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Bem como começar? O que falar?

Fiquei pensando nessas


perguntas por muitos dias, formulando o que eu ia dizer. Isso porque
eu tenho uma mania bizarra de falar comigo mesma o que eu poderia
escrever antes mesmo de começar.

Desde que fiquei sabendo desse trabalho eu fiquei analisando


minhas opções de como construí-lo. Eu percebi que o melhor que eu
podia fazer era escrever sobre minha quarentena. Mais que opção eu
teria também? Eu não tenho nenhuma habilidade com uma câmera,
sou bem desatualizada sobre edição, além de ser tímida e apesar de
desenhar bem eu não conseguiria fazer algo tão bom, porque apesar
de acreditar que um desenho pode falar mais que mil palavras, eu não
teria capacidade de fazer algo que represente a loucura que está
sendo esse ano. O que me resta então é fazer algo que eu sou
habilidosa, escrever.

Eu poderia apostar todo dinheiro que tenho no meu cofrinho que a


maioria das pessoas da faixa etária de 10-18 está indo da cama pra
aula, da aula para as séries e das séries pra cama roncar. Bem, quem
me conhece sabe que eu não faço isso, até porque eu não gosto muito
de assistir séries, sou mais de ler. Enquanto alguns fazem maratona
de Lúcifer, eu prefiro fazer maratona de livros. Só nesta semana em
que lhe escrevo eu já li quatro livros (o dia em que eu escrevi isso era
quinta). Quase um livro por um dia, como isso é possível? Simples, eu
só não banho lendo porque se não o celular pifa. Mas vamos mudar
de assunto que eu ainda vou explanar esse assunto mais tarde.
Acho que uma palavra que define minha quarentena é: insanidade.
Não que eu esteja pirando por não ver ninguém, tenho que admitir
que passar quase um ano sem ver uma alma penada foi como fazer
uma desintoxicação do espírito. Digo insanidade porque foi um ano
de muitas revelações experiências e mudanças.

A primeira grande novidade para todos os alunos foi o EAD, bem,


apenas para os outros, porque eu simplesmente amei. Acho que por
minha familía ser majoritariamente composta de professores eu
sempre fui muito envolvida nesse meio e formei minha visão sobre a
educação brasileira. Pode parecer uma visão ignorante? Pode. Pode
parecer uma visão leiga? Claro, até porque eu disse que minha família
é formada por professores, não que EU sou professora. Eu nunca
senti vontade de ir pra escola, sério, nunca mesmo. ( o melhor colégio
que eu já estudei se chama Expoente, e apesar de muito bom eu não
gostava nadinha então apelidei ele de Coréia do norte e a diretora de
kim Jon Joana).

Já ouvi muitas pessoas entre 10-18 anos falarem: saudade do


maternal, a gente so corria, comia e dormia ou até o quinto ano foi
bom. Primeiro, se você tem até de 17 anos você não tem direito de
reclamar ainda, o inferno mesmo ainda vai começar quando você
tiver contas pra pagar. Segundo: respeito sua opinião só acho uma
tremenda idiotice. Independente da minha idade eu não gostava de ir
na escola e muito menos das pessoas que eu tinha que ver
diariamente. Sendo sincera, eu não odeio a habitação chamada
escola, o que eu não gosto mesmo são os alunos (no positiv que eu
vim achar pessoas toleráveis). Eu ficava deslocada quando tinha que
ficar no meio dos catarrentos (como se eu não fosse uma, eh
professora eu sei, eu to criticando pessoas da minha idade como se eu
tivesse 40 anos). A verdade é que eu sempre preferi interagir com
adultos mesmo sendo pirralha. Ao invés de brincar eu preferia ficar
conversando com minhas professoras ou ajudar elas a corrigir as
provas (sim, eu fazia isso, pode perguntar pra minha mãe, juro que é
verdade).

Meu sonho sempre foi estudar em casa, essa é minha visão de


estudo de qualidade. E não, não estou falando de simplesmente
deixar de existir escolas e todo mundo estudar em casa, eu falo de ser
viável para aqueles que preferem estudar só. Isso ajudaria o Brasil a
ter menos alunos e mais estudantes.
Pra mim essa quarentena veio para mostrar o quanto a educação
brasileira é falha. Nunca concordei tanto com Pierluigi Piazzi.
Realmente, o sistema de educação é um navio a deriva que bateu no
iceberg, enquanto os tripulantes brigam para ver qual a melhor
música, e não reparam que o buraco é muito mais embaixo,
literalmente. Reconhece a história professora? Pois é, Titanic,
sabemos como isso termina.

Enquanto os professores se esforçam para ensinar uma pedagogia


obtusa, que consiste no pensamento de tirar nota e prestar atenção na
aula, e não de aprender. E alunos que “não estudam para
aprender...que fingem que estudam, mas é pra tirar nota” (eu não
culpo os pobres professores, afinal gosto muito dos meus que são
muito competentes, o que eu culpo mesmo é a pedagogia a qual é
inserido nas nossas cabeças a muito, muito tempo). Cara, se todo
professor tirasse tempo pra ler “ ensinando a inteligência” não
existiria professor ruim nesse Brasil.

Enfim, vamos voltar pro nosso amado/odiado EAD. Sabe sempre


tive um pensamento muito parecido com Piazzi, aquele que diz “ por
incrível que possa parecer, é mais importante o tempo que você passa
estudando sozinho do que aquele que passa assistindo às aulas”. Eu
nunca tive tanto rendimento. Pra mim o EAD é perfeito pelos
seguintes motivos:

 Primeiro, eu estou no meu quarto, logo estou confortável, logo


me sinto acolhida e tranquila.
 Segundo, não existe aluno cantando funk, pessoas falando sobre
suas trocas de saliva pelos cantos da escola, patricinha falando de
maquiagem, entre outros. (triste realidade essa).
 Terceiro e o melhor de todos, sabe aqueles alunos insuportáveis,
que não prestam atenção e não atrapalha os outros que querem
prestar e que simplesmente é um estorvo? Eles não aparecem!
Isso é uma verdadeira vitória os que gostam de tranquilidade, as
salas de aulas online ficam quietinhas, só participa quem
realmente quer aprender e o resto desaparece.

Eu também não estou falando que sou um santo anjo na sala de


aula, porque eu realmente não sou. Eu dormia, e como quase
ninguém ficava calado eu acabava indo para nossa amada Amazon
ler ouvindo música, (sim, eu só consigo ler ouvindo música, é tipo
uma trilha sonora literária. Tenho certeza que por causa dessa mania
muitos professores acham que sou uma viciada em celular, caso a
senhora tiver oportunidade, me defenda por favor, eu não tava no
instagram, eu tava enriquecendo minha cabeça com coisas melhores
do que escutar os alunos falando sobre pegação) e eu faltava muito,
muito mesmo, quase uma visitante, mas pelo menos eu não
prejudicava ninguém e nem a mim porque eu estudava em casa.

Sabe aquilo que eu falei no início, que as aulas em casa deveriam


ser disponíveis no Brasil? Sabe por quê ? primeiro, se a muito
tempo, tivéssemos implantado ensinos a distância em escolas,
particulares e públicas, os alunos não estariam tão mal acostumados
e os professores não teriam todas as dificuldades que estão tendo
agora. E segundo e não menos importante, deveríamos ter EAD
porque existem vários métodos de estudo. Alguns se sentem
melhores indo para as salas, outros preferem estudar sozinhos e
existem pessoas como eu, que tenho manias de estudo que
enfurecem muitos professores. Exemplo: eu sou do tipo que absorve
melhor qualquer tipo de matéria escutando música. E não, não estou
falando de música clássica, com violinos e pianos. Estou falando de
pop, rock, anos 60-90, jazz, blues, entre outro gêneros. Ai tem
professor que vai falar: “ como que você diz que não gosta da escola
pelo barulho, mas estuda escutando Quenn, The Police, A-há, no
último volume??!! Simples, na escola o barulho me desconcentra,
escutar milhões de vozes na sua cabeça em tons diferentes, volumes
diferentes e assuntos diferentes é horrível, porém eu tenho 1840
músicas e apesar de ser de diferentes gêneros todas as vozes são
agradáveis e harmônicas, ou seja, não tem nenhum aluno chato e
desafinado falando de assuntos aleatórios no meio. Essa minha
mania irrita muitos professores, minha mãe cansou de receber
reclamações. Mas no EAD eu posso estudar como eu quiser, porque
nenhum professor pode tirar meu celular,e isso faz com que meu
rendimento seja maior, mas vamos pra outro assunto por como já
dizia Freddie Mercury o show tem que continuar.

Dentre todas as novidades desse ano, o EAD nem de longe foi o


que mais me marcou, com certeza o marco foi o medo. O medo de
morrer, medo de perder amigos, família e de perder a própria vida.
Nunca ouvi falar de tantas mortes, ver todo dia nos jornais as
condições horríveis que muitos estão sendo sepultados é triste e
mostra o quanto o ser humano é insignificante. Ver amigos
morrendo foi muito ruim, vizinhos com quem convivi durante 13
anos da minha vida, fez esse medo crescer ainda mais e só piorou
quando meu pai ( que é cardíaco e asmático), meu irmão (também
asmático), minha irmã, quase todas minhas tias, minhas primas e
minha bisavó, todos infectados. Graças a Deus todos estão bem,
porém isso não apaga o susto.

Também o medo de morrer se fez muito presente ultimamente, e


quase toda minha quarentena foi indo pro hospital fazer exame.
Desde 2017 toda minha família ficou em alerta após a morte do meu
primo com apenas 24 anos, chuta de que ? ataque cardíaco. Desde
esse ano grande parte dos meus primos fizeram exames para ver se
tinham algum problema semelhante já que toda família é cardíaca e
geralmente problemas assim são hereditários. Será que eu me toque
e fui fazer também? Não. Porém desde 2018 eu comecei a senti dores
muito fortes no peito e falta de ar. Dei bola? Mais uma vez, não.
Meus dedos dos pés começaram a ficar um pouco roxos de vez em
quando e comecei a ter desmaios. Eu fui pro hospital ver o que era?
Não. Porém no início da quatentena, na casa da minha avó eu senti
uma dor tão forte no meu peito que eu cai no chão e fiquei quase 3
minutos lutando pra respirar e com a dor constante no coração. A
sensação era que meu coração estava se contraindo no peito. Dessa
vez não teve como ignorar, sei lá podia ser um princípio de um
infarto ou coisa pior e eu não estava dando a devida importaância.
Eu finalmente comecei a levar a sério aquilo que toda pessoa idosa
fala: problema de coração vem rápido mas ele avisa antes. Talvez o
meu estivesse avisando e eu não estava dando atenção. ( se a
pergunta da senhora for, você foi pro médico naquele dia, a resposta
é não, levou uns 1º minutos mas eu me recuperei) Agora sim eu fui
pro médico, desde maio eu acho eu estou fazendo uma bateria de
exames pra ver se tenho algum problema. Eu sinceramente espero
que não tenha mas se não for coração vai ser outra coisa, afinal não
tem como eu ter todos esses sintomas e não ser nada.
Esse ano também foi um ano de muitas mudanças pra mim, eu me
sinto diferente. Eu sinto que eu fiquei mais madura sabe? Não estou
falando que virei uma adulta da noite para dia, (até porque, quem
olha meu quarto vê que na alma sou uma criança) nem que agora eu
posso me virar sozinha. Nada disso. O que eu falo são de pequenas
mudanças que vamos aos poucos vai reparando. Estou ficando mais
responsável e eu sinto isso. Sabe meu maior exemplo? Eu tirei
sangue sem minha mãe! Cara, isso é um baita vitória pra quem
pânico de agulha, brincadeiras a parte, eu sinto por pequenas coisas
como meus livros.

Livros, eu amo ler, eu tenho aquele pensamento "só obtém algo


interessante da vida, da escola, do trabalho, quem ler muito. E só lê
muito quem lê por prazer" e eu sou uma leitora assídua, e eu sempre
amei romance e posso afirmar que dos cinquenta livros que eu já li
esse ano quarenta e cinco são romances e quatro são distopias e
outros gêneros. (A senhora deve está pensando “de certo é por isso
que ela fala tanto desse professor Piazzi porque ela deve se achar a
pessoa mais madura do mundo”. Não, eu li esse livro com onze anos,
por causa de uma indicação) Esses cinquenta livros eu notei um
amadurecimento em relação aos que eu li o ano passado.

Por exemplo, quem não ama um bom clichê não é? Eu amo um


clichê. Principalmente quando eu estou com aquela ressaca literária
sem fim. Clichê é uma delícia nesses momentos, fáceis, curtinhos,
que você lê em um dia, que deixa o coração quentinho. Porém, até
ano passado eu devorava clichês. Ano passado eu li 105 livros
incluindo contos em sua grande maioria só de clichês. Mas nesse ano
eu reparei que pra mim clichê só serviu pra isso mesmo, pra ser
minha cura de ressaca literária. E com relação às distopias e outros
gêneros literários. Acho que pra mim o bum foi ver que ano passado
eu li livros leves como os da kiera Cass, Veronica Roth e eu
simplesmente amei. Mas nesse ano eu me aprofundei muito mais, eu
li livros que eu nunca imaginei que eu leria com assuntos muito mais
pesados e reais como o ódio que você semeia e o sol é para todos.
Bem, na visão da senhora isso parece ser nada né, mais pra mim foi,
é como virar mocinha no mundo literário e eu estou muito feliz com
isso.

Outra vitória nesse ano, EU VI UMA SÉRIE, sim isso é uma


evolução pra mim. Primeiro porque eu não gosto de série, dois
porque as que eu assisti eu desistia no sexto ou oitavo episódios,
porque não me prendia. Mas essa série depois de três temporadas eu
desisti na quarta, isso é uma vitória. É muito boa indico que assista
se não assistiu professora o nome é ponto cego. Nossa revoltante a
quarta temporada, o personagem mais bonito morre e ela acaba
perdendo a memória e se tornando novamente a vilã depois de três
temporadas de evolução.

Como toda excelente escritora esse texto precisa de


agradecimentos. Obrigada a mim, por não ter enlouquecido e jogado
esse trabalho pelos ares, obrigada a você querido leitor que está
lendo a minha obra e não parou no meio por causa das minhas
grandes divagações, obrigada ao Google, pelas incríveis aquarelas e
linha PNG, e linhas divisórias que atribuíram beleza a este texto,
obrigada ao Font Space, que forneceu essas fontes divinas, e
obrigada a mim de novo por meu maravilhoso trabalho de edição.
Mais em fim de mais a mais essa foi a quarentena da Rebeca e
espero que tenha gostado muito dessa minha história. Eu acho que
eu mereço dois pontos viu cara leitora, eu fiz esse trabalho em 4 dias
editando e escrevendo diariamente, e dia 15 eu fiquei das 19h00min
a 22h31min escrevendo 1000 palavras, e estou com uma baita dor
no pulso de tanto digitar. 2506 palavras em leitora. Eu mereço.

Beijinhos e até a próxima.

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