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Onde dorme nosso silêncio?

Lívia Maria Natália de Souza é uma poeta e professora brasileira. Formada em


Letras pela Universidade Federal da Bahia em 2002. É mestre e o doutora pela
mesma instituição, onde leciona Teoria Literária. Estreou como autora em 2011,
com Água Negra, livro premiado pelo Concurso Literário do Banco Capital.

Do silêncio

Até que chova, tudo dói translúcido


como que abrigando a lágrima
na palma plúmbea do dia.

E todas as buzinas e o dia que arde em torno


apenas confirmam a certeza triste
da nulidade da espera.

Até que chova, tudo dentro cala.

E um bicho de unhas hostis


lanha minha garganta
desenhando veias intangíveis
no meu silêncio.

E tudo que cala se inunda,


antes que a chuva venha.

(Lívia Natália)

NOMALI
Ela não virá.
Sua presença ficará dependurada no céu das possibilidades
Como a música que leva seu nome
ela será bela e fluirá de uma ausência encantada.

Enquanto ela não vier,


flutuará no horizonte uma menina esguia
Seria aquele seu nariz?
Teria ela os meu quadris?
Como explicar a ela:
filha, todo o amor é por um triz

Sabemos que ela não virá


e sua ausência preencherá as madrugadas.
Levantaremos com os ouvidos exaustos da ausência
do seu choro
dos meus peitos brotará um leite de esquecimento
e cada dia seu será repleto do silêncio deste nome.

Enquanto ela não vier


seu não-ser devastará a terra
e nada mais que se plante, se erguerá
Sem que a sombra desta dor marque as colinas.

Nós seguiremos
e seremos um para o outro o que é feito do vento
na Maresias

A falta dela preencherá todos os dias


e nosso silêncio perdurará como as pedras que ferem a água

Até o dia em que,


apaziguada,
ela venha dilacerar o mistério do seu próprio nome.

(Lívia Natália)

Ouvido Absoluto

A dor se aloja crua pelos corpos


e o que não sangra caleja triste
nas pedras dos dois dias.

O tempo é de demoras
e as flores brotam cavando feridas
no vento.

Nada do seu perfume sem sutilezas


diz da agudeza dos seus espinhos maduros.

Mas as flores restam vivas,


na vã beleza colorida
nascendo inúteis.

(Lívia Natália)

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