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Orientação:
Dr. ELIAS SANTOS DO PARAIZO JUNIOR
CURITIBA
MMXIX
MARCUS VINICIUS SEGEDI DA SILVA
Orientação:
Dr. ELIAS SANTOS DO PARAIZO JUNIOR
CURITIBA
2019
CATALOGAÇÃO NA FONTE PELA BIBLIOTECA DA FACULDADE DE TEOLOGIA
CLARETIANA - STUDIUM THEOLOGICUM, AFILIADO À PONTIFICIA
UNIVERSITÀ LATERANENSE DE ROMA
© REPRODUÇÃO AUTORIZADA PELO AUTOR
ORIENTADOR:
_______________________________________________
Prof. Dr. Elias Santos do Paraizo Junior, Claretiano - Studium
Theologicum
Doutorado em Estudos da Tradução pela UFSC
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________________
Prof. Ms. Rafael Santamaria, Claretiano – Studium Theologicum
Mestre em Teologia Bíblica pela Universidad Pontificia de Salamanca
_________________________________________________
Prof. Ms. Jaime Sanchez Bosch, Claretiano - Studium Theologicum
Mestre em Sagrada Escritura pelo Instituto Bíblico de Roma
CONCEITO: ___________.
Em, 19 de novembro de 2019.
DEDICATÓRIA
Abreviaturas Remissivas
apud citado por (citação de segunda mão)
cap. capítulo
ed. edição
e.g. exempli gratia
ibid. no mesmo lugar
id. o mesmo (mesmo autor)
op.cit. na obra citada
dir. direção
org. organizador
p. (pp.) página (s)
trad. tradução
v. (vv.) versículo (s)
in presente em
s. (ss) versículo (s) seguinte (s)
// textos paralelos
Abreviaturas bíblicas
Gn Gênesis
Ex Êxodo
Lv Levítico
Nm Números
Dt Deuteronômio
Jz Juízes
1Sm Primeiro livro de Samuel
2Sm Segundo livro de Samuel
1Rs Primeiro livro dos Reis
2Rs Segundo livro dos Reis
1Cr Primeiro livro das Crônicas
Esd Esdras
Tb Tobias
Jud Judite
1Mc Primeiro livro dos Macabeus
2Mc Segundo livro dos Macabeus
Jó Jó
Sl Salmos
Sb Sabedoria
Is Isaías
Jr Jeremias
Lm Livro das Lamentações
Ez Ezequiel
Dn Daniel
Os Oséias
Jl Joel
Am Amós
Ab Abdias
Mq Miquéias
Na Naum
Hab Habacuc
Sf Sofonias
Ag Ageu
Zc Zacarias
Ml Malaquias
Mt Evangelho segundo Mateus
Lc Evangelho segundo Lucas
Jo Evangelho segundo João
Rm Epístola aos Romanos
Ef Epístola aos Efésios
Hb Hebreus
2Pd Segunda epístola de Pedro
Ap Apocalipse de João
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA....................................................................................vii
AGRADECIMENTOS............................................................................ix
EPÍGRAFE..............................................................................................xi
ABREVIATURAS................................................................................xiii
RESUMO.............................................................................................xvii
ABSTRACT..........................................................................................xix
ÍNDICE DE TABELAS........................................................................xxi
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES.............................................................xxiii
INTRODUÇÃO.....................................................................................27
8 APOCALIPSE 6, 9-11................................................................88
9 APOCALIPSE 6, 12-17..............................................................89
10 APOCALIPSE 7, 1-8..................................................................93
11 APOCALIPSE 7, 9-17................................................................96
12 APOCALIPSE 8, 1-5................................................................101
13 APOCALIPSE 8, 6 – 9, 21.......................................................105
14 APOCALIPSE 10, 1-11............................................................111
15 APOCALIPSE 11, 1-13............................................................116
16 APOCALIPSE 11, 14-19..........................................................120
17 APOCALIPSE 12, 1-17............................................................122
18 APOCALIPSE 12, 18 – 13, 10.................................................127
19 APOCALIPSE 13, 11-18..........................................................130
20 APOCALIPSE 14, 1-5..............................................................134
21 APOCALIPSE 14, 6-13............................................................137
22 APOCALIPSE 14, 14-20..........................................................140
23 APOCALIPSE 15, 1-4..............................................................141
24 APOCALIPSE 15, 5 – 16, 23...................................................145
25 APOCALIPSE 17.....................................................................149
26 APOCALIPSE 18.....................................................................154
27 APOCALIPSE 19, 1-10............................................................159
28 APOCALIPSE 19, 11-21..........................................................163
29 APOCALIPSE 20.....................................................................168
30 APOCALIPSE 21 – 22.............................................................173
CONCLUSÃO.....................................................................................195
REFERÊNCIAS...................................................................................199
RESUMO
Palavras-chave:
1. Apocalipse de João; 2. Sagrada Escritura; 3. Intertextualidade; 4.
Antigo Testamento; 5. Escatologia.
xix
ABSTRACT
Key words:
xxi
Figura 1..................................................................................................26
PASTRO, Claudio. Cúpula central do Santuário de Aparecida. 2017,
mosaico, tinta sobre azulejos, escultura em metal.
Figura 2..................................................................................................33
PASTRO, Claudio. Baldaquino do Santuário de Aparecida. [s.d.], vitral.
Figura 3..................................................................................................53
PASTRO, Claudio. Baldaquino do Santuário de Aparecida. [s.d.], tinta
sobre azulejos
Figura 4................................................................................................180
PASTRO, Claudio. Painel da nave leste do Santuário de Aparecida.
[s.d.], tinta sobre azulejos
Figura 5................................................................................................192
PASTRO, Claudio. Nicho da imagem do Santuário de Aparecida. [s.d.],
escultura em metal
xxv
INTRODUÇÃO
PASTRO, Claudio. Cúpula central do Santuário de Aparecida., 2017, mosaico, tinta sobre azulejos, escultura em metal.
xxvii
12
CHARLES. op.cit, pp. 542-624.
13
COLLINS. From Profecy…, op.cit., p. 151.
14
Esd 7, 1ss.
15
MOYISE, Steve. The Old Testament in the Book of Revelation.
Sheffield: Sheffield Academic, 1995, p. 16.
16
Ap 4.
17
Ap 5.
18
Ap 5.
19
Ap 17.
20
Ap 13.
21
MOYISE. op.cit, p. 12.
22
Ap 22, 18.
23
Ap 2 – 3.
24
Elemento particularmente presente nos cc. 21 – 22.
25
Veja-se, por exemplo, as cenas dos cc. 17 – 20.
31
30
COLLINS. What is Apocalyptic…, op.cit., p. 1.
36
43
Ap 21,1.
44
Embora seu processo redacional seja longo e complexo, e isso reflita no
texto grandemente fragmentário, ainda é um bom exemplo desta época.
41
51
Sobre isso, POPOVIĆ, Mladen. Apocalyptic Determinism. – in:
COLLINS, The Oxford…, op.cit., cap. 15, p. 255, vale lembrar que o conceito é
moderno, e é necessário lembrar que essa aplicação posterior dos termos aos
textos antigos deve ser consciente para evitar que as conclusões sejam
anacrônicas. Seja como for, um dado interessante é que textos como o
Apocalipse de Enoque e o Livro dos Jubileus, são muito afins com uma versão
bastante rígida do conceito que temos hoje.
52
O simbolismo na apocalíptica é objeto de grande debate, e, inclusive,
objeto do presente estudo. Todavia, como já dissemos, a abordagem que
pretendemos utilizar aqui para uma atribuição de sentido a essa linguagem é a da
intertextualidade.
53
FRIESEN, Steven. Apocalypse end Empire. – in: COLLINS, The
Oxford…, op.cit., cap. 10, p. 163, traça um histórico da pesquisa desde os anos
1970, que presencia um abandono da tese da perseguição aberta dos cristãos
como pano de fundo para o Apocalipse de João. Ainda assim, adotaremos o
termo perseguição, em um sentido bastante amplo. Se não se trata de prisões ou
assassinatos em série, ao menos uma estranheza dos cristãos decididamente
monoteístas e que não participem do culto imperial é esperada e, em alguns
casos, até mesmo suposta pelos pesquisadores.
54
e.g. Ap 15, 3s; 16, 5-7.
55
Ap 6, 10.
44
2 INTERTEXTUALIDADE
56
Ap 12.
57
Ap 21.
58
Ap 5.
59
MOYISE. op.cit, p. 108.
60
KRISTEVA, Julia. Introdução à Semanálise. São Paulo: Perspectiva,
1974.
45
do texto, mas também subvertê-la. Moyise67 postula que, uma vez que os
usos joaninos do AT não são como uma exegese, mas também não se
dão de um modo totalmente arbitrário, toda citação distorce e redefine
seu original por meio da relocação em um novo contexto.
Ainda acompanhando esse autor68, sustentamos que o fenômeno
do uso de um texto por outro se dê em uma interação dialética e
conflituosa, pois os contextos subjacentes não correspondem
perfeitamente e, assim, contrastam em algum grau. Ler um texto, tendo
em mente o outro, faz com que haja a possibilidade de emersão à
consciência desse processo, uma vez que o texto final utiliza aquele
prévio para seus próprios fins, mas este, por sua vez, resiste, lembrando
o leitor de seu contexto original. Há, portanto, uma dinâmica que afeta
ambos os textos.
Isso pode ser feito, aliás, até com ironia, como quando os judeus
se prostram aos pés da igreja de Filadélfia69, desparte de Isaías 60, 14
colocar Israel em primeiro lugar.
72
Ap 1, 4s.
73
Ap 22, 21.
74
Ap 1, 9 – 3, 22.
75
BAUCKHAM, Richard. Revelation. – in: AAVV The Oxford Bible
Commentary. New York: Oxford, 2001. cap. 81, p. 1291.
76
Ap 1, 3; 22, 7.10.18-19.
77
COLLINS. Apocalipse, p. 838.
78
id.ibid., p. 841.
79
id.ibid., p. 838.
50
4 ESTADO DA ARTE
84
BAUCKHAM, Richard. Climax of Profecy: studies on the Book of
Revelation. Edinburgh: T&T Clark, 1993, pp. 1-37.
85
FEKKES, Jan. Isaiah and Prophetic Traditions in the Book of
Revelation: Visionary Antecedents and their Development. New York:
Bloomsbury, 1994 apud BEALE. John’s use…, op.cit., pp. 26-29.
86
RUIZ, Jean-Pierre. Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of
Prophetic Language in Revelation 16,17-19,10. Bern: Peter Lang, 1989 apud
BEALE. John’s use…, op.cit., pp. 29-40.
52
sabe pelo intelecto. Moyise87, último autor citado, não busca fazer
teologia, mas entender a intertextualidade no Apocalipse e suas
implicações hermenêuticas. Analisando as alusões presentes no livro,
percebe-as justapostas umas às outras e à tradição cristã, e desvinculadas
do contexto originário, de modo a criar seus próprios significados
proféticos. Assim, a ideia de “intertextualidade” é central para sua
construção, e se trataria de ler o novo texto tendo o antigo em mente, e
tentar entender como os dois se relacionam, cada um em seu contexto, e
como o novo usa ou distorce o significado original do texto.
87
MOYISE. op.cit.
CAPÍTULO II
HERMENÊUTICA
INTERTEXTUAL NO
APOCALIPSE
1 APOCALIPSE 1, 1-3
1 28 28
Ἀποκάλυψις ἀλλ᾽ ἔστι θεὸς ἐν ἀλλ᾽ ἢ ἔστιν θεὸς ἐν
Ἰησοῦ Χριστοῦ οὐρανῷ ἀνακαλύπτων οὐρανῷ ἀποκαλύπτων
ἣν ἔδωκεν αὐτῷ μυστήρια ὃς ἐδήλωσε τῷ μυστήρια καὶ ἐγνώρισεν
ὁ θεὸς δεῖξαι τοῖς βασιλεῖ Ναβουχοδονοσορ τῷ βασιλεῖ
δούλοις αὐτοῦ ἃ ἃ δεῖ γενέσθαι ἐπ᾽ Ναβουχοδονοσορ ἃ δεῖ
δεῖ γενέσθαι ἐν ἐσχάτων τῶν ἡμερῶν(…) γενέσθαι ἐπ᾽ ἐσχάτων τῶν
τάχει, καὶ ἡμερῶν (…)
29
ἐσήμανεν σύ βασιλεῦ κατακλιθεὶς
88
BEALE. John’s use…, op.cit., p. 295.
89
Grifos semelhantes indicam trechos a serem comparados.
56
29
ἀποστείλας διὰ ἐπὶ τῆς κοίτης σου σὺ βασιλεῦ οἱ
τοῦ ἀγγέλου ἑώρακας πάντα ὅσα δεῖ διαλογισμοί σου ἐπὶ τῆς
αὐτοῦ τῷ δούλῳ γενέσθαι ἐπ᾽ ἐσχάτων τῶν κοίτης σου ἀνέβησαν τί
αὐτοῦ Ἰωάννῃ, ἡμερῶν καὶ ὁ δεῖ γενέσθαι μετὰ ταῦτα
ἀνακαλύπτων μυστήρια καὶ ὁ ἀποκαλύπτων
2
ὃς ἐμαρτύρησεν ἐδήλωσέ σοι ἃ δεῖ μυστήρια ἐγνώρισέν σοι ἃ
τὸν λόγον τοῦ γενέσθαι δεῖ γενέσθαι
θεοῦ καὶ τὴν
30 30
μαρτυρίαν Ἰησοῦ (…) τὸ μυστήριον τοῦτο (…) τὸ μυστήριον τοῦτο
Χριστοῦ ὅσα ἐξεφάνθη ἀλλ᾽ ἕνεκεν τοῦ ἀπεκαλύφθη ἀλλ᾽ ἕνεκεν
εἶδεν. δηλωθῆναι τῷ βασιλεῖ τοῦ τὴν σύγκρισιν τῷ
ἐσημάνθη μοι ἃ ὑπέλαβες βασιλεῖ γνωρίσαι ἵνα τοὺς
3
Μακάριος ὁ τῇ καρδίᾳ σου ἐν γνώσει διαλογισμοὺς τῆς καρδίας
ἀναγινώσκων καὶ … σου γνῷς
οἱ ἀκούοντες
45 45
τοὺς λόγους τῆς (…) ὁ θεὸς ὁ μέγας (…) ὁ θεὸς ὁ μέγας
προφητείας καὶ ἐσήμανε τῷ βασιλεῖ τὰ ἐγνώρισεν τῷ βασιλεῖ ἃ
τηροῦντες τὰ ἐν ἐσόμενα ἐπ᾽ ἐσχάτων τῶν δεῖ γενέσθαι μετὰ ταῦτα
αὐτῇ ἡμερῶν καὶ ἀκριβὲς τὸ καὶ ἀληθινὸν τὸ ἐνύπνιον
γεγραμμένα, ὁ ὅραμα καὶ πιστὴ ἡ τούτου καὶ πιστὴ ἡ σύγκρισις
γὰρ καιρὸς ἐγγύς. κρίσις. αὐτοῦ
93
Ap 20, 9.
94
Ap 5.
95
Dada a importância do Filho do Homem para este estudo, convém que
façamos uma breve exposição sobre a cunhagem dessa expressão, seu uso nas
Escrituras e o modo como foi empregado nos textos referendados por João de
Patmos. Em hebraico, ְּבֵני ָאָד ם( ֶּבן־ָאָד ם, no plural ou ַבר ֱאָנׁשem aramaico)
significa, literalmente, “filho de homem/humano” (ou “filho de Adão”, uma vez
que tomemos ָאָדםde Gn 2, 7 como nome próprio). O mais das vezes, é
empregado significando qualquer ser humano e, frequentemente, utilizado para
distingui-lo da divindade. Assim em Nm 23, 19, por exemplo, em que a
distinção está na fidelidade à palavra dada: enquanto os “filhos de homem” são
falíveis, El ( )ֵאלmantém sempre o que diz. Há dependência do ser humano,
“filho de homem” com relação a Deus, que deles se preocupa por pura
benignidade, como dito em Sl 8, 5. Jeremias utiliza a expressão ֶּבן־ָאָד םem
sentido genérico, e sempre para significar a cidade desolada, onde já não habita
“filho de homem”. Por sua vez, Ezequiel mantém esse uso, mas coloca na boca
de Deus a expressão. Este impõe-se como soberano em visão mística de glória
diante daquele que aparece em sua mortalidade. Sl 79, 18 traz uma nuance: há o
( ֶּבן־ָאָד ם ִאַּמְצָּת ָּלְךfilho de homem fortalecido para ti [Deus, curiosamente no
59
2 APOCALIPSE 1, 4-8
4 28
καὶ εἶπεν ὁ θεὸς Ιωάννης ταῖς ἑπτὰ ἐκκλησίαις κἀγὼ πρωτότοκον
πρὸς Μωυσῆν ταῖς ἐν τῇ Ἀσίᾳ· χάρις ὑμῖν καὶ θήσομαι αὐτόν
ἐγώ εἰμι ὁ ὤν εἰρήνη ἀπὸ ὁ ὢν καὶ ὁ ἦν καὶ ὁ ὑψηλὸν παρὰ τοῖς
καὶ εἶπεν οὕτως ἐρχόμενος καὶ ἀπὸ τῶν ἑπτὰ βασιλεῦσιν τῆς γῆς
ἐρεῖς τοῖς υἱοῖς πνευμάτων ἃ ἐνώπιον τοῦ
38
Ισραηλ ὁ ὢν θρόνου αὐτοῦ καὶ ὡς ἡ σελήνη
ἀπέσταλκέν με κατηρτισμένη εἰς τὸν
5
πρὸς ὑμᾶς καὶ ἀπὸ Ἰησοῦ Χριστοῦ, ὁ αἰῶνα καὶ ὁ μάρτυς
μάρτυς, ὁ πιστός, ὁ πρωτότοκος ἐν οὐρανῷ πιστός
τῶν νεκρῶν καὶ ὁ ἄρχων τῶν διάψαλμα
βασιλέων τῆς γῆς.
retratava o Santuário Celeste, por ele visto, é natural esperar que o autor
do Apocalipse, que diz ter visto a Sala do Trono, nos céus 102, ao se
deparar com as realidades, as mostre de modo semelhante e
eminentemente mais esplendoroso.
Estando diante dos versículos iniciais, que expressam o conteúdo
programático do escrito todo, entendemos que sua mensagem é de graça
e paz da parte do Deus que promoveu libertação e que, sendo o mesmo
sempre (o que se conclui pelo modo como foi designado), dispõe-se a
realizar a mesma vitória que outrora realizou sobre Faraó. Vemos, com
efeito, que a ideia de que Deus luta as guerras de Israel, presente na
narração do Pentateuco na descrição das pragas e das batalhas durante a
peregrinação pelo deserto também está presente no Apocalipse de João,
uma vez que o povo herda a posse da Jerusalém Celeste, sem, contudo,
engajar-se na batalha escatológica. Enquanto os seguidores do Dragão se
reúnem para a batalha, Deus mesmo salva os que permaneceram fiéis
por meio do fogo do céu103.
Sem exagero, podemos trazer ao leitor do Apocalipse as palavras
de Deus quando fala a Moisés: “eu vi a aflição de meu povo”104.
Passando ao segundo solecismo apontado, percebemos que
guarda muita semelhança com o primeiro: ambos são adjetivações de
sujeitos, escritas em fórmulas tríplices, e expressas no caso nominativo.
Agora, por outro lado, a referência não é do contexto da saída do Egito,
mas da monarquia. Beale105 e Laughlin106 defendem que o título ὁ
μάρτυς, ὁ πιστός evoca diretamente Salmos 88, 38 (ὁ μάρτυς ἐν οὐρανῷ
πιστός). Embora a estruturação do livro dos Salmos seja controversa, se
considerarmos os louvores presentes em Salmos 40, 14; 71, 18-20; 88,
53; 105, 48, podemos dividi-lo em cinco livros menores de salmos.
Sendo assim, a menção seria a um salmo régio que termina em lamento e
encerra o terceiro livro dos salmos. A doxologia final do terceiro livro
107
uide Sl 88, 28; em uma tradução livre da LXX, o colocarei como
primogênito e grande junto dos reis da terra.
108
Sl 88, 51.
109
Ap 1, 6a.
110
uide p. 62.
63
Dn 7, 13 Ap 1, 7-8 Zc 12, 10
13 7
ἐθεώρουν ἐν ὁράματι Ἰδοὺ ἔρχεται μετὰ καὶ ἐκχεῶ ἐπὶ τὸν
τῆς νυκτὸς καὶ ἰδοὺ ἐπὶ τῶν νεφελῶν, καὶ οἶκον Δαυιδ καὶ ἐπὶ
τῶν νεφελῶν τοῦ οὐρανοῦ ὄψεται αὐτὸν πᾶς τοὺς κατοικοῦντας
ὡς υἱὸς ἀνθρώπου ἤρχετο ὀφθαλμὸς καὶ οἵτινες Ιερουσαλημ πνεῦμα
καὶ ὡς παλαιὸς ἡμερῶν αὐτὸν ἐξεκέντησαν, χάριτος καὶ οἰκτιρμοῦ
παρῆν καὶ οἱ καὶ κόψονται ἐπ᾽ καὶ ἐπιβλέψονται
παρεστηκότες παρῆσαν αὐτὸν πᾶσαι αἱ φυλαὶ πρός με ἀνθ᾽ ὧν
αὐτω τῆς γῆς. ναί, ἀμήν. κατωρχήσαντο καὶ
κόψονται ἐπ᾽ αὐτὸν
14 8
καὶ ἐδόθη αὐτῷ ἐξουσία Ἐγώ εἰμι τὸ ἄλφα κοπετὸν ὡς ἐπ᾽
καὶ πάντα τὰ ἔθνη τῆς γῆς καὶ τὸ ὦ, λέγει κύριος ἀγαπητὸν καὶ
κατὰ γένη καὶ πᾶσα δόξα ὁ θεός, ὁ ὢν καὶ ὁ ἦν ὀδυνηθήσονται
αὐτῷ λατρεύουσα καὶ ἡ καὶ ὁ ἐρχόμενος, ὁ ὀδύνην ὡς ἐπὶ
ἐξουσία αὐτοῦ ἐξουσία παντοκράτωρ. πρωτοτόκῳ
αἰώνιος ἥτις οὐ μὴ ἀρθῇ
καὶ ἡ βασιλεία αὐτοῦ ἥτις
οὐ μὴ φθαρῇ
111
Ap 7, 14.
112
Ap 5.
113
CORSINI, Eugenio. O apocalipse de São João. São Paulo: Paulinas,
1984, p. 84.
114
uide p. 172.
64
3 APOCALIPSE 1, 9-20
115
CORSINI. op.cit, p. 85.
116
BEALE, Gregory. Revelation: a shorter commentary. Cambridge:
William B. Eerdmans, 2015, pp. 35ss. e BEALE. John’s use…, op.cit., pp.
129ss.
117
Ap 1, 1.
118
Ap 1, 9.
119
Ap 1, 10s.
120
Ap 1, 12-16.
121
Ap 1, 17-20.
122
BEALE. Revelation, pp. 38ss.
123
Ap 1, 9.
124
uide acima, sobre o v. 5.
65
129
Zc 4, 2.11 tem um uso um pouco diferente do termo, que será retomado
em Ap 11.
130
FLAVIUS JOSEPHUS. Guerra judaica, 5, 217.
131
BEALE. John’s use…, op.cit., p. 215.
132
Dt 4, 7.
67
13 5
καὶ ἐν μέσῳ τῶν λυχνιῶν ὅμοιον υἱὸν καὶ ἦρα τοὺς ὀφθαλμούς μου
ἀνθρώπου ἐνδεδυμένον ποδήρη καὶ καὶ εἶδον καὶ ἰδοὺ ἀνὴρ εἷς
περιεζωσμένον πρὸς τοῖς μαστοῖς ζώνην ἐνδεδυμένος βαδδιν καὶ ἡ
χρυσᾶν. ὀσφὺς αὐτοῦ περιεζωσμένη ἐν
χρυσίῳ Ωφαζ
14
ἡ δὲ κεφαλὴ αὐτοῦ καὶ αἱ τρίχες λευκαὶ ὡς
6
ἔριον λευκὸν ὡς χιὼν καὶ οἱ ὀφθαλμοὶ καὶ τὸ σῶμα αὐτοῦ ὡσεὶ
αὐτοῦ ὡς φλὸξ πυρὸς θαρσις καὶ τὸ πρόσωπον
αὐτοῦ ὡσεὶ ὅρασις ἀστραπῆς
15
καὶ οἱ πόδες αὐτοῦ ὅμοιοι χαλκολιβάνῳ καὶ οἱ ὀφθαλμοὶ αὐτοῦ ὡσεὶ
ὡς ἐν καμίνῳ πεπυρωμένης καὶ ἡ φωνὴ λαμπάδες πυρός καὶ οἱ
αὐτοῦ ὡς φωνὴ ὑδάτων πολλῶν, βραχίονες αὐτοῦ καὶ τὰ σκέλη
ὡς ὅρασις χαλκοῦ στίλβοντος
16
καὶ ἔχων ἐν τῇ δεξιᾷ χειρὶ αὐτοῦ ἀστέρας καὶ ἡ φωνὴ τῶν λόγων αὐτοῦ
ἑπτὰ καὶ ἐκ τοῦ στόματος αὐτοῦ ῥομφαία ὡς φωνὴ ὄχλου
δίστομος ὀξεῖα ἐκπορευομένη καὶ ἡ ὄψις
αὐτοῦ ὡς ὁ ἥλιος φαίνει ἐν τῇ δυνάμει
αὐτοῦ.
neste salmo se expressa pelo juízo de nações, povos, reis e príncipes 144.
Por outro lado, Isaías 11, 4 traz a profecia da Raiz de Jessé, tipicamente
messiânica, que também faz referência a um espírito septiforme, e
atribui ao futuro rei o exercício da justiça, fazendo de suas palavras o
instrumento do juízo. Comparando os textos, percebemos as
semelhanças. Apocalipse 1, 16 traz “ἐκ τοῦ στόματος αὐτοῦ ῥομφαία
δίστομος ὀξεῖα ἐκπορευομένη”, enquanto em que Isaías 11, 4 consta
“πατάξει γῆν τῷ λόγῳ τοῦ στόματος αὐτοῦ” e, em Salmos 149, 6, “αἱ
ὑψώσεις τοῦ θεοῦ ἐν τῷ λάρυγγι αὐτῶν καὶ ῥομφαῖαι δίστομοι ἐν ταῖς
χερσὶν αὐτῶν”. Moyise145, ao compilar as influências
veterotestamentárias dessa passagem, nota a possibilidade de João
pretender efetivamente fazer ressoar aos ouvidos de quem testemunhava
a leitura do texto como que os ecos de várias profecias messiânicas. Se
for assim, podemos entender que o autor de Patmos tinha em mente a
proposição de que Jesus as realizara todas, e pretendia criar um texto
cuja linguagem solenemente despertasse nos ouvintes a consciência de
que Jesus é o Filho do Homem prometido e que cumpria de modo
definitivo e completo o juízo de Deus. Sem dúvida, a força retórica pela
reunião de textos variados seria imensa àqueles que captassem as
múltiplas vozes consonantes.
Um último comentário sobre os textos messiânicos aludidos é que
se, antes, o uso de Salmos 88 evocava uma situação de lamento pela
dinastia davídica arruinada, o cumprimento pleno das promessas é
destacado ao evocar Salmos 149 e Isaías 11.
Por fim, resta considerar o elemento faltante: as sete estrelas. No
AT, a referência a estrelas se dá o mais frequentemente na comparação
numérica com a descendência de Israel. Demais, em modos de falar da
criação, e se refere especificamente aos astros presentes no céu. As
exceções a essa regra são Gênesis 37, 9 e Daniel 8, 10. No livro de
Gênesis, temos as estrelas simbolizando os filhos de Jacó. Em Daniel,
algo diferente: são membros do exército celeste, alguns dos quais
lançados à terra e pisados. Aparentemente, João segue em muito o modo
de expressão do autor de Daniel, uma vez que também este faz uso da
ideia de anjos associados a comunidades, sendo Miguel o anjo de
Israel146. Collins147 notara a suposição da literatura apocalíptica entre
relações com seres de um mundo sobrenatural e as grandezas históricas
144
Sl 149, 7-9.
145
MOYISE. op.cit, p. 44.
146
Dn 10.
147
COLLINS. What is Apocalyptic…, op.cit., p. 6.
70
4 APOCALIPSE 2 – 3
5 APOCALIPSE 4
150
uide p. 178.
151
uide p. 68.
152
uide p. 120.
153
uide p. 121.
154
Eliaquim, ou ֶאְל ָיִ֖ק ים, literalmente, “escolhido por Javé”.
72
σάλπιγγος λαλούσης μετ᾽ ἐμοῦ λέγων· ἀνάβα ὧδε, καὶ δείξω σοι ἃ δεῖ
γενέσθαι μετὰ ταῦτα”.
Duas considerações de ordem gramatical podem ser feitas com
relação a esse texto, e que ressaltam sua correlação com o AT. Em
primeiro lugar, o genitivo λαλούσης concorda com σάλπιγγος, não com
o acusativo ἣν. Uma tradução livre, que respeite isso, seria “a primeira
voz, que ouvi como trombeta falando comigo” ou “trombeta que fala
comigo”. Quem porta o ato do verbo λαλέω não é a voz, mas a trombeta.
Desse modo, a referência ao instrumento de sopro não simplesmente
enfatiza a intensidade da voz, mas diz especificamente que o ato de falar
se refere mais à “trombeta” que à voz. Embora pareça preciosismo
linguístico, Beale155 afirma que essa característica acentua a similaridade
com a “voz de trombeta” que se manifestou na teofania do Sinai, em Ex
19, 16-19. Como vimos acima, à página 65, a voz que falara com o
vidente já fazia referência ao mesmo evento. E há ainda uma outra
questão de concordância, não de caso, mas de gênero. O particípio
nominativo λέγων (masculino) concorda não com φωνὴ (feminino), mas
com o sujeito falante (o Filho do Homem, a quem é atribuída a voz), o
que também faz remeter à teofania do Sinai, uma vez que é Deus quem
age, respondendo156 por meio de uma voz já anteriormente anunciada
como sendo de trombeta157.
Além desses dois elementos de índole linguística, também outros
colocam o versículo 1 em direta conexão com o evento do Sinai: a
ordem de subir, também dada a Moisés; o ato de mostrar algo celeste 158;
e o próprio lugar da manifestação como sendo no céu, uma vez que
Moisés teve contato com um santuário excelso para dele fazer uma cópia
terrena precisa; além da seguinte descrição de um ambiente cultual, bem
como da referência à escrita de um livro 159. Ainda listando o que, no
texto, insere Apocalipse 4, 1 na mesma dinâmica da voz que se
manifestara no Sinai e no Filho do Homem do c. 1, temos o enunciado
do que será mostrado ao vidente: “ἃ δεῖ γενέσθαι μετὰ ταῦτα”. Se, por
um lado, isso se insere em continuidade com o título do livro 160, também
indica que o que segue é o conteúdo da visão cujo mandato de escrita
155
BEALE. John’s use…, op.cit., p. 336.
156
Ex 19, 19.
157
Ex 19, 16.
158
Ex 25.
159
Ap 5.
160
Ap 1, 1.
73
161
uide p. 56.
162
Não nos interessará, no momento, o processo de redação da Obra
Histórica Deuteronomista, mas apenas a redação tal qual se apresenta, uma vez
que esta serviu de inspiração ao autor de Patmos.
163
Ex 19ss.
164
2Sm 7.
165
1Rs 6.
166
Ex 25, 18.
167
1Rs 6, 23.
168
1Rs 6, 20.
169
1Rs 6, 23.
170
1Rs 7, 23.
171
1Rs 7, 29.
172
1Rs 7, 32.
74
173
Ex 24, 10.
174
Gn 9, 13; Ez 1, 26-28.
175
BEALE. Revelation, p. 103, propõe essa similaridade. Todavia, notar a
semelhança entre os textos não é novidade do último século. Podemos fazer
remontar, pelo menos, a Dante Alighieri, nos últimos cantos do Purgatório a
tendência a essa identificação. Também CORSINI. op.cit, p. 142.
176
Ap 4, 2.
177
Ap 4, 3.
178
Ap 4, 5.
179
Ap 4, 5.
180
Ap 4, 6.
181
Ap 4, 6-9.
182
Ap 4, 8.
183
Ap 4, 11.
75
referência à criação não é estranha a esse ambiente, uma vez que o Deus
da Aliança se coloca como único184 e, por isso, criador.
Portanto, da comparação do texto de João com seu pano de fundo
veterotestamentário (desta vez, composto), podemos haurir
continuidades e descontinuidades. Entre os elementos comuns, destaca-
se a manifestação da glória de Javé como elemento de juízo e ação
procedente diretamente da divindade. Assim como Ezequiel a viu, e essa
visão como que catalisou a ação de Deus no juízo e na restauração de
Israel. De fato, ela sai do Templo, abandonando-o, mas volta 185, e esse
gesto simbólico é acompanhado e como que emoldura toda a ação divina
no livro. Também a atividade de Isaías se entende à luz da vocação,
legitimada pela visão do mandato divino. João, portanto, entende que
aquilo que acontecerá denota, por um lado, uma intervenção direta de
Deus na história, e, por outro, como que uma autenticação de sua
mensagem em Patmos. Por isso, podemos entender esse capítulo em
posição central com relação à retórica do livro 186, uma vez que coloca o
vidente em uma posição destacada na assembleia. Se é verdade que é
companheiro nas tribulações187, também é verdade que é o único a poder
experienciar semelhante arrebatamento dos sentidos. Aquilo, portanto,
que expõe, encontra-se na esteira da profecia veterotestamentária, com o
peso e a envergadura de tal manifestação, que procedera na história
desde o Sinai até os eventos narrados por Isaías e Ezequiel. Não se
apoia, com efeito, na autoridade dos profetas antigos, mas compara-se a
estes e haure para si uma posição semelhante, e ainda superior, uma vez
que sua visão combina os elementos dessas três fontes.
Entende-se a função do rico colorido do texto, e percebe-se a
posição do locutor da mensagem. Transmite-se, também, a certeza de
que Deus continua agindo, como agiu nos períodos marcantes da história
de Israel.
Embora a novidade decididamente cristã esteja presente sobretudo
a partir do capítulo 5, já aqui podemos notar dois fatores inteiramente
novos com relação às narrativas de Moisés, Salomão, Isaías e Ezequiel.
Um é o processo de mediação para a subida aos céus, dado por meio da
voz que, embora correlata à do Sinai, aqui é claramente a de Jesus, pelo
que concluímos do capítulo 1. Verdadeiramente, o texto bíblico não
184
Dt 6, 4.
185
Ez 43.
186
uide “Uso retórico”, à página 41.
187
Ap 1, 9.
76
188
1Rs 8, 10.
189
uide as considerações sobre os mitos de combate, à página 39.
190
Ap 4, 10.
191
Talmude Babilônico, Chagigah, 14a:4-5. Disponível em: «https://www.
sefaria.org/Daniel.7.9?lang=bi&with=Talmud&lang2=en». Acessado em 12 jan.
2019.
77
192
COLLINS. Apocalipse, p. 850, traz os tronos como uma novidade, não
pelo fato de existirem, mas por seus donos poderem se apresentar sentados
diante da divindade. A influência recolhida por ela é do zodíaco babilônico (o
número 24) e do senado romano. Conquanto sejam bastante plausíveis, nos
parece mais adequado ver o quadro todo em continuidade com a tradição
escriturística, uma vez que esta se mostra suficiente para explicar os elementos
selecionados por João.
193
Ap 21, 12.
194
BEALE. Revelation, p. 105.
195
CORSINI. op.cit, p. 142.
78
6 APOCALIPSE 5
204
Dn 2, 34.44.
205
FLAVIUS JOSEPHUS. Antiguidades judaicas, 3, 251.
206
Jo 1.
207
HENZE, Matthias. Apocalypse and Torah in Ancient Judaism. – in:
COLLINS, The Oxford…, op.cit., cap. 18, p. 316.
81
cetro208, mas que também lava suas vestes no “sangue das uvas” 209, texto
retomado em Apocalipse 6, 9ss. Assim, o Leão de Judá, ainda que possa
se referir a uma figura que remeta à força e ao poder, antes aparenta se
tratar de um descendente régio (certamente forte e poderoso), mas
entendido de um modo inteiramente novo, uma vez que o texto da
bênção de Jacó é reinterpretado, não como manifestação de opulência,
mas como expressão da morte voluntária e expiatória. O mesmo
acontece com a Raiz de Davi. O texto aludido é Isaías 11, 1ss, que
também fala de um espírito septiforme, manifestado nos sete olhos e sete
chifres do cordeiro. A profecia, à qual já aludimos 210, se refere a um rei
justo e pacífico, dos tempos messiânicos, mas também traz à tona a
índole judicativa da realização dos finais desígnios de Deus.
Passando a outro elemento do texto, temos os louvores cantados
ao Sentado no Trono e ao Cordeiro. Embora haja distinção entre aquele
proclamado pelos anciãos, pela multidão de anjos e pelas demais
criaturas, cabe destacar sua designação como “cântico novo” (ᾠδή
καινή), que remonta aos Salmos211, bem como a Isaías212 e Judite213. É
questionável o acesso de João de Patmos ao livro de Judite, mas as
demais ocorrências veterotestamentárias da expressão cântico (ᾠδή,
ᾆσμα, ὕμνος) novo (καινός) apontam inequivocamente à reação da
assembleia diante de uma ação salvífica de Deus, o que é grandemente
coerente com o esperado. Particularmente, destacam-se os salmos 32 e
95, pelo ambiente cúltico que supõem, sendo muito adequados à
presente situação. Seja como for, certo é que a qualificação do louvor
como sendo “novo”, indica a ação de graças por uma especial
intervenção de Deus na história em favor de seu povo, que reconhece a
ação libertadora como gratuita e, por isso, dá graças e adora.
Novamente, embora não pretendamos estabelecer uma abordagem
sistemática sobre a doutrina da Trindade, tal como presente no
Apocalipse, cabe notar que o Cordeiro é associado ao Sentado no Trono
nos louvores que a este se proclamam. Sua posição na assembleia celeste
208
Gn 49 8-12.
209
Gn 49, 11.
210
uide p. 69.
211
Sl 32, 3; 39, 4; 95, 1; 97, 1; 143, 9; 149, 1.
212
Is 42, 10.
213
Jud 16, 13.
82
214
Ap 5, 6; 3, 21.
215
Ap 5, 14.
216
uide p. 172.
217
Ap 5, 9.
218
Ap 5, 10.
219
Ex 19, 6.
83
7 APOCALIPSE 6, 1-8
223
O versículo 5 representa bem a fórmula padrão: “Καὶ ὅτε ἤνοιξεν τὴν
σφραγῖδα τὴν τρίτην, ἤκουσα τοῦ τρίτου ζῴου λέγοντος· ἔρχου. καὶ εἶδον, καὶ
ἰδοὺ ἵππος μέλας, καὶ ὁ καθήμενος”. O v. 1 apresenta uma descrição um pouco
mais detalhada, trazendo a informação sobre agente da ação de abrir os selos (o
Cordeiro), bem como sobre os seres vivos. O v. 7 carrega a palavra φωνὴν. E o
v. 4 substitui “εἶδον, καὶ ἰδοὺ” por “ἐξῆλθεν”. Importa, todavia, notar
similaridade vernacular muito grande nos textos que apresentam a ruptura dos
quatro primeiros selos.
224
COLLINS. Apocalipse, p. 851.
225
CORSINI. op.cit, pp. 151ss.
226
VANNI, Hugo. Apocalipse. São Paulo: Edições Paulinas, 1979, p. 54.
85
227
BEALE. Revelation, p. 129.
228
Vejamos como isso ocorre mais explicitamente. Ainda que Zc 1, 8 (Heb)
traga somente três cores ( ָלָבן, ָש ֹרק,)ָאֹדם, Zc 1, 8 (Gr) contém quatro (πύρρος,
ψαρός, ποικίλος, λευκός). O texto correlato de Zc 6, 2 (Heb) menciona quatro
cores, com coincidência de duas ( ָּבֹרד, ָלָבן, ָׁשֹחר,)ָאֹדם. Por sua vez, Zc 6, 2 (Gr)
também se serve de quatro cores, mas agrupando duas de Zc 1 e acrescentando
outra (πύρρος, μελάς, λευκός, ποικίλος ψαρός). É este último o texto seguido de
perto por Ap 6, que traz como cores: λευκός, πύρρος, μελάς, χλωρός (essa
última, geralmente é traduzida por verde, mas não de modo inequívoco, pois
pode significar “claro”, “esbranquiçado”, “pálido” ou “acinzentado”). Seja como
for, entre os comentadores, um dos poucos consensos é que há referência a
Zacarias.
229
Sobre isso, considerações à página 86.
230
Zc 1, 12; Ap 6, 10.
231
Ap 21 – 22.
232
Ap 11, 1.
233
Zc 1, 16.
86
aqueles que outrora foram vistos como instrumentos da cólera divina 234.
Todavia, os cavaleiros dos quatro grupos de cavalos, após terem
percorrido a terra, trazem a notícia de paz e tranquilidade. Em primeira
vista, isso poderia ser considerado como positivo ou reconfortante, mas
o texto apresenta logo a avaliação sobre a mensagem de paz: ela é razão
para que se indague até quando Deus deixará de ter compaixão para com
Israel235. De fato, embora siga a esse anúncio a promessa de salvação, o
fato é que a paz para os opressores em toda a terra significa, para os
oprimidos, a ausência da ação de Deus, diante da qual surge, em prece, a
mesma queixa que, em outro contexto, será apresentada pelos que
sofreram o martírio236. Segundo Carey237, é de se esperar que uma
audiência movida pela sensação de injustiça retrate seus sentimentos de
aguardo do juízo divino como sendo de vingança e, assim, não de paz,
como o que ocorria.
Isso começa a mudar em Zacarias 6, 1-8. Novamente, os
cavaleiros são enviados por Deus para percorrer toda a terra. Não se
encontram após um retorno, aqui, mas estão inquietos até que lhes seja
permitido partir. Recebem, então, a ordem de percorrer a terra 238.
Todavia, nenhuma ação é descrita. Em Apocalipse 6, 1-8, a mudança é
drástica. Os cavaleiros já não trazem notícias de paz, e nem tampouco
simplesmente percorrem a terra. Eles são enviados pelo próprio Deus
(pois quem rompe os selos é o Cordeiro, quem os chama são os seres
vivos do entorno do Trono de Deus, e foram-lhes dados 239 por Deus os
meios da execução de suas missões) e com uma incumbência que
poderia ser descrita, justamente, como retirar a paz da terra.
Podemos entender que a abertura dos selos implique que Deus
não mais se apresenta passivo diante das situações calamitosas de seu
povo.
Ao final, diz-se que “foi-lhes dado poder sobre a quarta parte da
terra240. O pronome αὐτοῖς pode se referir à morte e ao hades, ou então
234
Zc 1, 15.
235
Zc 1, 12.
236
Ap 6, 10.
237
CARAY. Early…, op.cit., p. 228.
238
Zc 6, 7.
239
Sobre isso, nota-se a presença do passivo divino nos verbos ἐδόθη (v.
2.4.8). Falta ao terceiro cavaleiro, a quem nada foi dado. Todavia, a
proclamação dos preços da carestia se encontra não na boca do cavaleiro, mas
de um dos seres vivos do Trono.
240
“ἐδόθη αὐτοῖς ἐξουσία ἐπὶ τὸ τέταρτον τῆς γῆς”, Ap 6, 8.
87
8 APOCALIPSE 6, 9-11
241
“ἐν ῥομφαίᾳ καὶ ἐν λιμῷ καὶ ἐν θανάτῳ καὶ ὑπὸ τῶν θηρίων τῆς γῆς”, Ap
6, 8.
242
Retomaremos o assunto à página 93.
243
uide p.85.
88
244
Ap 6, 11.
245
Ex 30, 8.
246
Sl 140, 2.
247
Ap 5, 6.
248
Gn 4, 10.
89
suas vidas diante de Deus249, que as recebe qual sacrifício sobre o altar, a
verdade é que não se realizou ainda a consumação da fidelidade
esperada. Ainda resta que se levantem, e se realize sua vingança sobre os
que estão sobre a terra250.
9 APOCALIPSE 6, 12-17
249
Sb 3, 1.6.
250
Sb 5, 1; Ap 6, 10.
90
Ap 6, 12-17 LXX
12
Καὶ εἶδον ὅτε ἤνοιξεν τὴν καὶ ὁ ζῆλός μου ἐν πυρὶ τῆς ὀργῆς
σφραγῖδα τὴν ἕκτην, καὶ σεισμὸς μου ἐλάλησα εἰ μὴν ἐν τῇ ἡμέρᾳ
μέγας ἐγένετο ἐκείνῃ ἔσται σεισμὸς μέγας ἐπὶ γῆς
Ισραηλ (Ez 38, 19)
251
καὶ πᾶν ὄρος καὶ νῆσος ἐκ τῶν τόπων αὐτῶν ἐκινήθησαν, Ap 6, 14.
252
πᾶς δοῦλος καὶ ἐλεύθερος ἔκρυψαν ἑαυτοὺς, Ap 6, 15.
253
ἦλθεν ἡ ἡμέρα ἡ μεγάλη τῆς ὀργῆς αὐτῶν, Ap 6, 17.
92
254
ZENGER, Erich. O livro dos Doze Profetas. – in: AA.VV. Introdução
ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2003. cap. VIII, p. 473.
93
10 APOCALIPSE 7, 1-8
nos parece mais que plausível) que seu texto seja escrito não somente
com termos veterotestamentários, mas por meio de conceitos e alusões
ao Texto Sagrado, poderíamos efetivamente considerar a possibilidade
de tal identificação. Sendo assim, utilizando como parâmetro Ezequiel
9260, a praga indistinta anunciada sobre um terço da terra no capítulo 6
seria, então, destinada apenas aos que não foram assinalados na fronte.
Ou seja, os servos de Deus seriam poupados, o que faz ecoar também a
última das pragas do Êxodo, na qual a marca de servidão a Javé fez com
que o exterminador passasse adiante.
O paralelismo, portanto, entre a assinalação do Apocalipse e a de
Ezequiel (vendo também os quatro ventos como operadores da cólera
divina) parece fazer entender que as ações divinas de hoje, além de
plenificação das de outrora, têm a mesma finalidade. O Deus que, por
ser fiel a si mesmo, deixou seu Templo e puniu aqueles com os quais
celebrara Aliança, o fez não de modo indiscriminado, mas cuidadoso,
para que não fossem vítimas de sua ira aqueles que foram fiéis à
promessa de amor. Esse mesmo Deus atua hoje e, portanto, suas
promessas de libertação. Se o faz, é apenas temporariamente, pois é
necessário separar o trigo do joio261.
Novidade com relação a Ezequiel e Zacarias é a enumeração dos
assinalados.
Vanni262 vê a lista em relação ao povo da Antiga Aliança,
entendendo a imensa multidão da perícope seguinte como o povo da
Nova Aliança. Conquanto essa identificação possa ser feita, parece-nos
mais adequada a consideração de Yarbro Collins 263, que vê os
assinalados não como sendo do Israel étnico, mas do Novo Israel, uma
grandeza teológica maior que o judaísmo. Sendo assim, seria possível
que a multidão assinalada (e não vista, pois João apenas ouve seu
número) seja a mesma que carrega palmas às mãos e veste branco em
Apocalipse 7, 9. Sobre isso, veremos adiante.
Independente da afirmação ou não de identidade entre assinalados
e os alvamente indumentados, surgem elementos a explicar: por que a
lista das doze tribos, e por que a ausência da tribo de Dan.
260
Importa este texto para a conclusão que segue porque Ap 7 não menciona
explicitamente que os assinalados na fronte seriam poupados de qualquer um
dos flagelos descritos, conquanto deixe entender essa função simplesmente pelo
ato de marcar adiar a punição, em Ap 7, 3.
261
Mt 13, 24ss; 2Pd 3, 9ss.
262
CORSINI. op.cit, p. 170.
263
COLLINS. Apocalipse, p. 852.
95
Ap 7, 5-8 Nm 1, 20ss
como “Leão de Judá”266. Não choca, portanto, que o elenco das doze
tribos inicie justamente por esta.
Por fim, a tribo faltante de Dã pode se explicar pela tradição de
imputar-lhe infidelidade no AT267, bem como pela avaliação negativa
feita em Gênesis 49. Esse é outro fator que aponta não para Israel étnico,
mas para um Novo Israel, totalmente fiel e depurado, autenticamente
servo de Deus268.
O que se antevê é que há iminência de uma intervenção divina
definitiva. As antigas promessas de salvação estão para cumprir-se e, sob
certo sentido, já se cumpriram, bastando apenas que haja uma última
intervenção divina, uma autorização para ação. A vitória é certa. Resta
esperar e manter-se fiel, mesmo em meio às tribulações.
11 APOCALIPSE 7, 9-17
266
Ap 5, 5.
267
Jz 18; 1Cr 4 – 7.
268
Ap 7, 3.
269
VANNI. op.cit, p. 58.
270
CORSINI. op.cit, p. 170.
271
COLLINS. Apocalipse, p. 853.
272
BAUCKHAM. Revelation, p. 1294.
273
BEALE. Revelation, p. 154.
97
274
Ap 5, 5; 7,4.
275
Ap 5, 6; 7, 9.
276
Gn 15, 5.
277
Gn 12, 3.
278
περιβεβλημένους στολὰς λευκὰς.
279
φοίνικες ἐν ταῖς χερσὶν.
98
régio oriundo de toda tribo, língua, povo e nação 280, e isso é reafirmado
por meio de uma indumentária cúltica no ato litúrgico diante do Trono
de Deus. Se outrora o sacerdócio em sentido estrito era sadocita,
reservado a uma família dentre as levíticas, agora aqueles que reinam
com Cristo (reinam porque são o exército de seu combate escatológico)
apresentam-se eles mesmos como sacerdotes.
Suas vestes são brancas porque alvejadas em sangue, o sangue do
Cordeiro281. Não espanta essa afirmação a alguém acostumado com a
ideia do sacrifício vicário na cruz. Todavia, essa frase também ecoa um
texto caro à apocalíptica282, o testamento de Jacó. De fato, em Gênesis
49, 11, Judá é visto como alguém que lava as vestes em vinho.
Lembremos, entretanto, que o texto da LXX traz vinho por sangue de
uvas283. Novamente, dado o paralelismo em que o Cordeiro está para o
Leão assim como a multidão de sacerdotes (estes, vestidos de branco)
está para o exército (144.000), não surpreende que tal identificação surja.
Aqueles que desempenham função sacerdotal escatológica são os que se
tiveram santificado não por meio de sangue de animais, mas por meio da
participação no sacrifício de Cristo. A “grande tribulação”, portanto,
ganha sentido de ingresso em uma liturgia celeste que, paradoxalmente,
teve seu início na Cruz.
Um detalhe importante desse eco é que a própria multidão, além
de vestida de sacerdócio (régio porque acompanhando seu rei), tem a
origem da alvura de suas roupas idêntica à daquele que seguem. Por um
lado, a leitura atenta faz perceber a dramática situação daqueles que
podem dar seu sangue para seguir o Cordeiro. Por outro, a dignidade
mesma dos integrantes dessa multidão está atrelada à participação no
mesmo sacrifício que fez com que o Cordeiro pudesse abrir os sete selos.
Aliás, podemos dizer que essa mesma multidão, elemento atuante no
cenário cúltico celeste284, já não brada “até quando?”, mas festeja a
definitiva intervenção divina na história.
A última, ainda não refletida, ocorrência de στολή na Torá se
refere a um versículo penitencial. Ex 33, 5 é a única vez em que há
280
Ap 5, 9s. Fora a ordem, a terminologia é idêntica: ἐκ παντὸς ἔθνους καὶ
φυλῶν καὶ λαῶν καὶ γλωσσῶν (Ap 7, 9).
281
Ap 7, 14.
282
Note-se que a presença de obras apocalípticas intituladas Testamentos
dos doze patriarcas indica sua real importância a essa corrente de pensamento.
283
πλυνεῖ ἐν οἴνῳ τὴν στολὴν αὐτοῦ καὶ ἐν αἵματι σταφυλῆς τὴν περιβολὴν
αὐτοῦ (Gn 49, 11).
284
Ap 6, 9-11.
99
285
CORSINI. op.cit, p. 172, BAUCKHAM. Revelation, p. 1294,
COLLINS. Apocalipse, p. 853.
286
BEALE. Revelation, p. 156.
287
PRIGENT. op.cit, pp. 146-7.
288
Prigent, todavia, conclui negando, não tanto esta associação, mas as
razões apontadas para efetuá-la.
289
FLAVIUS JOSEPHUS. Antiguidades judaicas, 8, 99ss.
290
1Rs 8.
291
Lv 16.
292
São várias as passagens que denotam a esperança de que esta construção
seria definitiva. Por exemplo, 1Rs 8, 13.
293
Ap 7, 14.
100
realidades celestes, mas a própria realidade 294. Sendo assim, ainda que,
como protesta Prigent295, não haja indício claro no judaísmo do século I
de que a Festa das Tendas fosse tal que tivesse um caráter de esperança
escatológica, sua inserção cronológica quando da dedicação do primeiro
Templo, se não nos habilita a fazer ecoar o texto veterotestamentário, ao
menos faz com que não sejamos impedidos, uma vez que fornece outra
linha argumentativa pela qual possamos sustentar esta afirmação.
Notemos que, se supusermos que as palmas às mãos façam
recordar a entrada festiva de Deus no Templo, ou, no caso, a entrada
festiva da assembleia no Templo Definitivo, entendemos o porquê dos
elementos cúlticos presentes na perícope, tais como os hinos dos vv.
10.12, bem como com a ideia de que o Sentado no Trono estende sobre
seu povo a sua tenda296.
Por fim, esse cortejo triunfal que adentra no coro celeste é
compatível com as demais referências ao Texto Sagrado. Notemos que
as promessas dos vv. 16s são hauridas de Isaías 49, 10; 25, 8; Salmos 22,
2. Os trechos de Isaías se referem especificamente à peregrinação
escatológica de todos os povos, que afluirão a Jerusalém para prestar
culto a Deus. O Salmos 22, conquanto não pareça, a princípio,
concernente a esse tema, traz em seu final uma abertura à vida perene,
justamente pela habitação na casa de Deus297.
12 APOCALIPSE 8, 1-5
294
Hb 9, 24ss.
295
PRIGENT. op.cit, p. 147.
296
Ap 7, 15.
297
Sl 22, 6.
298
Sim, à nossa cultura, não se esperaria um silêncio quando da ruptura do
último dos selos, e sim um desfecho da história.
101
trata de um elemento de ênfase litúrgica 299, outros, cada qual a seu modo,
veem como uma visão cronológica da história, com o fim da Antiga
Aliança e o início da Nova300. Há ainda quem exclua completa e
explicitamente a hipótese de sucessão cronológica301. E há quem, sem
sequer mencionar o problema da presença ou ausência de cronologia,
atribui ao silêncio um significado psicológico de expectativa 302.
Conquanto tenha a tendência de atribuir exageradamente personagens
(ou, ao menos, tempos) concretos aos eventos descritos no Apocalipse,
Beale303 é o que mais destaca a importância veterotestamentária como
pano de fundo ao texto. Todavia, ao apontar alguns textos como chave
hermenêutica, sobretudo para Apocalipse 8, 1, o faz de modo
questionável.
Não espanta, com efeito, que justamente neste ponto do texto haja
grande dissenção entre os comentadores. Aqui termina 304 o setenário dos
selos e inicia-se o setenário das trombetas, e o modo de interpretar este
versículo acaba por influenciar no modo de estruturar, portanto, o livro
todo. Sendo assim, importa sobremaneira que, particularmente aqui –
por fidelidade à proposta inicial – percebamos se há algum tipo de
alusão ao Texto Sagrado.
O primeiro eco do AT, percebido por Beale e negado por Prigent
é a presença dos textos de Habacuc 2, 20; Sofonias 1, 7; Zacarias 2, 17.
Não havendo consenso entre os comentadores se estes textos são ou não
correlatos de Apocalipse 8, 1, e sendo esta análise razoavelmente
complexa, convém que comparemos todos os quatro versículos e
analisemos os argumentos contra e a favor da afirmação de que João de
Patmos tinha em mente algum destes versículos quando da escrita do
Apocalipse.
Ap 8, 1 Hab 2, 20 Sf 1, 7a Zc 2, 17
299
VANNI. op.cit, p. 59, BAUCKHAM. Revelation, p. 1294.
300
É o caso de CORSINI. op.cit, p. 173-5.
301
PRIGENT. op.cit, p. 154.
302
COLLINS. Apocalipse, p. 854.
303
BEALE. Revelation, p. 164.
304
Supondo, evidentemente, que o setenário das trombetas não esteja
incluído todo no sétimo selo. Não importa, por enquanto, esse tipo de
consideração. Dessa reflexão nos ocuparemos adiante, à página 186.
102
louvor celestial que ecoa para além dos tempos, na corte celeste descrita
desde há quatro capítulos.
Portanto, veríamos a grande importância que João de Patmos dá
às orações dos santos que há pouco entravam no santuário. Seu clamor
“até quando?” não somente foi ouvido, como também, admitidos seus
autores ao mais interior do santuário celeste, ganha o status de oferenda
de perfume. Notemos que isso é coerente com a descrição da atividade
cúltica do Dia do Grande Perdão, de Levítico 16. Naquele dia, o sumo
sacerdote entrava com o incenso diante do Propiciatório, realizando em
um complexo ritual a purificação de todo Israel. Um dos elementos
importantes do ritual era justamente a oferta de incenso diante do Trono
de Deus309, ou seja, a Arca da Aliança e o Propiciatório.
Supondo autêntica esta correlação, podemos haurir algumas
conclusões: i) há uma profunda conexão entre todos os selos, pois a
atividade de Deus, ao mesmo tempo paciente e iminente, está a irrupção
de acontecer e levar à plenitude todas as coisas, mas também aguarda
pacientemente porque é ação que leva em conta a individualidade da
vida de cada pessoa; ii) Deus não se faz surdo às súplicas de seu povo,
ouvindo-as, adequando-as a seu projeto salvífico, admitindo seu povo ao
convívio celeste e, finalmente, desencadeando com as preces dos santos
a manifestação definitiva de sua redenção e do juízo cósmico.
Esta última consideração se vê pelo fato de que o anjo que oferece
a Deus a oração dos fiéis (o incenso, sobre o altar, embaixo do qual,
outrora, estavam as almas dos santos) também atira o incensário sobre a
terra. Assim, o mesmo instrumento utilizado para fazer com que as
preces chegassem a Deus na ocasião espaço-temporalmente mais solene
da atividade litúrgica de seu povo, é também o instrumento pelo qual se
dá início à definitiva concretização histórica da manifestação de Deus no
mundo.
Um elemento a ser notado é que o turíbulo lançado à terra produz
trovões, vozes, relâmpagos e terremoto310. Por um lado, isso faz lembrar
a teofania do Sinai, mostrando que o mesmo Deus que libertou seu povo
para uma atividade cúltica no deserto, também liberta sua nação de
sacerdócio régio para um culto perene na Jerusalém Celeste. Assim, todo
o restante do livro se torna uma descrição do modo da realização dessa
promessa. Por outro lado, esse refrão “βρονταὶ καὶ φωναὶ καὶ ἀστραπαὶ
καὶ σεισμός” ocorre exatamente três vezes no livro, justamente entre os
três setenários mais evidentes (selos, trombetas e taças). Sendo assim, há
309
Ap 8, 3s.
310
βρονταὶ καὶ φωναὶ καὶ ἀστραπαὶ καὶ σεισμός; Ap 8, 5.
105
grande sugestão de que essa seja uma marca estrutural importante que
precise ser estudada mais pormenorizadamente. Pretendemos fazê-lo no
capítulo seguinte311.
13 APOCALIPSE 8, 6 – 9, 21
311
uide “Uma tentativa de estruturação do Apocalipse”, à página 186.
312
BAUCKHAM. Revelation, p. 1294.
313
BEALE. Revelation, p. 170.
314
KOESTER. op.cit, p. 448.
315
VANNI. op.cit, p. 60.
316
PRIGENT. op.cit, p. 158.
106
Trombetas 8, 6 etc. 2, 1. 15
Devastação da 8, 7 2, 3
vegetação como que
por fogo
Gafanhotos 9, 3 1, 4
Cavalos de batalha 9, 7. 16 2, 4
Partes de leão 9, 8. 17 1, 6
322
Reconhecemos que os autores citados dão mais importância a outros
aspectos do texto. Ora a outras passagens do Antigo Testamento, ora ao
simbolismo proposto para outros elementos etc. Todavia, importa-nos aqui que
haja atestação de que esta linha de interpretação seja possível.
323
Ex 9, 4.26; 10, 23; 12, 12.
109
324
Ap 9, 6.
325
Ap 9, 20.
326
Is 14, 12ss; Ez 28, 17.
327
Ap 9, 5. 20.
328
Ap 5.
329
Ap 6.
330
Ap 7.
110
do pecador, mas sua conversão, mesmo que isso não esteja explícito nos
próprios acontecimentos, e sim num lamento final de que esta não
houve331.
A idolatria da obra das mãos332, associada a elementos que
indicam ao menos um certo grau de prosperidade (ou seja, trata-se de
colocar no lugar de Deus o fruto do próprio trabalho), está intimamente
relacionada aos homicídios, magias, fornicações e roubos 333, indicando
que não somente o aspecto cúltico é abordado, mas de modo eminente a
imediata relação entre o mal moral com consequência aos que gritam
“até quando?” (e são ouvidos) e o abandono do Deus que vive
eternamente e, por isso, pode garantir a vida a seus seguidores.
Uma última consideração sobre as seis primeiras trombetas é sua
progressividade. A primeira não causa dano direto a pessoa alguma. A
segunda, apenas aos que se encontram em navegação. A terceira, a
muitos homens. A quarta, indiretamente, a todos os homens. A quinta, a
todos os homens pecadores, diretamente, mas sem morte alguma. A
sexta, por sua vez, leva a cabo a vida de um terço da humanidade.
Percebemos, então, que, como no caso das pragas do Egito, há como que
um avanço didático nas tentativas de motivar o arrependimento para que
os homens deixem de dizer “deuses” às coisas que não são, e colocar sua
confiança no Deus verdadeiro.
331
Ap 9, 20s.
332
Ap 9, 20.
333
Ap 9, 21.
334
Utilizaremos esta palavra como tradução de βιβλαρίδιον porque,
segundo PRIGENT. op.cit, p. 177, trata-se de um duplo diminutivo de βιβλιον.
335
PRIGENT. op.cit.
111
336
BEALE. Revelation.
337
CORSINI. op.cit, COLLINS. Apocalipse, BAUCKHAM. Revelation,
VANNI. op.cit, KOESTER. op.cit.
338
Trata-se aqui de uma nota em caráter de adendo relativo a uma questão a
ser explorada, mas não neste trabalho, dada sua necessária brevidade
comparativamente à amplidão da questão enunciada. Ap 1, 1 identifica o próprio
escrito como uma revelação amplamente mediada. De fato, há um fluxo
revelatório Deus Jesus Cristo Anjo João Comunidade. Surpreende a
figura de um anjo, que simplesmente some e deixa de ser relevante, embora
haja, sim, muitas figuras angélicas. Não seria este o “anjo” mencionado lá? Se
fosse, haveria uma porta aberta à crítica da redação acerca da apresentação
tardia do livro? Ainda que esta última problemática se mostrasse estéril, o livro
dado ao anjo se relacionaria com o escrito do Apocalipse de que maneira? Todas
essas são questões emergentes da consideração sobre a relação entre Ap 1, 1 e
Ap 10.
339
BEALE. Revelation, p. 200.
112
340
Gn 9.
341
Ez 1, 26-28.
342
Ap 4.
343
Ap 1.
344
Dn 10.
345
Ap 5.
346
Sl 28, 3.
347
Os 11, 10; Am 1, 2; 3, 8; Jl 4, 16.
348
Uma grande parte dos comentadores do Apocalipse aventa a
possibilidade de que os sete trovões deste texto sejam eco do Sl 28. O
argumento, basicamente, é: há 7 menções de קֹול ְיהָ֗ו הno salmo, o que pode ser
interpretado como sete ocorrências de “trovão”. Todavia, literalmente, isso se
traduz por “voz de YHWH”, como de fato temos na versão grega “φωνὴ
κυρίου” e latina “vox Domini”. A evocação do Sl 28 também não justifica a
razão do silêncio imposto ao profeta de Patmos. Sendo assim, ainda que
exponhamos que haja quem pensa desta maneira, preferimos não seguir a
argumentação pela razão recém exposta. O texto acima se concentrará no que há
de mais claro, mas seja-nos permitido tecer uma reflexão sobre isso.
Literalmente, o texto traz “ἔκραξεν φωνῇ μεγάλῃ ὥσπερ λέων μυκᾶται. καὶ ὅτε
ἔκραξεν, ἐλάλησαν αἱ ἑπτὰ βρονταὶ τὰς ἑαυτῶν φωνάς” (Ap 10, 3). Uma
tradução um tanto quanto literal poderia ser “[o anjo forte] gritou com voz
grande como leão mugindo, e quando gritou, falaram os sete trovões as suas
113
351
Dn 12, 4.
352
Dn 12, 7; Ap 10, 6.
353
Ap 10, 7; 22, 9.
354
uide p. 75.
355
Ez 2, 1 – 3, 15; Ap 10, 8ss.
356
Ez 2, 5.7.8.
357
Curiosamente, aqui, a tétrade “φυλῆς καὶ γλώσσης καὶ λαοῦ καὶ ἔθνους”,
de Ap 5, 9; 7, 9; 11, 9; 13, 7; 14, 6 é substituída por “λαοῖς καὶ ἔθνεσιν καὶ
115
364
Ez 40 – 42.
365
Dn 7, 25; 12, 7.
366
Zc 4, 13s.
367
2Rs 1.
368
1Rs 17.
369
Ex 7, 17.
370
CORSINI. op.cit, p. 204.
117
371
A semelhança é defendida também por BEALE. Revelation, p. 215.
372
Ap 6, 9 – 7, 17.
373
Ap 11, 1; 6, 9.
374
Ap 6, 9.
375
Ap 11, 2.
376
Dn 12.
377
Ap 11, 7.
378
Ap 13.
118
390
Ap 11, 7s.
391
PRIGENT. op.cit, p. 191.
392
Ex 7, 17.
393
1Rs 17; 2Rs 2.
394
CORSINI. op.cit, p. 207.
395
Zc 4, 3.14.
396
BEALE. Revelation, p. 220.
397
Zc 4. uide BEALE. Revelation, p. 222.
398
Ap 13, 12.
120
399
Dn 7, 14.27.
400
Sl 2.
401
2Mc 2, 1-8.
402
Uma questão suficientemente séria seria sobre o cânon escriturístico
aceito por João de Patmos. Ou seja, quais livros ele mesmo considera como
sagrados e quais não. Não pretendemos entrar nesta discussão.
121
403
São vários os autores que evidenciam este paralelismo, haurindo dele
diferentes conclusões. Para isso, uide, por exemplo, CORSINI. op.cit, p. 179.
404
Ap 12, 1.3.
122
405
uide, por exemplo, BEALE. Revelation, p. 242, PRIGENT. op.cit, p.
207, CORSINI. op.cit, p. 225, BAUCKHAM, Richard. The Theology of the
Book of Revelation. Cambridge: Cambridge, 1993, p. 94.
406
Conquanto PRIGENT. op.cit, p. 214, citando estudos anteriores, proíba
interpretação messiânica de Gn 3, 15 no judaísmo, ele mesmo afirma que essa
possibilidade existe, contanto que atribuamos a João de Patmos a autoria dessa
associação. Posição que ele mesmo defende, aliás, ainda que não reconheça esse
texto como estruturante.
407
BAUCKHAM. Revelation, p. 1296.
408
Dentro da Sagrada Escritura, podemos ver este uso do termo δράκων em
Êxodo 7, 9ss (LXX). Uma vez que pode ser vista como particípio de δράκω
(olhar fixamente), entende-se por que atribuiu-se este nome ao animal. Todavia,
a palavra ganhou características mais cosmológicas na a partir dos Salmos 73 e
103, nos quais, na LXX, é tradução de ִלְו ָיָ֑ת ן, que costumamos entender como o
epíteto “Leviatã”.
409
Ap 12, 14ss.
123
Todavia, não é este o único eco de textos do AT. Há dois que dão
continuidade com o relato anterior: os 1260 dias (ou “tempo, tempos e
meio tempo”, 3,5 anos) retomam a alusão a Daniel 7; o fato do filho
nascido da Mulher ser descrito como quem “regerá as nações com cetro
de ferro” também faz alusão ao Salmo 2410, referendado na perícope
anterior.
Ainda de Daniel 7, temos a descrição dos dez chifres pertencentes
ao inimigo escatológico. Conquanto pareça este elemento tomado ao léu,
o intenso uso desta profecia de Daniel justifica que a semelhança não
seja coincidência. Na visão consecutiva deste profeta, surge suficiente
razão para a presença de outros dois elementos da cena de João: o
personagem Miguel411 acompanhado de um exército e o ato de derrubar
estrelas do céu por parte do inimigo do exército celeste. Além disso, de
modo obliquo, mas não desprezível, a Serpente identificada como
Satanás faz remontar a Zacarias 3, 1-5 (texto aludido pouco antes,
quando se falava das duas testemunhas), onde este aparece com o papel
de acusador na corte celeste, justamente como aqui. Também em Jó 1 –
2 há esta concepção. Por fim, a ocorrência do Sol, da Lua e de doze
estrelas parece remontar ao sonho de José em Gênesis 37.
Uma vez que tenhamos trazido à tona os dialogismos subjacentes
ao texto, passemos a discorrer sobre como todos esses elementos
interagem.
A retomada do tempo de três anos e meio poderia indicar que a
cena trata de uma explicitação do que fora descrito sobre as duas
testemunhas. Todavia, uma vez que ainda não é nossa pretensão
estabelecer uma estrutura complexiva do livro, atentemos para o fato de
que esse número, retomando Daniel 12 e a vitória sobre a Abominação
da Desolação412, indica que este período de luta tem caráter escatológico
e a vitória garantida é definitiva.
No relato da criação e da queda 413, Eva é denominada “Mãe dos
viventes”, e é apresentada como mãe de toda a humanidade. Seu nome
original, entretanto, é “Mulher”, de modo que o contexto indique que
410
Sl 2, 9.
411
Em Dn 8, é dito Príncipe do exército celeste, mas seu nome é
apresentado em Dn 10, 13. Devemos lembrar que um leitor dos séculos I ou II
não teria acesso a elementos de crítica textual, identificando facilmente estes
dois personagens como sendo o mesmo.
412
Convém reparar que, posteriormente, como nas denúncias contidas em
Daniel, o tempo de poder das bestas é indicado como período de idolatria.
413
Gn 2 – 3.
124
416
Ap 12, 10.
417
Ap 12, 11.
418
ἄρτι ἐγένετο ἡ σωτηρία, “agora veio a ser a salvação”; Ap 12 ,10.
419
Ap 11, 1-2.
420
Ap 12, 11.
421
Ap 12, 12.
422
PRIGENT. op.cit, p. 217, VANNI. op.cit, p. 66.
126
423
Ap 12, 17.
424
CORSINI. op.cit, p. 241.
425
Dn 7, 3.
426
Dn 7, 7.
127
427
Ap 12, 3.
428
Ap 12, 3.
429
πάρδαλις, Dn 7, 6.
430
Dn 7, 5.
431
Dn 7, 4.
432
BEALE. Revelation, p. 268.
433
CORSINI. op.cit, p. 242.
128
434
Ap 17, 8ss.
435
PRIGENT. op.cit, p. 238.
436
BEALE. Revelation, p. 269.
437
ִמיָכֵאל, “quem como Deus?”, que foi vencedor da Serpente em Ap 12, 7.
438
Ap 13, 3s.
129
439
Paradoxalmente, esta é justamente a promessa de Ap 3, 21.
440
Ap 11, 2ss.
441
Ap 12, 17.
442
PRIGENT. op.cit, p. 244.
130
449
Dn 8, 26.
450
Ap 13, 1ss.
451
Dn 8, 12.
452
Dn 8, 4; Ap 13, 14.
453
Este argumento é fornecido por BEALE. Revelation, p. 278.
454
Ap 13, 11; Dn 7, 17.
455
Dn 7, 23 TH.
456
Dn 8, 13.
457
Dn 8, 25.
132
472
PRIGENT. op.cit, p. 257.
473
idem.
474
BEALE. Revelation, p. 291.
475
2Rs 19,31; 1Mc 4,37.60; 5,54; 6,48. 62; 7,33; 10,11; 14,26; Sl 2,6;
47,3.12; 73,2; 77,68; 124,1; 132,3; Mq 4,7; Jl 2,1; 3,5; 4,17; Ab 1,17.21; Is 4,5;
8,18; 9,10; 10,12.32; 16,1; 18,7; 29,8; 31,4(2x); 37,32; Jr 38,12; Lm 5,18.
476
Is 8, 18; 9, 10; Jl 2, 1.
477
Lm 5, 18.
478
Ap 11 – 12.
135
479
Ap 4 – 5.
480
Ap 14, 4.
481
BAUCKHAM. Revelation, p. 1298.
482
KOESTER. op.cit, p. 610.
136
483
COLLINS. Apocalipse, p. 861.
484
Ap 14, 5.
485
Ex 29, 1.38; Lv 1, 3.10; 3,1.6.9 etc.
486
BAUCKHAM. Climax…, op.cit., p. 286.
487
BEALE. Revelation, pp. 300ss.
488
εὐαγγέλιον αἰώνιον εὐαγγελίσαι; Ap 14, 6.
137
489
Sl 95, 7s.
490
Ap 14, 1-5.
491
Dn 4, 34; Ap 14, 7.
492
Dn 4, 37; Ap 14, 7.
493
Dn 4, 1; Ap 14, 6.
494
ἐν ὥρᾳ μιᾷ; Dn 4:17; ἦλθεν ἡ ὥρα; Ap 14, 7.
138
495
ἐκ τοῦ οἴνου τοῦ θυμοῦ τῆς πορνείας; Ap 14, 8.
496
BEALE. Revelation, p. 302.
497
ἐκ τοῦ οἴνου τοῦ θυμοῦ τοῦ θεου; Ap 14, 10.
498
Sl 95.
499
Jr 28, 7.
500
Gn 19, 24; Ap 14, 10.
139
503
Jr 28, 7.
504
Jl 4, 13; Is 63, 1ss.
505
14, 8.
506
14, 10.
507
16, 1ss.
508
Ap 15, 1.
509
Ap 15, 2-4.
510
Esta por si só é outra semelhança com o setenário das trombetas. Em
ambos os casos, o agente do juízo é um grupo de sete figuras angélicas.
141
516
BEALE. Revelation, p. 317.
517
Ap 15, 3s.
518
PRIGENT. op.cit, p. 281.
143
Ap 15, 3s LXX
μεγάλα καὶ θαυμαστὰ τὰ ἔργα σου, (…) κύριε (…) θαυμαστὸς ἐν δόξαις
κύριε ποιῶν τέρατα (Ex 15, 11)
ὡς ἐμεγαλύνθη τὰ ἔργα σου κύριε
(Sl 91, 6)
μεγάλα τὰ ἔργα κυρίου (Sl 110, 2)
θαυμάσια τὰ ἔργα (Sl 138, 14)
525
BEALE. Revelation, p. 323.
526
Ap 16, 2.
527
Acima, à página Error: Reference source not found, há considerações
sobre as vestes brancas. Verbalmente, não há coincidência aqui, mas o linho
limpo e brilhante de Ap 16, 2 reporta facilmente a esse tipo de indumentária.
Sobre a relação entre vestes de linho e sacerdócio, também convém notar que o
texto atribuído a Hegesipo por Eusébio de Cesareia, o Martírio de Tiago,
associa o “direito e a faculdade de entrar no íntimo santuário do Templo” com o
uso de “veste de linho”. Sobre isso, uide HEGESIPPUS. Commentarium
Actuum Ecclesiasticorum. – in: MIGNE, Jacques Paul Patrologiae Cursus
Completus: series graeca. [S.l.]: [s.n.], v. 5, p. 1308.
528
COLLINS. Apocalipse, p. 862-3.
529
BAUCKHAM. Revelation, p. 1299.
147
530
Ex 3, 7.
531
BAUCKHAM. Revelation, p. 1299, BEALE. Revelation, p. 325.
532
Ap 16, 9.
533
BAUCKHAM. Revelation, p. 1299.
534
uide p. 63.
148
25 APOCALIPSE 17
535
BAUCKHAM. Revelation, p. 1299.
536
Cumpre notar que o texto aludido, de Zc 12, não somente anuncia uma
grande batalha em ְמִגּדֹון, tendo como resultado a destruição de todos os inimigos
da cidade santa, como também fala que os habitantes desta olharão para um
transpassado (Zc 12, 10). Bem, o juízo definitivo é realizado por aquele que se
apresenta como Cordeiro imolado. A vitória contra todas as nações é feita por
aquele que foi transpassado na Cruz. Ora, como ְמִגּדֹוןé uma planície, não uma
montanha, poderíamos ousadamente inferir que João de Patmos pensasse no
Calvário como local de batalha escatológica. Preferimos, entretanto, manter essa
consideração como nota de rodapé e no subjuntivo, pois, embora muito
coerente, não pode – a nosso ver – ser haurida sem mais do texto.
537
uide p. 186.
538
uide, por exemplo, Dn 7; 8; Zc 1, 7-17.
149
539
PRIGENT. op.cit, pp. 297-9, CORSINI. op.cit, pp. 321-2.; COLLINS.
Apocalipse, p. 866.
540
BAUCKHAM. Revelation, p. 1300.
541
PRIGENT. op.cit, p. 300.
542
Jr 28, 13.
543
Jr 28, 6; Ap 18, 4.
544
Jr 28, 7.
545
Jr 28, 7; Ap 17, 2.
546
Jr 28, 64; Ap 18, 21.
547
CORSINI. op.cit, p. 324.
150
548
Ap 21, 9.
549
Ap 12, 17.
550
Jr 27, 12.
551
Jr 27, 34.
552
PRIGENT. op.cit, p. 301.
553
Jr 28, 26.29.43.
554
Is 13, 21; 14, 23.
151
de fundo para Apocalipse 17, convém notar que não demos devida
atenção ao primeiro nome que designa esta mulher: Prostituta. Não é
novidade para um autor com mentalidade plasmada pelo AT que uma
cidade cujo ideário afaste do culto ao verdadeiro Deus seja chamada com
este apelativo. Com efeito, Israel todo 555, Jerusalém556, Tiro557 e Nínive558
receberam esta designação. Em comum, aponta Prigent 559, todas essas
realidades geográficas trazem a corrupção da idolatria. Um texto em
particular, todavia, sobressai: o da profecia contra Tiro. A razão pela
qual se diz isso é que, ao contrário de quando Israel é acusado de
prostituição com outros deuses, esta cidade é acusada de prostituir-se
com todas as nações, lembra Beale560.
Como se depreende dos lamentos de Apocalipse 18, também a
realidade de prostituição de Isaías 23 se aplica a esta Babilônia. Trata-se
de uma postura de comércio, ou seja, política econômica que,
favorecendo o luxo de alguns, promove a miséria de outros. Para
justificar esse tipo de atitude, destrona-se Javé. Quando este promove o
juízo, a consequência imediata se aplica a esta realidade, mas há outros
efeitos refratários, sobre aqueles que lucravam com a atividade
exploratória. Ou seja, seguem-se lamentos generalizados pela queda
desta potência comercial561.
Um outro detalhe que, agora, potencializa o afastamento desta
mulher com relação àquela do capítulo 12 é que o lamento de Isaías 23,
4 se refere à ausência da descendência da cidade opressora com a
linguagem da não ocorrência de dores de parturiente.
Por fim, outros elementos do Antigo Testamente que merecem ser
lembrados são: o nome da Prostituta “a Grande Babilônia” e suas vestes.
Segundo Beale562, o nome e o fato de o anjo dela falar como um
“mistério” remetem a Daniel 4563. Ora, Babilônia era um instrumento da
555
Os 5, 3.
556
Is 1, 21; Ez 16, 15.
557
Is 23, 16.
558
Hb 3, 4.
559
PRIGENT. op.cit, p. 300.
560
BEALE. Revelation, p. 354. Em favor da influência isaiânica aqui, Beale
ainda aponta como argumento que os juízos contra Tiro em Ezequiel são
importantes para a formação de Ap 18.
561
Is 23, 5; Ap 18.
562
BEALE. Revelation, p. 359.
563
Dn 4, 9.27.
152
564
BEALE. Revelation, p. 361.
565
Ap 17, 16.
566
Lv 1.
567
Ap 18, 4.
153
26 APOCALIPSE 18
568
Ap 18, 1-3.
569
Ap 18, 21-24.
570
Ap 18, 4-8.
571
COLLINS. Apocalipse, p. 866.
572
Ap 18, 2 // Jr 27, 39
Ap 18, 4 // Jr 27, 8; 28, 6.9.45
Ap 18, 5 // Jr 28, 9
Ap 18, 6 // Jr 27, 15.29.
Ap 18, 8 // Jr 27, 32.34; 28, 25.30.32.58
Ap 18, 21 // Jr 28, 63ss.
573
São profecias contra Tiro, todavia, Babilônia aqui não é nome de uma
determinação geográfica, mas uma figura prototípica.
574
PRIGENT. op.cit, p. 310. BAUCKHAM. Revelation, p. 1301.
154
575
Ap 18, 9.11.17 // Ez 27, 16.35.36.29-30.
576
Ap 18, 9 // Ez 27, 33.
577
Ap 18, 11-13 // Ez 27, 12-24.
578
Ap 18, 13 // Ez 27, 13.
579
Ap 18, 19ss // Ez 27, 30-34.
580
Ap 18, 17ss // Ez 27, 27-29.
581
Ap 18, 22 // Ez 26, 13.
582
uide p. Error: Reference source not found.
583
SCHÖKEL, Luiz Alonso; DIAZ, José Luiz Sicre. Profetas. [trad.
Anacleto Alvarez.] São Paulo: Paulinas, v. II, 1991, p. 699.
584
Ez 28, 2.9.
585
Ap 17, 13.
155
599
Ap 18, 4.5; Gn 18, 20s.
600
Ap 18, 7 // Is 47, 1.3.
601
Ap 18, 8; Is 47, 9.
602
Ap 18, 7 // Is 47, 7s.
603
VANNI. op.cit, p. 76.
604
PRIGENT. op.cit, p. 314.
605
Ap 18, 13.
606
Is 47; Jr 27 – 28; Ez 26 – 28.
158
607
Isso também pode ser considerado um “Aleluia”, uma vez essa palavra é,
justamente, um convite ao louvor de Deus.
608
Dos comentadores aos quais tivemos acesso, apenas KOESTER. op.cit,
pp. 726.733, se detém em considerar esta palavra e, mesmo colocando evidência
de sua conexão com o livro dos Salmos, não o faz com tanta ênfase. Por se tratar
de palavra de grande ocorrência neste texto, e em ocasiões muito específicas dos
Salmos, julgamos necessário tomar em conta essa correlação.
609
A título de esclarecimento, “Aleluia” (ou, aqui, ἁλληλουϊά) é
transliteração de ַֽהְללּו־ָֽיּה. Esta expressão contém duas palavras: ַֽהְללּו, forma
imperativa, masculino plural do verbo הלל, que significa louvar; e ָֽיּה, forma
abreviada do nome de Deus, que, como vimos, deveria ser conhecido de João de
Patmos. Sendo assim, sua tradução é “louvai a YHWH”, o que explica seu uso
litúrgico tanto presente quanto, sobretudo, passado.
159
O uso litúrgico que dela fazemos pode nos causar certa sensação
de excessiva familiaridade. Todavia, o leitor da Escritura pode
identificar a semelhança forte e exclusiva entre o Apocalipse e os
Salmos, onde, aliás, sua ocorrência não é aleatória. De fato, pela divisão
da LXX, os salmos que iniciam com ἁλληλουϊά são: 104 – 106, 110 –
118, 134 – 135 e 145 – 150.
Estes salmos não são quaisquer. Em sua maioria, pertencem ao
quinto livro dos salmos610 (composto pelos salmos 107 a 150), e tinham
uso litúrgico nas festividades pascais. Sua recitação lembra os atos que
Deus realizou em favor de seu povo, e que demonstram simultaneamente
seu poder e seu amor de predileção para com Israel. A proclamação da
realeza de Deus acompanha os atos de juízo que teve em favor de Israel,
contra seus opressores. No caso do Salmos 149, não somente Javé é rei e
julga, como associa os fiéis ao seu julgamento, que é simultâneo e como
que identificado com seus louvores. Sua vitória é expressa como derrota
dos ídolos pagãos.
Não é à toa que este tipo de cântico é colocado ao final do
saltério. O caminho espiritual proposto pelo livro dos Salmos culmina
com a proclamação do reinado universal de Deus, reconhecido e
celebrado por todas as pessoas, e por todas as realidades, animadas e
inanimadas. A criação e a libertação encontram seu cume na realeza
divina, que é cantada liturgicamente, e lembrada nos momentos mais
festivos do povo de Israel.
Ora, João de Patmos, pelo conhecimento que demonstra ter da
vida cúltica do Templo, bem como pela naturalidade com que se refere
ao Tanakh, pode ser suposto como participante, ouvinte ou, ao menos,
conhecedor, das tradições festivas de Israel. Se a Páscoa já não era
celebrada no Templo de Jerusalém, pois este caíra em 70 d.C., os
cristãos agora a celebram de modo novo e inaudito: em comunhão com a
celebração celeste. Às pragas que sucederam (taças da ira), e que
anunciam a queda de Babilônia, inimigo escatológico, segue-se a
libertação definitiva do povo de Deus, celebrada com a merecida
dignidade.
Se há pouco as reações sobre Babilônia caída eram de lamentos
fúnebres, cantados por causa da perda financeira, aqueles que não
610
CHOURAQUI, André. A Bíblia: Louvores (Salmos). [trad. Paulo
Neves.] Rio de Janeiro: Imago, v. II, 1996, pp. 33-4. uide também KSELMAN,
John S.; BARRÉ, Michael L. Salmos. – in: BROWN, Raymond E.;
FITZMYER, Joseph A.; MURPHY, Roland E. Novo Comentário Bíblico São
Jerônimo: Antigo Testamento. São Paulo: Paulus, 2007. cap. 34, p. 1030.
160
611
Ap 18, 4.
612
e.g. Os 1; 3.
613
Ap 19, 8.
614
Ap 19, 2.
615
Ap 19, 3.
616
Ap 19, 1.6.
161
618
Ap 17, 10.
619
Ap 19, 10.
163
coração um propósito que, à letra do texto, é-lhe incutido por Deus. Uma
abordagem sistemática questionaria esse dado, e facilmente o teria por
gerador de dúvidas. Aos propósitos deste trabalho, são suficientes as
considerações da página 108, sobre o endurecimento do coração de
Faraó: não se trata de um Deus caprichoso, mas de um senhor universal
da história que faz com que os desígnios malignos dos pecadores tenham
um desfecho tal que resulte na maior glória de Deus e no bem de seus
servos.
A mesma realidade, aliás, podemos ver refletida na alusão feita a
Salmos 2, 9 em Apocalipse 19, 15. De fato, este salmo, que funciona
como um preâmbulo a todo um saltério messiânico, tem como programa
básico um cenário de conflito de grandes proporções, no qual os povos
se revoltam, mas em vão. Deus mantém a promessa de fidelidade a seu
Ungido e, por isso, este esmaga os inimigos com cetro de ferro.
Continuando, todavia, a discorrer sobre as implicações de
Ezequiel 38 – 39 sobre este texto, vemos que Israel é um povo fraco,
com terra arrasada e reduzida a ruínas. Gog, de Magog, reúne nações
para uma presa fácil, a fim de saquear um povo humilde que vive sem
qualquer defesa628. O mesmo pudemos presenciar sobre os fiéis de
Cristo, que tiveram por única vitória aquela que se obtém sobre a morte:
o testemunho intacto até o fim629. Embora os cristãos pareçam, talvez até
a seus próprios olhos, como um povo sem defensor, sabem que seu
redentor vive, mesmo depois de imolado. Há um novo Israel, que morará
em segurança630, mesmo que em uma cidade que nunca tem suas portas
fechadas.
Como a Faraó, assim também a Gog de Magog. De fato, a
santidade de Deus, manifestada às custas deste rei sublevado, o é porque
ele mesmo se levantou contra Israel. Foi quando a besta e os reis da terra
se reuniram contra o exército do Cordeiro que aconteceu o episódio
derradeiro da ira de Deus631. Os instrumentos da cólera divina são os
mesmos: espada632, fogo e enxofre633, bem como as aves do céu634.
628
Ez 38, 10ss.
629
uide, por exemplo, Ap 6, 9ss, quando da ruptura do quinto e sexto selos.
Aqueles que perseveraram até a morte tiveram o sangue derramado e se
encontram sob o altar, clamando como Abel.
630
Ez 38, 14, Ap 21, 25.
631
Ap 19, 19 // Ez 38, 18.
632
Ap 19, 21 // Ez 38, 21.
633
Ap 19, 20 // Ez 38, 22.
166
29 APOCALIPSE 20
identificaria o milênio com a vida dos batizados, contraposta à daqueles que não
renasceram das águas do batismo. Subsequentemente, em ambos os hemisférios
da Igreja, a visão preponderante identificaria o reino milenar com a era da
Igreja, sendo novamente a primeira ressurreição entendida como o batismo.
Entre os séculos VII e XV, a tendência mais aceita enxergava o milênio como
uma era a acontecer, mas que chegaria brevemente na história geral. Com a
Reforma Protestante, as interpretações se tornaram mais multifacetadas,
fazendo-se valer as terminologias que apresentamos ao início deste comentário.
KOESTER. op.cit, pp. 741-50.
641
PRIGENT. op.cit, pp. 362-9.
642
COLLINS. Apocalipse, pp. 870-1. Embora nada fale sobre Dn 7.
643
BAUCKHAM. Revelation, p. 1303.
644
KOESTER. op.cit, pp. 777-80.
645
BEALE. Revelation, pp. 422-4; 435.
646
CORSINI. op.cit, pp. 346.364.
647
Sujeito oculto: ὁ ἄγγελος do versículo anterior.
168
655
Ap 19, 20.
656
Os targumim Jerusalém e Jonathan para Nm 11, 26 trazem algo curioso
para a consideração sobre Gog e Magog. Em primeiro lugar, seu julgamento por
meio do fogo oriundo do Trono da Glória, além da vitória do Rei Messias sobre
estes. Todavia, o fato dessas considerações se alocarem nos comentários sobre
os dois escolhidos que receberam do espírito de Moisés e profetizaram fora do
acampamento traz uma aparência um tanto quanto insólita ao leitor
contemporâneo de Números. O fato de duas bestas combaterem contra
171
30 APOCALIPSE 21 – 22
662
Ap 21, 10 – 22, 6.
663
Ap 21, 15-17.
664
Ap 21, 24-27; 22, 3-5.
665
Ap 22, 6.10.
666
Ap 21, 16.
667
CORSINI. op.cit, p. 392.
668
uide p. 63.
669
A título de ilustração, comparamos algumas traduções do Novo
Testamento. Algumas mantêm o texto continuamente, sem qualquer interrupção,
dando a entender que o anjo fala como sendo Jesus. Entre elas estão a Bíblia do
Peregrino, a Bíblia Ave Maria e a edição de 1967 da Bíblia de Jerusalém. A
Edição Paulinas teve uma postura semelhante, porém não idêntica: separar com
uma marcação de parágrafo, preservando, porém, o discurso todo em um único
bloco entre aspas. Outras traduções são mais decididas, fechando aspas após o
versículo 15, como a Nova Bíblia Pastoral, a tradução da Conferência Episcopal
Italiana, a New International Version, e a Bíblia de Jerusalém, em português e
em espanhol. Esta, aliás, além de separar com aspas, insere um subtítulo entre os
versículos 15 e 16. Caminho semelhante segue a Nova Tradução na Linguagem
de Hoje, da SBB, inserindo um parágrafo e marcando novo sujeito falante com
173
Promessa Ap AT
um travessão. A Bíblia TEB optou por manter o texto com grande paragrafação,
mas sem nenhuma interrupção adicional, e sem qualquer uso de aspas, deixando
a interpretação a cargo do leitor. O mesmo recurso usa a tradução Almeida
Revista e Corrigida. Há, ainda, quem separe o texto no versículo 12, inserindo
uma fórmula oracular em nome de Jesus. Tais fazem: a Nova Tradução na
Linguagem de Hoje e a Good News Translation.
670
Ap 22, 17-21.
671
VANNI. op.cit, pp. 81-5.
672
PRIGENT. op.cit, pp. 377-82.
673
COLLINS. Apocalipse, pp. 871-2.
674
BAUCKHAM. Revelation, pp. 1303-5, BAUCKHAM. The Theology…,
op.cit., pp. 132ss.
174
Promessa Ap AT
purgado esquece de todos os seus pecados para que nem mesmo haja a dor da
lembrança das culpas passadas.
676
Gn 3.
677
Ap 21, 12.
678
Gn 6, 1 – 9, 17.
679
Ap 21, 1.
680
Gn 8, 21s; Ap 21, 25; 22, 5.
681
Gn 8, 21.
682
Gn 2, 7.
683
Gn 3, 8.
684
Ex 33, 20.23; Jz 6, 22; 13, 20.
685
Ap 22, 4.
176
701
Ap 21, 10; 1, 10; 4, 2.
702
Ez 47.
703
Ap 22, 1s.
704
Ap 22, 2.14.
705
Gn 3, 22.
706
Ap 21, 9.
707
ταχύ, Ap 22, 12. Sobre isso, uide a expressão εν ταχει, à p. 57.
708
ἀποδοῦναι ἑκάστῳ ὡς τὸ ἔργον ἐστὶν αὐτοῦ.
709
ἀποδώσεις ἑκάστῳ κατὰ ἔργα αὐτοῦ.
179
710
Ap 22, 20.
180
CAPÍTULO III
VISÃO DE CONJUNTO
EMERGENTE
STRO, Claudio. Painel da nave leste do Santuário de Aparecida. [s.d.], tinta sobre azulejos
DESCRIÇÃO: Painel da nave leste do Santuário de Aparecida
A cruz/trono de Deus é instrumento pelo qual é aberto o livro sete vezes selado por
parte do Cordeiro Imolado. Ele é o A e Ω que nos redimiu para Deus. Ele é o
cavaleiro do juízo escatológico.
CAPÍTULO III
VISÃO DE CONJUNTO EMERGENTE
711
Como ocorre em Ap 6, 12-17 (uide p. 89), Ap 19, 1-10 (uide p. 158), ou
Ap 21 – 22 (uide p. 171).
712
MOYISE. op.cit, p. 12.
183
consideramos lícito afirmar, como fez Caray 722, que o principal objetivo
do texto não seja a divulgação de uma informação, mas a comoção à
ação, fazendo, para isso, uso de sentimentos presentes no leitor e
espelhados no texto, que são, por isso, suscitados não somente do ponto
de vista patético, mas sobretudo com a apresentação de uma resposta
divina à ânsia comum de todos aqueles que têm acesso ao texto. Daí o
peso da linguagem simbólica, acentuado pelo fato de ser haurida de um
pano de fundo já considerado como inspirado e sagrado. Aliás, mais
ainda agora que o contato com a Sagrada Escritura se dá justamente por
meio de uma hierofania, acessível, aliás, somente a João.
Concluímos que a liberdade contextual permitiu a João uma
mobilização retórica potente e, de certo modo, muito criativa. Não
seguiu os autores que inseriram em autoridades do passado experiências
que dessem peso ao conteúdo que desejavam transmitir, como foi o caso
do Apocalipse de Enoque, nem tampouco construiu um edifício
argumentativo basilarmente alicerçado em outro. Antes disso, fez valer
uma nova fonte revelatória, mas apresentada em continuidade
ininterrupta com a anterior.
Em outras palavras. Não há coleção de dicta probantia, mas
reescrita com base não em frases isoladas que sejam vistas como
realizadas, mas em longos excertos ressignificados e atualizados.
Isso também explica os recortes utilizados por João para
descrever as realidades que pretendia. Se outros livros do Novo
Testamento, segundo Moyise723, tiveram a tendência de fazer uso
preponderante da Torá, seguida não tão proximamente pelos Salmos e
por Isaías, e apenas esporadicamente dos demais profetas ou outros
escritos, João, ainda que continue usando esses textos, ao modo como
indicamos, também dá grande atenção a Daniel, Ezequiel e os profetas
menores. E isso sem que haja uma distribuição compatível com
aleatoriedade, o que significa uso consciente de textos seletos.
Aparentemente, o critério de escolha joanino tampouco foi fortuito, uma
vez que o livro de Daniel, os trechos aludidos de Ezequiel, bem como as
profecias de Jeremias e Isaías referendadas, ou mesmo outros textos,
como Zacarias, têm um potencial bastante evidente de releitura
escatologizante. Aliás, grande parte do material utilizado por João
contém o sintagma ἐπ᾽ ἐσχάτων τῶν ἡμερῶν, com é o caso do
722
CARAY. Early Christian…, op.cit., p. 228.
723
MOYISE. op.cit, p. 15.
186
724
Gn 49.
725
Ez 38.
726
Dn 10, 14.
727
PRIGENT. op.cit, p. 431.
728
COLLINS, Adela Yarbro. The Book of Revelation. – in: COLLINS, The
Encyclopedia…, op.cit., cap. 11, p. 388.
187
729
BAUCKHAM, Richard. The Eschatological Earthquake in the
Apocalypse of John. Novum Testamentum, Leiden, v. 19(3), pp. 224-233, julho
1977. Disponivel em: <https://www.jstor.org/stable/1560516>. Acesso em: 09
julho 2019.
730
Hb 12, 18ss.
731
A palavra σεισμὸς ocorre mais vezes no livro, mas as considerações de
Bauckham selecionam estas três passagens porque são aquelas nas quais é
acompanhado de ἀστραπαὶ καὶ φωναὶ καὶ βρονται. Ou seja, há a tétrade a que
nos referimos às pp. 120 e 144.
732
Ap 8, 5.
733
Ap 11, 19.
734
Ap 16, 18.
735
A saber: i) a conformidade entre narrativas e ii) pano de fundo comum.
uide as notas 652 e 654, à página Error: Reference source not found.
188
736
uide p. 70.
737
uide pp. 55ss.
738
uide p. 187.
739
uide a nota de rodapé 403. Estruturalmente, ainda elencamos ambas as
seções apresentam a seguinte estrutura: quatro selos/trombetas breves, dois
selos/trombetas longos, duas cenas intermediárias e um último selo/trombeta
cuja execução surpreende por ser abrupta.
740
uide pp. 92 e 139.
189
745
Ap 6, 1 – 8, 5.
746
Ap 8, 6 – 11, 19.
747
Ap 12 – 20.
748
Ap 21 – 22.
749
Ap 2 – 3.
750
Embora o aoristo grego tenha uma conotação aspectual, mais que
cronológica, em todos os casos referidos aqui o aumento temporal dá a entender
que se trata de evento já realizado
191
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS