pioneira
O enorme êxito do Catálogo motivou a reedição do 1º congrega a informação de 142 rochas ornamentais
volume em 1992, antes mesmo da edição do 4º volume, portuguesas.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 5
Localização dos principais centros de exploração de rocha ornamental em 1983

(imagem do 1º Volume do Catálogo de Rochas Ornamentais Portuguesas, da DGGM).

3.2 Evolução até ao momento atual e do FEDER — Fundo Europeu de Desenvolvimento


Regional. Esta obra literária (Figura 6 a)), que contém 51
Fichas Técnicas de granitos, outras rochas ígneas e um
A elaboração de livros dedicados à caracterização das
serpentinito, teve por objetivo não só divulgar as rochas
rochas ornamentais portuguesas, por parte da DGGM
e das entidades que a sucederam, não se esvaziou com graníticas portuguesas, setor que evidenciava uma franca
o Catálogo. Logo no ano de 2000, o IGM — Instituto expansão, mas também atualizar os dados do Catálogo,
Geológico Mineiro (atual LNEG) publicou a monografia em particular os respeitantes à caracterização das rochas,
“Granitos e Rochas Similares de Portugal” (Moura, A. já considerando o novo normativo europeu. Contudo,
C. et alia, 2000). Coordenada por António Casal Moura, um dos aspetos mais relevantes desta obra literária foi a
a edição contou com o apoio do PEDIP II — Programa inclusão de especificações técnicas (Figura 6b)), matéria
Estratégico de Dinamização e Modernização da Indústria inexistente na legislação portuguesa, no que se refere a
Portuguesa, do IPQ — Instituto Português da Qualidade produtos em pedra natural.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 6
Granitos e Rochas Similares de Portugal (IGM, 2000)

a) b)
a) Capa.
b) Excerto das Especificações Técnicas.

Além desta monografia, em 2007 foi editada uma Tecnológicos, da CCDRC — Comissão de Coordenação
segunda, intitulada “Mármores e Calcários Ornamentais e Desenvolvimento Regional do Centro (através do
de Portugal” (Moura A. C. et al, 2007), que engloba Programa Operacional da Região Centro) e do FEDER.
Fichas Técnicas de 49 mármores e de 37 calcários Na origem da sua elaboração estiveram motivos idênticos
(Figura 7 a)). Foi publicada pelo INETI — Instituto aos que determinaram a execução da monografia
Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (atual relativa aos granitos e similares. Inclui, igualmente,
LNEG), contou igualmente com a coordenação de especificações técnicas para produtos fabricados quer
António Casal Moura e com o apoio financeiro do em mármore, quer em calcário (Figura 7 b)).
CEDINTEC – Centro para o Desenvolvimento e Inovação

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 7
Mármores e Calcários Ornamentais de Portugal (INETI, 2007)

a) b)
a) Capa.
b) Excerto das Especificações Técnicas.

A temática das especificações técnicas foi abordada, LNEG) a avançar, em 2002, para a informatização do
com mais detalhe, no “Manual da Pedra Natural para seu Catálogo de Rochas Ornamentais Portuguesas (link
a Arquitectura” (Pinto, A. C. R. et alia, 2006). Editado
atual: http://rop.lneg.pt/rop/). Da autoria de Mário
pela DGEG e promovido pelo CEDINTEC, contou com
Machado Leite (atual Vogal do Conselho Diretivo do
a coordenação de António Esteves Henriques (Revista
LNEG) e de António Casal Moura, responsável também
Rochas & Equipamentos) e de Jorge Simões Nunes Tello
(CEDINTEC) e com o apoio do INETI e da Ordem dos pela coordenação do projeto, a preparação da versão
Arquitetos. informatizada do Catálogo contou com a participação
A progressiva substituição do documento em papel pelo de uma equipa de Quadros do IGM e com o apoio
ficheiro em suporte digital, o “universo” de possibilidades financeiro da DGREI — Direção Geral das Relações
que a internet nos trouxe e o caráter imprescindível que Económicas Internacionais, do PEDIP II e da União
ela já assume nas nossas vidas, motivou o IGM (atual Europeia (Figura 8).

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 8
Portal de Rochas Ornamentais Portuguesas do LNEG

(excerto da atual página inicial).

O portal de Rochas Ornamentais Portuguesas é bilingue uma preciosa “ferramenta” para industriais do setor
(português e inglês) e apesar de a sua estrutura ser relati- da rocha ornamental, arquitetos e outros prescritores,
vamente semelhante à do Catálogo que lhe deu origem, comunidade académica e público em geral, sendo dia-
inclui importantes funcionalidades. A possibilidade de riamente consultado por inúmeras pessoas.
se efetuarem pesquisas de rochas pela sua designação
comercial, pela localização municipal das suas explo- 3.3 Os ensaios de caraterização
rações e pelas características (aplicação, tipo de rocha,
cor e diversas propriedades), consideradas isoladamen- A caracterização da rocha ornamental, patente em cada
te, ou conjugadas, são apenas algumas das inovações Ficha Técnica do Catálogo de Rochas Ornamentais
desta plataforma. Desde a sua disponibilização on-line, Portuguesas, inclui a sua petrograf ia, a análise
o portal tem sido alvo de permanente atualização dos química dos seus elementos maiores e um conjunto de
seus conteúdos. As mais abrangentes foram efetuadas no propriedades cuja seleção teve por base três premissas:
âmbito do projeto AIZM — Ação Integrada da Zona dos 1) serem fundamentais na caracterização de qualquer
Mármores (financiamento: FEDER e Estado Português) rocha ornamental;
e do Projeto Âncora 1 — Valorização da pedra natural 2) contemplarem aspetos relacionados com o
portuguesa, do Cluster da Pedra Natural (financiamento: desempenho das rochas após a sua aplicação;
COMPETE / QREN / União Europeia). Sempre que é 3) avaliarem a sua durabilidade, quer em função
oportuno, tem-se procedido à inserção de novos litóti- da utilização, quer em termos de condições
pos, alguns dos quais como resultado da participação climatéricas.
do LNEG em projetos. Este foi o caso do Quartzito de Face à quase inexistência de normas portuguesas de
Murça, cuja inclusão foi efetuada no âmbito da partici- ensaio, no domínio da rocha ornamental, foram ado-
pação do LNEG no Projeto FCT - I&D “Schistresource”. tadas normas da República Federal Alemã (DIN) na
O portal de Rochas Ornamentais Portuguesas tem sido determinação da maioria das propriedades (Quadro 3).

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QUADRO 3
Propriedades determinadas para o Catálogo de Rochas Ornamentais Portuguesas, métodos de ensaios aplicados e provetes utilizados

Propriedade físico-mecânica Método de ensaio aplicado Número de provetes e dimensões

Resistência mecânica à compressão (inicial e Norma DIN 52105 6 cubos


após teste de gelividade) 71mm de aresta
Teste de gelividade Norma DIN 52104 6 cubos
(25 ciclos) 71mm de aresta
Resistência mecânica à flexão Norma DIN 52112 4 paralelepípedos
(200×30×30)mm
Massa volúmica aparente Norma DIN 52102 6 cubos
71mm de aresta
Absorção de água à pressão atmosférica Norma DIN 52103 6 cubos
normal 71mm de aresta
Porosidade aberta LNEC E 216-1968 6 cubos
71mm de aresta
Coeficiente de dilatação linear térmica Método interno 2 paralelepípedos
(24-25×5×5)mm
Resistência ao desgaste NP 309:1962 4 paralelepípedos
(máquina Amsler-Laffon) (60×60×30)mm
Resistência ao choque Método interno 4 placas
(200×200×30)mm

A escolha de normas DIN baseou-se no facto de, à data 4. A INFLUÊNCIA DA ADESÃO DE PORTUGAL
do arranque da elaboração do Catálogo, a República À CEE NA CARACTERIZAÇÃO DAS ROCHAS
Federal Alemã ser a principal importadora de rocha ORNAMENTAIS PORTUGUESAS
ornamental portuguesa. Com efeito, dados estatísticos
sobre a indústria extrativa portuguesa referentes ao
ano de 1981, reportam que das 308.431 toneladas de No ano de 1986 Portugal aderiu à Comunidade Econó-
rochas ornamentais portuguesas exportadas nesse mica Europeia (atual UE – União Europeia). Uma das
ano (considerando, globalmente, blocos e chapas em consequências foi a obrigatoriedade de adoção das dire-
bruto e produtos acabados), 135.185 toneladas (44% tivas europeias, em detrimento da legislação e normas
do total) tiveram como destino a República Federal portuguesas, para todas as áreas de atividade económica.
Alemã (Romão, M. L., 1983). Seguiu-se a Espanha, com O processo normativo europeu tinha tido início em1975,
apenas 11% (Ibidem). Em termos financeiros e efetuando ano em que foi oficialmente criado o CEN — Comité
a conversão para euros (à taxa de câmbio de 200,482 Europeu de Normalização (https://www.cen.eu/Pages/
PTE, adotada pelo Conselho da União Europeia em default.aspx). O seu Conselho Técnico assume o
31/12/1998), o valor global das exportações de rochas controlo total do programa de normalização europeu
ornamentais em 1981 foi de cerca de 14,6 milhões de (CEN, Technical Board, 2018), sendo responsável pela
euros. O montante de exportações para a República criação, coordenação e gestão da atividade normativa
Federal Alemã correspondeu a 27% daquele valor desenvolvida pelas mais de 320 Comissões Técnicas
(cerca de 3,9 milhões de euros). Seguiram-se a Arábia existentes neste Comité. Cada comissão, com designação
Saudita e a França, com cerca de 10% do valor global de e domínio de atuação bem definidos, é constituída por
exportações, para cada país (Ibidem). um ou mais representantes de cada estado membro. No
caso de Portugal, a nomeação dos representantes para

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cada Comissão Técnica europeia é da responsabilidade e italianos, deixando de fora representantes ingleses,
dos ONS - Organismos de Normalização Setorial. O IPQ alemães e suecos, que habitualmente não dominam a
— Instituto Português da Qualidade é responsável pela língua francesa. Despendia-se tempo precioso a repetir
qualificação dos ONS, assim como pela coordenação da em inglês tudo o que tinha acabado de ser discutido em
sua atividade. Por seu turno, o IPQ assume a função de francês, por um grupo restrito.
Organismo Nacional de Normalização, no CEN. O rendimento da atividade normativa das reuniões
Além de cada ONS ter como função acompanhar os iniciais da TC 246 era, também, afetado pela falta
trabalhos de normalização das Comissões Técnicas de conhecimento técnico revelada por alguns repre-
europeias a atuarem na sua área de atividade, também sentantes. Era difícil progredir-se na elaboração de
gere o processo de elaboração das normas portuguesas normas, quando se tinha que estar, permanentemente,
(tradução, redação e revisão) após a edição de normas a despender tempo a explicar conceitos básicos a
europeias. Estas atividades são garantidas através da alguns representantes. Esta situação resultava de
criação de Comissões Técnicas portuguesas (CT). serem oriundos de países com escassos recursos em
A Comissão Técnica europeia responsável pela elaboração rocha ornamental e consequentemente onde esta não é
das normas europeias no domínio da pedra natural é tradicionalmente utilizada como material de construção,
a CEN/TC 246 – “Natural Stones”. A sua congénere não existindo know-how nem na sua utilização, nem na
portuguesa é a CT 118 – Rochas Ornamentais. sua caracterização.
A CEN/TC 246 – “Natural Stones” está dividida em 4 Um dos principais obstáculos a ultrapassar, nas primeiras
grupos de trabalho (WG), cada um com as seguintes reuniões da TC 246, era a notória divergência de objeti-
atribuições: vos entre países maioritariamente importadores de rocha
ornamental e países produtores, como Portugal. Os
primeiros pretendiam normas de ensaio excessivamente
WG1 ― Terminologia, classificação e características
exigentes, em particular as respeitantes aos ensaios de
WG2 ― Métodos de ensaio durabilidade, por forma a garantir um excelente desem-
WG3 ― Normas de produto penho, por um longo tempo, dos produtos importados
WG4 ― Pedra aglomerada em rocha ornamental. Este obstáculo entroncava no
último: a diferença de climas entre os países do norte
da Europa e os do sul. Um exemplo flagrante da difi-
A atividade normativa da TC 246 é definida e discutida
culdade colocada à atividade normativa, da TC 246, por
em reuniões organizadas pelos diferentes estados
estes dois obstáculos, foi a discussão gerada em torno
membros, em regime de rotatividade e habitualmente
do ensaio resistência ao gelo, em particular do número
com periodicidade semestral. A DGGM (e sucessoras:
máximo de ciclos de gelo/degelo a executar, no ensaio
IGM/INETI/LNEG) representou Portugal nesta Comissão
de identificação. Enquanto o grupo dos países impor-
Técnica, na fase de arranque através de António Casal
tadores, do norte, pretendia a execução de um número
Moura e a partir de 2005 através da Autora. No início,
elevadíssimo de ciclos, o grupo dos países produtores,
estas reuniões nem sempre foram muito profícuas,
do sul, desejava implementar métodos cujos resultados
devido a diversas dificuldades, das quais se destacam: -
não penalizassem demasiado algumas das suas rochas
a barreira linguística; - a falta de competências técnicas
e também mais adequados aos climas dos seus países,
na matéria; - os objetivos antagónicos entre países
considerando o comércio interno. No meio deste “braço
produtores e países importadores de rocha ornamental;
de ferro” e como em tantas outras situações, acabou por
- as diferenças climáticas entre os países do norte e os
“ganhar” a solução proposta pelos países com maior
do sul da Europa.
peso económico. Assim, na primeira edição da norma
O CEN tinha estipulado o inglês, como língua oficial das europeia da resistência ao gelo, o número máximo de
reuniões das TC. Contudo, havia uma forte resistência ciclos previsto, para o ensaio de identificação, era de
em cumprir esta regra, principalmente por parte dos 240. Muitas empresas portuguesas, exportadoras de
representantes franceses, sobretudo por falta de domínio produtos fundamentalmente para o norte da Europa,
da língua. Iniciavam longos diálogos em francês, eram, tiveram que submeter as suas rochas a este número de
de imediato, acompanhados por representantes belgas ciclos. Além do avultado custo financeiro do ensaio e

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

do dilatadíssimo tempo de execução (quase meio ano), número de rochas ornamentais consideradas resistentes
havia ainda a incerteza de que a rocha resistisse durante 4 ao gelo, face ao número máximo de ciclos estipulados
meses (tempo de permanência na câmara climática) a um pela norma.
teste termicamente tão exigente (entre +20ºC e -12ºC).
Pese embora as dificuldades, a CEN/TC 246 tem vindo
Com o decurso do tempo, os obstáculos inicialmente
a desenvolver uma atividade relevante no domínio da
colocados à atividade normativa da TC 246 foram sendo
pedra natural, quer na preparação de novas normas,
ultrapassados. O conhecimento sobre a pedra natural
quer nas revisões periódicas obrigatórias das normas já
e sobre o seu comportamento foi aumentando, em
particular pelos representantes de países com poucos editadas, para as quais cada estado membro é convocado
recursos nesta matéria-prima. Também passou a haver a pronunciar-se, através de voto, sobre a sua anulação,
uma boa plataforma de entendimento e de discussão reconfirmação, ou alteração. Das normas europeias
técnico-científica, fruto de anos de convivência nas elaboradas até à presente data por esta comissão técnica
reuniões, a partilhar experiências da pedra. Esta nova europeia, 32 encontram-se ainda em vigor, cobrindo
etapa tem permitido retificar alguns exageros iniciais. matérias como terminologia e denominação (Quadro 4),
A título de exemplo, refere-se novamente o ensaio
métodos de ensaio (Quadro 5), blocos e placas em bruto e
de resistência ao gelo, no qual na edição, atualmente
conselhos de utilização (Quadro 6) e produtos em pedra
em vigor, o número máximo de ciclos de gelo/degelo,
natural (Quadro 7). Algumas das normas inicialmente
para o ensaio de identificação, decresceu para 168.
Esta diminuição do tempo de permanência na câmara elaboradas pela TC 246 têm vindo a ser anuladas, por
climática, de 120 para os atuais 84 dias, permitiu decisão desta comissão técnica, pelo facto de se terem
diminuir drasticamente o tempo do ensaio, bem como os tornado inúteis, face ao seu objetivo e campo de aplicação
seus custos. Mais importante ainda, permitiu aumentar o e, por consequência, terem deixado de ser utilizadas.

QUADRO 4
Normas elaboradaspela CEN/TC 246 no domínio da terminologia e denominação
Versão oficial (inglês) Título da versão oficial (inglês) Título (português)
EN 12440:2017 Denomination criteria Critérios de denominação
EN 12670:2001 Terminology Terminologia

QUADRO 5
Normas elaboradas pela CEN/TC 246 no domínio dos métodos de ensaio
Versão oficial (inglês) Título da versão oficial (inglês) Título (português)
EN 1925:1999 Determination of water absorption Determinação do coeficiente de absorção de
coefficient by capillarity água por capilaridade
EN 1926:2006 Determination of uniaxial compressive Determinação da resistência à compressão
strength uniaxial
EN 1936:2006 Determination of real density and apparent Determinação das massas volúmicas real e
density, and of total and open porosity aparente e das porosidades aberta e total
EN 12370:1999 Determination of resistance to salt Determinação da resistência à cristalização
crystallisation de sais
EN 12371:2010 Determination of frost resistance Determinação da resistência ao gelo
EN 12372:2006 Determination of flexural strength under Determinação da resistência à flexão sob
concentrated load carga centrada
EN 12407:2007 Petrographic examination Estudo petrográfico
EN 13161:2008 Determination of flexural strength under Determinação da resistência à flexão sob
constant moment momento constante
EN 13364:2001 Determination of the breaking load at dowel Determinação da carga de rutura ao nível do
hole orifício de ancoragem

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

QUADRO 5
Normas elaboradas pela CEN/TC 246 no domínio dos métodos de ensaio (continuação)
Versão oficial (inglês) Título da versão oficial (inglês) Título (português)
EN 13373:2003 Determination of geometric characteristics Determinação das características
on units geométricas de elementos em pedra
EN 13755:2008 Determination of water absorption at Determinação da absorção de água à pressão
atmospheric pressure atmosférica
EN 14066:2013 Determination of resistance to ageing by Determinação da resistência ao
thermal shock envelhecimento por choque térmico
EN 14146:2004 Determination of the dynamic modulus of Determinação do módulo de elasticidade
elasticity (by measuring the fundamental dinâmico (através da medição da frequência
resonance frequency) de ressonância fundamental)
EN 14147:2003 Determination of resistance to ageing by salt Determinação da resistência ao
mist envelhecimento por nevoeiro salino
EN 14157:2017 Determination of the abrasion resistance Determinação da resistência ao desgaste
EN 14158:2004 Determination of rupture energy Determinação da energia de rutura
EN 14231:2003 Determination of the slip resistance by Determinação da resistência ao
means of the pendulum tester escorregamento por intermédio do pêndulo
de atrito
EN 14579:2004 Determination of sound speed propagation Determinação da velocidade de propagação
do som
EN 14580:2005 Determination of static elastic modulus Determinação do módulo de elasticidade
estático
EN 14581:2004 Determination of linear thermal expansion Determinação do coeficiente de dilatação
coefficient linear térmica
EN 16140:2011 Determination of sensitivity to changes in Determinação da sensibilidade a alterações
appearance produced by thermal cycles de aspeto provocadas por ciclos térmicos
EN 16301:2013 Determination of sensitivity to accidental Determinação da sensibilidade a manchas
staining causadas acidentalmente
EN 16306:2013 Determination of resistance of marble to Determinação da resistência do mármore a
thermal and moisture cycles ciclos de calor e humidade

QUADRO 6
Outras normas elaboradas pela CEN/TC 246
Versão oficial (inglês) Título da versão oficial (inglês) Título (português)
EN 1467:2012 Rough blocks — Requirements Blocos em bruto — Requisitos
EN 1468:2012 Rough slabs — Requirements Placas em bruto — Requisitos
CEN/TR 17024:2017 Guidance for use of natural stones Orientações para a utilização de pedras naturais

QUADRO 7
Normas elaboradas pela CEN/TC 246 no domínio dos produtos em pedra natural
Versão oficial (inglês) Título da versão oficial (inglês) Título (português)
EN 1469:2015 Slabs for cladding - Requirements Placas para o revestimento de paredes — Requisitos
EN 12057:2015 Modular tiles — Requirements Ladrilhos modulares — Requisitos
EN 12058:2015 Slabs for floors and stairs — Requirements Placas para pavimentos e degraus — Requisitos
EN 12059:2008+A1:2011 Dimensional stone work — Requirements Trabalhos de pedra de cantaria — Requisitos

No que se refere aos produtos em pedra natural, além aplicação, assim como as normas editadas por estas
da CEN/TC 246 – “Natural Stones”, existem atualmente Comissões Técnicas, respeitantes a produtos em pedra
mais 3 Comissões Técnicas a desenvolver normas neste natural, estão patentes nos Quadros 8, 9 e 10.
domínio. As suas designações, objetivos e campos de

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

QUADRO 8
Normas elaboradas pela CEN/TC 178, para produtos em pedra natural
CEN/TC 178 – “Paving units and kerbs” (Unidades para pavimentação e lancis)
Versão oficial (inglês) Título (português)
EN 1341:2012 Lajes de pedra natural para pavimentos exteriores – Requisitos e
métodos de ensaio
EN 1342:2012 Cubos e paralelepípedos de pedra natural para pavimentos
exteriores – Requisitos e métodos de ensaio
EN 1343:2012 Guias de pedra natural para pavimentos exteriores – Requisitos e
métodos de ensaio

QUADRO 9
Normas elaboradas pela CEN/TC 125, para produtos em pedra natural
CEN/TC 125 – “Masonry” (Alvenaria)
Versão oficial (inglês) Título (português)
EN 771-6:2011 Especificações para unidades de alvenaria. Parte 6: Unidades de
alvenaria em pedra natural

QUADRO 10
Normas elaboradas pela CEN/TC 128, para produtos em pedra natural
CEN/TC 128 – “Roof covering products for discontinuous laying and products for wall cladding”
(Produtos para o revestimento de telhados, para assentamento descontínuo, e produtos para o revestimento de paredes)
Versão oficial (inglês) Título em português
EN 12326-1:2014 Ardósias e outras rochas cliváveis para coberturas descontínuas e
revestimentos exteriores de paredes. Parte 1: Especificações para
ardósias e ardósias carbonatadas

As normas de produto em pedra natural contêm diversas antecedeu (Directiva 89/106/CEE, de 21-12-1988), é que a
informações técnicas, designadamente: avaliação da conformidade de um produto (evidenciada
- tipos, ou classes, de produtos por elas abrangidos; pela emissão da Declaração de Conformidade CE) foi
- controlo das dimensões dos produtos e respetiva substituída pela avaliação e verificação da regularidade
periodicidade; do seu desempenho (AVRD). Esta deve ser evidenciada
- propriedades que devem ser determinadas nas através da emissão de uma Declaração de Desempenho
rochas utilizadas no seu fabrico; (sobre esta matéria deverá ser igualmente consultado o
- regularidade da repetição, na determinação das Regulamento Delegado (UE) Nº 568/2014). As normas de
propriedades das rochas. produto em pedra natural editadas mais recentemente
Porém, as normas de produtos em pedra natural já incluem disposições relativas à AVRD. O modelo
também incluem dados fundamentais, relativos à da Declaração de Desempenho, que deve ser adotado
legislação europeia aplicável. Na sua qualidade de pelas empresas transformadoras de pedra natural,
produtos de construção, os produtos em pedra natural consta do Regulamento Delegado (UE) Nº 574/2014. Na
estão atualmente abrangidos pelas disposições do Figura 9 apresenta-se, a título de exemplo, a estrutura
Regulamento (UE) N.º 305/2011 (e pela sua retificação). e informações que deverá conter uma Declaração de
Este regulamento foi juridicamente transposto para a Desempenho, de uma pedra natural utilizada no fabrico
legislação nacional através do Decreto-Lei nº 130/2013, de um só tipo de produto (placas para pavimentos
de 10 de setembro. Uma das alterações introduzidas por e degraus), embora este documento possa incluir
este regulamento europeu, relativamente à diretiva que o informações relativas a vários tipos de produtos.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 9
Exemplo de uma Declaração de Desempenho, de uma pedra natural utilizada no fabrico de produtos regulamentados pela EN 12058:2015

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Por último, mas não menos importante, as normas de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


produtos em pedra natural contêm disposições no que
CARDOSO, J. L., GUERRA, A., FABIÃO, C. (2011)— Alguns aspectos
diz respeito à sua marcação CE, cuja emissão atesta
da mineração romana na Estremadura e Alto Alentejo. Lucius Cornelius
que esse produto satisfaz as disposições da legislação Bocchus. João Luís Cardoso & Martín Almagro-Gorbea (Eds.)Academia
europeia aplicável, que atualmente é Regulamento (UE) Portuguesa da História - Real Academia de la Historia. Lisboa – Madrid,
N.º 305/2011 e respetiva retificação. pp. 169-189.
MACIEL, M. JUSTINO (1998) — Arte romana e pedreiras de mármore
na Lusitânia: Novos caminhos de investigação. Revista da Faculdade
5. CONCLUSÕES de Ciências Sociais e Humanas, n.º 11, Lisboa, Edições Colibri,
pp. 233-245.

Neste documento, foi efetuada uma breve descrição dos MARTINS, OCTÁVIO RABAÇAL (1982) — A indústria extractiva das
rochas ornamentais de Portugal em 1981. Boletim de Minas, Lisboa, Vol.
primeiros registos de aplicação de rocha ornamental
19, Nº 4, pp. 185-262.
extraída em território português, durante a ocupação
MOURA, A. C., CARVALHO, C., ALMEIDA, I. A. et alia (2007) -
romana. Foi apresentado o estado atual da exploração de
Mármores e Calcários Ornamentais de Portugal. Instituto Nacional de
rocha ornamental em Portugal continental, em termos Engenharia, Tecnologia e Inovação.
de pedreiras ativas, toneladas exploradas e respetivo
MOURA, A. C., GRADE, J., RAMOS, J. F., MOREIRA, A. e GOMES,
valor monetário. Relatou-se todo o trabalho documental L. (2000) - Granitos e Rochas Similares de Portugal. Instituto Geológico
e digital, de caracterização e divulgação das rochas orna- e Mineiro.
mentais portuguesas, levado a cabo pelo LNEG e pelas MOURA, A. C., MARTINS, O. R., RAMOS, J. F. et alia (1983) - Catálogo
suas instituições sucessoras, alavancado, maioritariamen- de Rochas Ornamentais Portuguesas, Vol. I. , Laboratório da Direção Geral
te, pela adesão de Portugal à CEE. Descreveu-se como de Geologia e Minas. S. Mamede de Infesta.
se processa a atividade normativa europeia desenvolvida MOURA, A. C., MARTINS, O. R. et alia (1984)— Catálogo de Rochas
no domínio da pedra natural, da responsabilidade da Ornamentais Portuguesas, Vol. II. Laboratório da Direção Geral de
Geologia e Minas. S. Mamede de Infesta.
Comissão Técnica CEN/TC 246. Abordou-se as normas
MOURA, A. C., MARTINS, O. R. et alia (1985) — Catálogo de Rochas
europeias de produto em pedra natural e as obrigações
Ornamentais Portuguesas, Vol. III. Laboratório da Direção Geral de
legais inerentes ao seu cumprimento, em particular no
Geologia e Minas, S. Mamede de Infesta.
que se refere à emissão de Declarações de Desempenho.
MOURA, A. C., MARTINS, O. R. et alia (1994) — Catálogo de Rochas
Este documento destaca o empenho monumental do Ornamentais Portuguesas, Vol. IV. Instituto Geológico e Mineiro, S.
LNEG, das suas instituições antecessoras (INETI, IGM Mamede de Infesta.
e DGGM) e dos seus quadros técnicos, na atividade de PINTO, A. C. R., ALHO, A. A., MOURA, A. C. et alia (2006) —
caracterização e divulgação das rochas ornamentais Manual da Pedra Natural para a Arquitectura. Direção Geral de Energia
portuguesas, que contou com o apoio de industriais e Geologia, Lisboa.

da pedra e de diversas entidades (PEDIP II, IPQ, ROMÃO, MARIA LUÍSA — Elementos estatísticos sobre a indústria extractiva
de Portugal —Produções, importações e exportações em 1981. (1983) -
FEDER, CEDINTEC, CCDRC e DGREI). A importância
Boletim de Minas, Lisboa, Vol. 20, Nº 2, pp. 85-109.
e o impacto positivo que tem tido esta atividade,
particularmente na indústria extrativa e transformadora
portuguesa, legitimam a sua continuidade no futuro.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Microscopia e Microanálise no Estudo de Pedras Ornamentais


Carbonatadas
Luís Dias Luís Lopes
Laboratório HERCULES, Escola de Ciências e Tecnologia da Instituto de Ciências da Terra, Escola de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Évora Universidade de Évora
Email: luisdias@uevora.pt Departamento de Geociências, Escola de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Évora
Email: lopes@uevora.pt
Fabio Sitzia
Laboratório HERCULES, Escola de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Évora José Mirão*
Email: fasitzia@tiscali.it Laboratório HERCULES, Escola de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Évora
Departamento de Geociências, Escola de Ciências e Tecnologia da
Carla Lisci Universidade de Évora
Laboratório HERCULES, Escola de Ciências e Tecnologia da
* Autor Correspondente
Universidade de Évora
Email: jmirao@uevora.pt
Email: clisci@uevora.pt

Palavras Chave: Microscopia, pedra ornamental, calcário, mármore.

RESUMO

A crescente competitividade de economias emergentes tem criado dificuldades aos países Europeus produtores e
exportadores de Pedra Ornamental. Para acrescentar valor, estes países terão que adicionar tecnologia aos seus
produtos.
São apresentados três casos de como as técnicas de microscopia e microanálise permitem antecipar e compreender o
comportamento das rochas, em diversas condições climatéricas. Estas metodologias podem ser usadas em rocha de
obra nova, eventualmente seguindo as normas vigentes ou em objetos património.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

INTRODUÇÃO mental em Ciências da Terra, com uma longa tradição


no seu uso. O segundo, de uso mais restrito, permite
ampliações várias ordens de grandeza superiores. Os
Portugal possui um território com enorme diversidade
tradicionais modos de observação permitem observações
geológica que, ao longo da sua história, tem permitido a
complementares, onde o modo de eletrões secundários
extração e a produção de rocha ornamental. No mercado
é especialmente eficiente com aspetos “topográficos “e
atual, Portugal é um dos países líderes na produção de
os eletrões retrodifundidos respondem à composição
rocha ornamental (Rana et. al., 2016; Lo Vetro& Martini,
química.
2016), que oferece uma ampla variedade de Pedra
Natural, nomeadamente calcários, mármores e granitos. Se à fonte de eletrões num microscópio eletrónico
Os calcários portugueses, assim como os mármores, (ou numa microssonda eletrónica) for associado pelo
são caracterizados pela sua elevada beleza natural e menos um detetor de raios-X (SEM-EDS) é possível
qualidade. As suas propriedades e características colocam efetuar microanálise por espectroscopia de raios-X.
o país numa posição privilegiada na indústria mundial Trata-se do método mais eficiente para reconhecer
da rocha ornamental. a distribuição de elementos maiores, com elevada
resolução espacial. Mas esta aproximação é pouco
No entanto, o surgimento de países onde os custos de
eficiente no que concerne a identificação da mineralogia
produção são mais baixos (e.g. China, Brasil. Turquia,
para qual necessitamos de (micro-) difração de Raios-X
India) implica que a aproximação das empresas
(micro-DRX) ou espectroscopias vibracionais como
portuguesas ao mercado terá que ser diferente do que
micro-FTIR (Fourier-transform infrared espectroscopy) e
foi no passado. Esta diferença deve ser marcada pelo
micro-Raman. A micro-DRX é extremamente eficiente
input tecnológico que colocam nos seus produtos. Do
na identificação de fases cristalinas. Por outro lado,
ponto de vista dos materiais (i.e. da Pedra), estes fatores
a espectroscopia Raman tem muito maior resolução
competitivos só podem ser adquiridos pela certificação
espacial. O Micro-FTIR é especialmente importante na
dos produtos e pelo conhecimento sobre a Pedra (e de
presença de minerais com moléculas como água, sulfato
eventuais tratamentos da mesma).
ou carbonato.
Há muito, que a comunidade geológica sabe que a
complexidade inerente aos materiais e aos processos
geológicos só pode ser profundamente reconhecida CASOS DE ESTUDO
recorrendo a técnicas de microscopia e microanálise. A
sua aplicação a materiais de construção, nomeadamente
Alteração dos calcários “azuis”
a Pedra, é mais recente, mas tem mostrado resultados
O calcário “azul” é um tipo de Rocha Natural de
muito interessantes (Koestler et al, 1985; De los Rios &
diferentes idades, tipicamente utilizado como material
Ascaso, 2005; Domingo et al, 2008; Marszałek, 2008;
de construção em projetos de arquitetura contemporânea
Reedy, 2008).
em países como Bélgica, Portugal, Irlanda, Vietname e
China. Apesar da sua importância económica, sabe-se
DADOS E MÉTODOS que este calcário é suscetível a processos de meteorização,
induzindo alterações nos padrões de cor. Este fenómeno
As técnicas de microscopia e microanálise permitem tem provocado custos onerosos para as companhias
obter a textura e a composição química e em fases (i.e. que o comercializam, principalmente na Pedra que é
composição mineralógica). A análise textural consiste exportada. Com o objetivo de determinar o processo
na capacidade de reconhecer a forma de cada objeto e de meteorização natural da rocha, foi usada uma abor-
o modo como estes se dispõem entre si. Condiciona a dagem multidisciplinar.
resistência mecânica, a resposta aos fatores climatéricos Os resultados obtidos por micro-difração de raios-X
e determina as possibilidades de valorização da Pedra mostram que as fases cristalinas da rocha são sobretudo
em fábrica. Requer um microscópio, normalmente um calcite, quartzo, birnessite e pirite (Fig. 1). Estes dados são
microscópio petrográfico ou um microscópio eletrónico comprovados por microscopia eletrónica acoplada a um
(de varrimento). O primeiro é uma ferramenta funda- sistema de microanálise por espectroscopia de Raios-X,

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

demonstrando-se que a abundância de sulfuretos de FIGURA 1


ferro na matriz da rocha é relativamente elevada (Fig. 2). Fases cristalinas nos fragmentos de rocha
Por outro lado, a superfície da rocha alterada revelou
um enriquecimento em cristais de gesso (Fig. 1), sendo
também detetáveis através da coexistência dos elementos
cálcio e enxofre nas mesmas áreas da superfície da rocha
(Fig. 3).

sem alteração ( ) e com alteração ( ).


Abreviaturas: g-gesso; b-birnessite; q-quartzo; c-calcite; p-pirite.

FIGURA 2
Presença de sulfuretos de ferro (pirite) na rocha

A formação destas estruturas está muito provavelmente H2SO4 (eq1), que por sua vez reagirá com os carbonatos
relacionada com o processo de meteorização natural da da própria rocha, resultando na formação de gesso
pirite (Ritsema and Groenenberg, 1993; Móricz, et. al., (Móricz, et. al., 2012; Chen et. al., 2014), de acordo com
2012). Com base em dados geoquímicos e mineralógicos a reação eq2:
obtidos em estudos anteriores, o mecanismo de oxidação eq1: 2FeS2(s) + 7O2(g) + 2H2O 2FeSO4(s) + 2H2SO4(aq)
da pirite tem sido sugerido (Chen et. al., 2014). Assim,
eq2: CaCO3(s) + 2H+(aq) + SO42-(aq) + H2O CaSO4.2H2O(s)
quando exposta à água e na presença de oxigénio, a
+ CO2(g)
pirite poderá resultar na formação de ácido sulfúrico,

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 3
Formação de sulfatos de cálcio (gesso) na superfície da rocha, resultantes da sua meteorização natural

FIGURA 4
Revestimento da superfície da rocha através da precipitação de compostos

Metodologia ainda em desenvolvimento.

Os resultados obtidos demonstram que há uma alteração o contacto entre este mineral e a água. Deste modo, foi
na mineralogia da rocha, provocada pela sua meteoriza- iniciado o processo de pré-tratamento da pedra através
ção natural. Numa tentativa de evitar a oxidação natural da indução da precipitação de alguns compostos na
da pirite e a consequente reação química entre o sulfato e superfície da rocha (Fig. 4), estando ainda em curso o
o cálcio, têm-se realizado várias tentativas com o objetivo desenvolvimento desta metodologia.
de revestir a superfície da rocha, de forma a minimizar

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Caracterização petrográfica de rochas ornamentais parte dos casos, um cubo com 50mm de aresta e um
A caracterização petrográfica de rochas ornamentais paralelepípedo com 200x200x30mm (Figs. 5 e 6), per-
faz-se segundo a norma europeia EN 12407, de 2007, mitem uma avaliação primária muito razoável. Casos
elaborada pelo CEN/TC 246 “Natural Stones” cuja versão excecionais terão que ser avaliados pontualmente.
portuguesa foi traduzida pela CT 118 (CEVALOR), Numa primeira fase faz-se uma caracterização macroscó-
tendo sido homologada pelo Instituto Português pica com auxílio de lupas de mão ou lupas binoculares. O
da Qualidade segundo o termo de homologação aumento de contraste facilita a identificação dos elemen-
n.º 386/2008, de 2008-11-07. Na aplicação da norma tos constituintes e pode ser facilmente obtido molhando
são ainda indispensáveis a consulta dos seguintes a amostra. Este método expedito também nos permite
documentos: EN 12670 Natural Stone – Terminology e avaliar o aspeto que a rocha terá se o polimento for pos-
EN 12440 Natural Stone – Denomination criteria. No sível. Embora não esteja definido na norma, sempre que
caso das ardósias o estudo petrográfico está definido possível, deve fazer-se o polimento manual de três faces
na norma EN 12326-2. A norma 12407 foi atualizada
ortogonais de um provete cúbico com 50mm de aresta. Se
em 2019 mas no essencial não sofre alterações. Não é
não for expressamente solicitado, a recolha das amostras
nosso objectivo transpor estas normas para o presente
para análise não é da responsabilidade do laboratório
texto, mas apenas transmitir o que, segundo a nossa
que faz a caracterização. Assim, preferencialmente as
experiência, nos parece mais importante. Para detalhes
amostras deveriam ser colhidas orientadas em relação
nos procedimentos e especificações de equipamentos,
a alguma anisotropia observada no terreno (bandado
materiais e consumíveis, devem-se consultar as normas
sedimentar, foliação, orientação preferencial dos cristais,
acima referidas.
lineação de estiramento/interseção, etc.). Muitas proprie-
Como refere a norma EN 12407 “a descrição petrográ-
dades mecânicas e os aspetos texturais (corte “a favor” ou
fica de uma pedra natural é importante não só com o
“ao contra”) são fortemente controladas e condicionadas
objectivo de efetuar a sua classificação petrográfica,
pelas direções de corte. Assim, o desempenho, enquanto
como também para evidenciar aspectos que influenciam
rocha ornamental, pode ser comprometido se não se
o seu comportamento químico, físico e mecânico. De
respeitar a estrutura (aspecto macroscópico) e a textura
igual forma, poderá ser necessária a determinação da
(aspeto microscópico) da mesma.
proveniência da pedra (por exemplo no caso da conser-
vação e restauro de edifícios históricos ou monumentos). A caracterização petrográfica em amostra de mão inclui
É assim essencial caracterizar as pedras naturais não só a indicação da cor, ou intervalo de cores, que a rocha
do ponto de vista dos seus componentes minerais e da apresenta, sendo aconselhável a utilização de uma carta
sua textura ou estrutura, como também em termos de de cores (Rock Colour Chart), estrutura, dimensão do
outras características como: cor, presença de veios, de grão, fraturas e sua abertura, existência de poros e ca-
fósseis, de descontinuidades, etc.” vidades assim como a natureza do seu preenchimento,
Para uma identificação precisa, é fundamental que os referência ao estado de alteração e meteorização e indi-
provetes analisados sejam representativos da rocha em cação de quaisquer manchas daí resultantes, presença
análise. Assim, a sua dimensão deve ser preferencial- de macrofósseis, presença de xenólitos e outras obser-
mente determinada em função da heterogeneidade e vações pertinentes que auxiliam na caracterização da
dimensão dos constituintes. Usualmente, e na maior rocha.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 5
Provete cúbico de Calcário Moleanos, com indicação do plano de Provete cúbico de mármores branco de Estremoz, com indicação do
estratificação, a vermelho, e superfície estilolítica, a azul plano de orientação cristalográfica preferencial

Neste caso as lâminas delgadas cujas imagens se representam adiante,


foram realizadas segundo este plano e segundo um plano perpendicular
que também contêm o estiramento mineral.

FIGURA 6
Provete paralelepipédico de diorito, isótropo e homogéneo à escala da amostra de mão

Representam-se as faces opostas, polida (à esquerda) e serrada (à direita).

O passo seguinte consiste na análise ao microscópio (Fig. 7). Duas das lâminas são sempre feitas em seções
petrográfico. Para tal, no mínimo e segundo os proce- ortogonais entre si de forma a controlar melhor eventuais
dimentos descritos na norma, elaboram-se duas lâminas anisotropias presentes na rocha. A norma EN 12407
delgadas. Corta-se uma talisca da rocha que se cola também refere a necessidade de se prepararem seções
numa lâmina de vidro com 44x28mm, ou 75x50mm, polidas no caso de a rocha apresentar uma percentagem
se a textura for muito grosseira, posteriormente faz-se elevada de minerais opacos.
o desgaste até a rocha ficar com 0,030 ± 0,005mm

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 7
Talisca e lâmina delgada de dois mármores de Estremoz

O campo de visão nas duas fotos é sensivelmente de 4 centímetros. Neste caso as amostras foram orientadas e as seções
representadas são perpendiculares à orientação preferencial cristalográfica dos cristais de calcite.

A norma refere ainda que para assegurar que a classifi- A descrição microscópica deve incluir informações sobre a
cação petrográfica seja objetiva, é essencial que a estrutura e a partir daí indicar a que tipo de rochas, ígnea,
caracterização do material seja, tanto quanto possível, sedimentar ou metamórfica, a rocha em análise pertence.
quantitativa. Deste modo, ao microscópio petrográfico Em seguida e em função da estrutura determinada,
faz-se uma estimativa ótica, i.e. através da contagem de faz-se uma avaliação dos constituintes (minerais/grãos)
pontos ou medição de áreas relativas ocupadas pelos quanto à natureza, dimensão, percentagem relativa
diferentes elementos constituintes. No caso das rochas de cada família identificada, hábito, forma, grau de
sedimentares consideram-se os elementos figurados calibração (nas rochas sedimentares), fronteira entre
e a matriz envolvente, no caso de rochas ígneas e elementos constituintes, orientação (Fig. 8), indícios de
metamórficas, avalia-se a percentagem relativa dos meteorização e alteração.
minerais presentes.

FIGURA 8
Duas lâminas delgadas, observadas em nicóis cruzados, da mesma rocha
(mármore branco de Estremoz, referentes ao provete cúbico ilustrado na Fig. 5) obtidas em direções ortogonais

À esquerda segundo a direção preferencial da rocha, “corte ao favor” (segundo esta orientação a rocha apresenta uma
textura granoblástica de grão médio), e à direita segundo o corte “ao contra”. Nesta imagem é bem visível a orientação
preferencial dos cristais de calcite que definem uma microxistosidade localmente conhecida por “corrume”.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

No caso das rochas vulcânicas e sedimentares, deve ser Nos casos extremos em que a análise petrográfica, macro
dada especial atenção à matriz que suporta os elementos e microscópica, não permita classificar da rocha com
f igurados uma vez que o desempenho enquanto rigor, podem ser utilizadas outras técnicas químicas ou
rocha ornamental está intrinsecamente relacionado difração de raios-X.
com a mesma. Por exemplo, calcários esparíticos são Ao responsável técnico cabe a redação e assinatura do
frequentemente mais pulverulentos e porosos que relatório de ensaio referente à análise petrográfica.
os micriticos que se apresentam mais compactos e Este relatório deverá ser redigido segundo o estipulado
menos porosos; em contrapartida são mais propensos pela norma e deve incluir todas as determinações que
a apresentarem microfraturas e consequentemente são fundamentem a classificação científica proposta para
mais frágeis. Outras propriedades como a presença de a rocha.
descontinuidades, superfícies estilolíticas, fissuras e
fraturas abertas, com e sem preenchimento, também
devem ser referidas (Fig. 10).

FIGURA 9
Duas imagens do mesmo campo de visão, em nicóis cruzados à esquerda e em nicóis paralelos,
à direita, de uma lâmina delgada de calcário ooesparítico, preparada com solução da alizarina vermelha

Esta preparação permite a identificação da calcite em relação aos outros carbonatos. Na imagem à direita todos os pontos
brancos correspondem a espaços vazios deixados pela fragmentação da rocha. Este aspeto traduz-se nos vestígios pulverulentos
que a rocha deixa ao tato e indicia elevada porosidade da mesma.

Cabe ao proprietário ceder os provetes e indicar um nome fica; i.e. oosparite/intrasparite/biosparite, neste caso o
comercial para a rocha em análise. A nossa experiência diz- cimento/matriz será sempre idêntico mas a natureza dos
-nos que, utilizando a tabela de classificação de Folk (1959, elementos figurados varia. Em casos ambíguos, onde a
1962) para calcários, rochas sedimentares carbonatadas estimativa da percentagem relativa dos elementos figu-
com nomes comerciais distintos podem corresponder ao rados, deixa dúvidas, é usual a proposta de nomes com-
mesmo tipo petrográfico e, embora menos frequente mas postos, i.e. oobiosparite. Para um geólogo, isto é normal
também acontece que, provavelmente devido a variações e pode ser constatado em afloramento através de uma
naturais de fácies ou por amostragem seletiva e nem variação lateral de fácies induzida por um processo
sempre representativa, a mesma designação comercial sedimentar de calibração. As propriedades mecânicas da
conduza a rochas com distinta classificação petrográ- rocha não sofrem alterações significativas.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 10 utilizou-se o microscópio ótico de luz polarizada. A


Lâmina delgada de um calcário micritico com uma superfície caracterização por microscopia ótica foi efetuada em
estilolítica sublinhada pelo depósito de minerais opacos, provavel- lâminas delgadas polidas com 30µm de espessura. A
mente óxidos de Fe e/ou argilas, resíduos insolúveis resultantes da
dissolução da rocha sobre pressão litostática. Maioritariamente estes caracterização de DRX em pó de rocha permite detetar
planos são subparalelos à estratificação da rocha fases minerais não identificáveis no microscópio de
polarização, tais como produtos de alteração de rocha
e argilas. Uma análise detalhada por microscópio
eletrónico de varrimento com espectroscopia de raios-X
(SEM-EDS) realizada nas lâminas delgadas e fornece
dados composicionais por microanálise.
A rocha, caracterizada por microscopia ótica, mostra
cerca 75% de micrite e 25% de cimento de esparrítico
(Fig. 12a). Outros minerais estão presentes até 5% do
volume e consistem em quartzo, feldspato-K e minerais
opacos. Bioclastos de foraminíferos (i.e. Globigerinidae,
Fig. 12b), crinoides, braquiópodes, briozoários estão
dispostos aleatoriamente na matriz calcária (Lisci, 2014).
A fauna fóssil consiste em organismos marinhos de água
limpa e oxigenada com grau de salinidade normal,
indicando um ambiente de deposição próximo da costa
A observância das regras estipuladas nas normas é (Barroccu et al., 1981). De acordo com a classificação de
condição de credibilidade para a correta identificação calcário Folk, esta rocha é considerada um biomicrito.
das rochas ornamentais e permite a tradução para uma A difração de raios-X da rocha em pó confirma a
linguagem universal dos nomes comerciais atribuídos presença de minerais como calcite, quartzo e feldspato-K
pelas empresas, permitindo deste modo aos prescritores já observados em OM e ainda illite (Sitzia, 2019).
uma avaliação mais independente quando escolhem a
matéria-prima para as suas obras.

Estudo de Pedra em Património construído: o


calcário micritico Pietra Cantone (Sardenha, Itália)
Os calcários, particularmente os do tipo biomicrite,
são amplamente utilizados na construção de edifícios e
monumentos históricos nos países mediterrânicos (e.g.
Portugal, Espanha, Itália, Malta). Este facto resulta da
sua disponibilidade como matéria-prima e a facilidade
com que são trabalhados. O calcário biomicrítico
Pietra Cantone é especialmente importante na área do
Mediterrâneo (Columbu et al. 2017) e, em particular, no
sul da Sardenha (Itália). Este litótipo é frequentemente
usado na cidade de Cagliari como silhares (“cantone”
em italiano) para a construção de edifícios antigos e
contemporâneos como a muralha da cidade, palácios do
município, igrejas (Fig. 11a, b) e torres. Trata-se de uma
rocha de idade miocénica, marinha, formada com uma
coluna de água entre 60-80m (Cherchi 1974).
Para definir a composição mineralógica das rochas
e as suas características petrográficas como o fabric,

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 11
Monumentos usando Pietra Cantone

(a) Basílica de Santa Croce (Cagliari, Itália). (b) Basílica de San Saturnino (Cagliari Itália).

FIGURA 12
Lâmina delgada da Pietra Cantone (Nicóis cruzados)

(a) Matriz micritica e esparrite. b) Detalhe de bioclasto de Globigerinidae.

Nos biomicritos amostrados nos monumentos da cidade em função da proporção de água na sua estrutura,
de Cagliari (e.g. Basílica de São Saturnino, São Pancrácio produzindo pressões consideráveis, causando fraturas
e Torre do Elefante), a difração de raios-X mostra a internas significativas, que podem comprometer a
presença de fases minerais resultantes do processo de integridade da rocha (Columbu et al. 2019).
sulfatação da matriz carbonatada, por External Sulphate A alteração da rocha nestes casos consiste em eflorescência
Attack (ESA). A ESA é causada pelo anião SO42- das superficial, como mostrado na figura 13a, mas também
emissões antropogénicas (tráfego urbano) e de fontes em crostas negras (Fig. 13b), alveolização / pulverização
naturais, como ambientes marinhos. (Fig. 13c) e colonização biológica (Fig. 13d) podem
A alteração da rocha produz minerais da classe dos ocorrer. A alveolização / pulverização consiste na perda
sulfatos, como Thenardite (Na 2SO 4) e a Mirabilite de detritos com tamanho de partícula 10 <φ <100µm.
(Na 2 SO 4 .10H 2 O), frequentemente sob a forma de Por exemplo, na Basílica de São Saturnino registam-se
eflorescência (Fig. 13a), em ambientes específicos com deposições de resíduos na ordem de 470g/m2/ano, na
elevada humidade e oscilações geralmente cíclicas da área da abside (Sitzia et al. 2020).
temperatura. A duas fases são solúveis e transformam-se No biomicrito, o processo de sulfatação da matriz
uma na outra quando as condições termo-higrométricas de carbonato também é visível pela observação em
se alteram. O volume destes dois minerais pode variar SEM-EDS (Fig. 14).

112
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Uma fração da textura biomicritica em lâmina delgada e início da sulfatação da rocha que não foi identificada com
previamente observada por microscopia ótica (Fig. 14a) o microscópio ótico. Estes processos levam a mudanças
foi mapeada por SEM-EDS (Fig. 14b). Neste caso, o SEM na mineralogia da rocha e consequente alteração in-situ
provou ser uma técnica indispensável para identificar o das características físicas e mecânicas.

FIGURA 13

(a) Eflorescências numa parede da Basílica de San Saturnino (Cagliari, século XII d.C.), (b) crostas negras com gesso na
torre San Pancrazio (Cagliari século XIII d.C.), (c) forte alveolização e pulverização das paredes em edifícios históricos da
cidade de Cagliari, (d) exemplos de biodegradação de calcário devido à proliferação de organismos em uma superfície
vertical.

FIGURA 14

(a) Microscopia ótica em luz polarizada de calcário (b) calcário biomicritico por SEM-EDS. A cor azul indica a
biomicritico. presença de enxofre (S) devido a um processo superficial
de sulfatação.

113
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Assim, o calcário biomicritico, ou simplesmente AGRADECIMENTOS


biomicrito, denominado Pietra Cantone, apesar de sua
disponibilidade e fácil trabalhabilidade, apresenta
Este trabalho foi apoiado por diversas entidades e
problemas de alteração relacionados com as suas
projetos, nomeadamente pela Fundação para a Ciência
características texturais, mineralógicas e geoquímicas
e Tecnologia (FCT), projetos UID/Multi/04449/2013
apenas percetíveis por técnicas como difração de
e UID/GEO/04683/2013, apoiado pelo FEDER e
Raios-X e por microscopia ótica e eletrónica. Além
COMPETE 2020 com os projetos POCI-01-0145-
disso, a pedra possui uma porosidade efetiva de 35%,
FEDER-007649 e POCI-01-0145-FEDER-007690. As
o que favorece a absorção de grandes quantidades de
atividades experimentais são apoiadas pelos projetos
soluções aquosas. Outras características, como alta
INOVSTONE4.0 (POCI-01-0247-FEDER-024535)
higroscopicidade e baixa permeabilidade, devido
e ColourStone (A LT20-03-0145-FEDER- 000017),
aos grandes teores de argila, facilitam a retenção na
financiados pelo FEDER, Portugal 2020 e Alentejo 2020.
pedra de soluções salinas prejudiciais. Além disso, a
fração microcristalina carbonatada da matriz, tem uma Luís Dias agradece ainda à FCT pela bolsa de doutora-
forte apetência para reagir com os aniões sulfatados mento (SFRH/BD/111498/2015) cofinanciada pelo Fundo
da atmosfera, especialmente em áreas citadinas, Social Europeu (ESF) e fundos nacionais.
promovendo a formação de eflorescência e causando
problemas, como pulverização e alveoliozação. Este
fenómeno é particularmente nefasto em ambientes
húmidos e / ou mal ventilados, típico da área de Cagliari,
onde a humidade relativa média varia de 65% a 80%.
REFERÊNCIAS
Neste ambiente, os processos de alteração progridem
rapidamente, envolvendo os blocos utilizados na BARROCCU G., CRESPELLANI T., LOI A. (1981) - Caratteristiche
construção de elementos estruturais dos edifícios. Assim, geologico-tecniche del sotto suolodell’area urbana di Cagliari. Riv. Ital.
Geotec., 15:98-144.
os mecanismos de meteorização estão relacionados com
as caraterísticas das rochas, a presença de aerossóis CHEN Y, LI J, CHEN L, HUA Z, HUANG L, LIU J, XU B, LIAO B
and SHU W (2014) - Biogeochemical processes governing natural pyrite
marinhos e a poluição citadina.
oxidation and release of acid metalliferous drainage. Environmental Science
& Technology 48 (10): 5537-5545. DOI: 10.1021/es500154z;

CONCLUSÕES CHERCHI A. (1974) - Appunti biostratigrafici sul Miocene della Sardegna


(Italia). In: Actes V congrès du Neog. Mèdit., Lyon.
COLUMBU S., LISCI C., SITZIA F., BUCCELLATO G. (2017) -
A crescente competitividade de países como a China, Physical–mechanical consolidation and protection of Miocenic limestone used
o Brasil, a Turquia e outros no setor das Pedras on Mediterranean historical monuments: the case study of Pietra Cantone
Ornamentais aumenta a necessidade de países como (southern Sardinia, Italy) Environ Earth Sci., 76:148.
a Itália, Portugal e a Espanha acrescentarem valor aos COLUMBU S., MARCHI M., MARTORELLI R., PALOMBA
seus produtos. M., PINNA F., SITZIA F., TANZINI L., VIRDIS A. (2019) - Architettura
romanica e territorio. Indagini archeometriche sulle pietre e i marmi delle chiese
Este aspeto está inegavelmente associado à capacidade della Sardegna in età giudicale: nuovi approcci per la loro caratterizzazione,
de identificar e antecipar o comportamento futuro valorizzazione e conservazione. CUEC, Cagliari.
dos materiais. Considerando a natureza complexa e DE LOS RIOS, A., & ASCASO, C. (2005) - Contributions of in situ
heterogénea dos materiais rochosos, o uso de técnicas de microscopy to the current understanding of stone biodeterioration. International
microscopia e microanálise é essencial. Só desta forma Microbiology, 8 (3), 181.
é possível perceber a natureza dos materiais e a forma DOMINGO, C., DE BUERGO, M. A., SÁNCHEZ-CORTÉS, S., FORT,
como se alteram. R., GARCÍA-RAMOS, J. V., & GOMEZ-HERAS, M. (2008) - Possibilities
of monitoring the polymerization process of silicon-based water repellents and
Este aspeto é importante em “obra” nova, onde alguns
consolidants in stones through infrared and Raman spectroscopy. Progress in
procedimentos devem seguir as normas vigentes. E em Organic Coatings, 63(1), 5-12.
objetos de património, como património construído, EN 12326-2:2011. Natural stone test methods. Slate and stone for
onde a importância económica destes objetos é medida discontinuous roofing and external cladding. Methods of test for slate
pelos impulsos turísticos que suscitam. and carbonate slate.

114
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

EN 12407:2007. Natural stone test methods. Petrographic examination


EN 12407:2019. Natural stone test methods. Petrographic examination
EN 12440:2017. Natural stone test methods. Denomination criteria
EN 12670:2019. Natural stone. Terminology
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lausanne, 25-27.9. 1985 (pp. 617-626).
LISCI C. (2014) - Physical and chemical analysis of “Pietra Cantone” of
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Italy: Overview of lithic productions. Quaternary International 423:
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building stone materials by simulating daily, seasonal thermo-
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climate. Constrution and building materials. https://doi.org/10.1016/j.
conbuildmat.2020.121009

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

A Revolução Tecnológica e Humana do Setor da Pedra


Joana Frazão Inês Frazão
Gestora de Recursos Humanos Gestora de Marketing
PHD em gestão PHD em gestão
E-mail: ifrazao@fravizel.pt
E-mail: ipfrazao@fravizel.pt
Jorge Frazão
Gestor de Qualidade e Ambiente
Eng. Mecatrónica
E-mail: ifrazao@fravizel.pt

Palavras Chave: Progresso técnico, recursos tecnológicos, recursos humanos, indústria 4.0.

RESUMO

As mudanças aceleradas no mercado exigem que as empresas desenvolvam capacidades dinâmicas para se manterem
competitivas. Isto significa que as empresas têm de ter capacidade para integrar, construir e reconfigurar competên-
cias internas e externas para abordar ambientes em rápida mudança.
Estas capacidades têm de ser desenvolvidas em várias vertentes, o objetivo deste artigo é explorar as áreas tecnológicas
e humanas no setor das rochas ornamentais em Portugal. As tecnologias da Fravizel são autónomas, responsivas e
digitais o que vai permitir o progresso técnico do setor. Este deve ser acompanhado pela evolução das competências
digitais da força de trabalho do setor.
A Indústria 4.0 (quarta revolução industrial) surge como resposta ao desafio de automatizar processos e aumentar a
atratividade para os mais jovens para o setor.

117
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

INTRODUÇÃO RECURSOS TECNOLÓGICOS

A extração de pedras naturais tem desafios associados, Na extração de rocha natural, a necessidade de otimi-
pois é um elemento natural com características intrínse- zação constante de processos e recursos tem levado à
cas, onde cada “pedra” é uma “pedra” o que influencia inovação tecnológica. Dessa constante necessidade de
os métodos de exploração (Frazão & Frazão, 2013). otimização de processos e recursos, têm surgido aborda-
Um dos grandes desafios é desenvolver tecnologicamente gens inovadoras que têm dado a este setor a capacidade
os processos na extração de rocha ornamental bem como de se adaptar às tendências e exigências atuais. Segundo
desenvolver competências digitais nos intervenientes a Fravizel, empresa que desenvolve tecnologia para o
nestes processos. Estamos perante uma produção setor, o processo de extração tem 4 fases (Fig.1).
acelerada de conhecimento e tecnologia (Frazão, Para a fase de perfuração, são utilizadas máquinas de
Carvalho, Esperança & Frazão, 2018). perfuração por martelo fundo furo (MFFR).
Existe uma transformação das profissões e dos tipos A fase de corte é caracterizada por utilização de má-
de trabalho para uma cultura de base digital, onde quinas de corte por fio diamantado (MFCR) de grande
novos conceitos, tecnologias e processos se desenvolvem capacidade.
continuamente (Gamboa, 2017). Assiste-se a um Para a fase de derrube, existem sistemas de deslocamento
desencontro entre as competências das pessoas e o de alta potência Tomba Bancadas Hidráulico (TB) para
que as empresas precisam para poder competir a uma aumentar a produtividade neste processo em mais de
escala internacional (Figueiredo, 2016). Neste sentido, 80% (Frazão & Frazão, 2013).
as empresas veem na falta de trabalhadores qualificados Por fim, para o processo de esquadrejamento, está a
o seu maior desafio na implementação da nova filosofia Máquina de Perfuração com Rastos (MPL), que pode
de trabalho (Lorenz, Küpper, Rüßmann, Heidermann, aumentar a produtividade entre 30 e 70% (Frazão &
& Bause, 2016). Frazão, 2015) ou máquinas de corte por fio diamantado
(MFER) (Frazão, André & Frazão, 2018) que permite
ESTADO DA ARTE um aumento de produtividade e aumento do material
explorado.

Como revisão da literatura desenvolvemos duas grandes


áreas importantes do setor: recursos tecnológicos e
recursos humanos.

FIGURA 1
Fases de extração da Pedreira de Rocha Natural

A introdução de máquinas com cada vez mais tecnologia interfaces ao dar retorno de informação das máquinas e
tem permitido não só aumentos evidentes de produti- dos parâmetros de funcionamento permitem ao opera-
vidade mas também de segurança para os operadores dor a tomada de decisões fiável e segura. As tecnologias
pois os interfaces homem/máquina, permitirem operação vão permitir também aumentar a sustentabilidade am-
remota libertando operadores das zonas de perigo. Esses biental pois permitem gerir e otimizar recursos.

118
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

O desafio é contínuo, pois se por um lado a otimização As que deixam de ser mais relevantes são a Atenção
de processos administrativos poderá parecer mais fácil aos detalhes, Confiabilidade e coordenação e Gestão
de implementar a digitalização, os conceitos da indústria do tempo. As que surgem em 2022 são o Design de
4.0 poderão representar grandes desafios na indústria tecnologia e Programação e análise e Avaliação de
extrativa por causa das homogeneidades intrínsecas da sistemas.
rocha natural. Est as competências de base impor t a m pa ra a
Máquinas com manutenção preditiva e uma produção transformação digital importante às organizações do
mais automatizada necessitam de tecnologias base, agora e do futuro.
tais como, a realidade aumentada e a digitalização da A maquinaria industrial produtiva não processa simples-
produção para serem eficazes. mente o produto, mas o produto fala com a máquina
O cenário de que o próprio equipamento comunica com para lhe dizer, exatamente, o que fazer (smart products)
a cadeia produtiva permite uma produção inteligente que (Bechtold, Lauenstein, Kern, & Bernhofer, 2014)
propicia o aumento da cadeia de valor e uma diminuição buscando eficácia e eficiência.
dos desperdícios produtivos, a nível de recursos materiais Pelo que, os trabalhadores devem lidar com a informação
e de tempo. no momento em que estão a produzir. De acordo com
A possibilidade de termos uma rede que comunique com Ala-Mutka (2011) a competência digital envolve o uso
o seu operador, permite a alteração de forma preventiva confiante e crítico da Tecnologia da Sociedade da
e não resolutiva. Informação para trabalho, lazer e comunicação.
A tecnologia desenvolvida pelas máquinas Fravizel,
procura colmatar necessidades (innovation to market) e CONCLUSÃO
corresponder a expetativas necessárias à customização
de forma economicamente viável, que implica a sobrevi-
vência no mercado. O Digital permite a interligação dos A gestão de recursos tem um papel preponderante
sistemas e posterior comunicação com os seus líderes. para a otimização da exploração quer na componente
tecnológica quer na aprendizagem constante dos
colaboradores. Importa aprender a aprender e a
RECURSOS HUMANOS desaprender.
Prevê-se que cerca de metade das atuais profissões têm
Ao analisarmos a força de trabalho do setor em 2014 uma elevada probabilidade de perda de emprego na
verificamos que a maioria dos trabalhadores estão na próxima década, sendo substituídas pela Tecnologia.
casa dos 40 anos de idade, com o 3º ciclo do ensino Esta nova era é caracterizada pela denominada
básico e a sua antiguidade na empresa a rondar os 10 Quarta Revolução Industrial, ou seja, Indústria 4.0.
anos e as qualificações variam entre qualificados e semi- (Frey e Osborne, 2013). É através de acesso a novos
-qualificados (Frazão, 2016). recursos humanos e tecnológicos que vai ser possível
O desenvolvimento das suas competências vai além da dar resposta aos novos desafios e permitir o progresso
sua formação académica e profissional, passando por técnico no setor. O progresso técnico contribui para
uma aprendizagem e adaptação contínua à tipologia e o crescimento na medida em que diminui os custos
conteúdo do trabalho no momento em que estão a lidar de produção, aumentando a produtividade (Carvalho,
com ele. 2010). Os trabalhadores aprendem a trabalhar com novas
máquinas os empresários concebem novos produtos,
A própria tecnologia tem um papel fulcral na interação
e mais setores da economia usufruem de melhores
homem-máquina permitindo ao operador desenvolver
padrões de vida, resultantes da melhoria dos métodos
as competências de uma forma intuitiva.
de produção (Carvalho, 2010).
O World Economic Forum (2018) ordenou as competências
consideradas mais importantes para 2018, tendências
e em decadência em 2022. O Pensamento analítico
e inovação e Aprendizagem ativa e estratégias de
aprendizagem são duas das que se mantêm em 2022.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

REFERÊNCIAS

ALA-MUTKA, K. (2011) - Mapping Digital Competence- Towards a


Conceptual Understanding. European Union. Retirado de ftp://jrc.es/
pub/EURdoc/JRC67075_TN.pdf.
BECHTOLD, J., KERN, A., LAUENSTEIN, C. & BERNHOFER, L.
(2014) - Industry 4.0 - The Capgemini Consulting View Sharpening the Picture
beyond the Hype. Capgemini Consulting.
CARVALHO, R. M. (2010) - Compreender + África, fundamentos para
competir no Mundo (2 ed.). Lisboa: Debates, Círculo de Leitores e Temas
e Debates.
FRAZÃO, J., FRAZÃO I. (2013) - New Technological Approach for
the increased of Productivity in Quarries. Germany: 2nd International
Conference on Stone and Concrete Machining, pp 51-57.
FRAZÃO, JP., CARVALHO, R. M., ESPERANÇA, J.P., (2018) - The
Evolution of the Stone Workforce. Brasil: Global Stone Congress.
FRAZÃO, J., ANDRÉ, F., FRAZÃO, I. (2018) - Innovative optimization in
the diamond wire cutting process in Quarries. Brasil: Global Stone Congress.
FRAZÃO, J. (2016) - Evolução do Colaborador no Setor da Pedra (Tese de
Mestrado). Instituto Superior de Gestão, Lisboa.
FIGUEIREDO, G. (2016, Setembro) - Sector automóvel lidera presente e
futuro. Moldes & Plásticos, p, 94.
FRAVIZEL (2019) - Retirado de www.fravizel.com
FREY, C. B. & OSBORNE, M. A. (2013) - The Future of Employment: How
Susceptible are Jobs to Computerisation? Oxford: Oxford University Press.
GAMBOA, R. (2017, Outubro) - Competências Profissionais - O Futuro.
Comunicação apresentada na conferência AIMMAP Formação Desafios
e Competitividade, Porto, Portugal.
LORENZ, M., KÜPPER, D., RÜßMANN, M., HEIDERMANN, A., &
BAUSE, A. (2016, May) - Time to Accelerate in the Race Toward Industry
4.0. Bcg.perspectives by The Boston Consulting Group, 1–5.
WORLD ECONOMIC FORUM. (2018) - The Future of Jobs Report.World
Economic Forum.

120
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Rochas Ornamentais Portuguesas


Operações Indústria4.0 como Resposta ao Procurement BIM
Agostinho da Silva Andreia Dionísio
CEFAGE, Universidade de Évora, Évora, Portugal CEFAGE, Universidade de Évora, Évora, Portugal
MARE - Marine and Environmental Sciences Centre, Polytechnic Email: andreia@uevora.pt
of Leiria, Portugal
ISG, Instituto Superior de Gestão. Lisboa, Portugal
Luís Coelho
CIIC, Polytechnic of Leiria, Leiria, Portugal
CEFAGE, Universidade de Évora, Évora, Portugal
Email: a.silva@zipor.com
Email: lcoelho@uevora.pt

Palavras Chave: Indústria 4.0, BIM, Cyber-Phisical systems, rochas ornamentais.

RESUMO

O setor das Rochas Ornamentais (RO) gera em Portugal mais de 16.000 empregos diretos, registou um crescimento
das exportações em 2019 de 15% e centra a sua principal âncora competitiva na produção customizada com escala.
Sendo previsível que a prazo o Building Information Modelling (BIM) seja a tecnologia de projeto e gestão de obras a
nível global, a qual orienta o procurement para produtos standard. O presente estudo avalia a resposta da Indústria 4.0
(I-4.0) às ameaças decorrentes do procurement BIM na Arquitetura Engenharia e Construção.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Da transição da Terceira para a Quarta Era Industrial a edifícios serão tendencialmente inferiores aos atuais; (iv)
que assistimos, emergem paradigmas como o Building a construção e manutenção dos edifícios terá tendência
Information Modelling (BIM) [1], uma tecnologia digital para se tornar ecologicamente mais sustentável; (v) os
com o qual as entidades governamentais buscam trans- produtos terão de ser fornecidos sem erros, pelo que a
parência e eficiência na Arquitetura Engenharia e Cons- tolerância à não-qualidade tenderá a ser menor, quando
trução (AEC) por via da abordagem global e “modelo de comparada com a situação pré-BIM [3].
compras” (procurement) orientado para produtos standard Da mesma forma que o BIM é um Paradigma emergente,
(Figura 1). também a designação “Indústria 4.0” (I-4.0) o é. O termo
Com impactos ainda imprevisíveis na cadeia de abaste- I-4.0 começou por ser a designação de uma Iniciativa
cimento, o procurement BIM poderá implicar, em alguns Governamental do Governo Alemão, com vista à digita-
setores da cadeia de abastecimento da AEC, uma lização da sua indústria, acabou por se tornar popular
reinvenção do próprio modelo de negócio, especialmente como significado de um novo conceito de operações que
naqueles que sustentam a sua competitividade na combina e integra diferentes tecnologias digitais como
customização dos produtos, como é o caso do setor das a robótica avançada, inteligência artificial, computação
Rochas Ornamentais (RO) em Portugal [2]. em nuvem, Internet das Coisas, Big Data, Realidade
O setor das RO gera em Portugal mais de 16.000 Aumentada, Produção Aditiva, entre muitas outras [4].
empregos diretos e as exportações de 2019 superaram É hoje aceite por académicos e práticos que as operações
em 15% o melhor ano de sempre que havia sido 2018, I-4.0 incorporam todos estes conceitos numa cadeia de
com incrementos de valor anuais muito significativos. valor interoperável, partilhável e independentemente do
Com a sua principal vantagem competitiva ancorada espaço geográfico. Porém, o que caracteriza a Quarta
na customização dos produtos em pedra, da deriva do era Económica a que assistimos é que pela primeira
procurement na cadeia de abastecimento da AEC para vez na História, os clientes colaboram na conceção e
produtos standard, resultará um problema potencial à por vezes até na produção dos produtos que compram,
sustentabilidade económica desta importante atividade interagindo por isso mesmo, com o próprio Cyber-Physical-
nacional [2]. -System (CPS) onde os produtos estão a ser fabricados.
Em modo I-4.0, o CPS “funde” o meio físico com o meio
FIGURA 1 digital [5]. Os bens começam por ser apenas o seu próprio
Dimensões dos objetos BIM fingerprint digital, o qual, em modo metamorfótico,
Dimensões
Significado Funcionalidade
passará à condição de smart object, a partir do qual se
BIM
vão tornando físicos ao longo do processo produtivo, até
3D Geometria sólida Construção digital 3D da obra
serem expedidos e chegarem ao cliente.
4D Tempo Planeamento temporal da obra
Neste modelo de operações, a engenharia e o desenvol-
5D Custo Mapa de custos da obra
vimento do produto tendem a ocorrer a partir de
6D Sustentabilidade Pegada ecológica do edifício no
ciclo de vida
laboratórios virtuais, onde os clientes são cocriadores,
7D Gestão e Gestão e manutenção do
no qual os próprios produtos adquirem a sua forma,
manutenção edifício no ciclo de vida por interação com os próprios meios produtivos. As
8D Segurança Segurança do edifício no ciclo redes de máquinas que compõem o chão das fábricas
de vida
I-4.0 tenderão a tornar-se sistemas smart e flexíveis,
respondendo rapidamente, não apenas aos comandos
Sendo claro que da utilização do BIM a nível global dados por humanos, mas também às suas próprias
resultará uma nova realidade no “modelo de compras” perceções, transmitidas por interação com os objetos
para a construção de edifícios, poderemos identificar as em fabrico [6].
seguintes ameaças que as empresas de RO Portuguesas Foi neste cenário de paradigmas e ameaças sobre as
terão de enfrentar: (i) o modelo de procurement tenderá Rochas Ornamentais Portuguesas, que um grupo de
a orientar-se para produtos standard; (ii) o tempo de investigadores em estreita colaboração com o Cluster
construção dos edifícios será tendencialmente inferior Portugal Mineral Resources e a Assimagra, desenvolveram
ao atual; (iii) os custos de construção e manutenção dos e apresentaram em 2018, a partir da disciplina cientifica

122
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

emergente Service Science, um Modelo Conceptual empresas na sua caminhada para o moderno modo de
Avançado, designado por INOVSTONE4.0 ®, com o operações I-4.0.
duplo objetivo de: (i) conceber a arquitetura de um Cyber-
Aplicando o Modelo matemático INOVSTONE4.0® a
-Physical System que permitisse às empresas de RO operar
uma amostra de empresas representativa das melhores
em modo I-4.0 e (ii) medir o impacto nas empresas, antes,
práticas utilizadas no setor das Rochas Ornamentais, foi
durante e após a transformação das suas operações para
o modo Indústria 4.0 (Figura 2). possível prever a resposta destas empresas às ameaças
resultantes do procurement BIM, considerando dois
Para mapeamento do processo, foi desenvolvido um
formato específ ico da ferramenta metodológica cenários diferentes: cenário (i) em que as empresas optam
service blue printing1 incorporando o novo modelo de por manter o seu modelo de operações atual, e, cenário
interações resultantes da digitalização dos processos e (ii) em que as empresas investem na mudança do seu
permitindo dessa forma a avaliação dos resultados das modo de operações para o modo I-4.0.

FIGURA 2
Arquitetura do Cyber-Phisical System Inovstone4.0

1 Apresentada pela primeira vez por Shostack (1982), esta ferramenta metodológica terá sido inicialmente desenvolvida para estudar processos
relacionados com o comércio e serviços, os quais eram interpretados como uma sequência de ações, onde cliente e fornecedor eram separados
por um conceito imaginário que Shostack designou por “linha de visibilidade”.

123
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Por via do INOVSTONE4.0 ®, concluiu-se que em Da mesma forma, em termos de resposta às restantes
contexto de procurement BIM, nas empresas que optarem ameaças resultantes do procurement BIM na AEC, conclui-
pelo cenário (i), ou seja, que decidiram manter o seu -se que a evolução das operações para o modo I-4.0,
atual modelo de operações, a probabilidade de perderem nas empresas de RO, poderá ter impacto relevante na
a sua principal vantagem competitiva será próxima de (i) redução do prazo de entrega dos seus produtos em
100%, pois em BIM, existirá uma disfunção crítica entre 51%; (ii) redução nos custos dos seus produtos em 33%;
o modelo de procura e o modelo de oferta. (iii) redução da pegada ecológica dos seus produtos em
Por outro lado, nas empresas que optam pelo cenário (ii), 32%; e na (iv) redução da taxa de não-conformidade dos
ou seja, naquelas em que o modo de operações evoluir seus produtos em 31% (Gráficos 1,2 e 3) [3].
para I-4.0, verifica-se que no COCKPIT4.0 o fingerprint
de cada objeto da encomenda se transformará num smart- GRÁFICO 3
-object, eliminando-se assim, do ponto de vista processual, Ganhos Quantitativos, quando as operações nas RO evoluem do
qualquer diferença entre produtos customizados e Estado-da-Arte para Indústria 4.0
produtos-por-medida. Conclui-se ainda que, neste
cenário, as empresas poderão manter a sua principal
vantagem diferenciadora atual, face aos produtos
concorrentes dentro da Cadeia de Abastecimento.

GRÁFICO 1
Ganhos Qualitativos, na perspetiva dos clientes

(Silva, A. 2018).

Como conclusão, e sem considerar o investimento


necessário para tornar a produção I-4.0, o Modelo
INOVSTONE4.0® permitiu identificar que a previsível
obrigatoriedade legal do BIM na cadeia de abastecimento
da AEC, poderá até tornar-se numa oportunidade para
as empresas de RO que evoluírem as suas operações
para I-4.0, uma vez que o impacto desta nova forma
(Silva, A. 2018).
de operações em ambiente de procurement BIM é
tendencialmente muito favorável.
GRÁFICO 2
Ganhos Qualitativos, na perspetiva dos fornecedores
AGRADECIMENTOS
Os autores deste artigo agradecem o apoio institucional
do Grupo CEI-Zipor, Assimagra e Cluster Português dos
Recursos Minerais.

(Silva, A. 2018).

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

REFERÊNCIAS
[1] J. VILAS-BOAS, V. MIRNOORI, A. RAZY, and A. SILVA (2019)
- Outlining a New Collaborative Business Model as a Result of the Green
Building Information Modelling Impact in the AEC Supply Chain. PRO-VE
2019. IFIP Adv. Inf. Commun. Technol. vol 568. Publ. Springer,
pp. 405–417.
[2] A. SILVA, A. DIONÍSIO, and L. COELHO (2020) - Results in
Engineering Flexible-lean processes optimization: A case study in stone sector.
Results Eng., vol. 6, nº. March, p. 100129.
[3] A. SILVA (2018) - Improving Industry 4.0 Through Service Science.
PhD Thesis - Univ. Évora.
[4] LI DA XU, ERIC L. XU & LING LI (2018) - Industry 4. 0: state of
the art and future trends. Int. J. Prod. Res., vol. 56, nº. 8, pp. 2941–2962.
[5] A. SILVA and I. ALMEIDA (2020) - Towards INDUSTRY 4.0 | a case
STUDY in ornamental stone sector. Resour. Policy, vol. 67, nº. March, p.
101672, 2020.
[6] J. VILAS-BOAS, V. MIRNOORI, A. RAZI, and A. SILVA (2019) -
Collaborative Networks and Digital Transformation Outlining.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Cluster dos Recursos Minerais – Um Modelo de Mobilização de


Conhecimento, Cooperação e Inovação
Marta Rocha Peres
Diretora Executiva - Associação Cluster Portugal Mineral Resources
Email: marta.peres@clustermineralresources.pt

Palavras Chave: Cluster, cooperação, estratégia, resultados.

RESUMO

A política de Clusters surgiu em Portugal, a partir de 2008. Nessa altura, foi criado o Cluster da Pedra Natural. Em
2016, com a entrada em vigor de outro programa político de clusterização, forma-se uma parceria mobilizada para
os objetivos comuns dos Recursos Minerais em Portugal. Esta mobilização culmina na evolução para um Cluster dos
Recursos Minerais reconhecido em 2017, que hoje conta com 67 Associados e mais de 100 parceiros a nível mundial.
Em mais de dois anos de operacionalização, o trabalho em rede e cooperação tem gerado maior conhecimento, mais
desenvolvimento. Os resultados do sistema de clusterização são visíveis ao nível da tendência de crescimento das
exportações, do volume de negócios e do valor acrescentado das Empresas que pertencem ao Cluster.
O modelo adotado pelo Cluster dos Recursos Minerais, tem evidenciado que este é o caminho a prosseguir além de
2020.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

ABSTRACT

In Portugal, the clusters support policy was adopted in 2008. The Cluster of Natural Stone was created and recognized
in this framework.
In 2016, with a new clustering policy, a mobilized partnership is formed for the common objectives of Mineral
Resources in Portugal.
This mobilization culminates in the evolution towards a Mineral Resources Cluster recognized in 2017, which today
has 67 Associates and more than 100 partners worldwide.
In more than two years of existing, networking and cooperation has generated more knowledge, more development.
The results are visible in the growth trend of exports, turnover and value added of the Companies belonging to the
Cluster.
The model adopted by the Cluster of Mineral Resources, has shown that this is the way forward until and beyond 2020.

Keywords: Cluster, networking, strategy, mineral resources, results.

1. INTRODUÇÃO captação e a realização de investimento e uma exploração


sustentável dos recursos, com impacto no crescimento
da economia nacional e no desenvolvimento regional.
Em 2008, o Governo de Portugal lança o programa
Estratégias de Eficiência Coletiva enquadrado no Quadro Esta resolução provoca o desafio de evolução para
de Referência Estratégico Nacional (QREN), de forma a um Pólo de Competitividade dos Recursos Minerais
reconhecer iniciativas integradas num Programa de Ação (integrando os recursos metálicos com os não metálicos).
que visava a inovação, a qualificação ou a modernização Nesse sentido, em 2013, inicia-se a mobilização para
de um agregado de Empresas, através do funcionamento uma Estratégia Comum para os Recursos Minerais
em rede, entre Empresas e outros atores relevantes. que culmina na constituição da Parceria dos Recursos
Os Clusters foram tipologias abrangidas por esta Estraté- Minerais (com 18 Entidades) que assinam a Carta
gia. Um Cluster, por definição é um grupo de empresas Constitutiva para o compromisso de construção de um
interconectadas e instituições associadas numa área par- Plano de Ação para os Recursos Minerais. Com este
ticular, ligados por semelhanças e complementaridades. momento e a concordância dos Sócios, a VALORPEDRA
Não sendo um conceito novo, e já muito disseminado (entidade gestora do Cluster da Pedra Natural) começa
noutros países, os Setores em Portugal organizaram-se e a liderar o processo de evolução do Cluster da Pedra
foram reconhecidos em 2008, 11 Pólos de Competitividade Natural para o Cluster dos Recursos Minerais.
e 7 Clusters, onde se incluiu o Cluster da Pedra Natural. Em 2017, com o lançamento do Programa Interface
Através do reconhecimento de um Plano de Ação assente que tem como objetivo a valorização dos produtos
nos eixos da Internacionalização, Sustentabilidade e portugueses, através da inovação, do aumento da
Inovação, foi criada uma Rede de Empresas, Entidades produtividade, da criação de valor e da incorporação
de Investigação e Inovação, Associações e Entidades de tecnologia nos processos produtivos nacionais, foram
Públicas (32 membros), que desenvolveram iniciativas reconhecidos 19 Clusters em todo o país.
em cooperação. O Cluster dos Recursos Minerais é reconhecido como
Em Setembro de 2012 é publicada a Resolução do um Cluster de Competitividade nacional e hoje é um
Conselho de Ministros nº 78/2012, com a Estratégia modelo para a mobilização de conhecimento, cooperação
Nacional para os Recursos Geológicos com o objetivo e inovação, com mais de 100 parceiros em todo o Mundo
de promover um setor mineiro dinâmico, que garanta a e 67 Sócios.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

2. O MODELO PORTUGUÊS 3. O CLUSTER DOS RECURSOS MINERAIS

A política de Clusters de Competitividade, em Portugal, O Cluster dos Recursos Minerais tem a sua génese
foi inspirada no caso Francês, que a partir de 2004 im- na Resolução do Conselho de Ministros nº78/2012 –
plementou um programa de Clusters de Competitividade Estratégia Nacional para os Recursos Geológicos “A
exploração responsável dos recursos geológicos constitui
e hoje tem cerca de 150 Clusters reconhecidos.
um meio importante de desenvolvimento, que pode
O modelo adotado para Portugal, teve que ter em contribuir de modo relevante para o desempenho
conta os Setores Tradicionais, a dimensão do País e a da economia nacional. Para tal, é necessária a prévia
localização Europeia. consolidação de uma política de sustentabilidade, que
O modelo assenta numa política industrial focada contemple de modo integrado as vertentes económica,
no conhecimento e desenvolvimento e os Clusters social e ambiental, bem como a definição de um quadro
legal e institucional eficiente”...“considerando o potencial
representam as ferramentas para a operacionalização
dos recursos geológicos como fator de desenvolvimento
dessa política. Em 2016, e através do lançamento de
económico, o XIX Governo Constitucional incluiu nas
Concurso para o Reconhecimento, os setores foram
Grandes Opções do Plano para 2012-2015, aprovadas
avaliados quanto à sua capacidade para a investigação e
pela Lei n.º 64-A/2011, de 30 de dezembro, no quadro
desenvolvimento de inovação e internacionalização. Os da 5.ª Opção - O Desafio do Futuro - Medidas setoriais
setores que cumpriram os critérios estabelecidos foram prioritárias, a apresentação de «uma estratégia nacional
reconhecidos como Clusters de Competitividade. para os recursos geológicos que estabeleça uma estratégia
O reconhecimento de Cluster de Competitividade de financiamento para a dinamização da fase de
é atribuído pelo Governo Português com base nos prospeção e atração de investimento estrangeiro para
exploração e que promova o crescimento sustentado
seguintes critérios: apresentação de uma estratégia para
do setor, o aumento das exportações de tecnologias e a
o desenvolvimento económico até 2020, a existência de
criação de emprego».”
uma parceria entre os atores diretamente relacionados,
A existência do Cluster da Pedra Natural, na altura com
um modelo de governança operacional, a capacidade
mais de 5 anos de experiência, gerido pela Associação
de criar valor agregado através da investigação e
Valorpedra, que desenvolveu um trabalho em rede
desenvolvimento e a capacidade internacional.
que permitiu a manutenção da Pedra Natural nos
Cada Cluster é representado e gerido por uma Associação primeiros 10 lugares do ranking mundial de produtores
com entidade jurídica. Estas Estruturas são compostas e exportadores e contribuiu para o aumento do valor
por representantes dos atores Industriais, Academia e acrescentado do setor, foi fator crucial para uma evolução
entidades nacionais e/ou regionais. As associações têm para um Cluster de Recursos Minerais. Com um total
equipas permanentes para facilitar a implementação de de investimento de cerca de 56 Milhões de Euros,
projetos em cooperação e colaboração entre os atores do durante este período foram desenvolvidos cerca de 50
projetos, 50% dos quais foram projetos conjuntos e ou
Cluster e entre estes e outros Setores.
em cooperação.
O Estado contribui para o financiamento destas estru-
Em 2017 nasce o Cluster dos Recursos Minerais, com
turas com base em Contratos-Programa, que rege as
um plano estratégico desenhado até 2020, com metas
relações entre Cluster e Estado. estabelecidas e com uma parceria já consolidada. A
O Contrato-programa cobre 3 eixos de atuação: (i) Associação Valorpedra passa a ser a ASSOCIAÇÃO
Gestão Estratégica do Cluster através de um plano de CLUSTER PORTUGAL MINERAL RESOURCES.
ação estratégico até 2020; (ii) Apoio ao desenvolvimento Em 2016, foram estabelecidas as metas 2020, e embora
do sistema de inovação e ao crescimento empresarial, ainda sendo cedo, para avaliações, alguns indicadores já
por meio de financiamento privado mais consistente; evidenciam que o processo de Clusterização tem vindo a
(iii) Desenvolvimento de projetos estruturais, incluindo assegurar níveis de competitividade interessantes.
as plataformas de inovação.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Foram definidas várias metas em termos de indicadores IDT, taxa de cobertura das exportações e número de
económicos como o volume de negócios, valor acres- associados.
centado bruto, exportações, emprego, investimento em

FIGURA 1
Metas Cluster dos Recursos Minerais 2020

Fonte: Contrato Programa – IAPMEI.

Relativamente às exportações, as estatísticas de 2019 apresentam variação negativa, quando analisamos


demonstram que em termos de volume exportado existe as exportações em valor vendido, devido às cotações
crescimento em todos os subsetores, quando comparado internacionais dos metais.
com 2018. Apenas os Recursos Minerais Metálicos

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 2
Comércio Internacional de bens
Taxas INE 2019/ DGEG 2019

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Frazão (2018), no seu estudo sobre a “Capacidade ao Cluster apresentam uma tendência de crescimento de
Dinâmica das Alianças no Cluster dos Recursos Minerais” Volume de Negócios contrária à verificada no Setor em
defende que as Empresas de Pedra Natural pertencentes 2011-2016.

TABELA 1
Volume de negócios no setor da Pedra e no cluster (5)
Variação

2011 2012 2013 2014 2015 2016 %


Volume de Negócios do Setor
1 177 197 4334 1 012 175 0714 968 689 6994 956 939 7904 1 001 629 6074 1 013 186 3444 -17%
da Pedra
Volume de Negócios das
49 399 4794 46 039 4064 50 838 2334 55 555 0764 56 593 7874 60 565 7134 23%
empresas de pedra do Cluster

Fonte: Frazão, Inês “Capacidade Dinâmica das Alianças no Cluster dos Recursos Minerais”, 2018 – ISCTE -UL.

Em 2020, a Associação Cluster Portugal Mineral Resources FIGURA 4


já conta com 67 Associados, tendo ultrapassado a meta Sócios ACPMR (%) – 2020
proposta para 2020. Embora, o objetivo não é ter na
Associação o maior número de sócios possíveis, este
alcance representa o movimento de mobilização e
trabalho em rede em torno de objetivos comuns.
Um Cluster distingue-se de uma Associação Empresarial
pela sua missão de plataforma agregadora dos diferentes
atores e subsetores ligados aos Recursos Minerais,
de forma a promover a Investigação, a Inovação e o
Desenvolvimento.
Sem pretensões de representação comercial ou jurídica
do Setor, o Cluster agrega Associados que tenham
motivação e recursos para o conhecimento e para a
inovação.
Por este motivo, as Empresas do Cluster dos Recursos
Minerais, são denominadas de Early Adopters, as
Empresas com mais propensão para investir na Inovação
Para o alcance destas metas, o Cluster adota o modelo
e que acabam por ser a que todo o Setor quer seguir,
expresso na Figura 4.
mobilizando desta forma ao desenvolvimento de todo
o sistema.
O Cluster dos Recursos Minerais é constituído maiorita-
riamente por empresas de pedra natural (43%), empresas
de tecnologia (18%), entidades do sistema de investigação
e inovação (21%), empresas de recursos metálicos (10%),
entidades públicas (4%) e associações (4%).

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 5
Modelo Cluster e eixos estratégicos - ACPMR

O Cluster dos Recursos Minerais mobiliza os atores do constrangimentos nos instrumentos de incentivo à
sistema para as temáticas estratégicas do Plano de Ação. realização das atividades estruturantes do Plano de Ação.
Esta operacionalização é feita pela criação de Grupos de Ainda assim, a mobilização verificada em torno das
Trabalho (16) que são compostos por todas as Empresas temáticas e dos objetivos comuns, deixam prever que o
e Entidades do Cluster que tenham interesse em realizar caminho irá prolongar-se além de 2020.
em cooperação as iniciativas previstas no Plano de Ação.
O Plano de Ação do Cluster dos Recursos Minerais
Em pouco mais de 2 anos, o Cluster já tem a decorrer 3 que visa a competitividade pode ser esquematizado
Projetos do Plano de Ação e aguarda decisão de mais em atividades para a Sustentabilidade, atividades que
4 projetos estruturantes para os Recursos Minerais. contribuam para um maior conhecimento do ativo e
Estes resultados, não são, contudo, os desejáveis, uma ainda as atividades de inovação/mercado.
vez que as políticas de Clusterização têm encontrado

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Em 2019, o Plano de Ação do Cluster apresenta o seguinte


ponto de situação:

FIGURA 6
Plano de ação do Cluster dos Recursos Minerais - 2019

4. CONCLUSÃO I. Frazão (2018) estudou a importância da Clusterização


nas Rochas Ornamentais e as Empresas pertencentes
ao Cluster referem que o estabelecimento de parcerias e
Ketels (2017) defende que a dinâmica que pode emergir
o conhecimento são as maiores vantagens de pertença
nos Clusters, é impulsionada pela massa crítica em torno
a este sistema.
de um conjunto de atividades de setores relacionados. À
medida que as atividades se vão realizando, as interações
possíveis crescem proporcionalmente, provocando o
crescimento.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 7
Vantagens de pertencer ao Cluster

(I. FRAZÃO, 2018).

Desde os anos 90, quando Porter apresentou a sua teoria REFERÊNCIAS


dos Clusters, que a Europa e os EUA têm vindo, cada uma
CHRISTIAN KETELS (2017) - “Cluster Mapping as a Tool for
com modelos diferenciados, a apostar nestas políticas Development”, report for Institute for Strategy and Competitiveness-
económicas. Harvard Business School.
Os resultados e vantagens são evidentes ao nível da EUROPEAN CLUSTER COLLABORATION PLATFORM (EU) (2019)
criação de massa critica, de escala e da geração de - Informação em www.clustercollaboration.eu.
conhecimento e desenvolvimento. GOVERNO DE PORTUGAL: “Enquadramento das Estratégias de
Eficiência Coletiva”, QREN – Quadro de Referência Estratégico
A União Europeia tem vindo a apostar neste modelo e
Nacional (2008).
promove a interação de mais de 1000 Cluster em toda
INE – Instituto Nacional de Estatísticas, “Estatísticas do Co-
a Europa, através de uma plataforma colaborativa
mércio Internacional 2017”, Edição 2018. Disponível na inter-
(European Cluster Collaboration Platform). net: https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_
Em Portugal, os Cluster ainda não atingiram a publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=320462672&PUBLICACOE
maturidade e ainda há inúmeros desafios a empreender Smodo=2. ISSN 0873-0687.

nestes sistemas. INÊS FRAZÃO (2018) - “Capacidade Dinâmica das Alianças no Cluster
dos Recursos Minerais”. Lisboa: ISCTE – Instituto Universitário de
No CLUSTER DOS RECURSOS MINERAIS, os primei-
Lisboa. Tese de Doutoramento.
ros anos, deram força de validade quanto ao caminho a
LILIANA SCUTARU (2016) - “International Models and policies of
prosseguir, e reforçaram a necessidade de se continuar Successful Clusters“, Ecoforum- Volume 5, SpecialIssue.
a trabalhar pelo reconhecimento dos Recursos Minerais
REPÚBLICA PORTUGUESA (2019) - Clusters de Competitividade -
para a economia Nacional, para um uso sustentável e Informação em Programa Interface – www.programa.interface.pt/pt.
eficiente dos recursos, para um maior conhecimento do
património geológico nacional, para a transformação di-
gital na Indústria, para um aproveitamento e uso cada vez
mais circular, para a inovação tecnológica e de produto
e para a defesa de uma cadeia de valor acrescentada.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Lioz – Rocha Património, foi Real em Portugal e Transportou


Arte e Cultura para o Brasil
Zenaide Carvalho G. Silva
Geóloga, Prof ª. Associada c/ Agregação, Jubilada, GeoBioTec,
Departamento de Ciências da Terra, Faculdade de Ciências e
Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, Portugal
Email: zcs@fct.unl.pt

Palavras Chave: Lioz, rocha património, arte, Portugal, Brasil

RESUMO

O estudo do calcário português lioz, abordado neste artigo, abrange uma breve referência à sua história geológica e
uma outra, mais extensa, ao seu papel como veículo de divulgação de arte e cultura portuguesa e europeia no Brasil.
O lioz, sendo um calcário microcristalino com propriedades físicas e tecnológicas próprias para a construção, é
também utilizado como elemento decorativo, uma vez que tem coloração diversa, em branco-marfim, rosa claro
e escuro, amarelo dourado e amarelo forte, recebendo por esta razão denominações diferentes na indústria das
rochas ornamentais. É um calcário de ambiente recifal, portador de fósseis rudistas que lhe conferem uma textura
singular. Ocorre nas zonas de Lisboa e arredores, incluindo a região do município de Sintra, principalmente em
Pêro Pinheiro, de cujas pedreiras saiu a maior parte do material para construção em Portugal e no Brasil, desde o
século XVIII até o presente. Usado durante décadas em construções na área de Lisboa, em estilos arquitetónicos
diversos, em Mafra materializou o complexo arquitetónico emblemático de D. João V, Convento, Igreja e Biblioteca,
tornando-se a “pedra real”. Foi transportado para o Brasil como lastro de navios que circulavam entre Portugal e
a nova colónia, onde no século XVIII foi a rocha preferida para as grandes construções, principalmente de igrejas
e templos de culto religioso, cópias de igrejas portuguesas ou nelas inspiradas, perpetuando a arte e arquitetura
transportadas da Europa. Deixou em Salvador, na Bahia uma exposição valiosa do património de arte e cultura
portuguesas. O lioz tem hoje o estatuto de “Rocha Património Global” por preencher os requisitos adotados pela
Heritage Stone Subcomission (HSS) da UNESCO.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

ABSTRACT

The Portuguese limestone lioz is reported in this paper focusing two distinct approaches, a concise geological history
and a very different one characterizing the lioz as a vehicle of diffusion of European and Portuguese art and culture
in Brazil. Lioz is a microcrystalline limestone used in construction due to its technological properties suitable for
that purpose, being also used as a decorative stone as it has a unique texture and varied colors: ivory white, light and
dark pink, golden yellow, dark yellow. Due to that color variation and different appearance according to the way the
rock is cut, lioz answers for a variety of designations given by the stone industry. The rock has been identified as a
reef limestone and carries rudist fossils which give a pretty texture to it. Lioz occurs in Lisbon and vicinities, namely
in the Sintra region, mainly in Pero Pinheiro region where many quarries are located. Most of the material extracted
for construction both in Portugal and Brazil from the XVIII century to present, came from that area. During several
decades lioz was the preferred rock used in churches and other monuments, as well as in governmental buildings, in
very diverse architectonic styles. The monumental complex of Mafra (convent, church and library) under D. João V
reign was totally built and decorated in lioz in such a way that the rock got the designation of “Royal Stone”. During
the XVIII century lioz limestone was carried to Brazil as ballast in vessels that travelled across the ocean in commercial
missions. It was then used in the new Portuguese colony as building and decorative stone for many churches and
religious temples, which were similar as Portuguese counterparts, associated with several architectonic styles and
different artistic symbols. In Salvador, Bahia, the most important Brazilian town at that time, an expressive exposition
of that European art was left constituting a testimony of Portuguese art and culture. Today the lioz limestone has the
recognized status of a Global Heritage Stone as defined by the Heritage Stone Subcomission of UNESCO.

1. INTRODUÇÃO com Portugal um comércio intenso de bens da


metrópole. Essas naus transportavam para o Brasil sal e
mantimentos, ouro e prata trabalhados, sedas, produtos
O calcário microcristalino denominado lioz, de ocorrên-
provenientes da Ásia, drogas, alfaias para a agricultura
cia na região de Lisboa e arredores, tem expressiva
(Arruda, 1980) e retornavam da colónia trazendo
atividade extrativa e de transformação na região
produtos da terra como madeira, açúcar, tabaco, mel,
de Pêro Pinheiro e municípios limítrofes, de onde a
plantas medicinais (ipecacuanha) e, mais tarde, algodão,
rocha tem sido fonte de matéria-prima para muitos
couros, aguardente, ouro, pedras preciosas. Foi nas
monumentos e construções, em Portugal e em outros
localidades que abrigavam aqueles portos que o lioz
países, durante séculos. É esta rocha, clara e de textura
foi mais utilizado para construções, em especial em
muito característica que alicerça as grandes construções,
edifícios públicos e monumentos, sobretudo em igrejas,
reveste edifícios públicos e pavimenta muitas ruas da
cuja construção manteve uma atividade muito intensa.
cidade de Lisboa. As igrejas satisfaziam os projetos de ordens religiosas,
Sendo uma rocha património (Cooper et al., 2013), como as jesuítas, franciscanas, beneditinas, carmelitas
reconhecida pela comunidade geológica e de património e em menor escala, de associações de comerciantes que
global (Silva, 2019), além da sua história geológica, o também se organizaram em confrarias ou irmandades,
lioz tem uma outra história, fascinante, em especial legitimando-as com a construção de templos religiosos
para Portugal e para o Brasil, graças ao papel que semelhantes aos de Portugal. Foi num clima de euforia
desempenhou como veículo de arte e cultura europeias comercial e abundância de recursos, além do entusiasmo
para a nova terra Brasil, principalmente durante os e determinação protagonizados por D. João V, então rei
séculos XVII e XVIII. Foi transportado para a então de Portugal, que o Brasil recebeu a herança artística
recente colónia como lastro (IPAC, 1997) das naus que e cultural religiosa portuguesa, estampada nas suas
compunham frotas dirigidas ao Brasil e desembarcou igrejas, com predominância na Bahia, que tinha a
nos principais portos da costa brasileira que mantinham cidade de Salvador como sede do governo no Brasil.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Em menor escala, Rio de Janeiro, Recife, São Luís do períodos da história da cidade, desde os romanos
Maranhão e Belém do Pará também receberam parte aos tempos modernos. Contudo, é na zona de Pêro
desta herança, mas é na Bahia que ela está mais patente, Pinheiro, no concelho de Sintra, que atualmente estão
em abundância e requinte. Hoje é possível identificar-se localizadas as maiores e mais conhecidas ocorrências
e correlacionar-se em igrejas que foram construídas do lioz onde a rocha tem sido extraída e trabalhada
em tempos próximos, no Brasil e em Portugal, com os para comercialização durante séculos. A ocorrência
“parentescos” artísticos entre elas visíveis para além de algumas variedades de lioz está documentada por
do “toque” dos seus autores, arquitetos e artesãos que Martins (1991) na região de Lameiras e Pêro Pinheiro
nelas deixaram a sua marca. Foi através do seu saber Este. Foi das pedreiras de Pêro Pinheiro (Figs. 1 e 2) que
e arte que o Brasil recebeu de Portugal, e também da saiu um grande volume de lioz, de muitas variedades
Itália e Espanha, uma enorme riqueza patrimonial. A (branco-marfim, rosa, cinza, amarelo) para a construção
Bahia é hoje um museu vivo desta herança portuguesa, do Complexo arquitetónico de Mafra, no século
traduzindo parte da história luso-brasileira cultural e XVIII e é neste Complexo que se encontra uma vasta
artística muito acentuada no século XVIII (Silva, 2007). exposição, concebida com arte e significado religioso,
das variedades desta rocha.

2. BREVE HISTÓRIA GEOLÓGICA E CARACTE- FIGURA 1


RIZAÇÃO DA ROCHA Pedreira antiga em Pêro Pinheiro

Ocorrência

O calcário lioz ocorre na região de Lisboa e aflora em


localidades situadas a noroeste de Lisboa, como Oeiras
e Paço d’Arcos e principalmente em Pêro Pinheiro,
Lameiras, Morelena, Pedra Furada, áreas estas que
estiveram submersas durante períodos geológicos que
correpondem ao Cretácico, com cerca de 120 milhões
de anos. Deve-se a Choffat (1900) a primeira descrição
destas rochas, pertencentes a uma unidade estratigráfica
referida como “calcário cristalino com rudistas”. Estes
organismos são identificados com faunas de águas rasas,
claras e quentes típicas de ambientes recifais. Na região
de Lisboa o lioz ocorre em várias localidades (Sousa, 1897; FIGURA 2
Blocos de lioz multicolor em pedreira de Pêro Pinheiro
Pinto, 2005), sendo que atualmente pouco se conhece dos
afloramentos, sendo exceção o do vale de Alcântara,
junto ao aqueduto das Águas Livres, local este que hoje
é reconhecido como um Geosite: o Geomonumento
Avenida Calouste Gulbenkian. Campolide, Rio Seco,
Monsanto, e Belém são também locais de ocorrência
do lioz, dentro de Lisboa, a partir das quais foi possível
Zbyszewski (1963) resumir a estratigrafia da sequência
descrita por Choffat, já mencionada. Também com
base nas ocorrências citadas de Alcântara, Negrais e
Pêro Pinheiro, Callapez (2008) tipifica o lioz como um
calcário de plataforma. A ocorrência do lioz em várias
localidades na região de Lisboa explica de certo modo
o seu uso nas construções locais, abrangendo longos

139
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Caracterização Petrográfica variedade de lioz, de cor vermelho roxo em decoração


de pavimentos, como na igreja de São Paulo, em Lisboa.
Esta variedade é também encontrada em pavimento de
Do ponto de vista petrográfico, a rocha apresenta-se como
capelas na igreja da Misericórdia, em Salvador, na Bahia.
um calcário microcristalino, cuja cor mais frequente é o
branco-marfim, sendo também conhecidos o rosa claro,
o rosa escuro, às vezes referido como “Encarnadão”, ou FIGURA 3
ainda menos frequente, o amarelo dourado discreto. Textura típica do lioz rosa escuro,
exibindo os vestígios fósseis (em branco)
As diferenças de cor são resultantes da presença de
óxido de ferro, por vezes hidratado na matriz da rocha.
Estas diferenças dão origem a nomes específicos para
a rocha, atribuídos pela indústria, embora se trate da
mesma rocha, o lioz. Deve-se salientar que a orientação
do corte também é motivo para a atribuição de nomes
distintos, de que é exemplo o “chainnette”, resultante
de um corte da rocha não paralelo à estratificação.
A variedade amarelo-laranja recebe a designação de
Amarelo Negrais, mostrado na figura 2 e corresponde
a uma variação localizada de fácies do lioz. Contém
óxido de ferro hidratado e minerais argilosos, e é menos
resistente à ação da atmosfera agressiva, poluída. Perde
rapidamente o brilho em placas polidas quando expostas
à atmosfera, em fachadas exteriores.
A rocha contém fósseis bivalves, rudistas, de tamanhos
Caracterização Química
variados, imprimindo uma textura típica ao lioz, com
destaque nas variedades coloridas, devido ao contraste
entre a matriz cristalina, parcialmente oxidada e o O lioz é essencialmente um calcário formado por calcite
material conchífero, mais claro, os fósseis (Fig.3). microcristalina. A composição química dos tipos mais
Atualmente é possível identificar-se acabamentos em lioz usados nas construções (lioz branco-marfim, chainnette,
cinza, lioz rosa claro, polido em colunas interiores, em encarnadão e amarelo Negrais está ilustrada na Tabela 1
prédios construídos em meados do século XX, em Lisboa, e mostra que as diferenças de alguns óxidos são pequenas
bem como lioz contendo fósseis de tamanho avantajado entre elas e podem indicar apenas variações locais,
(10-12 cm), como na escadaria do Teatro A Barraca, em possivelmente em alguns horizontes da sequência
Santos. De aplicação mais rara, conhece-se uma outra estratigráfica.

TABELA 1
Análise química das quatro variedades de Lioz mais conhecidas

Óxidos % Lioz Chainnette Encarnadão Amarelo Negrais


SiO2 0,31 0,55 0,35 1,59
Al2O3 0,48 0,18 0,25 0,25
Fe2O3 0,02 0,05 0,07 0,37
MgO 0,48 0,85 0,36 1,29
CaO 55,49 54,21 55,27 53,02
Na2O 0,05 0,18 0,06 0,07
K 2O 0,07 0,07 0,04 0,07
L.O.I. 43,35 43,48 43,78 43,22
Total 100,25 99,57 100,18 99,83

(Segundo Casal Moura, IGM, 1992-1996).

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Caracterização Física e Tecnológica verifica-se que rochas cuja porosidade tem valores
mais elevados, resistem menos à ação das atmosferas
agressivas, principalmente ao nevoeiro salino (Silva
As propriedades físicas ou tecnológicas que permitem
& Simão, 2009). Nesta situação, observa-se que as
o uso do lioz como material de construção não variam
rochas calcárias perdem massa em relação direta com
significativamente entre os tipos de lioz, em função das
a porosidade aberta, e no caso específico do lioz, é a
pequenas variações na composição química (presença
variedade amarelo Negrais aquela que mais perde,
de óxidos de ferro), mas são afetadas pelo modo como a
correspondendo a 1.18% de porosidade aberta. Em
rocha é cortada, se paralelamente ou não à estratificação.
alguns locais de Lisboa é possível observar-se o tipo de
Sendo a rocha um calcário resultante da precipitação
alteração exibida por esta rocha em fachada externa,
de carbonato de cálcio e da deposição simultânea de
sendo notória a exposição na parede externa do Aquário
organismos que deram origem aos registos fósseis, os
Vasco da Gama, em Algés, ao longo da Avenida Marginal.
modos distintos de corte deixam características parti-
A perda de brilho da rocha e consequente opacidade
culares na textura: ou expondo os contornos da concha,
da parede foi rápida e pode ser contrastada com o
arredondados, quando o corte é paralelo à estratificação,
aspeto de paredes internas da mesma rocha, observada
ou exibindo seções diferentes da concha e mostrando as
em várias outras construções. Finalmente, é de referir
linhas irregulares dos estratos, estilólitos, quando em
o mais comum tipo de alteração do lioz, patente em
corte diferente dos planos de estratificação, motivando
vários monumentos portugueses resultante do efeito da
uma textura distinta, utilizada pelos arquitetos como
humidade sobre a rocha que, combinado com a presença
realce decorativo nas construções.
de SO2 na atmosfera, conduz à formação de gesso, um
Uma discussão mais alargada do comportamento sulfato de cálcio hidratado, desenvolvendo crostas negras
tecnológico dos calcários da região de Lisboa, incluindo na rocha. Entre os exemplos bem conhecidos está o
o lioz, está contida no trabalho de Figueiredo (1997). claustro do Mosteiro dos Jerónimos que entre 1998 e 2001
A Tabela 2 mostra algumas propriedades tecnológicas foi sujeito a uma intervenção cuidadosa para limpeza e
relativas às variedades de lioz realçadas neste trabalho. remoção do material alterado. Estas e outras alterações
Essas propriedades foram escolhidas para exemplificação no mesmo local foram objeto de estudo cuja discussão
porque algumas são determinantes no uso da pedra está disponível em Aires-Barros (2001). Na Torre de
como material de construção com desempenho estrutural Belém o mesmo autor (Aires-Barros, 2000) descreve
e outras porque revelaram ter um papel essencial na em pormenor a intervenção de conservação e restauro
vulnerabilidade da rocha à alteração. Neste contexto, naquele monumento, com alterações semelhantes.

TABELA 2
Propriedades geotécnicas das quatro variedades do calcário Lioz mais comuns: Lioz, Chainnette, Encarnadão e Amarelo Negrais
Propriedades Lioz Chainnette Encarnadão Amarelo Negrais
Geotécnicas (Lameiras) (Lameiras) (Lameiras) (Negrais)

Resistência mecânica à
compressão(kgf/cm2) 900 1296 937 1442

Resistência mecânica à 185 221 198 203


flexão (kgf/cm2)
Massa volúmica aparente 2695 2708 2701 2674
(kg/cm3)
Absorção de água à P.At. 0.16 0.07 0.10 0.44
(%)
PorosidadeAberta
0.42 0.17 0.28 1.18
(%)
Resistência ao desgaste 2.3 1.8 2.6 2.8
(mm)

(Segundo Casal Moura, IGM, 1992-1996).

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Faz-se a seguir uma breve referência ao papel do permite-lhe um comportamento específico, exibindo
acabamento das superficies das placas de lioz quando propriedades tecnológicas comparáveis às de muitas
aplicadas no exterior e a resposta que é observada rochas de natureza silicatada. Esta circunstância confere-
na rocha, em cada tipo de acabamento. De um modo -lhe o “estatuto” de rocha capaz de ser utilizada como
geral, as superficies polidas resistem mais à ação dos elemento estrutural nas construções, garantindo-lhes
agentes de alteração e as superficies bujardadas são as durabilidade e de ser trabalhada manualmente com
que mais se alteram perante as mesmas condições (Silva alguma facilidade. Este tipo de calcário é encontrado em
et al., 2013; Silva & Cruz, 2013). Em Lisboa, na Praça construções e outras aplicações em todo Portugal, mas
do Império, em Belém, onde vários monumentos em por ocorrer na região de Lisboa e arredores, é nestas
lioz estão expostos, tem-se um mostruário valioso para áreas que o seu uso é mais expressivo.
a observação destes comportamentos. Nesta Praça, na Ao longo do tempo, o lioz foi material de construção
mais recente construção, o Centro Cultural de Belém, em grandes obras em Lisboa, como o Aqueduto da
as placas de lioz têm um acabamento distinto (Fig. 4), o Águas Livres (Fig.5), no vale de Alcântara, o Mosteiro
escacilhado, e embora ainda seja cedo para este tipo de dos Jerónimos, a Torre de Belém (Fig.6), o Monumento
estudo, são um expositor ideal para tais observações e aos Descobrimentos, o Museu da Marinha, o Palácio da
acompanhamento da evolução das alterações no tempo. Ajuda, a Assembleia da República, o Centro Cultural de
Belém e em muitas igrejas do centro e da periferia da
FIGURA 4 cidade, como a igreja de São Vicente de Fora e a Basílica
Acabamento escacilhado das placas de lioz, da Estrela, a Sé Catedral, a igreja da Madre de Deus, no
Centro Cultural de Belém, Lisboa Beato, a do Menino de Deus, em Alfama, e muitas outras,
localizadas na Baixa lisboeta. Estas construções trazem
consigo testemunhos de várias épocas e de vários estilos
arquitetónicos, marcando a presença do lioz, algumas
com interiores exibindo um lioz bem trabalhado,
exemplificado aqui com os túmulos de Camões e de
Vasco da Gama e em arcos no claustro no Mosteiro dos
Jerónimos (Fig.7).

FIGURA 5
Aqueduto das Águas Livres, Lisboa

3. O LIOZ NA CONSTRUÇÃO EM PORTUGAL

O lioz é uma rocha que, por sua natureza física e


química, se enquadra num tipo petrográfico específico
de rochas que de um modo geral se comportam como
materiais mais frágeis, quando comparados com rochas
de natureza silicatada, como a generalidade dos granitos,
sienitos e outras rochas similares. Tendo uma composição
essencialmente calcítica, mineral de baixa dureza (3 na
escala de dureza de Mohs), tem características de “rocha
mole”, próprias para ser trabalhada. No entanto, a sua
história geológica e textura (microcristalina, compacta),

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 6 desde tempos medievais e trabalhado até o presente, o


Torre de Belém, Lisboa lioz compõe parte da charola e é pavimento em algumas
dependências.

FIGURA 8
Embutidos em lioz policromado em capela
da Igreja de São Roque, Lisboa

FIGURA 7
Pormenor do claustro do Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa

A aplicação do lioz como pedra de revestimento em


edifícios, em residências e em pavimentos tem-se
Em algumas igrejas, os trabalhos artísticos que adornam
de novo acentuado nas últimas décadas, depois de
capelas e pilares expõem variedades de lioz numa
um período em que a pedra parecia esquecida. A
combinação artística do lioz marfim, lioz encarnadão
construção do Centro Cultural de Belém (1989 a 1992)
e amarelo Negrais, em geral partilhados com outro
e a expansão do metropolitano de Lisboa contribuiram
calcário, este preto, de Mem Martins, em “embutidos”
para esta “redescoberta” da rocha, referida por Lopes
delicados e de padrões diversos. É na igreja jesuíta de
(2017) e hoje a sua exposição está marcada como pedra
São Roque, no largo da Misericórdia, que se encontram
de revestimento e trabalhada em escultura, como
talvez os melhores exemplos deste tipo de composição
exemplificado em estátua do Marquês de Pombal, entre
exibidos em algumas das suas capelas (Fig.8). Trabalhos
as linhas do metropolitano na Estação do Marquês.
semelhantes são encontrados em outras localidades,
como em Évora, na Igreja do Espírito Santo e na
Catedral. A norte de Lisboa, o lioz marca presença na 4. LIOZ – PEDRA REAL
Catedral de Santarém e nos seus arredores, compondo
um ambiente agradável estendendo-se aos pavimentos da O uso alargado do lioz na região de Lisboa deve-se
área que contorna a catedral. Em Tomar, no Convento em primeiro lugar à sua ocorrência, já mencionada,
de Cristo, monumento construído em calcário local nas proximidades da cidade, tornando-se durante

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

décadas, desde tempos longínquos, a fonte de recurso acompanhando atividades semelhantes em Portugal. A
natural por excelência, facilitada pela sua localização escolha do lioz como pedra preferida para as construções
e disponibilidade. Tal facto está registado nas diversas foi natural, uma vez que ela já era a pedra “da moda”
construções públicas, de palácios residenciais a nas mais marcantes construções em Lisboa, havia reserva
monumentos históricos e a edifícios públicos, alguns já disponível em Lisboa e lugares próximos, existia um
mencionados. Tendo atravessado períodos diversos de porto em Lisboa que já era o mais movimentado em
história e de estilos artísticos, é natural que esteja presente Portugal e de onde partia a maioria das frotas em direção
em construções de diferentes estilos arquitetónicos, ao Brasil e oriente, facilitando o comércio de bens da
sendo que há registos da presença de mais de um estilo metrópole e, entre eles, a pedra para construções, o lioz.
na mesma obra, em especial naquelas cujo tempo de A construção de igrejas foi, no século XVIII e no Brasil,
construção foi longo. Um bom exemplo desta situação é um grande motor de atividade cultural, tendo em vista
o complexo arquitetónico de Mafra, construído durante a pluralidade de Ordens religiosas que lá aportaram
o reinado de D. João V (1706-1750), em que há registos e consolidaram a sua presença através dos templos
de estilos arquitetónicos desde o Românico, atravessando erigidos. Ao lado das Ordens, surgiram as irmandades,
o Gótico, o Manuelino, Renascimento e Maneirismo e que, na generalidade, eram expansão do que havia já
que traduzem a influência daqueles estilos em voga na em Portugal, embora algumas tenham surgido por
Europa. influência de comerciantes abonados que desejaram
A construção do complexo de Mafra idealizado e rever Portugal no Brasil, através das representações
conduzida por D. João V corresponde a um período religiosas. Várias cidades-portos receberam estes
da história de Portugal em que o comércio com a templos, mas foi a cidade de Salvador, na Bahia, onde
nova colónia na América do Sul, o Brasil, era intenso. eles foram erigidos em quantidade, testemunhando um
Havia recursos provenientes da colónia, havia trocas de forte traço de cultura e arte portuguesa. O lioz esteve
mercadorias de Portugal para o Brasil e vice-versa e o lioz sempre presente, também em peças de decoração nas
presenciou e viveu esta movimentação. Havia, sobretudo, igrejas, desde pias de água benta a lavabos e pavimentos
a vontade de um rei, que pretendia construir em Portugal decorativos com o lioz policromado. Tanto os estilos
algo que tivesse a grandeza de uma Versailles, de França, arquitetónicos como os interiores dos templos trazem
ou de Schönbrunn, na Áustria, ou do Palácio Real de traços de arquitetos e artistas que trabalharam em
Madrid, em Espanha. Na visão de Gandra (1998), a Portugal, sendo bons exemplos as contribuições dos
construção do complexo de Mafra tinha o propósito de discípulos de Filipe Terzio, arquiteto-mor de Filipe II, que
ser “o centro espiritual do Quinto Império, réplica da transportou a arte renascentista da Itália para Portugal
Nova Jerusalém, vaticinada no Apocalipse.” O estudo e mais tarde para o Brasil (Rocha & Mateus, 1977), de
daquela construção, dos pormenores relacionados com o que na Bahia são exemplos a Santa Casa da Misericórdia,
simbolismo de cada pedra, na sua cor, forma e colocação o Mosteiro de São Bento e outros. Mais tarde, um
naquela obra é objeto cuidadoso e até apaixonante discípulo de Frederico Ludovice, o arquiteto alemão
daquele autor (Gandra, 1995). Convento, igreja e que trabalhou para D. João V em Portugal, construiu
biblioteca, referido como o complexo arquitectonico de a Igreja da Conceição da Praia (Ott, 1989), também
Mafra é todo construído em lioz, o de Pêro Pinheiro. A na Bahia. Esta igreja foi toda trabalhada em Portugal
escolha desta rocha, pelas razões já mencionadas e pela nos telheiros de Paço d’Arcos, na região de Lisboa, em
sua beleza, em tantas obras majestosas, com o patrocínio lioz, por encomenda, e transportadada para montagem
oficial, conferiu-lhe o estatuto de “Pedra Real”, pois a na Bahia (Valladares, 1982, Santos, 2002). Esta igreja
sua presença nas grandes obras e igrejas nunca faltou. é considerada a primeira manifestação do barroco de
D. João V no Brasil (IPAC, 1997). Na Conceição da Praia
5. LIOZ – EMBAIXADOR DE PORTUGAL NO são encontrados belos pavimentos com embutidos em lioz
BRASIL COLONIAL, VEÍCULO DE ARTE E CUL- policromado. A história da construção desta igreja está
descrita em pormenor por Silva (2007), onde a autora
TURA
também relata a chegada de D. João VI ao Brasil em
1808, na Bahia, por força de mudança de rota devido
O século XVIII viu f lorescer no Brasil um tipo de aos ventos. No seu relato, escreve: ”Foi em 24 de janeiro
atividade na construção muito intensa, de certo modo de 1808 que os sinos da Conceição da Praia dobraram

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

saudando a família real e em 4 de fevereiro era naquela a preocupação expressa por Pereira & Marker (2016).
igreja celebrada a cerimónia religiosa em sua honra. Ainda neste contexto, faz-se referência à existência
D. João, que deixara Mafra, obra de seu bisavô D. João V, dos chamados “Geosítios”, sendo conhecidos o de Rio
seu convento, igreja e biblioteca repletos de lioz, mais Seco (Lopes, 2017) e o de Alcântara, já referido. Este
familiar acolhida não poderia ter que a saudação branca conjunto de condições assegurou a referida atribuição
e limpa do lioz de Pêro Pinheiro, resplandecente, à frente da designação de Rocha Património ao lioz.
da Conceição da Praia, na Bahia.”

7. CONCLUSÃO
6. LIOZ, PEDRA PATRIMÓNIO GLOBAL
O lioz com as suas características como rocha, compo-
A ocorrência de rochas que se tornaram elementos sição mineralógica, propriedades químicas e tecnológicas
fundamentais para construções, por motivos os mais foi e continua a ser pedra de construção. As suas texturas
variados, ou por serem o único ou o mais abundante ou e as suas cores variadas conferiram-lhe uso requintado
o mais apropriado material disponível em determinado como elemento decorativo e artístico. Foi usado durante
local, tem sido reconhecida pela comunidade científica séculos em Portugal e não só, como elemento estrutural
dedicada às rochas ornamentais. Esta circunstância e decorativo em muitas construções e o seu uso intensivo
despertou a vontade de se fazer a divulgação destas no século XVIII, patrocinado por D. João V, conferiu-
rochas, que, tendo sido usadas em determinado local, -lhe o estatuto de “Pedra Real”. Ao longo de séculos teve
ou locais, ao longo do tempo, fossem reconhecidas como um papel de relevo na transferência de cultura e arte
“Rochas Património Global”, embora o termo “Global” da Europa para o Brasil e está presente em igrejas e
ainda seja objeto de discussão entre os profissionais, monumentos nas principais capitais costeiras, com relevo
à procura de um termo mais adequado. Isto porque a em Salvador na Bahia. Um relato do percurso do lioz
designação “global” pode excluir o enquadramento de como rocha e como património é feito por Silva (2007)
rochas que apenas tiveram uso em uma localidade, mas no seu livro “O Lioz Português – de Lastro de Navio a
cujo papel foi desempenhado ao longo de gerações. Arte na Bahia”, onde testemunha e ilustra a sua presença
Em 2016, no Congresso Geológico Internacional que e papel de rocha património em Portugal e no Brasil.
decorreu em Cape Town, na África do Sul, em reunião
da IUGS Council, foi ratificada a criação da Comissão
Internacional das Rochas Património, conjunta com os
Geoparques (Pereira e Cardenas, 2019) e, mais tarde, BIBLIOGRAFIA
foram definidos os requisitos para que uma determinada
AIRES-BARROS, L. (2000) - Torre de Belém, Intervenção de conservação
rocha pudesse ser considerada como tal (Pereira &
exterior – Exterior conservation work. Ed. Instituto Português do
Marker, 2016). O mármore de Carrara e o mármore
Património Arquitectónico, IPPAR, Ministério da Cultura, Portugal.
de Estremoz figuram entre as primeiras rochas que ISBN 972-8087-70-5.
obtiveram este estatuto e recentemente, de Portugal, AIRES-BARROS, L. (2001) - As rochas dos monumentos portugueses,
há mais duas: a brecha da Arrábida (Kullberg & Prego, tipologias e patologias. Ed. Instituto Português do Património
2019) e o lioz (Silva, 2017 e 2019). Arquitectónico, IPPAR, Ministério da Cultura, Portugal. ISBN 972-
8087-81-0.
O lioz com reconhecida presença em Portugal e no Brasil
ARRUDA, JOSÉ JOBSON de (1980) - O Brasil no Comércio Colonial –
ao longo de séculos, tendo desempenhado um papel de
Ensaios 64, São Paulo. EditoraÁtica 710 p.
relevo, já mostrado, na preservação de testemunhos da
CALLAPEZ, P. (2008) - Paleobiogeographic evolution and marine faunas
sua presença em monumentos históricos em Portugal e no
of the Mid-Cretaceous Western Portuguese Platform. Thalassas, 24, 29-52.
Brasil, continua a ser utilizado como pedra de construção
CASAL MOURA, A. (1992-1996) - Catálogo de Rochas Ornamentais
e transmissor de conhecimento de arquitetura e arte
Portuguesas. Instituto Geológico e Mineiro, Ministério da Indústria e
nestes países. A existência de pedreiras em exploração Energia, 2ª Ed., 4 vols., Portugal.
na atualidade garante, adicionalmente, a possibilidade CHOFFAT, PAUL (1900) - Recueil de monographies stratigraphiques sur le
da manutenção deste calcário nas construções antigas Système crétacique du Portugal. Prémier étude. Contrées de Cintra, Bellas
e preservação do património arquitetónico, responde et de Lisbonne. Mem. Sec. Geol. Portugal, 76 p. 3 est.

145
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Labyrinthus in Petris
A Calçada Portuguesa nos Percursos da Ancestralidade

Ernesto Matos
Email: ernest.matos@gmail.com

Palavras Chave: Calçada portuguesa, arte e artesanato, espaço urbano, arte contemporânea, materiais e técnicas.

RESUMO

A calçada artística à portuguesa, é desde os meados do século XIX, um método de pavimento que se tem vindo a
implementar numa forma persistente. Não só por Portugal, mas ultimamente, também muitos outros países o têm
vindo a assumir. Mais recentemente veio a tornar-se já uma referência de ícone internacional, demostrando-o a cidade
do Rio de Janeiro e o seu emblemático Calçadão de Copacabana. Não é assim por o acaso que a Tocha Olímpica
de 2016 teve na sua conceção gráfica também a referência a esse característico e emblemático padrão de ondas, já
imortalizado, até mesmo por Walt Disney.
Por Portugal, com os anos a passar, vão-se fazendo contas, não só pelo custo dos materiais geológicos provenientes das
mais valias extrativas em meio natural e sem auxílio a métodos industriais poluentes, como para o pagamento de uma
mão-de-obra desqualificada e que continua ligada a uma profissionalizada classe operária. Se por um lado Almeida
Garrett já designava de Arte a este método aplicado no velho Rossio e que recebeu o nome de um país, por outro
assistimos a uma cada vez mais descaracterização técnica e que vai fomentando a má imagem que constantemente
passa debaixo dos nossos pés. O que é certo, é que passados mais de 170 anos desde o seu surgimento para benefício
público e universal, não vemos este método como disciplina em nenhuma escola de artes portuguesa.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

O que temos hoje ou o que queremos no futuro para os nossos pavimentos em calçada? Calçada artística ou calçadas
de pedras no chão colocadas por uns arrumadores, formados no quintal ali da esquina?
Pretende-se assim com este texto, refletir sobre alguns destes parâmetros que o próprio país se vai confrontado,
perante as vicissitudes de uma profissão, de uma técnica, de uma arte, o que quer que seja... mas que faz parte da
nossa perseverança.

Minotauro seria encarcerado num labirinto de pedra gritando: Terribilis est locus iste!» A pedra é suporte dos
que Creta nos deixou em mosaico. Eis a pedra enquanto minerais, da nossa existência, da reflexão da luz matinal
fundamental elemento de memória à condição humana e das cores das fachadas e das catedrais, a perspetiva do
caminhante sobre ela própria, sobre a sua história, sobre prolongamento das ruas e o tapete a preto e branco ali
a sua filosofia, sobre os seus caminhos por vezes também mesmo à nossa porta para o que entra e para o que sai,
labirínticos. A pedra como alavanca de conhecimento, para o argonauta.
de progressão sobre caminhos construídos de pedra
sobre pedra. Pedra ligada à pedra entre recortes onde a FIGURA 1
intimidade penetra, onde umas outras vidas vivem, onde Labyrintus in Petris
o solo respira, onde a luz do sol resplandece e se liberta,
libertando-nos também das amarras da gravidade.
A pedra, ao longo dos milénios, tem sido base do nosso
suporte de existência, quer no plano físico, para o mais
simples utensílio de sobrevivência, para alcançar a água
através de um poço, para chegar às estrelas ou no plano
transcendental e atingir a eternidade por via de uma
pirâmide ou de um sarcófago. Foi graças também a ela
que se fez a passagem entre as pontes do homo faber,
do homo sapiens até ao homo ludens, que ainda hoje,
no recreio da sua arte, se manifesta e se liberta como
elemento de uma humanidade larvar, transgredido
assim definitivamente a lei do trabalho. Escreve George
Bataille: «O homem de Lascaux criou do nada este mundo
de arte onde a comunicação dos espíritos começa. […]
Só pelo trabalho da pedra o homem se separava de uma
forma absoluta do animal.»1
São Bernardo de Claraval, nas campanhas dos
Templários comentava: «Acredita em mim, aprenderás
mais lições nos bosques do que em livros. As árvores
e as pedras ensinar-te-ão aquilo que não poderás
aprender dos mestres». As pedras dão-nos tudo, até a
pedra para dormirmos, como referia Padre António
Vieira: «Dormindo Jacob sobre uma pedra, viu aquela
© Ernesto Matos
escada que chegava da terra até o céu, e acordou atónito

1 In: George BATAILLE, O Nascimento da Arte, Sistema Solar, Lisboa,


2015.

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Transcreve-nos neste sentido o arquiteto curitibano, Equilibro-me sobre uma dócil caravela, neste mar
Key Imaguire Junior, na Gazeta do Povo2, num artigo de pedras, essas mesmas barcas que em tempos se
intitulado Só a pedra é eterna: «Todas as civilizações equilibravam com os lastros de pedra bruta branca
mediterrâneas da porta Gibraltar até os conf ins e que a plantavam nas ilhas de pedra negra. Oh que
desérticos do Oriente Médio foram construtoras com dualidade! Pedra dócil, pedra bruta, pedra branca e
pedra – o material mais durável, numa infinidade de preta que persiste nesta viagem, na minha, na nossa, na
tipologias, das mais intratáveis rochas aos mármores de vossa, no nosso passado memorial que fica logo atrás de
Paros e Carrara. Os deuses proliferaram ao longo dos cada passada, nesses mesmos instantes que damos sobre
milênios – e assim também as construções humanas. estas pedras que no presente vão construindo o futuro
E aquelas que, ao longo do nosso percurso, desafiam para alicerçar a História, como pilares erguidos aos céus,
Cronos, são de pedra. Onde se quer durabilidade, usa-se como as Colunas de Hércules à porta do mar largo que
a pedra.» clamam ainda por Teseu e o seu paradigmático barco.
Dante Alighieri, na sua marcante obra do século XIV, A A pedra é pedra, tudo o resto nasceu da pedra!
Divina Comédia, deixava escrito num dos comentários «Caminhar sobre o asfalto de cimento é um crime!»
de Virgílio: «— Olha para baixo: ser-te-á bom, para te Diz-nos Rigo, artista plástico, após a elaboração de
parecer menos fatigante o caminho, ver o pavimento
um desenho com a forma de um colorido tenuirrostro
que os teus pés pisam.» Que caminhos e pavimentos
beija-flor, executado em calçada-mosaico no bairro de
são estes senão labirintos de pedra, onde conquistamos
Tenderloin, em São Francisco da Califórnia (EUA). E
ou perdemos, aprendemos, vivemos, e afinal onde nos
continua: «A calçada portuguesa, por excelência é feita
encontramos?
com um amor muito demorado e trabalhoso, manifesta
E o que podemos nós retribuir às pedras dessa calçada uma relação com a própria terra, o próprio planeta,
senão o carinho de as olharmos? muito diferente do cimento. Estas pedras de calcário em
Caminhos são os percursos das nossas vidas. Bons e forma de mosaico são feitas para as pessoas caminharem,
maus, com ou sem sentido, são, no entanto, os que relaxarem e interagirem umas com as outras.»3
teremos de percorrer: essa é a condição da vida. E quem
Evocando a Idade Média, M. Guizot, em A L’Histoire de
sabe se a própria matéria rochosa não faz esse percurso
Françe4 evocaria já o rei Filipe II da França (Philippe-
no infinito cósmico interior mais recôndito? E se esses
-Auguste) com as suas decisões para as benfeitorias na
caminhos de pedra forem decorados e esculpidos
cidade de Paris, no ano de 1186 e no seu interesse do
com estrelas, flores, florões, borboletas dançando em
calcetamento com boa pedra para as principais ruas,
girassóis, com gregas infinitas, barcos, barcas, caravelas,
relatou: «Ayant donc convoqué les bourgeois et le prévôt
naus vindas de Malaca ainda a baloiçar nas ondas desse
de la ville, il ordonna, en vertu de son autorité royale,
mar largo que penetraram no Rossio, onde os peixes
que tous les quartiers et les rues de Paris fussent pavés
e outros animais se libertaram das correntezas e das
de pierres dures et solides.» Aqui, o monarca pretendia
torrentes que de montante a jusante vão fazendo o nome
por outro lado libertar-se do antigo nome romano desta
de um rio? E se esses caminhos forem bordados como
localidade, Lutécia, do latim Lutetia, o mesmo que lutum
por tecedeiras de Goa, criando a nossos pés dotes de
colchas com galos, pétalas de rosas em todo o seu pranto ou luti, significando lama, dado esse nome ter vindo do
nas artérias de Castelo Branco? E as ruas de Aveiro que facto daquela urbe, vila de pescadores nas margens do
se prolongam para além dos seus reluzentes canais, Sena, ficar coberta de lamaçais pestilentos aquando a
trazendo-nos vieiras, caranguejos, peixinhos doces do subida do seu leito que transbordava as margens.
rio, moliceiros de satíricas mensagens, cestos de flores, Desde cedo é tido em conta a importância da pedra para
estrelas cadentes e que delícias mais? Não serão, afinal, uma base na fluente comunicação, como nos deixaram
assim feitos estes nossos caminhos que vamos sentindo de herança várias civilizações, tal a romana, na conquista
debaixo dos nossos seres?
3 In: Ernesto MATOS, Calçada Portuguesa no Mundo – Stellis undis
contactis, Sessenta e Nove Manuscritos, Lisboa, 2016.
4 M. GUIZOT, Colletion des Mémoires relatifs A L’Histoire de France, depuis
2 In: https://www.gazetadopovo.com.br/haus/blogs-e-colunistas/key- la fondation de la monarchie française jusqu’au 13º siécle, Chez J.-L.-J.-
imaguire-junior/so-a-pedra-e-eterna/ Brière, Libraire, Paris, 1825.

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de territórios ou mesmo para a limpeza urbana face a Passeio Público pacato e frondoso […] Dos dois lados
doenças que proliferavam pela Europa. seguiam, em alturas desiguais, os pesados prédios, lisos e
Decorar o chão da cidade, seja dos espaços nobres, aprumados, repintados de fresco, com vasos nas cornijas
privados, ou dos espaços públicos não é, novidade nos onde negrejavam piteiras de zinco, e pátios de pedra,
dias de hoje, já em pinturas italianas, como as Scènes de quadrilhados a branco e preto, onde guarda-portões
la vie de saint Jérôme (1444), do pintor Sano di Pietro, chupavam o cigarro: (...).» Um pouco à semelhança dos
ou o retábulo Deux anges portant un cartouche (1492) de mosaicos italianos, em espaços privados, cujos exemplos
L’Alunno5, podemos observar o chão já decorado com ainda persistem nalguns núcleos arqueológicos de
motivos geométricos numa representação pictórica com Portugal, como os de Conimbriga, Beja, Mértola ou de
essa fórmula de passar para o chão os sonhos da alma Lisboa.
humana no seu esplendor renascentista, a arte e a estética O desenho sugestivo começa a aparecer timidamente
também no chão. O conceito de arte passa a ilustrar o após terramoto de setecentos, na frontaria de alguns
pavimento, graças às influências ancestrais dos modelos prédios ou de espaços religiosos, em formas de estrela,
decorativos dos tapetes persas, dos embutidos Nambam, como crença, com o exemplo da Estrela Mariana, de oito
das influências dos arabescos islâmicos ou das mágicas pontas ou ainda outros motivos ornamentais iludindo a
projeções bizantinas dos seus minuciosos mosaicos de tapeçarias.
parede e tetos ou no próprio chão. O Palácio Nacional da Ajuda seria um contributo e um
Os descobrimentos portugueses trazem para a cidade de barómetro para o desenvolvimento da arte portuguesa,
Lisboa a opulência e um novo estilo de vida. É durante embora ainda agarrada à influência romana que se
a Baixa Idade Média que o calcetamento de algumas arrastava de Setecentos. Neste grande empreendimento
artérias com maior visibilidade se tornou prioridade, de Oitocentos é notório o empedrado nos seus átrios,
incluindo as entradas principais das urbes. A cidade é recorrendo ao desenho ornamental, incluindo uma
aberta ao comércio internacional. O soberano português enorme Estrela Mariana, alusão ao mosaico romano mas
D. João II, o Príncipe Perfeito, depressa se apercebe aqui aplicado numa escala superior.
dessa importância como contributo para o fluir do Com as invasões dos exércitos napoleónicos, a partida
rentável comércio na zona da Ribeira, dizendo: «que da Corte em 1808 e o país numa má situação económica
sejom as ruas bem espaçosas que possom as gentes per e paralisada durante décadas, era agora, num momento
elas andar e cavalgar sem embargo». É, assim, aberta mais apaziguador dos meados do século XIX de restaurar
a rua Nova de Lisboa e pavimentada com a melhor a confiança, retomando o espírito empreendedor de
matéria-prima do país. Numa primeira fase com pedra reformas e dos problemas da arte.
das pedreiras do Porto; posteriormente retirada das
pedreiras da região de Cascais. Descreve-nos bem esta
fase histórica Iria Gonçalves, no seu livro Um Olhar
Sobre a Cidade Medieval (1996), referindo-se ao apogeu
de uma capital concentrada nesta rua e numa resistente
pedra em lajedos a sustentá-la. O rei sucessor, D. Manuel
I, o Bem-Aventurado, continuaria essa obra e esse
método. Todavia, só depois do terramoto de 1755 é que a
capital se libertaria das emaranhadas artérias medievais,
labirínticas, tortuosas e sujas. Nesta nova fase da urbe,
as ruas passariam a ser mais largas, contemplando-
-se já os passeios para os transeuntes. Os pavimentos
ornamentais estavam limitados a alguns espaços e
ainda muito diminutos, como nos deixou retratado em
escrita Eça de Queiroz na sua obra Os Maias (1888):
«Num claro espaço rasgado, onde Carlos deixara o

5 Ambas no Museu do Louvre, Paris. França.

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FIGURA 2
Rossio XXI

© Ernesto Matos

Porém, somente a partir de 1842 e por intermédio deliciosos textos incluídos no livro Estética Citadina7,
de Eusébio Furtado é que os pavimentos designados que incorpora artigos publicados no jornal Diário de
por calçada-mosaico começam a tomar forma, como Notícias, a partir do ano de 1911: «(...) foi então esse
experiência numa maior escala, embora ainda num espaço calcetado pelos grilhetas do Limoeiro com um
antigo espaço prisional do atual Castelo de S. Jorge empedrado á portuguesa de pedra miúda branca e preta
e num incentivo à pedagogia correcional. A técnica — formando o desenho múltiplos ondeados geométricos,
artística do entalhamento, quer das madeiras ou da a que mais tarde se emoldurou com facha ornamental
pedra na decoração começara a perder importância em volta; tendo sido o brigadeiro Furtado, governador
mas um outro modo mais rude e internacional avança do Castelo de S. Jorge, quem fez o modelo do notável
agora. Seis anos depois dessa experiência no átrio de empedramento. Este sistema de calcetamento decorativo,
um presídio, o espaço público de Lisboa ganhará uma só usado em Portugal, é devido á existência do basalto
nova dimensão. A reconstrução da baixa, herdada nas pedreiras de Alcântara, Monsanto e subúrbios, e
de Pombal reenquadrava uma ampla praça na sua tem-se generalizado, tanto nas ruas da cidade, como se vê
arquitetónica rede geométrica e, que seria concluída também em várias praças de cidades provincianas; o seu
em 1845, havia assim de a finalizar. A pedra branca início público, pois já se usava anteriormente nos átrios
de lioz (calcário marmoreado) e o basalto negro viria de casas aristocráticas, foi porém no Rocio o ponto em
desta forma a conjugar-se num padrão de ondas que que primeiro se empregou ao ar livre (...).» Curiosamente,
transmitiam movimento ao solo e que se soltaram dos a influência italiana é também aqui detetável, dado este
rígidos ziguezagues retilíneos anteriores, formando este, padrão de ondas ter sido já motivo ornamental num
para a época, um estrondoso projeto gráfico no centro estandarte de guerra, na pintura O Contra-ataque de
de Lisboa, o Rossio. Uma praça magistral que aguardava Michelotto da Cotignola en la batalla de San Romano
a abertura do Passeio Público no seu agora expoente (1455), de Paolo Uccello8. Por casualidade, é aqui em
romântico onde, era já notado, duzentos anos antes por Lisboa, um militar que propõe este tipo de empedrado
D. Frei Luiz Mendes de Vasconcelos que exclamava: «A para o espaço público numa maior escala e não ficar
melhor das cinco partes do mundo é a Europa; a melhor restringido a espaços fechados ou privados (este desenho
da Europa é a Espanha; a melhor de toda a Espanha é foi elaborado em 1821 mas viera a desaparecer em 1863
Portugal; a melhor de Portugal é Lisboa; a melhor de aquando o incêndio dos Paços do Concelho). Transferiu-
Lisboa é o Rossio e as suas casas desta praça, pois dali se assim para o espaço público o que era de uso privado
se veem as toiradas da banda da sombra.»6 e se faculta o benefício deste bem-estar citadino a todas
Neste espaço urbano, já milenar, nascerá por esta forma as classes sociais. As preocupações pedagógicas eram
o apogeu da ilusão em grande escala nos passeios inerentes e patentes à propaganda do vintismo deste
públicos, como nos conta Ribeiro Christino nos seus
7 Ribeiro CHRISTINO, Estética Citadina, José Ribeiro Editor, Lisboa,
6 Luís Mendes de VASCONCELOS, Do Sítio de Lisboa, Livros 1990.
Horizonte, Lisboa, 1990. 8 No Museu do Louvre, Paris, França.

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século. É posteriormente este elemento estético central O emblemático empedrado desta praça de Lisboa, na sua
padronizado em calçada, designado por Mar Largo como esplêndida opulência e que influenciará posteriormente
que um tributo a Luís de Camões e ao seu poema épico muitas localidades nacionais e internacionais, durará até
Os Lusíadas9 (1572), perante a grande dimensão de um meados de 1919, assim pouco mais de meio século! Onde
mar frente às nossas praias e que nos fizeram alcançar pelo meio se fizeram experiências com uns galheteiros
grandes conquistas, tal como o mar das mesmas pedras e que daria em 1870 a um pedestal definitivo. De novo,
a que hoje nos afeiçoamos para trilhar novos caminhos Ribeiro Christino, sobre este estropiamento do Rossio
noutras partes do mundo. É típico do romantismo este relatou: «Depois dessa época o Mundo deu muita volta,
reviver o passado (tal como o fenómeno socio cultural e ao Rocio… ainda muitas mais voltas lhe deram!,
revivalista que se manifestará ao longo da história da quem?, todos o sabem, uma vereação municipal; a qual
humanidade), como no pensamento de Alexandre atacada de bolchevismo anti-estético, transformou uma
Herculano que seria de levantar o patriotismo ou como magnífica e originalíssima Praça citadina, num recinto
nos deixou escrito o historiador José Augusto França: banal e sem sabôr como aspecto geral e num perigo de
«Em Portugal, ela (época romântica) seria ocasião de vida para os transeuntes.».
pitoresco e de discreto sentimentalismo. O pitoresco Um abandono por cá nesta Europa face ao início da
era garantido pelos costumes dum país fechado ao industrialização mas logo no início do séc. XX, um
progresso, onde ainda então se viajava de liteira, pelos novo começo se iniciou definitivamente em latitudes
difíceis caminhos do interior.»10 Foi este empedrado, no mais a sul, como foi o caso da proliferação deste sistema
entanto, a passadeira para o recém-inaugurado teatro de empedrar no Brasil. Manaus acolhe a primeira
D. Maria II (1846), ao modelo garrettiano. Não sem experiência do decorar com calçada-mosaico o chão do
críticas por alguns, que olhavam este novo Rossio de espaço público, em 1905, com uma réplica do mesmo
uma forma peculiar, como o fez o escritor e panfletário padrão, aplicado no Rossio e um ano depois esse mesmo
Fialho de Almeida (1857-1911) ao observar esta praça sistema ao longo da baía de Copacabana. Grandes
a partir do adro da Graça: «Naquela enorme mancha edificações do romantismo num processo e esforço
a preto e branco, semelhante a um pesadelo hugoesco titânico que jamais seria abandonado, tornando-se ainda
que Goya e Rembrandt houvessem reproduzido a hoje aquela baía carioca e o seu majestoso calçadão num
água forte, a vista, uma vez repousada do sobressalto incomensurável ícone internacional.
da primeira visão, compraz-se agora em procurar, na Por Lisboa, somente em 2001, quase um século depois
tumultuosa embriogenia das formas, sítios familiares e sob a presidência do autarca João Soares é que este
por ela conhecidos.»11 Mas a crítica às calçadas não se emblemático e amplo espaço central passaria a ter
fizeram só por cá, em Paris, mais recente, na década de novo a seus pés, praticamente, toda a sua base
de 1990 aquando a pavimentação da renovada Place pavimentada a calçada. Quase que uma réplica do
Vendôme, que outrora estaria com um piso liso e sem desenho original de 1848, embora o negro basalto das
qualquer textura ou desenho, a docente da Universidade redondezas da capital fosse substituído por um mais
de Versailles, Monique Mosser, ironizava também: «para afeiçoado calcário negro de Alqueidão da Serra (Porto
variar, cai-se nos efeitos de ladrilhamento, invariavel- de Mós) e o lioz pelos claros calcários vidraço do Maciço
mente em praças de prestígio, resultando em aparência Estremenho (Região do Centro).
de grandes banheiros ou cozinhas gigantescas, a céu A calçada ornamental generaliza-se para usufruto de
aberto.»12. toda a população. Podemos encontrar uma sua variante
no conceito da calçada-mosaico, talvez por influência
9 A expressão mar largo encontra-se escrita n’Os Lusíadas, IV Canto, dos famosos trabalhos artísticos em mosaico na capital,
estrofe 66.
no século XVIII (veja-se especialmente a Capela de S.
10 In José Augusto FRANÇA, A Arte em Portugal no Século XIX,
Livraria Bertrand, Lisboa 1966. João Batista na Igreja de S. Roque, magistral encomenda
11 Fialho de ALMEIDA, Lisboa Galante, Vega, Lisboa, 1994. de D. João V a artistas italianos, com mosaico e micro-
12 In Eduardo YÁZIGI, O Mundo das Calçadas, Universidade de São -mosaicos de pedraria semi-preciosa na ornamentação
Paulo, 2000, citando Monique MOSSER, La Guerre des Trottoires.
Ou les nouveaux embarras de Paris, Debat, Gallimard, nº 80, Mai-
de painéis parietais e no pavimento da sua capela
Août 1994. privada, em imagem de grandeza que rivalizava com

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o rei Sol, o francês Luís XIV). Ainda hoje podemos FIGURA 3


apreciá-los, vívidos e salvaguardados, no mesmo local O Minotauro da Liberdade
em Lisboa. São os painéis de parede Batismo de Cristo
e o Anunciação, ambos de Mattia Moretti e o frondoso
pavimento que contorna uma esfera armilar, projetado
por Luigi Vanvitelli e dirigido na sua elaboração por
Enrico Enuò. Embora na época tivesse sido uma afronta
para o Erário público, decerto viria contribuir todo
este empreendimento para o desabrochar da arte em
Portugal, que até a essa altura, como nos relata Ribeiro
Christino: «jazia mergulhada, desde a trágica jornada
de Alcácer Kibir.»
A designada expressão de calçada à portuguesa é ainda,
em finais do século XIX, uma aplicação da mistura de
rudes pedras nos arruamentos, com pouco sentido de © Ernesto Matos
ornamentação estética, como nos afirma nos finais do séc.
XIX, Francisco Silvano no seu livro Duas palavras sobre
As calçadas e o conceito estavam definitivamente
Pavimentos13: «Calçada ordinária. Este tipo de calçada
lançados, tal como a persistência de um povo que não
também conhecida pelo nome de calçada á portuguesa. É
deixará de as produzir, embora seja um trabalho duro,
de ordinário feita com pedra rija, seixo, basalto, calcareo
moroso, rude… como poeticamente Cesário Verde
e outras, emprega-se com pouco apparelho, pois apenas
desenvolveria em Cristalizações, do seu livro homónimo
se lhe faz plana a face, isto é, a parte vista; a pedra
de 1887: «(…) De cócoras, em linha os calceteiros, / Com
deve ser faceada na sua superfície menor e collocada
a prumo no sentido do seu máximo comprimento. A lentidão, terrosos e grosseiros, / Calçam de lado a lado a
parte opposta á face chama-se topo». No entanto um longa rua, (...)», ou mesmo numa duríssima denúncia feita
ano antes, 1895, a publicação Arte Portuguesa – Revista pelo semanário A Obra, de 1891, em que num brilhante
illustrada de archeologia e arte moderna, relata-nos em artigo dedicado aos calceteiros escreveu: «Nenhum dos
forma notícia que: «A COMISSÃO executiva da Camara nossos leitores desconhece, o typo do trabalhador de que
Municipal de Lisboa resolveu, ha poucos dias, que d’óra nos vamos ocupar; e comtudo o que muitos desconhecem,
ávante se empregue sempre o empedrado á portugueza é que esses operários são uns dos mais explorados de
na construcção e reconstrucção dos passeios lateraes das todos os procuctores. Quem será, na época presente que
ruas. Faz muito bem a commissão; nós entendemos que trabalhe das 4 e meia da manhã ás 7 e meia da tarde,
mesmo alguns passeios lateraes da Avenida da Liberdade sem que proteste? Quem soffrerá mais do que esses
poderiam ser revestidos do empedrado meudo, que míseros trabalhadores, que passam um dia inteiro de
dá fuga fácil às aguas da chuva, e se não desfaz em cócoras, com o peito curvado sobre os joelhos, e firmados
fina poeira. Ousamos pedir á commissão que mande nos bicos dos pés, ora com o sol batendo-lhe em chapa
ornamentar os empedrados (trabalho que se executa bem nas costas, ora todo o dia com os pés encharcados em
aqui na capital) com desenhos fundados em elementos de lama, para receberem, como produto da cada dia d’esse
ornamentação nacionaes. Seria interessante um concurso espinhoso labor, 650 ou 700 réis?».
de taes desenhos para os passeios das ruas, avenidas e A persistência será uma qualidade dos portugueses
praças. O empedrado portuguez é um derivado directo e passa-se a designar popularmente esta técnica de
dos mosaicos romanos. É notável como se perdeu entre pavimentar o chão, na sua generalidade, como Calçada
nós o uso dos finos mosaicos antigos, compostos de Portuguesa. Mas não é ainda toda a cidade de Lisboa que
pedras quadradas, de diversas côres e de pequenas usufrui desta experiência, a crise mantém-se também
dimensões.» pelas ruas e por falta de empedrados dignos, segundo
a revista O Branco e o Negro, do ano de 1899, é-nos
13 Francisco Liberato Telles de Castro da SILVA, Duas palavras sobre
relatado: «Aproxima-se a semana, consagrada pela
pavimentos, Typ. da Companhia Nacional Editora, Lisboa, 1896. Egreja Catholica á commemoração do grandioso drama

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do Calvario. A cidade, açoitada quasi diariamente pelas Mário Miranda, em Loutolim ou a de Eurico Santana
tormentas d’estas derradeiras despedidas do inverno, da Silva, em Margão15. Por cá, somente as tonalidades
apresenta uma physionomia de tristeza, [...]. As ruas, a preto e branco vêm persistindo nos atuais desenhos.
mediocremente calçadas, porque a municipalidade Técnicas como o malhete e o sextavado (praticamente
não dispõe de recursos nem para as obras mais em desuso) assumem características muito idênticas ao
indispensáveis, acham-se transformadas em pântanos processo do embrechado ou do entalhe, com o recorte
sertanejos. Decididamente, a capital portugueza está e o encaixe da pedra a formar uniões quase perfeitas
cada vez menos apresentável. A miséria alastra cada em que há o mínimo de espaço entre elas. Rivalizavam
vez mais a sua mancha sombria sob esta athmosfera entre si os antigos mestres calceteiros portugueses que
pardacenta da cidade. Em vão a caridade elegante e afirmavam: «Entre as pedras que eu corto não cabe uma
fidalga inventa dia a dia festas attrahentes, cujo produto mortalha de tabaco».
destina gentilmente ao allivio dos sofrimentos dos A arte é assumida nesta profissão e, nos princípios do
miseraveis (...).» século XX, um concurso internacional é lançado em
Na vizinha Espanha, a sul, na zona de Granada, muitos Lisboa (1912/1913) para apurar da vertente técnica e do
dos passeios, quer da cidade como noutras localidades rigor do empedrar com sentimento. Um novo incentivo
das redondezas, utiliza-se, desde há muito, o processo de politico-cultural cresceria assim na sociedade desta
empedrar com desenho, produzindo efeito e aparato na época, tal como grandes construções, como o Instituto
ornamentação dos espaços públicos, que vai persistindo Superior Técnico e o seu empedrado ou mais tarde a
ainda nos dias de hoje. Sendo que esta é ainda influência Exposição do Mundo Português (1940), que, dirigida
islâmica das épocas do Al-Andaluz. Com este processo, pelo arquiteto Cottinelli Telmo e numa consolidação
chamado de granadinos, recorre-se aos pequenos seixos de renovada política, trará rigor e exigência como
rolados dos rios que afloram por ali em abundância prova de uma cultura em prol da sociedade. Nas
ou mesmo trazidos das praias mais a sul, das orlas do Efemérides – Exposição do Mundo Português - 1940, da
Mediterrâneo. É de registo em Portugal, ainda esse Hemeroteca Municipal de Lisboa (HML-CML) encontra-
género de empedrados, nos primeiros tratuários na Ilha -se registado em jeito de resumo esta relação do Estado
da Madeira e no Arquipélago dos Açores, em grande e da Arte: «(…) Corolário de uma política de espírito,
evidência os na Ilha Graciosa14, devido, sem dúvida, à lançada na década anterior pelo audacioso director do
abundância de matéria-prima por ali residente, a meio Secretariado de Propaganda Nacional, António Ferro,
do Atlântico e sobre formações basálticas e traquíticas assiste-se à mais conseguida conciliação da arte com a
e ainda restos dos lastros de calcários que por ali eram política no Estado Novo.»
deixados pelos homens das naus do vento, argonautas, Um notável grupo de artífices calceteiros, entre os quais
porventura! os célebres calceteiros de Fanhões, darão aqui um grande
Antoni Gaudí também ornamentava parte dos seus contributo no aprimorar desta arte, tal como, entre
projetos na região de Barcelona mas com o método outros, o Mestre Joaquim Pereira (Cadica).
embrechado. Embora não seja com pedra natural, Os dados tinham sido lançados. Mais tarde alguns artistas
o azulejo ou a cerâmica partida/cortada assumem e arquitetos de renome, como Maria Keil, João Abel
contornos multicoloridos de grande beleza quando Manta, Francisco Caldeira Cabral ou António Mateus
justapostos, quer em paredes ou nos empedrados. Em Júnior, darão forma aos pormenores do rigor plantados
Goa, na altura da administração colonial portuguesa, o e estampados nas ruas de localidades portuguesas e que
embrechado foi assumido e aplicado em alguns locais os seus profissionais da arte e do engenho de cortar a
habitacionais de comerciantes mais abastados, como pedra com todo o seu brio/esforço, dariam continuidade
em alguns pátios (num modelo arquitectónico de casa- à perícia dos seus martelos, das mãos, dores, martírios
-pátio), varandas e interiores, recorrendo-se a loiças e e da implacável dureza do tempo. A título de exemplo,
cerâmicas partidas durante as viagens (assim tornadas ainda hoje se podem admirar os delicados pormenores
transacionáveis), como é o caso dos interiores da casa de
15 Ver: Ernesto MATOS, Calçada Portuguesa no Mundo – per orbem
14 Ver: Ernesto MATOS, Graciosa – Calçada a Mosaico, Sessenta e terrarum et marem vastum, Sessenta e Nove Manuscritos, Lisboa,
Nove Manuscritos, Lisboa, 2014. 2009.

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desse passado, existentes na Praça do Império e em passagem do livro Pflastermosaiken in Freiburg17: «Granit
redor do Jardim da Estrela (este local com bastantes stammt allgemeinen aus dem Shwarzwald, manchmal
assinaturas de calceteiro, entre elas algumas de um wird er jedoch auch Portugal geliefert.»
outro mestre fanhoense, Zé da Clara), ambos os locais Mais recentemente, por terras lusas, artistas como João
em Lisboa ou ainda outros pormenores laboriosamente Abel Manta (na Praça dos Restauradores), Eduardo Nery
executados na Praça do Marquês de Pombal, em Aveiro. (na Praça do Município), tatuariam com pedra branca
O território de Macau, ainda sob administração e preta alguns locais centrais e emblemáticos com o seu
portuguesa, a partir dos anos de 1980, implementou na engenho estético-artístico. Ainda com um conceito mais
sua principal zona nobre e histórica, esta característica arrojado, Alexandre Farto (Vhils), transportaria para
forma de pavimentar/ilustrar o chão do espaço público, um mural do chão/parede, através da pedra da calçada,
à imagem das ruas de Portugal. Arquitetos paisagistas um dos rostos mais marcantes do Fado nacional, o da
como Caldeira Cabral ou Carlos Marreiros, entre Amália Rodrigues (Rua de São Tomé, Lisboa, 2015). Não
outros, deram nesta parte do mundo continuidade a um nos podemos esquecer ainda do contributo que artistas
estatuto empírico de ser português, de saber receber contemporâneos nos deixaram marcadamente para os
o próximo com alma, nos seus tapetes alados, à porta, pavimentos-artísticos do Parque das Nações, aquando
nas portas, nas ruas e nas viagens transcendentais que o evento da Exposição Mundial Expo’98, sendo eles
nunca deixaremos de fazer enquanto seres portadores Fernando Conduto (Mar Largo), Pedro Calapez (sem
de humanidade, nas encruzilhadas interculturais mesmo título em redor da Torre Galp), Pedro Proença (Monstros
nas de Luís de Camões (que por estas latitudes o poeta Marinhos), Rigo (Caminho da Água) e Xana (Calçada
tem agora gravado, à pena e martelo por imaginação do Cais Português).
de Lima de Freitas os seus 10 Cantos, imortalizados Mas os anos passam, tal como os modos, as modas, os
nas várias tonalidades dos calcários portugueses)16. modelos, os moldes… hoje, à porta de uma candidatura
Foi graças à conquista desse mar largo, mesmo à nossa a Património Imaterial da Humanidade da Unesco
porta, que pensávamos intransponível, que afinal nos deste processo de pavimentar, terá a sociedade nacional
encaminharia para paragens dos confins do mundo, capacidade de continuar a preservar as mesmas técnicas
nesta península de A-Má. A moda parece ter ficado de que outrora os nossos autodidatas calceteiros-artistas nos
vez pelo Oriente dado terem já passado mais de 20 anos deixaram como testemunho? Ou será que esta geração
de administração chinesa e as pedras vindas do lado de se contenta com pseudo escolas que laboriosamente nos
cá continuarem a estar bem assentes no lado de lá. Não iludem, enquanto programam artes de rua circenses
só a arte se prostou ao chão mas uma outra linguagem e nos remetem para estatísticas coloridas? Depois, na
filosófica nasceu dentro destes mesmos contornos, o feng- realidade, formam apenas uns assalariados, designados
-shui, como padrões de orientação aplicados nas pedras também popularmente de «arrumadores de pedras» e
desta calçada, tal como as orientações do bhagavad gita em que o chão que nos estendem, no qual diariamente
que vêm redigindo destinos dentro dos vários estilos de pisamos, são apenas deformadas pedras paralelas
arte ou da arquitetura, também por paragens asiáticas. argamassadas a betão, como pó de arroz gratinado?! Que
Os vários tipos de pedra portuguesa, são sem dúvida papel/pedra poderão ter as universidades e faculdades
muito apreciados também em cidades europeias para a de Belas Artes do país na continuidade e orientação da
decoração de pavimentos, como no caso de Freiburgo. rocha como elemento e disciplina de aplicação/formação
Uma pequena cidade alemã que apostou para os seus superior nos pavimentos e na Arte Pública?
passeios na vertente artística de também fantasiar o chão Afirma-nos o mestre calceteiro Zé da Clara no livro
com os mais diversos motivos em inúmeras tonalidades. Fanhões – Hominies Petrae18: «Foram gente lutadora /
Aqui para esta localidade o próprio granito é importado
de Portugal para satisfazer o brio de parte daqueles
arruamentos turísticos e multicoloridos. Refere-nos uma 17 Marianne WILLIM, Rudiger BUHL, Pflastermosaiken in Freiburg,
Ein uraltes - eine Kunt besonderer Art, Promo Verlag GmbH, Freiburg,
1999.
18 Ernesto MATOS, Lonha HEILMAIR, Fanhões – hominies petrae,
Sesenta e Nove Manuscritos, Lisboa 2014. A Freguesia de Fanhões
16 Ver: Ernesto MATOS, Calçada Portuguesa de Macau, Sessenta e (Concelho de Loures) é desde 2018, bem-aventurada Capital do
Nove Manuscritos, Lisboa 2010. Calceteiro.

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/ Peregrinos do trabalho / Foram ilustres outrora / E A nossa alma é o reflexo espelhado das calçadas que
hoje – objectos de enxovalho!». construímos, logo, a calçada artística à portuguesa somos
Num grito de alerta, melhor que ninguém, Alexandre nós, como comprovativo da passagem por este universo,
Herculano, mordazmente, deixou-nos de herança o seu também de fractal!
apelo no Opúsculos19: «Barbaros! Importa a arte, as
recordações, a memoria de nossos paes, a conservação FIGURA 4
de cousas cuja perda é irremediável, a gloria nacional, Talento de Cimento
o passado e o futuro, as obras mais admiráveis do
engenho humano, a história, a religião. Vós, homens
da destruição, dos alinhamentos, dos terreiros, da
civilisação vandalica, é que importaes bem pouco;
porque, semelhantes a vermes, roeis e não edificaes;
porque não deixareis rasto no mundo depois de apagar
tantos vestígios alheios; porque nada valendo, menos
cabaes os que valeram muito; porque se um templo, um
mosteiro, um castello duraram seis ou oito séculos e
durariam, sem vós, outros tantos, as vossas picaretas, as
vossas alavancas, os vossos camartellos estarão comidos
de ferrugem e informes antes de vinte annos, e são essas © Ernesto Matos
as únicas e tristes memorias da vossa ominosa passagem
na terra.»
Está assim nas nossas mãos o futuro da pedra, não Calcetare necesse est, lapides tollere necesse non est!
propriamente da pedra já que essa é bem duradoura,
mas do destino que lhe queiramos dar, que lhe queira-
Ernesto Matos
mos transmitir com as nossas mãos, com as nossas
ferramentas, com o nosso engenho de olhar progressiva-
mente o futuro, esse mesmo que nos espera, o que
esperamos dele para deixar para o passado. A ficção
científica vem dando mostras da vontade de criar utopias,
onde os centros públicos das cidades serão pavimentados
com elaborados desenhos ornamentais. Mostra-nos
num desses exemplos, o realizador George Lucas na
sua sequela A Guerra das Estrelas, onde, no planeta
Naboo, do episódio II, O Ataque dos Clones (2002), se
encontram em parte, esses pavimentos do futuro ou
quem sabe, de há muito, muito tempo numa galáxia
muito distante. Visualizamos ali imaginados padrões de
pétreas vagas retilíneas e bordados em cercaduras por
ondas circulares onde os personagens se movimentam
sobre a dança dos olhares periféricos dos espetadores/
captadores de energias poéticas, nós, os sonhadores e,
logo, os ainda construtores dessas calçadas decalcadas.

19 Alexandre HERCULANO, Opúsculos, Tomo II, Viúva Bertranda


& C.ª, Lisboa, 1873. Versão da Biblioteca Nacional Digital.

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Louseira de Canelas
Atividade Extrativa e Ciência de Mãos Dadas Durante Três Décadas

Manuel Valério Figueiredo


Centro de Interpretação Geológica de Canelas
E-mail: trilobitegigante@gmail.com

Palavras Chave: Indústria extrativa, cooperação científica, museu das trilobites, geoparque Arouca.

RESUMO

A reabertura das Louseiras de Canelas em 1988, permitiu desde logo o fornecimento de lousas para os telhados da
região. Paralelamente, a empresa então fundada assume o papel de resgate sistemático dos novos achados fósseis, que
se vai intensificando ao ritmo da própria exploração, não encarando este património como um entrave. A inauguração
do Centro de Interpretação Geológica de Canelas, ou Museu das Trilobites, em julho de 2006, impulsionou a criação
do Geoparque Arouca.

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1. INTRODUÇÃO estudos, reveladores das inéditas particularidades desta


jazida fossilífera no contexto nacional e internacional. O
grande objetivo foi alcançado com a construção de um
Os xistos ardosíferos são abundantes na região de Canelas
museu de sítio, o Centro de Interpretação Geológica
e integram a denominada Formação de Valongo. Este
de Canelas. Inaugurado em 2006, abriu portas visando
filão, que contém rochas da Era Primária ou Paleozóico,
divulgar ao público em geral e aos especialistas o patri-
é consagrado internacionalmente pela qualidade das
mónio salvaguardado. Este acontecimento despoletou a
suas ardósias e pelos fósseis resgatados do interior das
ideia de classificar a região de Arouca como Geoparque,
suas camadas. As ardósias exploradas em Canelas são
o que viria a concretizar-se em 2009.
do Ordovícico Médio, bem atestado pela fauna fóssil
No presente, a biota de Canelas é reconhecida interna-
extremamente diversificada presente no seu interior.
cionalmente como uma Konservat-Lagerstätte, devido à
Depois de descobertas as suas propriedades e qualidades diversidade e qualidade na preservação dos fósseis, um
em 1820, as lousas negras e finas passaram a ser explo- caso raro no contexto mundial. Em termos paleontoló-
radas, substituindo o colmo na cobertura dos telhados gicos, sobressaem até ao presente as trilobites, espécies
das casas da região. Nasceu assim um negócio sazonal e incomuns cuja característica diferenciadora é o gigantis-
familiar com alguma relevância local no início do século mo. Outra especificidade desta jazida são os ninhos de
XX, segundo a primeira monografia da freguesia, que trilobites mono específicos, que confirmam comporta-
terá atingido o seu apogeu nos anos 20 e 30, fruto de mentos gregários destes animais. Recentes achados em
uma sociedade informal entre os três Valérios, Manuel, níveis nunca explorados industrialmente indiciam, em
Custódio e Joaquim. Implementaram-se novas tec- primeira análise, dados novos para a ciência.
nologias, copiadas do setor mineiro do volfrâmio em
grande expansão, que permitiram elevar a produtivi-
dade. A Segunda Grande Guerra obrigou a um forte 2. LOUSAS PARA TELHADOS, PEIXES DES-
abrandamento da exploração mas, uma vez terminada, CONHECIDOS
a pedreira renasceu com nova administração e retomou
a laboração em pleno. Os anos cinquenta foram marca- A primeira monografia de Canelas publicada em 1908,
dos pela publicação do primeiro estudo científico sobre pelo professor Pinto Madureira, contém um breve
os fósseis de Canelas, da autoria do professor Décio historial sobre a descoberta do filão das lousas e seus
Thadeu (1956). Poucos anos depois, a exploração foi protagonistas. O descobridor foi Manuel da Costa, no
sendo reduzida até ao abandono total, na década de ano de 1820, impulsionado pelo objetivo de substituir o
setenta. Em 1982, o professor Carlos Teixeira designou colmo na cobertura dos telhados das casas de Canelas.
esta louseira de «Pedreira do Valério», talvez em sinal
de reconhecimento pelos fósseis oferecidos pelos nossos
FIGURA 0
antepassados quando, em 1953, visitou esta jazida na
Lugar de Cima – Canelas
companhia do grande amigo Thadeu.
O ano de 1988 marcou o retomar dos trabalhos nas
louseiras, a cargo da recém-criada empresa Ardósias
Valério & Figueiredo Lda., constituindo uma vez mais
a aplicação das lousas nos telhados da região o motor
de arranque. Em simultâneo, vieram também à luz
do dia os primeiros vestígios fósseis, que foram desde
a primeira hora encarados como algo relevante. Não
foram tratados como uma contrariedade nem vendidos
a colecionadores. Pelo contrário, foram alvo de preser-
vação. A necessidade do seu reconhecimento por parte
da comunidade científica, e mesmo da sua divulgação,
impulsionou a realização de exposições em várias uni-
versidades. Estas mostras abriram o caminho a novos

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Rapidamente a notícia se espalhou no Vale do Paiva. impermeabilidade e durabilidade. A fama conquistada


Arrancadas a pulso de forma completamente artesanal em freguesias distantes fez subir as encomendas e o
e carregadas em carros-de-bois, eram conduzidas por número de carros produzidos. Uma carrada completa em
caminhos escabrosos, atravessando mesmo o rio Paiva carro-de-bois (medida de referência) totalizava dez
pelas mãos dos barqueiros. As primeiras lousas terão camadas, perfazendo quinze metros quadrados. Pinto
sido pregadas com tornos de madeira, observados nas Madureira, em 1908, foi primoroso em referir o ano da
estruturas de casas antigas, as primeiras a receberem descoberta e o volume anual da produção: «…Próximo
as lousas. Os aplicadores das lousas nos telhados, os do morro dos Galinheiros, ao norte da estrada que
«lousadores», foram lentamente aperfeiçoando a técnica vem d’Arouca para Alvarenga, há o jazigo de lousas,
de assentamento, que passou pela pregagem com pregos descoberto em 1820 por Manuel da Costa e hoje pertence
de ferro ainda fabricados individualmente pelos ferrei- a seu filho Sr. João da Costa calculam-se em 400 a 500
ros. Desconhecemos se os fósseis terão causado algum carradas de lousas, que d`ali saem anualmente, algumas
impacto nos primeiros «louseiros», contudo era quase para freguesias muito distantes. É esta a maior riqueza
impossível não se terem intrigado com as suas estruturas, de Canelas…».
semelhantes às de alguns animais conhecidos. Ainda Desta produção intensa derivaram ainda outras ativida-
mais enigmática lhes terá parecido a sua entrada para des paralelas, como sejam os «carreteiros», que transpor-
o interior das rochas, que abriam facilmente como um tavam as lousas, e os «lousadores», que as assentavam nos
livro. Os nossos avôs ainda apontavam o Dilúvio como telhados, sendo que estas profissões passavam habitual-
causa da existência destes estranhos peixes dentro das mente de pais para filhos. Perante a necessidade de dar
rochas, não admira portanto que já remonte ao passado resposta a uma procura crescente, o novo proprietário
longínquo esta interpretação teológica. das louseiras, Manuel Soares Valério, resolveu constituir
A falta de informação escrita sobre esta atividade no uma sociedade informal com dois irmãos, Custódio e
século XIX é finalmente quebrada em 1873, por altura Joaquim, não abrindo mão da posse dos terrenos. Jovens,
da passagem na Louseira de Canelas de uma das figuras imprimiram um novo ritmo aos trabalhos em meados dos
mais relevantes da geologia portuguesa. O General Nery anos vinte. Abandonaram as louseiras antigas e abriram
Delgado (1835-1908) encontra-se entre os pioneiros e novas a nascente, em sítios mais favoráveis, tanto pela
primou toda a sua investigação com base em trabalho qualidade e pujança do maciço, como pela facilidade no
de campo, fundamental para a publicação do primeiro escoamento da água, eterna inimiga. Esta sociedade «de
mapa geológico de Portugal em 1876. Terá sido neste boca» foi acompanhada por novos progressos tecnológi-
contexto que visitou a região de Arouca, registando no cos, copiados e adquiridos nas minas de volfrâmio que
seu «Livro de Campo» uma curta e dupla descrição sobre floresciam na região desde o início do século. Sarilhos
os fósseis e a atividade extrativa em curso: «… a 800 m a e vagonetas passaram a ser ferramentas essenciais nas
SSE da Capella de Sto. Adrião ví no grupo de camadas renovadas louseiras. Esta nova dinâmica terá aumentado
do shisto regular um grande exemplar muito achatado a produção e a rentabilidade do negócio, ao ponto de pu-
de Calymene tristani, que perfeito mediria talvez 250 mm blicitarem as louseiras na imprensa regional, indicando
de comprimento. No barranco contíguo que desce para os diferentes produtos e preços (Defesa de Arouca nº 333
o sul há várias pedreiras abertas neste shisto, o qual de 21 de Maio de 1933).
empregam para cobrir os telhados» Livro de campo – Os anos trinta marcaram a descoberta dos fósseis de
Entrada de 1873. Surpreendente a admiração expressa Canelas por parte de um arouquense que passou a visitar
perante a grande dimensão da trilobite observada, talvez com alguma regularidade esta pedreira, atraído pelos
um palpite sobre o futuro desta jazida. fósseis. O Dr. Simões Júnior (1891-1972) era um médico
Na entrada do século, em 1904, as louseiras de Canelas distinto, mas também investigador na área da história
foram transmitidas por doação de João Soares da Costa e da etnografia, entre outras. Percorria ainda os velhos
a uma sobrinha e afilhada, Ana Joaquina Soares, casada caminhos a cavalo, sempre que o chamavam os doentes
com Manuel Soares Valério (Júnior). A segunda notícia das aldeias mais isoladas. Sempre que se deslocava a
conhecida, referida no início deste capítulo, vem confirmar Canelas, aproveitava a ocasião para visitar as louseiras e
o desenvolvimento notório desta atividade graças ao cumprimentar o meu avô Joaquim Soares Valério (1897-
sucesso alcançado nos telhados, nomeadamente uma total 1976), ao mesmo tempo que observava os fósseis postos

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

de lado. Os mais vistosos eram oferecidos ao doutor 50.000 escudos, ou cinquenta «contos de rei», como se
amigo, que de seguida os exibia com algum destaque dizia antigamente.
numa estante do seu consultório particular. Foi contudo
no seu arquivo fotográfico que identificámos a imagem FIGURA 2
mais antiga conhecida até ao momento das Louseiras de Publicidade anos 30
Canelas. Graças ao seu gosto pelas fotografias, retratou
cenas do seu tempo desaparecidas entretanto.

FIGURA 1
Louseira anos 30

O estalar da Segunda Guerra e as políticas salazaristas


afetaram a procura de lousas, fazendo contudo disparar
de novo a procura do volfrâmio, já que todos procuravam
ser «volframistas» em tempos de miséria extrema. O meu 3. O PRIMEIRO ESTUDO SOBRE OS FÓSSEIS
avô Joaquim e o irmão Custódio aceitaram o desafio DE CANELAS E O PROGRESSIVO ABANDONO
e arriscaram subir a serra em busca do minério, indo DA EXPLORAÇÃO
para Regoufe, lugar onde se instalou a segunda mais
importante mina do concelho. O irmão mais velho e
Nos anos quarenta e cinquenta, devido ao intenso traba-
proprietário das louseiras, Manuel, não embarcou na
lho realizado nas duas décadas anteriores, as pedreiras
aventura e decidiu ficar. No entanto, os que partiram
mantiveram a posição que detinham na louseira, tornaram-se muito perigosas devido à profundidade
deixando um seu representante a ocupar o seu posto alcançada e à água que, como sempre, impedia e invia-
de trabalho. A concessão «Poça da Cadela», sob domínio bilizava os trabalhos de extração. Os nossos antepassados
inglês, apostou em autorizar as denominadas «marcas» relatavam estes factos vividos de forma bastante por-
e cedeu à iniciativa de pequenas sociedades informais a menorizada e assustadora, visando transmitir a todo o
exploração de algumas das suas minas. Durante cerca de custo um problema eterno, que dizia respeito ao passado,
quatro anos Joaquim Valério foi volframista, em regime presente e futuro. O aprofundamento causou as primei-
de sociedade, tendo a sua campanha resultado num ras derrocadas, constituindo o acidente mais grave de
verdadeiro êxito. De regresso, com a carteira recheada, todos, com consequências várias. Nunca chegou a atingir
Joaquim Valério e o seu genro Manuel Figueiredo logo os louseiros, no entanto obstruía os trabalhos por longos
propuseram a Manuel Valério, que nunca quis alinhar tempos. Por vezes, contudo, revelava-se benéfico, quando
na corrida ao volfrâmio, a compra de metade dos montes a rocha desprendida era de qualidade, como aconteceu
denominados «Montes das Louseiras», com todas as em dada altura em que, segundo relataram o meu pai e
louseiras incluídas. Em 1945 lavraram o documento de o meu tio, trabalharam cerca de cinco anos consecutivos
compra e venda, pagando os dois uma pequena fortuna, com a pedra tombada.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 3 mas também impedia a chegada de clientes, visitantes


Professores Décio Thadeu e Carlos Teixeira e cientistas. Em meados do século passado, o professor
Décio Thadeu (1919-1995) acompanhou Carlos Teixeira
(1910-1982) nas suas viagens de reconhecimento geológico
do território arouquense. Chegados ao alto do Gamarão,
término da estrada, percorreram o antigo caminho em
direção aos proeminentes «Galinheiros», e umas centenas
de metros abaixo acederam ao interior da Louseira de
Canelas. Teixeira tirou duas fotografias, uma parcial da
louseira do Souto, outra geral da louseira do Vale Escuro,
as duas louseiras mais importantes em atividade nesse
Verão de 1953. A primeira foi publicada por Thadeu em
1956, a outra pelo autor na sua obra de fundo, dedicada
à geologia portuguesa (TEIXEIRA, 1981). Ambas são
imagens de grande importância histórica desta louseira,
que o professor apelidou de «Pedreira do Valério»,
A ausência de uma estrada moderna desde sempre provavelmente em reconhecimento das facilidades
condicionou a saída das lousas para terras mais distantes, concedidas pelos proprietários e dos fósseis oferecidos.

FIGURA 4
Estampas do trabalho de Thadeu

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FIGURA 5 regiões. A fronteira imposta pelo «carro-de-bois» durante


Louseira do Vale Escuro décadas e décadas, chegou ao fim. O ano de 1962 ficou
marcado pelo interesse demonstrado nas ardósias de
Canelas pela empresa Exportadora de Ardósias de
Valongo, Lda., que procedeu ao arrendamento dos
maciços de ardósia tendo em vista uma exploração em
regime industrial. Esta experiência não viria a durar um
ano, tendo a empresa em causa denunciado o contrato.
Depois deste episódio, a extração de lousas tornou-se
ainda mais pontual, exceto no final dos anos sessenta,
quando um cliente de Lisboa se propôs oferecer a
primeira máquina para arrastar e carregar blocos em
bruto que depois transformava nas suas instalações.

FIGURA 6
Fotografia Carlos Teixeira Louseira Nova, final dos anos 60

Apesar do enigma que representava para os louseiros


de então a entrada dos animais para o interior de uma
rocha, guardavam os mais significativos para ofere-
cerem aos visitantes e amigos. Os professores terão
ficado surpreendidos com os exemplares observados
num cantinho da louseira. E desde logo, Thadeu per-
cebeu o potencial do material visionado, incitando-o a
investigar e dar a conhecer à comunidade científica a
excecionalidade dos poucos fósseis que pôde observar.
Publicado em 1956, «Note sur le Silurien Beiro-Durien»,
apresentou várias novidades para o conhecimento da
paleontologia portuguesa. Para além de descrever
espécies novas em Portugal, faz ainda referência ao
gigantismo anormal de algumas espécies identifica-
das. De todas as referências às trilobites de Canelas,
ressalta a identificação de uma nova subespécie, que
batiza de Hungioides bohemicus arouquensis, cujo mote
era uma digna referência à nossa região. Sustentava
as suas conclusões na dimensão exagerada de uma
simples cauda, que ilustrou. A investigação foi baseada
nas coleções dos Serviços Geológicos de Portugal, dos
tempos de Nery Delgado, em exemplares oferecidos pelo
Dr. Simões Júnior, Delegado de Saúde de Arouca e
primeiro arouquense a colecionar fósseis. O restante, A geração dos Valérios, que impulsionou a exploração
que ainda hoje integra as coleções do Instituto Superior nas décadas de 20 e 30, encontrava-se na altura com
Técnico, foi oferecido pelos donos e sócios da pedreira, idades avançadas, o que contribuiu para o fracionamento
por via do «pai» da paleontologia em Canelas. da propriedade denominada, «Monte das Louseiras»,
Com a chegada da nova estrada às imediações da louseira inviabilizando a sua exploração. As pedreiras foram
em meados do século vinte, novas portas se abriram ao definitivamente abandonadas em junho de 1974, como
seu futuro, podendo agora as lousas alcançar outras se depreende do envio de uma carta à Caixa Nacional de

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Seg uros e Doenças Prof issionais informando a assim se poderia encarar com confiança o futuro, que
inexistência de pessoal ao serviço. Neste período de ainda suscitava muitas reservas.
quase abandono, Manuel António Soares de Figueiredo Surgiu então a empresa Ardósias Valério & Figueiredo,
(1904-1996) e a esposa Maria Pinto Valério (1926-2005), Lda., uma sociedade familiar, incumbida de analisar
detentores de 50% das propriedades, negociaram as tecnicamente as qualidades da rocha, iniciar o processo
restantes com a intenção de reunificarem os «Montes das de licenciamento da exploração e submeter um projeto
Louseiras», o que conseguiram efetivamente trocando de investimento a apoios comunitários liderado pelo
estas por outras propriedades em sua posse. Foi esta IAPMEI.
vontade de reunificação, pensada de forma superior
pelos meus pais, que lançou verdadeiramente as bases FIGURA 7
para um renascimento futuro. O ano de 1987 ficou Primeiros trabalhos 1988
marcado por uma nova tentativa de arrendamento
das louseiras abandonadas por parte da Empresa
Carbonífera do Douro S.A. que, apesar de não ter o
desfecho esperado, despertou o interesse numa eventual
tentativa de recomeço da exploração por membros da
família e incentivou o grande sonho dos agora Valério
e Figueiredo.

4. REABERTURA DA LOUSEIRA

As louseiras estavam completamente abandonadas em


finais dos anos 80, quando a Empresa Carbonífera
do Douro manifestou interesse no seu arrendamento,
abrindo portas a um projeto familiar iniciado em janeiro
de 1988. Foi uma decisão ponderada, em virtude da
insegurança do negócio e do investimento em causa,
mesmo tratando-se de uma atividade com fortes raízes
e tradições familiares. O mesmo só foi possível porque,
na década anterior, estrategicamente o casal Maria
Valério e Manuel Figueiredo, por permuta ou compra,
se havia tornado o único proprietário dos terrenos afetos
às louseiras.
Os dois primeiros anos funcionaram como um primeiro
teste. Implementou-se um curso de formação profissional Obtido o licenciamento da Câmara Municipal de Arouca
teórico e prático intitulado «Louseiros-técnicas no dia 1990-02-21, seria atribuído a esta pedreira o
tradicionais», cujo objetivo era ensinar a extrair as n.º 5221, com a designação «Louseira de Canelas». A
lousas, mas também a aplicá-las nos telhados das casas. O construção de um pavilhão destinado à transformação
projeto foi liderado pela Câmara Municipal e financiado da pedra em bruto, uma ponte rolante e uma serra de
pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional. disco diamantado, eram os equipamentos prioritários a
Os formadores práticos foram os profissionais que aí adquirir. Confirmadas as qualidades regulares das ardó-
exerciam funções antes do abandono da atividade. Os sias de Canelas e aprovado o projeto, foram-se fazendo
primeiros trabalhos desenvolvidos foram executados de as obras e montando os equipamentos até aos primeiros
forma artesanal, com as mesmas ferramentas já utilizadas cortes na pedra em bruto, experimentando-se o fabrico
pelos nossos avós, pelo que rapidamente se percebeu que de novos produtos com excelentes resultados. No entanto,
era inevitável a mecanização do processo produtivo. Só manteve-se também a produção dos materiais tradicio-

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nais, os mais requisitados naquele momento, devido FIGURA 9


ao longo interregno da extração. Ao mesmo tempo, os Recuperação de exemplar
trabalhos no interior da pedreira representavam o maior
desafio, devido à falta de experiência na reconversão
do método extrativo, agora com algumas máquinas no
apoio aos trabalhos. As pedreiras estavam completa-
mente arrasadas, carecendo de substanciais trabalhos
de limpeza e preparação do maciço, até se alcançar uma
produtividade minimamente compensatória. Até ao ano
de 1995, a empresa cresceu lentamente, de acordo com o
ritmo da procura típico de um mercado essencialmente
regional. As primeiras exportações para a Alemanha e
outros países europeus iniciaram o ciclo de internacio-
nalização da empresa, obrigando à contratação de mais
operários e novas máquinas.

FIGURA 8
FIGURA 10
Extração artesanal
Clivagem manual

5. FÓSSEIS, ESTORVO OU MAIS-VALIA

Com o recomeço dos trabalhos foi marcante assistir ao


renascimento dos primeiros fósseis, iguais aos que vo-
luntariamente levávamos para a escola em Arouca para
presentear alguns professores. Foram eles que nos forne-
ceram as primeiras pistas sobre o seu passado longínquo.
Recordo perfeitamente de os observar na casa do guarda,
em várias camadas, ainda antes de a louseira encerrar,
porque já os nossos pais e avós os encaravam como algo
enigmático. Não resistiam à tentação de guardar os mais
bonitos, para posteriormente os oferecerem a qualquer
forasteiro como um presente ocasional.

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Perante os primeiros achados, todos eram considerados A visita inesperada do paleontólogo espanhol Juan Carlos
testemunhos, tão surpreendentes que jamais se poderiam Gutierrez-Marco, no Verão de 1993, viria a revelar-se
ignorar, ou mesmo apagar, como acontece noutros locais. positiva. Um especialista na matéria, ficou empolgado
Qualquer vestígio era encarado não como um estorvo, pela simples observação de alguns dos exemplares.
mas como algo que nos fascinava pela sua forma singular, Afirmou que nunca vira nada igual e brindou-nos com o
verdadeiros corpos petrificados ressuscitados do interior trabalho pioneiro de Décio Thadeu (1956), desconhecido
das rochas, seguramente uma inequívoca fonte de infor- para nós. Nesse primeiro contacto, o visitante manifestou
mação. Nos primeiros anos de atividade, as ocorrências surpresa pela reabertura da exploração e destacou vezes
foram muito pontuais devido aos métodos artesanais da sem conta o tamanho anormal das trilobites, muito
escavação e ao pouco material transformado. No entanto, para além do que imaginava. Desconhecíamos até
tudo se viria a alterar com a progressiva mecanização esse momento esta particularidade, sendo que desde
do processo produtivo, multiplicando-se a cada ano então passámos a trocar informação, outros artigos e
que passava o número de fósseis resgatados. A coleção publicações com ele em Madrid, que nos influenciaram a
ganhava forma, sem que se adivinhasse contudo ainda preservar ainda com mais afinco os vestígios vindos à luz
a sua importância científica e raridade paleontológica. do dia. Em especial as espécies mais raras, só conhecidas
tendo por base fragmentos, exemplares completos se
descobertos, seriam verdadeiras relíquias para a ciência.
FIGURA 11
Ninho de trilobites
FIGURA 13
Exemplar muito raro

FIGURA 12
Duas faces do mesmo fóssil Nesse contexto, impunha-se a transmissão desta mais-
-valia aos funcionários da empresa, no sentido de
estarem atentos ao mínimo sinal e informarem sobre
qualquer ocorrência estranha. A iniciativa de acarinhar
um património tão antigo como algo de essencial para
o futuro desta terra revelou-se um verdadeiro sucesso,
multiplicando-se num instante as descobertas. No ano
seguinte chegou a primeira Universidade, dando-se
início à fase de divulgação dos achados recolhidos, que
careciam de reconhecimento científico.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 14 FIGURA 15
Cardoso a observar trilobite Organizadores da 1º Exposição

Porto - 1994

Foi também nesta fase que se averiguou, junto da


6. RECONHECIMENTO CIENTÍFICO edilidade concelhia, a possibilidade de, em parceria, vir a
organizar uma exposição pública dos fósseis em território
O arquiteto e pintor Fernando Lanhas (1923-2012), gran- arouquense. As reuniões promovidas não produziram
de aficionado por fósseis, informado antecipadamente, frutos, os fósseis como património diferenciador, mas
apresentou-se um dia na louseira. A surpresa foi espan- ao mesmo tempo desconhecido, seriam completamente
tosa, tendo observado uma série de exemplares, mas desvalorizados. A ideia de base não morre, considera-se
fixando-se numa cauda isolada de grandes dimensões. outra alternativa, que consiste em promover uma mostra
Fez cálculos e apontou como tamanho real da trilobite temporária no centro da vila, sendo que rapidamente
uma medida superior a 700mm, considerando provável surgiu um parceiro.
o futuro aparecimento, nesta jazida, das maiores do Instalada no mosteiro de Arouca, a Associação de
mundo. Logo propôs integrar várias trilobites gigan- Defesa do Património Arouquense disponibilizou espaço
tes numa exposição que organizaria na Faculdade de necessário para expor os mais importantes exemplares
Ciências da Universidade do Porto, com a colaboração recolhidos até à data da inauguração, 28 de Fevereiro
da Helena Couto e Guerner Dias. Inaugurada em Maio de 1998. A exposição foi retratada por alguns órgãos
de 1994, esta mostra atraiu logo de seguida vários aficio- de informação, nomeadamente o Público (1998-03-13)
nados e especialistas na matéria ao local de origem das com o título «A segunda vida das trilobites», o Comércio
trilobites gigantes, que nos apoiaram com bibliografias do Porto (1998-03-09) com o título «Encontrados os
e outras informações específicas, complementando os maiores fósseis de trilobites» e o Jornal de Notícias
nossos conhecimentos. (1999-05-06) com o título «Fósseis gigantes de Canelas
Face à quantidade e ao interesse do património já são únicos em todo o Mundo». A primeira exposição em
resgatado, foi possível acolher na Louseira de Canelas Arouca revelou-se um êxito, sendo visitada por inúmeras
a primeira jornada científica, V Reunión Internacional, escolas do país e pelos próprios arouquenses, permitindo
proyecto 351, promovida pela Sociedade Española de que as trilobites passassem a ser conhecidas na terra
Paleontologia, em Outubro de 1997, com a participação da sua origem. Neste contexto de uma certa euforia,
ativa da Universidade do Porto, representada por Helena amadureceu-se a ideia de construir um «museu de sítio»
Couto. Foi esta a primeira cooperação internacional, junto da louseira, hipótese anunciada durante a visita à
tendo sido unânimes os especialistas no reconhecimento exposição do Presidente da República Jorge Sampaio.
de motivos excecionais nos fósseis de Canelas.

166
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 16 FIGURA 18
Exposição de Arouca – 1998 National Geographic – Novembro 2001

Paralelamente a esta exposição de Arouca, foram


organizadas outras exposições em locais que são o
verdadeiro foco do nosso interesse, concretamente
as universidades: Vila Real (2000), Coimbra (2001) e
Lisboa (2006). É sem dúvida nestas instituições que a
ciência se desenvolve, e é do seu seio que emanam os
futuros investigadores. Emanaram de facto, e surgem
os primeiros estudos científicos dedicados aos fósseis
de Canelas, mas falta ainda um estudo paleontológico
específico, sobre este local com um património geológico
excecional, nascido da cooperação entre uma indústria
7. CENTRO DE INTERPRETAÇÃO GEOLÓGICA
extrativa, a educação e a ciência, um caso raro de DE CANELAS
geoconservação.
A vontade de expor os fósseis nas imediações da louseira
FIGURA 17 era uma questão irreversível. Depois da desvalorização
Cartaz da exposição de Coimbra – 2001 demonstrada pelas entidades públicas locais só restava
uma saída, nomeadamente avançar por conta própria
na construção de um espaço dedicado à divulgação e
mostra da coleção paleontológica. Por um lado, toda a
divulgação feita recentemente aos fósseis desta jazida
acarretava um problema para o funcionamento normal
da empresa, dado que frequentemente escolas, univer-
sidades, instituições e curiosos solicitavam a visita aos
fósseis e ao local da sua origem, a louseira. Por outro lado,
apesar de toda a boa vontade em receber estas visitas,
constatou-se não existirem condições suficientes para
que as mesmas se realizassem da forma mais adequada.
O local eleito para a instalação do museu não pertencia
à empresa, a aquisição deste terreno só foi concluída em
Junho de 2003, o que constituiu o impulso final para a
elaboração do projeto do futuro Centro de Interpretação
Geológica de Canelas (CIGC). Foi posta de lado qualquer
ideia megalómana que pudesse inviabilizar um projeto

167
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

meramente familiar, sendo mais útil naquele momento O dia 1 de Julho de 2006 marcou para sempre o quotidiano
concretizar algo, ainda que modesto, do que permanecer singular das Louseiras de Canelas, assinalando a data
à espera de promessas sempre adiadas. A conceção do em que pela primeira vez se disponibilizaram ao público
local atendeu à conjugação de três edifícios: receção, alguns dos fósseis mais emblemáticos recolhidos durante
sala de exposição e auditório, aludindo deste modo à a sua laboração até essa data. Marco fundamental nesse
importância da trilobite ter sido dos primeiros animais mesmo dia foi também a edição, por parte da empresa
na Terra a individualizar três partes no corpo: cabeça, Ardósias Valério & Figueiredo, Lda., da obra «Trilobites
tronco e cauda. Nesta primeira fase, o importante seria gigantes das ardósias de Canelas», coordenada por
ajustar o projeto às disponibilidades financeiras e candi- Artur Sá e Juan Carlos Gutiérrez-Marco. Esta publicação
datar o mesmo ao apoio de fundos comunitários. Em 23 reuniu textos de vários autores, das áreas da história,
de Dezembro de 2003, seria aprovado pela ADRIMAG, arqueologia e geologia. A primazia foi dada à geologia,
associação sedeada em Arouca e gestora do programa revelando-se de forma acessível ao leitor toda a fauna
Leader+. Os edifícios previam a aplicação de materiais fóssil de Canelas renascida até então, sendo as trilobites
produzidos na louseira, o que exigiu um trabalho minu- as grandes protagonistas, como o próprio título indica.
cioso, dado que esta obra assumia também um forte papel
na divulgação da utilização das ardósias de Canelas. FIGURA 21
Vista interior do CIGC
FIGURA 19
Inauguração do CIGC

FIGURA 22
Ministro da ciência – Janeiro 2006

FIGURA 20
Vista exterior do CIGC

A inauguração do CIGC mereceu uma ampla cobertura


por parte dos meios de comunicação locais e nacionais,
que arrastaram depois os canais televisivos, estes sim
potentes difusores de informação que ajudaram ativa-

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

mente no arranque deste novo espaço disponibilizado FIGURA 24


ao público. A procura crescente de visitantes e, mais Esmeralda exibindo trilobite – Fevereiro 2010
tarde, das escolas, deu consistência ao sucesso do proje-
to, revelando o CIGC uma significativa capacidade de
atracão comprovada pelas estatísticas das visitas, que
rondam anualmente os 10.000 visitantes. Estes números
são significativos, atendendo ao valor do investimento
realizado e ao isolamento deste museu de sítio. Assim
o entenderam também os órgãos comunitários, ao ele-
gerem o CIGC como um exemplo de boas práticas na
categoria «valorização do património natural e cultural»
a nível europeu. Internamente, é digna de destaque a
atribuição, por parte da Rota da Luz, do prémio de
Mérito Turístico 2007.

8. UMA PEDREIRA NA GÉNESE DE UM


GEOPARQUE
A abertura do CIGC coincidiu com uma nova liderança
na autarquia, pelo que o momento era oportuno para
Desde a sua inauguração, o CIGC tem sido palco de debater de novo com o Município de Arouca a necessi-
variadíssimas atividades neste curto período de vida, dade de dar continuidade aos trabalhos de preservação
merecendo a visita de altas individualidades da área da e valorização do património geológico. O desafio foi
geologia e também da política, fruto de uma cooperação aceite em 2008, criando-se uma entidade de gestão entre
estreita com a autarquia e as universidades. Tem-se ainda vários agentes locais, a AGA – Associação Geoparque
pautado pela concessão de facilidades para a realização Arouca, entidade presidida pelo Município de Arouca.
de diversas atividades educativas e o acolhimento de
Esta tinha a missão de contribuir para a proteção, valo-
excursões científicas relacionadas com projetos e con-
rização e dinamização do património natural e cultural,
gressos nacionais e internacionais. Até ao presente, o
com especial ênfase para o património geológico, numa
ponto alto desta frutuosa cooperação materializou-se na
perspetiva de divulgação do conhecimento científico,
excursão Pré-Congresso da 4th International Trilobite
fomentando o turismo. Em Agosto de 2008, a AGA sub-
Conference – TRILO`08, onde os cerca de 50 cientistas
meteu a candidatura de todo o território administrativo
presentes foram unânimes na retificação da importância
do concelho de Arouca às Redes Europeia e Global de
internacional desta jazida.
Geoparques, sob os auspícios da UNESCO. O projeto foi
aprovado em Abril de 2009, ficando essa área classificada
FIGURA 23
ao abrigo de compromissos internacionais, integrando
Participantes Pré-congresso TRILO-08 – Junho 2008
o novo Programa Internacional de Geociências e de
Geoparques Mundiais da UNESCO. O logotipo do geo-
parque apresenta uma trilobite estilizada, refletindo o
papel de destaque da coleção das trilobites de Canelas
como sítio de relevância internacional.

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 25 Sem a sua contribuição, baseada no primeiro sinal,


Ninho de trilobites atenta a qualquer vestígio por mais insignificante que
se apresentasse, jamais se constituiria uma coleção de
referência internacional. Hoje, essa prática faz parte
da rotina diária, assente na experiência alcançada em
três décadas, que nos permitiu identificar e localizar as
raras camadas fossilíferas, muito estreitas, mas pejadas
de vestígios. A sua recolha é previsível porque, de facto,
uma grande percentagem das camadas contém poucos
fósseis e o seu aparecimento é muito irregular. Poderão
passar meses sem que se encontre um só exemplar, como
se podem descobrir dez ou mais num só dia.

FIGURA 28
Nuno o descobridor

FIGURA 26
Logotipo - Associação Geoparque Arouca

9. PORTA ABERTA PARA A CIÊNCIA

A tarefa assumida de resgate e posterior inventariação


não se concretizaria sem o envolvimento dos funcionários
da empresa, tendo sido necessário incutir-lhes também o
A inventariação propriamente dita, o cerne de qualquer
gosto pelos fósseis, como algo de tão especial, tão remoto,
coleção, foi iniciada na última década, com o envolvimento
que levaria longe o nome de Canelas e Arouca.
de uma equipa técnica. Uma base de dados composta
por fotografia, identificação, descrição qualitativa, tafo-
FIGURA 27 nómica e morfométrica, tem servido de base aos estudos
Porta da louseira – Abril de 2019 científicos entretanto publicados. No entanto, somente
se encontram inventariados 1240 exemplares, cerca de
um quinto da coleção do CIGC, sendo previsível que a
conclusão desta tarefa ocorrerá a longo prazo.

170
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 29 também um caso raro de cooperação entre uma indústria


Trabalho de inventariação extrativa, a educação e a ciência. Testemunhos resgatados
pelas mãos calejadas dos «louseiros» fascinados pelo
passado longínquo da História da Vida na Terra.

FIGURA 31
Tentativa prática de encontrar um fóssil

Nos últimos dois anos, apostámos em pesquisar vestígios


fósseis nas camadas abaixo e acima da pedreira,
níveis nunca alcançados pela exploração industrial e
verdadeiras incógnitas em termos da existência, ou
não, de fósseis. As campanhas de recolha revelaram-se
extremamente produtivas pela quantidade e diversidade
dos testemunhos obtidos. Vistos e revistos, surgiram
FIGURA 32
alguns exemplares com formas desconhecidas nunca Molde interno e externo
identificadas no interior da louseira. Perante este novo
enigma, recorreu-se como sempre à ciência. A primeira
clivagem contou com o apoio de Helena Couto e Carlos
Neto de Carvalho, nossos colaboradores diretos nesta
última década, seguindo-se, como é hábito, o pedido de
apoio a paleontólogos estrangeiros.

FIGURA 30
Visita de estudo

FIGURA 33
Comportamento gregário

A investigação encontra-se em curso, sendo que as


descobertas, a confirmar-se, podem constituir novidades
nunca identificadas no Ordovícico Médio, e colocariam
os fósseis de Canelas num patamar ainda mais elevado.
A coleção do CIGC, desenvolvida ao longo de três
décadas no decurso de uma atividade extrativa, é um
arquivo único de referência internacional. Representa

171
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

FIGURA 34 FIGUEIREDO, M. V. (2007) – O contributo da empresa Ardósias Valério &


Trilobite muito rara Figueiredo, Lda, para a génese do Geoparque Arouca. Geoparque Arouca
um projecto para o desenvolvimento da região. Município de Arouca,
69-76, Arouca.
FIGUEIREDO, M. V. (2011) – Trilobites de Canelas – Duas décadas de
vivências por entre ardósias e trilobites gigantes. Centro de Interpretação
Geológica de Canelas, 85, Arouca.
GUEDES, A.M. (1999) – A fauna fóssil de Canelas (Arouca). As trilobites.
Associação da Defesa do Património Arouquense, 18 p. Arouca.
GUY, PIERRE-MARIE (2010) – Trilobites de l`Ordovicien du Portugal.
Fossiles – hors-série I – 2010, 90 p. Saint-Julien-du-Pinet
GUTIERREZ-MARCO, J. C., SÁ, A. A., GARCIA-BELLIDO, D. C.,
RÁBANO, I., and VALÉRIO, M., (2009) – Giant trilobites and clusters
from the Ordovician of Portugal. Geology, 37(5) : 443-446.
MADUREIRA, M. P. (1909) – «Canellas de Riba-Paiva. Ligeiros
apontamentos para a monographia d`esta freguesia». Gazeta de Arouca,
202-204.
AGRADECIMENTOS MEDEIROS, A.C. (1964) – Carta Geológica de Portugal na escala 1/50.000.
Notícia explicativa da folha 13-B Castelo de Paiva, Serviços Geológicos
Aos meus pais, pelo esforço em reunif icarem as de Portugal, 58p. Lisboa.
Louseiras, com eles, nasceu a empresa «Ardósias Valério NETO de CARVALHO, C., COUTO, H., FIGUEIREDO, M. V.,
& Figueiredo, Lda.». Ao meu filho e sucessor, pela sua BAUCON, A. (2016) – Estruturas biogénicas com relação microbiana nas
ardósias do Ordovícico Médio de Canelas (Norte de Portugal). Comunicações
recente licenciatura em geologia e apoio científico no
Geológicas, Tomo 103 Fascículo Especial I, 23-37.
museu. Aos funcionários da empresa, pelo seu empenho
RÁBANO, I. (1990) – Trilobites del Ordóvícico Médio del sector meridional
na recolha dos fósseis ao longo de tantos anos. Um
de la zona Centro ibérica española, I TGME, Madrid.
agradecimento especial à paleontóloga Sofia Pereira,
SÁ, A.A. & VALÉRIO, M. (2005) – Uma jazida paleontológica excepcional
pela inédita informação sobre a passagem de Nery no Ordovícico do SW da Europa: a “Pedreira do Valério”em Canelas (Arouca,
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de parte dos fósseis. Geoturismo, Idanha-a-Nova, 23-25.
SÁ, A.A., BRILHA, J., CACHÃO, M., COUTO, H., MEDINA, J.,
GUTIÉRREZ-MARCO, J.C., RÁBANO, I. & VALÉRIO, M. (2005) –
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gigantes das ardósias de Canelas (Arouca). Ardósias Valério & Figueiredo,
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Lda. Ed., 205 p. Arouca.
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de Canelas. In: SÁ, A.A. & GUTIÉRREZ-MARCO, J.C. (Coords.),
Arqueológico do Concelho de Arouca. Arouca: Câmara Municipal.
Trilobites gigantes das ardósias de Canelas (Arouca), Ardósias Valério
& Figueiredo, Lda. (Ed.), Canelas, 13-17. TEIXEIRA, C. (1981) – Geologia de Portugal. Vol. 1 – Precâmbrico,
Paleozoico. Fundação Calouste Gulbenkian, 629 p. Lisboa.
FIGUEIREDO, M. V. & SILVA, A.M.P. (2006) – A mina romana da
Gralheira d`Água (Canelas, Arouca). In: SÁ, A.A. & GUTIÉRREZ- THADEU, D. (1956) – Note sur le silurien beiro-durien. Boletim da
MARCO, J.C. (Coords.), Trilobites gigantes das ardósias de Canelas Sociedade Geológica de Portugal, 12, 1-38. Porto.
(Arouca), Ardósias Valério & Figueiredo, Lda. (Ed.), Canelas, 192-197.

172
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Atividade Mineira
• CADUCIDADES DE CONTRATOS DE PROSPEÇÃO E PESQUISA

• CONTRATOS DE PROSPEÇÃO E PESQUISA

• CADUCIDADES DE CONTRATOS DE CONCESSÃO DE EXPLORAÇÃO

• TRANSMISSÃO DA POSIÇÃO CONTRATUAL DE CONCESSÃO DE EXPLORAÇÃO

• CONTRATOS DE CONCESSÃO DE EXPLORAÇÃO

• ADENDA AO CONTRATO DE CONCESSÃO DE EXPLORAÇÃO

• CONTRATOS DE INTEGRAÇÃO

173
174

Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020


DEPÓSITOS MINERAIS - Caducidades de Contratos de Prospeção e Pesquisa - 2.º Semestre de 2019 e 1.º Semesre de 2020
N.º do
Empresa Concessionária Denominação Concelho (s) Distrito (s) Diário da República
Cadastro
NORTE
Minerália - Minas, Geotecnia e MN/PP/14/13 Vila Verde Vila Real, Sabrosa e Alijó Vila Real Aviso n.º 5985/2020, DR n.º 71, 2.ª Série de 9 de abril
Construções, Lda.
NORTE E CENTRO
Minerália — Minas, Geotecnia e MN/PP/8/12 Ester Arouca, Castro Daire, Cinfães, S. Pedro do Sul e Aveiro, Viseu Aviso n.º 1267/2020, DR n.º 17, 2.ª Série de 24 de janeiro
Construções, Lda Vale de Cambra
Iberian Resources Portugal - Recursos MN/PP/7/12 Tarouca Castro Daire, Lamego e Tarouca Viseu Aviso n.º 14240/2019, DR n.º 176, 2.ª Série de 13 de setembro
Minerais, Unipessoal, Lda.
CENTRO
Silicália Portugal - Indústria e Comércio MN/PP/7/16 Freixial Trancoso Guarda Aviso n.º 17134/2019, DR n.º 206, 2.ª Série de 25 de outubro
de Aglomerados de Pedra, S. A.
ALENTEJO
Iberian Resources Portugal - Recursos MN/PP/004/16 Monforte-Tinoca Monforte, Arronches, Elvas e Campo Maior Portalegre Aviso n.º 12273/2019, DR n.º 145, 2.ª Série de 31 de julho
Minerais, Unipessoal, Lda.

DEPÓSITOS MINERAIS - Contratos de Prospeção e Pesquisa - 2º Semestre de 2019 e 1.º Semestre de 2020
N.º do Data da Área
Empresa concessionária Base Jurídica Denominação Recursos Concelho (s) Distrito (s) Diário da República
processo outorga (km2)
NORTE
Minaport- Minas de Portugal, Lda MN/PP/3/19 2020-10-08 Vimioso Ouro, antimónio e outros Vimioso Bragança 27,5 Extrato n.º 7/2020, DR n.º 13,
minerais metálicos 2.ª Série de 20 de janeiro
Ao abrigo da Lei n.º 54/2015, de 22
Minerália - Minas, Geotécnia e MN/PP/5/19 2019-10-08 Mouçós Tungsténio, estanho e Vila Real e Vila Real 85,34 Extrato n.º 8/2020, DR
de junho, dos artigos 5.º e 8.º do
Construções, Lda outros minérios metálicos Santa Marta de n.º 13, 2.ª Série de 20 de
Decreto-Lei n.º 88/90, de 16 de março,
Penaguião janeiro
e, subsidiariamente, dos artigos 278.º
EDM - Empresa de Desenvolvimento MN/PP/6/19 2019-10-08 e seguintes do Código dos Contratos Argozelo II Estanho, tungsténio, Bragança, Bragança 251,36 Extrato n.º 1/2020, DR
Minerio, S.A. Públicos, aprovado pelo Decreto-Lei n.º ouro, prata, antimónio, Vimioso e n.º 10, 2.ª Série de 15 de
1 B/2008, de 29 de janeiro, na sua atual cobre, chumbo, zinco e Miranda do janeiro
redação. minerais associados Douro
Minaport - Minas de Portugal, Lda. MN/PP/3/20 2020-06-15 Grijó Ouro, antimónio e outros Macedo de Bragança 16 -
minerais metálicos Cavaleiros
DEPÓSITOS MINERAIS - Contratos de Prospeção e Pesquisa - 2º Semestre de 2019 e 1.º Semestre de 2020 (Cont.)
N.º do Data da Área
Empresa concessionária Base Jurídica Denominação Recursos Concelho (s) Distrito (s) Diário da República
processo outorga (km2)
CENTRO
Minaport - Minas de Portugal, Lda. MN/PP/5/20 2020-06-15 Alto Santo Amaro Ouro, prata, cobre, Vila Nova de Foz Guarda 43,186
Ao abrigo da Lei n.º 54/2015, de 22 de chumbo, zinco, arsénio, Côa
junho, dos artigos 5.º e 8.º do Decreto-Lei n.º antimónio, estanho, -
88/90, de 16 de março e, subsidariamente, tungsténio e outros
dos artigos 278.º e seguintes do Código minerais metálicos
dos Contratos Públicos (CCP), previsto no
FELMICA - Minerais Industriais, S.A. MN/PP/6/20 2020-06-15 Trocheiros-Rasa Quartzo Pinhel e Almeida Guarda 8,53 -
Decreto-Lei n.º 18/2008, de 29 de janeiro,
FELMICA - Minerais Industriais, S.A. MN/PP/7/20 2020-06-15 na sua atual redação. Trancalhão Quartzo Viseu e Castro Viseu 14,317
-
D’Aire
ALENTEJO
Emisurmin, Unipessoal, Lda. MN/PP/2/20 2020-06-15 Portel Cobre, chumbo, zinco, Portel, Vidigueira, Évora, Beja 491,338
ouro, prata, ferro e metais Serpa, Beja, Cuba,
-
associados Alvito e Viana do
Alentejo
Índice Crucial, Lda. MN/PP/4/20 2020-06-15 Barrancos Cobre, chumbo e outros Barrancos e Moura Beja 73,195
-
metais associados
Almina, Minas do Alentejo, S.A. MN/PP/8/20 2020-06-15 Ao abrigo da Lei n.º 54/2015, de 22 de Albernoa Ouro, prata, cobre, Aljustrel, Beja, Beja 499,998
junho, dos artigos 5.º e 8.º do Decreto-Lei n.º chumbo, zinco, estanho e Castro Verde e -

Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020


88/90, de 16 de março e, subsidariamente, metais associados Mértola
Acúrcio Henriques Parra, Lda. MN/PP/4/19 2019-10-08 dos artigos 278.º e seguintes do Código Penedo Gordo Zircónio, háfnio, titânio, Alter do Chão, Portalegre 29,986
dos Contratos Públicos (CCP), previsto no nióbio, tântalo, terras Fronteira e
Decreto-Lei n.º 18/2008, de 29 de janeiro, raras, ítrio, escândio Monforte -
na sua atual redação. e outros depósitos
metálicos
Emisurmin, Unipessoal, Lda. MN/PP/1/20 2019-06-15 Ermidas Cobre, chumbo, zinco, Ferreira do Beja, Setúbal 499,678
ouro, prata e metais Alentejo, Aljustrel,
associados Santiago do -
Cacém, Grândola
e Ourique
175
176

Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020


DEPÓSITOS MINERAIS - Caducidades de Contratos de Concessão de Exploração - 2.º Semestre de 2019
Data da publicação no D.R. N.º do
Empresa Concessionária Denominação Concelho (s) Distrito (s) Diário da República
ou outorga do contrato Cadastro
CENTRO
Felmica - Minerais Industrais, S.A. 2019-07-25 C- 71 Venturinha Satão Viseu Aviso n.º 11999/2019, DR n.º 141, 2.ª Série de 25 de julho

DEPÓSITOS MINERAIS - Transmissão da Posição Contratual de Concessão de Exploração - 2019


Data do
Empresa Concessionária Empresa Concessionária Anterior N.º do Processo Denominação Diário da República
despacho

Sarendur, Lda. ARGILIS — Extração de Areias, S. A. 2019-06-03 C -132 Guia 1 Aviso n.º 8089/2020, DR n.º 101, 2.ª Série de 25 de maio
Motamineral — Minerais Industriais, S. A. Euroquartzo Portugal, Lda. 2019-07-15 C-19 Casal dos Braçais Aviso n.º 1042/2020, DR n.º 14, 2.ª Série de 21 de janeiro

Quarpor - Minas e Minerais, S. A. Rocávia - Rochas de Viana, Lda. 2019-08-28 C-45 Mata da Galinheira Aviso n.º 15994/2019, DR n.º 194 , 2.ª Série de 9 de outubro

DEPÓSITOS MINERAIS - Contratos de Concessão de Exploração - 2.º Semestre de 2019 e 1.º Semestre de 2020
N.º do Data da
Empresa Concessionária Base Jurídica Denominação Recursos Concelho (s) Distrito (s) Área (ha) Diário da República
Processo Outorga
NORTE
FELMICA - Minerais Industriais, S.A. C - 162 2020-06-15 Ao abrigo da Lei n.º 54/2015 de 22 de junho e Capelo Quartzo e Boticas Vila Real 3,2962
dos art.ºs 16.º e 21.º do Decreto-Lei n.º 88/90, feldspato
de 16 de março, e, subsidiariamente, dos art.º
s 278.º e seguintes e do art.º 408.º do Código -
dos Contratos Públicos, aprovado pelo Decreto-
-Lei n.º 18/2008, de 29 de janeiro, na sua atual
redação.
CENTRO
Simões de Sá & Pereira, S.A. C -160 2020-06-15 Pinhal de Caulino Anadia e Aveiro 195,5668
Ao abrigo da Lei n.º 54/2015 de 22 de junho e -
Guarita Águeda
dos art.ºs 16.º e 21.º do Decreto-Lei n.º 88/90,
Lagoasol - Extração e Comercialização C -161 2020-06-15 de 16 de março, e, subsidiariamente, dos art.º Alto da Serra Caulino Condeixa-a- Coimbra 66,4969
-
de Produtos Cerâmicos, Lda. s 278.º e seguintes e do art.º 408.º do Código Sul Nova
FELMICA - Minerais Industriais, S.A. C -163 2020-06-15 dos Contratos Públicos, aprovado pelo Decreto- Atalaia Quartzo Almeida Guarda 10,465 -
-Lei n.º 18/2008, de 29 de janeiro, na sua atual
Lagoasol - Extração e Comercialização C -159 2019-10-08 Tapada Caulino Condeixa-a- Coimbra 77,0467 Extrato n.º 5/2020, DR n.º 13,
redação.
de Produtos Cerâmicos, Lda. Nova 2.ª Série de 20 de janeiro
DEPÓSITOS MINERAIS - Contratos de Concessão de Exploração - 2.º Semestre de 2019 e 1.º Semestre de 2020 (Cont.)
N.º do Data da
Empresa Concessionária Base Jurídica Denominação Recursos Concelho (s) Distrito (s) Área (ha) Diário da República
Processo Outorga
LISBOA E VALE DO TEJO
Sifusel - Sílicas, S.A. C -157 2019-10-08 Ao abrigo da Lei n.º 54/2015 de 22 de junho e Faleca Caulino e Rio Maior Santarém 72 Extrato n.º 4/2020, DR n.º 11,
dos art.ºs 16.º e 21.º do Decreto-Lei n.º 88/90, quartzo 2.ª Série de 16 de janeiro
Sabril - Sociedade de Areias e C -158 2019-10-08 de 16 de março, e, subsidiariamente, dos art.º s Ouraças Caulino e Torres Lisboa 172,2647 Extrato n.º 3/2020, DR n.º 11,
Britas, Lda. 278.º e seguintes e do art.º 408.º do Código dos quartzo Vedras 2.ª Série de 16 de janeiro
Contratos Públicos, aprovado pelo Decreto-
-Lei n.º 18/2008, de 29 de janeiro, na sua atual
redação.
ALENTEJO
PorMining, Lda. CE -164 2020-06-15 Ao abrigo da Lei n.º 54/2015 de 22 de junho e Alvalade Cobre, Grândola e Setúbal 11,389
dos art.ºs 16.º e 21.º do Decreto-Lei n.º 88/90, chumbo, Santiago do
de 16 de março, e, subsidiariamente, dos art.º s zinco, Cacém
278.º e seguintes e do art.º 408.º do Código dos estanho, -
Contratos Públicos, aprovado pelo Decreto- ouro, prata
-Lei n.º 18/2008, de 29 de janeiro, na sua atual e metais
redação. associados

Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020


DEPÓSITOS MINERAIS - Adenda ao Contrato de Concessão de Exploração- 2.º Semestre de 2019

Empresa Concessionária Data da Outorga N.º do Processo Denominação Base Jurídica Recursos Concelho (s) Distrito (s)

Sibelco - Portuguesa, Lda. 2019-10-08 C - 109 Quinta da Rosa Ao abrigo do art.º 24 do Decreto-Lei n.º 88/90, de 16 de março Caulino e quartzo Rio Maior Santarém

DEPÓSITOS MINERAIS - Contratos de Integração - 1.º Semestre de 2020


Data da Integração das Permanecendo com
Empresa Concessionária Denominações Base Jurídica Recursos Concelho(s) Distrito(s)
Outorga concessões o n.º de cadastro
CENTRO
FELMICA-Minerais Industriais, S.A. 2020-06-15 C-67 e C-68 C-67 - Serrado Ao abrigo da Lei n.º 54/2015 de 22 Quartzo e Belmonte Castelo
Serrado e Serrado I
de junho e dos art.ºs 16.º e 21.º do feldspato Branco
Sabril - Sociedade de Areias e Britas, Lda. 2020-06-15 C-90 e C-99 Vale do André e C-90 - Vale do André Decreto-Lei n.º 88/90, de 16 de março, Caulino Pombal Leiria
Vale do André e, subsidiariamente, dos art.º s 278.º e
n.º 2 seguintes e do art.º 408.º do Código dos
Adelino Duarte da Mota, S.A. 2020-06-15 C-115 e C-116 Roussa de Cima C-115 - Roussa de Contratos Públicos, aprovado pelo Decreto- Caulino Pombal Leiria
n.º 1 e Roussa de Cima -Lei n.º 18/2008, de 29 de janeiro, na sua
177

Cima n.º 2 atual redação.


Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Águas Minerais e de Nascente


• APROVAÇÃO/REVISÃO DO PLANO DE EXPLORAÇÃO

• NOMEAÇÃO DE RESPONSÁVEIS TÉCNICOS

• RESCISÃO DOS CONTRATOS DE EXPLORAÇÃO

• CONTRATOS DE ATRIBUIÇÃO DE DIREITOS DE EXPLORAÇÃO

• ADENDAS AO CONTRATO DE EXPLORAÇÃO

• SUSPENSÃO DA LICENÇA DE EXPLORAÇÃO

• ATRIBUIÇÃO DE LICENÇAS DE ESTABELECIMENTO

• TRANSMISSÃO DA LICENÇA

• ALTERAÇÃO DO SISTEMA DE CAPTAÇÃO

• CADUCIDADE DA LICENÇA

• OFICINAS DE ENGARRAFAMENTO - TITULOS DE EXPLORAÇÃO

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Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020


ÁGUAS MINERAIS - Aprovação/Revisão do Plano de Exploração - 2.º Semestre de 2019 e 1.º Semestre de 2020

Data Nº do Cadastro Denominação Titular da Licença Concelho (s) Distrito (s)

NORTE
2020-03-26 HM-04 Águas de Grichões Alto Minho - Águas Minero-Medicinais de Grichões, Lda. Paredes de Coura Viana do Castelo
2020-03-11 HM-09 Caldas de Chaves Município de Chaves Chaves Vila Real
CENTRO
2019-08-06 HM-75 Termas do Bicanho Palacedouro - Desenvolvimento Turístico e Imobiliário, S.A. Soure Coimbra
LISBOA E VALE DO TEJO
2020-03-11 HM-14 Caldas da Rainha Município de Caldas da Rainha Caldas da Rainha Leiria
ALGARVE
2020-02-27 HM-06 Caldas de Monchique Sociedade das Termas de Monchique II, Lda. Monchique Faro

ÁGUAS MINERAIS - Nomeação de Responsáveis Técnicos - 2º Semestre de 2019 e 1.º Semestre de 2020

Data do Despacho Nº do Cadastro Denominação Responsável Técnico Concelho (s) Distrito (s)

NORTE
2020-06-18 HM-31 Caldas do Gerês José Martins de Carvalho Terras de Bouro Braga
2020-02-12 HM-48 Águas de Vilarelho José Martins de Carvalho Chaves Vila Real
2020-01-21 HM-68 Caldas de Vizela Luís Filipe Fernandes Gonçalves Vizela Braga
HM-77 Cardal Fernando António Leal Pacheco Vila Pouca de Aguiar Vila Real
2019-07-10
HM-23 Entre-os-Rios Vitor Manuel Pissarra Cavaleiro Penafiel Porto

Águas Minerais - Rescisão dos Contratos de Exploração - 2.º Semestre de 2019 e 1.º Semestre de 2020
Data Nº do Cadastro Denominação Titular da Licença Concelho (s) Distrito (s)

NORTE
HM-50 Caldas de Canaveses Palácio Canaveses, S.A. Marco de Canaveses Porto
2020-05-25
HM-61 Água de Cambres Gotermas, Lda. Lamego Viseu
Águas Minerais - Contratos de Atribuição de Direitos de Exploração - 2.º Semestre de 2019 e 1º Semestre de 2020
Data da Outorga Nº do Cadastro Denominação Titular dos Direitos Área (ha) Concelho (s) Distrito (s)

NORTE
2019-10-23 HM-48 Águas de Vilarelho Município de Chaves 72,5000 Chaves Vila Real
HM-78 Água Montes FR3E - Energia e Novas Opurtunidades, Lda. 21,69 Vila Real Vila Real
2020-06-22
HM-80 Água Gostei Maravilha Décimal, Lda. 123,798 Bragança Bragança
CENTRO
2020-06-22 HM-79 Caldas de S. Paulo Craptur - Apartamentos Turísticos, Unipessoal, Lda. 17,7 Oliveira do Hospital Coimbra

Águas Minerais - Adendas ao Contrato de Exploração - 2.º Semestre de 2019 e 1.º Semestre de 2020
Data Nº do Cadastro Denominação Titular dos Direitos Alterações

Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020


HM-01 Felgueira Companhia das Águas Medicinais da Felgueira, S.A.
HM-20 Ribeirinho e Fazenda do Arco Unicer Águas, S.A. Art.º 5.º.
2020-06-29 HM-22 Caldas de Penacova Águas das Caldas de Penacova, S.A. Art.º 6.º
HM-27 Ladeira de Evendos Unicer Águas, S.A. Art.º 5.º.
HM-54 São Silvestre São Silvestre - Indústria de Bebidas e Produtos Alimentares, S.A. Art.º 6.º
HM-32 Caldas de Moledo Turismo do Porto e Norte de Portugal, E.R.
2020-06-22 Art.ºs 1.º e 5.º.
HM-42 Termas de Monte Real ITMR - Indústria Termal de Monte Real, S.A.

Águas Minerais - Suspensão da Licença de Exploração - 2.º Semestre de 2019


Data Nº do Cadastro Denominação Titular da Licença Concelho (s) Distrito (s)

CENTRO
2019-10-10 HM-25 Corgas Largas Refecon Águas - Sociedade Industrial de Bebidas, S.A. Gouveia Guarda
2019-03-27 HM-42 Termas de Monte Real ITMR - Indústria Termal de Monte Real, S.A. Leiria Leiria
LISBOA E VALE DO TEJO
181

2019-03-27 HM-15 Termas do Estoril Termas do Estoril, S.A. Cascais Lisboa


182

Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020


Águas de Nascente - Atribuição de Licenças de Estabelecimento - 2.º Semestre de 2019 e 1.º Semestre de 2020
Data do Despacho Nº do Cadastro Denominação Titu lar da Licença Concelho (s) Distrito (s)

CENTRO
2020-05-13 62-NAS Água de Brijó Sociedade da Água de Brijó, Lda. Coimbra Coimbra
LISBOA E VALE DO TEJO
2020-05-13 97-NAS Font Salem Font Salem Portugal, S.A. Santarém Santarém
ALENTEJO
2019-07-15 96-NAS Água de Brejinho Resigon - Companhia Agrícola de Gestão, S.A. Grândola Setúbal

Águas de Nascente - Transmissão da Licença - 1.º Semestre de 2020


Data do Despacho Nº do Cadastro Denominação Titular da Licença Concelho (s) Distrito (s)

CENTRO
2020-03-13 43-NAS Caramulo Mountain Water - Comercialização de Água, S.A. Oliveira de Frades Viseu

Águas de Nascente - Alteração do Sistema de Captação - 1.º Semestre de 2020


Data do Despacho Nº do Cadastro Denominação Titular da Licença Concelho (s) Distrito (s)

CENTRO
2020-06-22 89-NAS Serra da Gardunha Nascente Divina - Água do Alardo, Lda. Fundão Castelo Branco

Águas de Nascente - Caducidade da Licença - 1.º Semestre de 2020


Data do Despacho Nº do Cadastro Denominação Titular da Licença Concelho (s) Distrito (s)

CENTRO
2020-01-16 59-NAS Fonte Paulo Luís Martins Glaciar Indústria, S.A. Manteigas Guarda
Oficinas de Engarrafamento - Títulos de Exploração - 2.º Semestre de 2019 e 1.º Semestre de 2020

Data Nº do Cadastro Empresa Concelho (s) Distrito (s) Tipo (SIR)

NORTE
2020-01-28 HM-37 Águas de Carvalhelhos, S.A. Boticas Vila Real
HM-04
2019-11-31 Alto Minho - Águas Minero Medicinais de Grichões, Lda. Paredes de Coura Viana do Castelo
94-NAS
II
2019-11-25 HM-26 VPMS - Águas e Turismo, S.A. Melgaço Viana do Castelo
2019-08-08 HM-16 Águas Campilho Vidago, S.A. Chaves Vila Real
2019-08-08 HM-56 Água do Fastio - Comércio e Engarrafamento de Águas Minerais, S.A. Terras de Bouro Braga
CENTRO
2020-01-06 84/NAS Beiravicente, S.A. Castelo Branco Castelo Branco
HM-22 Águas das Caldas de Penacova, S.A. Penacova Coimbra
2019-12-20
37/NAS Empresa Central Serrana de Águas, S.A. Águeda Aveiro
II
2019-12-05 50/NAS Sumol + Compal Marcas, S.A. Gouveia Guarda
2019-10-31 84/NAS Beiravicente, S.A. Castelo Branco Castelo Branco
2019-09-19 50/NAS Sumol + Compal Marcas, S.A. Gouveia Guarda

Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020


LISBOA E VALE DO TEJO
2020-01-06 92/NAS Eden Springs Portugal, S.A. Coruche Santarém
2019-11-25 93-NAS
Aguarela do Mundo - Águas de Nascente, S.A. Chamusca Santarém
2019-10-08 93-NAS II
2019-09-19 92/NAS Eden Springs Portugal, S.A. Coruche Santarém
2019-08-06 HM-54 São Silvestre Santarém Santarém
ALENTEJO
2020-01-28 HM-17 Mineraqua Portugal - Exploração e Comercialização de Águas, Lda. Moura Beja
II
2020-01-28 HM-20 Unicer Águas, S.A. Castelo de Vide Portalegre
ALGARVE
2019-08-08 HM-06 Sociedade da Água de Monchique II, Lda. Monchique Faro II
183
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Pedreiras

• RESPONSÁVEIS TÉCNICOS INSCRITOS NA DIREÇÃO GERAL DE ENERGIA E GEOLOGIA

185
186

Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020


PEDREIRAS - Responsáveis Técnicos Inscritos na DGEG - 2020

Nº de Data do Pedreiras
Nivel de
Nome Registo Formação Despacho Categorias de Responsabilidade Técnica com Endereço de e-mail
Formação
DGEG de Registo Explosivos

Jorge Manuel Correia Alves (204752388) 696 Bacharelato Engenharia Geotécnica 2020-05-29 A - Todas as classes e tipos de pedreiras. Sim jorgecosta@nicolaumacedo.pt

João Francisco Gonçalves (189008130) 698 Licenciatura Engenharia de Minas 2020-05-29 A - Todas as classes e tipos de pedreiras. Sim h.joaogoncalves@hotmail.com
Pedro Manuel de Miranda Nunes (204688515) 699 Licenciatura Engenharia Civil 2020-05-29 D - Classe 3 e 4 ornamental e industrial, todas as classes Não civilmira@gmail.com
areeiros e barreiros e exceto ped. subterrâneas.
Patrícia Isabel Bexiga Viegas Brito Freitas 700 Licenciatura Engenharia Mecânica - Ramo de 2020-05-29 C - Classes 2, 3 e 4 ornamental e industrial, todas as Não pibvbrito@gmail.com
(PT221790292) Gestão e Manutenção Industrial classes de areeiros e barreiros e exceto pedreiras com lavra
subterrânea.
José Luís dos Santos Teixeira (167500449) 701 Mestrado Engenharia Geotécnica e 2020-05-29 A - Todas as classes e tipos de pedreiras. Sim jose.teixeira@pavimogege.com
Geoambiente
Leonor Esteves Palos Silva da Mata (246887389) 697 Mestrado Engenharia Geológica e de 2020-05-27 A - Todas as classes e tipos de pedreiras. Sim leonor.mata@egiamb.pt
Minas
Vera Marisa Pereira Aniceto (PT229335810) 637 Licenciatura Engenharia Agronómica e 2020-04-08 F - Somente para a fase de recuperação paisagística (exceto Não veraniceto@gmail.com
Engenharia do Ambiente pedreira com lavra subterrânea).
Daniel Filipe Sousa Canteiro Botão (PT238339971) 695 Licenciatura Engenharia Geológica 2020-01-22 A - Todas as classes e tipos de pedreiras. Não danielfbotao@gmail.com
José Carlos Silva Moreira (PT179211668) 338 Licenciatura Engenharia Civil 2020-01-06 C - Classes 2, 3 e 4 ornamental e industrial, todas as Não jcsmor12@gmail.com
classes de areeiros e barreiros e exceto pedreiras com lavra
subterrânea.
Roque João Nobre de Almeida Figueiredo 691 Mestrado Geociências - Área de 2020-01-06 E - Apenas pedreiras de classe 3 e 4 industrial e areeiros e Não rockfigueiredo@gmail.com
(PT260753955) Especialização em Recursos barreiros, exceto ped. subterrâneas.
Geológicos
Liliana Marques Alonso (PT218383703) 692 Mestrado Engenharia Química 2020-01-06 E - Apenas pedreiras de classe 3 e 4 industrial e areeiros e Não lilana.alonso@gmail.com
barreiros, exceto ped. subterrâneas.
PEDREIRAS - Responsáveis Técnicos Inscritos na DGEG - 2019
Nº de Data do Pedreiras
Nivel de
Nome Registo Formação Despacho Categorias de Responsabilidade Técnica com Endereço de e-mail
Formação
DGEG de Registo Explosivos

António Joaquim da Costa (P138815224) 694 Bacharelato Engenharia 2019-12-08 A - Todas as classes e tipos de pedreiras. Sim antoniocosta35@gmail.com
Geotécnica
José António Marques Duarte 233 Doutoramento Geotecnologias 2019-12-05 A - Todas as classes. Sim jd.info@eduardomarquesrosa.pt
(PT206224877) - Exploração e
Valorização de
Recursos Geológicos
Lisa Maria de Oliveira Martins 690 Doutoramento Geologia 2019-11-07 D - Classe 3 e 4 ornamental e industrial, todas as classes Não lisa_martins@hotmail.com
(PT229201512) areeiros e barreiros e exceto ped. subterrâneas.
Sara Dolores Leal Calhamonas 689 Licenciatura Engenharia de 2019-10-28 B -Todas as classes exceto. ornamental Classe 1 e ped. Não scalhamonas@hotmail.com
(PT223823066) Recursos Geológicos subterrâneas.
Eduardo António da Rocha Silva 679 Licenciatura Engenharia 2019-10-11 A - Todas as classes. Não eduardo.ar.silva@gmail.com
(PT252038843) Geológica
Hugo Miguel Lopes Caeiro (PT216477085) 681 Licenciatura Engenharia 2019-10-11 A - Todas as classes. Não hmlcaeiro76@gmail.com
Geológica
Ana Filipa Arsénio Fialho (PT263603563) 685 Licenciatura Geologia Aplicada e 2019-10-11 D - Classe 3 e 4 ornamental e industrial, todas as classes Não ana.fialho.25@gmail.com
do Ambiente areeiros e barreiros e exceto ped. subterrâneas.

Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020


Filipe Faria Rodrigues (PT215538560) 686 Licenciatura Engeharia de Minas 2019-10-11 A - Todas as classes. Sim filipe1977@hotmail.com
Tânia Vanessa Santos Marques 687 Mestrado Engenharia 2019-10-11 A - Todas as classes. Não tania.vs.marques@gmail.com
(PT245764232) Geológica
Sara Castro Duarte (PT240957814) 688 Mestrado Engenharia 2019-10-11 A - Todas as classes. Sim sara.duarte.castro@gmail.com
Geotécnica e
Geoambiente
Marco António Martins Peixoto 443 Licenciatura Engenharia 2019-10-11 A - Todas as classes. Sim marcantonio@sapo.pt
(PT218933444) Geotécnica e
Geoambiente
Rui Jorge Paiva Vieira Borga (PT236825607) 683 Licenciatura Engeharia de Minas e 2019-09-19 A - Todas as classes. Sim rui-borga@outlook.com
Geoambiente
João Manuel Abreu dos Santos Baptista 684 Doutoramento Engenharia de Minas 2019-09-19 A - Todas as classes. Sim jsbap@fe.up.pt
(PT164429140)
Daniel Filipe Borralho Gomes Vendas 680 Licenciatura Engenharia 2019-08-07 A - Todas as classes. Sim daniel.vendas@egiamb.pt
(PT208532757) Geológica
Luisa Veríssimo Alves Bento (PT273278428) 682 Mestrado Engenharia 2019-08-07 A - Todas as classes. Sim luisa.verissimo.bento@gmail.com
Geológica e de Minas
187
188

Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020


PEDREIRAS - Responsáveis Técnicos Inscritos na DGEG - 2019 (Cont.)

Nº de Data do Pedreiras
Nivel de
Nome Registo Formação Despacho Categorias de Responsabilidade Técnica com Endereço de e-mail
Formação
DGEG de Registo Explosivos

Filipe José da Rocha Cristóvão 605 Licenciatura Engenheiro Mecânico 2019-05-30 C - Classes 2, 3 e 4 ornamental e industrial, todas as Sim filipe@cristovao.pt
(PT230891748) classes de areeiros e barreiros exceto pedreiras com
lavra subterrânea.
António José Rodrigues Vieira 670 Licenciatura Engenharia de Minas 2019-05-17 A - Todas as classes. Sim avmonteirodiambe@gmail.com
(PT129258792)
Rui Manuel Landeiro e Melo (PT192491156) 671 Licenciatura Engenharia Civil 2019-05-17 C - Classes 2, 3 e 4 ornamental e industrial, todas as Sim rui.melo@jaimeribeiro.pt
classes de areeiros e barreiros e exceto pedreiras com
lavra subterrânea.
Bruno Alexandre Filipe Duarte 673 Mestrado Engenharia Civil 2019-05-17 D - Classe 3 e 4 ornamental e industrial, todas as classes Não brunoduarte22@gmail.com
(PT216187613) areeiros e barreiros e exceto ped. subterrâneas.
Bruno Miguel Gonçalves Valente 675 Mestrado Engenharia Geológica e 2019-05-17 A - Todas as classes. Sim brunedii@hotmail.com
(PT259745782) de Minas
Miguel Ângelo Rodrigues Correia 676 Licenciatura Geologia Aplicada e do 2019-05-17 C - Classes 2, 3 e 4 ornamental e industrial, todas as Não miguel.a.correia@gmail.com
(PT206196075) Ambiente classes de areeiros e barreiros e exceto pedreiras com
lavra subterrânea.
Fernando José Nunes Cavaco (PT214276830) 677 Licenciatura Geologia Aplicada e do 2019-05-17 C - Classes 2, 3 e 4 ornamental e industrial, todas as Não fcavacofc@hotmail.com
Ambiente classes de areeiros e barreiros e exceto pedreiras com
lavra subterrânea.
Vitor Manuel Fernandes do Couto 678 6º ano de -------------- 2019-05-17 E - Apenas pedreiras de classe 3 e 4 industrial e areeiros Não geral@granicouto.com
(PT200175700) escolaridade e barreiros, exceto ped. subterrâneas.
Francisco Tiago Amorim Miranda e Sousa 674 Licenciatura/ Geologia/Engª 2019-05-03 A - Todas as classes. Sim ftams13@gmail.com
(PT269090126) Mestrado Geológica e de Minas
Rute Sofia Figueiredo Pedro (PT257409882) 663 Mestrado Geociências - Área 2019-03-07 D - Classe 3 e 4 ornamental e industrial, todas as classes Não rutesfp@hotmail.com
de Especialização em areeiros e barreiros e exceto ped. subterrâneas.
Recursos Geológicos
Lázaro Gonçalves Alves (PT205830170) 664 Licenciatura Engenharia de Minas 2019-03-07 A - Todas as classes. Sim laz.alves@gmail.com
André Gonçalo Oliveira Amado 665 Licenciatura Engenharia Civil 2019-03-07 D - Classe 3 e 4 ornamental e industrial, todas as classes Não andregoamaro@gmail.com
(PT227826442) areeiros e barreiros e excepto ped. subterrâneas.
Daniela Rita de Almeida Braga Lopes da 666 Licenciatura Geologia 2019-03-07 C - Classes 2, 3 e 4 ornamental e industrial, todas as Não hello.daniela@gmail.com
Silva (PT225072289) classes de areeiros e barreiros e exceto pedreiras com
lavra subterrânea.
Ana Catarina Claro Dias dos Santos 667 Mestrado Engenharia Geológica 2019-03-07 A - Todas as classes. Não catdias_09@hotmail.com
(PT253588448)
Ludovic Macedo Vieira (PT259491152) 668 Licenciatura Engenharia Geológica 2019-03-07 A - Todas as classes. Não ludovicmacedovieira@gmail.com
Alfredo Miguel de Freitas Gomes 669 Licenciatura Geologia 2019-03-07 D - Classes 2, 3 e 4 ornamental e industrial, todas as Não miguelgomes13@gmail.com
(PT241825237) classes de areeiros e barreiros e exceto pedreiras com
lavra subterrânea.
André Augusto Mira da Costa (PT255478798) 643 Licenciatura Geologia e Engenharia 2019-03-08 A - Todas as classes e tipos de pedreiras. Sim andremiracosta@hotmail.com
e Mestrado Geológica e de Minas
CATEGORIAS DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA

Classes e Tipos de Pedreira


Categorias Ornamental Industrial Areeiros e Barreiros
Subt.
1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4
A X X X X X X X X X X X X X Todas as classes e tipos de pedreiras.
Todas as classes e tipos de pedreiras, exceto ornamental classe 1 e pedreiras
B X X X X X X X X X X X
subterrâneas.
Classes 2, 3 e 4 ornamental e industrial; Todas as classes dos areeiros e
C X X X X X X X X X X
barreiros. Exceto pedreiras subterrâneas.
Classe 3 e 4 ornamental e industrial; Todas as classes areeiros e barreiros;
D X X X X X X X X
Exceto pedreiras subterrâneas.
Apenas pedreiras de classe 3 e 4 industrial e areeiros e barreiros. Exceto
E X X X X
pedreiras subterrâneas.

Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020


189
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Indústria Extrativa - Comércio Internacional


Evolução do Comércio Internacional – janeiro a dezembro de 2019

NOTA PRÉVIA EVOLUÇÃO GLOBAL

Nos quadros que se seguem, apresentam-se alguns De acordo com os mais recentes dados do Comércio
indicadores do Comércio Internacional da indústria Internacional divulgados pelo INE, em 2019, compara-
extrativa, tomando como base os últimos dados tivamente ao período homólogo, as saídas não registaram
disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística alterações significativas e as entradas registaram um
(INE), relativamente ao período de janeiro a dezembro decréscimo de 27%. Analisando as transações na União
de 2019 e tendo como referência os valores do período Europeia verifica-se que, em relação ao ano de 2018,
homólogo de 2018. não se registaram alterações significativas, em relação
A designação “saídas” traduz o somatório das “expedições” aos países terceiros observou-se um aumento de 23% nas
para o espaço comunitário, com as “exportações” exportações e um decréscimo de 43% nas importações.
para países terceiros. De igual modo, a designação A taxa de cobertura (Fob/Cif) total das entradas pelas
“entradas” traduz o somatório das “chegadas” de países saídas em 2019 situou-se em 259%, correspondendo a
comunitários, com as “importações” provenientes de um saldo positivo de cerca de 620 milhões de euros.
países terceiros. Neste período, nas trocas com a União Europeia, a taxa
de cobertura situou-se em 383%, correspondendo a um
saldo positivo de cerca de 511 milhões de euros. No
que se refere aos países terceiros registou-se uma taxa
de cobertura de 152%, resultando também num saldo
positivo de 110 milhões de euros.

191
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

EVOLUÇÃO GLOBAL - COMÉRCIO INTERNACIONAL Evolução do Comércio Internacional, no período 2010-2019


(milhões de euros) (janeiro a junho de cada ano)
Variação
2018 2019 homóloga
2019/2018 (%)
Total
Saída (FOB) 1 019 1 012 -1
Entrada (CIF) 538 391 -27
Saldo 481 620 29
Taxa de cobertura (%) 189 259 -
União Europeia
Expedição (FOB) 759 691 -9
Chegada (CIF) 165 180 9
Saldo 594 511 -14
Taxa de cobertura (%) 460 383 -
Países Terceiros
Exportação (FOB) 260 321 23
Importação (CIF) 373 211 -43
Saldo -113 110 -197
Taxa de cobertura (%) 70 152 -
Fonte: INE - Comércio Internacional de Bens.
Fonte: INE - Comércio Internacional de Bens. As entradas não incluem “petróleo”.
Notas: 2019 - Valores preliminares - versão de 2020-03-11. As saídas não incluem “águas”.
As saídas não incluem “águas”. As entradas não incluem “petróleo”.

Saídas por subsetores saídas, os minérios metálicos e as rochas ornamentais


continuam a tomar as posições dianteiras com 46% cada.
Analisando o quadro abaixo, verifica-se que, em termos No que se refere à distribuição por principais países de
de valor, os subsetores dos energéticos e dos minérios destino verificou-se que o maior fluxo corresponde às
metálicos registaram um decréscimo e os subsetores dos saídas de mármores e calcários, com um valor total de
minerais de construção e dos industriais registaram um 249 milhões de euros, dos quais 91 milhões de euros
acréscimo. De assinalar que estas alterações não foram correspondem a países da UE. Seguem-se os minérios
significativas com exceção do subsetor dos energéticos, de cobre e os de zinco, com um fluxo de 189 milhões
cujo decréscimo foi de 84%. Em termos de estrutura das de euros cada.

SAÍDAS POR SUBSETORES


2018 2019 Variação (%) Estrutura (%)
SUBSETORES
Toneladas 103 euros Toneladas 103 euros Vol. Valor (Valor-2019)
ENERGÉTICOS 3 337 526 417 85 -87,5 -83,8 0,0
Hulha e antracite 3 337 526 417 85 -87,5 -83,8 0,0
MINÉRIOS METÁLICOS 611 455 518 364 631 909 466 607 3,3 -10,0 46,1
Minérios metálicos não ferrosos 611 455 518 364 631 909 466 607 3,3 -10,0 46,1
MINERAIS DE CONSTRUÇÃO 2 377 051 431 977 2 435 861 473 192 2,5 9,5 46,8
Agregados 456 044 6 221 183 685 4 446 -59,7 -28,5 0,4
Minerais para cimento e cal 2 755 204 7 652 650 177,7 218,8 0,1
Rochas Ornamentais 1 918 252 425 552 2 244 524 468 096 17,0 10,0 46,3
Ardósia 45 540 50 494 44 021 47 847 -3,3 -5,2 4,7
Granito e outras rochas similares 531 264 99 624 633 201 117 238 19,2 17,7 11,6
Mármore e outras rochas carbonatadas 909 378 226 243 1 104 602 249 166 21,5 10,1 24,6
Pedra natural talhada para calcetamento 432 070 49 191 462 700 53 845 7,1 9,5 5,3
MINERAIS INDUSTRIAIS 1 505 362 68 145 1 503 912 71 858 -0,1 5,4 7,1
Argila e Caulino 705 898 28 414 574 711 27 030 -18,6 -4,9 2,7
Sal 27 375 5 733 13 945 4 943 -49,1 -13,8 0,5
Outros minerais industriais 772 090 33 998 915 256 39 884 18,5 17,3 3,9
TOTAL GERAL 4 497 204 1 019 013 4 572 098 1 011 743 1,7 -0,7 100,0
Fonte: INE - Comércio Internacional. Não inclui “águas”.
Nota: Dados preliminares de 2019 - versão de 2020-03-11.

192
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Estrutura das Saídas por Subsetores

SAÍDAS DAS PRINCIPAIS SUBSTÂNCIAS POR PAÍSES DE DESTINO


janeiro a dezembro de 2019 (valores preliminares)

Minérios de cobre Ardósia


País Tonelada Mil Euros País Tonelada Mil Euros
Total 184 013 189 296 Total 44 020 47 847
do qual:UE 174 113 180 485 do qual:UE 42 106 41 170
Finlândia 107 732 109 718 França 18 268 10 285
Bulgária 26 642 28 265 Alemanha 5 598 7 628
Suécia 24 913 26 485 Reino Unido 1 898 5 946
Alemanha 14 325 15 272 Espanha 9 762 3 877
Espanha 501 745
Suécia 774 3 081
Outros países 9 900 8 811
Dinamarca 1 637 2 258
Itália 995 2 022
Minérios de zinco Bélgica 1 230 1 486

País Tonelada Mil Euros Países Baixos 858 905

Total 289 829 189 292 República Checa 238 872


do qual:UE 231 041 149 839 Hungria 154 585
Espanha 141 435 86 336 Irlanda 121 459
Bélgica 44 164 32 711 Outros da UE 573 1 767
Finlândia 40 758 27 845 Estados Unidos da América 853 4 349
Alemanha 4 684 2 947 Noruega 148 696
Noruega 58 788 39 452 Suiça 198 407
Moçambique 0 1 Outros países 715 1 225

Minérios de volfrâmio
Minérios de chumbo
País Tonelada Mil Euros
País Tonelada Mil Euros
Total 1 275 17 417
Total 92 228 30 447
do qual:UE 45 487
do qual:UE 70 232 21 876
Áustria 40 451
Espanha 70 232 21 876
Espanha 5 36
Estados Unidos da América 880 14 262 China 21 996 8 571

Singapura 250 1 407


Japão 60 1 078
Hong-Kong 40 184

193
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Granitos e outras rochas similares Itália 6 798 3 075


País Tonelada Mil Euros Luxemburgo 5 573 2 191
Total 633 201 117 238 Irlanda 4 407 2 109
do qual:UE 540 490 91 124 Áustria 1 442 2 037
França 139 224 33 762 Dinamarca 1 283 1 595
Espanha 284 432 26 901 Polónia 1 679 604
Alemanha 48 562 8 470 Outros países 1 858 651
Países Baixos 9 258 5 863 China 725 164 75 338
Reino Unido 16 233 3 993 Estados Unidos da América 15 861 19 690
Bélgica 4 668 3 541 Índia 19 881 7 470
Luxemburgo 9 517 2 395 Rússia 4 691 2 693
Polónia 8 636 1 776 Angola 2 006 2 437
Irlanda 4 982 1 328 Argélia 21 515 2 400
Itália 6 827 1 030 México 3 634 2 059
Lituânia 3 940 864 Marrocos 7 127 1 882
Outros países 4 211 1 203 Hong-Kong 8 549 1 702
China 60 356 7 353 Canadá 1 670 1 178
Suiça 10 331 2 985 Austrália 866 967
Emirados Árabes Unidos 3 323 3 701 Brasil 1 819 965
Omã 1 454 3 360 Japão 1 242 782
Estados Unidos da América 3 239 1 614 Cabo Verde 3 111 746
Angola 574 925 Suiça 1 124 677
Egipto 461 914 Coreia do Sul 808 492
Barém 923 694 Egipto 5 930 481
Cabo Verde 1 433 551 Taiwan 1 515 468
Marrocos 4 337 483 Outros países 78 059 35 157
Rússia 777 430
Paraguai 694 376
Moçambique 564 302 Pedra para calcetamento
Noruega 876 234 País Tonelada Mil Euros
Arábia Saudita 163 299 Total 462 702 53 845
Baamas 88 230 do qual:UE 426 057 50 929
Outros países 3 118 1 664 França 153 324 22 502
Alemanha 111 675 8 560
Suécia 46 812 5 753
Mármores e calcários Dinamarca 41 222 4 217

País Tonelada Mil Euros Reino Unido 18 707 2 948


Espanha 9 712 1 560
Total 1 104 602 249 166
Bélgica 12 670 1 346
do qual:UE 200 030 91 584
Finlândia 11 521 1 211
França 70 720 32 661
Países Baixos 7 230 864
Reino Unido 22 825 16 645
Irlanda 3 600 721
Espanha 34 887 11 140
Luxemburgo 5 097 613
Alemanha 22 585 7 254
Outros países 4 487 635
Países Baixos 12 712 4 059
Noruega 24 184 1 806
Bélgica 8 415 3 836
Marrocos 2 215 439
Suécia 4 846 3 728
Outros países 10 246 671

194
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Entradas por subsetores

A s entradas de produtos da indústria extrativa posição preponderante, ocupando 44% do total (173
registaram neste período um valor total de cerca de 391 milhões de euros).
milhões de euros, correspondendo a um decréscimo No que se refere à distribuição por principais países
(27%) em relação ao período homólogo. Este decréscimo de destino, o maior fluxo corresponde a um valor total
deveu-se à diminuição das entradas no subsector dos de 173 milhões de euros, proveniente das entradas
energéticos (49%). No que se refere à estrutura das de hulha e antracite, dos quais 125 milhões de euros
entradas, o subsector dos energéticos continua numa correspondem a importações da Colômbia.

ENTRADAS POR SUBSETORES


2018 2019 Variação (%) Estrutura (%)
SUBSETORES
Toneladas 103 euros Toneladas 103 euros Vol. Valor (Valor-2019)
ENERGÉTICOS 4 285 451 338 473 2 844 535 173 048 -33,6 -48,9 44,2
Carvão 4 285 451 338 473 2 844 535 173 048 -33,6 -48,9 44,2
MINÉRIOS METÁLICOS 11 331 13 200 12 223 17 932 7,9 35,9 4,6
Minérios de ferro 352 216 973 335 176,2 54,8 0,1
Minérios metálicos não ferrosos 10 979 12 983 11 250 17 597 2,5 35,5 4,5
MINERAIS DE CONSTRUÇÃO 316 907 65 569 297 520 72 326 -6,1 10,3 18,5
Agregados 112 251 3 413 90 410 2 936 -19,5 -14,0 0,8
Minerais para cimento e cal 10 397 1 210 12 155 1 235 16,9 2,1 0,3
Rochas Ornamentais 194 258 60 947 194 955 68 154 0,4 11,8 17,4
Ardósia 13 634 6 971 13 813 9 279 1,3 33,1 2,4
Granito e outras rochas similares 128 617 30 016 127 459 30 896 -0,9 2,9 7,9
Mármore e outras rochas carbonatadas 51 153 23 640 51 740 26 602 1,1 12,5 6,8
Pedra natural talhada para calcetamento 854 319 1 942 1 378 127,4 332,4 0,4
MINERAIS INDUSTRIAIS 1 245 058 120 149 1 427 995 127 958 14,7 6,5 32,7
Argila e Caulino 194 806 31 321 210 718 31 827 8,2 1,6 8,1
Sal 338 097 24 321 282 525 22 080 -16,4 -9,2 5,6
Outros minerais industriais 712 155 64 507 934 752 74 051 31,3 14,8 18,9
TOTAL GERAL 5 858 747 537 391 4 582 273 391 264 -21,8 -27,2 100,0

Fonte: INE - Comércio Internacional. Não inclui “petróleo”.


Nota: Valores preliminares de 2020 - versão de 2020-03-11.

Estrutura das Entradas por Subsetores

195
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

ENTRADAS DAS PRINCIPAIS SUBSTÂNCIAS POR PAÍSES DE ORIGEM


janeiro a dezembro de 2019 (valores preliminares)

Hulha (inclui antracite) Sal


País Tonelada Mil Euros País Tonelada Mil Euros
Total 2 844 535 173 048 Total 282 525 22 080
do qual:UE 34 329 1 932 do qual:UE 3 737 1 516
Espanha 34 313 1 903 Países Baixos 127 626 9 118
Outros países 15 28 Espanha 84 865 7 991
Colômbia 2 012 420 125 218 Reino Unido 30 995 1 341
Estados Unidos da América 615 152 34 125 França 260 533
Rússia 182 634 13 676 Dinamarca 2 341 274
Alemanha 575 243
Outros países 561 465
Granitos e outras rochas similares Israel 16 332 1 441
País Tonelada Mil Euros Tunísia 18 600 508
Total 127 459 30 896 Outros países 369 165
do qual:UE 109 371 25 853
Espanha 105 131 23 449
Reino Unido 990 722
Alemanha 614 660 Para informações adicionais contacte a estatística de
Itália 592 456 recursos geológicos da DGEG.
Outros países 2 044 565 Contactos:
Brasil 7 643 2 289 Av. 5 de Outubro, nº 208
Índia 1 697 1 207 (Edifício Sta. Maria)
Angola 6 730 786 1069-203 Lisboa
China 452 256 Tel.: 217 922 700
Outros países 1 566 504 Fax: 217 939 540
Correio eletrónico: estatistica.rgeologicos@dgeg.gov.pt

Mármores e Calcários
País Tonelada Mil Euros
Total 51 740 26 602
do qual:UE 37 392 19 668
Espanha 20 801 11 714
Itália 5 139 3 743
França 3 706 1 452
Bélgica 3 634 921
Grécia 1 472 876
Irlanda 2 229 353
Outros países 412 610
Turquia 7 296 2 913
China 2 928 2 578
Paquistão 1 344 316
Estados Unidos da América 74 191
Marrocos 988 185
Outros países 1 718 750

196
Boletim de Minas, 54 - Tema em Destaque - Rochas Ornamentais - 2019-2020

Informação Vária
Glossário Geral para o Sector da Pedra Ornamental

Pela primeira vez em Portugal e, provavelmente no Com a finalidade de ajudar o leitor a ampliar e/ou
Mundo, é publicado um glossário para o subsetor das melhorar os seus conhecimentos nesta matéria junta-se,
rochas ornamentais da autoria de António Casal Moura, no final, uma pequena lista bibliográfica. Fica-nos a
geólogo que dedicou toda a sua vida profissional à certeza de que um Glossário desta natureza é sempre
caracterização e valorização dos recursos minerais de uma peça incompleta, até porque a contínua evolução
de conceitos, do enquadramento normativo, das técnicas
Portugal, em especial à pedra natural.
de exploração, de transformação e de colocação a isso
Este Glossário reporta apenas os termos ou frases con- conduz.
sideradas como mais importantes para o setor em refe-
Fazem ainda parte integrante deste trabalho dois
rência (no que diz respeito à Pedra, suas propriedades
índices bilingues ordenados alfabeticamente: o ÍNDICE
e produtos; Normalização; Exploração; Transformação; GERAL (PORTUGUÊS/INGLÊS) e o LÉXICO INGLÊS-
Utilização em obra; Alteração e/ou degradação, Con- -PORTUGUÊS.
servação e Restauro) e pretende defini-los de modo Por razões relacionadas com a dimensão deste importante
acessível. Foram incluídos(as) alguns termos ou frases trabalho e também do número especial do Boletim de
cuja definição é óbvia, e que são, portanto, do conheci- Minas dedicado às rochas ornamentais, o glossário
mento geral, apenas com o intuito de se disponibilizarem aparece como anexo, facto que não lhe retira o carácter
os seus equivalentes na língua inglesa. de excelência que o caracteriza.

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