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28/11/2023, 17:48 Aluísio Ximenes de Aragão | História de Boa Viagem
voltava a verdejar quando as primeiras gotas de chuva tocavam o chão. O riso e a alegria de seus
contemporâneos voltavam à face quando de enxada no ombro, semente no bornal e cabaças
abastecidas se dirigiam aos roçados para garantir a próxima colheita e atentamente acompanhar,
aos poucos, o gado ganhar peso e a reproduzir.
Com a boa quadra invernosa a nossa pequena cidade, aos poucos, voltava a sentir os ares do
progresso quando, em 1919, o intendente municipal, o Coronel José Cândido de Carvalho,
corajosamente, resolveu impulsionar o comércio financiando por sua conta e risco a construção do
Mercado Público Municipal, algum tempo depois denominado de Jessé Alves da Silva.
No ano seguinte, segundo informações existentes no livro B-05, pertencente à secretaria da
Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, tombo nº 3, folha 117, no dia 30 de maio de 1920,
diante do Mons. José Cândido de Queiroz Lima, contraiu matrimônio com Maria Alice Albuquerque
Gomes, que era nascida em 10 de julho de 1898, sendo filha de Trajano Cavalcante de Albuquerque
com Luziânia Ribeiro Gomes.
Pouco tempo depois, segundo informações existentes no livro B-04, pertencente ao Cartório
Geraldina, 1º Ofício, tombo nº 5, folha 64v, no dia 26 de julho, aos 24 anos de idade,
desempenhando a função de coletor estadual, em sua residência, em uma solenidade que foi
dirigida pelo Dr. Manoel Antônio de Macêdo, confirmou os seus votos em uma cerimônia de
casamento civil.
Desse matrimônio foram geradas apenas duas filhas, sendo elas: Alice Albuquerque de Aragão,
conhecida como Aluce; e Alda Albuquerque de Aragão, chamada de Consuelo. Algum tempo depois,
adotou como sua uma criança que foi denominada de Francisca Neves de Aragão.
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Na cidade de Boa Viagem, durante muito tempo, residiu com a sua família na Rua Agronomando
Rangel, nº 463, Centro, endereço que, segundo Antenor Gomes de Barros Leal, costumava estar
sempre muito frequentado:
No âmbito político, na época de seu casamento, o chefe do executivo municipal não se chamava
prefeito e sim intendente, que era a figura investida dos poderes policiais e tributários que foi criado
na época do Império e permaneceu até 1930, quando surgiu o formato administrativo como
conhecemos hoje. Até então a intendência era o órgão público administrativo que gerenciava o
Município e a sua chefia estava à disposição de escolha do presidente do Estado, em nossos dias
chamado de governador.
Nessa época, o nosso Município era ainda mais pobre do que é hoje e não possuía um centro
administrativo, em virtude disso o local das decisões da vila eram geralmente tomadas na residência
do gestor municipal.
No plano federal, também nessa época, nosso país andava agitado com as revoltas tenentistas.
Essas rebeliões, de cunho político-militar, eram encabeçadas por jovens oficiais de baixa e média
patente do exército, que no início da década de 1920 estavam descontentes com a situação política
do Brasil.
Eles propunham urgentes e necessárias reformas na estrutura de poder do país, entre as quais se
destacam o fim do voto de cabresto, a instituição do voto secreto e a reforma da educação pública.
Embora esse movimento se concentrasse nos grandes centros do país o Município de Boa Viagem
não estava distante dos efeitos de tudo isso. Nessa época, qualquer agitação em nossa capital
causava um efeito que logo modificava por completo toda a estrutura administrativa dos Municípios
do interior.
Por fim, como sabemos, o movimento tenentista não conseguiu produzir os resultados imediatos na
estrutura política da nação, já que nenhuma de suas tentativas obteve sucesso, mas conseguiu
manter viva a revolta contra o poder das oligarquias estaduais, representada na política do “Café
com Leite”, e preparou o caminho da Revolução de 1930, que alterou definitivamente as estruturas
de poder em nosso país.
Foi nesse bojo de conflitos políticos e sociais que agitavam o Brasil que iniciou o seu engajamento
político, aderindo plenamente ao desejo de seu irmão mais velho, Luís Ximenes de Aragão, que
nesse tempo era vereador, em pleitear o cargo de chefia do Poder Executivo municipal.
Nessa época, como hoje, o controle do Poder Executivo municipal possibilitava as vitórias eleitorais
nas outras esferas do poder. O partido que contasse com o apoio do presidente do Estado
dificilmente perderia uma eleição. A agremiação partidária governista dispunha da polícia, do
pessoal administrativo, das mesas eleitorais e das câmaras apuradoras.
Infelizmente, do primeiro pleito direto para a escolha do intendente de nosso Município, não
dispomos de nenhuma informação concreta, não sabemos a quantidade de eleitores e nem se havia
uma corrente de oposição ao nome de seu irmão:
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“Em 1926, segundo informações dos mais antigos, foi eleito, na nossa primeira eleição
direta para prefeito, o senhor Luís Ximenes de Aragão. Permaneceu até 1930, tempo
em que foi realizada a segunda eleição, com a vitória do senhor Manoel Araújo
Marinho.” (NASCIMENTO, 2002: p. 65)
Dentro do contexto político de seu tempo, o seu irmão procurou se aliar com as principais lideranças
políticas estaduais e, juntamente com a “Oligarquia Araújo”, que dominava o Município naquela
época, ajudou a eleger o advogado Dr. José Carlos de Matos Peixoto à chefia do Governo do
Estado.
“Os Araújos, família rica e filiada a outras das mais antigas do norte do Ceará, vivia
na mesma região [Sertão de Canindé], tendo como sede principal a povoação de Boa
Viagem.” (SIMÃO, 1996: p. 190)
O Dr. José Carlos de Matos Peixoto havia sido secretário do Interior e da Justiça em nosso Estado
no governo do Dr. José Moreira da Rocha, quando teve a oportunidade de fomentar a aprovação da
lei nº 2.367, de 31 de janeiro de 1926, que tratava do voto secreto e obrigatório em nosso país.
Pouco tempo depois, em 1927, foi apresentado como o candidato de conciliação à presidência do
Estado do Ceará pelas facções políticas envolvidas na disputa pelo Poder Executivo estadual.
Depois disso ele governou o nosso Estado desde o dia 12 de julho de 1928 até o dia 8 de outubro
de 1930, quando foi deposto pelo advento da Revolução de 1930.
Em Boa Viagem, pouco tempo antes de ocorrerem esses fatos, as rédeas do Poder Executivo
municipal passaram às mãos de Manoel Araújo Marinho, o seu ex-cunhado, que graças às
agitações políticas no âmbito federal governou Boa Viagem por pouco tempo, pois no dia 28 de
outubro de 1930 foi destituído de seu cargo pelo interventor do Estado, o Dr. Manuel do Nascimento
Fernandes Távora, que nomeou Teodoro Amaro de Oliveira como interventor de nosso Município.
Depois disso, o comerciante Teodoro Amaro de Oliveira governou por menos tempo ainda, pois no
dia 20 de maio de 1931 foi decretada a extinção do Município de Boa Viagem, que perdeu a sua
autonomia política e voltou à condição de simples Distrito do Município de Quixeramobim:
Segundo as informações do Dr. Tomás Pompeu de Sousa Sobrinho, o Senador Pompeu, nessa
época, sem receber nenhuma ajuda por parte das esferas governamentais para o enfrentamento
das secas, o nosso Município sofria sérios problemas nos períodos de estiagem.
As insuficientes riquezas produzidas e os poucos valores coletados em impostos não cobriam as
despesas da máquina pública de nosso Município, e isso despertou ao Governo Federal a extinguir
aquilo que era taxado na lei como uma “mera extensão territorial”:
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“No Ceará, o Sertão de Boa Viagem, em 1932, conservou-se estéril; 201 milímetros de
chuva não permitiram que a lavoura vingasse e até o pasto nativo foi escasso e
inexistente.” (SOUSA SOBRINHO, 1960: p. 40)
Com o prolongamento das secas, costumeiramente, muitos habitantes de nosso Município,
procurando um meio de sobreviver, decidiram migrar para as outras regiões de nosso país, e nunca
mais voltaram.
Nesse período os seus olhos puderam contemplar a triste fuga de muitos cidadãos que,
transformados em flagelados, em nome da sobrevivência, procuravam refúgio em locais mais
promissores. Algumas dessas fugas visavam se unir as frentes de trabalho do Açude Pompeu
Sobrinho, na cidade de Choró:
Embora o nosso Município tenha passado por esse momento de ocaso em sua história política o
nosso valor voltou enfim a ser reconhecido no dia 28 de dezembro de 1936 com a restauração de
nossa desejada autonomia administrativa:
“O José Inácio, que era líder da oposição à nossa situação, entendeu de construir a
sua casa residencial…, quase colada à Matriz. A prefeitura embargou a obra. Ele foi
ao juiz e eu fui designado como perito. O laudo que lavrei foi o seguinte: ‘intimado de
ordem do Sr. Dr. juiz de Direito da Comarca, para esclarecer o 2º quesito – (esse
terreno é de todo imprestável para construção de qualquer edifício ou prédio, nos
termos e na conformidade das leis municipais (Código de Posturas?) – na qualidade
de perito nomeado na ação executiva movida pela prefeitura dessa cidade contra o
cidadão José Inácio de Carvalho, passo a prestar os seguintes esclarecimentos: 1° – O
terreno em apreço está cercado por José Inácio de Carvalho, fica dentro da área
urbana e mede 61,50 metros de frente por 132 metros de fundo, sendo que na parte da
frente (virada para o sul) apenas 17 metros obedece ao alinhamento da rua e se presta
para a construção, o restante, 44,50 metros fica um pouco afastado do referido
alinhamento por ter sido este, interrompido com a construção da Igreja Matriz desta
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Sem desanimar frente a esses problemas, deu continuidade ao legado deixado pelo seu irmão e, no
dia 21 de dezembro de 1945, assumiu às rédeas do Poder Executivo municipal no lugar de Enedina
de Carvalho como interventor indicado pelo Dr. Benedito Augusto Carvalho do Santos, Interventor
Federal do Estado.
Nessa ocasião, em sua primeira passagem pela chefia do executivo municipal, enfrentou uma forte
perseguição política de José Inácio de Carvalho, principal articulador da oposição, que o acusou de
irregularidades à frente da prefeitura:
O pomo da cizânia para essa denúncia partiu de problemas ligados à locação de uma propriedade
particular nos arredores da cidade de Boa Viagem:
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“Não havia suspiro para os que não concordavam com o Estado Novo implantado no
país em 1937. O interventor do Ceará era nomeado pelo ministro da justiça…, seus
seguidores nos Municípios implantavam o regime do terror usando e abusando dos
delegados de polícia, dos juízes corruptos e dos coletores de impostos sem escrúpulos.
Quase não havia organização. O interventor estadual nomeava o prefeito, o coletor, o
delegado de polícia, não havia Câmara Municipal e os frustrados em seus pleitos não
tinham para quem apelar.” (CAVALCANTE MOTA, 1995: p. 25)
Para quem saia do poder o seu destino já estava traçado: as demissões em massa, as remoções
injustas, as destituições violentas multiplicavam-se no dia-a-dia; tudo para acomodar parentes,
correligionários e amigos de quem estava no poder, e agora chegava à vez do Coronel José Inácio
de Carvalho:
Logo após essas denúncias, no dia 28 de novembro de 1946, foi destituído do cargo e, em seu
lugar, no intuito de apaziguar os mais exaltados, assumiu a interventoria do Município o Tenente
José Silvino da Silva, que era ligado diretamente ao grupo denunciante:
“Era tudo uma manobra. Em novembro de 1946, para liquidar com a força política do
Senador Olavo Oliveira, o Interventor [José] Machado Lopes demitiu todos os
prefeitos do PSP, inclusive Aluísio Ximenes de Aragão, de Boa Viagem. Em Boa
Viagem o interventor cooptou o Coronel José Inácio de Carvalho para fundar o PSD,
dando-lhe todos os poderes políticos inerentes à nova chefia que surgia em apoio à
candidatura do General Onofre Muniz [Gomes da Silva]. A família Araújo e Aluísio
continuaram a apoiar a candidatura do Desembargador Faustino de Albuquerque [e
Sousa]. Demitindo Aluísio, para o seu lugar foi nomeado o Tenente José Silvino [da
Silva], com o aval político da liderança emergente, José Inácio de Carvalho.”
(CAVALCANTE MOTA, 1995: p. 60-61)
Tudo parecia estar acontecendo perfeitamente de acordo com o que foi rigorosamente planejado
por José Inácio de Carvalho, o Aluísio estava fora da prefeitura e a família Araújo sem o prestígio do
poder municipal. Era, sem dúvida, uma excelente oportunidade para uma nova liderança que
emergia aparecer com toda força:
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“José Inácio de Carvalho, nos idos de 1940, vivia no auge de sua carreira política. O
interventor do Município, Tenente José Silvino [da Silva], obedecia à sua orientação
política. O Coletor Fausto Costa era da sua grei política. O vigário da Matriz, Padre
Pedro Vitorino Dantas, era seu confidente e orientador espiritual. O juiz, Dr. Lourival
Soares, todo dia passava em sua casa para troca de ideias. A sua casa vivia cheia de
gente do Município e dos coordenadores da candidatura do General Onofre Gomes
Muniz ao governo do Estado. Transbordava de felicidade.” (CAVALCANTE MOTA,
1995: p. 55)
Essa mudança repentina na chefia do executivo municipal poderia também ocasionar em uma
alteração no pleito ao governo estadual que se avizinhava. O fato de sua demissão gerou um forte
descontentamento entre as fileiras de seu grupo:
Depois desses acontecimentos, no dia 28 de dezembro de 1946, por volta das 20h30min,
coincidentemente um mês após a sua destituição do cargo de intendente, ocorreu o lamentável
assassinato do Coronel José Inácio de Carvalho. Nessa noite, duas rodas de amigos debatiam
sobre o destino da política estadual quando o tom da conversa subitamente foi interrompido pelo
eco de um disparo.
No primeiro grupo, formado pelos partidários do General Onofre, estavam sentados vizinho à Igreja
Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem, na calçada do Coronel José Inácio de Carvalho, no
segundo grupo, a 100 metros desse, os partidários do Senador Olavo Oliveira, que estavam na
calçada da casa do Vereador Antônio Tupinambá de Araújo e entre estes o ex-intendente Aluísio
Ximenes de Aragão:
Não demorou muito para que a suspeita da encomenda desse bárbaro e bem planejado crime
caísse sobre as suas costas e sobre as de Delfino de Alencar Araújo, seus desafetos:
“Os amigos e familiares sentenciaram desde logo: foram os Araújo que mataram o
José Inácio. A cidade ficou dividida. O policiamento foi reforçado com praças vindos
de Quixeramobim e Canindé.” (CAVALCANTE MOTA, 1995: p. 57)
Pouco tempo depois desse fato, no dia 30 de dezembro de 1947, na capital do Estado, o jornal
Diário da Tarde estampou na manchete a seguinte notícia:
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“O Major Furtado Leite viajou para Boa Viagem com plenos poderes, na companhia
do escrivão experiente, Aristóteles Carvalho, três investigadores de Polícia Civil,
oficiais e praças da Polícia Militar, ocupando três automóveis. A primeira
providência do major foi mandar prender mais de 27 pessoas ligadas aos Araújo e
apreender todas as armas registradas, além de uma forte busca de armas na cidade e
no Município.” (CAVALCANTE MOTA, 1995: p. 63-64)
Não fica difícil de imaginar as atrocidades cometidas pelo Major Furtado Leite na condução dessa
investigação. Todos os esforços e atenção da justiça no Município estavam voltados para o
esclarecimento desse misterioso caso:
“Agindo sempre com o assentimento do juiz, Dr. Lourival Soares, que inclusive saiu de
sua casa e passou a morar na própria Pensão da Maria Antônia, para melhor assistir
ao major em suas diligências, o major usava e abusava das truculências muito
comuns na época, tais como: levar as pessoas para o cemitério e mandar abrir sua
própria cova, se não falasse a verdade; alimentar os presos com comida salgada e
não oferecer água durante dias; ameaçar sequestrar os familiares dos presos para
obter depoimento favorável e outras.” (CAVALCANTE MOTA, 1995: p. 65)
Com as constantes e brutais investidas do oficial militar e temendo por suas vidas, juntamente com
Delfino de Alencar Araújo, resolveu passar um período longe da cidade de Boa Viagem:
Em uma das diligências da polícia, não sabemos se por denúncia ou por mera coincidência, surgiu o
primeiro suspeito. O crime, na perspectiva do Major Furtado Leite, já estava esclarecido:
“Surgia a primeira vitória policial, numa busca no lugar ‘Catolé’, na estrada que liga
Boa Viagem a Pedra Branca, na residência do Sr. Francisco Pereira Lima, alcunhado
de Chico Celedônio. Foi apreendido um rifle, marca Winchester, calibre 44 m/n, nº
282.909, com mira branca de metal adaptado para tiro noturno, havendo sido usado
recentemente pelos vestígios de pólvora no cano. Preso, Celedônio confessou que a
arma era de propriedade do comerciante Delfino de Alencar Araújo, ferrenho inimigo
da vítima, a quem lhe era devedor de alentada quantia, conforme exame preliminar
no livro-caixa na firma Araújo. Com relação ao crime negou.” (CAVALCANTE MOTA,
1995: p. 64)
Depois de vários dias de investigação, a conclusão a que chegou o Major Leite Furtado foi apoiada
ainda pelos atritos recentes que haviam envolvido à vítima e um dos principais suspeitos:
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Pouco tempo depois do encerramento do inquérito, que dizem ter sido confeccionado através de
torturas e de forte terror psicológico, foi expedido o mandato de prisão com o nome dos principais
envolvidos:
Esse inquérito, alguns dias depois, recebeu ainda o reforço de uma carta escrita pelo Coronel Wicar
Parente de Paula Pessoa, um importante agropecuarista da região que não tinha um bom
relacionamento com os membros da “Oligarquia Araújo” e que via com bons olhos essa
oportunidade de enfraquecer um clã rival:
“Wicar [Parente] de Paula Pessoa sempre foi uma figura folclórica nos Municípios do
Sertão Central do Ceará, principalmente em Quixeramobim e Boa Viagem.
Descendente dos Paula Pessoa da época do Império, cujo chefe era o Senador Paula,
de Sobral, granjeou reputação de respeito e medo pelos métodos que empregava no
seu relacionamento com as pessoas… Entre o Dr. Wicar, como era conhecido, e a
família Araújo existia um distanciamento respeitoso, mas ambos preparados para
uma possível contenda… O crime de José Inácio foi a ocasião propícia para o Dr.
Wicar atingir os Araújo.” (CAVALCANTE MOTA, 1995: p. 93-94)
Sobre a conclusão dos dados que compuseram o inquérito, assim se expressou o Dr. Raimundo
Gomes de Matos em uma carta enviada ao Secretário de Polícia e Segurança Pública do Estado do
Ceará, o Capitão Atila Viana, no dia 16 de janeiro de 1947:
Em meio a essa turbulência de acusações, percebendo o abuso por parte de algumas das
autoridades constituídas, o juiz da comarca, o Dr. Moacir Bastos, temendo proferir uma decisão
injusta, resolveu ir ele mesmo à procura de informações sobre o assunto, refazendo a cavalo todo o
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trajeto do pretenso “acusado” e coletando uma série de elementos relevantes ao processo que
esclareceram muitas de suas dúvidas.
Dentre esses dados coletados descobriu que José Inácio de Carvalho possuía uma vultosa
quantidade de inimigos, inclusive o nome de pessoas que não constavam nos autos e que poderiam
ter algum tipo de envolvimento, chegando à conclusão de que era impossível encontrar um culpado.
Podemos concluir, sobre esse crime, que nem todas as vertentes foram devidamente exploradas,
tendo em vista que desde o início o desejo de seus investigadores era o de relacionar-lhe as intrigas
políticas:
O escritor e jurista Dr. José Aroldo Cavalcante Mota, em sua obra “Boa Viagem Realidade e Ficção”,
livro que foi publicado sob a responsabilidade do Instituto Jurídico Eleitoral e Histórico, sustenta que
existia ainda a hipótese relacionada a um escândalo descoberto acidentalmente por José Inácio de
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“Manoel Araújo Marinho governou Boa Viagem de 25 de março de 1948 até o dia 25
de março de 1951. Realizou as seguintes obras: Construção do prédio dos Correios;
Escola de 1º Grau Padre Antônio Correia de Sá; Praça Antônio de Queiroz Marinho;
vários prédios escolares no Município; instalação de um motor para gerar luz elétrica
em toda a cidade, cuja inauguração se deu no dia 6 de janeiro de 1949, em grande
solenidade; primeiro calçamento, de pedra tosca, na Rua Agronomando Rangel;
chafariz e outros.” (NASCIMENTO, 2002: p. 68)
Em seu governo Manoel Araújo Marinho, que era conhecido pelo apelido de Néo Araújo, quase não
sentiu dificuldade para eleger o seu ex-cunhado como sucessor, que no dia 3 de outubro de 1950,
militava nos quadros políticos do PSP, o Partido Social Progressista:
“Em Boa Viagem a coligação governista era representada pela família ‘Araújo’ sob a
liderança do ex-prefeito Manuel Araújo Marinho (PSD) e pelo PSP, que era presidido
pelo Prefeito Aluísio Ximenes de Aragão. Enquanto as oposições coligadas seguiam o
Vereador José Vieira Lima, da UDN.” (CAVALCANTE MOTA, 1995: p. 11)
Nesse pleito, que nos parece bastante confuso por não termos conseguido o registro da votação de
seu concorrente, que era um antigo aliado, sabemos apenas que conseguiu ser eleito recebendo a
confiança de 2.031 eleitores.
“Meu pai, que já exercera três mandatos de vereador e em 1950 disputou o cargo de
prefeito municipal, perdendo para o seu compadre Aluísio Ximenes de Aragão,
enfrentava alguns descontentamentos dentro do seu partido e estava sem ânimo para
continuar na política.” (VIEIRA FILHO, 2008: p. 52)
Dessa campanha, seguindo o ritmo da música “Forró de Mané Vito”, composição de Luiz Gonzaga,
algumas pessoas ainda guardam na memória a quadrinha que foi feita em forma de insulto para o
Vereador José Vieira de Lima pelos eleitores do Aluísio:
Depois de tudo isso, em uma grande festa, assumiu o comando da Prefeitura de Boa Viagem em
um segundo mandato, que teve início no dia 25 de março de 1951 e foi encerrado no dia 24 de
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março de 1955.
Em seu governo enfrentou uma epidemia de varíola; promoveu uma grande reforma no prédio da
cadeia municipal; comprou o terreno para a construção da barragem do Açude Público José de
Alencar Araújo; adquiriu ferramentas agrícolas, que depois eram doadas aos agricultores; construiu
prédios escolares; construiu a parte central do mercado público; garantiu a manutenção da
iluminação pública urbana; realizou a abertura de estradas vicinais e a pavimentação de algumas
ruas, estando presente na inauguração da Rodovia Estadual CE-168, trecho que liga o Município de
Boa Viagem à cidade de Pedra Branca.
Mesmo com todo esse volume de trabalho, nos parece que manteve um péssimo relacionamento
com os componentes da Câmara Municipal de Vereadores, fato que ficou claramente manifesto em
diversas sessões.
No dia 9 de novembro de 1953, o Vereador Otacílio de Alencar Araújo proferiu um inflamado
discurso onde demonstrou o tom de insatisfação que sentia pela forma de seu governo:
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“Estando presente o prefeito municipal, solicitou este do sr. presidente que lhe fosse
facultada a palavra, o que sendo atendido passou ele a fazer a leitura enfadonha e
massante de suas prestações de contas, ao invés de entregar o balancete a esta casa,
como é de lei e conforme a solicitação do Vereador Otacílio de Alencar Araújo
aprovada na sessão anterior… usou a mesma o Vereador Otacílio de Alencar Araújo
para não só criticar aquela prestação de contas, bem como para comprovar os seus
pareceres anteriores de que a prestação de contas do atual prefeito, sem um exame
cuidadoso de todos os documentos pela Comissão de Finanças não merece aprovação
desta casa, no que foi apoiada pelos demais.”
Na manhã do dia 5 de agosto de 1954, por conta de problemas políticos e pessoais, ocorreu o
assassinato do Vereador Antônio de Queiroz Marinho, potencial candidato na sucessão ao Poder
Executivo, que foi o ponto de desgaste que selou o seu rompimento com a “Oligarquia Araújo”:
Antes disso, depois que a sua prestação de contas foi veementemente reprovada, o clima entre os
dois poderes ficou totalmente desgastado, chegando ao ponto de passar praticamente um ano sem
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ter uma única sessão na Câmara, e quando teve os seus trabalhos reiniciados nos deixou o
seguinte registro:
Ainda nessa gestão, parte do território do Município de Boa Viagem foi cedido para formação do
Município de Monsenhor Tabosa. Antes dessa decisão o Governo do Estado realizou uma consulta
e sem nenhum critério técnico aglutinou ao território do novo Município a vila de Nossa Senhora do
Livramento, que nessa época estava dentro dos limites do Município de Boa Viagem.
Conta-se que essa decisão foi tomada porque naquela região havia muitos eleitores da “Oligarquia
Araújo” e que ele não tinha o interesse de ceder à região do Jacampari e do Ibuaçu, o seu principal
reduto eleitoral:
“Entre 1936 e 1937 foi criado o Distrito de Monsenhor Tabosa, que já foi chamado de
Forquilha e de Telha, sendo esse Distrito pertencente ao Município de Tamboril. Em
1951 ele foi elevado à categoria de Município, desmembrado de Tamboril, mas só foi
instalado em 1955. Em 1963 foram criados dois Distritos: Nossa Senhora do
Livramento e Barreiros.” (S.N.T)
A sua administração terminou sob muita pressão, mesmo assim, no dia 3 de outubro de 1954, ainda
no PSP, conseguiu migrar para o Poder Legislativo depois de conseguir uma das nove cadeiras da
Câmara de Vereadores, sendo o vereador com a oitava maior votação dessa eleição.
Depois de eleito, por motivação política, foi transferido para coletoria da cidade de Quixeramobim e,
segundo informações do jornal O Povo, edição do dia 20 de julho de 1957, página 11, através do
correspondente Vieira da Costa, mesmo afastado de nosso Município, não deixou à presidência do
PSP, procurando sempre estar presente nos importantes eventos que aconteciam na cidade de Boa
Viagem:
Nessa época, por diversas vezes, solicitou de seus companheiros uma licença de sua função,
recebendo resposta negativa de seus companheiros, o que nos leva em acreditar que queriam que
ele renunciasse.
Mais tarde, no dia 23 de dezembro de 1957, enfrentando semanalmente o trajeto entre as duas
cidades e com grande dificuldade para exercer o seu mandato, recebeu autorização de seus
colegas para gozar uma licença de seis meses, período que foi assumido pelo suplente, o
Vereador Luiz Araújo.
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Antes disso, quando se dirigia ao seu reduto de eleitores, costumava ficar em um suntuoso casarão
que foi construído na Rua João Raimundo do Nascimento, s/nº, esquina com a Rua Aluísio Ximenes
de Aragão, no Centro da vila de Ibuaçu.
Depois de tudo isso passou um curto período fora da vida pública, afastando-se das decisões
governamentais na gestão que se seguiu, a do Dr. Gervásio de Queiroz Marinho, que era irmão do
Vereador Antônio de Queiroz Marinho, anteriormente assassinado pelo seu genro.
Algum tempo depois, visando o pleito eleitoral que ocorreu no dia 7 de outubro de 1962, resolveu
retornar ao cenário político municipal colocando o seu nome na disputa ao cargo de vice-prefeito.
Nessa campanha eleitoral ocorreram algumas ironias que só a política partidária é capaz de
produzir: a primeira delas era o apoio do grupo remanescente de José Inácio de Carvalho, que na
época era encabeçado pelo seu filho, o Dr. José Maria Sampaio de Carvalho; a segunda era o fato
da chapa ser desvinculada, o prefeito e o vice concorriam juntos, mas disputavam separados; e por
fim o seu adversário, o jovem José Vieira Filho, conhecido pelo apelido de Mazinho, que era filho do
Vereador José Vieira de Lima, o seu concorrente no pleito de 1950:
“Já para vice-prefeito, voto desvinculado do prefeito, meu concorrente, por ironia do
destino, era o Sr. Aluísio Ximenes de Aragão, ex-prefeito que venceu as eleições que
disputara com meu pai em 1950.” (VIEIRA FILHO, 2008: p. 34)
Essa campanha eleitoral, não diferente das outras em que concorreu, foi muito difícil, principalmente
porque agora, aos 66 anos de idade, exigia muito esforço para superar o fôlego e a empolgação de
um jovem que iniciava a sua brilhante carreira política:
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“A campanha era feita de visitas corpo a corpo, pois naquela época no Município não
existia nenhum meio de comunicação a rádio, e o candidato tinha que percorrer casa
por casa, pedindo apoio num município com vasta extensão territorial de 3.254 km², e
de poucas estradas vicinais trafegáveis. Nesse contexto eu, com os meus 22 anos,
levava vantagem física.” (VIEIRA FILHO, 2008: p. 35)
O fim dessa grande expectativa pelo resultado ocorreu quando foram abertas as urnas, de um lado
estavam o prestígio e a experiência de um político já feito, do outro a esperança de renovação de
um jovem que estava se construindo como político:
Foi a sua primeira derrota nas urnas, porém, depois dela, não deixou a vida pública completamente,
permaneceu utilizando a sua influência para por fim a “Oligarquia Araújo”, pois no pleito seguinte
aderiu ao nome de José Vieira Filho, que iniciou um novo ciclo político no Município de Boa Viagem.
Depois disso, nos primeiros anos da década de 1980, já em avançada idade e necessitando de
melhor assistência médica, passou a residir com a sua família na Rua Ildefonso Albano, nº 613, no
Bairro da Aldeota, na cidade de Fortaleza.
Pouco tempo depois, no dia 11 de agosto de 1984, aos 88 anos de idade, padecendo de câncer,
veio a óbito na cidade de Fortaleza, causando grande comoção entre aqueles que o conheciam.
Logo após o seu falecimento, depois das despedidas fúnebres que são de costume, o seu corpo foi
sepultado por seus familiares no Cemitério Parque da Paz, que está localizado na Avenida Juscelino
Kubitschek de Oliveira, nº 4.454, Passaré, na cidade de Fortaleza.
BIBLIOGRAFIA:
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2. BARROS LEAL, Antenor Gomes de. Recordações de um Boticário. 2ª ed. Fortaleza: Verdes
Mares, 1996.
3. CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. História Política do Ceará, (1930-1945). Fortaleza: Stylus
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4. CAVALCANTE MOTA, José Aroldo. Boa Viagem, Realidade e Ficção. Fortaleza:
MULTIGRAF, 1995.
5. MARTINS, Laís Almeida. Um século de vida pública na Serra das Matas: ensaio (1900 –
2000). Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2017.
6. NASCIMENTO, Cícero Pinto do. Memórias de Minha Terra. Fortaleza: Encaixe, 2002.
7. SIMÃO, Marum. Quixeramobim, Recompondo a História. Fortaleza: MULTIGRAF, 1996.
8. SOUSA SOBRINHO, Tomás Pompeu. A História das Secas no Século XX. Disponível em
colecaomossoroense.org.br. Acesso no dia 13 de fevereiro de 2015.
9. VIEIRA FILHO, José. Minha História, Contada por Mim. Fortaleza: LCR, 2008.
HOMENAGEM PÓSTUMA:
1. Em sua memória, na gestão do Prefeito José Vieira Filho – o Mazinho, embora ainda sem
legislação, uma das ruas da vila de Ibuaçu, no Município de Boa Viagem, recebeu a sua
nomenclatura.
Publicado em Biografias por Eliel Rafael da Silva Júnior. Marque Link Permanente
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