No primeiro capítulo, Bachelard relata os valores e a sensação do espaço – “a casa é nosso

canto no mundo”, onde nos sentimos seguros e confortáveis. O filósofo acredita que o lar
e como nos relacionamos com ele é algo que sempre nos acompanha, como uma memória
que se mistura com a nossa imaginação. É como se uma lembrança da nossa primeira casa
estivesse sempre conosco, influenciando nossos sonhos e pensamentos. Partindo desse
princípio, o músico mineiro Djonga na canção “bença”, discute a relação dos indivíduos
periféricos com o espaço em que residem e a importância de lembrar do espaço que eles
cresceram à medida que avançam economicamente. Tanto Djonga quanto Bachelard
acreditam que a intimidade que os indivíduos possuem com o espaço, permanecem
vinculados como raízes, o cantor, no entanto, vai além e relata a importância de honrar os
espaços que contribuíram para seu crescimento. Neste contexto, a partir da visão de
Bachelard, tratarei sobre como os espaços periféricos influenciam na formação do
pensamento e imaginação dos cidadãos que residem nesses espaços.
Os autores Renato Meirelles e Celso Athayde, no livro, “Um país chamado favela”,
destaca como as condições adversas de moradia moldam a forma como os moradores
percebem a si mesmos. Segundo os autores, a falta de infraestrutura e os desafios diários
levam os habitantes das favelas a desenvolver uma forte resiliência e criatividade para
superar os obstáculos. Essa resiliência se traduz em uma imaginação que se relaciona com
a lembrança e a imagem, levando em consideração que a realidade em que esses
indivíduos estão inseridos, foi a realidade de seus familiares, o que gera soluções
inovadoras para os problemas cotidianos que esses indivíduos enfrentam, bem como em
um forte senso de comunidade, onde a cooperação e a solidariedade são valores
essenciais. Portanto, os espaços existentes nas favelas brasileiras exercem uma influência
profunda na formação da imaginação e dos pensamentos de seus habitantes. No entanto,
é essencial considerar a importância de políticas públicas para a construção de um espaço
que promova a comunhão entre a memória e a imaginação de uma forma em que as
pessoas possam encontrar o paraíso mental e visualizar seu espaço, como o grande berço
de aconchego e proteção, relatado por Bachelard.
BIBLIOGRAFIA

MEIRELLES, Renato. Um país chamado favela: A maior pesquisa já feita sobre a

favela brasileira. São Paulo, SP: Gente Editora, 2014. 167 p. ISBN 9788573129397.
Acesso em: 29 out. 2023.

BACHELARD, G. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993. Acesso em:
29 out. 2023.

Djonga - Bença. 13 mar. 2019. 1 vídeo (3 min 54 s). Publicado pelo canal Djonga.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=vItmJnY-waY. Acesso em: 29 out.
2023.