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BOMBAS HIDRÁULICAS: CLASSIFICAÇÃO, PARTES COMPONENTES,

SELEÇÃO, CURVAS DE DESEMPENHO E ESTUDO DE CAVITAÇÃO


Prof. André Santana Andrade

INTRODUÇÃO
Bomba hidráulica é um tipo de máquina que insere energia a um sistema hidráulico (altura
manométrica positiva). Insere energia no sistema, aumentando pressão, velocidade e/ou altura.
Trata-se de sistemas com fluidos incompressíveis, em especial a água. Ventiladores são exemplos
de máquinas que também inserem energia ao sistema, porém, com fluidos compressíveis como o
ar. Máquinas que retiram energia de um sistema podem ser turbinas, rodas d´água, dentre outros.

CLASSIFICAÇÃO
As bombas podem ser primeiramente classificadas em dois grandes grupos: bombas
volumétricas e turbobombas.
Bombas volumétricas: são aquelas que transmitem a energia ao fluido diretamente sob a
forma de pressão. Tem a característica de ter vazão média praticamente invariável conforme a
instalação e podem iniciar seu funcionamento com ar em seu interior.
Turbobombas: são aquelas que transmitem a energia ao fluido pela ação (rotação) de um
órgão propulsor (rotor), desenvolvendo forças responsáveis pelo escoamento. Predominam nessas
bombas a força centrífuga e forças de sucção.

As turbobombas podem ainda ser agrupadas por alguns critérios:

 Força predominante e direção de escoamento:


 Centrífugas (radiais): o fluido entra pelo centro e sai em sentido radial. Predomina força
centrífuga;
 Fluxo misto (diagonais); o fluido tem direção diagonal intermediária entre rotores
radiais e axiais.
 Axiais: o fluido tem a mesma direção. Predomina força de sucção das pás.

Figura – Rotores: radial (esquerda), misto (centro) e axial (direita)

As centrífugas podem ter rotor aberto (palhetas sem discos), semi-aberto (palhetas com 1
disco) ou fechado (palhetas confinadas por 2 discos). Rotores fechados tem maior resistência
estrutural e maior rendimento devido à menor recirculação, porém, devem ser utilizados para
líquidos limpos, pois podem entupir facilmente com líquidos sujos com sólidos em suspensão.
Figura – Rotores fechado, semi-aberto e aberto.

 Velocidade específica
A velocidade ou rotação específica é um coeficiente que considera características
importantes das bombas. É utilizado para agrupar bombas em “famílias” com comportamento
semelhante. É importante na seleção de bombas e na estimativa do rendimento máximo possível
para cada grupo de bombas. É calculada pela equação:

Em que:
ns = rotação específica (rotação de um rotor que eleva 1 m³/s a 1 mca com máximo rendimento);
n = velocidade de rotação (rpm);
Q = vazão (m³/s);
Hm = altura manométrica (mca).

 Posição relativa em relação ao nível da captação:


 Bomba com sucção negativa (afogada): nível do fluido acima do nível do eixo da
bomba; podem ser submersas quando estão imersas no fluido.
 Bomba com sucção positiva: nível do eixo da bomba acima do nível do fluido;

 Número de rotores:
 Bombas monoestágio: possui um único rotor (estágio);
 Bombas multiestágio: possui mais de um rotor (estágio). O objetivo de adicionar rotores
em uma mesma bomba é adicionar pressão (altura manométrica). Assemelha-se a uma
associação de bombas em série.

PARTES COMPONENTES
Uma bomba hidráulica possui inúmeras peças. As peças variam conforme modelos e
marcas, porém alguns componentes básicos que sempre estão presentes podem ser destacados:
 Rotor: peça responsável pela energização do fluido. Podem ser de vários tipos.
Exemplos na figura abaixo.
 Difusor: também chamado de carcaça. Nele, a energia de velocidade é transformada em
energia de pressão. Os principais tipos são: tubo reto troncônico (bombas axiais) e caracol
ou voluta (mistas e centrífugas).
 Eixo: transmite potência do motor para o rotor da bomba;
 Caixa de gaxetas e selo mecânico: Tem função de vedar vazamentos nos pontos onde o
eixo passa pela carcaça. As gaxetas possuem peça de aperto para regular a vedação de
forma que fique pingando para lubrificar e arrefecer (30 a 60 gotas por minuto). O selo
mecânico tem vedação quase perfeita e é utilizado para bombas menores e quando não é
permitido vazamentos (líquidos tóxicos, inflamáveis, etc.).
 Rolamentos: mantem o eixo e rotor em alinhamento com as partes estacionárias.

Figura – Partes componentes de uma bomba centrífuga. Fonte: Carvalho e Oliveira (2008).

SELEÇÃO
A seleção de bombas é realizada, essencialmente, pelo seu ponto de trabalho (vazão x
altura manométrica). Um pré-seleção pode ser realizada calculando-se a velocidade específica,
permitindo conhecer qual tipo de rotor é o mais indicado (terá maior rendimento) para tal ponto de
trabalho. O gráfico e a classificação abaixo auxilia esta pré-seleção:
- Radial (centrífuga) lenta – ns<25
- Radial (centrífuga) normal – 25<ns<35
- Radial (centrífuga) rápida – 35<ns<60
- Mista – 60<ns<120
- Semi-axial – 120<ns<137
- Axial – ns>137
Figura – Rendimento máximo esperado em função da velocidade específica e vazão. Fonte:
Carvalho e Oliveira (2008).

Uma vez determinado o tipo de rotor, gráficos de seleção são disponíveis nos catálogos de
fabricantes de bombas (Figura abaixo). Pelo ponto de trabalho, escolhe-se o modelo que se
enquadra. Em seguida, devem-se observar as curvas de desempenho da bomba para ajustar o ponto
de trabalho do projeto para uma condição de máximo rendimento.

CURVAS DE DESEMPENHO
Após a escolha da bomba com as pré-seleções, deve-se proceder ao estudo das curvas de
desempenho. A principal curva é que relaciona vazão em função da altura manométrica. Nesta
curva podem ser representadas simultaneamente as curvas de rendimento. Existem ainda as curvas
de potência, rendimento e NPSH (Net Positive Suction Head – Altura de sucção) em função da
vazão.
Uma vez selecionada uma bomba para máximo rendimento, deve-se ajustá-la para o ponto
de trabalho. Isso é feito pelas seguintes formas:

 Alteração do diâmetro do rotor;


 Alteração da rotação.

É possível também, alterar o ponto de trabalho pelas seguintes alternativas:

 Fechamento parcial do registro de gaveta (aumenta perda de carga localizada e


conseguentemente muda a altura manométrica);
 Alteração do diâmetro da tubulação (variação da perda de carga);

Geralmente, para sistemas hidráulicos de pequeno porte (até 15-20 cv), é possível obter
conjuntos de bombeamento que atendam ao ponto de trabalho sem necessidade de ajuste por meio
do diâmetro do rotor ou da rotação. Para sistemas maiores, geralmente é viável realizar este ajuste,
até porque os diâmetros dos rotores podem vir de fábrica já com os diâmetros projetados.
Para realizar os ajustes por meio da alteração da rotação ou do diâmetro do rotor, deve-se
seguir os seguintes passos:
1) Obter as curvas de desempenho (Hm x Q) da bomba nos catálogos dos fabricantes. Em
alguns catálogos, as curvas de iso-rendimento já estão adicionadas juntamente com a curva
de desempenho, o que facilita o conhecimento do rendimento a ser obtido no ponto de
trabalho.
2) No gráfico de desempenho da bomba (fornecido pelo fabricante), deve-se plotar a curva do
sistema (Hm x Q). A curva do sistema também é chamada de curva da tubulação. A curva
do sistema representa a variação da altura manométrica em função da variação em vazão. É
obtida pela equação:

Hm = Hg + K . Q1,852

Em que: Hm = altura manométrica; Hg = altura geométrica (desnível) + pressão de saída;


(K . Q1,852) = perda de carga. O coeficiente K é obtido igualando o termo ao valor de perda
de carga total do sistema. O expoente 1,852 se refere ao caso de uso da fórmula de perda de
carga de Hazen-Willians. Para uso da fórmula universal utilizar o expoente 2.

Para plotar a curva do sistema, deve-se calcular o K e posteriormente calcular a altura


manométrica com valores de vazão abaixo, igual e acima do valor de trabalho.

3) O ponto que intercepta a curva de desempenho da bomba, com a curva do sistema, será o
ponto de operação do conjunto. Para ajustar esse ponto para o ponto de trabalho de projeto,
que é o que interessa, deve seguir os passos a depender da forma de ajuste:
Alterar a rotação da bomba: Alterar o diâmetro do rotor:

 Aplicar a fórmula:  Aplicar a fórmula:

( )
( )
( )

Em que: Em que:
n2 = nova rotação (rpm) Dn = novo diâmetro (mm)
Q2 = vazão desejada (m³/h) D1 = diâmetro inferior (mm)
n1 = rotação inicial (rpm) D2 = diâmetro superior (mm)
Q1 = vazão inicial (m³/h) Q1 = vazão no diâmetro inferior (m³/h)
Q2 = vazão no diâmetro superior (m³/h)
Observações: Qd = vazão desejada (m³/h)
 A variação da rotação pode ser realizada
por meio de: i) alteração da aceleração Observações:
(motores à combustão); ii) inversor de  Deve-se utilizar o rotor de diâmetro acima
frequência (motores elétricos), iii) correias e do ponto desejado. Para reduzi-lo, deve-se
polias ou moto-redutores. Por meio de usina-lo (raspar a palhetas) até que atinja no
correias pode-se utilizar a relação: novo diâmetro.
d1.n1=d2.n2 (d=diâmetro, n=rotação)  A alteração deve ser no máximo 20% do
 A variação da rotação deve ser da ordem diâmetro original.
de 30 a 40% no máximo.
 Pode-se elevar a rotação para o rotor de
menor diâmetro ou reduzir a rotação para o
rotor de maior diâmetro.

Abaixo segue um exemplo para uma bomba KSB Meganorm. O ponto de trabalho do projeto
(ponto desejado) é de Q = 300 m³/h e Hm = 70 mca (sendo 16 mca de perda de carga e 54 de Hg).

EXEMPLO:

1) Obter o K

ht = K . Q1,852
16 = K . 3001,852
K = 0,000413

2) Obter os pontos para plotar a curva do sistema


Hm = Hg + K . Q1,852

Considerando as vazões: 300 (igual ao ponto de trabalho), 250 (menor) e 350 (maior) em m³/h:

Hm = 54 + 0,000413 . 2501,852 = 65 mca


Hm = 54 + 0,000413 . 3001,852 = 70 mca
Hm = 54 + 0,000413 . 3501,852 = 75 mca
Curva do sistema

Ponto de trabalho
de projeto

3) Calcular nova rotação, considerando rotor maior (207 mm). Neste caso, se for utilizado o
rotor de 207 mm (diâmetro acima), com rotação inicial de 3500 rpm, a vazão será de 325
m³/h e Hm de 72,5 mca, aproximadamente (observar na curva de desempenho da bomba).
Logo, será necessário reduzir a rotação para se obter o ponto de trabalho de projeto (300
m³/h e 70 mca). Nesse caso mantem-se o rotor original de 207 mm.

  3230 rpm

Para usar correias: d1 . n1 = d2 . n2  Considerando polia de 10 cm de diâmetro no motor:


0,100 . 3500 = d2 . 3230  d2 = 0,108 m (10,8 cm).

4) Calcular novo diâmetro do rotor, mantendo rotação original de 3500 rpm. Nesse caso
consideramos que o rotor superior é de 207 mm (325 m³/h, Hm de 72,5 mca) e o rotor
inferior é de 197 mm (280 m³/h, 68 mca). O ponto de trabalho do projeto continua 300
m³/h e 70 mca. Nesse caso, dimensionamos qual deve ser o novo diâmetro do rotor,
considerando que o rotor maior (207 mm) será usinado (raspado) até o diâmetro calculado.

( ) ( )
( )  ( )  201,4 mm
( ) ( )

ESTUDO DE CAVITAÇÃO

A cavitação é um processo análogo ao da ebulição. Consiste na vaporização e condensação


de um líquido. Porém, enquanto que na ebulição cavidades de vapor são formadas com aumento de
temperatura e pressão constante, a cavitação ocorre normalmente quando o líquido, a um
temperatura constante, é submetido à pressão de vapor, por meio estático ou dinâmico (Carvalho e
Oliveira, 2008).
Quando próximo à entrada da bomba ocorrer uma pressão (Pe) menor que a pressão de
vapor (Pv), a uma determinada temperatura, resultará no aparecimento de bolhas de vapor. Se esse
processo ocorrer (Pe≤Pv) em toda a seção transversal, poderá ocorrer a interrupção do fluxo. Caso
essa depressão ocorrer de forma localizada, as bolhas de vapor poderão ser arrastadas para a saída
do rotor (região de maior pressão, Pe>Pv). Neste caso, a alta pressão externa ocasionarão implosão
(condensação) das bolhas com aceleração centrípeta, ocasionando golpe de aríete, com onda de
sobrepressão golpeando as paredes do rotor e carcaça, danificando-as (Carvalho e Oliveira, 2008).
Além dos danos à bomba, a cavitação também reduz rendimento e aumenta demanda de
potência no eixo e causa trepidação, vibração, desbalanceamento e ruído. Todos os materiais são
afetados, em algum nível, deste efeito. Mas a resistência varia, e é crescente na seguinte ordem:
ferro fundido, alumínio, bronze, aço fundido, aço doce laminado, bronze fosforoso, bronze
manganês, aço Siemens-Martin, aço-cromo (12 Cr), e, ligas de aço inoxidável especial (18 Cr – 8
Ni) (Carvalho e Oliveira, 2008).
Para calcular a altura máxima de instalação das bombas, podemos aplicar a equação da
energia (Bernoulli) entre o nível de água (reservatório de captação) e a entrada da bomba.

2
Patm va 2 P1 v1
 0   hs  hf
 2.g  2.g
Patm  P1 va2  v1
2

hs    hf
 2.g

Em que:
Patm = pressão atmosférica (N/m²)
P1 = pressão na entrada da bomba (N/m²)
γ = peso específico do fluido (água = 9800 N/m³)
v1² e va² = energias cinéticas
g = aceleração da gravidade
hs e hf = altura e perda de carga da sucção (m.c.a.)

Se considerarmos variação da energia cinética e perdas de carga igual a zero, a equação


acima seria resumida à:

Patm  P1
hs 

Para condições ideais de temperatura e pressão, teríamos:

Patm = 1 atm (nível do mar) = 101.234 N/m²


P1 = 0 (vácuo absoluto)
101.234  0
hs   10,33m.c.a.
9800

Porém, na prática as condições não são ideais. Tanto a variação da energia cinética quanto a
perda de carga (hf) são diferentes de zero, embora a variação da energia cinética possa ser
desprezível. Assim, para não ocorrer cavitação, a pressão deve ser sempre maior do que a pressão
de vapor, à temperatura de operação.
Separando as grandezas que dependem das condições locais e das grandezas que dependem
das características de entrada da bomba temos (∆hB):

v1  va2
2
Patm Pv
 hs   hf   hB
  2.g

NPSHdisponível NPSHrequerido

O NPSH (Net Positive Suction Head) representa a Altura Positiva Líquida de Sucção. O
NPSHdisponível dependem das condições locais e portanto pode ser alterado pelo projetista, enquanto
que o NPSHrequerido é informação fornecida pelos fabricantes. O sinal + ou – no primeiro termo
refere-se à posição de instalação do conjunto, “+” quanto a bomba estiver em posição afogada
(abaixo no nível d´água) e “–“quando não.

Considerando o exemplo:
- hfsucção = 0,3 m.c.a.;
- Pv = 0,32 m.c.a. (pressão de vapor à temperatura de 25°C);
- Patm 850m = 9,31 m.c.a. (dependente da altitude: 10,33 – 0,0012 x Altitude em metros);
- Hs = 2 m

Temos:
NPSHdisponível = 9,31 – 2 – 0,32 – 0,3 = 6,69 m

Como segurança, podemos dar uma margem de 15%. Assim NPSHdisponível ≥ 1,15 x
NPSHrequerido. O NPSH requerido é fornecido nos catálogos dos fabricantes de bombas. Segue
abaixo um exemplo da bomba KSB Meganorm ou Megabloc tamanho 25-150, rotação 3500 rpm.
Quanto maior a vazão maior será o NPSH requerido, ou seja, menor terá que ser a altura de
sucção.
Figura – Curvas de NPSH requerido das bombas KSB Meganorm ou Megabloc tamanho 25-150,
rotação 3500 rpm, em função da vazão para rotores de 100 mm e 147 mm.

EXERCÍCIOS:
1) Dimensione (calcule o diâmetro do tubo, ponto de trabalho, diâmetro de rotor, rotação e
fazer estudo de cavitação) uma bomba para bombear água à temperatura ambiente em
vazão de 375 m³/h à uma distância de 1100 m e desnível de 40 m. Calcule o diâmetro para
vazão de recalque com velocidade de escoamento de 1,5 m/s. Tubulação de PVC, pressão
de saída 1 mca, segurança 3 mca. Pode considerar bombas KSB.

2) Selecione um conjunto de bombeamento (calcule o diâmetro do tubo, ponto de trabalho,


selecione no catálogo) uma bomba para bombear água à temperatura ambiente em vazão de
22,5 m³/h à uma distância de 700 m e desnível de 40 m. Calcule o diâmetro para vazão de
recalque com velocidade de escoamento de 1,5 m/s. Tubulação de PVC, pressão de saída 1
mca, segurança 2 mca.

ANEXOS – Exemplos de bombas, curvas de desempenho e catálogos de seleção.

Figura – Bomba centrífuga ETA da KSB.


Figura – Gráfico de pré-seleção do modelo de bomba ETA da KSB.
Figura – Curvas de desempenho do modelo de bomba ETA da KSB
Figura – Bombas multiestágio – Marca Schneider
Figura – Bombas multiestágio – Marca Schneider

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